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A ARBITRAGEM É A FORMA PARA SOLUÇÃO ALTERNATIVA DE

CONFLITOS, reflexões para o estimulo da sua utilização no âmbito das


relações comerciais

Antônio Augusto Gonçalves Tavares


SUMÁRIO

Apresentação ...................................................................... 5

1 Acesso à Justiça ................................................................... 7


1.1 Direito à Justiça ............................................................. 7
1.2 Noção histórica da arbitragem .......................................... 8
1.3 Principais obstáculos e a crise do judiciário ........................ 8
1.4 Propostas de solução: arbitragem como uma alternativa ...... 9

2 Arbitragem: Aspectos gerais .................................................. 9


2.1 Conceito histórico ........................................................... 9
2.2 Natureza jurídica do instituto da arbitragem ..................... 10
2.3 Arbitragem no cenário internacional ................................ 10
2.4 A arbitragem no direito comparado ................................. 10
2.5 Breves e pontuais considerações sobre o instituto da
arbitragem no âmbito do MERCOSUL .................................... 11
2.6 Arbitragem na legislação brasileira .................................. 12
2.7 Aspectos sobre a constitucionalidade da lei de arbitragem
brasileira ...........................................................................
12

3 Requisitos de admissibilidade do juízo arbitral ........................ 16


3.1 As pessoas que podem convencionar a arbitragem ............ 16
3.2 O objeto litigioso no juízo arbitral .................................... 17
3.3 A convenção de arbitragem ............................................ 17
3.3.1 A cláusula compromissória .................................. 14
3.3.2 Contratos de adesão e a cláusula compromissória .. 14
3.3.3 O compromisso arbitral ....................................... 15
3.4 Rito especial para execução específica da cláusula
compromissória ................................................................. 16

4 Dos árbitros ...................................................................... 16


4.1 Quem pode ser árbitro .................................................. 16
4.2 Árbitro e juiz estatal ..................................................... 16
4.3 Número e escolha dos árbitros ....................................... 12
4.4 Requisitos para o desempenho da função de árbitro .......... 12
4.5 Das exceções: impedimento e suspeição .......................... 12
5 A sentença arbitral ............................................................. 12
5.1 Conceito ...................................................................... 12
5.2 Requisitos e forma da sentença arbitral ........................... 12
5.3 A natureza jurídica da sentença arbitral ........................... 12
5.4 Dos efeitos principais e secundários da sentença arbitral .... 12
5.5 Do término do juízo arbitral ........................................... 12
5.6 A função da sentença arbitral ......................................... 12
5.7 A eficácia da coisa julgada arbitral .................................. 12
5.8 Da nulidade da sentença arbitral e a ação anulatória ......... 12
5.9 A sentença arbitral estrangeira ....................................... 12
6 Conclusão ........................................................................ 12

Bibliografia ............................................................................... 12
APRESENTAÇÃO

A figura do árbitro aparecerá em uma relação jurídica contratual


sempre que as partes contratantes assim o definirem. Acontece quando
as partes de um contrato estipulam que eventuais divergências que
poderão acontecer no decorrer do cumprimente do pacto, serão
decididas pelo arbitro escolhidos pelas partes.

No Brasil a lei 9.307/96 regulamentou as decisões tomadas pelo


arbitro solidificando que as decisões tomadas pelo árbitro se tornarão
válidas a partir do momento em que ele for convocado a decidir sobre a
causa em questão. Foi esse um grande avanço, pois, antes da lei a
figura do árbitro poderia ser contestada, e com isso, a parte insatisfeita
com a referida decisão poderia contestá-la. Por isso, o arbitro deve ser
escolhidos com especial cautela e, desde que não fique provado nenhum
impedimento, deve ser aceitos e agir com imparcialidade, de acordo
com a lei e o contrato, além dos princípios da boa-fé.

A utilização da arbitragem como meio de solução de conflitos


tende a intensificar em curto prazo de tempo, com intuito de afastar o
desgaste, emocionais e financeiras, a que as partes são submetidas na
Justiça Pública, em razão da sua morosidade, que gradativamente se
consagra como mecanismo eficaz para a solução de controvérsias,
tornando-se uma ferramenta indispensável para as empresas e seus
negócios.

Neste trabalho, tentaremos demonstrar a evolução do instituto e


detalhar as regras postas na lei brasileira, inclusive e especialmente as
de cunho procedimental. Com isso, espera-se estimular a recepção do
instituto no âmbito das relações contratuais eis que inegável as
vantagens da submissão de eventuais embargos aos árbitros,
normalmente técnicos especializados e previamente eleitos.
1 ACESSO À JUSTIÇA

1.1 Direito à justiça

A atividade jurisdicional do Estado organizado preexistiu à


formação de normas jurídicas. A primeira preocupação do homem foi
com a formação de órgãos de justiça. Da sua origem aos juízes,
portanto, se delegava a tarefa de repreender a conduta dos grupos
sociais, aplicando a justiça como se somente eles tivessem acesso à
busca humana.

No âmbito das organizações sociais modernas, esta realidade


pouco se alterou sendo certo que o Estado reserva para si o poder de
prover os particulares dos órgãos que resolverão aquelas situações de
conflito que possam perturbar a paz social. E, é esse Estado que detém
os instrumentos através dos quais se busca manter a ordem.

Todavia as estruturas previstas nestas organizações sociais não se


revelam tão eficazes e não raro, não conseguem cumprir sua função.
Dificulta-se cada vez mais o exercício do direito à jurisdição, a princípio
assegurada pelo Estado, mas que hoje se converteu em ficção. Razão
disso a busca de fórmulas alternativas de solução de conflitos revela-se
num imperativo.

Atualmente, a arbitragem tem-se traduzido numa destas formas


alternativas de grande valor, embora encontre alguma resistência
quanto à sua aplicação. Por certo, em face dos denunciados entraves à
efetivação da jurisdição o vencimento de eventuais preconceitos acabará
por demonstrar as suas vantagens.
1.2 Noção histórica da arbitragem

O instituto da arbitragem é dos mais antigos de que se tem notícia


na história do Direito e, especificamente, acerca da jurisdição ou justiça
privada, noticiado na Babilônia de 3000 anos AC, na Grécia Antiga e
Roma.

Numa etapa preliminar das civilizações fez-se a justiça de mão


própria (autotutela) à medida que as instituições eram ainda
insusceptíveis de resolver os conflitos de interesse, seja por falta de
organização ou da própria autoridade.

Num momento posterior dá-se continuidade a chamada da justiça


privada, embora não mais diretamente pelo ofendido, mas pelo grupo
social ou por terceiros designados especialmente para dirimir
determinadas controvérsias.

Estudos revelam que evolução da forma de solução dos conflitos


em quatro etapas bem definidas no caso, a autotutela, o arbitramento
facultativo, o arbitramento obrigatório e por fim a justiça pública.

Na autotutela, as resoluções dos litígios eram sempre realizadas


pela força individual ou do grupo, sendo que os costumes, com o passar
dos tempos, foram estabelecendo regras para distinguir a violência
legítima da ilegítima. No arbitramento facultativo, o ofendido ao invés
de usar da força e violência individual ou coletiva contra o ofensor,
optava em comum acordo com a parte contrária, por receber uma
indenização ou escolher um terceiro para fixá-la.
O arbitramento obrigatório era determinado pelo Estado quando
os litigantes não indicavam árbitro de sua escolha para dirimir a
controvérsia. Assim, o Estado passou também a assegurar a execução
forçada da sentença caso o sucumbente não a cumprisse
espontaneamente.

Na etapa da presença da justiça pública, o Estado realiza a solução


dos conflitos, até com execução forçada da sentença se necessário.
Certo é que a possibilidade das partes instituírem um árbitro, não foi
excluída, mas tal fato deixou de ser regra para transformar-se em
exceção.

Tendo-se em conta que a justiça privada antecedeu


historicamente aos juízes e tribunais estatais, é no Direito Romano que
vamos encontrar as raízes do instituto da arbitragem.

1.3 Principais obstáculos e a crise do judiciário

Não é desconhecido que nos tempos atuais o serviço estatal de


administração da justiça se encontra numa situação tal que se tornou
impossível ao próprio Estado dar uma resposta adequada às
necessidades plantadas pela comunidade em matéria de solução de
conflitos. Muito menos com a celeridade reclamada.

É verdade que tais problemas sempre existiram, porém nos


últimos anos atingiram dimensões alarmantes chegando a níveis
insuportáveis o que acabou por gerar na população sensação geral de
descrença na justiça, fato reconhecido, até mesmo pelas autoridades
governamentais.

A morosidade dos processos civis e comerciais repercute


desfavoravelmente na produção e nos investimentos de capitais,
atravancando as atividades, produzindo sim perdas econômicas
significativas. Como já dito, a justiça lenta acaba por não ser justa.

Certo é que nenhuma das soluções convencionais empreendidas


até agora se revelaram exitosas ou mesmo aptas a colaborar com os
conhecidos entraves da justiça pública convencional.

1.4 Propostas de solução: arbitragem como uma alternativa

A arbitragem revela-se como meio extrajudicial de solução de


conflitos que pode contribuir de modo importante para o
descongestionamento do Poder Judiciário, administrador da justiça
pública.

A ciência jurídica tem por escopo a repartição, com critério de


justiça, dos distintos bens humanos entre os membros de uma
coletividade, e ainda, a proteção dos direitos afetados nos conflitos de
interesses. Ante à necessidade de ordenar igualmente esses conflitos e
interesses, o Direito, antes de chegar ao puro mecanismo coativo de
intervenção do poder estatal, deveria utilizar-se mais de mecanismos de
conciliação que tratam de restabelecer, na medida do possível, a ordem
de convivência social. Este é, com efeito, o papel que assume a
arbitragem dentro dos problemas das instituições jurídicas.

