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Expediente
Índice
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Arthur Chagas Diniz
Elcio Anibal de Lucca
Alencar Burti
Paulo de Barros Stewart
Jorge Gerdau Johannpeter
Jorge Wilson Simeira Jacob
José Humberto Pires de Araújo
Raul Leite Luna
REFLEXÕES SOBRE O FUNCIONAMENTO O BOM, O MAU E O FEIO Ricardo Yazbek
DOS TRIBUNAIS DE CONTAS NO BRASIL Uma visão liberal do fato Roberto Konder Bornhausen
Luciano B. Timm e Marcos Nóbrega Romeu Chap Chap
CONSELHO EDITORIAL
Arthur Chagas Diniz - presidente
MATÉRIA DE CAPA 15 DESTAQUE 20 Alberto Oliva
Aloísio Teixeira Garcia
Antônio Carlos Porto Gonçalves
Bruno Medeiros
Cândido José Mendes Prunes
Jorge Wilson Simeira Jacob
José Luiz Carvalho
Luiz Alberto Machado
Nelson Lehmann da Silva
Octavio Amorim Neto
Roberto Fendt
Rodrigo Constantino
William Ling
DE COMO BASTIAT E GALILEU EXPLICAM O PROCESSO DE EXTRADIÇÃO
O AQUECIMENTO GLOBAL DE CESARE BATTISTI Og Francisco Leme e
José L. Carvalho Jacy de Souza Mendonça Ubiratan Borges de Macedo
(in memoriam)
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NOTAS
PELO FIM DO BANCO CENTRAL PROGRAMA NACIONAL DE
por Rodrigo Constantino INSTITUTOS LIBERAIS
DIREITOS HUMANOS - 3
BRASÍLIA
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70743-520 - Brasília - DF
Telefax: (61) 3447-3149
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SÃO PAULO
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BANCO DE IDÉIAS é uma publicação do Instituto Liberal. É permitida a reprodução
de seu conteúdo editorial, desde que mencionada a fonte.
Leitores
Editorial
Sua opinião é da maior impor-
tância para nós. Escreva para
matéria de capa desta 50ª gamento do Supremo Tribunal Federal,
Banco de Idéias. A edição de Banco de Idéias cobre concedeu a Battisti o asilo político,
um tema de enorme atualidade: o tendo antecipado o julgamento de que
O Tribunal de Contas da União aquecimento global. A questão, teria cometido um crime político. O
reprovou as contas apresentadas segundo muitos, ganhou momentum pré-julgamento de Genro certamente
pela Petrobras para a construção quando naufragaram as economias se lastreou no fato de que Battisti é
de duas refinarias de petróleo e lastreadas no socialismo real. Muitos comunista e tem sua biografia re-
a reforma de uma outra. De uma críticos apontam o homem como cheada de crimes comuns. É essa se-
delas, se não me engano a Abreu responsável por fenômenos tão di- paração entre o crime político e o
Lima, a Petrobras é sócia de ferentes quanto a destruição das crime comum que o autor examina,
Chávez (ou da Venezuela). O TCU geleiras, a extinção de inúmeras agora que o STF encaminhou reco-
recomenda a suspensão de espécies e a contaminação pela mendação ao Presidente da República,
obras porque houve superfatu- excessiva liberação de CO 2 , na pela extradição. O fato de ser um mili-
ramento e coisas de igual jaez. O atmosfera. O prof. José L. Carvalho tem tante político não o exime de prática
Presidente Lula alega que a uma visão peculiar sobre a questão, do crime comum. Se o Presidente agir
paralisação das obras vai causar e suas argumentações são lastreadas tangido pela motivação político-
a demissão de 25 mil pessoas e em Galileu Galilei, que teve que negar afetiva poderá gerar inaceitáveis
causar um prejuízo de R$ 286 sua teoria de que a Terra não era o retaliações no plano internacional.
milhões/mês. Quem tem razão: centro do universo, e Fréderic Bastiat, O terceiro artigo desta edição
o TCU ou o Presidente? um dos ícones do liberalismo, que examina as consequências e contra-
alguns séculos atrás ironizava a dições do funcionamento dos Tribunais
Marli Mendes “criação da escassez”. Esperamos que de Contas no Brasil. Assinam o
São Paulo – SP a valiosa contribuição do prof. José L. trabalho Luciano Benetti Timm e
Carvalho venha a ordenar melhor o Marcos Nóbrega. Eles examinam o
Prezada Marli, discurso, especialmente dos chamados funcionamento dos Tribunais de
“verdes”. O âmago da questão, afirma Contas do Brasil, que está incomo-
O comportamento normal em o autor, não é o de minimizar a dando sobremodo o Poder Executivo,
relação a obras públicas é o emissão de carbono, mas sim como especialmente em um momento em
seguinte: todas as obras sobre desenvolver instituições sociais que que este tem como objetivo principal
as quais o TCU coloca suspeição venham a minimizar seus efeitos a implantação do PAC, carro-chefe da
são suspensas até que os im- levando em conta a escassez de campanha sucessória do Presidente.
passes sejam resolvidos. O que recursos. Lembra ainda que levar a Os autores oferecem um cuidadoso
Lula fez foi mandar – sem con- tese do aquecimento global ao nível exame da estrutura e funcionamento
sultar o Congresso, instância da crença estabelecida e protegida desses órgãos tão pouco conhecidos
obrigatória – incluir no orça- pelas autoridades constituídas é da população e de sua natureza
mento de 2010 o custo da obra um risco semelhante ao que mar- híbrida. A pressa, concluem os autores,
já incorporando o superfatu- ginalizou Galilei. é inimiga da perfeição, e pode ter fins
ramento efetuado pelas em- O processo de extradição de eleitorais ou eleitoreiros. Afirmam que
preiteiras. Nós, liberais, temos a Cesare Battisti tem a marca caracte- o legalismo pode trazer consequências
convicção de que princípios éti- rística de todas as decisões e/ou piores para a população. Sugerem, por
cos são indispensáveis à gestão protelações que, de alguma forma, fim, que o Tribunal de Contas pode
da coisa pública e que o Pre- tangenciam o pensamento oficial da acabar trazendo prejuízos à popu-
sidente, ao aprovar as eventuais esquerda brasileira, ora no poder. O lação condenando irregularidades que
falcatruas, dá cobertura prática autor deste trabalho, o prof. Jacy de atrasem a conclusão de certas obras.
