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RESUMO
INTRODUÇÃO
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Concluinte do Curso de Pedagogia da UFPE. cleasuzy@yahoo.com.br
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Concluinte do Curso de Pedagogia da UFPE. xelinha7@yahoo.com.br
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Professora Adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino – Centro de
Educação – UFPE. lsuassuna@nlink.com.br
necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de qualquer
membro da sociedade.
A produção escrita representa uma particular forma de interação social,
e é uma oportunidade de explorar a língua no que se refere às funções do
texto, aos registros lingüísticos e à textualidade. Entretanto, não é tão fácil
assim ensinar a composição escrita. Segundo Pasquier e Dolz (1996, p.1),
“produzir um texto é uma atividade extremamente complexa, que exige
múltiplas capacidades e que necessita de uma aprendizagem lenta e
prolongada”.
A forma como a escrita é proposta pelo professor ao seu aluno para que
ele escreva sobre algo irá interferir diretamente na sua produção, daí a
importância de o aluno, ao escrever, ter clareza dos propósitos, do destinatário
e do gênero do texto a ser produzido.
Frente a essa situação e tendo em vista que há poucos estudos sobre as
situações didáticas de escrita propriamente ditas, o presente estudo busca
analisar as práticas de ensino da escrita, particularmente as condições de
produção do texto, da quarta série do ensino fundamental. Para tanto,
delimitamos como objetivos específicos da pesquisa:
(1) investigar se, na proposição de atividades de escrita, são
explicitados, para os alunos, os temas, o gênero textual, o objetivo e
o destinatário do texto a ser produzido;
(2) identificar as relações entre as propostas de produção textual e os
critérios de avaliação da aprendizagem;
(3) verificar as relações entre as propostas de produção textual e a
qualidade dos textos produzidos pelos alunos.
1. REFERENCIAL TEÓRICO
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orientação teórica adotada, mas também dependendo de cada autor. De
sucessão ou combinação de frases formando uma estrutura acabada (produto),
passou a ser abordado no seu próprio processo de construção. Mas o que
caracteriza um texto?
Val (1991) concebe a textualidade como o conjunto de características
que faz com o que o texto seja mais do que uma soma de enunciados.
Beaugrande e Dressler (apud Val, 1991) enumeram sete fatores responsáveis
pela textualidade de um discurso: coesão, coerência, intencionalidade,
informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade. A coesão
refere-se ao aspecto formal do texto, aos mecanismos gramaticais e lexicais; a
coerência se relaciona ao aspecto semântico, à organização de conceitos; já os
cinco últimos fatores dizem respeito ao aspecto sociocomunicativo e têm
relação com o funcionamento do ato de comunicação, contribuindo para a
eficiência pragmática do texto. Embora todos os fatores já mencionados façam
parte da construção da unidade textual, é a coerência estabelecida entre uma
situação comunicativa e o texto que irá identificá-lo como tal.
Fávero (1997, p.60) com relação à coerência, afirma que:
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1.2 Ensino da produção de texto
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Assim, é fundamental ter algo a dizer para poder escrever. Na sala de
aula, geralmente, a situação comunicativa é marcada pela artificialidade.
Estudos como os de Silva e outros, Geraldi, Luft, Krause, Lemos e Fiad -
citados em Suassuna (2004) – apontam que os alunos têm no professor o
único interlocutor de seus textos. Outro problema relacionado à produção
escrita é o modo como se configura o seu ensino. Suassuna (2004, p.41) fala
que “a prática da redação limitou-se à elaboração de um texto escrito sobre um
tema proposto (ou imposto), em que o aluno deveria pôr em prática as regras
gramaticais aprendidas num momento anterior”.
Desse modo, o aluno não reconhece o ato interlocutivo da sua produção
e só escreve como treinamento, tendo como finalidade a correção gramatical.
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avaliação, desse modo, reduz-se à correção de erros visando à atribuição de
uma nota.
Albuquerque (1998, p.12) fala da importância da interlocução entre o
autor e o leitor: “se o professor conceber a linguagem como interação, dará
condições ao aluno de analisar e discutir seu texto, de forma que ambos
avaliem o que e como foi escrito”, pois o aluno, quando tem conhecimento dos
critérios de avaliação, tende a escrever textos mais elaborados, já que a
clareza de seus propósitos vai nortear a sua produção.
Portanto, avaliar é um procedimento de interação entre o aluno e o
professor, em que ambos vão poder discutir e refletir idéias sobre as produções
realizadas, enriquecendo, assim, o processo de ensino-aprendizagem da
escrita.
2. METODOLOGIA
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três vezes na semana (segunda, quarta e sexta-feira), com duração de uma
hora e meia a cada dia.