Nessa linha de pensamento a arbitragem apresenta vantagens


comparativas, ante à jurisdição estatal, que a coloca hoje como a
melhor alternativa ao congestionado Poder Judiciário.

No âmbito das inúmeras vantagens citemos a celeridade.


Indiscutível que a arbitragem é essencialmente mais rápida que o
judiciário, que se caracteriza pela sua rigidez e morosidade.
A confidencialidade se revela como um dos importantes fatores
que levam as partes a preferir a arbitragem. Ao conteúdo da arbitragem
fica circunscrito às partes e aos árbitros, que estão obrigados ao sigilo
profissional.

A arbitragem, em sua terceira vantagem, apresenta a forte e


constante possibilidade de conciliação. Por certo, a confidencialidade do
procedimento cria um cenário sempre possível de gerar um clima de
colaboração entre as partes, dentro do qual são sempre exortadas à
autocomposição do conflito através da conciliação ou mediação,
encerrando, assim, elas mesmas o problema.

Garantia do tratamento equânime se traduz noutra vantagem que


conduzem as partes à arbitragem. Essa garantia fica mais evidenciada
em casos de arbitragem internacional, envolvendo partes de países
diferentes. A garantia de tratamento igualitário entre as partes,
sustentada pela arbitragem, afasta a natural incerteza quanto à isenção
dos tribunais locais em litígios entre nacionais e estrangeiros
domiciliados no exterior.

Cite-se, ainda, a especialização dos árbitros que são sempre


técnicos na matéria em controversa, diferentemente do Judiciário. Isso
acaba por possibilitar a solução por eqüidade, onde os árbitros
desenvolvem o mesmo raciocínio lógico dos juízes. Porém, se o
compromisso autoriza, poderão ficar restritos à aplicação do direito
positivo além de decidir por eqüidade.

De se realçar, ainda, a confiança que as partes têm no árbitro eis


que ao contrário do juiz os árbitros são eleitos pelas partes apoiados no
elemento confiança o que conduzirá a solução do conflito por alguém
que elas mesmas escolheram.
O que se colhe do exposto é que a arbitragem, através de seus
procedimentos mais simples e econômicos, pode ter um efeito direto e
imediato no desafogamento do Poder Judiciário. E, ainda que não seja o
único mecanismo a colaborar no processo de transformação e melhoria
do acesso à justiça, a arbitragem funcionaria como um eficiente filtro,
retendo grande parte das situações litigiosas, reservando ao reduto
final, para os conflitos que não obtém solução por arbitragem,
conciliação ou mediação. Se o juízo arbitral for utilizado com freqüência,
o Estado se desencumbirá, por certo, da função jurisdicional em melhor
proveito para a sociedade.
2 ARBITRAGEM: ASPECTOS GERAIS

2.1 Conceito histórico

A arbitragem é um meio extrajudicial de resolução de conflitos


capaz de dirimir contendas entre particulares, podendo ser determinada
na elaboração do contrato, pela cláusula arbitral ou depois do
surgimento da questão controvertida, pelo compromisso arbitral, ambos
dando início ao que se convencionou denominar de juízo arbitral, sendo
também obrigação das partes à indicação dos árbitros.

Na literatura sobre o tema encontram-se várias definições, todas


abraçando pontos comuns porém, alguns destes conceitos são mais bem
ilustrativos que outras, merecendo assim, destaque.

Para HERCE QUEMADA, pela instituição da arbitragem, ou


interessados, em virtude duma declaração de vontade, subtraem o
conhecimento e decisão de suas controvérsias dos tribunais, cuja
resolução transferem a terceiro ou terceiros.

Nas palavras do professor STRENGER (1996, p. 20), a arbitragem


é a instância jurisdicional, praticada em função de regime contratual
estabelecido para dirimir controvérsias entre as pessoas de direito
privado e/ou público, com procedimentos próprios e força executória
perante tribunais estatais.
UADI LAMMEGO BULOS vê a arbitragem quando os particulares
convergirem suas vontades no sentido de nomear terceiro, com objetivo
de oferecer solução ao litígio suscetível de apreciação por este, que não
o juiz estatal, comprometendo os figurantes, previamente, a acatar sua
decisão.

O Direito Romano conheceu bem as etapas evolutivas dos


mecanismos empregados para solução de conflitos. A primeira, na pena
de Talião (a vingança privada) estabelecida ainda na Lei das XII Tábuas.
Outra etapa se revela durante toda evolução do Direito Romano, pois
sempre se admitiu que os conflitos individuais fossem resolvidos por
árbitros, escolhidos sem a interferência do Estado pelos litigantes. A
terceira, nos dois primeiro sistemas de processo civil romano: o da legis
actiones e o per formulas. E uma quarta etapa desses sistemas: cognitio
extraordinária.

Nada obstante foi no digesto, como título De Receptis, que a


arbitragem chegou a merecer disposição expressa. O receptum
caracterizava-se como um tipo de responsabilidade não formal,
sancionada pelo pretor, de onde resultavam três formas distintas de
recepta : arbitrii, nautarum cauponum e estabulariorum, argentarii.

No âmbito dessas formas a mais pertinente ao tema, é a recepta


ou receptum arbitrii que consiste na escolha de um árbitro pelas partes,
mediante um compromissum, com a tarefa de emitir juízo sobre o
objeto da controvérsia. O ato do árbitro, segundo o Digesto, consistia
em aceitar o encargo chamado arbitrium recipere, e sua decisão recebia
a designação de sententia. As partes estabeleciam uma pena de caráter
pecuniário pelo descumprimento do julgado, mas diferentes da
sententia, da qual nascia a actio iadicati, o julgado emanado do árbitro
só conferia uma actio in factum.
Também na Idade Média, no império do direito comum, vamos
encontrar a origem mais próxima do juízo arbitral, período em que o
instituto foi estimulado. O desenvolvimento da arbitragem, nessa época,
deu-se principalmente pela ausência de leis ou sua excessiva dureza e
incivilidade. Também contribuíram para tal incremento a falta de
garantias jurisdicionais, a fraqueza dos Estados, os conflitos entre
Estado e Igreja dentre outros.

Com efeito, a Idade Média revela vários casos de arbitragem, além


de ter surgido nessa época a arbitragem comercial, à medida que os
comerciantes preferiam que seus conflitos fossem dirimidos por árbitro
que eles indicassem, porquanto mais céleres e eficientes em relação dos
tribunais oficiais da época.

Tem-se, notícia da prática da arbitragem na Igreja Medieval. A


igreja à época representava, não só uma força espiritual, mas uma
coerente e extensa organização social e a que apresentava ordem
jurídica interna bastante organizada e por que não dizer, poderosa. O
poder jurisdicional da Igreja na Idade Média teve duas origens, a saber:
a arbitral e a disciplinar, o que se verifica quando teve início a
decadência dos tribunais eclesiásticos.

Em França, após a Revolução Francesa, a arbitragem foi exortada


sendo certo que há registros de casos de arbitragem obrigatória. O
instituto era o mais capacitado a traduzir, na prática e no âmbito do
Judiciário, o ideal de fraternidade entre as pessoas.

2.2 Natureza jurídica do instituto da arbitragem

Não há convergência na literatura nacional e mesmo internacional


quando se trata da investigação da natureza jurídica do instituto da
arbitragem o que se revela como uma das polêmicas criadas em torno
do tema. Diante desse quadro nota-se duas correntes antagônicas ao
que concerne à sua conceituação: os publicistas e os privatistas sendo
que esses atribuem natureza puramente contratual á arbitragem e
aqueles natureza jurisdicional.

Em seus fundamentos os privatistas negam o exercício da


jurisdição dos árbitros, por falta a estes dois cinco atributos da
jurisdição, a coercio e a executio. Faltaria ao árbitro poderes para impor
sanção ou imprimir medidas cautelares, v.g..

Entendem, ainda que com o advento de um ordenamento jurídico


(no caso uma lei), apesar da dispensa da homologação, esta ainda é
obrigatória em sentenças arbitrais estrangeiras. E, no caso de sentenças
nacionais, podem sofrer análise de um juiz do Estado, bastando para
isso que uma das partes peça a sua anulação alegando vícios na
formação do laudo arbitral. Assim, em face da semelhança com a esfera
contratual, seria mesmo essa a natureza jurídica da arbitragem.

De seu lado, os publicistas entendem que os árbitros exercitam


sim atos de jurisdição ao aplicar a regra geral ao caso concreto,
possuindo, desta forma, responsabilidades equiparadas às dos juízes
estatais. Aliando as demais responsabilidades ao fato da confiança,
antes referido, processam sentenças verdadeiras, não apenas pelas
disposições da lei, mas pelo fato do compromisso ser uma prorrogação
da jurisdição.

Com efeito, na dicção dos Capítulos V e VI da Lei de Arbitragem


brasileira, o ato decisório final de composição da lide proferido pelo
árbitro ou colégio arbitral é uma sentença e não apenas um laudo.
Nessa linha, a sentença arbitral é o ato exclusivo do juiz privado
investido da autoridade de solucionar a lide que lhe foi submetida a
exame, com eficácia vinculante prescindível da homologação judicial. É
o que se colhe do artigo da referida lei: A sentença arbitral produz,
entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença
proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória,
constitui título executivo.

Em sendo a decisão arbitral condenatória, esta como sentença


similar proferida pelo juiz togado, terá força executiva no sentido
potencial, ou seja, com possibilidade jurídica de se provocar o uso de
força para sua efetivação. Todavia, para levar a afeito o uso da força, a
lei prevê o controle da regularidade formal do laudo e sua
compatibilidade com a ordem pública.

