You are on page 1of 25
RELATORIO y DO PRESIDENTE OO CONSELHO DIRECTIVG DA Useala Praparatésia de Tulel do dbray I \ FAGUWENRO DOS WINHOS « Aguarda-se com ansiedade e esperan- ca a reabertura das escolas Espera-se que reabram ; que reabrindo, funcionem; que funcionando, funcionem com professores de- vidamente qualificados ; que nelas se respei- te o passado e se prepare o futuro. Os anal- fabetos que, em parte, as pagam nao admi- tem que nelas se esbanje o seu suor. Professores, estudantes, pais, educado- res — tendes nas vossas mAos uma enorme responsabilidade que tem por nome futuro. H4 que estabelecer um pacto escolar que honre as vossas responsabilidades e respon- da as exigéncias do pats. Sobre o lamentdvel quadro do que foi, nos tiltimos tempos, o ensino em Portugal 0 povo portugués sé tem uma palavra: nao.» General Ramalho Eanes aneemnennentenenesmsnniee ce RELATORIO DO PRESIDENTE DO CONSELHO DIRECTIVO DA ESCOLA PREPARATORIA DE NEUTEL DE ABREU Logo nos comegos do presente. ano lectivo me apercebi de uma. situacdo de mal-estar entre © corpo docente, j4 que. se constatava a disputa pelos érgdos de gestéo entre dois grupos de pro- fessores, Fiz sentir essa situacgdo nas reunides en- tio realizadas e fiz um apels para que todos os docentes se compenetrassem do caréeter suma- mente importante da accdo do Mestre no Ensino e na Educacdo. Inclusivamente numa reuniao rea- lizada nos primeiros dias do ano lectivo entre os professores ¢ a Comissio de Pais, prrant? uma proposta destes em que pretenaiam ter acesso aos livros de ponto de todo o pessoal da Escola e ainda em que pretendiam exercer uma fiscali- zagao rigorosa sobre funciondrios administrativos e alunos, apontei que existia um Conselho Di- rectivo responsavel pelas possiveis anomalias da vida escolar e que, émbora considerando a ne- cessidade de uma perfeita colaboracio entre to» dos os sectores interessados da Escola, — parti- cularmente entendia e entendo que aos pais se deve dar especial atencdo nessa colabora¢do pois que. sao os mais directamente interessados na educagado dos seus filhas — e que dizia, essa pre- 3 tenso des Pais nao podia ser analisada sobre os joelhos mas que devia merecet um profundo es— clarecimento e estudo necessérios, Ndo me aper— cebi entdo das justas apreensdes da Comissao de Pais pela situagao anémala da Escola. Pensava que os Mestres tinham a consciéncia plena da sua fung4o superior. E se na altura, assim como hoje os Pais extrapolaram perante a Lei nas suas fun- ges referentes 4 vida escolar, e se, também na altura, a minha posica0 foi a de uma necessidade Ge resolucao dos problemas segundo uma via le- gal e de s& responsabilidade, hoje, sei reconhecer a minha ingenuidade na apreciagdo do assunto e curvo me perante o grito lancinante dos Pais que entao me custou a ouvir. Mas o meu apelo da chamada & razio e res- pensabilidade do corpo docente nao_ resultou, £ram as intrigas, reunidezinhas de grupinhos; convidado para duas dessas reunides facilmente notei que nao mais 14 podia continuar. Fui entao indicado para integrar a lista de quatro professores que haviam de substituir os anteriores violentamente contestados em reunides da Escola com votos de desconfianca da assem-- bleia de professores. Sabia bem as dificuldades que me esperavam. Tinha bem presente uma certa teoria do . 