No tratamento dos dados pesquisados verificamos:
a. de onde veio a proposta de escrita;
b. quais foram os temas e como foram debatidos;
c. se houve indicação do gênero textual a ser produzido e também se
foi considerada a diversidade de gêneros;
d. a sugestão do professor para a reflexão sobre o destinatário do texto;
e. o objetivo traçado para o texto;
f. se os textos dos alunos se mostraram adequados, considerando os
aspectos acima;
g. se o professor retomou os textos produzidos relacionando-os com as
condições propostas.
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perguntamos sobre a avaliação dessas produções, ele disse que no final da
unidade entregava aos alunos as produções corrigidas e também as provas.
Como o professor não desenvolvia atividades que antecedem a
produção textual escrita que levassem os alunos a refletirem sobre o sistema
lingüístico, iremos detalhar os dados da escola pública. Não temos a intenção
de desmerecer a observação e o esforço realizados, mas entendemos que a
ausência de condições necessárias merece uma reflexão em termos do debate
que nos propusemos a fazer.
3.2 Escola pública
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do vocabulário (nas séries iniciais). Segundo a autora, essa linha de trabalho
segue o mesmo esquema do livro didático (ler, escrever e discutir). Embora os
recursos utilizados possam variar, a finalidade desse processo é a produção
escrita.
O trabalho da professora por nós analisada também seguia essa mesma
linha. Para exemplificar, iremos descrever uma situação de produção: a
professora iniciou a aula perguntando como os alunos passaram o final de semana.
Eles disseram os lugares onde foram: praia, churrasco; já alguns não haviam
passeado. Em seguida, ela pergunta se os alunos possuem irmãos, se gostam de
tê-los, como eles são. Os alunos responderam eufóricos, e ao mesmo tempo, “eu
tenho cinco”, “eu tenho um”. Para os que possuem, a docente pediu que
escrevessem sobre os seus irmãos, o que gostariam de mudar neles, quais são os
momentos em que eles gostam de ficar juntos. Àqueles quem não têm irmão, pediu
para que escrevessem como é a vida sem ter irmão, dizendo se sentem falta de ter
um irmão. No final do texto pediu que desenhassem o seu irmão. Um aluno
perguntou:
A: - Ô, tia, eu escrevo o que sobre meu irmão?
P: - O que o seu coração mandar!
Nesse caso a professora não utilizou a leitura prévia, mas houve uma
discussão para levar à produção escrita. Durante o debate a professora não deixou
explícitos o objetivo e o destinatário do texto que o aluno iria produzir. Essas
informações são de fundamental importância para a escolha de conteúdos e
estratégias do dizer, pode ser que a ausência dessas informações tenha sido a
causa da dúvida do aluno. E a resposta dada em nada ajudou o aluno a superar
essa dificuldade, não o levou à reflexão sobre o funcionamento do sistema
lingüístico.
Sercundes (1997) ainda fala que é indispensável a produção sobre fatos
vivenciados, mas que é necessário ter contato com outras fontes de informações,
como, por exemplo, textos científicos e depoimentos, para ampliar as relações entre
casos particulares e a conjuntura social e, também, para influenciar na organização
das idéias e na clareza do texto. A professora, durante o período, não disponibilizou
outras fontes de informações aos alunos e os textos produzidos foram descritivos
ou dissertativos. Não constatamos, nesses textos, a diversidade de gêneros.
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3.2.3 Os critérios de avaliação
Exemplo 1:
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Uma hipótese que levantamos para explicar essa conduta da professora
é a de que a aluna em questão comete poucas transgressões gramaticais na
sua produção e seu texto é considerado coerente. Mas não entendemos por
que produções do mesmo nível não são parabenizadas; veja-se o exemplo 2
(abaixo), em que a autora procurou estabelecer a coerência do seu texto ao
delimitar o tema “violência”, tratando, especificamente, da violência contra a
mulher.
Exemplo 2:
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3.2.4 A reescrita dos textos
Exemplo 3:
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exemplificar, escolhemos dois textos corrigidos pela professora. A situação de
produção foi a seguinte: os alunos realizaram a leitura de um texto que falava
sobre características e pessoas; após a leitura, a professora pediu que os
alunos descrevessem um colega da turma, falando de suas características
físicas e de seus modos de agir; chamou a atenção da turma para ninguém se
esquecer de colocar o título. Ela também pediu que, ao final do texto, cada um
desenhasse o colega escolhido.
Exemplo 4:
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Exemplo 5:
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A dialogicidade é fundamental para o trabalho com produção de texto, já
que essa atividade exige um esforço contínuo de escrita e reescrita; para isso,
é necessário adotar diversos procedimentos que contribuam para o melhor
desempenho do aluno em seus processos de aprendizagem e interação.
CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 4. ed., São Paulo: Ática,
1997.
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SILVA, E. M. e outros. Leitura, produção de texto e análise lingüística: articular
para melhor avaliar. Em: CARVALHO. M. H. C. (org.) Avaliar com os pés no
chão da escola: reconstruindo a prática pedagógica no Ensino Fundamental.
Recife: Ed. da UFPE, 2000, p. 75-117.
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