Exorte-se que Poder Judiciário norte-americano tem externado


que aos árbitros que julgam com base nas regras da American
Arbitration Association é dada competência para impor sanção por
comportamento irregular da parte vencida, punitive damages, em
flagrante apoio ao caráter jurisdicional da arbitragem.

Certo é que o fim atingido pelo árbitro não difere daquele


alcançado pelo juiz togado, qual seja, o de aplicar o direito o direito a
determinado caso. Afinal, o poder dever de apreciar e julgar a
controvérsia, nas palavras de JOSÉ FREDERICO MARQUES é a síntese
final da jurisdição. A função fim dos dois é a realizar a justiça.

Justifica-se a distinção entre arbitragem e jurisdição e a jurisdição


estatal, quando a jurisdição é do próprio sistema processual como um
todo se diz que tinham o escopo de atuação da vontade do direito ou de
estabelecer a norma do caso concreto. Todavia, uma vez superada essa
visão puramente jurídica do processo e reconhecidos os escopos sociais
e políticos mais relevantes, data venia, não se sustenta a premissa onde
se apoiava a rígida distinção.
Ora, se o poder estatal é exercido, sub specie jurisdictionis, com o
objetivo de pacificar pessoas e eliminar conflitos com a justiça, e se
escopo da arbitragem é o mesmo, boa parte do caminho está vencido,
em direção ao reconhecimento do caráter jurisdicional da arbitragem.
Assegura-se assim, ao cidadão, o acesso á jurisdição, que no novo
quadro, em face das várias precauções tomadas pelo legislador, não se
permite falar em exclusão do acesso à via judicial, garantida que esta
está, nas hipóteses mencionadas pela lei.

Em resumo, não há receio de concluir, pelo exposto, que o juízo


arbitral instituído pela Lei de Arbitragem brasileira (Lei nº 9.307/96)
apresenta forte natureza jurisdicional o que nos coloca diante de
verdadeira jurisdição de caráter privado.

2.3 Arbitragem no cenário internacional

É fato que o fenômeno da globalização proporciona a integração


mais harmoniosa entre os países do mundo contemporâneo,
notadamente pela formação de grandes blocos econômicos com
objetivos comuns previamente definidos além de afinidade política. São
os mais diversos os motivos que levam a esse fenômeno e envolvem
fatores de ordem histórica, social, política e econômica, com reflexos
imediatos no plano jurídico, seja em nível de direito internacional
público seja privado. Na mesma proporção e velocidade surgem aos
conflitos de interesses, donde surgem os problemas de ordem jurídica.

Para o desembargo desses conflitos (sejam eles nacionais ou


internacionais), a jurisdição estatal já se mostrou historicamente
inadequada, sobretudo porque envolve a problemática questão da
soberania entre os Estados e suas respectivas jurisdições. E é nesse
cenário que a arbitragem surge como um mecanismo viável de
pacificação social e amplamente aceito para dirimir litígios de maneira
rápida, menos onerosa e efetiva.

Não se identifica no Brasil a tradição de utilizar-se da arbitragem


para a solução de conflitos, nada obstante o instituto sempre ter estado
presente em nosso sistema normativo. Ainda sabe-se que o país carece
de instituições de arbitragem adequadas à solução de questões
comerciais.

Com efeito, as inovações trazidas pela Lei 9.307/96, contribuem


para que se possa fomentar o seu uso no Brasil para permitir sua
participação mais fortalecida no mundo globalizado. Por certo, a
arbitragem caminha para ser uma forma de solução de conflitos no
âmbito das relações internacionais, possibilitando a institucionalização
dos tribunais supranacionais comuns.

2.4 A arbitragem no direto comparado

Nos países do MERCOSUL, a Lei fixa o âmbito da Arbitragem a


direitos patrimoniais disponíveis, utilizando a mesma fórmula da Lei
Brasileira, não sendo utilizado o mecanismo da arbitragem em questões
de direito de família, v.g.

Na Argentina o Código de Processo Civil limita o objeto da


Arbitragem às questões que podem ser objeto de transação. No sistema
Uruguaio, defendem-se a tese de extensão ao direito de Família do uso
da Arbitragem.

No México está excluída da arbitragem toda matéria que envolva


estado e capacidade das pessoas, demandadas de relação familiar.
Todavia, nas questões de cunho eminentemente patrimonial é admitida,
sendo que os tutores poderão optar pelo juízo arbitral para negócios de
seus tutelados.

Na Bélgica a arbitragem é admitida em todos os litígios que


versem sobre direitos e relações que admitem a transação.

A Lei espanhola nº 36/1.988 de 5/12 estabelece em seu artigo 1º,


a possibilidade de arbitragem nas matérias de livre disposição conforme
o direito. Fixa, ainda, no artigo 7º a validade da arbitragem por
disposição do testador.

O Código de Processo Civil alemão, em seu artigo 1.030,


estabelece a admissibilidade de arbitragem a toda pretensão legal sobre
bens que pode ser objetos de convenção, sendo valida a convenção
arbitral sempre que as partes tiverem o direito de transigir sobre o
objeto da disputa.

O Código de Processo Civil da Itália veda a utilização de


arbitragem em processos de natureza trabalhista e previdenciária, além
daqueles que resguardam questões de Estado e de separação pessoal
entre cônjuges e as outras que não podem formar objeto de transação
(cf. artigo 806).

Nos Estados Unidos a arbitragem pode ser instituída em questões


que envolvam os direitos disponíveis sendo utilizada em escala nas
separações e divórcio. Razão do crescimento da utilização da arbitragem
nos EUA, esta ligada ao fato da existência de grande numero de
Câmaras Arbitrais Especializadas em direito de família, o que leva ao
término do conflito com mais celeridade que as vias judiciais, além de
boa qualidade nas decisões.
2.5 Breves e pontuais considerações sobre o instituto da
arbitragem no âmbito do MERCOSUL

As comparações legislativas entre países diferentes oferecem uma


visão ampla de realidades distintas o que permite aos intérpretes e
aplicadores do direito elucidem questões pontuais, como também a
assimilação dos princípios da ciência que participam da formação da
consciência jurídica local.

Revela-se pertinente, pois, a análise de alguns sistemas jurídicos


estrangeiros referentes ao tema sob enfoque, no caso e por motivos
óbvios, do MERCOSUL.

Não entrando no mérito de estar o MERCOSUL logrando seus


objetivos no sentido da ampliação do espaço econômico de seus
membros, tem-se que dentro dessa realidade econômica que vivem
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, para MARISTELA BASSO (1996,
121), deve-se valorizar a figura da arbitragem, pois consideramos que
esta forma de solução de controvérsias, pouco usada em nossos países,
pode vir a se transformar em uma alternativa rápida e eficaz para a
solução dos conflitos originados entre empresários e comerciantes da
região, ou entre empresários e comerciantes locais e investidoras
originários de terceiros países.

Não há relevante dissintonia entre os quatro sistemas quanto à


matéria que pode ser objeto de solução arbitral, excluindo-se em
qualquer hipótese os conflitos fundados em direitos indisponíveis.

Pessoas naturais ou jurídicas de natureza privada, que podem


instituir arbitragem são, também, as mesmas. De outro lado e de modo
geral sinalizam de forma geral, a admitir a presença do Estado como
parte nos juízos arbitrais. Os mesmos efeitos entre as partes
contratantes gera a cláusula compromissória, nos quatro sistemas
jurídicos, sendo que no Paraguai não se faz distinção entre cláusula
compromissória e compromisso arbitral.

Enquanto no Brasil não se distingue a figura do árbitro e do


conciliador, os outros três sistemas atribuem diferenciação, inclusive
com regime inverso para a adoção do juízo sustentado em princípios de
eqüidade, onde, no silêncio das partes, presume-se que a sentença
arbitral venha a ser proferida com base nos referidos princípios.

No que respeita às normas procedimentais, os quatro sistemas


não se revelam harmônicos. No Brasil, é permitido às partes disciplinar
o rito no compromisso ou transferir ao árbitro ou tribunal arbitral essa
definição, diversamente do que ocorre com o sistema paraguaio cujo
código prevê expressamente o procedimento arbitral. De seu lado, os
Códigos Argentino e Uruguaio fazem referência aos procedimentos
ordinário e sumário, desde que outro não tenha sido estipulado no
compromisso arbitral.

Em qualquer dos quatro países a sentença arbitral não é


submetida a homologação pelo Poder Judiciário. É de se registrar
situação excepcional no Brasil e Uruguai, onde os sistemas legislativos
admitem recurso da sentença arbitral, ressalva a impugnação com base
em nulidade. Argentina e Paraguai submetem a decisão arbitral ao duplo
grau de jurisdição.

Quanto à homologação e execução das sentenças arbitrais


estrangeiras, esses países não exigem a nominada dupla homologação,
não se revelando como requisito que a decisão estrangeira tenha sido
homologada no país de origem.
De modo sintético pode-se perceber que os quatro sistemas
legislativos sustentam-se seus sistemas atuais em modelos que
acompanham as tendências internacionais modernas a respeito da
arbitragem.

2.6 Arbitragem na legislação brasileira

O sistema de arbitragem está presente no direito brasileiro desde


a colonização portuguesa positivada no Livro III, título XVI das
Ordenações Filipinas de 1603. A constituição imperial (1824), em seu
artigo 160 dispunha que nas divergências jurídicas civis fossem
decididas por árbitro nomeado pelas partes.

