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O papel dos Limites de funções reais

O conceito de Limite de uma função representa um importantíssimo


papel em toda teoria matemática envolvida com o Cálculo Diferencial e
Integral. Há uma cadeia ordenada muito bem estabelecida no Cálculo:

Conjuntos, Funções, Limites, Continuidade, Derivadas e Integrais

Para entender os conceitos mais importantes da lista acima, que são os


últimos, a Teoria de Limites é fundamental. O motivo para isto é que
nem tudo o que queremos realizar, ocorre no meio físico e quase
sempre é necessário introduzir um modelo que procura algo que está
fora das coisas comuns e esta procura ocorre com os limites nos
estudos de sequências, séries, cálculos de raízes de funções, ... Por
exemplo, obter uma raiz de uma função polinomial de grau maior do
que 4 somente é possível através de métodos numéricos que utilizam
fortemente as idéias de limites e continuidade. Na verdade, este cálculo
depende do Teorema do Valor Intermediário (apresentado no final)
que é uma consequência do estudo de continuidade de funções.

Idéia Intuitiva de Limite

Estudaremos o comportamento de uma função f nas proximidades de


um ponto. Para fixar idéias, consideremos inicialmente a função f:R-
{1}->R definida por:

x2 - 1
f(x) =
x-1

Observamos que quando x é diferente de 1, f pode ser simplificada e


reescrita na forma mais simples:

f(x)=x+1

Ao analisar o comportamento desta função nas vizinhanças do ponto


x=1, ponto este que não pertence ao domínio de f, constatamos que
esta função se aproxima rapidamente do valor L=2, quando os valores
de x se aproximam de x=1, tanto por valores de x<1 (à esquerda de 1)
como por valores x>1 (à direita de 1).

As tabelas abaixo mostram valores confirmando esta informação:

Comportamento de f à esquerda de x=1 Comportamento de f à direita de x=1


x 0 0,5 0,8 0,9 0,99 0,999 1 x 2 1,5 1,2 1,1 1,01 1,001 1
f(x) 1 1,5 1,8 1,9 1,99 1,999 2 f(x) 3 2,5 2,2 2,1 2,01 2,001 2

Neste caso, dizemos L=2 é o limite da função f quando x se aproxima


de 1, o que denotaremos por:

Limx 1 f(x) = 2

Este mesmo resultado pode ser visto através da análise gráfica de f,


cujo esboço vemos na figura abaixo:

Limite de uma função real

Seja f uma função real definida sobre o intervalo (a,b) exceto talvez no
ponto x=c do interior de (a,b), Le e Ld números reais. Diz-se que:

1. O limite lateral à direita de f no ponto c é igual a Ld, se os valores


da função se aproximam de Ld, quando x se aproxima de c por
valores (à direita de c) maiores do que c. Em símbolos:

Limx c+ f(x) = Ld

2. O limite lateral à esquerda de f no ponto c é igual a Le, se os


valores da função se aproximam de Le, quando x se aproxima de c
por valores (à esquerda de c) menores que c. Em símbolos:

Limx c_ f(x) = Le

3. Quando o limite lateral à esquerda Le coincide com o limite


lateral à direita Ld, diz-se que existe o limite da função no ponto c
e o seu valor é Ld=Le=L . Usando notações simbólicas,
escreveremos:

Limx c f(x) = L

O que significa que, para qualquer e>0 e arbitrário, existe um


d>0, que depende de e, tal que

|f(x)-L|< e
para todo x satisfizando 0 <|x-a|<d.

4. No caso em que um dos limites laterais não existe ou no caso de


ambos existirem porém com valores diferentes, diremos que a
função não tem limite no ponto em questão.

O próximo resultado afirma que uma função não pode se aproximar de


dois limites diferentes ao mesmo tempo e ele é denominado o teorema
da unicidade, porque garante que se o limite de uma função existe,
então ele deverá ser único.

Unicidade do Limite: Se Lim f(x)=A e Lim f(x)=B quando x c,


então A=B.