aos desvios havidos na cons- Souza Mendonça, usa seu aprofundado O tema é polêmico, e os liberais,
trução das refinarias. conhecimento jurídico para o exame em princípio, discordam do menos-
Além de tudo, ele só fala em do pedido de extradição feito às prezo ao ético.
quanto vamos perder se as obras autoridades brasileiras pela República NOTAS examina o PL dos Direitos
forem suspensas e não em da Itália. O asilo tem diferentes con- Humanos e vê um contorno particu-
quanto custarão a menos se dicionantes, como assinala o autor em larmente prejudicial à liberdade de
forem devidamente corrigidos os seu texto introdutório sobre o que imprensa e ao direito de propriedade.
equívocos em que as emprei- dispõe a Constituição da República Rodrigo Constantino faz a resenha
teiras incorreram. Federativa do Brasil. A finalidade da do livro End the Fed, de Ron Paul.
mesma é a proteção dos direitos Nesta edição você encontra o
Envie as suas mensagens para humanos e das liberdades funda- resumo do livro A lei e a ordem, de
a rua Rua Maria Eugênia, 167 - mentais do cidadão, e sua motivação Ralf Dahrendorf, efetuada por Roberto
Humaitá - Rio de Janeiro - RJ - é o caráter social e humanitário do Fendt. Encerra a edição o Bom, o Mau
22261-080, ou ilrj@gbl.com.br. problema dos refugiados. O Ministro e o Feio, destacando fatos ocorridos
da Justiça, antecipando-se ao jul- no trimestre em curso.
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Justiça
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Pós-Doutorado na Harvard Law School. Doutor e mestre em Direito. Professor Adjunto da UFPE.
uito se tem discutido nos atuação contundente (e em alguns controle quanto ao problema de
M últimos tempos a respeito da casos até extemporânea ou equi- agência (no jargão econômico),
adequação das ações dos Tri- vocada) das Cortes de Contas. isto é, o problema de conflito de
bunais de Contas do Brasil, sobre- Malgrado essa atuação, os interesses que surge entre os
modo o Tribunal de Contas da Tribunais de Contas ainda per- representantes (que ocupam car-
União – TCU. Essas críticas sur- manecem instituições quase des- gos públicos em favor de outros)
gem sobremodo do Poder Exe- conhecidas da população, quer e os representados. Nem sempre
cutivo, incomodado que está com seja quanto a sua composição, os agentes políticos atuarão, uma
as ações fiscalizatórias da Corte suas atribuições ou mesmo a vez eleitos na função executiva, no
de Contas, principalmente no forma e a maneira de impor san- interesse comum. Os gastos por
controle de obras públicas em de- ções. Curioso esse fenômeno, eles feitos precisam, portanto, ser
cisões liminares que acabam sobremodo quando sabemos auditados e fiscalizados. É próprio
suspendendo a execução de um que os Tribunais de Contas são, de um sistema de freios e contra-
serviço com grande repercussão muitas vezes, instituições cente- pesos de um sistema democrático
eleitoral. Embora o caso federal nárias que têm prestado bons ocidental e capitalista.
seja mais emblemático (porque serviços à nação. Isso, no entanto, não significa
mais exposto na mídia), muitos A verdade é que as Cortes de que sejam instituições que não ca-
exemplos existem pelo país de Contas funcionam como um recem de aperfeiçoamento, muito
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pelo contrário. Justamente os contraditório e o consenso. Nesse intrínseca quando apenas reporta
avanços das últimas décadas sentido, o poder decisório é dis- ao Parlamento, que deverá co-
apontam para uma necessidade seminado entre os membros da municar ao Executivo as irre-
de sua reformulação, cami- Corte, possibilitando uma decisão gularidades encontradas. Está
nhando para uma reforma insti- que seja fruto de análises mais am- intrínseco no modelo um eleva-
tucional que permita mais trans- plas e discussões mais profundas. díssimo grau de accountability
parência, liberdade e capacidade Nos Tribunais de Contas os que não poderá ser alcançado por
de enforcement. Mas isso seria membros podem impor penali- simples mudanças legislativas.
um tema por demais amplo para dades e sugerir correções para os O nosso modelo de Tribunal de
este breve texto. auditados. Além disso, existem Contas apresenta a louvável pos-
Nesse sentido, este artigo fortes salvaguardas em relação sibilidade de promover a res-
serve, de um lado, para fornecer aos membros dos Tribunais de ponsabilização financeira e impor
uma visão clara do tema, fazendo Contas, que geralmente são sanções àqueles que malversaram
uma clara diferenciação entre os apontados por tempo indeter- os recursos públicos. Trata-se de
dois grandes modelos de controle minado e somente podem ser prerrogativa de grande enver-
existentes: Auditor Geral e Tribu- destituídos mediante processo gadura, que ganha contornos
nais de Contas, observando suas especial ou pela aposentadoria, o especiais na nossa legislação.
vicissitudes quanto à eficiência vis- que gera mais estabilidade Dessa forma, o modelo de
à-vis a legalidade; e, de outro institucional. Tribunal de Contas encontra-se, no
lado, para apreciarmos as prin- Um grande problema do nosso entender, muito mais ade-
cipais características do modelo modelo de Auditor Geral é que é quado para o atendimento dos
brasileiro de como é resolvido o fortemente direcionado para uma parâmetros constitucionais de
problema de agência no âmbito auditoria financeira e o “value of controle dos gastos públicos.
público no Brasil. money”, deixando em segundo
plano a auditoria de conformi- O CONTROLE EXERCIDO
MODELOS DE CONTROLE: dade, a auditoria do atendimento PELOS TRIBUNAIS DE CONTAS
AUDITOR GERAL E TRIBUNAIS dos parâmetros legais.