Em matéria societária, o Código Comercial de 1850 estabelecia,


em alguns de seus dispositivos, o arbitramento obrigatório, como se
colhe do artigo 294. Na mesma linha, o Regulamento 737 de 1851 (tido
como o primeiro diploma processual brasileiro codificado), no seu artigo
411, fixava que todas as causas de direito comercial teriam a
obrigatoriedade, de se resolver pelo juízo arbitral.

Nas lições de José Carlos Magalhães, juízo arbitral obrigatório


"repugna à própria natureza do instituto, lastreado, fundamentalmente,
na vontade das partes". Remata dizendo que seria um dos grandes
motivos históricos da arbitragem nunca ter tido grande aceitação no
direito brasileiro.

No Código Civil, o legislador manteve posição assumida pelo


Decreto de 1850, regulando a arbitragem voluntária, cuja previsão se
encontra nos artigos 1037 a 1048. Neste diploma, o instrumento básico
para o juízo arbitral é o compromisso, não se fazendo menção à cláusula
arbitral ou cláusula compromissória.
O Código de Processo Civil de 1939 praticamente não alterou a
abordagem do instituto, impondo controle rígido e obrigatório ao
processo arbitral, posição esta, mantida pelo legislador de 1973. Os
primeiros movimentos para uma legislação específica sobre a
arbitragem somente é verificado no início dos anos 80 com três projetos
de lei sobre a arbitragem.

No cenário internacional o Brasil sempre exortou a arbitragem


como forma de solução de conflitos entre Estados. Exemplo disso foram
os esforços ocorridos, sob a direção do Barão do Rio Branco em
questões de fronteira com contra a Argentina em 1900; a Guiana
Inglesa, em 1904; a Bolívia, em 1909; o Peru, em 1910. Questões
marítimas com a Grã-Bretanha, 1863; com os Estados Unidos, 1870;
Suécia e Noruega, em 1872.

2.7 Aspectos sobre a constitucionalidade da lei de arbitragem


brasileira

Com a promulgação em 1996, da Lei de Arbitragem brasileira,


surgiram controvérsias a cerca da constitucionalidade de instituto. É que
segundo alguns estudiosos, alguns dispositivos legais estariam em
desacordo com princípios constitucionais tais como o da inafastabilidade
do controle judicial (CF, art.5°, XXXV) da garantia do devido processo
legal (CF, art.5°, LVI), o da ampla defesa e da dupla instância de
julgamento (CF, art.5°, LV), o princípio que impossibilita a criação dos
tribunais de exceção (CF, art.S°, XXXVII) e, ainda, o do juiz natural (CF,
art.5°, LIII).

Em que pesem entendimentos contrários, é certo que não se pode


taxar de inconstitucional a norma por violação ao princípio da
inafastabilidade a do controle jurisdicional. Isso porque a
inconstitucionalidade, nesse caso ocorreria se os jurisdicionados
estivessem sempre obrigados a buscar a solução de seus conflitos de
natureza patrimonial por intermédio, do juízo arbitral, o que significaria
a inadmissível exclusão, e aí, sim, afronta ao princípio constitucional.
Certo é que a Lei da Arbitragem deixa às partes a eleição do foro.
Escolhem se querem ver sua lide julgada por juiz estatal ou por juiz
privado. A violação inconstitucional se verificaria se a lei estipulasse a
arbitragem compulsória, excluindo do exame, pelo Poder Judiciário,
eventual ameaça ou lesão a direito.

Com efeito, com a celebração da arbitragem, as partes apenas


deslocam a jurisdição para um destinatário privado. E esse ato de
eleição arbitral não se traduz em renúncia do direito de ação, mas
antes, um livre ajuste na forma pela qual se comprometem a por fim a
uma lide envolvendo direitos disponíveis.

O artigo 33 da Lei de Arbitragem brasileira assegura aos


interessados o acesso ao Judiciário para declarar de nulidade da
sentença arbitral nos casos que elenca, como por exemplo, no seu
parágrafo 3°, argüir nulidade nos embargos à execução.

De outro lado, a efetivação das tutelas de urgência, as


acautelatórias antecipatórias, inibitórias ou coercitivas deferidas pelos
árbitros ou tribunais arbitrais, é exclusiva da jurisdição estatal (artigo
22, § 2° e 4°). Também ao Poder Judiciário caberá decidir sobre a
instituição do juízo arbitral quando houver cláusula compromissória e
resistência de um dos litigantes (artigo 7°). Ainda porque é do
Judiciário, segundo o artigo 11 da lei, o controle sobrevindo no curso da
arbitragem acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que sua
existência, ou não, dependerá o julgamento.

A grande dúvida repousa no entendimento do que seja jurisdição,


que não pode ser vista apenas como um atributo conferido ao Estado,
mas também a outras pessoas eleitas pelos interessados para, em casos
concretos, comporem conflitos intersubjetivos, resolvendo-os de acordo
com a lei, os costumes, a jurisprudência, os princípios gerais do direito e
a eqüidade. Aliás, é o que lhes faculta o artigo 4º da lei.

Ainda para reforçar a tese de inconstitucionalidade, alega-se que o


juízo arbitral ofende

Também não se sustenta a tese de violação do princípio da ampla


defesa, formalmente asseguradora do due process of law, ou da dupla
instância de julgamento (CF, artigo 5°, LIV e LV), isso porque o instituto
do juízo arbritral tem na simplificação do procedimento uma de suas
notas marcantes, esta apresentando-se como uma das principais
vantagens sobre o processo judicial.

De efeito, o processo da arbitragem, qualquer que seja sua forma,


tem o princípio do contraditório como requisito mínimo de observância a
que está condicionada a atividade do árbitro. Na linha a Lei 9.307/96 é
indene de dúvidas quando predispõe, no parágrafo 2° do artigo 21, que
serão sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do
contraditório da igualdade das partes.

No que respeita à denunciada violação do princípio do juiz natural,


oportuna a lição de Sálvio de Figueiredo Teixeira, para quem com a
garantia do jurisdicionado que sua causa seja processada perante o juiz
cuja competência decorra das leis processuais. O sistema normativo
brasileiro distribui entre diversos órgãos do poder judiciário as
atribuições jurisdicionais.

O postulado do juiz natural relaciona-se com a jurisdição do


Estado. Assim, optando por requerer a tutela jurisdicional conferida pelo
Estado, a parte não pode escolher o juízo onde transitará o processo,
submetendo-se, dessa forma, às regras estabelecidas para a distribuição
de competência que decorre de lei.

Nessa linha tem-se que quando as partes optam por resolver o


litígio em sede do juízo arbitral, a solução não requer atuação do corpo
estatal. Assim partes resolvem os conflitos de seus interesses através de
uma jurisdição privada, não havendo que se falar em ajustamento ao
princípio do juiz natural. A resolução do conflito decorre da livre
autonomia das partes, por meio da escolha de um intermediário que o
resolva.

Ponto de concentração do ataque à constitucionalidade refere-se à


principal inovação introduzida pela lei, a saber, a executoriedade da
cláusula arbitral trazida no bojo do artigo 7° da lei. Aqui, os que
sustentam a tese reconhecem a constitucionalidade da arbitragem
instituída pelo compromisso, onde os próprios titulares do objeto em lide
renunciam à jurisdição estatal.

De outro lado, o mesmo raciocínio não se aplicaria à cláusula


compromissória, na qual o conflito não existe ainda, e a renúncia da
jurisdição estatal é genérica, de objeto indefinido, sendo inconstitucional
o artigo 7° da Lei 9.307/96, que ensejaria sua execução compulsória.

A renúncia prévia á jurisdição estatal constante de cláusula


compromissória não é genérica, mas especifica quanto aos conflitos
decorrentes do contrato em que dita cláusula está ingerida. A promessa
de submissão à arbitragem do futuro e eventual conflito surgido tem
objeto determinado, circunscrito ao contrato no qual está inserido.

Ora, suprimir a executoriedade e obrigatoriedade da cláusula


compromissória significaria fragilizar o sistema de convenção da
arbitragem, aniquilando a expectativa de seu uso efetivo na solução de
conflito.

3 REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO JUÍZO ARBITRAL

3.1 As pessoas que podem convencionar a arbitragem

Da leitura do texto legal, (artigo 1° da Lei Arbitragem - só as


pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem) podemos
perceber que apenas as pessoas que tenham adquirido a plena
capacidade civil poderão utilizar-se dessa forma alternativa de solução
de conflitos. Assim para que a institucionalização do juízo arbitral tenha
validade e eficácia no plano do direito das obrigações, há de ser contrato
firmado por uma pessoa absolutamente capaz.

Além dos incapazes, não poderão valer-se da arbitragem o preso,


enquanto durar o regime prisional (e não o condenado), o insolvente
civil e a massa falida, em face da universalidade dos juízos.

A capacidade de estar em juízo arbitral é, portanto, pressuposto


processual de validade da instituição da arbitragem. Não se confunda
com a capacidade de estar em juízo como requisito de admissibilidade
da demanda ou de acesso à justiça, porque a legitimidade, nesse caso,
diz respeito à pertinência subjetiva que deve ter entre o sujeito que
formula a pretensão, na qualidade se autor; de outro lado, o outro que
deverá suportar o ônus da sucumbência da demanda. Ao contrário, o
direito de ação ou direito aos tribunais ou prestação da tutela
jurisdicional pertence a todos, indistintamente (CF, artigo 5°, inc.
XXXV).

Quanto à presença das pessoas jurídicas de direito público interno


(União, Estado, Município, e Autarquias), estão estas excluídas da
possibilidade jurídica de solucionar conflitos internos através da
arbitragem, em face da indisponibilidade dos bens da fazenda pública,
donde decorre o interesse público que é intrínseco à própria lide.

