1) A vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 permitiu a organização das finanças públicas brasileiras, culminando na criação do Erário Público e do Regime de Contabilidade.
2) Todas as constituições brasileiras consagraram dispositivos sobre programação orçamentária, atribuindo inicialmente ao Executivo a elaboração da proposta e ao Legislativo a aprovação.
3) Ao longo do tempo, houve oscilações no poder de cada Poder sobre o orçamento, ora prevalecendo mais o Exec
1) A vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 permitiu a organização das finanças públicas brasileiras, culminando na criação do Erário Público e do Regime de Contabilidade.
2) Todas as constituições brasileiras consagraram dispositivos sobre programação orçamentária, atribuindo inicialmente ao Executivo a elaboração da proposta e ao Legislativo a aprovação.
3) Ao longo do tempo, houve oscilações no poder de cada Poder sobre o orçamento, ora prevalecendo mais o Exec
1) A vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 permitiu a organização das finanças públicas brasileiras, culminando na criação do Erário Público e do Regime de Contabilidade.
2) Todas as constituições brasileiras consagraram dispositivos sobre programação orçamentária, atribuindo inicialmente ao Executivo a elaboração da proposta e ao Legislativo a aprovação.
3) Ao longo do tempo, houve oscilações no poder de cada Poder sobre o orçamento, ora prevalecendo mais o Exec
A vinda do rei D. Joo VI ao Brasil permitiu ampliar a abertura dos portos
brasileiros. Com maiores impostos aduaneiros, iniciou-se o processo de organizao das finanas pblicas, culminando com a criao, em 1808, do Errio Pblico e do Regime de Contabilidade. No Brasil, o oramento pblico tambm sempre constituiu um poderosssimo instrumento de controle dos recursos financeiros gerados pela sociedade, os quais retornam a essa mesma sociedade na forma de bens e servios prestados. to importante que, historicamente, todas as constituies federais e estaduais, bem como as leis orgnicas dos municpios, sempre consagraram dispositivos sobre a programao como categoria do oramento pblico, desde a poca do Imprio at os dias atuais. A primeira constituio do Brasil, outorgada em 25/03/1824 por Dom Pedro I, atribuiu Cmara dos Deputados a iniciativa das leis para instituir impostos (art. 36, n 1) e estabeleceu a exigncia da apresentao de uma proposta de oramento. No seu art. 172 estabelecia; O ministro da Fazenda, [...] apresentar Cmara dos Deputados anualmente, [...] o oramento geral de todas as despesas pblicas do ano futuro e da importncia de todas as contribuies e rendas pblicas. Dessa maneira, a competncia de elaborao da proposta ficou a cargo do Executivo, porm a sua aprovao constituiuse em competncia da Assembleia Geral (Cmaras dos Deputados e Senado). Alguns tratadistas entre eles Baleeiro - afirmam que o primeiro oramento nacional elaborado com esse dispositivo que abrigava as principais regras da matria foi votado para o exerccio de 1831-1832. As dcadas que se seguiram no evidenciaram registros maiores na questo da organizao das finanas pblicas. A segunda constituio brasileira, promulgada em 24/02/1891, veio logo aps a proclamao da Repblica. Com ela foram implantadas importantes modificaes na distribuio de competncias para a elaborao, tramitao e aprovao do oramento. O Poder Legislativo passou a ter competncia para elaborao do oramento de todos os poderes da nova Repblica. Por outro lado, a Lei n. 30, de 08 de janeiro de 1892, que fixava as responsabilidades do Presidente da Repblica, estabelecia que a no apresentao da proposta de oramento constitua crime contra as leis oramentrias. Tal fato trouxe um impasse entre os poderes, s superado pela deciso tomada no sentido de que o Executivo apresentaria a proposta como subsdio ao Poder Legislativo, que deliberaria. Em 1922 foi aprovado pelo Congresso Nacional o Cdigo de Contabilidade da Unio. Para a poca, o Cdigo foi considerado uma evoluo tecnolgica nas finanas pblicas, ao imprimir novas normas tcnicas que possibilitaram ordenar em nvel de Unio - e, posteriormente, por semelhana, nos Estados e municpios -, procedimentos oramentrios, financeiros, patrimoniais, administrativos etc., visando busca de melhor eficincia na gesto dos recursos. Em 1926, mediante uma reforma na constituio, foi finalmente realizada a transferncia de competncia da elaborao da proposta oramentria para o Poder Executivo, o que j acontecia na prtica. Com o advento da terceira constituio da Nao, outorgada em 16/07/1934, perdeu espao o Legislativo e voltou a reinar absoluto o Executivo, a quem cabia elaborar e decretar o oramento. Nela as questes de ordem oramentria mereceram destaque, ao serem classificadas em uma seo prpria. Nessa constituio, a competncia para elaborao da proposta oramentria era atribuda ao Presidente da Repblica, cabendo ao Legislativo a sua votao com auxlio do Tribunal de Contas. Na realidade, a falta de ordem jurdico-constitucional e de leis complementares sobre limitaes s emendas inseridas pelos legisladores deu ao oramento uma modalidade do tipo misto, com coparticipao entre ambos os poderes.