2.0 — Pedido de sindicancia 4 Escola Neu- tel de Abreu. Deliberou o C. D. em sua sessdo de 9 Ju- nho 76, acta n° 6, do livro de Actas do C. D folha 5.e folha 5 — verso, aprovar uma propost a em que se solicitava uma sindicdncia a esta Escola, Penso que alguém nao estara muito 4 von- aes tade quanto ao apuramento de responsabilidades a que levard essa sindicancia. 3,°— Inquérito sobre boato Proposto pelc Presidente do Conselho Di- rectivo, aprovada a sua realizagao pelo C. D, em sessdo de 9 Junho 76, acta n.° 6, do C, D., folha 7, Até hoje, dia 7 Julho 76, de nada foi dado conhecimento ao principal interessado — 0 pre- sidente do C. D., ja que foi ele a pessoa visada — nem de démarches nem de conclusdes. 4,© — Solicitagdo de inventario. Face 2 inexisténcia d+ inventério na Escola, deliberou o C. D. em sua sesso de 28 Maio 76, proceder imediatamente a sua efectivagdo — Acta n.° 2, do livro de actas do C. D., fetha 2, linhas 19 a 21. Com a acumulagao de problemas entao existentes e depois do presidente do C, D. ja ter comegadoe por sua iniciativa e com a ajuda do chefe do pessoal auxiliar e também com o fun— ciondrio José Coelho, a inventariar as existéncias, achou por bem o C. D. que Os professores dele— gados de disciplina com as horas que tém de descento pela sua funcdo especifics, dessem uma relacgdo de cxisténcias do material da disciplina por que so responsdveis — C.S. n° 2/Geral, de 31 Maio 76. Até hoje; 7 Julho 76, nem todos os professores entenderam por bem efectuar essa relagdo de existéncias, 5.0 —Insinvagéo de que se ensina droga @ prostituicgao Consta numa acta dos executivos nacionais da Sindicato de Professores referente a uma reu- niao realizada em 10 Abril 76 (?) que a Comissao = pee le de Pais teria insinuado que na Escola se ensina— va droga e prostituicdo. Em varias reunides e por razdes dbvias o Presidente do C. D tem insistido para que se obtenha um esclarecimento: claro e inequivoco dessas insinuacdes e sempre lhe tem sido vedado através de varios processes sendo 0. mais usual.o boicote & reunido geral da Escola com a pres-nga da Comissdo' de Pais e Encarregados de Educa- cio, sempre lhe tem sido vedada a obtencao da verdade que se impoe. Particularmente o professor delegado sin- dical conhecedor de ha muito do problema levan - tado, até hoje nenhum esclarecimento achou por bem apresentar. E eu nergunto-me, a quem income dard a resolucdo clara deste assunto? 6 .° — Indeccro de professor nas aulas. Da acta n° 4, do livro de actas do C. D com os diversos Corpos da Escola consta uma série de queixas de um grupo de alunas referente ao procedimento indecoroso de um professor nas suas relacdes de docéncia com os alunos. 7.0 — Proposta sobre o jogo e tabco. O Presidente do C. D, ,apresentou um: proposta em 9 Junho de 76, acta no 6, do livro de actas do C. D., folha 6 e folha 6 — verso, que tinha apenas por finalidade velar pela satde fisica e moral de toda a Escola e particularmente dos alunos mais novos Essa proposta nao foi aprovada e¢ como re- sultado tem-se assistido a um aumento do fum> e jogo na Escola, Lembro aqui que uma profes- sora do C. D. defendendo o seuponte de vista da oa necessidade de votar contra a proposta, afirmou que cientificamente nao esté provado que o fumo seja prejudicial a satide humana e como fumado— ta ndo podia aprovar tal proposta, 8.0 — Excursao, No dia 8 Junho 76, acta n.0 3, do livro de actas do C. D., folha 3, linhas 13 a 24, o presiden- te do C. D* propés o seguinte : «Considero pouco curiel a realizecdo da excursdo jA que o ano foi falho de tempcs lectivos e ainda que o pais se encontra em regime de austeridade Por outro lado, ¢ uma vez que a autorizacdo da