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Faculdade São Luís História Antiga I

Profº: Milton
Aluna: Caroline Nunes Rocha

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. In: A sociedade contra o Estado 2ª ed. Rio de Janeiro,
1978. PP 61-79

(61) As sociedades primitivas não dispunham de Estado, sendo ás vezes até excluídas do termo sociedade. A
falta do Estado implicou como o motivo dessas civilizações permanecerem no selvagerismo.

O etnocentrismo é, muitas vezes, o empecilho para ampliar a visão individual do contexto histórico. Ele é
baseado em nossos valores, nossa definição do que é existência, é uma visão onde o nosso mundo de hoje é
tomado como base, como o centro de tudo. Através dessa visão, é difícil para se enxergar uma sociedade
diferente da nossa, uma sociedade onde o Estado não exista.

As sociedades selvagens se encaixam como a primeira etapa para o caminho da civilização, uma civilização
onde se cria uma entidade preocupada com o bem-estar da sua população, trazendo junto consigo grandes
transformações.

“[...] as sociedades primitivas estão privadas de alguma coisa – o Estado.“(CLASTRES, 1978, p.61 )

“[...] não se pode imaginar a sociedade sem o Estado, o Estado é o destino de toda a sociedade.”
( CLASTRES, 1978, p. 61)

(62) A economia nessas sociedades era de subsistência e, a visão que está ligada á essa economia é a miséria,
não tinham a capacidade de produzir mais do que era necessário para sua sobrevivência. A explicação para
essa incapacidade de produzir excedentes é a inferioridade tecnológica.

(63) Se compararmos os dois mundos, o de hoje e o primitivo, em relação ao domínio do meio natural, o
primitivo não tem absolutamente nada de inferior ao nosso mundo de tecnologia avançada. Isso porque o
domínio é baseado em satisfazer as necessidades do homem, retirando da natureza o que é necessário para a
sua própria sobrevivência. Essa explicação serve também para os equipamentos, “ só se pode medir um
equipamento tecnológico pela sua capacidade de satisfazer, num determinado meio, as necessidades da
sociedade “ ( CLASTRES, 1978, p.63). Podemos concluir que as sociedades primitivas permaneceram na
economia de subsistência não por causa da sua inferioridade tecnológica.

Afinal, pra que os componentes da sociedade iriam trabalhar mais horas por dia, se em poucas ele produziria
o essencial para sobreviver?

(65) Havia a divisão de trabalho por sexo. Os homens preparavam o solo, onde realizavam no final da época
das chuvas, o que os ocupavam por um ou dois meses. As mulheres eram encarregadas do restante, como
plantar e colher. Segundo M. Sahlins “essas sociedades eram do lazer”, pois o tempo que lhes restava, onde
não estavam trabalhando na agricultura e etc., eles o usavam para a diversão. Portanto, os homens primitivos
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disponibilizavam de tempo suficiente para produzir mais e mais, e permaneciam na economia de subsistência
por escolha própria.

(67-68) O homem primitivo é dono do que produz, e faz com isso o que bem entender. A sociedade deixa de
ser primitiva quando deixam de lado o lazer e em seu lugar, se propõem á trabalhar mais para produzir
excedentes, quando para de visar suas necessidades e acaba visando a satisfação dos outros. É aí que a
sociedade se transforma, a hierarquia entra, e o respeito pelo poder se impõe.
“[...] em vez de produzir apenas para si mesmo, o homem primitivo produz também para os outros, sem troca
e sem reciprocidade. “ (CLASTRES, 1978, p.68 )

(69) Á partir do momento em que o povo primitivo visa produzir cada vez mais, criando uma “ alienação “
pelo trabalho, deixando para trás as horas de lazer, a sociedade perde o titulo de primitiva, e passa a ser uma
sociedade dividida entre os dominantes e dominados.

(70) As sociedades permaneciam primitivas por se recusarem á trabalhar mais e, em decorrência, virarem
‘escravos’ do trabalho, do consumismo. Virando as costas á desigualdade, que viria como conseqüência. Não
serviria de nada á eles a riqueza de uns e a pobreza de outros.
O Estado criou uma linha de separação entre as sociedades com e sem Estado. Alguns acontecimentos
aceleraram a criação dessa divisão, como a Revolução neolítica, que marcou o fim dos povos nômades e o
inicio da sedentarização do homo sapiens, com o aparecimento das primeiras vilas e cidades. A passagem do
ser humano "de parasita a sócio ativo da natureza"¹.

“ [...] as sociedades primitivas são sociedades sem economia por recusarem a economia. “ ( CLASTRES,
1978, p.70 )

“ Existem por um lado as sociedades primitivas, ou sociedades sem Estado; e, por outro lado, as sociedades
com Estado “ ( CLASTRES, 1978, p.70 )

(71)Cria-se a visão de que a economia que não se concentra na agricultura é obrigada á viver a vida nômade.
O povos que tinham possibilidade de ter a agricultura e não a praticavam é porque não tinham necessidade, a
descoberta de novos utensílio que facilitavam outros tipos de atividade também é um dos motivos da falta de
prática da agricultura.

“ O Estado, dizem, é o instrumento que permite à classe dominante exercer sua dominação violenta sobre as
classes dominadas. “ ( CLASTRES, 1978, p.73 )
(73) Para essa mudança, de economia de subsistência para uma carga horária de trabalho maior, os
componentes da sociedade tem que estar a favor dessa mudança ou que a violência externa os obrigue á

¹http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_neolítica

wikipedia.org/wiki/Revolução_neolítica
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aceitar tal condição. Criando assim a visão de que o Estado é um divisor de águas que usa a força para que
ocorra tal divisão.

“Qual é o motor dessa transformação maior que culminaria na instalação do Estado ? “

(CLASTRES, 1978, p.74 )

(75) Ditar como as sociedades selvagens passaram a possuir um Estado é um mistério. Mas, se pode mostrar
como as sociedades permaneceram intactas ao Estado.

As sociedades primitivas possuíam um chefe, uma figura sem autoridade alguma, onde ele vive á serviço da
sociedade, suas funções se limitam a resolver problemas pessoais de sua tribo, tentando chegar á um acordo
entre as partes envolvidas. Se o chefe não consegue resolver o problema, o “ prestígio “ é colocado em
interrogação.

(76) O chefe adquire seu “ prestígio “ e chega ao cargo através de suas habilidades, como: “dons oratórios,
habilidade como caçador, capacidade de coordenar as atividades guerreiras, ofensivas ou defensivas “.

(77) Segundo o cacique Alaykin, chefe de uma tribo abipone do Chaco argentino :

“ [...] eu não poderia prejudicar nenhum dos meus sem prejudicar a mim mesmo; se eu utilizasse as ordens ou
a força com meus companheiros, logo eles me dariam as costas. Prefiro ser amado e não temido por eles.”

O mínimo de autoridade que um chefe pode exercer é na guerra. Enquanto o seu desejo de guerra for igual ao
da sua tribo, a sua autoridade se mantêm inabalada. Mas se o seu desejo ultrapassa os de sua tribo, a relação
tribo-chefe parte para um estágio diferente, a tribo o abandona. Portanto, o chefe que experimenta a vontade
do poder está condenado á morte.

“ O poder político isolado é impossível na sociedade primitiva; nela não há lugar, não há vazio que o Estado
pudesse preencher “ ( CLASTRES, 1978, p.79 )

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