DE CONTAS Sabemos que uma das novas Ao tratarmos do tema Con-
vertentes do controle é a auditoria trole da Administração Pública,
O modelo de auditor geral é de desempenho, ou performance em especial do controle externo,
intrinsecamente ligado a um sis- audit, que analisa a eficiência da surge inevitavelmente a figura dos
tema parlamentar de accoun- administração vis-à-vis o cumpri- Tribunais de Contas. Por isso,
tability. Nesse sentido, há a auto- mento de metas. No entanto, em- devemos nos debruçar sobre as
rização das despesas pelo bora essa abordagem seja impor- atribuições desses órgãos autô-
parlamento, essas despesas são tante e cheia de possibilidades, nomos e independentes. O ponto
avaliadas pelo Auditor Geral, que, não podemos olvidar do funda- de partida, como não poderia
então, reporta ao Parlamento suas mental princípio da legalidade, deixar de ser, é a Constituição
conclusões. Feito isso, o Parla- aspecto emblemático da civil law. Federal que, em seu art. 71, es-
mento informa ao Executivo suas Dessa forma, embora pos- tabelece: “O controle externo, a
recomendações e, por fim, o Exe- samos (e devamos) analisar as- cargo do Congresso Nacional,
cutivo responde ao Parlamento. pectos de eficiência e de eficácia será exercido com o auxílio do
A primeira fragilidade do dos gastos públicos, a confor- Tribunal de Contas da União, ao
modelo de Auditor Geral é que ele midade legal é um imperativo qual compete...” (grifo nosso).
é fundamentalmente baseado na constitucional do qual não po- Fica claro que a titularidade do
figura do Auditor Geral. Trata-se demos abrir mão. Assim, acredi- controle externo é do Congresso
de modelo personalístico que não tamos que o modelo de Tribunal Nacional e, por simetria, das
condiz com a tradição plural e de Contas é o mais adequado Assembléias Legislativas, nos Es-
colegiada nas nossas Cortes. Essa para implementar um controle tados, e das Câmaras Municipais,
concentração de responsabili- mais efetivo e de melhor qualidade. nos municípios. Nessa missão
dades abre imensas possibilidades Talvez a maior fragilidade do serão auxiliados pelos Tribunais de
para fragilidade e dificuldades modelo de Auditor Geral seja a Contas. A primeira indagação que
advindas, inclusive, da má escolha sua dificuldade de promover o surge é saber qual a posição
do auditor geral. enforcement de suas decisões, em constitucional dos Tribunais de
O modelo de Tribunal de outras palavras, obrigar que suas Contas. Serão esses Tribunais
Contas, por sua vez, tem tradição recomendações sejam cumpridas. integrantes da estrutura do Poder
colegiada, ensejando o debate, o O modelo apresenta fragilidade Legislativo? Serão prepostos desse
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Poder? Ou, por se chamarem modelo tradicional é dos Tribunais desde 1988 não é possível a
Tribunal e julgarem contas, serão de Contas estaduais, fiscalizando criação de Tribunais de Contas
órgãos integrantes da estrutura do as contas do Governo do Estado com jurisdição sobre apenas um
Poder Judiciário? e de todos os municípios daquele município (Tribunal de Contas do
Nenhuma das respostas é Estado. município). Por outro lado, não há
satisfatória. Em primeiro lugar, os De forma paralela a esse qualquer impedimento constitu-
Tribunais de Contas não são modelo, temos situações nas cional para a criação, pelos
hierarquicamente subordinados quais existem o Tribunal de Estados Membros, de Tribunais de
ao Poder Legislativo; não são Contas do Estado (TCE), fisca- Contas com jurisdição sobre
prepostos, subordinados a esse lizando as contas do Governo do todos os municípios do Estado
Poder. Da mesma forma, os Estado, e do Tribunal de Contas (Tribunal de Contas dos Muni-
Tribunais de Contas no Brasil não dos municípios, com jurisdição cípios).
integram a estrutura do Poder sobre todos os municípios do O fator que vai definir se
Judiciário. Vige no nosso país a determinada ação será fiscalizada
estrutura de jurisdição una, ou por este ou aquele Tribunal de
seja, há apenas um Poder Judi- Contas será o da origem dos
ciário. Em outros países, como na
França, temos o sistema de
contencioso administrativo, no
“ Os Tribunais de
Contas são, na
recursos. Se os recursos forem
federais, mesmo que as despesas
sejam feitas em um município, a
qual as decisões das Cortes de verdade, órgãos aplicação dos mesmos ficará a
Contas têm forma de decisão de natureza cargo do TCU. Da mesma forma,
judicial. Não é o nosso caso. No recursos estaduais ou municipais
Brasil, apesar de serem chamados constitucional, determinam a fiscalização pelos
de Tribunal, de serem integrados dotados de Tribunais de Contas estaduais ou
por Ministros (TCU) e de julgarem competências e municipais, onde houver.
contas, não integram o Poder Ju- Quanto ao aspecto da juris-
diciário. São tribunais adminis- atribuições próprias. dição, duas observações devem
trativos, e suas deliberações são São autônomos e ser feitas. Em primeiro lugar,
de natureza administrativa1. independentes e no caso do Distrito Federal a fis-
Os Tribunais de Contas são, calização do Poder Judiciário, do
na verdade, órgãos de natureza não integram, Ministério Público do Distrito
constitucional, dotados de com- especificamente, Federal e dos Territórios é feita pelo
petências e atribuições próprias. a estrutura de TCU. Da mesma forma com os
”
São autônomos e independentes territórios federais, que também
e não integram, especificamente, nenhum Poder. são fiscalizados pelo Tribunal de
a estrutura de nenhum Poder. No Contas da União.
entanto, possuem forte relação
com o Poder Legislativo, por ser COMPOSIÇÃO
este o titular do Controle externo2. Estado, incluindo a capital. É o
Cumpre lembrar que apesar caso, repetimos, dos estados da Outro ponto importante da
de os Tribunais de Contas não Bahia, Ceará, Goiás e Pará. discussão sobre Tribunais de
possuírem personalidade jurídica Uma terceira e excepcional Contas se refere à sua forma de
própria, possuem capacidade situação ocorre nas cidades do composição. O art. 73 da Cons-
judiciária, que corresponde à Rio de Janeiro e de São Paulo. tituição Federal estabelece os
faculdade de atuar ativa ou pas- Essas cidades contam com um critérios para escolha de ministros
sivamente em Juízo3. Tribunal de Contas exclusivo, com do TCU, que serão em número de
Atualmente, no Brasil, temos jurisdição apenas municipal. Os nove. Poderão ser ministros do
44 Tribunais de Contas, distri- demais municípios dos Estados do TCU brasileiros que preencham os
buídos da seguinte forma: O Rio de Janeiro e de São Paulo, bem seguintes requisitos:
Tribunal de Contas da União com os Governos estaduais, serão
(TCU); 27 Tribunais de Contas fiscalizados pelos Tribunais de I. mais de 35 e menos de 65
estaduais; 2 Tribunais de Contas Contas estaduais. anos de idade;
do Município (cidades de São A Carta Magna, em seu art. II. idoneidade moral e repu-
Paulo e Rio de Janeiro) e 4 Tri- 31, § 4º, veda a criação de tação ilibada;
bunais de Contas dos Municípios Tribunais, Conselhos ou órgãos de III. notórios conhecimentos
(Bahia, Ceará, Goiás e Pará). O Contas Municipais. Dessa forma, jurídicos, contábeis, econômicos
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e financeiros ou de administração
pública;
IV. mais de dez anos de exer-
cício de função ou de efetiva
atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no
inciso anterior.