A quarta constituio brasileira foi decretada em 10/11/1937, como
resultado de um regime poltico fortemente autoritrio, denominado Estado Novo. Aqui as abordagens de ordem oramentria tambm mereceram destaque, ao serem tratadas em captulo especial com seis artigos. Segundo esses artigos, a proposta do oramento deveria ser formatada por um departamento administrativo a ser criado junto Presidncia da Repblica. A sua votao e aprovao caberiam no s a Cmara dos Deputados, mas tambm ao Conselho Fiscal, uma espcie de Senado Federal, que tambm contaria com dez membros de confiana nomeados pelo Presidente da Repblica. Giacomoni afirma: A verdade que essas duas cmaras legislativas nunca foram instaladas e o Oramento federal foi sempre elaborado e decretado pelo chefe do Executivo. O regime estado novista criou, em 1938, o Departamento de Administrao do Servio Pblico (DASP), que iniciou o planejamento oramentrio no Brasil, tendo como objetivo principal organizar anualmente a proposta oramentria, de acordo com as instrues do Presidente da Repblica. Em 1938, como resultado da Primeira Conferncia de Tcnicos da Contabilidade Pblica e Assuntos da Fazenda, promovida pelo Governo Federal, foram feitas as primeiras tentativas de padronizao, que tiveram como base o padro oramentrio elaborado pelo Conselho Tcnico de Economia e Finanas. A quinta constituio do Brasil foi promulgada em 18/09/1946, logo aps a redemocratizao do Pas. Pelo seu contedo, o Executivo continuou a elaborar o projeto de lei oramentria, passando, porm, a encaminh-lo s casas do Congresso para discusso e aprovao, inclusive com a prerrogativa de emendas. Essa constituio de 1946, denominada planejamentista, explicita as necessidades de se criarem planos setoriais e regionais, com reflexo direto na monetarizao do oramento, ao estabelecer vinculaes com a receita. A experincia brasileira na construo de planos globais, at 1964, caracterizou-se por contemplar somente os elementos de despesa com ausncia da programao de objetivos, metas e recursos reais, intensificando as desvinculaes dos Planos e dos Oramentos. O regime poltico resultante do movimento dos militares, em 1964, assumiu caractersticas autoritrias nunca vistas antes. Em consequncia, a sexta constituio brasileira outorgada em 24/01/1967, estabeleceu regras de oramento nica e exclusivamente a favor do centralizador Poder Executivo, estendendo-as inclusive aos Estados e municpios. A grande decepo, em matria de oramento, ficou por conta da retirada sumria das prerrogativas do Poder Legislativo quanto s iniciativas de leis e emendas que criassem ou aumentassem despesas. Assim rezava o artigo 65: de competncia do Poder Executivo a iniciativa das leis oramentrias e das que abram crditos, fixem vencimentos e vantagens dos servidores pblicos, concedam subveno ou auxlio ou de qualquer modo autorizem, criam ou aumentam despesas. 1. - No ser objeto de deliberao a emenda de que decorra aumento de despesa global ou de cada rgo, projeto ou programa, ou as que visem a modificar o seu montante, natureza e objetivo. O Executivo, ao encaminhar a proposta oramentria, torna explicito o conflito de interesses entre as possveis alocaes de recursos e a distribuio dos custos entre os diversos segmentos da sociedade. Alm disso, no transitavam pelo Poder Legislativo o oramento monetrio, que continha a programao da poltica monetria e cambial, e o oramento das empresas estatais, que abrangia as empresas pblicas, as sociedades de economia mista, suas subsidirias e suas controladas, direta ou indiretamente, as autarquias, as fundaes e os rgos autnomos da administrao indireta. Portanto, no passando pelo Poder Legislativo o oramento monetrio e o oramento das empresas estatais, segundo Cruz, as peas oramentrias que iam ao encontro do
