Professional Documents
Culture Documents
– A contrição faz com que nos esqueçamos de nós mesmos e nos aproximemos novamente
do Senhor.
Simão não manifesta nenhuma particular estima por Cristo, pois não tem
com Ele nem sequer esses detalhes de deferência habituais entre os judeus
quando se recebia um hóspede importante: o ósculo das boas-vindas, a água
perfumada para lavar-se, o unguento...
São-lhe perdoados os seus muitos pecados porque muito amou: esta e não
outra foi a razão de tanto perdão. A cena termina com as consoladoras
palavras do Senhor: A tua fé te salvou, vai em paz. Recomeça a tua vida com
uma nova esperança.
Jesus irá demonstrar-lhe que não apenas conhece a alma daquela mulher,
mas também os pensamentos do seu anfitrião: Simão – diz-lhe –, um credor
tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, o outro cinquenta.
Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Quem, pois, o amará
mais?
A resposta era evidente: deveria amá-lo mais aquele a quem fora perdoada
uma dívida maior. Simão respondeu correctamente. E então a parábola se
tornou realidade. Ali estavam face a face os dois devedores. Em última
análise, o que o Senhor diz a seguir é um grande louvor a essa mulher que
nem sequer se atreve a falar. Por isso olha para ela enquanto parece falar
com Simão. Na realidade, é para a mulher que fala. E voltando-se para a
mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste
água para os pés; mas ela regou-me os pés com as suas lágrimas e
enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste... Tu não me amas, ela sim.
Ama-me apesar dos seus muitos pecados, ou talvez por causa deles, pois é
muito grande a necessidade que sente de ser perdoada.
Simão não se apercebeu das suas faltas, como também não é consciente
de que, se não cometeu mais pecados e mais graves, foi pela misericórdia
divina, que o preservou do mal. “Ama pouco – comenta Santo Agostinho –
aquele que é perdoado em pouco. Tu, que dizes não ter cometido muitos
pecados, por que não os cometeste? Sem dúvida porque Deus te conduziu
pela mão [...]. Não há nenhum pecado cometido por um homem que não
possa ser cometido por outro, se Deus, que fez o homem, não o sustenta com
a sua mão”5.
(1) Lc 7, 36; 8, 3; (2) São Gregório Magno, Homilia sobre os Evangelhos, 13, 5; (3) Is 66, 2;
(4) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 75; (5) Santo Agostinho, Sermão 99, 6; (6)
São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 14, 4; (7) Card. K. Wojtyla, Sinal de
contradição, pág. 244; (8) Sl 31, 5-7; (9) cfr. Jo 8, 32; (10) Sl 31, 4; (11) Santo Ambrósio,
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas.