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O EFEITO DA PRESENÇA DO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

NA VISÃO DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE


PERNAMBUCO SOBRE A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO

Eliane Alves Barreto1


Nira Mutchnik1
Orientadora: Profª.Drª. Verônica Gitirana2

RESUMO

Esta pesquisa buscou investigar os efeitos que a existência de um laboratório de


informática exerce na concepção do professor sobre o uso dos computadores na
educação. Para tanto, um questionário foi elaborado e aplicado com 11 professores
da oitava série de duas escolas da rede estadual de Pernambuco sendo uma com
laboratório de Informática e outra sem. As respostas foram analisadas e
categorizadas em didática, informação, interação social, operacional, sócio-político,
pedagógico, resistência dos professores, educação a distância, formação de
professores e infra-estrutura. Os dados não revelam influência direta da presença ou
não do laboratório e as categorias apresentadas. No entanto, dentro de algumas
categorias, como didática, os tipos de respostas se diferenciam.

Palavras chave: laboratório de informática, educação, professor.

1. Introdução
“Os objetivos primeiros da educação, ao longo de sua história e da história
dos homens, têm sido os de incorporar, ativamente, os seres humanos ao
mundo em que vivem, permitindo-lhes compreendê-lo e modificá-lo,
preparando-os para o presente e o futuro”. (DIAS, 1999, p.123)

A sociedade atual está impregnada de tecnologia em diversos de seus


setores, tais como o industrial e o comercial. A escola não pode ficar alheia a essa
realidade. É importante articular o conhecimento, a informação, as novas tecnologias

1
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. nanoca.nane@yahoo.com.br
1
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. niramut@yahoo.com.br
2
Professora Doutora Verônica Gitirana – Departamento de Métodos e Técnicas do Ensino – Centro de Educação
– UFPE. vggf@ufpe.br
e a educação, a fim de que a educação escolar possa formar indivíduos capazes de
melhor atuarem na sociedade informatizada.
Nesta linha de pensamento, buscamos a perspectiva daquele que está mais
próximo aos alunos, que é o professor. Diante da importância de seu papel no
processo de informatização do ensino, o privilegiamos como sujeito de nossa
pesquisa, pois entendemos que sem sua adesão, será muito difícil preparar os
alunos para a atual sociedade tecnológica em que vivemos.
A escolha do tema além de sua importância atual tem uma estreita ligação
com nossa formação profissional, visto que somos estudantes do curso de
Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Além disso, uma de
nós leciona nas redes municipal de Recife e de Olinda e a outra tem formação
superior em Ciência da Computação, sendo sua experiência profissional restrita a
esta área.
Nas disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica, do curso de Pedagogia da
UFPE, ao visitarmos escolas da rede municipal de Recife e de Olinda, deparamo-
nos com escolas que tinham e escolas que não possuíam laboratórios de
informática. Os laboratórios de informática das escolas que visitamos apresentam-se
como uma sala contendo computadores e periféricos, instalados com móveis para
possibilitar o uso educacional. Algumas vezes, seu uso é feito em aulas, outras, o
aluno utiliza-o fora da aula. Além dos equipamentos, o laboratório possui softwares
instalados e algumas vezes conexões à rede Internet. Outras organizações do uso
da informática também podem ser encontradas, mais raramente, como por exemplo,
aquela que traz poucos computadores em cada sala de aula.
Nestas visitas, constatamos que mesmo nas escolas em que existiam
laboratórios, estes, em geral, tinham pouco ou nenhum uso. Numa das escolas
visitadas, presenciamos como os alunos usavam o laboratório de informática. O
professor da turma continuava lecionando sua aula enquanto alguns alunos
deslocavam-se para o laboratório com outro professor. No intervalo da aula, a
primeira parte da turma voltava e outros alunos dirigiam-se ao laboratório, ocorrendo
assim o revezamento dos mesmos.
O modo como era utilizada a tecnologia no laboratório de informática nas
escolas inquieta-nos, pois acreditamos que o computador ou era usado como um
apoio para a pedagogia tradicional ou com a finalidade de que os alunos obtivessem
alguma familiarização com a ferramenta e softwares, tais como editores de texto e

2
planilhas eletrônicas. Isto não deixa de ser válido, uma vez que a turma era de
Educação de Jovens e Adultos e a familiaridade com o computador é necessária na
atual sociedade do conhecimento em que estamos inseridos. Todavia, em
concordância com Valente (1999), temos a perspectiva de que o computador deve
ser usado como instrumento pedagógico na melhoria do ensino-aprendizagem de
forma a proporcionar aos seus usuários a reflexão e depuração de suas idéias.
Dessa forma, acreditamos que:

“A mudança pedagógica que todos almejam é a passagem de uma


educação totalmente baseada na transmissão da informação, na instrução,
para a criação de ambientes de aprendizagem nos quais o aluno realiza
atividades e constrói o seu conhecimento”. (VALENTE, 1999, p.29)

Concordamos com Valente (1998), quando ele aponta que o computador não
deve ser usado de modo instrucionista – forma de informatizar os métodos
tradicionais de educação - sob pena de ser mais um recurso, como qualquer outro já
existente, na prática tradicional de ensino, tendo seu potencial reduzido.
Muitas mudanças ocorreram ou estão por acontecer na prática pedagógica
com a introdução do computador. E com estas, muitos questionamentos e incertezas
por parte dos professores. Alguns se sentiram ameaçados com a possibilidade de
serem substituídos pela máquina (VALENTE 1999), outros não sabiam como
incorporar esta tecnologia em sua prática, revelando assim a importância de
capacitações para esses profissionais, o que os deixariam com maior possibilidade
de aproveitarem ao máximo as possibilidades de uso do computador
(OLIVEIRA,1999).
Temos ainda a contribuição de Vilares afirmando que:

“Ao serem questionados se o computador substitui o professor na sala de


aula, a negativa foi veemente. Nesta perspectiva, encontram-se os que
acreditam na impossibilidade da substituição porque nenhuma tecnologia
compensa o fator afetivo e emocional presentes na relação entre professor
e aluno, mas também obtivemos opiniões que colocam o professor como
articulador de recursos oferecidos pelo computador”. (2005, p. 7)

Diante de tantas mudanças tecnológicas que são reais e inevitáveis, sendo


necessárias para que se esteja inserido numa sociedade informatizada e
considerando as modificações exigidas para uma prática pedagógica construtivista,
desta vez utilizando o computador, pretendemos investigar o efeito que a presença

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do laboratório de informática causa na visão dos professores sobre o uso da
informática na educação.

2. Os Computadores na Educação.
Nossa pesquisa, por procurar identificar os efeitos que a presença dos
computadores tem sobre a concepção do professor sobre o seu uso na educação,
busca tanto uma revisão na literatura sobre usos dos computadores na educação,
quanto uma fundamentação sobre concepções dos professores em torno do uso do
computador.
Em pesquisa realizada em 2002, Mendes apontou que um dos elementos
indicadores da concepção do professor sobre a informática na educação foi a forma
de utilização desta tecnologia no ensino. Segundo a autora, esses profissionais
concebem-na através de duas perspectivas diferentes, sendo a primeira entendida
como “um suporte ao ensino e a aprendizagem”, ou seja, facilitadora na construção
do conhecimento. Na segunda tendência, encontram-se aqueles que consideram
esta tecnologia como uma motivação a mais para os alunos, trazendo à tona a
questão da afetividade como elemento propulsor para o estabelecimento das
relações entre os sujeitos. Este argumento não encontra respaldo em Valente, já
que o mesmo diz:

“[...] é assustador pensar que necessitamos de algo como o computador


para tornar a escola mais motivadora e interessante. A escola deveria ser
interessante não pelo fato de possuir um artefato, mas, pelo que acontece
na escola em termos de aprendizado e desenvolvimento intelectual, afetivo,
cultural e social”. (1999, p. 34)

Oliveira (1999), por sua vez, coloca que uma das expectativas do professor
com a introdução da informática na educação é poder contar com este recurso para
trabalhar o conteúdo da disciplina em que leciona.
Com base nessas leituras, pudemos situar algumas representações já
comprovadas em relação ao tema, abrindo caminho para a nossa investigação em
relação ao efeito que o laboratório tem para a educação e como esse ambiente é
concebido pelos docentes.
Partimos inicialmente em tentar traduzir o que vem se chamando de
computador na educação e alguns conceitos ao tema relacionados.
Traçaremos um breve histórico do uso do computador na educação, desde a
década de 60, com duas idéias clássicas das interfaces de softwares educativos.