Congresso Nacional tinham a inexpressiva participao de menos do que 20% dos
recursos financeiros a movimentar. Apesar de tudo, de fundamental importncia para o processo oramentrio em todas as esferas de governo - federal, estadual, municipal e do Distrito Federal tem sido, indubitavelmente, o papel desempenhado pela Lei 4320, de maro de 1964. Nesse seu longo perodo de vigncia, em momento algum serviu de empecilho para o surgimento de significativas reformas oramentrias e financeiras, da adoo de tcnicas mais modernas, o que lhe d, efetivamente, o honroso aspecto de lei bsica de oramento. Comumente conhecida como Lei 4320/64, estabeleceu, logo no seu art. 2: A Lei de Oramento conter a discriminao da receita e despesa, de forma a evidenciar a poltica econmico-financeira e o programa de trabalho do governo... Em 1967, o Decreto-Lei 200, de 25 de maro, criou o Ministrio do Planejamento e Coordenao Geral, com a competncia de elaborar a programao oramentria e a proposta oramentria anual. Por sua vez, o Ministro instituiu a Subsecretaria de Oramento e Finanas, hoje Secretaria de Oramento Federal (SOF), com a atribuio de rgo central do sistema oramentrio. A dcada de 1980 iniciou-se, no campo poltico, com fortes presses populares pela distenso do regime autoritrio e abertura institucional. Os movimentos sociais ganharam as ruas e a finalidade da base poltica do regime veio tona. Abriu-se espao para as eleies - as diretas j - para Presidente da Repblica, e para a convocao de uma Assembleia Nacional Constituinte. A redemocratizao do Pas e as liberdades individuais foram resgatadas. Finalmente, em 05 de outubro de 1988, o Pas recebeu sua stima Carta Magna, em vigor atualmente. Essa constituio atribuiu ao processo oramentrio uma seo especial e parte: Titulo VI Da Tributao e do Oramento, Captulo II das Finanas Pblicas, Seo II dos Oramentos. A partir da sua promulgao ocorreram mudanas substanciais na prtica oramentria, devido s alteraes impostas. Como decorrncia, em nvel de Estados e municpios, novas prticas avanadas foram introduzidas. No campo tcnico, as reformulaes adotadas deram maior democratizao s polticas pblicas e uma participao mais ampla do Poder Legislativo no estabelecimento da programao econmico-financeira do Estado. Assim, a Constituio Federal (CF) resgatou as prerrogativas do Congresso Nacional de criar despesas e emendar a proposta oramentria do Executivo e recuperou para a rea de deciso do Poder Legislativo os assuntos referentes aos oramentos das entidades descentralizadas. A hierarquia dos instrumentos de planejamento oramentrio integrado est estabelecida no artigo 165 da CF, que diz: Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecero: I o plano plurianual; II as diretrizes oramentrias; III os oramentos anuais, So documentos inovadores em relao aos processos oramentrios anteriores. Observa-se que todo o processo alocativo de recursos est sob a gide da lei, e nada se faz em termos de despesa pblica sem que exista uma autorizao legislativa. Na prtica, a plena vivncia do princpio da universalizao oramentria na ordem constitucional. Em atendimento prpria Constituio Federal, surgiu, em 2000, a Lei Complementar de Responsabilidade Fiscal LRF, de n. 101/2000, que introduziu inovaes na administrao das finanas pblicas, instituindo mecanismos de transparncia fiscal e controle social dos gastos pblicos. Atualmente, encontra-se em tramitao no Congresso Nacional a Lei de Responsabilidade Social LRS -, objetivando assegurar e formalizar o compromisso dos governantes em co-gerir os recursos pblicos, com participao ativa da sociedade organizada. preciso assegurar a destinao social dos tributos arrecadados, dando ao oramento pblico a dimenso cidad que precisava ter na sociedade.
