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que o leitor formule sua opinio derradeira sobre essa questo, uma informao adicional: entre os
34 pases da OCDE, que rene economias desenvolvidas e algumas em desenvolvimento que
aceitam os princpios da democracia representativa e da economia de livre mercado, apenas trs
isentavam os dividendos at 2010. Mxico retomou a taxao em 2014 e Repblica Eslovquia em
2011, por meio de uma contribuio social. Restou somente a Estnia, que, assim como o Brasil,
isenta totalmente os dividendos.
Em mdia, a tributao total do lucro (integrando pessoa jurdica e pessoa fsica) chega a 43% nos
pases da OCDE (sendo 64% na Frana, 48% na Alemanha e 57% nos Estados Unidos). No Brasil,
com as isenes de dividendos e outras jabuticabas tributrias (como os juros sobre capital prprio,
que reduzem a base tributvel das empresas), essa taxa cai abaixo de 30%, embora formalmente a
soma das alquotas de IRPJ e CSLL seja de 34%. Basta analisar alguns balanos de grandes
empresas brasileiras para verificar essa realidade.
Em resumo, o Brasil possui uma carga tributria equivalente mdia dos pases da OCDE, por volta
de 35% do PIB, mas tributa muito pouco a renda, principalmente dos mais ricos, e sobretaxa a
produo e o consumo. E refletir sobre essa distoro fundamental num momento em que o ajuste
fiscal exige escolhas e em que as polticas distributivas por meio do gasto pblico mostram sinais de
esgotamento.
A reintroduo da tributao sobre dividendos, aos moldes do que ocorria at 1995 no Brasil,
ajudaria a reduzir as desigualdades de renda no pas e contribuiria muito com o ajuste fiscal (cerca
de R$ 50 bilhes de receita adicional), com a vantagem de no afetar tanto a j combalida economia
brasileira como outras alternativas de aumento de carga tributria. Isso porque a renda de
dividendos est concentrada no topo da pirmide e sua tributao no atingiria os investimentos das
empresas, mas apenas uma pequena frao da poupana das famlias mais ricas.
Enfim, o debate est aberto: vamos continuar mantendo jabuticabas tributrias?
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Srgio Wulff Gobetti doutor em economia e pesquisador do Ipea.
Rodrigo Octvio Orair mestre em economia e pesquisador do Ipea.