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2.1 Modos de Utilização dos Computadores no Ensino

2.1.1 - O computador como “Máquina de Ensinar”

Nos anos 60, quando a IBM, RCA e Digital produziram o Computer Aided
Instruction (CAI), ou a Instrução Auxiliada por Computador (na versão brasileira
chamados de PEC – Programas Educacionais por Computador) as teorias que
orientaram a engenharia de software educativo na época foram as de Skinner de
Estímulo e Resposta.
Essa teoria vê o homem como possível de ser modelado e dá relevância ao
comportamento observável, manipulável e mensurável, compreendendo a
aprendizagem como algo que pode ser controlado e manipulado através de algumas
variáveis.
Skinner (1972, apud LINS 2004) ao escrever “máquina de ensinar” realçava o
papel dos “artefatos mecânicos” na educação como instrumentos que possibilitam as
condições para controlar as contingências para o ensino eficaz, pois podem ser
programadas. Assim, a máquina pode avaliar o aluno ao comparar uma resposta
dada por ele com uma resposta correta.
Nesta linha, aponta-se a impossibilidade de o professor atender a cada aluno,
desrespeitando seu ritmo individual de aprendizagem e transmitindo o conhecimento
de forma massificada. A alternativa encontrada por ele para alterar tal situação foi a
instrução programada, em que as máquinas são programadas de forma que o aluno
componha sua resposta sem poder escolher ou reconhecer a correta dentre diversas
alternativas. Assim, a utilização do computador no ensino, restringe-se a atividades
de exercício e prática onde a máquina é quem ensina ao aluno (OLIVEIRA, 1999).
Algumas diversificações das CAIs são os tutoriais - programas de
demonstração e avaliação do aprendizado - que foram mais difundidos na década
de 80, com o surgimento do microcomputador e sua introdução nas escolas.
Para Oliveira (1999, p.119), “o objetivo do tutorial é levar o computador a
instruir o aluno como se aquele fosse um tutor em contato individualizado com este”.
Traz perguntas de múltipla escolha, com a vantagem de serem trazidos no
computador com recursos de multimídia.

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2.1.2 – Filosofia e Linguagem Logo

A utilização do computador na educação teve seu maior incentivo com a


criação da Filosofia e Linguagem LOGO (Papert, 1985). Seymour Papert e seu
grupo de pesquisa desenvolveram uma linguagem e uma filosofia de ensino com o
uso do computador pautado numa perspectiva construtivista, que ele mesmo cunhou
de construcionismo.
Essa nova proposta leva em consideração conceitos da psicologia cognitiva
de Piaget, os quais enfatizam o papel ativo de quem aprende. De fato, quando o
aprendizado ocorre pelo esforço próprio da criança, tem mais significado para ela e
se adapta melhor às suas estruturas mentais, pois o processo de aprendizagem
requer, para as novas informações, uma estrutura anterior que permita que estas
possam ser melhor assimiladas.
A linguagem Logo, que foi desenvolvida com objetivos educacionais,
caracteriza-se por uma sintaxe muito próxima da linguagem natural e permite uma
aproximação entre o que se pensa e o que se escreve. Outra característica desta
linguagem é a possibilidade de construção de programas visando sua utilização em
qualquer disciplina. Muda-se a perspectiva do computador instruir o aluno, para o
aluno aprender ao instruir o computador na elaboração de novos programas.

2.2 Paradigmas Construcionista e Instrucionista

A utilização dos computadores na educação pode ocorrer sob a abordagem


dos paradigmas construcionista ou instrucionista.
Valente (1998), seguidor de Papert, ao defender o paradigma construcionista
coloca que o computador para ser efetivo no processo de desenvolvimento da
capacidade de criar e pensar não pode ser inserido na educação como uma
máquina de ensinar. Essa seria a informatização do paradigma instrucionista – uso
de softwares com finalidade de exercício e prática, onde a máquina estaria
ensinando o aluno com a sistemática de exercícios repetitivos.
O computador no paradigma construcionista deve ser usado como uma
ferramenta que facilita a descrição, a reflexão e a depuração de idéias. O controle do
processo de aprendizagem pertence ao aprendiz, promovendo a aprendizagem ao
invés do ensino. Auxilia o professor a entender que a educação não é somente a

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transferência de conhecimento, mas um processo de construção de conhecimento
pelo aluno.
Alguns professores ao entrarem em contato com inovações tecnológicas, não
sabem como incorporá-las em sua prática. Há partidários de pontos de vista diversos
quanto ao seu uso na educação e a abordagem a ser utilizada. A concepção que o
professor tem sobre a educação influenciará sua opção – conscientemente ou não –
por um ou por outro paradigma.

2.3 - Papel e concepção do professor

Diversas perspectivas têm sido apontadas quanto ao uso do computador na


educação. Castro-Filho e Confrey (2002, apud LINS 2004) apontam numa pesquisa
a importância de se investigar o papel do professor no uso da informática na
educação. Atrelado ao papel do professor observa-se como elemento essencial a
sua concepção sobre tal uso.
Correlacionadas à concepção, as representações sociais dos professores
sobre o ensino, a aprendizagem e a informática na educação têm sido estudadas e
apontadas como tendo implicações diretas sobre sua ação pedagógica no cotidiano
escolar.
Segundo Cavalcanti (2004, p. 129) as representações sociais sobre o ensino:
“São constituídas pela presença de uma representação centrada na ação do
professor mediante o processo de aprendizagem”. Estas representações sociais
caracterizam-se por enfoques cognitivo, afetivo, inter-relacional, didático-
pedagógico, sócio-cultural e econômico, que influenciam a ação do professor bem
como seu envolvimento nesta.
Há duas tendências pedagógicas que são evidenciadas nas representações
da ação docente: a tradicional – na qual a aprendizagem é a capacidade que o
indivíduo possui para adquirir conhecimento – e a sócio-construtivista – na qual a
aprendizagem é um processo cognitivo. Estas influenciam a atuação do professor
em sua prática de ensino e as relações que ele estabelece com o aluno. Ainda cabe
observar a relevância do fator afetivo nestas relações, que será um item diferencial
na qualidade do trabalho por ele realizado e seu envolvimento e predisposição no
trabalho realizado por ele em sala de aula.

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Nas representações sociais sobre a aprendizagem, as concepções tradicional
e sócio-construtivista da aprendizagem também estão presentes.
Na forma tradicional de ensino o professor é o único detentor do
conhecimento, estando tudo centralizado em sua figura. Já na visão sócio-
interacionista, quando da informatização do ensino, concorda-se com Oliveira (1999)
quando ele diz que a importância do papel do professor é primordial, uma vez que
ele detém o conhecimento sistematizado que será útil na mediação que ele
executará quando da apropriação do conhecimento por parte dos alunos.
Segundo Cavalcanti (2004), as representações sociais sobre a informática na
educação são constituídas pela presença de uma representação na qual a
informática é compreendida como uma ferramenta multifuncional.
Neste âmbito das representações, os professores têm relevante importância,
pois as relações entre as representações evidenciam que os significados das
representações sobre a informática na educação podem ser influenciados pelas
significações dos professores sobre o processo de ensino e aprendizagem.
A autora continua suas conclusões afirmando que se determinado professor
atua enxergando seu trabalho como uma seqüência de atividades didáticas no
sentido de que seu aluno deva acumular conteúdos, será mais provável que sua
orientação pedagógica seja tradicional. Já se o professor apresenta uma concepção
pedagógica voltada para o construtivismo, buscará oportunidades de boas situações
de aprendizagem e a promoção do desenvolvimento do aluno numa perspectiva
multidisciplinar e integral. Neste caso, a potencialização dos recursos e meios
necessários para a construção do processo educacional visa atingir resultados mais
eficazes e eficientes, desta forma, os recursos computacionais, as tecnologias de
comunicação e informação, a mídia ou qualquer outro dispositivo será percebido não
apenas como recurso, mas como dispositivo muito eficaz para construir novas
situações, nas quais o ensino e aprendizagem ocorrem de forma significativa, tanto
para o aluno, quanto para o professor.
Oliveira (1999) aponta que para incorporar a informática em sua prática, o
professor necessita da preparação para a nova realidade. Precisará, portanto, ter o
domínio da informação e dos recursos computacionais. Dominando ou não tais
recursos, tendo feito capacitação por sua própria conta ou custeado por outrem
devido ao seu trabalho, tendo sido autodidata e / ou curioso, a existência do