A essa altura surge uma controvérsia a esse respeito. É que


alguns autores sustentam que o Estado pode sim submeter
determinadas questões à arbitragem. Necessário seria apenas delimitar,
segundo eles, se o ato estatal é ato de gestão ou ato de imperium. Se
de imperim (onde o Estado age com poder soberano) impossível utilizar-
se da arbitragem. De outro lado, em tratando-se de ato de gestão,
nenhum óbice se revelaria à institucionalização do juízo arbitral.

Exemplo disso se dá nos casos de desapropriação caso em que o


juiz não seria mais do que um intermediário entre as partes e o perito.
Nessa condição conveniente submeter a demanda à arbitragem pois,
recomendável a nomeação de um engenheiro ou corretor de imóveis
para saber o valor da coisa expropriada, facilitando a resolução do
conflito.

Nada obstante, opinião dominante é no sentido da total exclusão


das pessoas de direito público interno da possibilidade jurídica de
solucionar seus conflitos através da arbitragem.

3.2 O objeto litigioso no juízo arbitral

No âmbito da própria lei está o limite do objeto da arbitragem, ou


seja, questões pertinentes a direitos patrimoniais disponíveis. Estes
nada mais são, que aqueles direitos de índole material que as partes
podem dispor, ou seja, direitos transacionáveis.

Conclui-se daí estarem excluídas as questões de natureza familiar


ou de Estado, as relativas à capacidade e ao estado das pessoas (p. ex.,
alimentos, filiação, pátrio poder, casamento), bem como as de ordem
fiscal, tributária e todas aquelas de interesse da Fazenda Pública
Estadual, Municipal ou Federal.

Também os chamados direitos metaindividuais indisponíveis estão


excluídos em razão dos interesses envolvidos. Porquanto indisponíveis
encontram excluídos do âmbito da arbitragem os direitos difusos e
coletivos. De outro lado, os direitos individuais homogêneos podem ser
objeto de decisão arbitral, tendo em vista que estamos diante de
direitos divisíveis e disponíveis, quando patrimoniais.

Por haver previsão legal, qualquer estipulação em contrário à suas


disposições será nula de pleno direito e por conseguinte impossível seu
objeto (artigo 145, II, CC). Mas se houve incerteza sobre a natureza do
objeto (é ou não é disponível), caberá ao Poder Judiciário dirimir a
questão.

Sendo os direitos da personalidade de natureza não patrimonial,


portanto, indisponíveis. Em algumas situações, todavia, poderão eles
decorrer de um caráter eminentemente patrimonial, como se verifica,
v.g. com a violação de privacidade, dano à imagem, controvérsias
relativas aos direitos autorais, dentre tantas outras.

Nesses casos, a controvérsia se situa em redor da obtenção do


ressarcimento pelos danos experimentados, podendo as partes se valer
da arbitragem em face ao caráter patrimonial da lide.
Questões já apreciadas pelo Poder Judiciário e fizeram coisa
julgada não podem ser objeto de nova apreciação, desta feita em sede
do juízo arbitral, seja qual for a natureza.

É de se observar que o direito de alimentos, v.g. é indisponível,


todavia, são transacionáveis quanto ao seu quantum. Portanto, ao
menos em tese, o direito de alimento pode ser submetido à arbitragem.
Observe-se, entretanto que se envolver incapaz na relação, não é
possível submeter esse direito ao juízo arbitral.

Nas demandas de natureza trabalhista, duas situações podem


ocorrer por envolver relações individuais e coletivas. No que pertine às
coletivas surgem controvérsias em decorrência do texto da Constituição
Federal que admite às partes litigantes a eleição de árbitros, quando
frustrada a tentativa de negociação coletiva (artigo 114, § 1°). Mas para
regra nesses casos, é a resolução do conflito por matéria da jurisdição
pública com competência em matéria de trabalho.

Quanto aos individuais, por se tratar de direitos indisponíveis os


decorrentes da relação de trabalho (face à natureza jurídica da verba),
como regra geral escapam à arbitragem para dirimir o conflito. Há
presunção de vício de vontade o que inviabilizaria o acatamento da
cláusula compromissória ou mesmo da sentença arbitral.

Por fim, quanto à jurisdição voluntária, não se revelará admissível


que as questões dessa jurisdição se submetam ao juízo arbitral. Isso em
razão de a lei processual submeter aos procedimentos especiais da
jurisdição voluntária dada a existência de interesse público e da
indisponibilidade dos direitos por eles regulados.

3.3 A convenção de arbitragem


A convenção de arbitragem engloba a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral. Por isso a convenção arbitral celebrada entre
particulares pode apresentar-se de duas maneiras. Primeiramente,
desde o início as partes designam o objeto do litígio e o nome do(s)
árbitro(s) no chamado compromisso arbitral. Na segunda estar-se-ia
diante de um compromisso abstrato, onde as partes se comprometem a
submeter-se à arbitragem as futuras refregas, surgindo assim a cláusula
compromissória.

Com efeito, a convenção decorrente de cláusula contratual


expressa e escrita tem por finalidade gerar entre os contratantes o
compromisso inarredável de submeterem-se à jurisdição arbitral a
solução dos conflitos que porventura venham a surgir, como decorrência
da relação negocial de maneira a excluir terminantemente a busca da
tutela pretendida a ser conferida pelo Estado-juiz.

3.3.1 A cláusula compromissória

A cláusula arbitral ou compromissória pode ser conceituada como


a manifestação da vontade das partes em se submeter à arbitragem a
eventual controvérsia que surja de determinada relação jurídica de
direito material que as vincula.

A disposição contratual em comento prevê basicamente uma


obrigação de fazer cujo inadimplemento a jurisprudência entendia
insuprível por execução compulsória específica, devendo resolver-se em
perdas e danos. Revela, em verdade, uma promessa de contratar ou
contrato preliminar de arbitragem que fica dependente do elemento
ensejador de sua exigibilidade, qual seja o conflito.

Diante disso, a cláusula compromissória reveste-se de natureza


vinculante ou cogente, eis que obrigatória entre os contratantes. Uma
vez escolhida a via paraestatal da arbitragem para a solução dos
conflitos, as partes não mais poderão recorrer ao Poder Judiciário,
ressalvadas as hipóteses específicas previstas em lei (quando
reconhecido o impedimento, suspeição, incompetência, nulidade,
invalidade ou ineficácia da convenção arbitral, nulidade da sentença
arbitral). Se as partes diante de uma situação litigiosa acordarem em
cumprirem o pactum de compromitendo estabelecido em cláusula
contratual específica deverão então firmar o compromisso arbitral.

De remate esclareça-se que a cláusula compromissória não se


presume. Deverá ser expressa (artigo 4º, § 1°). A cláusula é autônoma
em relação ao contrato em que se encontra inserta, traduzindo-se em
um subcontrato ou contrato acessório que se reveste de autonomia em
relação ao vínculo principal, de forma que a nulidade deste não significa,
necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.

3.3.2 Contratos de adesão e a cláusula compromissória

Segundo disposto no § 2° do art. 4º da Lei 9.307/96: a cláusula


compromissória só terá eficácia se o aderente tomar iniciativa de
instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com sua instituição,
desde que por escrito em documento ou visto especialmente para essa
cláusula. Surge ai campo fértil para debates em torno da interpretação
da cláusula compromissória nos contratos de adesão.

Há entendimentos no sentido de que o dispositivo citado afronta o


inciso VII do artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor brasileiro,
que marca de nulas de pleno direito entre outras, as cláusulas
contratuais ao fornecimento de produtos e serviços que determinassem
a utilização compulsória da arbitragem.
Em análise lógica do confronto das duas disposições, há de
prevalecer a eficácia da lei mais nova em relação a antecedente, nos
termos do § 1°, artigo 2°, da Lei de Introdução do Código Civil. Isso foi
o que constou no Parecer 221/93 do Senado Federal que revogou o
inciso VI do artigo 51 do mesmo Código de Defesa do Consumidor.

A despeito de o legislador ter minorado o rigor do dispositivo


conferindo certas garantias ao consumidor, os mecanismos contidos na
Lei da Arbitragem ao consumidor são ainda assim incipientes. E isso se
revela quando confrontados com relações de massa e consumo
verificadas no mundo contemporâneo, onde o poderio econômico de
empresas apresenta-se em total desequilíbrio quando comparado com a
parte aderente.

Nessa linha de raciocínio, o dispositivo deve ser interpretado não


separadamente, mas de modo conjunto com o microsistema do Código
de Defesa do Consumidor louvando-se, também, nos direitos e garantias
individuais gravados no âmbito da Constituição.

Com efeito, regra do § 2° do artigo 4° da Lei 9.307/96 não é


absoluta, mas relativa, à medida que traz em seu conteúdo o mínimo
indispensável para verificações particulares do caso concreto. Certo é
que a adesão do consumidor não pode servir de instrumento absoluto de
exclusão da jurisdição estatal. Ademais, as cláusulas contratuais devem
ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, conforme
se colhe da dicção do artigo 47, do mesmo CDC.

A cláusula compromissória gravada nos contratos de adesão é


válida e eficaz, desde que haja a observância dos requisitos mínimos
indispensáveis assinalados no § 2° do artigo 4° da Lei de Arbitragem.
Todavia, se houver resistência do consumidor aderente às estipulações
contidas no contrato, há de ser avaliado o conjunto e de modo
particular, procurando sempre cumprir os fins sociais inseridos nos dois
microsistemas (Lei 9.307/96 e Lei8.078/90), que devem se completar e
não se excluir.