O oramento nas constituies brasileiras
A tributao da metrpole portuguesa na colnia brasileira ocasionou graves descontentamentos. A Inconfidncia Mineira (1785 - 1789) foi um desses movimentos. O estopim do movimento foi a emanao de tributos portugueses na colnia. Portugal queria receber todos os impostos atrasados (fato conhecido como Derrama) e causou profunda inquietao social que culminou com o citado movimento e a morte de Joaquim Jos da Silva Xavier Tiradentes (1746-1792). Por outro lado, o rei de Portugal, D. Joo VI, pressionado por acontecimentos na Europa, mais precisamente no tocante ao Imperador Francs, Napoleo, que forava Portugal a fechar seus portos para a Inglaterra abandonou sua terra natal, fortemente escoltado por navios ingleses, e se estabeleceu no Brasil. Sua chegada colnia promoveu a organizao das finanas e o disciplinamento dos tributos aduaneiros. O regime de contabilidade pblica, o Errio Pblico (Tesouro), o Conselho Real da Fazenda e trs contadorias reais foram criados em 1808. (VEIGA, 1975). Nessa passagem de nossa histria assevera James Giacomoni em sua obra Oramento Pblico: Com a vinda do rei D. Joo VI, o Brasil iniciou um processo de organizao de suas finanas. A abertura dos portos trouxe a necessidade de maior disciplinamento na cobrana dos tributos aduaneiros. Em 1808, foram criados o Errio Pblico (tesouro) e o regime de contabilidade. Mais frente assevera: na constituio de 1824 que surgem as primeiras exigncias no sentido de elaborao de oramentos formais por parte das instituies imperiais. Em seu artigo 172, assim estabelecia aquela Lei Magna: O ministro de Estado da Fazenda, havendo recebido dos outros ministros os oramentos relativos s despesas das suas reparties, apresentar na Cmara dos Deputados anualmente, logo que esta estiver reunida, um balano geral da receita e despesa do Tesouro Nacional do ano antecedente, e igualmente o oramento geral de todas as despesas pbicas do ano futuro e da importncia de todas as contribuies e rendas pblicas. Apesar de expresso na Constituio Federal de nosso pas, tal dispositivo no foi implementado poca por ter sido considerado muito avanado. Alguns autores consideram, ento, que a Lei de 14/12/1827 foi a primeira lei de oramento do Brasil, no entanto as dificuldades da poca em ter mecanismos arrecadadores eficientes nas provncias, dificuldades de comunicao e conflitos de ordem legal, oriundas do perodo colonial, foram consideradas como fatores que frustraram sua implantao. Os estudiosos apontam, ento, que o primeiro oramento brasileiro teria sido, ento, aquele aprovado pelo Decreto Legislativo de 15/12/1830 que fixava a despesa e orava a receita das antigas provncias para o exerccio de 1/7/1831 a 30/6/1832. (VEIGA FILHO; MOOJEN, 1959, p.22-3). A Lei Magna brasileira de 1824 afirmava em seu texto que ao Executivo competia elaborao da proposta oramentria e Assemblia Geral (Cmara dos Deputados e Senado) a aprovao da Lei Oramentria. Cmara dos Deputados competia ainda iniciativa das leis sobre impostos. Em relao fiscalizao da execuo oramentria, esta definida de forma vaga no artigo 37: Tambm principiaro na Cmara dos Deputados: 1. O exame da administrao passada, e reformas dos abusos nela introduzidos. (GIACOMONI, 2007).