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laboratório de informática causará que efeito na visão do professor quanto à
informática educativa?
Dias (1999) relata, por meio da observação de uma turma de quarta série de
1º grau, no ano de 1995, numa escola particular de Fortaleza, que os alunos antes
de irem para o laboratório de informática estavam na aula de matemática. Após
cerca de trinta minutos, a aula era interrompida para que eles se deslocassem para
o laboratório de informática. A professora da turma explicou-lhe que, após
regressarem do laboratório, os alunos retornariam à sala de aula e continuariam com
matemática, afirmando que isso “quebra o raciocínio e o desenvolvimento da aula,
mas não há outro jeito”, fato que fragmenta o conhecimento. Além disso, o professor
que estava no laboratório tinha uma postura tradicional e desconhecia os conteúdos
de matemática que estavam sendo trabalhados antes da interrupção da aula. Os
alunos repetiam passivamente as orientações e instruções do mesmo, obedecendo
aos comandos do software que era utilizado, na maioria das vezes, sem saber o que
estavam fazendo.
O professor do laboratório, apesar de estar trabalhando com um software
onde construíam objetos geométricos, não fazia referência ao conteúdo de
matemática trabalhado pela professora de matemática, nem solicitava que esta
viesse ajudá-lo.
A pesquisadora observou então que, nem o professor de informática nem a
professora de matemática faziam referência ao que há de comum ou diferente entre
os dois contextos. O resultado disto foi que os alunos acharam que trabalhar no
computador era muito difícil e muito diferente de trabalhar em sala de aula.
Segundo Dias (1999, p.128), cada aula acabava sendo um momento de faz-
de-conta, com a “transmissão e transferência de um lado; submissão, passividade e
reprodução do outro!” Assim, os professores fingiam, ou acreditavam que estavam
ensinando, e os alunos, fingiam que estavam aprendendo.
Esse relato de Dias exemplifica uma postura contrária de uso do laboratório
de informática numa abordagem construtivista. Nesta, o laboratório, por exemplo,
bem aparelhado com máquinas que tivessem potencial de uso para processar os
softwares existentes e com acesso à Internet, precisaria estar associado a um
professor que tivesse capacitação para poder aproveitar o potencial do laboratório
de forma a promover um ensino onde os sujeitos sejam os autores da construção de
seu próprio conhecimento.

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Essa dinâmica de ensino que é exigida do professor poderá causar
estranhamento a ele, caso não tenha apoio da escola para exercer a nova prática
dele exigida.
Cavalcanti (2004) concluiu, em sua pesquisa realizada com um universo de
professores de quatorze municípios do estado de Pernambuco – que para os
professores da educação básica a informática na educação é entendida sob duas
perspectivas: numa como ferramenta de aprendizagem multifuncional atual sendo
necessária para que a educação possa atender às novas demandas do contexto
social contemporâneo e que o professor assumiria a função de facilitador. Mas, ela
segue afirmando que apesar deste enfoque apresentar uma forte conotação de
inovação, ainda não assume uma perspectiva construcionista. Na outra perspectiva,
para Cavalcanti (2004, p.113) “o conhecimento apresenta um enfoque vinculado ao
sentido acúmulo de informação e dados”. Afirma ainda que a informática na
educação aponta uma dimensão de ferramenta metodológica de múltipla função. No
âmbito da prática pedagógica, aponta para uma produção cumulativa de
informações, na qual os recursos e os usos destes denotam maior relevância no
processo de ensino-aprendizagem. Nesta perspectiva, a compreensão volta-se para
uma concepção instrucionista.

3. Procedimentos Metodológicos

Para atingir o objetivo geral de analisar os efeitos que a existência de um


laboratório de informática exerce na concepção do professor sobre o uso dos
computadores na educação, traçamos objetivos específicos que nos vão ajudar a
construir uma resposta. São eles:
1. Analisar a interferência das seguintes variáveis na concepção dos professores:
terem usado o laboratório de informática em sua prática pedagógica e terem feito
capacitação em informática;
2. Investigar as concepções dos professores referentes aos aspectos que a
informática na educação ajudam ou prejudicam o ensino.
Usamos em nosso trabalho a aplicação de uma entrevista semi-estruturada,
com professores de duas escolas.

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3.1. Sujeito

A fim de analisar a concepção do professor sobre o uso da informática na


educação, considerando a presença ou não do laboratório de informática na escola,
optamos por trabalhar com um estudo comparativo entre duas escolas da Rede
Estadual de ensino de Pernambuco: uma que possuía laboratório de informática e
outra que não. Nestas, foram entrevistados os professores (as) da oitava série do
ensino fundamental no turno da manhã (escola com laboratório de informática) e
turno da tarde (escola sem laboratório de informática). Da primeira escola, a única
professora que não foi entrevistada foi a professora de educação física. Já na
segunda escola, foram entrevistados todos os professores da referida série. Foi
garantido o anonimato aos respondentes e às escolas. Assim, são usadas siglas
para os professores nos relatos e tomou-se o cuidado de não revelar informações
que possam identificá-los.

3.2. Entrevista

Foram entrevistados os professores das escolas, usando o instrumento de


coleta de dados de entrevistas, que permite um maior aprofundamento das
informações obtidas. Tal opção em nossa pesquisa justificou-se pela necessidade de
permitir que os professores falem abertamente sobre sua visão a respeito do uso do
laboratório de informática na educação, expondo ainda, suas opiniões sobre a
informática na educação.
Foi adotada a entrevista semi-estruturada, que permite ao entrevistador fazer
as adaptações necessárias em suas perguntas originais a fim de questionar os
sujeitos no caso das questões inicialmente previstas não atingirem o objetivo da
pesquisa.
Os dados obtidos foram registrados através de gravação de áudio e
posteriormente transcritos.
Elaboramos um roteiro com as perguntas para a realização da entrevista
semi-estruturada, contemplando inicialmente questões em que se procura traçar um
perfil dos sujeitos e, posteriormente, questões que nos levassem às concepções que
os mesmos têm sobre a informática na educação.

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Na primeira questão, Qual a sua formação, buscávamos analisar a visão do
professor sobre a informática na educação por área de formação (humanas, exatas
ou ciências). Quanto à segunda, Em que séries você ensina, tínhamos como
hipótese que de acordo com as séries em que ensina, muda a dinâmica da utilização
do computador como recurso pedagógico e mudam os softwares educativos.
A terceira questão diz respeito às disciplinas que leciona, buscávamos entender
se um grupo de professores que seja favorável ou não ao uso do computador para o
ensino, depende das disciplinas e conseqüentemente área(s) em que leciona
(humanas, exatas ou ciências). Por exemplo, se o grupo de professores das
matérias exatas, onde há mais softwares educativos, pode ter uma visão totalmente
diferente da dos professores de humanas quanto ao uso de computadores e de
informática educativa para o processo de ensino / aprendizagem de seus alunos.
Uma outra variável importante na pesquisa era a existência de laboratório em
outras escolas que o professor tenha trabalhado, bem como o modo que o mesmo
era usado. Acredita-se que, se a escola tem ou não o laboratório, este fato interferirá
na visão do professor sobre a informática na educação.
A quinta questão buscava identificar se o professor já teve capacitação em
informática e informática na educação. Já a sexta questão busca entender se o
professor utiliza o computador em sua prática docente. O fato de o educador ter ou
não utilizado esta tecnologia em sua prática docente, resultará efeitos diversos em
sua visão sobre o uso do mesmo.
As sétima e oitava questão foram as questões focos da análise.

7 – Fale sobre três pontos que acha positivo e três que acha negativo sobre a
informática na educação.

Com esta questão, pretende-se descobrir o olhar do docente em relação à


informática na educação, pois, dependendo de sua visão, se positiva ou negativa –
ainda que consideremos que estamos tratando com um professor bastante
profissional no desempenho de suas atividades – dependerá sua adesão e
interesse na utilização do laboratório de informática e em tudo que se referir ao
assunto.

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Sobre isto, Valente diz:

“[...] a introdução de uma nova tecnologia na sociedade provoca,


naturalmente, uma das três posições: ceticismo, indiferença ou otimismo. A
posição dos indiferentes é realmente de desinteresse ou apatia: eles
aguardam a tendência que o curso da tecnologia pode tomar e aí, então se
definem. Já, as visões céticas e otimistas são as mais interessantes para
serem discutidas. Elas nos permitem assumir uma posição mais crítica com
relação aos novos avanços tecnológicos”. (1998, p. 30)

8 – Você acha que o computador pode substituir o professor em sala de aula?