Demonstração: Se e>0 é arbitrário, então existe d1>0 tal que

|f(x)-A| < e/2

sempre que 0<|x-a|<d1. Como também temos por hipótese que existe
d2>0 tal que

|f(x)-B| < e/2

sempre que 0<|x-a|<d2. Escolhendo d=min{d1,d2}>0, temos que:

|f(x)-A| < e/2


e
|f(x)-B| <e/2

sempre que 0<|x-a|<d e pela desigualdade triangular, temos:

|A-B|=|A-f(x)+f(x)-B| < |A-f(x)| + |f(x)-B|

e como para todo e>0 é arbitrário temos que:

|A-B| < e

então |A-B| = 0, o que garante que A = B.

Exercício: Mostrar que se para todo e>0 vale |z|<e, então z=0.

Limites Infinitos

Seja f a função definida por f(x)=1/x. Analisando o comportamento


numérico desta função através das tabelas abaixo, observamos que nas
proximidades de x=0, o comportamento da função é estranho.
Comportamento de f à esquerda de 0 Comportamento de f à direita de 0
x -1 -0,1 -0,01 -0,001 -0,0001 x 1 0,1 0,01 0,001 0,0001
f(x) -1 -10 -100 -1000 -10000 f(x) 1 10 100 1000 10000

À medida que x tende a 0, por valores maiores que zero (x 0+ ) os


valores da função crescem sem limite e que à medida que x tende a 0,
por valores menores que zero (x 0_ ) os valores da função decrescem
sem limite.

Baseado neste exemplo, podemos afirmar que quando x tende a 0 esta


função não tem os valores se aproximando de um limite bem definido.

Analisando o comportamento numérico da função f(x)=1/x2, nas


proximidades de x=0, observamos que:

Comportamento de f à esquerda de 0 Comportamento de f à direita de 0


x 1 -0,1 -0,01 -0,001 -0,0001 x 1 0,1 0,01 0,001 0,0001
f(x) 1 100 10000 1000000 100000000 f(x) 1 100 10000 1000000 100000000

Observamos pelas tabelas acima que, à


medida que x 0, por valores maiores
ou menores do que 0, os valores da
função crescem sem limite. Assim,
podemos afirmar, por este exemplo
que, quando x 0 esta função tem os
valores se aproximando de um limiar
(inf=infinito). Neste caso, dizemos que
não existe o limite de f(x)=1/x no ponto x=0, mas denotamos tal fato
2

por:

Limx 0 1/x2=+infinito
Por causa desta notação costuma-se dizer que algumas funções têm
limites infinitos e por causa deste limite,
dizemos também que o gráfico desta função
tem uma assíntota vertical, que é uma reta
cuja equação é dada por x=0, neste caso.

Definição: Seja f uma função definida


para todo x em I, exceto possivelmente no
ponto x=a em I um intervalo aberto
contendo a. Diz-se que f tem limite infinito,
quando x se aproxima de a, o que é
denotado por:

limx a f(x)=+infinito

se, para todo número real L>0,existir um d>0 tal que se 0<|x-a|<d,
então

f(x)>L

De modo semelhante, a função g(x)=-1/x2 apresenta um gráfico com


todos os valores da imagem em R_=(-inf,0). O comportamento
numérico de g nas proximidades do x=0 é semelhante ao de f(x)=1/x2,
porém os valores são negativos. Neste caso, dizemos que não existe
limite no ponto x=0, no entanto representamos tal resultado por:

Limx 0 -1/x2=+infinito

Definição: Se o limite de f(x), quando x a pela esquerda e também


pela direita tende a infinito, dizemos que o limite de f(x), quando x a
é infinito e escrevemos:

limx a f(x)=+infinito

Analogamente, a expressão matemática:

limx a f(x)=-infinito

significa que f(x) tende a -inf, se x a pela esquerda e também pela


direita.
Limites no Infinito

Consideremos a função h(x)=1/x e analisemos o seu comportamento


quando x cresce arbitrariamente (x inf)ou quando x decresce
arbitrariamente (x -inf).

Comportamento de h para x pequenos Comportamento de h para x grandes


x -1 -10 -100 -1000 -10000 -100000 x 1 10 100 1000 10000 100000
h(x) -1 -0,1 -0,01 -0,001 -0,0001 -0,00001 h(x) 1 0,1 0,01 0,001 0,0001 0,00001

Pelas tabelas observamos que:

Limx +inf h(x) = 0


Limx -inf h(x) =0

e quando construimos o gráfico de h, observamos que existe uma reta


(assíntota) horizontal que é a reta y=0, que nunca toca a função mas se
aproxima dela em +inf e em -inf.