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a) emissão de Parecer Prévio aprovação no Juízo político, ou amplo. É bom lembrar que esse
(art. 71, I) seja, no Poder Legislativo. Assim, dispositivo constitucional foi alte-
mesmo que haja a aprovação no rado pela Emenda Constitucional
É sabido, por força de dis- Poder Legislativo, o gestor con- nº 19, que acrescentou a expres-
positivo constitucional (art. 84, tinuará obrigado a ressarcir são “qualquer pessoa, física ou
XXIV, CF), que o Presidente da valores aos cofres públicos. jurídica”, para não deixar dúvida
República tem o dever de prestar Situação um pouco diferente sobre a amplitude do controle.
anualmente ao Congresso Nacio- se dá no caso das contas dos O art. 70, II da Constituição
nal, em um prazo de 60 dias a Prefeitos. Nessa situação, os pa- Federal deixa bem claro que, entre
contar da abertura da sessão receres prévios serão elaborados as competências próprias dos
legislativa, as contas referentes ao pelo Tribunal de Contas do Mu- Tribunais de Contas, está a de
exercício anterior. E, a partir daí, nicípio ou pelo Tribunal de Contas julgar as contas dos adminis-
os Tribunais de Contas têm dos Municípios, onde houver (CF, tradores e demais responsáveis
competência constitucional para art. 31, § 1º). Não havendo uns por dinheiros, bens e valores
emitir parecer prévio sobre essas ou outros, a atribuição será do públicos da Administração direta
contas, cabendo ao Poder Le- TCE. As contas serão julgadas e indireta, incluídas as fundações
gislativo promover o referido pelas respectivas Câmaras Mu- e sociedades instituídas e man-
julgamento. Embora a com- nicipais. tidas pelo Poder Público federal,
petência de julgamento das Somente no caso municipal o e as contas daqueles que derem
contas seja do Poder Legislativo, parecer prévio do Tribunal de causa a perda, extravio ou outra
somente poderá fazê-lo diante do Contas terá uma força parcial- irregularidade de que resulte
parecer prévio do Tribunal de mente vinculante, pois só deixará prejuízo ao Erário.
Contas que, portanto, reveste-se de prevalecer por decisão de dois Mais uma vez lembramos a
de peça obrigatória. terços (2/3) dos membros das grande abrangência do modelo.
Quanto à emissão de parecer Câmaras Municipais (CF, art. 31, Errado pensar que se submete ao
prévio, Mileski4 observa que: § 2º). Trata-se de quórum quali- controle das Cortes de Contas
A emissão de parecer prévio ficado e, em certas circunstân- apenas o ordenador de despesas.
pelo Tribunal de Contas envolve cias, difícil de ser obtido. Este, segundo o § 1º do art. 80
uma função opinativa e de do Decreto-lei nº 200/67, “é toda
assessoramento ao Poder Legis- b) julgamento de contas e qualquer autoridade de cujos
lativo. Nessa circunstância, o (art. 70, parágrafo único e atos resultarem emissão de
parecer prévio não vai além de 71, II) empenho, autorização de paga-
uma apreciação técnico-opi- mento, suprimento ou dispêndio
nativa sobre o desempenho Inicialmente cabe definirmos de recursos da União ou pela qual
governamental na execução do “contas” como o conjunto de esta responda”. Na verdade, todo
seu plano de governo, com- documentos públicos que eviden- aquele que guarde, administre,
petindo ao Parlamento proferir o ciarão a aplicação de recursos gerencie dinheiro público,
julgamento político sobre a públicos diante dos registros de inclusive os ordenadores de
gestão analisada... sua movimentação. Além disso, despesa, deverá submeter-se ao
O parecer prévio é uma as contas também deverão refletir controle dos Tribunais de Contas.
decisão proferida pelo Tribunal de os ingressos públicos, sobretudo Também cabe lembrar que
Contas sobre as contas pres- as receitas públicas e qualquer quando os chefes do Poder
tadas anualmente pelo chefe do ato ou fato que tenha repercussão Executivo praticam atos, como os
Poder Executivo. O julgamento na gestão fiscal. citados acima, e para os quais
dessas contas é efetuado pelo A Constituição Federal define, incidirá o controle, terão suas
próprio Poder Legislativo. Não há no parágrafo único do art. 70, ações julgadas pelas Cortes de
caráter vinculante desse parecer que deverá prestar contas qual- Contas. Sendo assim, seus atos
prévio. Nada impede, portanto, quer pessoa, seja física ou serão apreciados no Juízo político
que o parecer prévio aponte pela jurídica, pública ou privada, que (Poder Legislativo) e também pelos
rejeição de contas e as mesmas utilize, arrecade, guarde, gerencie Tribunais de Contas.
venham a ser aprovadas na Casa ou administre dinheiros, bens e Muito embora o texto cons-
Legislativa. No entanto, é bom valores públicos ou pelos quais a titucional utilize a expressão julgar,
lembrar que irregularidades União responda, ou que, em nome não se trata, apesar de algumas
decorrentes de dano ao Erário, desta, assuma obrigações de importantes opiniões contrárias5,
multa ou mesmo indícios de natureza pecuniária. Vê-se que o de uma função jurisdicional, e
ilícitos penais não são ilididas pela leque do controle é bastante também não confere às decisões
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proferidas pelos Tribunais de Assim, vemos cargos de enge- Trata-se, nesse caso, de uma
Contas força de decisão judicial. nheiro, advogado, médico, tare- melhoria posterior, não sendo
Trata-se de uma deliberação de feiro, coveiro, merendeiro... enfim, necessária, portanto, a reapre-
natureza administrativa, que pode toda sorte de cargos comissionais ciação pelo Tribunal de Contas.
ser revista em sede judicial. que, na verdade, são cargos de O mesmo não ocorre quando
natureza efetiva. Isso é feito com há mudança na fundamentação
c) Apreciar os atos de ad- o objetivo claro de burlar a legal do ato de aposentadoria.
