You are on page 1of 14

A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES DA MULHER PRODUZIDA POR SUAS

LÍDERES 1

Rafaela de Melo Vasconcellos/UFPE2


Luiz Anastácio Momesso/UFPE3

RESUMO

A crescente violência contra a mulher, em Pernambuco, vem sendo motivo de preocupação para
o movimento de mulheres do Estado. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher do
SOS Corpo, entre 2003 e 2005, houve mais de 1.000 homicídios femininos. E, para além dos
casos de violência doméstica, sexual e dos homicídios, as mulheres pernambucanas também estão
sendo agredidas, cotidianamente, nos meios de comunicação. Elas são apresentadas como objetos
de consumo para milhares de telespectadores e ouvintes de todo o Estado. Este quadro de
violência simbólica demonstra o quanto a democratização da comunicação ainda não é uma
realidade no Brasil e que a população precisa se fortalecer para exercer o controle social dos
meios massivos, enfrentando e denunciando tais abusos. Diante dessa realidade, a sociedade civil
vem promovendo diversos esforços para fortalecer a intervenção política em defesa do direito
humano à comunicação pela sociedade local. Vale destacar que, no Nordeste, houve uma grande
inserção de mulheres no movimento feminista. Tal quadro significa uma adesão aos espaços de
discussão e debate sustentados pelo movimento, principalmente em Pernambuco. São nessas
instâncias que as mulheres organizadas se fortalecem e constroem plataformas de ação para o
enfrentamento de problemas comuns a todas. O presente projeto propõe-se a captar as
representações produzidas pelo SOS Corpo, a partir de sua página eletrônica, mais precisamente a
do Observatório da Violência contra a Mulher. As análises críticas desses materiais de
comunicação da entidade, baseadas nos conceitos de gênero de Scott (1996), Saffioti (2004) e de
representação social de Moscovici (op. cit. 2002), revelam um tratamento da violência contra a
mulher crítico e profundo; críticas à imprensa e ao Estado, mas também, uma tentativa de
interlocução entre os sujeitos, a fim de se criar e implantar políticas públicas para enfrentar o
problema e transformar a sociedade. Ao articular seu discurso a questões globais, o SOS Corpo –
aqui tomado como uma das lideranças do movimento de mulheres – surge como uma
organização, que desenvolve uma atuação concreta e se caracteriza por uma postura crítica.

1. INTRODUÇÃO

Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização

1
Artigo resultante da pesquisa de Iniciação Científica “Mídia, movimento de mulheres e a construção da violência
simbólica”, sob orientação do Professor Doutor Luiz Anastácio Momesso do Departamento de Comunicação Social
da Universidade Federal de Pernambuco.
2
Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero – Modalidade Estudante de Graduação. Ano I.
Estudante do Curso de Comunicação Social/ Jornalismo – UFPE no período dessa pesquisa (2006-2007).
E-mail: rafa.mvasconcellos@gmail.com
3
Professor e pesquisador do Departamento de Comunicação Social da UFPE. Coordenador do Núcleo de
Documentação dos Movimentos Sociais de Pernambuco. E-mail: momessoufpe@superig.com.br
que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.
Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. (BEAUVOIR:
1980; 9).

A crescente violência contra a mulher, em Pernambuco, vem sendo motivo de preocupação para
o movimento de mulheres do Estado. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher do
SOS Corpo, entre 2003 e 2005, houve mais de 1.000 homicídios femininos. O perfil é de
mulheres entre 18 e 40 anos, residentes em bairros de baixa renda da Região Metropolitana do
Recife, com destaque para as negras. Se, até os três últimos anos, os crimes aconteciam,
geralmente, na residência das vítimas, em 2005 e 2006, as agressões tomaram o espaço público.
Ainda de acordo com a mesma fonte, 55% dos crimes cometidos no ano passado aconteceram na
via urbana e 45% no espaço doméstico.

O tripé das desigualdades, que se situa fundamentalmente nas opressões de classe, raça e gênero,
revela uma série de entraves à emancipação das mulheres pobres e negras, como as mais
discriminadas e subalternizadas no conjunto da população feminina.

E, para além dos casos de violência doméstica, sexual e dos homicídios, as mulheres
pernambucanas também estão sendo agredidas, cotidianamente, nos meios de comunicação. Elas
são apresentadas como objetos de consumo para milhares de telespectadores e ouvintes de todo o
Estado.

Este quadro de violência simbólica demonstra o quanto a democratização da comunicação ainda


não é uma realidade no Brasil e que a população precisa se fortalecer para exercer o controle
social dos meios massivos, enfrentando e denunciando tais abusos.

Diante dessa realidade, a sociedade civil vem promovendo diversos esforços para fortalecer a
intervenção política em defesa do direito humano à comunicação pela sociedade local. Entre
essas entidades, dentro do movimento de mulheres, o Fórum de Mulheres de Pernambuco
(FMPE) tem se destacado. Formado por 67 entidades 4 que retratam a pluralidade do movimento
de mulheres na diversidade de suas ações políticas, o FMPE atua na defesa dos direitos humanos
e de melhores condições de vida para as mulheres, priorizando a Participação Política Feminista,
Ações pelo Fim da Violência Contra a Mulher, Juventude, Saúde, Direitos Sexuais e
Reprodutivos.