3.3.3 O compromisso arbitral

O Compromisso arbitral constitui-se por um acordo de vontade


com vistas a estabelecer o objeto litigioso entre as partes, para o
propósito de exclusiva solução da lide pela jurisdição privada via do
processo arbitral.

Compromisso arbitral é, então, o objeto da obrigação de fazer


prescrito na cláusula compromissória. Constitui-se num clássico acordo
de vontades pelo qual as partes instituem efetivamente o juízo arbitral,
indicando e delimitando o conflito, nomeando os árbitros e fixando a
forma de processamento da arbitragem. Esse compromisso tem
natureza tipicamente contratual, sendo negócio jurídico efetivado dentro
do âmbito da autonomia da vontade das partes, cujo elemento
integrante essencial é a indicação do conflito a ser dirimido.

São requisitos indispensáveis do compromisso arbitral: a) nome,


domicílio, ramo da atividade ou profissão e, tratando-se de pessoa
natural, o estado civil; b) nome, profissão e do domicílio do árbitro ou
dos árbitros, ou se for o caso, a identificação da entidade arbitral a qual
as partes delegaram a indicação dos árbitros; c) a matéria que será
objeto da arbitragem, ou seja, a lide propriamente dita; d) o lugar em
que será proferida a sentença arbitral (artigo 10).

A essa altura, oportuna a citação da lição de Pontes de Miranda


quando distingue a cláusula compromissória do compromisso arbitral: a
cláusula compromissória é o pacto de compromisso, ou mesmo negócio
jurídico por declaração unilateral de vontade, em que ainda não se
determinou a demanda que tem que ser decidida pelos árbitros. O
compromisso é o contrato - dificilmente o negócio por declaração
unilateral de vontade em que já se determina a demanda submetida ao
juízo arbitral. A eventualidade é que dilata em cláusula, aplicada a
demanda apenas determináveis, o pacto de compromisso.

3.4 Rito especial para execução específica da cláusula


compromissória

O artigo 6º da Lei 9.307/96 inicia o trato das regras


procedimentais para cumprimento coercitivo da cláusula compromissória
da arbitragem. O dispositivo estabelece que, inexistindo acordo prévio
sobre a forma de instituir a arbitragem e surgindo um conflito, a parte
interessada comunicará formalmente à outra sua intenção de dar início
à arbitragem, por via postal ou por qualquer outro meio de
comunicação, mediante comprovação de recebimento, conclamando-a
para, em dia hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.

Se não se convencionou sobre a arbitragem no contrato original,


ou mesmo inexistindo a cláusula compromissória, a parte interessada na
solução arbitral poderá notificar a outra parte para firmar compromisso.
Contudo, se a outra parte não comparecer, ou comparecendo se recusa
á assinatura, não se pode compeli-la à arbitragem, por falta da cláusula
compromissória.

Todavia, diante da cláusula compromissória, e as partes não se


entendem para a celebração do compromisso, nessa hipótese, o
interessado no procedimento arbitral notificará o outro, na forma do
citado artigo 6°, para comparecer em dia, hora local certos para firmar o
compromisso arbitral. Ausente a parte ou comparecendo e recusando-se
a firmar o compromisso arbitral, poderá o prejudicado propor a
demanda prevista no artigo 7° da Lei que estabelece que lei que
existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à
instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação
da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o
compromisso, designando ao juiz audiência especial para tal fim.

A competência para essa demanda é a do foro a que se


originalmente competeria julgar as causas relativas em discussão (artigo
6°, parágrafo único), segundo a lei de organização judiciária local.

A ação manejada será para cumprimento compulsório ou execução


específica de cláusula compromissória, processada pelo rito previsto no
referido artigo 7° da Lei 9.307/96. Se adotada a segunda nomenclatura,
note-se que a ação não será de execução específica, pois tem clássica
feição cognitiva, objetivando uma sentença judicial que supra o
compromisso não firmado voluntariamente. A ação será para execução
específica da cláusula compromissória.

O primeiro pressuposto processual dessa ação de cumprimento


compulsório da cláusula compromissória de arbitragem é a existência da
cláusula, celebrada na forma do artigo 4°, § 1°, da Lei,
instrumentalizada no documento respectivo. O segundo é o pressuposto
de natureza processual, no caso, a existência dessa cláusula, com a
celebração do compromisso arbitral e na formação da convenção de
arbitragem.

Assim, na forma dos artigos 6°, parágrafo único, e 7°, § 1°, da Lei
9.307/96, a petição inicial da ação para o cumprimento compulsório da
cláusula compromissória deverá indicar com precisão o conflito objeto
da arbitragem, ser instruída com o documento que contiver a cláusula
arbitral e a prova de notificação da outra parte para firmar
compromisso. Isso, sob pena de indeferimento da peça ou a extinção do
processo sem julgamento do mérito com base no art.267, do CPC, por
falta de pressupostos processuais ou condições da ação disciplinadas na
Lei 9307/96.
Quanto ao pedido, deverá conter o requerimento de designação da
audiência especial conforme determinação da lei e, para o caso de não
se firmar voluntariamente o acordo, a procedência do pedido de
suprimento judicial da vontade da outra parte na celebração do
compromisso, para se proferir sentença que substitua o mesmo, por ele
valendo.

Despachando a inicial, o juiz, após a verificar o preenchimento dos


pressupostos processuais, condições da ação e requisitos da inicial,
designará audiência especial a que alude o caput do artigo 7°.

Presentes as partes nessa audiência, caberá ao juiz, antes de


qualquer cogitação sobre a arbitragem, tentar conciliá-las sobre o litígio
em si. Frustrado o esforço conciliatório, conduzirá os demandantes a
firmar de comum acordo o compromisso arbitral, com base nos
elementos contidos na cláusula compromissória. Observa-se aqui o
duplo e relevante papel do juiz conciliador, seja quanto ao conflito
principal, seja quanto à instituição da arbitragem pelo compromisso.

Baldadas ambas as tentativas conciliatórias, segue-se à instrução


do feito providenciando o juiz a coleta da contestação quanto ao pedido
de cumprimento compulsório da cláusula compromissória e decidir (§
3°). Na contestação, caberá ao réu invocar fatos impeditivos da
arbitragem, tais como nulidade da cláusula compromissória,
indisponibilidade dos direitos.

É possível que o réu sucumba quanto ao pedido de suprimento de


vontade, rechaçando, todavia, elementos da arbitragem propostos pelo
autor.
A argüição de suspeição ou impedimento de árbitros pré-indicados
na cláusula compromissória não impede o provimento do pleito, pois o
juiz pode substituí-los.

O juiz deverá decidir respeitando as disposições da cláusula


compromissória e atendendo ao disposto nos artigos 10 e 21, § 2°, da
Lei, significando isso que o compromisso a ser suprido pela sentença
deve se dar com base nos elementos constantes da cláusula
compromissória, contendo os requisitos do artigo 10 (qualificação das
partes, dos árbitros, objeto da arbitragem e lugar) além de propiciar às
partes no processo de arbitragem o contraditório, a igualdade das
partes, além da imparcialidade e livre convencimento do árbitro (artigo
21, § 2.°).

Ao juiz é vedado avançar sob pontos inexistentes na cláusula


compromissória e sobre os quais só as partes poderiam deliberar, tais
como a previsão de julgamento por equidade na arbitragem, ou com
base em normas do comércio internacional (artigo 11, II e IV), bem
assim sobre a atribuição a uma só das partes da responsabilidade pelo
pagamento das despesas de arbitragem. Sendo omissa a cláusula
compromissória e divergindo as partes sobre tais pontos, prevalecem as
regras regimentais do processo civil.

De outro lado, diante da ausência do autor à audiência especial, o


efeito é semelhante à prescrição do processo trabalhista, ou seja,
importa extinção do processo sem julgamento do mérito (artigo 7°, §
5°). A ausência do réu tem os efeitos da revelia o que autoriza o juiz a
proferir sentença substitutiva do compromisso. Mas, nesses casos, o
árbitro será único (artigo 7°, § 6°).
A sentença, no caso, valerá como compromisso arbitral (§ 7°). É o
mesmo efeito preconizado no artigo 639 do Código de Processo Civil
brasileiro (cânone que, por certo influenciou a lei). Obtém-se, assim,
uma sentença que produz os mesmos efeitos do contrato que a parte
prometeu concluir e não o fez. Estar-se-ia, então, suprida a vontade não
manifestada para se firmar o compromisso arbitral. A partir daí, estaria
a parte apta para instituir a arbitragem por força de execução específica
da cláusula compromissória.
4 DOS ÁRBITROS

4.1 Quem pode ser árbitro

Requisito fundamental e caráter subjetivo imposto pelo legislador


é que o árbitro esteja em gozo de sua plena capacidade civil. Segunda,
ainda, o artigo 13 da lei, o árbitro é a pessoa a quem as partes, por
consenso, confiam a decisão e o julgamento da controvérsia instaurada
pelo juízo arbitral. O árbitro deverá ainda, ter discernimento técnico
para elaborar o laudo arbitral onde serão expostos os motivos e as
conclusões da decisão, que teve por desfecho a solução da controvérsia.

Se as partes, contudo, resolverem não optar pela indicação de


uma entidade arbitral, mas pela escolha comum de seu árbitro ou
árbitros, recomendável a escolha de um entre eles que seja detentor de
sólida formação jurídica. Isso porque, como visto, mesmo na jurisdição
privada o funcionamento e tramitação processual deverá obedecer a
regras procedimentais e princípios, tais como o contraditório, igualdade
das partes, imparcialidade dos árbitros, fundamentação da decisão, livre
convencimento, enfim, a estrita observância ao due process of law.