missão de pessoal (art. 71, III) obrigatoriedade de concurso Suponha um ato de aposen-
público. Nesses casos, pode e tadoria colocando o servidor em
Esta é uma das mais impor- deve agir o Tribunal de Contas em inatividade mediante invalidez
tantes atribuições dos Tribunais de respeito à própria economicidade permanente. Posteriormente, a
Contas, conforme dispõe o art. Administração republica a por-
71, III, que determina que o taria aposentatória, desta feita
“Quanto
Tribunal de Contas deverá conferindo ao servidor aposen-
à exclusão tadoria por tempo de serviço.
apreciar, para fins de registro, da apreciação Trata-se, nesse caso, de uma
a legalidade dos atos de mudança na fundamentação
admissão de pessoal, a qual- das nomeações legal do ato, devendo, portanto,
quer título, na Administração para cargos ser apreciada pelo Tribunal de
direta e indireta, incluídas as Contas.
fundações instituídas e man- comissionados, Ressalvadas as hipóteses nas
tidas pelo Poder Público, a ideia é que o TC quais não incidirá a apreciação
excetuadas as nomeações para dos Tribunais de Contas, cabe a
cargo de provimento em comis-
não aprecie tais análise das admissões, aposen-
são, bem como a das conces- nomeações porque tadorias, pensões e reformas.
sões de aposentadorias, refor- são de absoluta Quanto às admissões, importante
mas e pensões, ressalvadas as lembrar que o conceito é bastante
melhorias posteriores que não discricionariedade abrangente, devendo ser apre-
alterem o fundamento legal do do gestor. No ciadas pelos TCs tanto as nomea-
ato concessório. ções para cargos efetivos como
entanto, em casos as admissões para empregos
Trata-se de um controle abran- extremos o Tribunal públicos e as contratações tem-
gente porque abarca os atos de
admissão, concessão de aposen-
tadoria, reformas e pensões, estes
poderá atuar.
” porárias por excepcional interesse
público (CF, art. 37, IX).
As aposentadorias corres-
pondem a atos administrativos
todos para fins de registro nas
Cortes de Contas. Ficaram de que transferem os servidores para
fora desse controle as nomeações e ao princípio constitucional da a inatividade remunerada. O mes-
para cargos comissionados e as moralidade. mo se dá em relação à reforma,
melhorias posteriores a que o Também não serão apreciados que é uma nomenclatura espe-
servidor vier a fazer jus. pelos Tribunais de Contas os atos cífica para os militares. As
Quanto à exclusão da apre- que caracterizam melhorias pensões, por seu turno, corres-
ciação das nomeações para posteriores das aposentadorias já pondem a proventos devidos ao
cargos comissionados, a ideia é concedidas. A Constituição ga- cônjuge do servidor falecido.
que o TC não aprecie tais nomea- rante que as transformações, Por fim, resta lembrar a po-
ções porque são de absoluta reclassificação, mudanças de no- lêmica existente quanto à natureza
discricionariedade do gestor. No menclatura em cargos públicos do ato de aposentadoria diante do
entanto, em casos extremos o atingem, por igual, os inativos. controle exercido pelos TCs.
Tribunal poderá atuar. Cito Assim, por exemplo, o Auditor da Seriam os atos de aposentadoria
situações nas quais são criados e Receita Federal (antigo AFTN) atos simples e ou atos com-
providos vários cargos comis- passou a chamar-se Auditor plexos? Caso sejam da primeira
sionados com absoluta desco- Federal da Receita Federal (AFRF). espécie, a atuação do Tribunal de
nexão com o comando constitu- Os inativos passaram a também Contas em nada obstará à
cional que reza que tais cargos ser submetidos à nova nomen- perfeição do ato, tendo apenas
devam ser preenchidos somente clatura. Caso ocorra aumento uma natureza declaratória. Caso
para funções de assessoramento, para o referido cargo, os inativos seja considerado complexo, o ato
direção e chefia (art. 37, V). também gozarão do benefício. somente será perfeito e acabado,
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Justiça
Temos também as novas O inciso VIII do art. 71 esta- contrato irregular, o Tribunal de
repartições de receitas, acres- belece que o Tribunal de Contas, Contas inicialmente comunica aos
centadas, no mesmo art. 159, pela ao verificar ilegalidade de ato Poderes Legislativo e Executivo, e
Emenda Constitucional nº 42 administrativo, determinará as caso esses Poderes, em um prazo
(Reforma Tributária), a saber: providências cabíveis e assinará de 90 dias, nada façam, o Tribunal
prazo para que o órgão ou de Contas decidirá a respeito.
Art. 159. A União entregará: entidade as adote. Se a Adminis-
tração não atender, o próprio DECISÕES DOS TRIBUNAIS
(...) Tribunal de Contas poderá sustar DE CONTAS
a execução do ato impugnado,
III – do produto da arrecadação comunicando tal decisão à Os Tribunais de Contas, por
da contribuição de intervenção Câmara dos Deputados e ao serem tribunais administrativos,
no domínio econômico prevista Senado Federal. proferem decisões de caráter
no art. 177, § 4º, vinte e cinco A providência será diferente administrativo6. Logo, fazem coisa
por cento para os Estados e o quando se tratar de contrato julgada na esfera administrativa,
Distrito Federal, distribuídos na administrativo (art. 71, § 1º). conquanto possam ter suas de-
forma da lei, observada a Neste caso a sustação será cisões reapreciadas na esfera
destinação a que refere o inciso adotada pelo Congresso Nacio- judicial. Isso se dá, conforme já
II, c, do referido parágrafo. nal, que solicitará de imediato ao vimos, pelo fato de o Brasil adotar
Poder Executivo as medidas o denominado sistema inglês, ou
§ 4º Do montante de recursos cabíveis. No entanto, se no prazo sistema de jurisdição única. Por
de que trata o inciso III que de 90 dias o Congresso Nacional este sistema, todos os litígios são
cabe a cada Estado, vinte e ou o Poder Executivo não tomar resolvidos, com caráter de defini-
cinco por cento serão desti- as providências, o Tribunal de tividade, pelo Poder Judiciário. O
nados aos seus Municípios, na Contas decidirá a respeito. princípio da inafastabilidade da
forma da lei a que se refere o É importante perceber a Jurisdição ou princípio de
mencionado inciso. diferença marcante existente no jurisdição única encontra-se na
caso de atos e de contratos Constituição da República, art.