Vale destacar que, no Nordeste, houve uma grande inserção de mulheres no movimento feminista
e o crescimento, nos últimos anos, das militantes engajadas na Articulação de Mulheres
Brasileiras (AMB). Tal quadro significa uma adesão aos espaços de discussão e debate
sustentados pelo movimento, principalmente em Pernambuco. É nessas instâncias que as
mulheres organizadas se fortalecem e constroem plataformas de ação para o enfrentamento de
problemas comuns a todas.

Dado de 2005. Para se ter déia do crescimento do FMPE, três anos antes, em 2002, eram, apenas, 40 organizações
feministas.
Acreditando, então, na necessidade de se desenvolver estudos sobre o movimento de mulheres,
que vêm crescendo, aperfeiçoando suas formas de organização, melhorando seu nível de
consciência e ganhando força no conjunto da sociedade, o presente projeto propõe-se a captar as
representações que as militantes da ONG SOS Corpo, enquanto uma das lideranças do
movimento de mulheres, produzem de si mesmas e da mulher pernambucana Pretende-se, aqui, a
partir de sua página de Internet, com destaque para o Observatório da Violência contra a Mulher
em Pernambuco5, identificar que valores e princípios são difundidos por trás de seu discurso.
Quais estratégias utilizadas na sua prática? Qual o papel do site nesse processo?

O resultado produzido por este projeto integrará uma pesquisa mais ampla, com objetivo de
produzir conhecimentos que sirvam de subsídios para um trabalho de médio e longo prazo,
aproximando universidade e sociedade para execução de ações no sentido de democratizar a
comunicação e fazer com que ela se torne elemento de construção de uma sociedade mais justa.

1.1 Referencial teórico

1.1.1 Entendendo gênero

A amplitude do termo gênero e sua multiplicidade de sentidos fazem com que seja difícil defini-
lo com precisão. Aqui, ele não corresponde a um estilo, uma espécie, uma categoria gramatical
ou natureza de uma manifestação artística, mas sim a uma construção social do sexo, do feminino
e do masculino. A diferenciação entre “gênero” e “sexo” é essencial na perspectiva adotada aqui,
porque o primeiro abrange uma complexidade que transcende o determinismo biológico do outro.

E, mesmo que dentro da própria teoria feminista, haja diversos empregos do termo, tal idéia
parece ser um consenso. Assim, esse conceito é fundamental na desnaturalização de práticas
cotidianas que definem o que é ser homem ou ser mulher. Como explicam Maria Amélia de
Almeida Teles e Mônica de Melo,

a sociologia, antropologia e outras ciências humanas lançaram mão da categoria gênero para
demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens,
que repercutem na esfera pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais
diferenciados que foram construídos historicamente, e criaram pólos de dominação e
submissão. (TELES e MELO: 2003; 16)

Nesse sentido, a definição trazida por Joan Scott nos anos 80 é bastante relevante. A concepção
de que “gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas
entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder” (Scott: 1996;
11) traz luz ao entendimento, discussão e aplicação do conceito. E, assim como diversos estudos,
este, também, toma a autora como referência teórica.

Na condição de construção social e produto do processo histórico, o gênero carrega, em si,


cultura, ideologia, práticas discursivas etc. Os costumes, os hábitos, o aparato político-
educacional, o controle de informação/ conhecimento, os meios de comunicação produzem e
5
Ver http://www.soscorpo.org.br e http://www.soscorpo.org.br/observatorio
disseminam estereótipos que reforçam a desigualdade entre homens, mulheres, homossexuais. O
gênero surge como sistema de relações sociais; uma expressiva chave de leitura no conhecimento
do modo de viver, sentir e pensar das pessoas de uma determinada sociedade. Através dele, pode-
se apreender a significação do poder (política), ou melhor, as implicações que um tem no outro
(SCOTT: 1996).

A explicação de Carole Pantenam sobre a dicotomia público-privado ajuda na compreensão dessa


perspectiva:
A separação entre o privado e o público é a separação do mundo da sujeição maternal, quer
dizer, das mulheres, do mundo das relações convencionais e individuais, quer dizer, dos
homens. O mundo feminino, privado, da natureza, particularidade, diferenciação,
desigualdade, emoção, amor e laço de sangue, está posto à parte do âmbito público, universal
– e masculino – da convenção, igualdade civil e liberdade, razão, acordo e contrato.
(PANTENAM apud CAMURÇA: 2001; 167).

No enfrentamento desse paradigma, o movimento de mulheres propõe uma reconstrução de si,


uma nova identidade. A mulher deixa de ser percebida como alteridade, para ser consciência,
sujeito autônomo. Na reconstrução simbólica e social da realidade, os processos políticos podem
ser entendidos como disputa de significados e estruturação de discursos desencadeadores de
novas práticas e acordos (CAMURÇA: 2001).