Temos então uma definição geral, englobando tal situação:

Definição: Seja f uma função definida para todos os valores do


intervalo (a,infinito). Escrevemos:

quando, para todo e>0, existe um número real M>0 tal que |f(x)-L|<e
sempre que x>M.

Formalizaremos agora o conceito de assíntota horizontal.


Definição: Dizemos que a reta y=L é uma assíntota horizontal do
gráfico de f se

ou se

Propriedades dos limites

Muitas funções do Cálculo podem ser obtidas como somas, diferenças,


produtos, quocientes e

de funções simples. Introduziremos propriedades que podem ser


usadas para simplificar as funções mais elaboradas. Em todas as
situações abaixo, consideraremos x a.

1. Se f(x)=C onde C é constante, então

Lim f(x) = Lim C = C

2. Se k e b são constantes e f(x) = kx+b, então

Lim f(x) = Lim (kx+b) = ka+b

3. Se f e g são duas funções, k uma constante, A e B números reais e


além disso Lim f(x)=A e Lim g(x)=B, então:
a. Lim(f ± g)(x) = [Lim f(x)] ± [Lim g(x)] = A ± B
b. Lim(f·g)(x) = [Lim f(x)]·[Lim g(x)] = A·B
c. Lim(k·f)(x) = k·Lim f(x) = k·A
d. Lim(f)n(x) = (Lim f(x))n = An
e. Lim(f÷g)(x) = [Lim f(x)]÷[Lim g(x)] = A÷B, se B é não
nulo.
f. Lim exp[f(x)]= exp[Lim f(x)] = exp(A)
4. Se acontecer uma das situações abaixo:

i. Lim f(x) = 0
ii. Lim f(x)>0 e n é um número natural
iii. Lim f(x)<0 e n é um número natural ímpar

então

Observações:
 As propriedades acima que valem para limites com duas funções,
também valem para limites com um número finito de funções.
 As propriedades 3-a, 3-b e 3-e estabelecem que se existirem os
limites das parcelas, então, existirá o limite da operação. A
recíproca deste fato não é verdadeira, pois o limite de uma
operação pode existir sem que existam os limites das parcelas.

Estudaremos agora um resultado útil para podermos obter cálculos


com limites.

Teorema do anulamento: Se f é uma função limitada e g é uma


função tal que Lim g(x)=0, quando x>a, então:

Lim f(x)·g(x) = 0

Teorema do Confronto (sanduiche) : Se f(x)<g(x)<h(x) para todo


x em um intervalo aberto contendo a, exceto talvez em x=a e se

Lim f(x) = L = Lim h(x)


então:
Lim g(x) = L

Exemplo: Consideremos que para x próximo de 0, vale a relação de


desigualdade:

cos(x)<sen(x)/x <1

então, quando x 0:

1 = Lim cos(x)<Lim sen(x)/x<Lim 1 = 1

Observação geral: Todas as propriedades vistas para o cálculo de


limites, são válidas também para limites laterais e para limites no
infinito.

Observação sobre cálculo de Limites: Quando, no eventual


cálculo do limite de uma função, aparecer uma das sete formas:

que são expressões indeterminadas, nada se poderá concluir de


imediato sem um estudo mais aprofundado de cada caso.

Um Limite Fundamental
Estudaremos agora um limite fundamental que é utilizado na obtenção
da derivada da função seno.

Lim x 0 sen(x)/x = 1

A derivada da função f(x)=sen(x) no ponto x=a, pode ser obtida pelo


limite

f '(a)=Limx a (sen(x)-sen(a))/(x-a)
mas
sen(x)-sen(a) = 2 sen[(x-a)/2].cos[(x+a)/2]

então

f '(a)=Lim 2 sen[(x-a)/2].cos[(x+a)/2]/(x-a)
f '(a)=Lim cos[(x+a)/2].sen[(x-a)/2]./[(x-a)/2]
Tomando x=a+2u, poderemos reescrever a última expressão como:
f '(a)=Lim cos(a+u).sen(u)/u = Lim cos(a+u).Lim sen(u)/u
e quando u 0, segue que:
f '(a)=cos(a)

De um modo geral, a derivada da função seno é a função cosseno e


escreveremos:

sen'(x) = cos(x)
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