4.2 Árbitro e juiz estatal

O artigo 13 da Lei de arbitragem define que pode ser árbitro


qualquer pessoa capaz e que tenha confiança das partes. Assim como o
juiz estatal o árbitro deverá ser imparcial e competente, exercendo sua
função com discrição e independência (artigo 13, § 6°).
É nos seus atos, que verificaremos pontos de diferença entre o
árbitro e o juiz estatal. O árbitro exerce a maioria dos atos do juiz
estatal, e por isso, a semelhança. Entretanto, o juiz estatal possui
poderes de polícia, não conferidos ao árbitro. Sendo a arbitragem um
processo de cognição, excluindo a execução stricto sensu, falta o coercio
ao árbitro. Ao juiz estatal são conferidos tais poderes, pois não se trata,
na sua função jurisdicional, da defesa de seus interesses, ou do próprio
Estado, mas sim, para a prestação de um serviço jurisdicional aos
litigantes.

Outro ponto a ser observado, constitui-se na forma de condução


do julgamento. Ao juiz impõe-se o dever de conduzir o julgamento
observando a ordem legal estabelecida (devido processo legal) e a sua
sentença deverá obedecer a estrita legalidade. Ao contrário, o árbitro
deve obedecer à convenção das partes, observando a forma por elas
instituída. Sua decisão poderá ser baseada nos princípios de eqüidade
ou de direito, conforme as partes dispuseram.

Os efeitos da sentença proferida pelo árbitro ou juiz estatal,


configuram-se semelhantes, pois, o árbitro é juiz de fato e de direito, e
a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou homologação pelo
Poder Judiciário (artigo 18).

4.3 Número e escolha dos árbitros

Para evitar a possibilidade de empate na votação, em se tratando


do colegio arbitral, o que inviabilizaria por completo a solução da lide
apresentada, o número de componentes deverá sempre ser ímpar, com
ou sem suplentes (artigo 13, § 1°).
Poderão as partes em acordo estabelecer a forma de eleição dos
árbitros ou adotar as regras de um determinado órgão arbitral
institucional ou entidade especializada (artigo 13, § 2°). Formado o
colégio de árbitros, os seus membros por maioria simples, elegerão o
presidente do tribunal (ou colégio). Não havendo consenso para a
indicação, será designado presidente mais idoso (artigo 13, § 4°).

Podem os árbitros convocar auxiliares para a consecução dos


trabalhos. Esses terceiros poderão ser pessoas contratadas para
secretariar a arbitragem ou prestar alguma forma de assessoramento,
podendo o árbitro ou presidente do colégio designar um secretário, nada
obstando que recaia a indicação sobre um dos próprios árbitros (artigo
13, § 5°).

Certo é que a escolha dos árbitros é totalmente livre às partes que


poderão apontar, em número sempre ímpar, qualquer pessoa capaz que
goze da confiança de ambas para dirimir seus conflitos. Poderão,
também, as partes, fazer referência ou convenção arbitral a
determinado órgão arbitral ou institucional ou entidade especializada, a
qual, por sua vez indicará o árbitro ou árbitros que compõem o seu
corpo com sua área tendo em vista cada caso concreto.

4.4 Requisitos para o desempenho da função de árbitro

A escolha adequada do árbitro ou árbitros se revela como o


principal requisito para o eficiente desempenho da função. Não devem
as partes se deve atentar apenas aos requisitos genéricos e subjetivos
listados no artigo 13 da lei, mas também e principalmente para a
formação técnica ou científica dos árbitros e suas respectivas afinidades
com a matéria objeto da controvérsia.
Para o bom desempenho de suas atividades, os árbitros poderão
ter profissionais habilitados como assessores, contratar técnicos para
realização de pericial ou prestação de esclarecimentos.
4.5 Das exceções: impedimento e suspeição

Para que impere os fundamentos da imparcialidade e


independência, os árbitros não podem incidir em exceções de
impedimento ou de suspeição.

Ficam, dessa forma, impedidos de funcionar como árbitros ou


suplentes as pessoas que tenham com as partes qualquer das
circunstâncias que caracterizem os impedimentos ou suspeição de
juízes, atribuindo-lhes, no que couber, os mesmos deveres e
responsabilidades. Aplicam-se aos árbitros as objeções gravadas nos
artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil dirigidas aos juízes do
Estado, para o exercício de suas funções judiciais.

É impedido, pois, de funcionar o árbitro nos processos em que for


parte; em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,
funcionou como órgão do Ministério Público ou prestou depoimento
como testemunha; que tenha conhecido da matéria anteriormente
quando proposta perante a jurisdição estatal, extinta pelo compromisso
arbitral; quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o
seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha
reta ou, na colateral, até o terceiro grau; quando for órgão de direção
ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

Suspeito de parcialidade será o árbitro que for amigo íntimo ou


inimigo capital de qualquer das partes; algumas das partes forem suas
credoras ou devedoras, ou de seu cônjuge ou de parentes destes, em
linha reta ou colateral, até 3° grau; herdeiro presuntivo, donatário ou
empregador de alguma das partes; receber dádivas antes ou depois de
iniciado o processo arbitral; tiver aconselhado alguma das partes acerca
do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do
litígio; for interessado no julgamento da causa em favor de uma das
partes.

As pessoas indicadas para funcionar como árbitro tem o dever de


revelar, antes da aceitação da indicação, qualquer fato denotativo de
justificativa dúvida quanto à sua imparcialidade ou independência (§ 1°,
artigo 14).

A parte interessada em argüir a exceção de impedimento ou


suspeição necessita manifestar-se nos autos da primeira oportunidade
que tiver, ou após a instituição do juízo arbitral, dirigindo as provas
pertinentes a sua alegação.

Acolhida à exceção, o árbitro será afastado e substituído pelo seu


suplente. Não havendo substituto e as partes não acordando sobre a
substituição do árbitro, buscará, a parte interessada solução perante a
jurisdição estatal; ressalvada a hipótese de as partes terem acordado
expressamente, na convenção de arbitragem, que não aceitariam a
substituição.

Inversamente, se o árbitro não aceitar a recusa, o processo


seguirá em tramite normal, sem prejuízo de vir a ser decisão examinada
pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual
propositura de ação declaratória de nulidade de sentença arbitral (artigo
20, § 2°).

Ocorrendo a recusa do árbitro antes de aceitar a nomeação ou, se


após a aceitação, vier a falecer, adoecer ou torna-se impossibilitado por
qualquer outro motivo para o exercício de sua função, assumirá
imediatamente o seu lugar o subscrito indicado no compromisso arbitral,
se houver.

Não havendo substituto ou nada dispondo a convenção arbitral,


resolve-se a questão termos dos §§ 1° e 2° artigo 16.
5 A SENTENÇA ARBITRAL

5.1 Conceito

A sentença arbitral é o ato decisório escrito pelos árbitros, que


produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da
sentença judicial. Sendo condenatória a decisão constitui-se em título
executivo conforme estatui o art. 31 da lei sob estudo.

5.2 Requisitos e forma da sentença arbitral

A sentença arbitral de mérito será proferida quando o


procedimento específico tiver atingido o seu termo, o que se verifica,
após a conclusão da fase de instrução, que permite a capacitação do
árbitro para solucionar a lide instaurada e deverá ser apresentada na
forma escrita (artigo 24 caput) assinada pelo árbitro, se monocrático, ou
por todos os componentes do colégio arbitral.

Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por


maioria. Não havendo acordo majoritário, prevalecerá o voto do
presidente do tribunal arbitral (artigo 24, § 1°).

Da sentença arbitral deverão constar os seguintes requisitos, sob


pena de sua invalidade: a) relatórios, que conterá o nome das partes e
uma síntese do litígio e das principais ocorrências verificadas durante o
procedimento arbitral; b) fundamentos da decisão, onde serão
analisadas as questões de fato e de direito. Se o julgamento for fundado
em eqüidade, os árbitros deverão fazer menção expressa a essa
circunstância; c) disposição (ou a parte dispositiva da sentença),
representada pela conclusão sobre a qual o árbitro ou tribunal
solucionou a lide que lhes foi submetida, através do julgamento de
procedência ou improcedência do pedido como a conseqüente disposição
de natureza declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental ou
executiva latu sensu; d) data e local em que for proferida.

Com efeito, à exceção desse último requisito, a inobservância dos


outros três importará em nulidade da sentença arbitral, que será assim
declarada pelo Poder Judiciário

A sentença deve proferida no prazo estipulado pelas partes no


compromisso arbitral (artigo 10, III). Todavia, nada tendo sido
convencionado a respeito, o prazo para a apresentação da sentença será
de seis meses, contado o prazo a partir da instituição do juízo arbitral.
Vencido o prazo, a parte interessada na decisão notificará o árbitro ou
colégio arbitral, concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolação e
publicação da sentença.

5.3 A natureza jurídica da sentença arbitral

Sentenças arbitrais devem refletir ontologicamente a mesma


natureza das demandas e tutelas jurisdicionais perseguidas através do
compromisso arbitral e da instauração do juízo paraestatal.

Dessa forma, acolhendo a doutrina do processo civil tradicional


para a arbitragem, as sentenças podem apresentar natureza
declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental ou executiva latu
sensu.
Na jurisdição arbitral o árbitro limita-se a dizer o direito das
partes, sem poderes de fazer exercê-lo. A satisfação do direito material,
direito obtido através de sentença arbitral favorável será dependente da
vontade do vencido em cumprir a decisão, espontaneamente. Caso
contrário, deverá o interessado executar a sentença perante o Poder
Judiciário (artigo 584, III. CPC).