Acredita-se, aqui, na necessidade de a desigualdade de gênero perpassar pelo domínio da


consciência, na medida em que comportamentos e vivências socializados na vida cotidiana são
legitimados por valores, princípios, subjetividades, signos, representações, arraigados no
inconsciente coletivo.

1.1.2 Do contexto da violência contra mulher

Um levantamento realizado em 2001, pela Fundação Perseu Abramo, intitulado “A Mulher


Brasileira nos Espaços Públicos e Privados”, projetou que, no mínimo, 2,1 milhões de mulheres
são espancadas por ano no Brasil, o que significa uma a cada 15 segundos. Entretanto, vale
destacar que há vários tipos de violência contra a mulher: doméstica, sexual, psicológica, moral,
de gênero, familiar, simbólica. Adota-se, aqui, a idéia de violência como violação de qualquer
direito humano.

Segundo a Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, a


violência contra a mulher é todo e qualquer ato embasado em uma situação de discriminação de
gênero, na vida pública ou privada, que tenha como resultado dano de natureza física, sexual ou
psicológica, incluindo ameaças, coerção ou a privação arbitrária da liberdade, conforme a
definição da Plataforma de Ação da conferência Mundial da Mulher, realizada em 1995, em
Pequim.

Apesar de a desigualdade de gênero transcender a questão de classe ou etnia, na medida em que a


violência contra a mulher acontece nas diferentes camadas e grupos da sociedade, é importante se
levar em consideração o contexto das vítimas. Isso, porque, como defende Mariana Santos,
“revela muito sobre as dificuldades, limitações e perspectivas na superação do problema”
(SANTOS: 2006; 9).
No Nordeste, historicamente marcado pela exploração e pela negligência do poder público, o
coronelismo e escravismo, típicos do período canavieiro, deixaram heranças culturais fortes. Seus
valores ainda sustentam muitas relações de dominação e subordinação entre homens e mulheres
numa sociedade, que, mesmo hoje, não se libertou da cultura patriarcal do senhor de engenho.

Esse tipo de cultura e suas formas de organização político-social se traduzem em desigualdades


econômicas, políticas, sociais e de gênero. Nesse sentido, vale ressaltar a contribuição de (Saffiot:
2004), ao identificar o novelo patriarcado-racismo-capitalismo6 na caracterização da estrutura
social, que determina privações à vida das mulheres e a constante violação de seus direitos
humanos.

Segundo estatísticas, a violência é um fenômeno que atinge, majoritariamente, as mulheres que


estão em situações de maior vulnerabilidade social: pobres e negras. E, de acordo com uma
pesquisa do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), em 2000, 70% dos crimes
contra a população feminina são praticados no espaço doméstico, tendo como principais
agressores, os pais, padrastos, irmãos, maridos ou companheiros das vítimas.

Apesar de ser difícil de determinar um marco histórico exato para o fenômeno da violência contra
a mulher, considera-se, aqui, o patriarcado como uma de suas raízes. Mesmo sendo um conceito
controverso e até mesmo abandonado por algumas correntes feministas, no presente estudo, ele é
tomado como um sistema de poder estratégico, marcado por uma hierarquização nas relações
entre homens e mulheres, na qual os primeiros dominam os esquemas de interpretação da
realidade e criam sistemas simbólicos que inferiorizam as últimas. (SAFFIOTI: 2005).
Como afirma a socióloga Maria Betânia Ávila,

a ideologia patriarcal vem se reproduzindo como parte da herança cultural. As estruturas da


nossa sociedade, marcadas por profundas desigualdades sociais estão construídas a partir de
um ideário positivista que justifica, através de argumentos naturalizadores da vida social, as
formas de violência exercidas sobre as mulheres e a população negra (ÁVILA: 2001; 32).

Diante da naturalização da subordinação e da percepção do sistema patriarcal como “realidade”


vigente, a violência acaba permitida implícita ou explicitamente. Até porque, outra faceta do
patriarcado, na disputa de poder, é o mecanismo do controle e do medo – sentimentos que
formam um ciclo vicioso. Diante das ameaças de violência, as mulheres submetem-se, mas não
aprovam intimamente tal situação (Saffioti: 2005). É nesse sentido que a luta do movimento
feminista perpassa pela visibilidade, discussão e enfrentamento do fenômeno.

1.1.3 Gênero e mídia

Partindo-se da premissa de que a informação é uma produção histórica, correspondente a um


momento circunstancial específico, é pertinente notá-la sob duas perspectivas: produto e
produtora de cultura.

Ao mesmo tempo em que é determinada por condições econômicas, ideológicas, sociais,


simbologias, ela também é uma interpretação tomada, muitas vezes, como verdade, interferindo
6
Na metáfora do nó, Heleieth Saffiotti trabalha a idéia de gênero, classe e etnia/raça unificados por uma estrutura de
poder.
na significação do mundo, na transmissão de valores, idéias, estereótipos etc. Nesse sentido, a
mensagem participa do dialético processo de criação das representações que dão e traduzem
significados, no que diz respeito à visão de mundo, de sociedade.