Além das transferências cons- irregulares. No primeiro caso, o 5º, XXXV, que afirma que “a lei não
titucionais, temos as chamadas Tribunal susta o ato e somente excluirá da apreciação do Poder
transferências voluntárias que depois comunica sua decisão ao Judiciário lesão ou ameaça a
correspondem a repasses de Poder Legislativo. No caso de direito”.
recursos sem caráter obriga-
tório. A maioria dessas trans-
ferências é feita através de con-
vênios, no entanto não é a única
forma de fazê-lo. Qualquer
ajuste, acordo que determine
uma transferência não obriga-
tória deverá ser apreciado pelas
Cortes de Contas.
g) Aplicação de sanções
(art. 71, VIII, IX e X, §1º)
MAR/ABR/MAI - 2010 - Nº 50 12
Justiça
Outro ponto importante a Os agentes públicos reclamam da aplicação da lei, até porque
discutir é a eficácia das decisões porque a atuação dos referidos nossas regras do Direito Admi-
dos Tribunais de Contas. A própria órgãos acaba criando óbices à nistrativo são muito burocráticas
Constituição Federal (art. 71, § sua gestão. Mas, partindo do e legalistas. Temos um Direito
3º) estabelece que “as decisões do princípio do inevitável risco do Administrativo do século XIX.
Tribunal de Contas de que resulte problema de agência (conflitos de Devemos também lembrar
imputação de débito ou multa interesse entre administradores aqui de Gary Becker, ganhador
terão eficácia de título executivo”. públicos e eleitores), a presunção do Nobel de Economia com sua
Esse dispositivo foi de grande é de adequação do compor- teoria econômica do criminoso. O
importância, porque conferiu às tamento dessas Instituições. A criminoso é sempre o reflexo de
decisões dos TCs maior efetivi- pressa é inimiga da perfeição, uma ponderação entre a pena, a
dade. Por esse dispositivo, fica e pode até ter fins eleitorais ou probabilidade de ser pego e o
claro que o erário credor poderá “eleitoreiros”. Uma obra super- benefício auferido pelo criminoso.
ingressar em juízo para receber a O que os Tribunais de Contas
quantia imputada pela decisão do estão fazendo, em outras pa-
Tribunal de Contas. Pelo fato de lavras, é aumentar o preço do
essa decisão ter eficácia de título
executivo extrajudicial não será
necessário ingressar com pro-
“OsContas
Tribunais de
podem
ilícito administrativo. O problema,
como dizia Aristóteles, é achar o
meio-termo, a prudência. Os
vícios estão sempre nas ex-
cesso de conhecimento, podendo,
portanto, o erário ingressar pron-
também tomar tremidades. Algumas obras devem
tamente com uma ação de exe- decisões em ser imediatamente suspensas,
outras não.
cução.
A decisão do Tribunal de Con-
caráter de Por fim, são todos temas para
tas que impute débito ou multa é urgência, suspen- reflexão que certamente impulsio-
imprescritível, pois, por força do narão os operadores do con-
art. 37, § 5º da Constituição
dendo a execução trole público para posições mais
Federal, as ações de ressarci- de um contrato adequadas visando ao interesse
mento ao erário são imprescri- coletivo, ponderando a mera
tíveis.
público, por conformidade da lei com a
Os Tribunais de Contas po- exemplo, quando busca de melhores padrões de
dem também tomar decisões em eficiência.
há risco de lesão
”
caráter de urgência, suspendendo
a execução de um contrato ao erário.
público, por exemplo, quando há
risco de lesão ao erário. REFERÊNCIAS
1
Alguns autores vêem nas Cortes de
faturada pode custar três vezes Contas algumas atribuições tipicamente
CONCLUSÕES mais. judiciais, como, por exemplo, Jacoby
Fernandes e Seabra Fagundes.
O que esses Tribunais devem 2
“O Tribunal não é preposto do Le-
Compreendida a estrutura e atentar é para que um eventual gislativo. A função que exerce recebe-a
o funcionamento desses órgãos legalismo não venha a trazer diretamente da Constituição, que lhe
tão pouco conhecidos da po- consequências piores para a define as atribuições” (STF - Pleno - j.
29.6.84, in RDA 158/196).
pulação e de natureza bastante população. Afinal, será que é me- 3
Para uma análise profunda das
híbrida, podemos dizer que diante lhor ficar sem estradas, sem atribuições dos Tribunais de Contas, ver
do papel exercido pelos Tribunais hospitais até que se julgue um PASCOAL, Valdecir. Direito Financeiro e
de Contas de fiscalização da processo? Controle Externo. 2. ed. Rio de Janeiro:
Ed. Impetus, 2002.
gestão pública é difícil acreditar Aqui a análise de custo/be- 4
MILESKI, Helio Saul. O Controle da
que alguém seriamente defenda nefício pode ser proveitosa. Como Gestão Pública. São Paulo: Ed. Revista
sua extinção. Onde sua atuação dizia o jurista norte-americano dos Tribunais, 2003. p. 267.
acaba gerando mais controvérsia Oliver Holmes, ao tomar decisões
5
JACOBY, Jorge Ulisses. Tribunais de
Contas do Brasil: jurisdição e competência.
é no caso de decisões que sus- legais precisamos fazer opções. Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2003. p. 138.
pendem obras. A questão é saber Ponderar o que ganhamos e o que 6
Essa opinião não é unânime, embora
se o prejuízo à coletividade é maior perdemos. E deveria entrar na seja majoritária. Para uma respeitada
ou menor com a suspensão de equação dos julgadores as con- opinião contrária, ver Jacoby Fernandes.
uma obra. sequências para a coletividade
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Especial
Uma visão liberal do fato
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Matéria de Capa
fato que a temperatura da longas (infravermelho) que não A tese antropocêntrica do efeito
É terra vem aumentando. É atravessam a atmosfera, opaca a estufa só tomaria corpo a partir
também um fato que a tempe- essas ondas longas por ser com- do início da década de 1950 em
ratura da terra tem passado por posta de muitos gases e de vapor decorrência do aumento das
longos períodos de elevação e de d’água. Dessa forma a tempe- temperaturas da terra ao longo
declínio. Tão importante quanto ratura da superfície da terra torna- das décadas de 1920 e 1930.
