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Escola EB 2,3/S de Mora

Ano Lectivo 2009/2010 Biologia e Geologia – 10º ano

19 de Fevereiro de 2010
A PRODIGIOSA AVENTURA DAS PLANTAS

Porquê a aventura das plantas? Primeiro porque é a nossa. Diz a Bíblia: “Toda a carne é erva”. De facto, sem
a gramínea, não havia entrecosto para ninguém. Sem erva, não há vitela; nem há sombra dos salgueiros, nem há
mesa dos escritores; e, portanto, acabava a literatura. Imaginem, se tivessem de comer como bons vegetarianos:
espigavam de certeza.

E todos os anos, pela Primavera devíamos celebrar a mais extraordinária, a mais incrível, a mais sumptuosa
invenção jamais realizada: a fotossíntese, de modo que o macaco nu (como diz Desmond Morris), que ainda não
sabe imitá-la, bem podia ir vestir-se.
Por exemplo, o rabanete. Já agora, pega-se pela rama. Que é que se vê? Uma raíz cheia de vitamina B. O
que para o rabanete – já os estou a ouvir –, é o B-A=BA. Está-se mesmo a ver. Mas para lá chegar foi preciso passar
do oceano cinzento ao oceano verde, das algas aos musgos, dos musgos aos fetos, conceber a folha, o caule, a raiz e
a semente de madeira de prateleira, enquanto berravam os dinossauros, e inventar a flor: ao todo, uns milhões de
anos de “reflexão” vegetal!

Mas a internacional botânica não salvará o género ignorante. Fecha-se demasiado na sistemática para aí
melhor cortar os estames ao meio, e veste-se de uma linguagem de enxotar o Zé, senão vejamos:
“As ulotricales, ordem n.º 1 da 3.ª subclasse das septoficídeas, classe das cloroficíneas, divisão das
cloroficófitas, possuem células uninucleadas e incluem um cloroplasto parietal geralmente perfurado.”
Pois pois. Afinal são ulváceas…
E as ulváceas, sabem o que são? Têm-nas visto nas praias a flutuar, a flutuar um pouco por todo o lado,
verdes e um bocado moles, parecendo-se tanto com as frágeis alfaces dos supermercados que dão a impressão de
estar a sair de algum caixote naufragado. Vão saber que são um dos antepassados visíveis de todas a plantas
terrestres.

Quanto mais avançarem, a menos que sejam botânicos, mais se admirarão ao descobrir até que ponto o
povo vegetal é irmão do nosso (e que) … na verdade, conheceram revoluções e inventaram repúblicas muito antes
de nós.
… esse povo silencioso dos vegetais que inventam sem nunca pensar.

1 – Com base no texto, identifique a sucessão de acontecimentos que levaram ao aparecimento das primeiras
plantas.

Capítulo 1 – À procura da primeiríssima planta

No qual se descobre: que o aparecimento do oxigénio foi uma catástrofe ecológica; que é à força de muito apanhar
que se aprende como é a vida; e que os índios do mundo vegetal vivem em reservas.

Há pelo menos três biliões de anos, a Terra e os oceanos estavam envoltos numa atmosfera espessa. Não
havia sombra de oxigénio. Imagina-se o mar, nessa altura, como uma espécie de sopa primitiva na qual as moléculas
químicas se mantinham em suspensão. E essas moléculas alimentavam seres microscópicos que as consumiam por
fermentação, soltando bolhas de dióxido de carbono. Como ameixas numa pipa.
Nunca se saberá qual desses seres primitivos teve a ideia genial de fabricar pela primeira vez essa molécula
que iria transformar o mundo: a clorofila! É a aparição dessa molécula verde que inicia a aventura das plantas!... E
por conseguinte, a dos homens.

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Graças a esse filtro verde que permite servir-se da luz para transformar a água e o dióxido de carbono em
açúcares, um desses seres primitivos tornou-se, há cerca de dois biliões de anos, uma alga unicelular fotossintética.