E, quando se leva em consideração o fato de as classes dominantes controlarem, historicamente, a


circulação de informações e de valores simbólicos, constata-se quão estratégico o poder da
comunicação é. No Brasil, pode-se mesmo falar num paralelismo entre o coronelismo político e o
midiático. (LIMA: 2004).

Apesar de a Constituição Federal de 1988 defender a complementariedade entre os meios de


comunicação públicos, privados e estatais, em detrimento de seu monopólio, 85% dos meios de
comunicação de massa, em todo país, estão sob o controle de menos de dez famílias7. Elas
dominam o que mais de 180 milhões de pessoas vêem e ouvem. Além disso, cerca de 30% dos
deputados e senadores são acionistas de grupos de mídia ou detém concessões para o
funcionamento de rádios e televisões.

Em decorrência de a grade dos media não ser submetida ao controle social, muitos programas
incentivam violência, racismo, homofobia, machismo. Trata-se mesmo de casos recorrentes de
violência simbólica, que ferem os direitos humanos de centenas de brasileiros e brasileiras
diariamente.

Na programação local, inclusive em horários nobres do rádio e da TV, programas sexistas


contribuem na criminilização pública das profissionais do sexo, das lésbicas e das mulheres
presas pela prática do aborto clandestino e inseguro. Eles reforçam a cultura patriarcal e o
machismo, incutindo mensagens subliminares e diretas de que as mulheres devem se colocar
socialmente em desvantagem perante os homens. Nesses “espetáculos massivos”, os locutores – e
vale destacar que esses apresentadores são homens – costumam usar expressões que relegam a
vivência da homossexualidade (feminina e masculina) à marginalidade. São termos carregados de
preconceito racial, que só reforçam estigmas sociais.

Diante desse retrato de violência simbólica, o diálogo entre mídia e movimentos sociais é
estratégico. Por um lado, a aproximação permite que o movimento entenda melhor a lógica e
formas de produção midiática, aperfeiçoando a fala pública de os (as) militantes, e, por outro,
enriquece a própria práxis jornalística, na medida em que põe o (a) profissional num contato mais
próximo com a realidade desses grupos.

Nessa perspectiva, o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) e a Rede Nacional


Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos (RedeSaúde) realizaram, em 1997, em São Paulo, o
seminário “Mulher e Mídia: uma pauta desigual?”. Na ocasião, jornalistas da grande mídia e
militantes do movimento feminista se reuniram e discutiram o contexto da mídia, a atitude
perante ela, questões internas das ONGs, e apontaram estratégias para a relação entre as
mulheres e a comunicação midiática.

7
Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Frias (Folha de São Paulo/ UOL), Mesquita (Estado de São Paulo), Civita
(Abril), Saad (Band) e a Igreja Universal (Record).
No prefácio do livro publicado como resultado do encontro, o então repórter especial da Folha de
São Paulo Aureliano Biancarelli explicou:

Grupos de mulheres não têm de pedir por espaços nem solicitar atenção. Jornalistas e mídia,
por sua vez, não precisam fazer ar de que estão sendo gentis ou colaborativos. Se a informação
tem peso, tem cor, tem personagem, ela se impõe. Vai ser publicada porque é notícia, não
porque veio desta ou daquela fonte.
Nenhum informante ou fonte tem que implorar para ser notícia. Basta dizer o que está
acontecendo. E no universo de gênero, do masculino e do feminino, há muita coisa
acontecendo. (CFEMEA; REDESAÚDE: 1997, 6).

É importante frisar que não se trata de demonizar ou santificar os meios de comunicação. O fato é
que os interesses da mídia hegemônica e dos movimentos sociais são antagônicos. Enquanto os
primeiros seguem a lógica capitalista, os últimos primam pela justiça social. E a luta pela
democracia, passa, necessariamente, pela democratização da comunicação. Enquanto direito
humano, ela deve atender aos interesses da sociedade e não a aglomerados comerciais. Inclusive,
uma das propostas da Plataforma Política Feminista, aprovada em 2002, é

convocar os meios de comunicação de massa pra assumir sua responsabilidade social na


transformação do imaginário coletivo no que se refere a seus traços machistas, sexistas,
racistas e homofóbicos, implementando programas de informação e comunicação de amplo
alcance social. (PLATAFORMA POLÍTICA FEMINISTA: 2005; 58).

E, quanto à questão da luta feminista pela fala pública – suas estratégias de comunicação; o
agendamento de temas; a auto-representação – será abordada mais adiante, a partir da experiência
do site do SOS Corpo.

1.1.4 O conceito de Representação

Aqui, trabalhar a idéia de gênero como atividade de representação significa entendê-la como
atividade mediadora entre a experiência e a linguagem, ou seja, como elemento de constituição
do discurso, mediação da ordem simbólica. Assim, ela participa do processo de significação do
mundo, orientando idéias e práticas de ser, sentir e agir em sociedade.