Segundo Valente (1998), novas formas de uso do computador na educação


apontam para o uso desta tecnologia não como “máquina de ensinar”, mas, como
uma nova mídia educacional, tornando-se o computador uma ferramenta
educacional, de complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança na
qualidade de ensino.
Contudo, a preocupação em torno das transformações sociais ocasionadas pelo
desenvolvimento tecnológico, tem se tornado cada vez maior, principalmente, por
parte dos educadores.
Estarão os educadores preparados para lidar com a ferramenta? Eles acreditam
que o computador irá ser realmente um instrumento de auxílio no cotidiano da sala
de aula ou um adversário que pode tomar o seu posto de trabalho?
O que ele acreditar a respeito disto irá refletir-se em sua prática pedagógica.
Se o professor acreditar que o computador pode substituí-lo em sala de aula,
terá uma reação negativa à presença do laboratório de informática na escola e criará
empecilhos quanto à sua utilização.
Portanto, achamos viável essa questão, pois se o professor for contrário ao uso
do computador, não mediará adequadamente – ou favoravelmente – o processo de
ensino-aprendizagem de seus alunos.

3.3. Análise de Dados

A análise dos dados captados nas entrevistas foi realizada através da técnica
de análise de conteúdo, método que segundo Bardin:

“É um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

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conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens”. (1977, p. 42)

A mensagem, que é o ponto de partida a algumas perguntas, tais como: o que


se fala? O que se escreve? Com que intensidade? Com que freqüência? Que tipo de
símbolos figurativos são utilizados para expressar idéias... “Assim, a análise de
conteúdo permite ao pesquisador fazer inferências sobre um dos elementos da
comunicação” (Franco, 2003, p.20). Segundo Franco (2003), esta possibilidade de
produzir inferências é uma importante finalidade da análise de conteúdo.
A mensagem, seja verbal ou não, expressa um significado e um sentido, onde
se ressalta que estes não podem ser percebidos isoladamente, devendo-se
considerar a importância do contexto dos produtores da mensagem para a
interpretação do seu significado.
A semântica é um dos elementos principais da análise de conteúdo, entendida
como uma busca descritiva, analítica e interpretativa do sentido “que um indivíduo
(ou diferentes grupos) atribuem às mensagens verbais ou simbólicas” (Franco, 2003,
p. 14).
Optamos em realizar a análise dos dados através da abordagem da análise de
conteúdo por entender que é a técnica que melhor possibilita desvelar as
concepções implícitas que o docente tem sobre o efeito do laboratório de informática
na educação.

4. Análise de Dados

Para realizar a análise de conteúdo, foi necessária a transcrição das falas dos
professores que foram divididos segundo o parâmetro da escola em que ensinam:
“escola com laboratório de informática” (1A, 2A, 3A, 4A, 5A, 6A, 7A) e “escola sem
laboratório de informática” (1B, 2B, 3B, 4B). Suas características foram extraídas das
entrevistas e podem ser visualizadas na tabela seguinte:

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Escola com laboratório Escola sem laboratório
Pergunta de informática (c/lab). de informática (s/lab).
Professores: Professores:
Ciências 1A, 2A, 4A -
Área formação: Humanas 3A, 5A, 6A, 7A 2B, 3B
Exatas - 1B, 4B
Possui licenciatura 1A, 2A, 3A, 4A, 5A, 6A, 7A 2B, 3B, 4B
Curso concluído 1A, 2A, 3A, 4A, 6A, 7A 1B, 2B, 3B, 4B
Possui pós-graduação 3A 2B, 3B
8ª série até o ensino médio 1A, 4A 1B
Séries em
em que leciona Antes da 8ª série - 2B, 3B
Fundamental e médio 2A, 3A, 5A, 6A, 7A 4B
Disciplina Ciências 2A , 4A 1B
que leciona Humanas 3A, 5A, 6A, 7A 2B, 3B
na 8ª série Exatas 1A 1B, 4B
Informática básica 3A, 5A, 7A 1B, 4B
Possui
capacitação Informática na educação 2A -
Não tem curso 1A, 4A, 6A 2B, 3B
Eventualmente 4A, 6A -
Utilizou o Pesquisa 2A 4B
laboratório Aulas de português 7A 3B
Não 1A, 3A, 5A 1B, 2B
Eventualmente 4A, 6A -
Utiliza o Pesquisa 2A -
laboratório Aulas de português 7A 3B
Não 1A, 3A, 5A 1B, 2B, 4B

Tabela 1 – Caracterização dos professores divididos por escola com e sem laboratório de informática

Para viabilizar a análise de conteúdo, após fazermos a transcrição das falas


dos professores como constam nas gravações, agrupamos as respostas dos
mesmos por categorias e subcategorias que buscam trazer explicações o mais
próximo possível de suas falas. O cerne da pesquisa encontra-se nas perguntas
“Fale sobre três pontos que acha positivo e três que acha negativo sobre a
informática na educação” e “Você acha que o computador pode substituir o professor
em sala de aula?”
As categorias encontradas centram foco nos seguintes aspectos: Didática,
Informação, Interação Social, Operacional, Sócio-político, Pedagógico, Resistência
dos Professores, Educação a Distância, Formação de Professores e Infra-estrutura.

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Perguntas Pontos Positivos Pontos Negativos Substituir Professor
Categoria/ Escola c/lab s/lab c/lab s/lab c/lab s/lab
1A, 3A, 5A, 1A, 2A, 3A,
Didática 2B, 3B 1B, 3B, 4B 2A, 7A 1B, 4B
7A 7A
1A, 2A, 3A, 1B, 2B,
Informação , 3A, 6A 3B - -
4A, 6A 3B, 4B
Interação Social - 3B 3A - 5A, 7A 3B
Operacional - - - - 2A -
2B, 3B,
Sócio-político 4A, 5A 4A, 5A 2B, 3B - -
4B
3A, 5A, 6A, 1B, 2B,
Pedagógico 5A 4B 4A -
7A 3B, 4B
Resistência dos professores - - - - - 2B
Educação a distância - 3B - - 3A -
Formação de professores - - 6A, 7A 2B - -
Infra-estrutura 6A - - - - -
Total de professores 7 4 7 4 5 4

Tabela 2 – Professores e categorias encontradas a partir da fala dos mesmos

Discutiremos então cada uma das categorias, tomando por base o referencial
teórico, os dados coletados e as hipóteses anteriormente citadas. A tabela 2 mostra
uma grande concentração das respostas em torno de questões didáticas, em torno
da informação permitida por meio das redes de comunicação e de cunho sócio-
político. Quando os professores foram desafiados com a pergunta se o computador
substituiria o professor, aspectos pedagógicos da prática docente sugiram com
maior força.

Didática

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A tabela a seguir apresenta os aspectos didáticos que foram referidos na fala
dos professores.
DIDÁTICA
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:

Auxilia os estudantes a se desenvolverem melhor na matéria 5A -


Positivos

Estética 3A -
Pesquisas para o professor e para o aluno - 2B, 3B
O computador pode ser usado para trabalhar o conteúdo da disciplina. (Válida s
7A -
usada dentro do contexto que está sendo ensinado).
Informática
Capacidade de criar programas educativos 1A -
na
educação "Boom" da cópia 1A, 2A, 3A, 7A 1B
Negativos

Os alunos levam para o cotidiano escolar palavras com erros ortográficos que
- 3B
usam de forma abreviada em e-mails e chats
Com a informática, os alunos diminuíram a leitura 1A, 2A 1B
Uso excessivo do laboratório de informática sem consonância com o
7A 4B
conteúdo programático trabalhado
O professor é quem deve selecionar o programa desejado pois o computador
2A -
tem vários programas
O computador não tem a habilidade de se modelar e estruturar a aula de
O computador acordo com seus alunos 7A -
pode substituir
o professor em O computador será um auxílio para o professor, uma ferramenta para - 1B, 4B
sala de aula trabalhar
O professor organiza o conteúdo programático - 4B
O computador não pode substituir as informações e a didática do professor 7A 4B

Tabela 3 – Aspectos didáticos observados na fala dos professores

Quanto aos pontos positivos sobre a informática na educação, o professor 5A


(c/lab) disse: “ajuda-os a se desenvolver melhor na matéria (...)”, referindo-se aos
alunos. Já o professor 3A (c/lab) afirmou: ”outro ponto positivo da informática é a
padronização dos trabalhos em si”, ou seja, auxilia na produção de trabalhos
esteticamente mais bem elaborados. Considera-se este ponto positivo devido à
facilidade que proporciona aos professores de escrever trabalhos científicos – se for
o caso – e organizar melhor as aulas e material para seus alunos.
O professor 7A (c/lab) referiu-se ao uso do computador para trabalhar o
conteúdo das disciplinas. Essa visão coincide com uma das opiniões encontradas
numa pesquisa realizada por Mendes (2002), quando ela afirma que os professores
numa das concepções da informática na educação, consideram-na “um suporte ao
ensino e a aprendizagem”. No entanto, é observada que esta preocupação foi
apresentada por apenas um professor de nosso universo, desta forma, apesar de
encontrar tal fala, esta não parece ser uma concepção forte entre nossos sujeitos.
Outra subcategoria positiva foi a “capacidade de criar programas educativos”,
como mencionado pelo prof. 1A (c/lab).