Com a Constituio de 1891, que seguiu Proclamao da Repblica, houve
importante alterao na distribuio das competncias em relao ao oramento. A elaborao desse passou a ser funo do Congresso Nacional, assim como a tomada de contas do Poder Executivo. Com essa nova sistemtica, coube Cmara dos Deputados a iniciativa de elaborao do oramento pblico brasileiro, mas como observa Arizio Viana, ela (a iniciativa) sempre partiu do gabinete do ministro da Fazenda que, mediante entendimentos reservados e extraoficiais, orientava a comisso parlamentar de finanas na confeco da lei oramentria. Visando auxiliar o Congresso Nacional em sua misso institucional de controle externo das contas pblicas, a Constituio Federal instituiu o Tribunal de Contas da Unio. Aqui cabe uma rpida passagem histrica do iminente Rui Barbosa, grande incentivador o motivador da criao da Corte de Contas, Ministro da Fazenda poca. Assim assinalou em sua exposio de motivos, no decreto n. 988-A/1890, que preconizou a criao da citada Corte: Convm levantar, entre o poder que autoriza periodicamente a despesa e o poder que cotidianamente a executa, um mediador independente, auxiliar de um e de outro, que, comunicando com a legislatura, e intervindo na administrao, seja, no s o vigia, como a mo forte da primeira sobre a segunda, obstando a perpetrao das infraes oramentrias por um veto oportuno aos atos do Executivo, que direta e indireta, prxima ou remotamente discrepem da linha rigorosa da leis de finanas. Nessa mesma poca, na Repblica, as antigas provncias transformam-se em Estados regidos por constituies prprias, o que lhes assegurou grande autonomia. Igualmente, a primeira constituio republicana que tratou de estender essa autonomia aos Municpios. (GIACOMONI, 2007). O Brasil entrou no sculo XX e ultrapassou suas duas primeiras dcadas sem maiores novidades na questo da organizao das finanas pblicas. A economia brasileira era caracterizadamente agroexportadora e a industrializao e a urbanizao eram fenmenos tmidos, a ponto de no exigirem grande atuao do setor pblico. (GIACOMONI, 2007). Com a aprovao do Cdigo de Contabilidade da Unio pelo Congresso Nacional, em 1922, ordenaram-se os procedimentos oramentrios, financeiros, patrimoniais, contbeis, etc. Quanto iniciativa da lei oramentria, o cdigo legalizou o que j estava acontecendo, informalmente, na gesto federal. O Executivo fornecia ao Legislativo todos os elementos para esse exercitasse sua atribuio de iniciar a feitura da lei oramentria. Em 16 de julho de 1934, outorgada uma nova Constituio Brasileira, e a autonomia dos Estados e o federalismo desenhados pela Carta de 1891 cederam lugar centralizao da maior parte das funes pblicas na rea federal. A iniciativa da elaborao da proposta oramentria volta a ser do presidente da Repblica, cabendo ao Congresso Nacional votao da proposta e o julgamento das contas do presidente, contanto para tal com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio. Crises polticas jogaram o Pas num regime fortemente autoritrio, o Estado Novo gerador de nova Constituio decretada em 10 de novembro de 1937. A elaborao oramentria foi tratada com destaque, merecendo um captulo especial com seis artigos. Segundo essas disposies, a proposta oramentria seria elaborada por um departamento administrativo a ser criado junto Presidncia da Repblica e votada pela Cmara dos Deputados e pelo Conselho Federal (uma espcie de Senado que contaria tambm com dez
membros nomeados pelo presidente da Repblica). A verdade que essas
duas cmaras legislativas nunca foram instaladas e o oramento federal foi sempre elaborado e decretado pelo chefe do poder Executivo. (VIANA, 1950). J em 1939, o regime estado-novista liquidou com o que restava de autonomia dos Estados e Municpios ao transferir ao presidente da Repblica a prerrogativa de nomear os governadores estaduais (Interventores) e a esses a nomeao dos prefeitos. Decreto-lei 1.202, de 8/4/1939. (GIACOMONI, 2007). Com o restabelecimento da democracia no pas, foi promulgada uma nova Constituio, em 18 de setembro de 1946. Ela consagrava certos princpios, como o da unidade, o da universalidade, o da exclusividade e o da especializao, princpios esses at hoje orientadores do nosso oramento. O oramento passou a funcionar nos moldes da Constituio de 1934, sendo que o Poder Executivo elaborava o projeto de lei oramentria e a discusso e votao acontecia no Poder