Nesse sentido, adota-se o conceito de Representação Sociais trazido por Serge Moscovici:

...a representação social é um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades


psíquicas graças às quais os homens tornam a realidade física e social inteligível, se inserem
num grupo ou numa relação cotidiana de trocas, liberam o poder da sua imaginação.
(MOSCOVICI apud ARRUDA: 2002).

Na tentativa de estabelecer uma psicossociologia do conhecimento, o autor faz uma distinção


entre representações sociais e coletivas. Para ele, as primeiras implicam numa plasticidade e
mobilidade dos fenômenos que atuam na dinâmica cotidiana de criação de comportamentos e
comunicação entre os indivíduos, ao passo que as coletivas, segundo a sociologia durkheimiana,
denotam estabilidade. Para Moscovici,

representar uma coisa [...] não é com efeito simplesmente duplicá-la, repeti-la ou reproduzi-la;
é reconstituí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se estabelece entre o
conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformando a substância concreta comum,
cria a impressão de ‘realismo’. [...] Essas constelações intelectuais uma vez fixadas nos fazem
esquecer que são obra nossa, que tiveram um começo e que terão um fim, que sua existência
no exterior leva a marca de uma passagem pelo psiquismo individual e social. (MOSCOVICI
apud SÁ: 1995: 33-4).

Nessa perspectiva, percebe-se como as representações sociais contribuem na construção


simbólica e social da realidade, incutindo valores e estruturando comportamentos. E se elas têm
“a função de fazer com que os indivíduos ou grupos se apropriem da realidade a partir de suas
carências e vivências diárias” (GOUVEIA apud CAMURÇA: 2001; 152-53), então, as
representações sociais participam de uma negociação de poder nos espaços cotidianos de
produção e reprodução de sentidos.

Como explica a socióloga e ativista do SOS Corpo Sílvia Camurça:

sendo relação, atividade de representação implica disputa de significado sobre a diferença


em elaboração, e, portanto, a atividade de representação não inclui a dimensão de poder. Ao
contrário, a inclui como relação em suas múltiplas possibilidades, dominação, subordinação,
resistência, conflito. Ao abrir a possibilidade de conhecimento, a representação contribui
para elaboração de discursos sobre as diferenças e para a constituição de campos de força
discursivos, através dos quais, como sustenta Foucault, constitui-se o próprio poder.
(CAMURÇA: 2001; 158)

Ainda considera-se, aqui, a explicação de Moscovici de que “o propósito de todas as


representações é o de transformar algo não familiar, ou a própria não familiaridade, em familiar”
(MOSCOVIVI apud SÁ: 1995; 35). E é com essa hipótese que se trabalhará com o SOS Corpo.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Captar as representações que as lideranças dos movimentos de mulheres produzem de si mesmas


e da mulher pernambucana, através da análise de seu material de comunicação e divulgação.

2.2 Específicos

Fazer um estudo do tratamento da violência contra a mulher nos materiais produzidos pela ONG
SOS Corpo;
Captar as representações, contidas nesses materiais, sobre os movimentos de mulheres e suas
lideranças;
Produzir uma análise das críticas contidas, nesses materiais, sobre a abordagem da imprensa
nessa temática.

3. METODOLOGIA

3.1 Estudo exploratório


O universo da amostra corresponde ao material de comunicação e outros documentos do SOS
Corpo - Instituto Feminista para a Democracia. Devido à maior disponibilização de informações,
de textos, relatórios, imagens, além de áudio de conferências e palestras, optou-se por trabalhar
com a página eletrônica do SOS Corpo, mais precisamente a do projeto Observatório da
Violência Contra a Mulher (http://www.soscorpo.org.br/observatorio).

3.2 Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica inicial consistiu na leitura e discussão de textos, artigos e livros focados
na questão de gênero, no grupo de pesquisa “Comunicação e Gênero” do Núcleo de
Documentação Sobre os Movimentos Sociais de Pernambuco/ UFPE. Depois, o estudo seguiu no
entendimento do que é violência contra a mulher, seus tipos e formas de expressão, para, a partir
daí, refletir sua relação com a mídia. Por fim, deteve-se no conceito de representação.

3.3 Levantamento de dados

Paralelamente à investigação eletrônica, através do acesso a textos, áudios, informativos no site


do SOS Corpo e no Observatório da Violência..., foram realizadas várias visitas à instituição,
mais precisamente ao CEDAP – Centro de Documentação e Apoio Pedagógico, na busca por
outros documentos e informações (livros, catálogos, cartilhas etc). Não havia uma freqüência pré-
estabelecida, porque as idas aconteciam de acordo com a demanda da pesquisa. Em algumas
ocasiões, porém, foram feitas entrevistas com as profissionais das áreas de comunicação e
documentação da entidade, Paula Andrade e Ana Paula Santana, respectivamente.