esses dois fatos é o conhecimento se propícia à vida como a conhe- Entretanto, com a redução das
científico acumulado que iden- cemos. temperaturas do globo ao longo
tifica no Sol e nos oceanos os prin- Em 1896, o químico sueco e dos anos 1960 e 1970 essa tese
cipais agentes de tais flutuações. detentor do Prêmio Nobel de perdeu momentum, mas seus
Em 1827, o matemático francês Química de 1903, Svante August defensores não. Se não foi você,
Jean-Baptiste Joseph Fourier pu- Arrhenius, publicou um artigo no foi seu avô, como na fábula do
blicou um artigo no qual iden- qual atribuía à ação do homem, lobo e do cordeiro; os antro-
tificava o efeito estufa: a radiação pela emissão de CO2, a amplia- pocêntricos identificaram na po-
solar atravessa a atmosfera, a ção do efeito estufa natural. Em luição do ar a ação humana res-
qual é transparente à radiação de seus cálculos Arrehnius sugere que ponsável pela redução na tem-
ondas curtas (radiação brilhante) se a quantidade de dióxido de peratura da terra por bloquear a
e atinge a crosta terrestre; o calor carbono na atmosfera fosse multi- incidência dos raios solares sobre
da radiação é absorvido pela terra plicada por dois a temperatura da a superfície da terra, apesar de
e pelas águas, refletindo ondas terra aumentaria em cerca de 5C. toda evidência científica contrária.
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Matéria de Capa
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Matéria de Capa
soluções apresentadas para os renda, dos consumidores que distribuir entre os membros da
problemas ambientais, em parti- mais valorizam o bem racionado comunidade afetada pela poluição
cular para o chamado problema para os que menos valorizam o direitos de poluir passíveis de
do aquecimento global, são im- bem. O objetivo original do serem negociados pelos indiví-
positivas. Um momento – alguém racionamento é o de permitir que duos com os emissores de po-
poderá argumentar –, e o mer- todos tenham acesso ao bem, luentes. Desse modo, teríamos um
cado de carbono? que por alguma razão teve sua mercado de direitos de poluir, e
O chamado mercado de oferta drasticamente reduzida, a todos os que vendessem seus
carbono emergiu dos limites de um preço fixado e, por algum direitos estariam sendo com-
emissões formulados no Protocolo critério, considerado justo. Outra pensados monetariamente pelas
de Quioto. Assim, para cumprir arbitrariedade desse sistema é que inconveniências da poluição. A
o protocolo a União Européia sua implantação exige um critério literatura especializada apresenta
implementou em 2005 o Sistema de distribuição desses talões. Não algumas elaboradas propostas
Europeu de Comércio (European vamos elaborar sobre os pro- nesse sentido, mas esse tipo de
Trade System – ETS), com- blemas e as arbitrariedades de um solução não se aplica ao cha-
preendendo cerca de 12.000 sistema de racionamento por mado aquecimento global, pois se
grandes emissores de CO2, os talões. O que pretendíamos com trata de uma solução para
quais são responsáveis por cerca esse paralelo era, simplesmente, problemas locais de poluição.
de 50% de todas as emissões chamar a atenção para o fato de Entretanto, emissões de CO 2
européias. Nesse sistema, os go- que racionamento por talões especialmente concentradas em
vernos estabelecem um limite de transferíveis, embora superior ao áreas urbanas afetam a saúde das
poluentes – no caso do chamado racionamento por talões não pessoas aqui e agora, e há evi-
aquecimento global a referência transferíveis, apenas produz uma dências científicas claras desse
é a emissão de CO2 – que as redistribuição de renda. O cha- fato. Porém, tal aproximação do
empresas podem emitir pela mado mercado de carbono problema não envolve acordos
concessão de licenças individuais. contém mais arbitrariedades (o internacionais e toda parafernália
Tais licenças podem ser livremente total de emissões é definido) que burocrática a eles associada.
compradas e vendidas pelas o racionamento, e gera um pro- Atribuir ao governo a deter-
empresas. A ideia é estimular a cesso de distribuição de renda minação do total de emissões
introdução de novas tecnologias entre as empresas participantes pode gerar, como no caso
que venham a reduzir o nível geral cuja intensidade depende da dis- europeu, problemas que acabam
de emissões. Assim, as empresas tribuição inicial das permissões. por eliminar os incentivos para a
que a um custo mais baixo pu- Há muito os economistas vêm adoção de novas tecnologias
derem reduzir suas emissões para apresentando e discutindo so-
nível inferior ao de sua licença po- luções para a incorporação de
derão vender, a outras empresas custos impostos a terceiros, os
tecnologicamente incapazes de quais, devido a impropriedades na
reduzir suas emissões, os créditos caracterização dos direitos de
de emissão conseguidos pela propriedade, não podem ser
redução alcançada. Note que as imputados aos agentes sociais que
pessoas afetadas pela poluição geram tais custos. Embora mi-
não participam do processo. metizando o funcionamento de
Definido o total de emissões, o um mercado, tais soluções apre-
direito de poluir é distribuído entre sentam um problema de cons-
as empresas poluidoras. Como os tituição. Em um mercado livre, a
direitos de poluir são transferíveis, quantidade total do bem transa-
o sistema funciona como o velho cionado é determinada pelos
racionamento com talões trans- desejos individuais de vendedores
feríveis, onde os consumidores e compradores. No caso do
pagam dois preços pelo bem chamado mercado de carbono,
racionado: o preço fixado em esse total há que ser determinado
moeda corrente e um talão de por um poder exógeno ao
racionamento por unidade. É sa- mercado, em geral o governo,
bido que um sistema de racio- como no caso das emissões de
namento com talões transferíveis, CO2 na Europa. Não precisaria
desconsiderado o custo de admi- ser assim. Como as pessoas são Bastiat: irracionalidade econômica
nistração do sistema, provoca as maiores interessadas na re- da proteção do governo a atividades
apenas uma transferência de dução da poluição, bastaria econômicas.
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Matéria de Capa
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Destaque
O processo de
extradição de
Cesare Battisti
Jacy de Souza Mendonça
Titular da Ordem do Mérito Judiciário
do Trabalho, no grau de Comendador, e
Professor Emérito da Escola do Comando
do Estado Maior do Exército - RJ.
O SISTEMA JURÍDICO
BRASILEIRO E A EXTRADIÇÃO
DE CESARE BATTISTI
Constituição da República
A Federativa do Brasil dispõe
que não será concedida extra-
dição de estrangeiro por crime
político ou de opinião (art. 5º, LII).