Legislativo. Atravs de emendas, os legisladores tambm participavam da elaborao do oramento e o papel do Tribunal de Contas foi evidenciado de forma mais precisa. A Lei 4320, de 17/3/1964, ainda vigente, produto resultante de inmeras colaboraes, que estatuiu normas gerais de direito financeiro para elaborao e controle dos oramentos e balanos da Unio, dos Estados, dos Municpios e do Distrito Federal, padronizou o modelo oramentrio para os trs nveis de governo, facilitando os procedimentos contbeis, financeiros e oramentrios nos diversos nveis de gesto governamental. Essa Lei que foi aprovada com fora de lei ordinria em sua poca passou a ter fora de Lei Complementar, em diversos de seus artigos, por determinao expressa da Constituio Federal de 1988. Portanto, hodiernamente, essa lei considerada hbrida, ou seja, alguns de seus artigos possuem fora de lei ordinria; e outros, fora de lei complementar. Cabe aqui mais um parntese para melhor compreenso do que diferencia uma lei em ser ordinria ou ser complementar. Passamos o ensinamento dos Professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino: So duas, portanto, as diferenas entre lei complementar e lei ordinria: (a) a lei complementar disciplina matrias especificamente a ela reservadas pelo texto constitucional e (b) o quorum de aprovao. Expliquemos melhor o assunto, que matria reservada ao ramo do Direito Constitucional. A primeira distino de carter material, significa dizer que os assuntos a serem tratados por meio de lei complementar esto expressamente previstos na constituio. No cabe ao Presidente da Repblica ou ao Presidente do Poder Legislativo decidir quais matrias sero tratadas por meio desta lei, visto que a prpria Constituio assim definiu. A segunda distino, de natureza formal, diz respeito ao processo legislativo de elaborao de normas: a lei ordinria poder ser aprovada por maioria simples de votos (CF, artigo 47), enquanto a lei complementar exige maioria absoluta para sua aprovao (CF, artigo 69). Dessa forma os constituintes poca da elaborao do texto constitucional vigente, previram a necessidade de uma segurana maior para aprovao e/ ou alterao de algumas matrias por eles elencadas, por isso o carter mais dificultoso para umas matrias, e processos menos rigorosos para outros assuntos. Vencida essa etapa para explicarmos as diferenas entre leis ordinrias e leis complementares, voltaremos ao assunto almejado nessa pesquisa. Em 24 de janeiro de 1967 foi publicada a sexta constituio brasileira. A grande novidade residiu na retirada de prerrogativas do Legislativo quanto iniciativa de leis ou emendas que criem ou aumentem despesas, inclusive emendas ao projeto de lei do oramento. O texto dessa constituio mostra grande preocupao com a segurana nacional, ostentando tendncia de centralizao poltico-administrativo na Unio e de ampliao dos poderes do Presidente da Repblica.
O Decreto-lei 200, de 25 de fevereiro de 1967, vigente tambm at os
dias atuais, disciplina a organizao e a reforma administrativa da Unio. O Planejamento foi definido, pela primeira vez em nosso ordenamento jurdico, como princpio fundamental e norteador das atividades da administrao federal, tendo como instrumento bsico o oramento-programa anual e os Programas Gerais, Setoriais, Regionais (todos de durao Plurianual), o Plano Geral de Governo e a Programao Financeira de Desembolso. A constituio de 1967 teve curtssima durao, porque, em 1969, foi editada a EC n 01, de 17/10/1969, com entrada em vigor em 30.10.1969. A EC n 1/1969, embora formalmente seja uma emenda Constituio de 1967, considerada por muitos constitucionalistas verdadeiramente uma nova Constituio. Nas palavras do Professor Jos Afonso da Silva, a emenda s serviu como mecanismo de outorga, ou seja, imposio de novas disposies constitucionais sem consentimento do parlamento. Uma peculiaridade histrica dessa constituio que ela se denominava Constituio da Repblica Federativa do Brasil, a de 1967 era, simplesmente, Constituio do Brasil. A constituio de 1969 alterou diversos artigos da carta de 1967, mas manteve os dispositivos sobre oramento, inclusive o que limita a capacidade de iniciativa do Legislativo em leis que gerem despesas e em emendas ao oramento quando de sua discusso. Em alguns aspectos ela aperfeioou o processo de elaborao da lei oramentria, a fiscalizao financeira e oramentria dos municpios, modificou o sistema tributrio, entre