3.2 Análise de dados

Não foi possível analisar quem acessa a página eletrônica do SOS Corpo, tampouco quantificá-
las, porque a instituição não tem esse registro. Assim, não foi possível completar uma etapa
importante do projeto – de verificar como funciona o sistema de comunicação da entidade para
além do site. No mais, seguiu-se com uma análise crítica dos textos e materiais obtidos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 O Observatório da Violência Contra a Mulher

Trata-se de um projeto do SOS Corpo, apoiado pela Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República, voltado para a produção de informações e debates críticos
sobre a violência contra a mulher em Pernambuco, com o intuito de subsidiar a atuação dos
movimentos de mulheres e dos agentes públicos no seu enfrentamento.

4.1.1 O tratamento da violência contra a mulher

Na página eletrônica do Observatório da violência..., a questão é tratada a partir de uma


perspectiva sociológica feminista; como um problema que precisa ser entendido para ser
resolvido; de responsabilidade conjunta do Estado e da sociedade civil organizada.
Apesar de o foco ser a violência contra a mulher, mais especificamente os homicídios, ele surge
atrelado ao fenômeno da violência em geral, o que revela uma visão social de totalidade. Na
tentativa de monitorar e enfrentar a situação, há análise crítica das estatísticas de homicídios
femininos, com a comparação entre os dados de Pernambuco e os de outras regiões do Brasil e de
diferentes países. Também existe uma preocupação com o quadro interno do Estado, que
denuncia a discrepância de informações entre a área metropolitana e as rurais. Outro ponto
importante é a tentativa de qualificar a vítima, confrontando características históricas dos
homicídios de mulheres com as em Pernambuco. Isso permite traçar um perfil sócio-econômico-
cultural da situação, dando espaço, inclusive a outros temas, como segurança pública,
descriminalização do aborto e o referendo sobre o desarmamento.

Na crença, então, na formulação, implantação e qualificação das políticas públicas voltadas para
o enfrentamento do problema, em suas raízes, o projeto segue a seguinte estratégia: a partir dos
casos de homicídios de mulheres, há produção de informações e a análise do fenômeno da
violência (banco de dados dos homicídios; boletim Dados & Análises, e Dossiês); criação de
espaços de interlocução, que consistem em ciclos trimestrais compostos por uma oficina com
movimentos sociais, um encontro com a mídia e, por fim, um Fórum de diálogo entre sociedade
civil e Governos (Estadual e Municipal).

De acordo com a apresentação de Verônica Ferreira, da equipe do Observatório da Violência...,


no Seminário Nacional Enfrentamento da Violência contra a Mulher, que marcou o
encerramento do projeto em 2006, os resultados foram: diálogos com os movimentos (de
mulheres, de Direitos Humanos, de negros, sindical); articulação dos movimentos com o poder
público e colocar a violência contra a mulher em pauta. Apesar de essa experiência ser
fundamental, é necessário averiguar quem, de fato, das organizações e movimentos participa das
oficinas, fóruns, debates. Em relatórios disponíveis no site do Observatório da Violência...,
constata-se que a maioria são mulheres e só há um representante de cada instituição. Como se dá,
então, a articulação desse membro com o restante de seu movimento? Que garantias há de
eficácia? Bem, essas questões são importantes e exigem cautela e um acompanhamento mais
detalhado. Vão além desse estudo.

Vale destacar, ainda, um caráter de prestação de serviços do Observatório da Violência... Além


de textos, pesquisas, notícias, eventos e artigos sobre o problema da violência no Estado e no
Brasil, são disponibilizados telefones e endereços úteis para mulheres em situação de risco.

4.1.2 Representações do movimento de mulheres e lideranças

Ainda que se defenda uma “atuação conjunta, qualificada, comprometida” do Estado com a
sociedade civil, no site do Observatório da Violência..., o movimento de mulheres surge como
protagonista da reflexão crítica e das ações, como sujeitos políticos, sociais e históricos. Mas, é
importante destacar um detalhe: as mulheres do SOS Corpo, ao atribuir, à instituição e ao projeto,
o papel de assessorar, subsidiar e orientar o movimento de mulheres e agentes públicos, acabam
se auto-representando como líderes, ou como o que Gramsci chama de “intelectuais orgânicos”.

O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloqüência, motor exterior e
momentâneo dos afetos e das paixões, mas num imiscuir-se ativamente na vida pública, como
construtor, organizador, “persuasor permanente”, já que não apenas orador puro [...] eleva-se
[...] à concepção humanista histórica, sem a qual se permanece “especialista” e não se chega a
“dirigente”. (GRAMSCI: 1991; 8).

Ao perceberem que as formas instituídas são injustas, os “intelectuais orgânicos” se


comprometem com uma causa/ discurso contra-hegemônico. Assim, têm uma perspectiva, de
certa forma, ligada aos grupos dominados, dialogando com eles criticamente, contribuindo em
seus interesses, e, dessa forma, organizam a cultura. Pode-se dizer que se trata de ocupantes que
assumem o lugar do ocupado, na medida em que se atribuem uma “missão”, numa espécie de
tutor.