Biliões de células adoptando o sistema do filtro verde, empreendem o fabrico industrial dos açúcares, que
constituem a matéria vegetal viva. E, como todas as indústrias, esta também tem o seu desperdício: o Oxigénio.
Eis portanto que o oxigénio começa a poluir a atmosfera ao ponto de o céu acabar por ganhar uma cor azul
muito feia! E é uma catástrofe! Para todos os seres minúsculos que faziam o que podiam para viver com o dióxido de
carbono, o oxigénio é um veneno perigoso! Então, biliões e biliões dessas criaturas desaparecem…
As outras, para melhor escaparem ao oxigénio, enterraram-se no fundo da água. Nos nossos dias ainda se
encontram na lama mais funda, como pessoas que tivessem fugido de um planeta irradiado para viver em abrigos
atómicos durante três biliões de anos!
Chamam-se anaeróbias (…) O que estes reclusos ainda não sabem é que à superfície, entretanto, a natureza
pôs em funcionamento um sistema de reciclagem do desperdício da indústria dos açúcares: inventou animais e
homens que reutilizam o oxigénio e voltam a expelir o dióxido de carbono! É a primeira lição de ecologia que nos dá
a vida – reciclar os desperdícios…

2 – Com base no texto, coloque por ordem cronológica os seguintes termos:

- Seres eucarióticos - Seres fermentativos - Oxigénio em abundância


- Moléculas químicas - Seres aeróbios - Dióxido de carbono em abundância
- Seres clorofilinos

3 – Qual o factor responsável pela extinção referida no texto?

4 – Comente a seguinte frase do texto:

“E, como todas as indústrias, esta também tem o seu desperdício: o oxigénio.”

À força de apanhar pancada…

Mas voltemos ao oceano dos primeiros tempos: eis que se vai brutalmente modificar o destino da alga
planctónica. Até agora, levada pela corrente, ou nadando com cílios ou flagelos, vai boiando entre duas águas, e só
tem problemas simples. De dia aproveita o sol e fabrica açúcares. De noite pensa no futuro e reproduz-se.
Eis que de repente o seu universo dá uma volta: brutalmente, a onda leva-a contra as rochas do litoral. Ei-la
confrontada com um novo problema. Como sobreviver a esses choques repetidos? A cada movimento de ressaca,
embate contra a rocha. Ora toda a gente sabe que é à força de apanhar pancada que se acaba por saber o que é a
vida.
É o que vai acabar por acontecer à célula do plâncton. Para pôr fim a esse ir e vir traumatizante só há uma
solução: agarrar-se às rochas de uma vez por todas. Eis um problema resolvido. Mas outro problema surge logo a
seguir!... É assim a vida…
Como suportar este turbilhão sem ser arrancado do respectivo suporte? Para isso é preciso que a minúscula
alga se agarre solidamente. Precisa portanto de força. E o que é que faz a força? … A União!
Então essa alga, que até aí ainda é uma célula só, divide-se em duas, depois em quatro, e a seguir em oito,
etc. Mas os descendentes já não se separam! Ficam associados. O que vai modificar tudo… porque ao fazerem isso
inventam a sociedade: uma sociedade de células.

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Um pé no mar, outro em terra – Os aventureiros ganham aos cobardes

(…) E neste litoral que acabaram por conquistar ao longo da evolução, eis que as algas disputam os
melhores lugares. E, contrariamente ao que se poderia pensar, o alto nível é na maré baixa.
É aí que se verão sempre – não são nada parvas! – as algas mais florescentes, como as laminárias, aquelas
que arrastam longas e estreitas fitas, algumas elegantemente enroscadas. Há ainda as algas vermelhas. Porque é
que não nada parvas? … Porque estão sempre dentro de água, mesmo na maré baixa. Muita água também não, para
que o sol atravesse; ou seja, o lugar ideal para uma boa fotossíntese.
Mas vamos subir um pouco mais ao nível da praia: à altura da meia maré.
Aí já é a classe média: as algas castanhas, que estão nesse nível, queriam luz, não lhes falta! Só que agora
têm cortes de água, várias horas por dia. Também por isso é que são menos desenvolvidas, menos bonitas. São os
Fucus, com balõezinhos cheios de ar, para melhor flutuarem na água logo que a maré subir.
Quanto às algas mais temerárias… vão reparar que estão nitidamente num nível superior: são as algas
verdes. São também as algas pobres: mais feias, mais pequenas, mais mal formadas… O cimo da pirâmide, para uma
alga, é o nível social mais baixo.
No limite superior da maré alta, os cortes de água já são muito violentos. Queriam luz? Aí a têm. Só que
agora têm água racionada, uma hora por dia! Pensavam que se instalavam nos melhores lugares e foram parar à
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capoeira! Podem vegetar! É para aprenderem a não querer P…… mais do que os C…..!