outros assuntos. Nos anos oitenta iniciaram as presses no campo poltico com vistas ao fim do regime autoritrio e abertura institucional. No binio 1982/1983, com o agravamento da crise econmica, ficou evidente a fragilidade da base poltica do governo, que assistiu s campanhas de forte contedo popular, como a das diretas j para Presidente da Repblica, e a convocao de uma Assembleia Nacional Constituinte. Em 5 de outubro de 1988, o pas recebeu, ento, sua oitava constituio. O tema oramento foi fortemente discutido entre os constituintes, pois era visto como smbolo dos privilgios perdidos durante o perodo autoritrio. Novos conceitos e regras foram introduzidos, bem com a confirmao de princpios e normas j consagrados. Entre as inovaes, podemos citar a exigncia de, anualmente, o Executivo encaminhar ao Legislativo, o projeto de lei de diretrizes oramentrias com o objetivo de orientar a elaborao da lei oramentria. Assunto esse que ser melhor explicado no item cinco deste trabalho. Tabela 01 Constituies Brasileiras e o Processo de Elaborao e Aprovao Constitui Quem Quem es Elabora Aprova 1824 Poder Poder Executivo Legislativo 1892 Poder Poder Legislativo Legislativo 1934 Poder Poder Executivo Legislativo 1937 Poder Poder Executivo Executivo 1946 Poder Poder Executivo Legislativo 1967 Poder Poder Executivo Legislativo 1969 Poder Poder
1988
Executivo Poder Executivo
Executivo Poder Legislativo
EVOLUO DO ORAMENTO PBLICO
Regulamentao do Oramento nas Constituies Republicanas e Normas Brasileiras 1891 - Constituio Federal - em seu art. 34 atribua ao congresso nacional a responsabilidade para orar a receita, fixar anualmente a despesa federal e tomar as contas da receita e despesa de cada exerccio financeiro, bem como, regular a arrecadao e a distribuio das rendas federais. 1934 - Constituio Federal em seu art. 50, o oramento, ainda de forma embrionria fora disposto, contendo os princpios aplicveis aos atuais oramentos como Oramento nico e proibio de abertura de crditos ilimitados. 1937 Constituio Federal - o dispositivo que trata deste assunto prev a responsabilidade do Presidente na elaborao do oramento nico, incorporando-se obrigatoriamente receita todos os tributos, rendas e suprimentos de fundos, includas na despesa todas as dotaes necessrias ao custeio dos servios pblicos. 1939 - houve padronizao dos oramentos e Balanos dos Estados e Municpios produzindo uma reduo de classificao receitas de 2.185 para 57 classificaes. 1940 aprovao do Decreto Lei 2.416/40, que consolidou as normas oramentrias, com abrangncia aos Estados e Municpios, e posteriormente a Unio em 1952. 1946 Constituio Federal - ratifica o dispositivo da constituio anterior quanto a responsabilidade do Presidente da Repblica, atribuindo ainda ao congresso nacional responsabilidade para votar o Oramento com sano do Chefe do Executivo. Trazia ainda como inovao as atribuies do Tribunal de Contas para acompanhar e fiscalizar a execuo do oramento. 1964 Sano da Lei 4.320 considerada lei da Contabilidade Pblica, responsvel pela instituio das normas de Direito Financeiro e Contabilidade Pblica para Unio, Estados e Municpios e Distrito Federal, alm da Administrao Indireta, trazendo a concepo de oramento-programa, responsvel por um grande avano no Sistema de Oramento e Contabilidade Pblica no Brasil. 1967 Constituio Federal - como ponto inovador, previsto na Carta Maior, traz a previso de um oramento pautado em planos e programas nacionais, regionais e oramentos plurianuais. Neste ano tambm fora sancionado o Decreto-Lei 200, responsvel pela regulamentao do Oramento Programa, promovendo uma abordagem direta aos princpios que norteiam a elaborao dos planos e programas de governo. 1972 Expedio do Decreto Federal 71.353 que instituiu o Sistema de Planejamento Federal, consolidando a adoo do Oramento Programa. 1988 Constituio Federal - o legislador trouxe a ampliao da partio oramentria no tocante ao planejamento, anterior a sua elaborao, dando competncia para propositura das Leis ao Poder Executivo Federal, Estadual e Municipal, atravs do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Oramentrias e do Oramento Anual propriamente dito.
Linha do tempo do oramento pblico nas constituies federais
O orçamento público como meio de promoção do desenvolvimento regional: a importância da garantia das prerrogativas das micro e pequenas empresas, no contexto da despesa pública