1) A origem das línguas é um tópico estudado pela ciência linguística e filosofia desde a antiguidade, com diferentes teorias sobre uma língua original ou princípios universais.
2) Estudos no século 19 sugeriram uma origem comum entre línguas européias e asiáticas, mas a diversidade linguística já existia quando surgiram as primeiras formas de escrita.
3) Atualmente há esforços para evitar a extinção de línguas minoritárias, mas especialistas pre
1) A origem das línguas é um tópico estudado pela ciência linguística e filosofia desde a antiguidade, com diferentes teorias sobre uma língua original ou princípios universais.
2) Estudos no século 19 sugeriram uma origem comum entre línguas européias e asiáticas, mas a diversidade linguística já existia quando surgiram as primeiras formas de escrita.
3) Atualmente há esforços para evitar a extinção de línguas minoritárias, mas especialistas pre
1) A origem das línguas é um tópico estudado pela ciência linguística e filosofia desde a antiguidade, com diferentes teorias sobre uma língua original ou princípios universais.
2) Estudos no século 19 sugeriram uma origem comum entre línguas européias e asiáticas, mas a diversidade linguística já existia quando surgiram as primeiras formas de escrita.
3) Atualmente há esforços para evitar a extinção de línguas minoritárias, mas especialistas pre
Cincia e religio sempre buscaram respostas para duas questes essenciais: a
origem e o destino de tudo. O Gnesis, na Bblia, coloca o planeta em que habitamos como o centro da criao divina que deu origem ao universo. Na teoria do Big Bang, uma grande exploso a explicao cientfica para a origem e a expanso do universo. Aquele mesmo livro da Bblia fala na criao de Ado, o primeiro homem da Terra. A teoria evolucionista aponta ancestrais comuns entre homens e primatas. Na Bblia, a origem da grande diversidade de lnguas do mundo tida como um castigo de Deus. Pelo texto bblico, no princpio dos tempos, s se falava uma lngua. Quando os homens resolveram construir uma torre que pudesse alcanar o cu, para ficarem mais prximos de Deus, foram castigados por seu criador e destinados a falar diferentes idiomas. No havendo mais entendimento entre eles, tiveram que parar a construo da torre de Babel. No sculo XIX, estudos comparativos levaram hiptese de uma origem comum entre as lnguas europias e as asiticas. Elas pertenceriam a uma mesma famlia lingustica, denominada indo-europeu. Para os cientistas da linguagem, no entanto, a proto-lngua dessa famlia no a lngua que deu origem a todas as outras. Chegou-se ao indo-europeu atravs da comparao de manuscritos antigos em lnguas orientais, como o Snscrito, com o que j se conhecia das lnguas germnicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas de escrita, na Antiguidade, j havia uma grande diversidade lingustica no mundo. Como no h registro da forma em que se falava naquele perodo, as hipteses sobre uma lngua original so consideradas pelo meio cientfico uma mera especulao. Em 1994, entretanto, o lingista Merrit Ruhlen, da Universidade de Stanford, nos EUA, publicou o livro A origem das lnguas, relanando o debate sobre a questo. "A comunidade lingustica estava de acordo at ento em pensar que o problema da origem das lnguas no podia ser abordado de maneira cientfica por sua disciplina", afirma Bernard Victorri, da cole Normale Suprieure de Paris. Victorri um dos pesquisadores que contribuiu para a edio de dezembro de 2000 e janeiro de 2001 da revista francesa Sciences et Avenir, inteiramente dedicada origem da linguagem e diversidade lingustica no mundo. Em seu artigo, ele explica a teoria de Ruhlen que reagrupa as lnguas em 12 grandes famlias lingusticas e estabelece, pelo mtodo comparativo, uma lista de 27 razes de palavras comuns ao conjunto de lnguas do mundo. Segundo o lingista norte-americano, essas razes pertenceriam a uma lngua original, de onde teriam surgido todas as outras. A anlise que Victorri faz da teoria de Ruhlen que apesar de suas hipteses serem interessantes, seus argumentos no so muito convincentes, especialmente quando ele recorre ao clculo de probabilidades. Mas ele no descarta a importncia dessa contribuio cientfica: "Reagrupando os esforos de lingistas, antroplogos, arquelogos e geneticistas, pode-se esperar reconstituir a histria da humanidade desde o surgimento da nossa espcie", afirma. Merrit Ruhlen foi discpulo de Joseph Greenberg, um dos mais respeitados lingistas norte-americanos. Em 1960, Greenberg publicou um estudo em que postulava 45 caractersticas lingusticas universais a partir da comparao de lnguas de famlias diferentes espalhadas pelos cinco continentes do globo terrestre. Trs anos antes, outro lingista norte-americano de grande prestgio, Noam Chomsky, havia lanado a idia de que havia princpios universais comuns a todas as lnguas, herdados geneticamente. A teoria chomskyana se desenvolveu ao longo da dcada de 60, propondo que alm dos princpios universais, existiriam parmetros especficos de cada lngua, assimilados no contato do falante com sua lngua materna. Um dos princpios universais que toda lngua possui sujeito, verbo e objeto, sendo varivel a ordem desses constituintes na frase. Um parmetro especfico de uma lngua