17
Já com relação aos professores da escola sem laboratório de informática, a
única subcategoria que surgiu a partir de suas falas foi “pesquisa para o professor e
para o aluno” (prof. 2B), ponto considerado positivo também pelo prof. 3B (s/lab) e
que não foi mencionada em nenhuma das vozes dos professores da escola com
laboratório de informática.
Observa-se que as subcategorias positivas foram citadas pelo dobro de
professores da escola com laboratório de informática em contrapartida aos
professores da escola sem laboratório de informática.
Quanto aos negativos, quatro sujeitos da escola com laboratório de
informática (prof. 1A, 2A, 3A e 7A) e um professor da escola sem laboratório de
informática (prof. 1B) queixaram-se do fato dos alunos copiarem os trabalhos da
Internet, sem ao menos modificá-los. Este resultado é significativo por corresponder
a 5/11 dos sujeitos entrevistados. Uma das conseqüências deste fato mencionada
por professores, é que os alunos diminuíram a leitura (prof. 1A e 2A - c/lab e 1B –
s/lab).
O professor 7A (c/lab) e o professor 4B (s/lab) criticaram a utilização do
laboratório de informática sem consonância com o conteúdo trabalhado. Oliveira
(1999) coloca que uma das expectativas do professor com a introdução da
informática na educação é poder contar com este recurso para trabalhar o conteúdo
da disciplina em que leciona. Assim, as respostas dos sujeitos têm concordância
com Oliveira ao considerarem negativo o uso do laboratório sem relação com o
conteúdo trabalhado.
O professor de língua portuguesa da escola sem laboratório de informática
levantou a questão dos alunos incorporarem em seu cotidiano escolar palavras com
erros ortográficos (que usam de forma abreviada em e-mails e chats).
Enfim, na escola com laboratório de informática, quatro dos sete sujeitos
entrevistados citaram aspectos negativos, enquanto na escola sem laboratório de
informática três dos quatro professores entrevistados o fizeram. Vale destacar: o
ponto negativo que os professores mais se queixaram foi o “boom” da cópia.
Quando perguntados se o computador pode substituir o professor em sala de
aula, apesar de nenhum dos professores crer nesta possibilidade, apenas dois
professores da escola com laboratório de informática trouxeram argumentações
didáticas sobre a questão contra três da escola sem laboratório de informática.

18
Dentre os argumentos, por exemplo, o fato do computador não poder
selecionar programas dentre os vários existentes (prof. 2A - c/lab), a impossibilidade
de organizar os conteúdos: “o computador não tem a habilidade de se modelar e
estruturar a aula de acordo com seus alunos” (prof. 7A – c/lab). Acrescentaram ainda
que o computador é um auxílio para o professor, uma ferramenta para trabalhar
(prof. 1B e 4B).
Segundo Cavalcanti (2004), quando fala sobre as representações sociais
sobre a informática na educação numa concepção pedagógica voltada para o
construtivismo, o professor buscará oportunidades de boas situações de
aprendizagem e a promoção do desenvolvimento do aluno numa perspectiva
multidisciplinar e integral. Neste caso, tanto os recursos computacionais quanto as
tecnologias de comunicação e informação serão percebidas não apenas como
recursos, mas como dispositivos muito eficazes para construir novas situações, nas
quais o ensino e aprendizagem ocorrem de forma significativa, tanto para o aluno,
quanto para o professor. Observe-se que, ela não diz que o computador poderá
substituir o professor em sala de aula e até promove-o de recurso para “dispositivo
muito eficaz”, porém ele ainda é um dispositivo, uma ferramenta.

Informação

INFORMAÇÕES
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:
Aceleração de pesquisa dos conteúdos (rapidez com que consegue as
3A, 6A 1B, 2B, 4B
informações)
Atualizadas 4A 1B, 2B, 3B
Acessibilidade 2A, 3A, 6A 1B, 3B, 4B
Diversificação de informações é positivo para os alunos e para o
Positivos

professor, como dispositivo eficaz para construir novas situações de 2A, 3A 1B, 2B
ensino e aprendizagem (Diversidade de informações na Internet)
Grande volume 3A, 6A -
Informática Biblioteca virtual mundial - 2B
na Velocidade com que a informação chega à casa do estudante 1A -
Educação
A internet é mais um veículo de informação - 1B, 2B, 3B
Em tempo real - 1B, 2B, 3B
Os alunos não sabem selecionar as informações diante do grande
6A -
volume destas
Negativos

Os alunos não buscam ver se a fonte é verdadeira 3A -


Informações demais e pouco filtradas 3A -
Os pais têm que ter maior controle do acesso que os filhos têm à
- 3B
internet, porque há falta de censura nos sites

Tabela 4 – Aspectos relativos à categoria “informação” na fala dos professores

19
Há uma grande quantidade de falas que apresentam preocupações quanto a
aspectos relativos à informação. Dentre os pontos positivos apresentados, cinco dos
sete professores da escola com laboratório de informática mencionaram pontos
positivos. Na escola sem laboratório de informática, todos mencionaram pontos
positivos.
Encontramos grande repercussão da Internet nas falas dos sujeitos. Inclusive,
o professor 2B (s/lab) citou-a claramente: “biblioteca virtual mundial”. Os sujeitos 1B,
2B e 3B (s/lab) disseram que a Internet é mais um veículo de informação e que traz
as informações em “tempo real”. Outras subcategorias remetem à Internet, tais
como: “rapidez das informações” (prof. 3A, 6A - c/lab e 1B, 2B, 4B – s/lab),
“informações atualizadas” (prof. 4A – c/lab, e 1B, 2B, 3B – s/lab). Como podemos
observar na voz do professor 4A (c/lab): “... muitas vezes no livro a gente tem a
informação, mas quando ele abre uma página na Internet ele tem informações mais
atualizadas”, “acessibilidade das informações” (2A, 3A, 6A – c/lab e 1B, 3B, 4B –
s/lab), “diversidade de informações na Internet” (2A, 3A – c/lab e 1B, 2B – s/lab).
A subcategoria “grande volume de informações” apareceu em vários aspectos
na fala dos sujeitos 3A e 6A (c/lab). O sujeito 6A (c/lab) falou: “Eu acho que positivo
é o acesso à informação, né?... Ao mesmo tempo em que tem esse volume de
informação eu acho que nós, professores que não dominamos, a gente não tem
como fazer isso”. Depois disse que: “o volume de informações é grande, os alunos
não sabem como selecionarem, o professor não está preparado para trabalhar com
o aluno, e aí fica uma lacuna muito grande”. Esta fala encontra respaldo em Oliveira
(1999) quando diz que alguns professores não sabiam como incorporar esta
tecnologia em sua prática, revelando assim a importância de capacitações para
esses profissionais, fator que os deixariam com maior possibilidade de aproveitar ao
máximo as possibilidades de uso do computador.
Percebemos assim a preocupação do volume de informações por parte dos
professores, tanto com relação a eles mesmos quanto aos seus alunos na questão
de informática na educação, em seus aspectos positivos e negativos.
Ainda com relação aos aspectos positivos, o sujeito 1A (c/lab) elogia “a
velocidade com que a informação chega à casa do estudante”.
Quantos aos pontos negativos, apenas dois professores da escola com
laboratório de informática os encontraram no que se referiram à dificuldade dos

20
alunos em selecionar as informações diante do grande volume destas (prof. 6A) e à
existência de “informações demais e pouco filtradas” (prof. 3A).
O sujeito 3A (c/lab) falou paralelamente de aspectos positivos e negativos da
subcategoria “grande volume de informações”: “Pontos positivos: a acessibilidade de
informações, que é incrível, você tem muita informação. O ponto negativo aí é por
que é informação demais e pouco filtrada, tá entendendo”?
As subcategorias inter-relacionam-se. Quando os sujeitos falaram em grande
volume de informações e no fato dos professores não estarem preparados para lidar
com esta questão, entra em pauta a falta de capacitação dos professores (de que
falaremos posteriormente na categoria “formação de professores”).
Já na escola sem laboratório de informática, apenas o professor 3B citou
argumentos negativos ao se preocupar com o controle que os pais têm que exercer
sobre os filhos na Internet devido à falta de censura nos sites.
Quando questionados sobre a possibilidade do computador substituir o
professor em sala de aula, nenhum dos sujeitos respondeu algo que se referisse à
categoria “Informação”.