O uso recorrente de termos como “enfrentamento”, “combate”, “pressão”, ao se referir ao


movimento de mulheres, traz, subliminarmente, valores e idéias de coragem, transformação, luta,
ataque, força, persistência. As integrantes do movimento parecem guerreiras, cuja maior arma é a
informação crítica, ao passo que as estratégias são a comunicação e a articulação política. Além
da inserção das mulheres no processo político geral, o movimento de mulheres traz questões para
a agenda da democracia, dentre as quais a relação entre a esfera pública e privada e os direitos
humanos.

Apesar de não haver fotos no site do Observatório da Violência..., em outros espaços, como a
página principal do SOS Corpo, as imagens retratam as mulheres agindo, reivindicando,
trabalhando juntas, em grupo, nunca sozinhas. Os quadros são, quase sempre, em ruas e
ambientes externos. Closes são praticamente inexistentes: parece que a intenção não é ver rostos
específicos, indivíduos, mas, antes, um grupo forte agindo, protestando e/ou discutindo, com
faixas, cartazes, passeatas, círculos e rodas de debate. Em algumas passagens do site, inclusive, a
identidade institucional confunde-se com a do grupo de pessoas. Mesmo que geralmente o
discurso seja em nome do SOS Corpo, acontece de o texto estar na terceira pessoa do plural. Tal
atitude revela um sentimento de pertencimento, uma auto-afirmação e reforça a idéia das
mulheres como sujeito coletivo.

4.1.3 Críticas feitas à imprensa

Tendo como centro da discussão, o papel da imprensa na construção da cultura da violência, as


mulheres do Observatório da violência... criticam:
- o pouco interesse da mídia pelo acompanhamento e resolução dos crimes;
- a utilização de fotos sensacionalistas;
- a ausência da voz da opinião das mulheres na imprensa.

Tais questões evidenciam uma postura pouco crítica de uma mídia comercial, voltada para
interesses distantes dos sociais. No site do Observatório da violência..., o levantamento feito das
notícias na imprensa local sobre a violência contra a mulher traz, num mesmo dia, manchetes
como "Juizado Especial ainda não saiu do papel” 8, até “A carnificina continua” 9. Apesar de as
matérias serem disponibilizadas por completo, não há análises, discussão ou questionamento
delas em si. O espaço surge como exposição.

8
Extraído da Folha de Pernambuco. 29 nov.2006. Disponível em http://www.soscorpo.org.br/observatorio
9
Extraído do Jornal do Commercio. 29 nov.2006. Idem.
Que critérios, ou melhor, valores-notícia norteiam essas publicações? Submetidos aos veredictos
do mercado, os meios jornalísticos buscam o que provoca escândalo, o espetáculo. E, por
despertar curiosidade nas pessoas, a violência conquista muito espaço na mídia. Contudo, muito
além da atualidade ou dramaticidade, a imprensa costuma usar a “cultura da pinça”, ou seja,
extrai o fato do contexto, deixando-o numa circunstância apelativa, e acaba por apresentá-lo de
forma superficial, sem aprofundamento crítico.

Nesse sentido, deve-se levar em consideração a perspectiva do newsmaking (Souza: 2002): a


filtragem de informações; hierarquização dos acontecimentos; escolha das fontes; pressão do
tempo; concepção de pauta; política editorial. Com decisões tomadas a partir de juízos de valor –
experiências, expectativas, valores – a seleção configura-se como um processo subjetivo e,
muitas vezes, arbitrário.

E, apesar de ser uma iniciativa imprescindível, os encontros com os profissionais de comunicação


não foram tão eficientes, na medida em que a quantidade que participou foi pouco expressiva.
Apenas seis profissionais da área compareceram ao 1º Encontro em março de 2005. Vale destacar
que não havia nenhum jornalista dos 3 principais veículos impressos do Estado – Jornal do
Commercio, Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco.

4.2 O papel do site10

Ao permitir o acesso da discussão posta em prática, para diferentes sujeitos, de diferentes lugares
e contextos, o site funciona como espaço de democratização da informação, e, por conseguinte,
da comunicação como direito humano, mas também como poder estratégico na construção
simbólica e social da realidade.

Nesse sentido, mais do que ser uma forma de divulgar as informações e posturas sobre a
violência contra a mulher, o site do Observatório da Violência..., mostrou-se como instrumento
importante para manter um elo entre os sujeitos – sociedade, movimentos, poder público – em
torno da questão.

5. CONCLUSÕES

Diante do contexto alarmante da violência contra a mulher, a experiência do Observatório da


Violência Contra a Mulher surge como uma alternativa enriquecedora na compreensão e
enfrentamento do fenômeno.

O discurso e a prática voltados para formulação e implementação de políticas públicas,


enfatizando o papel do Estado e dos movimentos sociais, principalmente o de mulheres, confirma
a postura do SOS Corpo como integrante ativo da sociedade civil organizada. E, que, apesar de

10
O projeto do Observatório da Violência contra Mulher foi encerrado em 2006, mas seus dados e informações
ainda estão disponíveis no endereço <http://www.soscorpo.org.br/observatorio>. É importante destacar que a página
eletrônica do SOS Corpo encontra-se em manutenção. Suas notícias, por exemplo, não estão atualizadas; são de
2006. Mesmo assim, as informações contidas nas outras seções do site deram subsídios para o estudo das idéias e
ações da organização.
não ter uma filiação político-partidária, consegue desenvolver alternativas de transformação
social, além de uma outra representação da mulher.