Vários foram os argumentos usados pelas algas verdes para convencer as suas parentes de que era
necessário escapar ao domínio absoluto das águas do mar e romper com a monotonia das suas vidas: a luz seria
mais forte, a água não as escravizaria, a praia seria óptima para bronzear, conheceriam novos mundos…
Mas as algas vermelhas e castanhas não se demoveram, nunca se aventuraram e então contrapunham:
somos apenas algas, não nos podemos afastar do mar! Não nos devemos arriscar a afogar-nos no oxigénio e a
morrer por oxidação.

E os Índios?

Ora os índios do mundo vegetal também existem: essas tiras verdes que se vêem nos troncos das árvores,
no sopé dos muros e nas estátuas. São mesmo algas… Algas verdes, minúsculas, cada uma formada de uma célula
só, que conquistaram a Terra, mas que não souberam evoluir mais. Resultado: ultrapassadas há muito pelos colonos
seguintes, essas algas acabaram por se refugiar medrosamente umas contra as outras, “sempre do mesmo lado”, o
lado exposto à chuva e à humidade. Completamente diferentes das outras plantas, quase não se dá por elas, como
os índios nas suas reservas… Conquistaram o Novo Mundo mas ainda vivem nele como no Velho, o mar…

5 – Antes da saída dos mares houve uma conquista muito importante. Qual foi?

6 – À medida que as algas se aproximam da praia vão-se deparando com alguns problemas. Quais?

7 – Explique a estratégia de sobrevivência das algas unicelulares terrestres.

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Puxar mais que os colegas
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Capítulo 2 – A conquista da terra

No qual se vê que os musgos não se sentem bem porque marcaram um


golo histórico, mas foram os fetos que ganharam o jogo

Na história da conquista da Terra pelas algas verdes do mar, os musgos foram o primeiro “comando de
infantaria marinha” que desembarcou e conseguiu fixar uma guarda avançada.
O Reino dos Musgos não se vende nos folhetos turísticos e não se recomenda aos reumáticos. Imaginem
nevoeiro permanente, humidade de 100% que entra por todo o lado… e não está frio. O resultado é um imenso
tapete de musgos…

É uma proeza gloriosa passar assim da vida aquática para a vida ao ar livre!... Mas infelizmnte, depois deste
esforço espectacular, os musgos não souberam ir mais longe. Há milhões e milhões de anos que estão assim, sem
saber ainda muito bem o que pensar da sua proeza. Como aquele que ganhou uma guerra e só sabe falar dela. No
fundo, estão xexés!

Um caule de musgo isolado já é uma planta em miniatura. É aí que está a proeza, na invenção do caule e
das folhas. Para perceber a que ponto se trata de uma proeza, basta comparar com as algas, avós marítimas dos
musgos. Têm formas muito diversas, mas pouco diferenciadas.
Para viver dentro de água não precisam de complicar a vida! Basta flutuarem molemente, agarradas por um
pé que não é uma raíz, mas simplesmente uma fixação.
A alga não precisa da raíz, dado que está mergulhada no seu meio nutritivo: a água do mar. Quanto à
fotossíntese, que significa captar a energia solar para fabricar açúcares, fá-la através da água, enquanto a luz
conseguir passar.
Para a alga a água é, portanto, ao mesmo tempo, meio portador e nutritivo.

Mas para viver permanentemente fora de água é um outro problema.


Eis como se poderia traduzir o raciocínio da alga do litoral confrontada com essa ambição: “Ora vejamos;
estou farta de ir e vir de ressaca. Já é tempo de escolher… Ou volto para a água ou emigro para terra… Sim, mas
como? Do que eu preciso é de um caule para me aguentar de pé, com baterias solares de clorofila; e faço subir a
água da terra até às baterias solares pelo interior do caule. Como? Por osmose de uma célula à outra. Se funciona
dentro de água, porque não fora dela?...”

Eis como os musgos, com um esforço de imaginação que durou centenas de milhões de anos, dividindo
melhor o trabalho entre órgãos a partir dali diferenciados e especializados, conseguiram, pela primeira vez, a síntese
dos quatro elementos: a água, o ar, a luz e a terra.
Síntese mágica! Continua privilégio único das plantas verdes! Fora do alcance da ciência humana.