Interação Social

Da escola sem laboratório de informática, apenas o professor 3B respondeu


de forma a remeter à categoria “interação social”. Enquanto na escola com
laboratório de informática, três professores responderam de forma a gerar quatro
subcategorias.
INTERAÇÃO SOCIAL
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:

Interação com pessoas que se encontram distantes, a preço irrisório,


Posi-
tivos

- 3B
Informática através de chats (troca de cultura)
na
educação
Nega-
tivos

Impessoalidade 3A -

O computador pode Com o ser humano há uma interação maior com troca de idéias 7A 3B
substituir o professor
em sala de aula Só com o computador o aluno não interagiria socialmente 5A, 7A 3B

Tabela 5 – Aspectos relativos à interação social na fala dos professores

Ao serem solicitados para apontar elementos positivos, apenas um ponto


positivo foi citado quanto à interação social: Interação com pessoas que se

21
encontram distantes, a preço irrisório, através de chats (troca de cultura) (prof. 3B –
s/lab).
Quanto aos pontos negativos, apenas um professor da escola com laboratório
de informática falou da “impessoalidade” (prof. 3A).
Quanto à possibilidade do computador substituir o professor em sala de aula,
a interação entre pessoas é um dos pontos levantados para impedir que o
computador substitua o professor, apesar de não ser um aspecto muito presente na
fala dos professores. Os professores 7A (c/lab) e 3B (s/lab) acreditam que com o ser
humano há uma interação maior, com troca de idéias e os professores 5A e 7A
(c/lab) e 3B (s/lab) concordam que somente com o computador o aluno não
interagiria socialmente.
O sujeito 3B falou inclusive em autismo, ao afirmar que “então você tem que
conviver com outras pessoas, tem que lidar com outras pessoas, senão seria um
universo fechado, você só com o seu computador e aí se tornaria assim um ...”
quando tentou lembrar de uma palavra que disse depois: “é autista, por exemplo”.
Esse ponto da impessoalidade da informática assemelha-se à pesquisa de
Vilares (2005) quando este ao questionar se o computador substitui o professor na
sala de aula, encontrou os que acreditam na impossibilidade da substituição porque
nenhuma tecnologia compensa o fator afetivo e emocional presentes na relação
entre professor e aluno.

Operacional

Esta categoria surgiu a partir da fala de apenas um sujeito da escola com


laboratório, quando questionado sobre a possibilidade do computador substituir o
professor em sala de aula.

OPERACIONAL
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:
O computador pode substituir
Tem que ter alguém para ligar o computador 2A -
o professor em sala de aula

Tabela 6 – Aspectos relativos ao operacional na fala dos professores

O sujeito 2A (c/lab) levantou uma questão que se refere à categoria


“operacional”, ao falar que: “tem que ter alguém para ligar o computador”,
22
explicitando a impossibilidade do computador substituir o professor em sala de aula.
De fato, alguém tem que ligar o computador, mas discordamos que esse seja o fator
primordial para ser citado quanto à (im)possibilidade desta substituição. Afinal, um
aluno, monitor ou qualquer outra pessoa capacitada para ligar o computador pode
fazê-lo.
Já na escola sem laboratório de informática, nenhum professor citou algo que
se referisse a esta categoria.

Sócio-político
Na escola sem laboratório de informática, três dos quatro sujeitos falaram
algo que se referisse a esta categoria, enquanto na escola com laboratório de
informática, apenas dois sujeitos dos sete entrevistados falaram algo a respeito.
SÓCIO-POLÍTICO
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:
Amplia horizontes 4A, 5A 2B
A informática em si é um bem e pode ser usada para o bem - 2B
Laboratórios bem equipados possibilitam a formação de um povo crítico - 2B
Inclusão digital 4A 3B
Positivos

A educação não é objetivo do governo, pois é mais fácil dominar


Por considerar um povo sem conhecimentos, criticidade e bestializado (reflexo da - 2B, 4B
estes pontos política do governo)
positivos na
informática, o As autoridades não têm interesse na democratização do
- 2B
Informática governo resiste conhecimento
na ao seu uso na A mídia diária traz informações manipuladas enquanto a informática
Educação educação: criaria visão mais ampla, mais completa a respeito do que cerca as - 2B
pessoas
Quem não souber usar o computador será um analfabeto digital 4A 3B
Sites impróprios para a idade (por exemplo, pornografia) 5A 3B
Negativos

Chats usados por pessoas de má fé - 3B


Hackers - 3B
Pedofilia na Internet - 3B
Vírus - 3B
A informática pode ser usada para o mal - 2B

Tabela 7 – Aspectos relativos aos aspectos sócio-políticos na fala dos professores

No que concerne a pontos positivos, foram observados os seguintes aspectos


referentes à informática na educação: (i) a informática pode ampliar o horizonte das
pessoas: prof. 4A e 5A (c/lab) e 2B (s/lab), (ii) laboratórios bem estruturados
possibilitam a formação crítica das pessoas (prof. 2B – s/lab). A questão da inclusão
digital como algo necessário no contexto atual também foi colocada pelos sujeitos
(prof. 4A - c/lab e 3B – s/lab).
A partir das colocações feitas pelos docentes em suas entrevistas,
percebemos a preocupação dos mesmos em inserir os educandos na realidade
23
digital favorecendo assim a superação das desigualdades sociais, concentrada no
entanto em cinco professores em sua grande maioria da área de formação e atuação
das humanas. Nunes (2005) aponta que pode ser observada a coexistência de duas
perspectivas para se justificar o motivo e a qualidade de alfabetização tecnológica
da população. Moreira (2004, apud Nunes 2005) afirma que, uma centrada na lógica
do mercado e outra assentada em um projeto de cidadania e democratização do
saber.
Os professores (2B e 4B) mencionaram ainda que o governo resiste em
democratizar o uso da informática na educação por considerá-la capaz de ajudar a
formar pessoas críticas e conseqüentemente menos propensas a serem
manipuladas como podemos observar no depoimento a seguir:

”Eu vejo assim. Que há uma grande resistência porque também se torna
uma forma de democratizar o conhecimento. É tudo que as autoridades não
querem. Elas querem o povo sempre, né? Com a visão bem estreita” (prof.
2B – s/lab).

Portanto, para este professor, a fim de reverter o quadro de desigualdades


sociais e educativas historicamente produzidas na sociedade brasileira, é necessária
a implantação de políticas públicas indutoras de mudanças.
A questão do analfabeto digital foi destacada como ponto negativo na
sociedade contemporânea. Estamos em uma sociedade extremamente dependente
dos avanços científicos e como enfatizou o professor 3B (s/lab): “Se você não
souber manipular um computador, Internet, você tem aquele termo, como é que se
chama... que é muito usado hoje... A questão do analfabeto em informática”. Assim,
um passo importante é incluir o espaço pedagógico na era digital procurando
articular todos os esforços na construção de um projeto político-pedagógico que
considere os recursos das novas tecnologias da informação como meios que
favoreçam a formação da cidadania e a inclusão de todos no processo educacional.
O professor 2B (s/lab) disse a respeito da informática: “Ela pode ser usada
para o mal, como pode ser usada para o bem. Agora ela em si mesma é um bem”.
Consideramos então que ao ser usada para o bem seria um ponto positivo, ao passo
que ao ser usada para o mal, negativo.
A professora 3B (s/lab) considerou os seguintes aspectos negativos: Sites
impróprios para a idade (por exemplo, pornografia) – opinião compartilhada pelo

24
prof. 5A (c/lab) - chats usados por pessoas de má fé, pedofilia na Internet, hackers e
vírus.
Quando perguntados sobre a possibilidade do computador substituir o
professor em sala de aula, nenhum dos professores respondeu algo que se referisse
à categoria “sócio-político”.

Pedagógico
Na entrevista, quase todos os professores preocuparam-se com aspectos
relativos a esta categoria: cinco dos sete sujeitos da escola com laboratório de
informática e todos da escola sem laboratório de informática.