como o portugus, por exemplo, o do sujeito nulo. No contato com a lngua,
durante o processo de aquisio de linguagem, a criana assimila que, em portugus, podemos omitir o sujeito de uma frase. Uma sentena como "chove", recebe obrigatoriamente um sujeito impessoal em lnguas como o ingls ("it rains") e o francs ("il pleut"). Alm de estar entre os tpicos de estudo da cincia lingustica, a origem da linguagem e a universalidade das lnguas ocupa o pensamento filosfico desde a Antiguidade. Plato falava em uma lngua fundada na natureza; Descartes, em uma lngua universal bastante fcil de aprender; Rousseau, na degenerao da linguagem dos primeiros homens. O ideal da universalidade, que tambm aparece no mito bblico da torre de Babel, chegou a inspirar no final do sculo XIX a criao de lnguas artificiais como o volapuk e o esperanto. Porm, a primeira guerra mundial, no comeo do sculo XX, marca o fim das utopias universalistas, segundo descreve a lingista Marina Yaguello, da Universidade de Paris, em seu artigo"La langue universalle", publicado naquela mesma edio de Science et Avenir. Aps a segunda guerra, no entanto, a universalidade ressurge, dessa vez no como um ideal: o desenvolvimento da cibercultura impe o ingls como lngua internacional de comunicao. Yaguello aponta, alm das razes histricas e econmicas, alguns fatores culturais que facilitaram essa internacionalizao: "O ingls bem menos submisso a uma norma acadmica que o francs; suas numerosas variedades so reconhecidas e aceitas. O ingls beneficia-se de uma aura de modernidade, de juventude, de vitalidade", afirma a lingista. Com essa expanso, o ingls vem sendo qualificado como killer language (lngua assassina) em relao s lnguas minoritrias, com poucos falantes, que acabam desaparecendo. " problemtica da lngua perfeita, seguida da lngua universal, sucedeu, no incio do terceiro milnio, aquela das lnguas em risco de extino", diz Yaguello. David Crystal, em The Cambrige Encyclopaedia of Language, de 1987, relaciona as lngua mais faladas no mundo, que so consideradas oficiais em seus pases, e o nmero de falantes que elas possuem. O ingls aparece em primeiro lugar na lista, com 1,4 bilho de falantes; o mandarim, falado na China, aparece em segundo, com 1 bilho de falantes, seguido do hindi, falado na ndia, com 700 milhes, e do espanhol, com 280 milhes. Crystal pondera que h uma superestimao nos dados, pois na ndia, por exemplo, apenas um nmero relativamente pequeno dos habitantes fala ingls, uma das lnguas oficiais do pas. O portugus aparecia na lista de Crystal em oitavo lugar, como lngua oficial de 160 milhes de pessoas. Estima-se que hoje sejam mais de 180 milhes os falantes de portugus em todo o mundo. Em 2000, Crystal publicou o livro Language Death, relatando o desaparecimento de diversas lnguas minoritrias do planeta. Em abril do ano passado, a revista Veja publicou uma entrevista com o lingista Steven Fischer, diretor do Instituto de Lnguas e Literatura Polinsias da Nova Zelndia, na qual ele fazia a previso do fim da maior parte das lnguas faladas hoje no mundo. " Falam-se entre 4.000 e 6.800 idiomas na Terra. Haver menos de 1.000 em 100 anos. Em 300 anos, no mais do que 24. Ingls, mandarim e espanhol sero as mais faladas", diz Fischer. "Ingls certamente ser a lngua franca", completa. Ele tambm afirma que o portugus falado no Brasil sofrer grandes transformaes pelo contato com os parceiros comerciais do Mercosul. "Devido enorme influncia do espanhol, bastante provvel que surja uma espcie de portunhol", declara. O lingista Carlos Vogt, diretor de redao da Com Cincia, fez uma anlise das declaraes de Fisher, em artigo publicado no Observatrio da Imprensa, em 20 de abril do ano passado. "No sei se o
futurologismo de Fischer ter os futuros que ele desenha, na cronologia que
estabelece, na velocidade que preconiza", comenta Vogt. "Sei, contudo, que a sua viso segue a lgica inexorvel do processo de globalizao da economia mundial e de suas consequncias culturais", completa. A edio de julho deste ano das revistas Galileu e Cincia Hoje retomam respectivamente os temas do desaparecimento das lnguas no mundo e do destino do portugus no Brasil (veja entrevista com Mrio Perini sobre o seu artigo na Cincia Hoje). A reportagem de Marcelo Ferroni, da Galileu, mostra os esforos de pesquisadores para evitar a extino das lnguas, o crescimento do estudo de lnguas indgenas no Brasil e a formao de ndios como professores de sua prpria lngua, destacando o trabalho de Aryon Rodrigues, da UnB, o maior conhecedor do assunto no pas (veja artigo nesta edio). Em novembro do ano passado a Com Cincia publicou um texto de Aryon Rodrigues sobre a diversidade lingustica na Amaznia e uma reportagem sobre o financiamento concedido pela Fundao Volkswagen para o estudo de trs lnguas amaznicas em extino. http://www.comciencia.br/
ASSIS-PETERSON, Ana Antônia de COX, Maria Inês Pagliarini. Inglês em Tempo de Globalização para Além de Bem e Mal. in Caleidoscópio, Vol. 5, N. 1, P. 5-14, Jan-Abr 2007.