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A chegada de S.

Francisco Xavier no Japão é 15 de agosto de 1549, Festa da Assunção de Nossa


Senhora e uma data que se repete várias vezes na história japonesa, como, por exemplo, o fim
da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Traduzi uma versão um pouco diferente sobre a Revolta de Shimabara/Amakusa, de autoria do


Prof. Yakichi Kataoka, que não teria sido uma revolta essencialmente Cristã, mas uma revolta
dos agricultores contra os abusos de autoridade:
T. Morita

O EXTERMÍNIO NO CASTELO HARA – A REVOLTA DE AMAKUSA E SHIMABARA

ELEVADO IMPOSTO, OPRESSÃO E FOME

Castelo de Hara
Em comparação ao castelo principal do senhor Arima, castelo de Hinoe, o castelo de
Hara era secundário. São os atuais Yamajiro de Kitaarima e Hirayamajo de Minamiarima.
Ambos são considerados Patrimônio Cultural Nacional.
O castelo de Hara era uma ilha e era chamado antigamente Harunoshima; com o tempo,
porém, acabou se ligando ao sopé do vulcão Shimabara e seu nome prevaleceu porque os
soldados de Bakufu assim o denominavam por ocasião da Revolta de Shimabara. Tinha uma
característica de forte, protegido por precipícios ao norte, sul e leste. A sua vista é
esplendorosa, desde o nascer do sol das ilhas Amakusa às montanhas de Unzen, ao norte. E
esta bela natureza foi testemunha de uma das mais terríveis massacres proporcionada por
uma política iníqua e totalitária.

As duas gerações Matsukura


Após Naosumi Arima ser transferido para Hyuga o daimyo Bungonokami Shiguemasa
Matsukura de 10.000 koku, foi promovido a 40.000 por causa de seus feitos na batalha de
Sekigahara e se tornou o senhor do domínio de Shimabara em 1616. Abandonando os castelos
de Hinoe e Hara, construiu em Shimabara o castelo de Moritake despendendo para a sua
construção, 7 anos. Os agricultores já penalizados com altos impostos tiveram suas taxas
elevadas por causa da ambição de Shiguemasa em invadir Ruson (Ilha de Luzon, nas Filipinas).
Além disso a perseguição aos Cristãos foi intensificada e muito sangue dos mártires correu
nesta terra outrora quase totalmente Cristã.
O filho de Shiguemasa era Katsuie. Este penalizou ainda mais o seu povo para poder
sustentar a sua vida de extravagâncias em Edo. Para piorar a situação, houve quebra de
colheita a partir de 1634, e, de março a abril de 1637, houve grande número de mortes por
inanição.
Os agricultores procuravam sobreviver comendo raízes e capins. “Toda posse era objeto
de taxação, assim como o nascimento e a morte”.
O português Duarte Correa, que se encontrava na cadeia de Omura, enviou ao Pe. A. F.
Caldim (?) de Macau a seguinte consideração a respeito da Revolta de Shimabara que ouvira
de várias fontes.
“O magistrado de Nagasaki, ao averiguar a causa da revolta, soube que ela foi causada
pela política inumana do senhor de Arima. Os agricultores eram obrigados a contribuir
anualmente com arroz, trigo e outros grãos, além de tecidos e metade das folhas de tabaco.
Quando nada tinham para contribuir, eram mandados às montanhas para procurar batatas”.
Amakusa era domínio do senhor de Karatsu, Katataka Terazawa, que desde o governo
de seu pai Hirotaka impunha um imposto exorbitante por causa das construções dos castelos
de Karatsu e Tomioka, de Amakusa.
No domínio Matsukura, quando se atrasava o pagamento de imposto, as mulheres e as
filhas eram tomadas como reféns. No início de outubro de 1637 um grande agricultor de Kuchi
no Tsu teve sua esposa tomada como refém que, grávida de 9 meses, foi deixada nua numa
cela submersa e que, após seis dias, morreu ao dar à luz um bebê, natimorto.
Uma filha de prefeito de uma vila foi amarrada nua numa coluna e queimada com
tocha, conforme Correa. Outras mulheres foram queimadas em sacos de palha na “dança de
mino”.

O início da revolta
Em 25 de outubro de 1637, a massa finalmente matou o delegado Hyousaemon Hayashi
e iniciou a revolta sob liderança de Shiro Amakusa.
A causa da revolta é unanimemente descrita como abuso na cobrança de impostos.
Katsuie Matsukura, porém, a considerou revolta dos Cristãos. Para o governo Bakufu,
que se empenhava na erradicação do Cristianismo e no fechamento do país, a revolta veio a
calhar para o seu intento. Por outro lado, considerou os senhores Matsukura e Terazawa
indignos e o primeiro teve o seu domínio confiscado e mais tarde executado e o seu clã,
desmantelado, Terazawa teve reduzido o seu soldo de 40.000 koku e morreu louco; a sua
família também foi desmantelada.
O conselheiro do domínio de Omura, Hikouemon Omura se encontrava, na época, em
Edo e ao ser indagado no castelo de Edo, “Os Cristãos sempre provocam essas revoltas?”, teria
respondido: “É impensável que os Cristãos tenham provocado a revolta. Havia muitos daimyo
Cristãos na Era das Guerras, porém, nenhum deles se levantou em revolta. Na verdade, eu,
Hikouemon, que estou com 70 anos, fui também um samurai Cristão”.

A característica da Revolta
A Revolta de Amakusa/Shimabara era uma revolta em defesa da vida dos agricultores
espoliados, isto é, constituída pelos agricultores. Porém, a sua força de união se encontrava na
Fé. Os Cristãos se entregavam alegres para a morte unicamente por serem perseguidos pela
Fé. Conforme lembrou Correa, quando Hideyoshi Toyotomi emitiu a ordem de expulsão dos
padres, Ukon Takayama abandonou imediatamente o seu domínio de 60.000 koku, e outros
grandes guerreiros como Yoshitaka Kuroda e Yukinaga Konishi não empunharam as suas
armas.

O massacre de 27.000
O governo Bakufu, porém, espalhou a notícia de que os Cristãos desejavam tomar o
poder do país e, considerando o Cristianismo uma religião herética, procurou erradicá-lo
completamente. Isso significava levar a cabo o fechamento do país. Na realidade, através do
fechamento, pretendiam estabelecer uma estrutura totalitária onde o clã Tokugawa pudesse
se apoiar confortavelmente.
O castelo foi totalmente cercado, e todos os seus ocupantes mortos, exceto Uemonsaku
Yamada.
O massacre do castelo de Hara foi utilizado como instrumento para o fechamento do
país e erradicação do Cristianismo e fez com que o pensamento e a visão dos japoneses
fossem restringidos ao “espírito ilhéu”, numa fase negra da História japonesa.

Os números
Os números do exército Bakufu, formado pelos representantes do governo central e
domínios de Matsukura, Nabejima, Arima, Tachibana, Hosokawa, Terazawa, Kuroda,
Ogasawara, Matsudaira, Mizuno, Shimazu: 125.800 solados. Total de mortos: 13.369.
Os ocupantes do castelo de Hara: 14.000 guerreiros, 13.000 mulheres e crianças. Total
de mortos: 27.000.
Além de atacar os agricultores famintos, com um número 6 vezes maior, a força
governamental teve o auxílio da nau holandesa que desferiu ao castelo 425 tiros de canhão do
mar, além da artilharia auxiliar que se utilizou de outros cinco canhões instalados na terra.
Este acontecimento totalmente anormal exerceu uma enorme influência na tragetória
que o Japão iria tomar na sua História.

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