PEDAGÓGICO
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:
Colabora com o desenvolvimento pessoal do aluno 5A -
Posi-
tivos

Informá- Motiva os alunos - 4B


tica na
educação
Nega-
tivos

Os professores têm que monitorar os alunos para que eles não se desviem dos
4A -
objetivos

O professor tem o controle da turma - 4B


O professor orienta e monitora os alunos 5A 3B
Os alunos precisam de orientação, pois não sabem o que fazer com tantas
3A, 6A -
informações
O computador não está programado para responder às dúvidas que surgem ao
7A 1B
longo do tempo
O computador O professor irá identificar e auxiliar os alunos com lacunas anteriores de conteúdo
pode substituir o para ajudar a promover o aprendizado - 4B
professor em Os alunos questionariam mais a práxis dos professores a partir do contato com a
sala de aula - 2B
Internet
Os professores temem perder o controle didático e de conteúdos com os alunos a
- 2B
partir da Internet
A informática não está preparada para educar - 4B

Tabela 8 – Aspectos relativos aos aspectos pedagógicos na fala dos professores

Sob este enfoque foram relacionados como pontos positivos da informática na


educação o fato da mesma colaborar com o desenvolvimento pessoal do aluno
como podemos verificar na fala do professor 5A (c/lab): “Ajuda-os a se desenvolver
melhor na matéria, na cadeira e até na formação do mesmo pessoal, eu acho que é
bem interessante”.
O professor 4B (s/lab) disse que a informática motiva os alunos. Em pesquisa
realizada em 2002, Mendes aponta que um dos elementos indicadores da
concepção do professor sobre a informática na educação foi a forma de utilização
desta tecnologia no ensino. Segundo a autora, há profissionais que consideram esta

25
tecnologia como uma motivação a mais para os alunos, trazendo à tona a questão
da afetividade como elemento propulsor para o estabelecimento das relações entre
os sujeitos. Já Valente (1999) considera assustador pensar que o computador é
necessário para tornar a escola mais motivadora e interessante, pois ela deveria sê-
lo por proporcionar aprendizado e desenvolvimento, fosse no âmbito intelectual,
afetivo, cultural e social.
Como negativos a necessidade de monitoração por parte dos educadores
para que os alunos não se desviem dos objetivos educacionais propostos. Sobre isto
o docente 4A (c/lab) disse:

”Outro ponto negativo é que se você não estiver atento, monitorando, eles
fogem dos objetivos, fogem do assunto e enveredam por outros caminhos.
Por isso é necessário o professor estar atento, não é só chegar e colocar os
alunos lá e pronto, é necessário ficar monitorando mesmo, senão não
funciona”.

Na questão do computador poder substituir o professor em sala de aula, as


respostas enfatizaram elementos que compõem a atividade docente e que o
computador não consegue realizar. Da escola com laboratório de informática, quatro
sujeitos falaram de forma referente a três subcategorias, enquanto na escola sem
laboratório de informática, todos se posicionaram sendo suas vozes classificadas em
sete subcategorias diversas. A partir delas surgiram oito subcategorias, dentre as
quais destacamos: “o professor tem o controle da turma” (prof. 4B – s/lab), “o
professor orienta e monitora os alunos” (prof. 5A - c/lab e 3B – s/lab), “o professor irá
identificar e auxiliar os alunos com lacunas anteriores de conteúdo para ajudar a
promover o aprendizado” (prof. 4B – s/lab), e “os alunos questionariam mais a práxis
dos professores a partir do contato com a Internet”, como afirmou o professor 2B
(s/lab):
“Porque pela Internet também eles vão ver muitos exemplos de outras
práxis mais democráticas, mais liberal, mais isso aquilo outro e ele vai
querer aplicar ali na escola dele. Ao menos questionar por que o professor
não é assim. E tal e tal professor tinha uma escola de primeiro mundo, ou
outras escolas que têm mais resultados do que a que ele está. Tem outra
postura mesmo. Por que a postura dele é diferente? Aí, surgem “n”
questionamentos que o professor não quer. A maioria não quer não” .

Este colocou ainda o temor dos educadores em perderem o controle didático


e de conteúdos, remetendo-nos à questão da autoridade do professor estar
sedimentada no domínio dos conteúdos deste profissional e concordando com

26
Valente (1998) que afirma ser necessário o professor estar capacitado para que o
computador possa ser bem aproveitado. Este argumento concretiza-se na fala deste
professor ao dizer: “Eu vou ter que estar sempre me capacitando, mais do que eu
estou. Mergulhado na Internet para acompanhar a curiosidade desses alunos, que
vão ser muitas”.
Surgiu ainda da fala do professor 4B (s/lab) a subcategoria ”a informática não
está preparada para educar”.

Resistência dos Professores


Somente na escola sem laboratório de informática um dos sujeitos comentou
sobre esta categoria ao responder à pergunta sobre a possibilidade da substituição
do professor pelo computador em sala de aula. A respeito dos aspectos positivos e
negativos sobre a informática na educação, nenhum dos sujeitos teceu comentários.

RESISTÊNCIA DOS PROFESSORES


Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:
O professor teria muito mais trabalho (fazer capacitações) para acompanhar o
O - 2B
ritmo dos alunos pós-Internet
Compu- Acúmulo
de O professor teria que estar sempre mergulhado na Internet para acompanhar a
tador - 2B
Trabalho curiosidade dos alunos que é enorme
pode A Internet é mais um acúmulo de trabalho, com carga horária para o professor,
substituir o - 2B
sem retorno financeiro
professor
em sala Salário (o salário não compensa o quanto o professor teria que se desdobrar) - 2B
de aula Da forma como a estrutura existe hoje, caso a informática na educação fosse implantada,
- 2B
seria mais prejudicial para o professor

Tabela 9 – Aspectos relativos à resistência dos professores na fala destes.

O professor 2B (s/lab) fez algumas considerações sobre a resistência dos


docentes em incorporarem a informática em seu cotidiano escolar. Em seu ponto de
vista, a informática na educação seria mais um acúmulo de trabalho, pois o
professor precisaria ter mais capacitações, visitar a Internet com maior freqüência e
isto geraria uma maior carga horária de trabalho sem retorno financeiro. Afirmou
ainda que: “O salário não compensa”, com relação ao professor ficar se
desdobrando tanto. Disse também que: “da forma como a estrutura existe hoje, caso
a informática na educação fosse implantada, seria mais prejudicial para o professor”.
Assim da forma como funciona a sociedade atualmente e da forma como as
estruturas estão postas, a informática na educação torna-se inviável para os
educadores na ótica deste sujeito: “E aí você quer pausa pra aperfeiçoamento.

27
Pausa pra aperfeiçoamento, não. Por esse lado eu não quero também não. A não
ser que haja um retorno aí”.

Educação a Distância

A respeito desta categoria, as falas dos sujeitos resultaram em subcategorias


quando falaram em pontos positivos da informática na educação (um sujeito s/lab) e
na possibilidade do computador substituir o professor em sala de aula (um sujeito
c/lab).

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:

Informática
Posi-
tivos

Cursos on-line - 3B
na Educação

O computador pode O aluno pode fazer curso de mestrado a distância, pois dependendo do
substituir o professor em seu conhecimento, o aluno pode filtrar as informações (não para educação 3A -
sala de aula básica)

Tabela 10 – Aspectos relativos à educação à distância na fala dos professores

O professor 3B (s/lab) colocou como ponto positivo da informática na


educação o fato das pessoas poderem fazer cursos a distância como podemos
verificar em sua fala: “... cursos que tem também disponível na Internet, como é que
posso dizer... Cursos on-line, cursos de inglês”.
Nenhum dos professores respondeu algo que se referisse a pontos negativos
sobre a informática na educação em nenhuma das escolas.
Já na pergunta: “o computador pode substituir o professor na sala de aula?”
apareceu na fala do professor 3A (c/lab) a possibilidade dos alunos poderem fazer
cursos de mestrado a distância, uma vez que, segundo ele, alunos que têm
conhecimento mais avançado (não básico), podem filtrar as informações.
Esses dois sujeitos evidenciam em suas falas o fato da tecnologia da
informática ser um importante recurso para a implementação de novos espaços de
ensino e aprendizagem fora dos redutos escolares.