Então não vêem o que se pode fazer com a lenhina?

Estava a família Musgo reunida em casa, toda atarefada a aspirar água para fabricar o seu alimento quando
de repente o filho musgo grita:
- Pai, pai, vi um ET!
O pai, calmamente, responde ao filho que anda a ver muita televisão.
O filho insiste e convence o pai a ir ao musgal. Alarmado, pergunta:
- Pai, aquilo não são musgos, pois não?
O pai observa com atenção e passados uns instantes cuidadosamente responde-lhe:
- Bem, repara que não são muito diferentes de nós: também têm raíz, caule e folhas.
- Ó pai mas são maiores e mais fortes que nós!
- Sim, mas também precisam de muita humidade.

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- Ouçam lá! Responde indignado o objecto da discussão. Eu sou um feto! Não tenho nada a ver convosco,
que só sabem vangloriar-se de serem as primeiras plantas terrestres.
- O Sr. Feto pode dizer o que quiser, mas continuamos a ser os primeiros. Sem nós, vocês não estariam cá.

E a discussão continuou.
Basicamente, os musgos quase tinham achado a solução para ir mais longe e não o souberam fazer. De
facto, na sua cápsula (especial, não espacial) existe lenhina, o constituinte químico da famosa madeira de prateleira!
Usada pelos fetos, não para fazer prateleiras, mas para construir verdadeiros tecidos de transporte de seiva. Daí às
verdadeiras raízes, caules e folhas foi um pulinho (é claro que depois disto os musgos que julgavam que os seus
rizóides, caulóides e filóides eram verdadeiras raízes caules e folhas, passaram a precisar de acompanhamento
psicológico…).
Só assim os Fetos conseguiram o seu porte majestoso (coitados… ainda só conheciam os musgos…) e
compreender que a lenhina era um formidável passo em frente.

Mas os musgos e fetos não conseguem esquecer que a avó era alga. No momento da reprodução a sua
memória trá-los obstinadamente de volta à sua origem marinha. Vai ser necessário mais umas dezenas de milhões
de anos para as plantas se separarem da sua condição aquática.

8 – Explique as vantagens e problemas da vida em meio terrestre por comparação com o meio aquático.

9 – Explique as grandes vantagens da lenhina em termos evolutivos.

10 – Preveja qual a importância da lenhina no que respeita ao aumento de porte da plantas superiores.

Textos adaptados de:


A Prodigiosa Aventura das Plantas
Jean-Marie Pelt e Jean Pierre Cuny

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A Evolução das Plantas

As plantas resultam da evolução das algas verdes (Clorófitas) que, embora armazenando amido, possuindo
clorofila a, clorofila b, carotenóides e paredes celulares de composição celulósica como as plantas, não apresentam
diferenciação de tecidos, pelo que o seu corpo é um talo, além de não serem todas multicelulares. As plantas mais
simples, tal como os seus mais directos ancestrais, são extremamente simples, não conseguindo desprender-se
totalmente da água. As Briófitas constituem, por isso, as plantas mais simples, que, tal como as algas, ainda não
apresentam uma verdadeira diferenciação de tecidos nem possuem vasos vasculares que lhes permitiriam uma
maior independência da água.

A evolução das plantas passou então pelos


seguintes passos:

• Aquisição de vasos vasculares


• Aquisição de semente
• Aquisição de flor

A adaptação das plantas ao meio terrestre, naturalmente, também passou pela aquisição de características
ou estruturas que as impediam de perder água ou lhes permitiam um maior aproveitamento desta. As
características que permitiram um novo meio de vida às plantas foram:

 Aquisição de um sistema de tecidos condutores (feixes vasculares), que lhes permitiu uma maior absorção
de água e sais minerais e o seu transporte até aos locais onde eram necessários.

 Aquisição de tecidos de suporte a envolver os tecidos condutores, o que permitiu um mais eficiente
transporte de seivas.

 Aquisição de uma camada impermeabilizante de cutina nas folhas e caules, que lhes evitou a perda de
água por transpiração.

 Aquisição de estromas nas folhas, o que lhes permitiu um controlo das trocas gasosas entre a planta e o
meio.

 Aquisição de sementes, que com os seus constituintes protegem o embrião da dessecação e o nutrem.

 Aquisição de flor, que permitiu uma polinização cruzada, efectuada através dos insectos, introduzindo uma
maior variabilidade genética.

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