ex- cursdo ja veio do C. D. anterior, ndo acho con- forme, perante a opinido dos alunos que se cancele esse projecto, o que ni> quer dizer que | ndo se esclarecam esses alunos —e j4 o tenho feito —desse meu ponto de vista. Portanto con- sideco dever haver aulas nos dias em que se fizer a excursdo © que o némero de professores que dela fizerem parte, seja fixado em 3 ou 4 ja que 0 ntimero de alunos incritos neste momento é de 45s A proposta nao foi aprovada e contraria- mente o C. D. aceitou a seguinte proposta de uma docente do C, B,: «Propée-se que nao haja limitacgéo do nimero de professores a acompa-— nhar a excuredo, désde que o nimero de alunos mais o niimero de professores nio ultrapasse a lotagdo do aulocarro contraisdo, atendenda a ordem de chegade das incrigdes dos mesmos professores » (Acta n,© 3, do livro de actas do C. D,, folha 3 — verso, linhas 22 a 27). Como resultado, em vez de quatro profes- oa sores, foram A excursdo nove, acompanhando cerca de cinquenta alunos, o que originou durante es- ses dois dias de excursdo, que esses nove profes- sores, em somatério, nao dessem aulas a 34 (trin- ta e quatro) turmas ou seja : foram cerca de 800 (oitocentos) alunos que naa tiveram 1 (uma) hora de aulas nesses dois dias. 9 .° — Horério de uma professora. Quando o actual CD. tomou posse em 28 Maio 76, encontrou na sala usada pelos C Ds. ¢ entre os hor4rios dos professores um hordrio da docente membro do anterior C.D. completa- mente estruturado. Pensou-se entéo que a pro- fessora em causa, uma vez que tinha deixado ar. quivado juntamente com os outros o seu hordrio, pensou-se, como era normal, que o cumpriria dando as aulas que dessehordrioconstavam. Pas— sados dias constatou-se que a professora nao dava as aulas do hordrio que tinha deixado es- criturado, pelo que o C.D. achou por bem enviar— -lhe em protocolo o referido horario. (C..S. n° 23/ CORPO DOCENTE, de 8 JUNHO 76). Qual nao é a minha surpresa quando nesse mes— mo dia 8 JUNHO 76 é enviada aoC. D. uma carta da citada professora em que afirma nao ter sido ela quem elaborou o horario que o C.D. se via forgado a enviar-lhe em protocolo Isto entre outros considerandos que face ao seu teor nao sei se da vontade de rir ou ..- sorrir. 10,° — Aulas dadas até meio. Vinham determinados professores a dar as aulas sem se obrigarem ao cumprimento dos cin— quenta minutos regulamentares. Alguns mesmo fi- cavam muito aquém desse tempo e abandonavam a aula x Hi depois de mandarem sair os alunos. Por exemplo foi o que aconteceu com certo professor no dia 19 JUNHO 76 com a turma D do 3.* ano. Aban= donou a sala de aulas, os alunos iam saindo e criou-se alarido, Dava eu numa das salas préxi- mas a licdo de matemdatica quando pedi ao fun- ciondrio José Coelho que verificasse o que se passava. E eram os alunos em gritaria, perfeita— mente 4 vontade na sua irresponsabilidade ino- cente, uns a querer entrar e outros empurrando a porta opondo-se aos primeiros, é era 0 livro de porto repousando suavemente na secretéria do professor e nao era o professor, presente... O funciondrio fez o que devia e marcou falta ao pro- fessor. Mais tarde explicou o mesmo professor quando me veio perguntar por que lhe tinham marcado falta que tinha ido 4 vila esperar uns amigcs que vinham na camionetal 11°? Faltas de professores, Perante 0 avolumar constante de faitas de docentes foi proposto por um elemento do C. D. aprovado por esse C. D. (actan.