28
Formação de Professores

A respeito de aspectos positivos sobre informática na educação e quanto à


possibilidade do computador substituir o professor em sala de aula, não foram
encontradas falas que gerassem subcategorias em “formação de professores”.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:

Informática
Nega-

na Professores despreparados para trabalhar com os alunos 6A, 7A 2B


tivos

Educação

Tabela 11 – Aspectos relativos à formação dos professores na fala dos mesmos

Quanto aos aspectos negativos sobre a informática na educação, dois


sujeitos da escola com laboratório manifestaram em suas vozes preocupações
relativas a esta categoria, enquanto apenas um da escola sem laboratório falou a
este respeito.
Os professores 6A e 7A (c/lab) e o 2B (s/lab) colocaram o despreparo do
professor para trabalhar a informática educativa como algo negativo. Estes
entrevistados fazem emergir a necessidade dos professores receberem
capacitações que os ajudem a aplicar esta tecnologia em seu cotidiano pedagógico,
como podemos perceber na fala do professor 6A: “A gente aqui era para ter
capacitação dentro da própria escola...”. Esta fala encontra respaldo em Oliveira
(1999) quando este aponta a necessidade do professor dominar os recursos
educacionais para poder incorporá-los em sua prática docente.
Inclusive, reforça-se a necessidade de capacitação em informática na
educação para os professores, pois apenas o professor 2A (c/lab) – ver tabela 1-
capacitou-se em informática na educação:

“Olhe eu tive recentemente no ITEP, uma semana... Olhe, foi projetos, né?
Elaboração de projetos, né? Trabalhando no programa... Esqueci do nome
do programa, há! Eu sei que é programa didático para as escolas, só não
recordo o nome. Só sei que é voltado para a ação didática. No curso nós
trabalhamos em equipe e cada equipe trabalhou um tema, no meu caso o
tema foi de Ciências, né? Trabalhos sobre a dengue, né?”

Dos demais professores entrevistados, cinco estudaram informática básica -


ainda que com recursos próprios - e cinco não tiveram capacitação de espécie
alguma. (Tabela 1).
29
Constatamos que o fato de não estarem capacitados incomoda os
professores. Além disso, prejudica a utilização do laboratório. Vejamos: se eles
desconhecem os softwares educativos de suas disciplinas e de outras, se não
tiveram a oportunidade de testar os limites e possibilidades de softwares que
“ensinem” aos alunos como a “máquina de ensinar” de Skinner, ou de um outro
modo, no âmbito construcionista, como os professores podem explorar os recursos
da informática de forma eficaz para a construção do conhecimento de seus alunos?
Assim, a maioria dos professores entrevistados restringe o uso do laboratório a
pesquisas na Internet. Segundo Valente (1998), novas formas de uso do computador
na educação apontam para o uso desta tecnologia como uma nova mídia
educacional, tornando-se o computador uma ferramenta educacional, de
complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade de
ensino. Acrescenta ainda que, sem o professor devidamente capacitado, o potencial
tanto do aluno quanto do computador será subutilizado. Some-se a esta opinião a
fala dos professores - quando estes mesmos falam da necessidade de capacitação -
e tem-se um excelente argumento da urgência da capacitação em informática na
educação para os docentes.

Infra-estrutura

INFRA-ESTRUTURA
Escola Escola
Perguntas Subcategorias c/lab. s/lab.
Prof.: Prof.:

Informática
Nega-
Tivos

Laboratório sucateado 6A -
na Educação

Tabela 12 – Aspectos relativos à infra-estrutura na fala dos professores

Sobre esta categoria os professores não comentaram nada com relação a


pontos positivos sobre a informática na educação nem tampouco sobre a possível
substituição do professor pelo computador em sala de aula. Quantos aos pontos
negativos sobre a informática na educação, apenas um professor da escola com
laboratório de informática explicitou preocupações a este respeito.
O professor 6A (c/lab) elegeu como ponto negativo o fato das escolas
estarem com precariedade de recursos: “...A gente tem um laboratório funcionando
precariamente, sucateado. Nas escolas públicas de uma maneira geral é assim”.
30
Colocou então em pauta a necessidade das autoridades responsáveis zelarem e
investirem no patrimônio das unidades escolares.
Continuemos com a fala deste professor:
“A gente aqui era para ter capacitação dentro da própria escola, então eu
vejo isto. Vamos organizar o raciocínio: o volume de informações é grande,
os alunos não sabem como selecionarem, o professor não está preparado
para trabalhar com o aluno, e aí fica uma lacuna muito grande”.

Percebemos então que, como as categorias estão relacionadas umas às


outras – formação de professores, infra-estrutura, informações – é necessário que se
trabalhe o conjunto (infra-estrutura e capacitação dos professores).
Quando se fala em laboratório de informática considerando-se o contexto
escolar, presume-se que sejam necessários os softwares educativos, além de
Internet (para pesquisas ou veículo de informação, como alguns professores
afirmaram) e um número ao menos razoável de computadores funcionando. Nenhum
dos professores da escola com laboratório de informática mencionou o uso de
softwares educativos. Eles utilizam o laboratório para pesquisas ou para ensinar
gêneros textuais – língua portuguesa. Ora, a ausência de softwares educativos e o
desconhecimento deles por parte dos educadores (apenas um mencionou ter feito
capacitação em informática na educação) é problema de infra-estrutura dos
laboratórios e de formação dos professores, respectivamente.

5. Conclusões
Os professores não temem que o computador possa substituí-los em sala de
aula e argumentam mais fortemente contra este fato questões de cunho didático e
pedagógico.
Porém, constatamos que interferem em sua visão sobre a informática na
educação os fatos de terem utilizado o laboratório de informática em sua prática
docente e se tiveram ou não capacitação em informática.
Quanto às concepções dos professores referentes aos aspectos que a
informática na educação ajudam ou prejudicam o ensino, as falas dos sujeitos das
escolas com e sem laboratório de informática são semelhantes.
Os dados não revelam influência direta da presença ou não do laboratório e
as categorias apresentadas. No entanto, dentro de algumas categorias, como
didática, os tipos de respostas se diferenciam:

31
• a preocupação com a cópia é um elemento muito forte entre
professores de escolas que possuem laboratório;
• para os que não têm laboratório, os aspectos positivos da didática
restringem-se à pesquisa.
A partir das entrevistas realizadas, percebemos que o laboratório de
informática existe com condições precárias e que aos professores falta capacitação
para lidar com os recursos tecnológicos da informática na educação – apenas um
dos sujeitos teve capacitação em informática.
Diante dessas constatações, há um grande espaço para que se perpetuem
pesquisas acerca deste tema. Afinal, os dados obtidos diante das circunstâncias
vividas pelos sujeitos entrevistados não são suficientes para uma análise profunda
sobre “O Efeito Da Presença Do Laboratório de Informática Na Visão Dos
Professores Da Rede Estadual De Pernambuco Sobre A Informática Na Educação”.

6. Referências Bibliográficas

BARDIN, Laurence, Análise de Conteúdo. Edições 70, LDA Lisboa, Portugal, 1977.

CAVALCANTI, Luciana Cordeiro. Ensino, Aprendizagem e informática na


educação: um estudo sobre as representações dos professores da educação
básica. Recife/PE, 2004. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de
Educação. Universidade Federal de Pernambuco.

DIAS, Ana Maria Iorio. O Currículo na Sala de Aula: O Uso da Informática na


Educação. Revista Educação em Debate, Fortaleza, Universidade Federal do
Ceará, n.37, v.1, p. 123-129, 1999.

FRANCO, Maria Laura. Análise de Conteúdo. Brasília: Plano, 2003.

LINS, Walquíria Castelo Branco. Análise da Atividade Docente com Software


Educativo no Contexto do Laboratório de Informática. Recife/PE – Brasil, 2004.
(Tese de Doutorado). Universidade Federal de Pernambuco.

MENDES, Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz. As Representações Sociais da


Informática na Educação: uma análise da formação continuada. Recife/PE,
2002. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Educação. Universidade
Federal de Pernambuco.

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Aula. 3 ed. Campinas-SP: Papirus.1999,176p.

PAPERT, Seymour. Logo: Computadores e Educação. Editora Brasiliense. São


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VALENTE, José Armando (org.) Mudanças na Sociedade, Mudanças na


Educação: O Fazer e o Compreender in O computador na Sociedade do
Conhecimento. 1999. Disponível em http://www.nied.unicamp.br, acessado em
05/02/2006.

VALENTE, José Armando (org.). Computadores e Conhecimento: Repensando a


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VILARES, Ana Regina; SILVA, Marco. Interatividade como Perspectiva


Comunicacional no Laboratório de Informática: Um Desafio ao Professor. 2005.
Disponível em http://www.anped.org.br, acessado em 26/01/2006.

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