A partir da experiência do site, constata-se que a Internet, por não haver uma concentração de
vozes, configura a tecnologia como arma legítima contra eventuais controles estatais,
empresariais, ou mesmo a desinformação. A relação comunicação e poder, de fato, é alterada. No
contexto atual das infomídias interativas, onde os meios on-line trazem um novo paradigma, a
comunicação é concebida de forma multidirecional. Num ambiente virtual, os indivíduos podem
ser, ao mesmo tempo, consumidores e produtores de conteúdos.

E, se “ocupar espaços é desmarginalizar” 11, então, essas mulheres acabam assumindo uma
postura soberana, legítima de falarem por si mesmas; de deixar de ser o outro, para ser nós. No
site, elas são empoderadas o suficiente para agendar temas, trazer novas abordagens, repudiar ou
respaldar explicitamente qualquer ação, seja na terceira pessoa do plural, seja usando o nome da
organização.

Nesse sentido, a página eletrônica do SOS Corpo representa um espaço de ressignificação do


papel e da imagem da mulher. E o interessante é que, mais do que simplesmente se fazer ouvir,
ela permite estabelecer formas de diálogo, comunicação – uma postura distinta da mídia
hegemônica. Isso reforça o quanto a democratização da comunicação ainda não é uma realidade
no Brasil e que a população precisa se fortalecer para exercer o controle social dos meios
massivos, enfrentando e denunciando tais abusos.

No caso específico das mulheres do SOS Corpo, há uma luta de reconhecimento numa nova
esfera pública. Trata-se de indivíduos com uma nova sensibilidade do mundo, um novo estilo de
vida, com novas categorias de ser. Aqui, a mulher deixa de ser percebida a partir do outro – do
homem – para existir a partir de si mesma. E, na medida em que articulam seu discurso a
questões globais, não surgem como um movimento de gueto. Legitimam-se, antes, como uma
organização, que desenvolve uma atuação concreta e se caracteriza por uma postura crítica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, B. M. & PITANGUY, J.1991. O que é feminismo?: Brasiliense. São Paulo.

11
Extraído do mini-curso "Mídia Locativa, Cidades e Territórios Informacionais", ministrado pelo Prof. André
Lemos no campus da UFPE, nos dias 2 e 3 de julho de 2007.
ÁVILA, M. B. 2001. Feminismo, cidadania e transformação social. In: Textos e imagens do
feminismo: mulheres construindo a igualdade. (M. B. ÁVILA, org). SOS Corpo, Recife, p. 13-
70.

BEAUVOIR, S. 1960. O segundo sexo: fatos e mitos. Difusão Européia do Livro. São Paulo.

CAMURÇA, S. 2001. A política como questão: revisando Joan Scott e articulando alguns
conceitos. In: Textos e imagens do feminismo: mulheres construindo a igualdade. (M. B. ÁVILA,
org.) SOS Corpo, Recife. p. 131-190.

CFEMEA; REDESAÚDE. 1997. Mulher e mídia: uma pauta desigual? Cfemea & RedeSaúde.
São Paulo. 62p.

GOUVEIA, Taciana. 2001. Antinomias e contradições: a dinâmica da institucionalidade. In:


Textos e imagens do feminismo: mulheres construindo a igualdade. SOS Corpo, Recife. p239 -
286.

GRAMSCI, A. 1991. Os intelectuais e a organização da cultura. Civilização brasileira. Rio de


Janeiro

LIMA, V. A. de. 2004. Mídia, teoria e política. Fundação Perseu Abramo. São Paulo.

PLATAFORMA POLÍTICA FEMINISTA. 2002. CFEMEA. Brasília.

SÁ, C. P. de. 1995. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: O
conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. (M. J.
SPINK, org.) Brasiliense, São Paulo: p.19 – 45.

SAFFIOTI, H. I. B. 2005. Gênero e patriarcado: a necessidade da violência. In: Marcadas a


ferro: violência contra a mulher; uma visão multidisciplinar. (M. CASTILLO-MARTÍN & S. de
OLIVEIRA, orgs.) Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Brasília. p.35-76.

_______________. 2004. Gênero, patriarcado e violência. Fundação Perseu Abramo. São Paulo.

SANTOS, M. P. 2006. Combatendo a violência contra a mulher nas ondas do rádio: a


experiência do programa Rádio Mulher na zona da Mata Sul de Pernambuco. Dissertação de
Graduação. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

SCOTT, J. 1996. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. SOS Corpo. Recife.

SOUZA, J. P. 2002. Teorias da notícia e do jornalismo. Argos. Chapecó.

TELES, M A. de A. & MELO, M. 2003. O que é violência contra a mulher. Brasiliense. São
Paulo.

You might also like