°6 C. D. folha 7 ~ verso linhas 15 a 19) novo sistema de marca- gao de faltas a docentes. Sei que houve reaccGes a essa resolugdo do C. D. nomeadamente a de uma professora que n&o levata o livro de ponto para as aulas e exi- gia aos funcionarios que esse mesmo livro lhe fosse presente na sala de aulas. 12,° — Comunicacgdes de Servico, No que respeita a contradigdes aponte-se como exemplo este primor de coeréncia: Um dos motivos que levou ao boicote da Sake s- rennido geral do dia 23 JUNHO76 foi 0 facto men- cionado por alguns srofessores de que da C. S. n° 30/ GERAL, de 19 J U N H O 76 nao cons- tava especificamente uma ordem de trabalho, E © boicote continuou mesmo depois do autor da convocatéria e a fim de satisfezer certas necessidades, ter ditado para a acta uma stimula de trés pontos. No entanto na reunido de profes - sores de 30 JUNHO 76 a assembleia deliberou — ser4 que ha professoras pitonisas na Escola Neutel de Abreu ? — juntar mais umm ponto aos dois da ordem de trabalhos constante da C. S n” 51/ CORPO DOCENTE, de 21 JUNHO 76. Esse ponto foi ocupado com 0 voto de desconfi- anga ao presidente do C. D, | Ainda sobre a C.S. n° 36 / GERAL, eu devo dizer que durante a reuniao ditei para a acta o seguinte: francamente concordemos que na maquina da VIDA PORTUGUESA as pecas nao funcionam. Tem-se norteado o presidente do C.D. pe— fo respeito solene da atitude democrdatica, E:ta consciente por outro lado que o igualitarismo absoluto n4o existe em lado algum entre os povos. Por pensar assim & que aproveitendo as eleicdes para os dois alunos, submeteu o sen cargo no C. D aratificagao dos discentes. Essa ratificacaéo efectuada por necessidades dbvias em bloco nos quatro docentes do C. D. cbteve aprc- ximadamente 86% de votos favordveis. Afirmou o presidente do C. D. que se aqueles que o elegeram lhe retirassem a confian- ga punha imediatamente 0 cargo a disposicéo dos interessados. E’ certo que também existe um voto de confianca ao presidente do C. D. dado numa reunido do dia 3 Julho 76 formada por alunos, funciondrios, encarregados de educagao e alguns professores. Nao pretendo que pensem, levemente que seja, que sou por. cargos vitalicios ou que a senelhanca das lapas que se agarram as rochas eu me agarro «4 cadeira do poder». No entanto-a minha dignidade clama por justica 22 = E ha que faze-la!. Num total de 45 professores sao 25 que me retiram da cadeira. E’ de facto a maioria, Vo- taram a demissao do cargo de presidente do C.D., do professor Manuel Godinho. Mas o professor Manuel Godinho nao sémente pretende abandonar 0 cargo de presidente do conselho directivo como é vontade dos professores, como também-pede ao C. D. a sua exoneragao imediata de todas as funcdes que vinha desempenhando nesse mesmo C. D. Mas exijo que se dé conhecimento deste meu relatério ds seguintes entidades : 1- Gabinete do Ministro da Educagao e Investi- gacgdo Cientifica 2-D. G. E, B, 8-D. A. FIM ELC, 4.-Representantes dos alunos 5 -Comissdo de Pais e Encarregados de Educagao 6-Funciondrios auxiliares e administrativos, e corpo docente Figueiré doa Vinhos, 7 de Julho de 1976 O Presidente do Conselho Directivo da Escola Preparatéria Neutel de Abreu Manuel Casimire Godinho eo ea COMPOSTO. IMPRESSO. — EDITADO MINERVA CENTRAL FIGUEIRO DOS VINHOS 419/76. 500 ex. «Ha Sacrificios que nao é legitimo pe- YaiF-ao Povo Portugués; nao é justo que se € peca para pagar as escolas que nao passam de palco de lutas ideoldgicas e de veiculos de uma cultura que nao respeite os seus valores e a sua Historia». GENERAL RAMALHO EANES

You might also like