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SÁBADO SANTO
Este episódio, além do fato histórico presenciado por São João, tem um
significado profundo. Santo Agostinho e a tradição cristã vêem brotar os
sacramentos e a própria Igreja do lado aberto de Jesus: “Ali abria-se a porta da
vida, e dali manaram os sacramentos da Igreja, sem os quais não se entra na
verdadeira vida...”5 A Igreja “cresce visivelmente pelo poder de Deus. O seu
começo e crescimento estão simbolizados no sangue e na água que brotaram
do lado aberto de Cristo crucificado”6. A morte de Cristo significou a vida
sobrenatural que recebíamos através da Igreja.
Esta ferida, que chega ao coração de Cristo e o trespassa, é uma ferida que
se acrescenta às demais e que resulta da superabundância do seu amor. É
uma maneira de expressar o que nenhuma palavra pode dizer. Maria
compreende e sofre, como Corredentora. Seu Filho já não pode sentir o golpe
da lança, mas Ela pode. E desse modo cumpre-se até o fim a profecia de
Simeão: Uma espada trespassará a tua alma7.
Não devemos esquecer nem por um só dia que Jesus está nos nossos
sacrários, vivo!, mas tão indefeso como na Cruz ou como depois no sepulcro.
Cristo entrega-se à sua Igreja e a cada cristão para que o fogo do nosso amor
o atenda e cuide da melhor maneira que possamos, e para que a nossa vida
limpa o envolva como o lençol comprado por José. Mas, além dessas
manifestações do nosso amor, deve haver outras que talvez exijam parte do
nosso tempo, do nosso esforço, dos nossos recursos económicos: José de
Arimateia e Nicodemos não regatearam essas outras provas de amor.
“Empti enim estis pretio magno! ( 1 Cor 6, 20), tu e eu fomos comprados por
um grande preço.
(1) Cfr. Mt 27, 51; (2) cfr. Hebr 9, 1-14; (3) Jo 19, 31; (4) Jo 19, 33; (5) Santo Agostinho,
Coment. ao Evang. de São João, 120, 2; (6) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 3; (7) Lc 2,
35; (8) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 58; (9) Oração de São Boaventura, citada por Frei
Luis de Granada, Vida de Jesus Cristo; (10) Missal Romano, Acção de graça depois da Missa;
(11) L. de la Palma, La Pasión del Señor, pág. 244; (12) Jo 19, 39; (13) Mc 15, 46; (14) cfr. Mt
27, 60; (15) cfr. Jo 20, 5-6; (16) São Josemaría Escrivá, Via Sacra, XIVª est., n. 1; (17) ib.; (18)
cfr. Lc 24, 9; (19) cfr. Lc 23, 56; (20) São João Damasceno, Homilia sobre a dormição de
Nossa Senhora.