5.4 Dos efeitos principais e secundários da sentença arbitral

Sendo o árbitro juiz de fato e de direito, assim como suas de


decisões (finais ou incidentais) não estão sujeitas à revisão por
intermédio de recursos ou homologação pelo Poder Judiciário (artigo
18), a sentença arbitral haverá de produzir entre as partes e seus
sucessores os mesmos efeitos da sentença que seria proferida pelos
órgãos do Poder Judiciário (artigo 31).

O principal escopo da sentença arbitral (efeito primário) é a


produção de seus resultados concretos no plano material e do direito
objetivo, reequilibrando a relação fática ou jurídica violada ou
ameaçada, como forma de satisfação da pretensão resistida da parte
vencedora. Dependendo da natureza jurídica da tutela pretendida e,
portanto, da própria sentença arbitral, gerar-se-ão novas situações
jurídicas para os litigantes ou se manterão as já existentes.

Acerca dos efeitos secundários da sentença arbitral, pode-se citar


a hipoteca judicial e o ônus da sucumbência .

5.5 Do término do juízo arbitral

Ao proferir a sentença (sentença terminativa ou de mérito), o


árbitro ou tribunal arbitral exaure a função jurisdicional privada e, via de
conseqüência, dá-se por finda a arbitragem.
A publicação da decisão se dá através da comunicação às partes
litigantes por qualquer meio idôneo que permita recebimento de uma
cópia do julgado proporcionando-lhes o efetivo conhecimento da
decisão.

Decorridos os cincos dias destinados à interposição de embargos


de declaração (artigo 30), a sentença arbitral faz coisa julgada material,
produzindo entre as partes litigantes e seus sucessores os mesmos
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário,
constituindo-se título executivo judicial se for de natureza condenatória
(artigo 31).

5.6 A função da sentença arbitral

A sentença arbitral, assim como as decisões proferidas pelo


Estado-juiz, tem por escopo a solução do conflito de interesses que lhe
foi submetido a conhecimento pelos litigantes insatisfeitos diante da
violação de determinada relação jurídica ou fática, dentro dos contornos
assinalados no compromisso arbitral.

A função jurídica e material imediata da sentença arbitral é, pois,


a solução da lide circunscrita pelas partes contratantes no compromisso
de forma menos gravosa e traumática àquele que deverá arcar com o
ônus da sucumbência.

Atinge, também, outros escopos mediatos a sentença arbitral, o


que se dá por intermédio de sua função pacificadora de conflitos sociais,
econômicos, comerciais e políticos, seja de ordem interna ou
internacional, de forma muito mais simplificada, célebre e menos
onerosa às partes litigantes.
5.7 A eficácia da coisa julgada arbitral

A decisão proferida perante a jurisdição arbitral produz os mesmos


efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo
condenatória, constitui título executivo judicial (artigo 31).

Da sentença arbitral não caberá recurso, ressalvado os embargos


de declaração que serão dirigidos aos próprios árbitros (artigo 30) ou
homologação pelo Poder Judiciário (artigo 18). Assim as partes não
poderão submeter o mesmo litígio à apreciação do Estado-juiz.

5.8 Da nulidade da sentença arbitral e a ação anulatória

Como visto, a sentença arbitral deve observar série de requisitos


formais. Estará, pois, eivada de nulidade absoluta e, portanto, atacável
por meio de ação anulatória perante o órgão do Poder Judiciário
competente, quando: a) for nulo o compromisso arbitral; b) emanou de
quem não podia ser árbitro; c) não contiver os requisitos do art. 26 da
Lei 9.307/96, ressalvada a data e o lugar em que foi proferida, tendo
em vista tratar-se de omissão de caráter material que poderá ser
suprida a qualquer tempo pelo árbitro; d) for proferida fora dos limites
da convenção arbitral (ultra ou extra petita); e) não decidir todo litígio
submetido à arbitragem; f) comprovado que foi proferida por
prevaricação, concussão ou corrupção passiva, sem prejuízo da
responsabilidade penal, equiparando-se o infrator aos funcionários
públicos; g) proferida fora do prazo estipulado e desde que qualquer das
partes interessadas tenha notificado o árbitro, ou presidente do tribunal
arbitral, concedendo-lhe prazo de dez dias para a prolação e
apresentação da sentença arbitral; h) forem desrespeitados os princípios
do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e
de seu livre convencimento ou, em outros termos, inobservado o devido
processo legal (artigo 32).
Sendo nula de pleno de direito, a sentença arbitral maculada de
qualquer desses vícios insanáveis não gera efeito no mundo jurídico. Por
conseguinte, pode ser impugnada através de ação autônoma de cunho
declaratório a ser manejada perante o órgão do Poder Judiciário ou,
ainda, em embargos à execução de sentença, caso se trate se sentença
arbitral condenatória não satisfeita espontaneamente.

A demanda anulatória deverá ser proposta perante órgão


competente do Poder Judiciário e obedecerá ao procedimento comum
ordinário ou sumário, dependendo apenas da complexidade da matéria
probatória ou do valor da causa.

Dependendo da violação ocorrida, decretará o juiz a nulidade da


decisão (nulidade do compromisso arbitral, emanada de quem não podia
ser nomeado árbitro, proferida por prevaricação, fora do prazo
estabelecido no compromisso arbitral, for desrespeitado o princípio do
devido processo legal) (incisos I, II, VII e VIII do artigo 32) ou a
nulidade da sentença arbitral e determinará que o árbitro ou tribunal
profira nova decisão (não contiver os requisitos do art. 26, for proferida
citra, ultra ou extra petita) (incisos II, IV, V do artigo 32). (artigo 33 §
2°).

Haverá o interessado, contudo, de observar o prazo decadencial


estabelecido na segunda parte do § 1° do art. 33, que é de noventa
(90) dias para o ajuizamento da ação declaratória, a contar da data de
recebimento da notificação da sentença ou intimação pessoal ou, se
tiverem sido opostos embargos de declaração, da nova comunicação a
respeito do adiantamento ou da rejeição dos embargos.

Decorrido o prazo assinado, incidirá o interessado na decadência,


cujo efeito é o perecimento do seu direito de demandar a parte contrária
em perito dirigido ao Estado-juiz à obtenção da tutela declaratória de
nulidade da sentença arbitral.

5.9 A sentença arbitral estrangeira

Anteriormente a lei vigente no Brasil, exigia-se a homologação da


sentença arbitral estrangeira pelo órgão judiciário competente no país
em que tivesse sido proferida, para poder ser homologada pelo Supremo
Tribunal Federal. Por sentença arbitral estrangeira, entende-se aquela
proferida fora dos limites jurisdicionais da federação brasileira.

Pela lei atual, para ser reconhecida essa mesma sentença ou


executada no Brasil, basta unicamente, sua homologação pelo Supremo
Tribunal Federal. O reconhecimento ou execução far-se-á de acordo com
tratados internacionais que tenham eficácia no ordenamento interno. Na
ausência desses tratados, deve aplicar-se, estritamente, o preceituado
na vigente Lei 9.307/96.

São duas as formas distintas de aplicação do direito estrangeiro: a


primeira direta, que permite a invocação de disposições legal
estrangeira como sendo a adequada para regular uma dada relação
jurídica; a segunda é a forma indireta, que permite invocar uma
sentença que decidiu a questão em outro estado, fazendo fazer valer
seus efeitos no território Nacional, que de tal forma como lembra
Vicente Greco Filho, O Direito estrangeiro, neste caso, apresenta-se não
como disposição Geral, mas como Norma já aplicada a uma hipótese
concreta pelo Poder Judiciário.

GUIDO FERNANDO SILVA aponta duas particularidades básicas


para caracterizar uma Arbitragem Nacional: a incidência para todo o
fenômeno unitariamente percebido das Leis de um único sistema
jurídico e a inexistência de conflitos de jurisdição interna ou
internacional para a obtenção de medidas cautelares, sendo assim então
regido uma Lei diferente.

De seu turno BARBOSA MOREIRA, mostra que seria sempre


necessário distinguir duas situações diversas: se o laudo tivesse sido
proferido em Estado onde a eficácia sentencial dependesse de ato
Judicial, seria razoável que o Supremo Tribunal Federal exigisse a
providência da prévia homologação para atribuir ao laudo estrangeiro
atribuísse tal eficácia em território Nacional; ou caso contrario, não
haveria como subordinar a homologação perante a Corte Suprema do
País de origem, o Supremo Tribunal manteve-se surdo à advertência dos
doutos, e apegou-se à existência da dupla homologação.
6 CONCLUSÃO

A arbitragem, como método alternativo de solução dos conflitos de


natureza patrimonial disponível, tem adquirido cada vez mais prestígio e
importância na sociedade contemporânea, precisamente nas últimas
décadas, demonstrando ser um instrumento hábil a atingir os objetivos
para os quais tem sido idealizada e modernamente desenvolvida pela
ciência jurídica.

A par disso, a pesquisa revela que a importância da arbitragem


reside em ser mais um instrumento institucionalmente legítimo colocado
à disposição dos jurisdicionados para a busca da solução de seus
múltiplos conflitos de ordem interna ou externa.

Observa-se, mais, que suas relevâncias no momento atual não


reside necessariamente em desafogar o judiciário, substituindo a
jurisdição estatal ou, de qualquer forma concorrer com ela. Tem-se na
arbitragem mecanismo opcional hábil voltado à resolução dos grandes
conflitos, sobretudo de natureza comercial interna ou internacional onde
a competência técnica requer a especialização profissional.

Diante disso e dos conhecidos entraves na distribuição da tutela


jurisdicional pelo Estado a arbitragem pode vir a se transformar em uma
alternativa rápida e eficaz para a solução dos conflitos originados entre
empresários e comerciantes da região, ou entre investidores originários
de terceiros países.
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