Esta regra, adotada por quase
todas as nações, foi incluída pela
ONU na Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948:
Todo ser humano, vítima de per-
seguição, tem o direito de pro-
curar e de gozar asilo em outros
países. 2. Este direito não pode
ser invocado em caso de per-
seguição legitimamente moti-
vada por crimes de direito
comum ou por atos contrários
aos objetivos e princípios das
Nações Unidas (art. XIV – 1); foi
objeto também da Convenção de
1951 da ONU, relativa ao Es-
tatuto dos Refugiados, segundo
a qual nenhum dos Estados
membros expulsará ou recha-
çará, de maneira alguma, um
refugiado para as fronteiras dos
territórios em que sua vida ou sua
liberdade seja ameaçada em
virtude... das suas opiniões
políticas (art. 33, §1º). A fina-
lidade desta norma é a proteção
dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais do ci-
dadão; sua motivação é o caráter
social e humanitário do problema
dos refugiados.
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Destaque
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Destaque
Este rito não é aplicável na hi- da Itália e de ações criminosas pela participação preponderante
pótese de urgência resultante de comuns. Desde cedo participou no assassinato de quatro pessoas
interesse nacional, caso em que de movimentos políticos de (uma assassinada com um tiro
a extradição é cumprida imedia- esquerda, como a Lotta Continua pelas costas; um açougueiro
tamente; se o extraditando estiver e a Autonomia Operaria; sua morto por vingança por ter
respondendo a processo-crime ou atividade mais significativa foi, no matado o colega do extraditando
tiver sido condenado no Brasil por entanto, no movimento dos que tentara roubá-lo; um joa-
crime punível com pena privativa Proletarios Armados pelo Co- lheiro morto em emboscada, e
de liberdade, a extradição será munismo (PAC), que tinha por um jornalista), todos com o
executada somente depois da objetivo assaltar, para garantir o objetivo de conseguir dinheiro. Em
conclusão do processo ou do sustento do grupo na expro- 1985 voltou a Paris, beneficiado
cumprimento da pena (Lei nº priação dos capitalistas. Sua por uma legislação protetora de
6.815, art. 89). primeira prisão foi em 1972 (aos extremistas italianos arrepen-
É à luz dessas regras que deve 18 anos, portanto), por furto; em didos. Um pedido de extradição
ser apreciado o pedido de 1974 foi condenado a 6 anos de dirigido então pelo governo da
extradição de Cesare Battisti prisão por assalto a mão armada; Itália à França levou-o de volta ao
formulado pelo governo da Itália, libertado em 1976, foi preso presídio, provisoriamente; mas o
de onde se encontra foragido, e novamente em 1977; em 1979, pedido do governo italiano foi
onde foi condenado, em última foi sentenciado a 12 anos de negado por duas vezes e, graças
instância, à prisão perpétua, prisão pela participação em a isso, ele readquiriu a liberdade
temporariamente sem direito grupo armado, assalto e recep- e continuou vivendo em Paris com
sequer a banho de sol. tação de armas. Em 1981 fugiu a esposa e duas filhas. Em 2004,
da prisão e foi para Paris, viver na já escritor reconhecido, enfrentou
CESARE BATTISTI clandestinidade; de Paris foi para novo pedido de extradição do
o México, onde participou de governo italiano, desta vez ana-
O extraditando nasceu, no atividades literárias e jornalísticas. lisado e acolhido pelo Conselho
ano de 1954, em família comu- Enquanto se encontrava no de Estado da França, que en-
nista de três gerações (ele, o pai e México, foi julgado à revelia e tendeu inexistir crime de caráter
o avô). Sua biografia é empapada condenado à prisão perpétua político e, por isso, autorizou sua
de atividades na esquerda política pelo Tribunal do Júri de Milão, extradição; na iminência de ser
preso, fugiu novamente, desta vez
para o Brasil, utilizando passa-
porte falsificado. Aqui não soli-
citou asilo político, preferindo
viver dois anos na clandestinidade
(o asilo político foi pedido depois
de preso, como estratégia de
defesa). Na Itália, o processo
criminal contra ele correu à revelia
e, com fundamento em inúmeras
provas, dentre as quais depoi-
mento de testemunhas, perícias e
confissão de seus comparsas, um
dos quais estimulado pelas
vantagens da delação premiada,
foi condenado à prisão perpétua,
por homicídio e roubo.
Reconhece ele esse passado,
mas alega que abandonou a
violência política em 1978, após
o sequestro e a morte de Aldo
Moro. Nega, porém, a partici-
pação nos homicídios objeto das
condenações judiciárias.
No Brasil está respondendo a
Por iniciativa da Interpol, Cesare Battisti foi detido no Rio de Janeiro, em 2007. processo, no Rio de Janeiro, por
MAR
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Destaque
“
de refugiado pelo Ministro da cursos. Outros comparsas, no
Justiça obstaria o seguimento de A extradição PAC, ocupavam-se com os crimes
qualquer pedido de extradição solicitada pelo políticos. Se o PAC aplicava depois
baseado nos fatos que funda- os recursos por ele conseguidos
mentaram a concessão do re- governo da Itália para fins políticos, é outra etapa
fúgio. Afirmou-se que a matéria foi finalmente que não tem o condão de qua-
seria inapreciável pelo Poder autorizada pelo lificar, abrigar, muito menos
Judiciário, mesmo pelo STF, inocentar a primeira. Trata-se, no
conforme o art. 33 da Lei 9.474, STF, por cinco votos caso, no máximo, de crime de
de 22 de julho de 1997. Quatro contra quatro, tendo natureza complexa: comum e
Ministros do STF acolheram essa em vista que os político, no qual o fato principal
tese, rebatida com a simplicidade (os homicídios) constitui infração
característica da Min. Ellen Grace
crimes imputados ao da lei penal comum que, por-
ao lembrar que, de acordo com a extraditando não tanto, não impedirá a extradição
Constituição, nenhum ato poderá tiveram conotação (Lei nº 6.815, art. 77, §1º).
ser excluído da apreciação do política e não foram As circunstâncias de ser o
Poder Judiciário (CF, art. 5º, extraditando extremista político e
alcançados pela também assassino contumaz não
”
XXXV), por sinal, único com com-
petência para apreciar o caráter prescrição. podem ser conectadas pelo
da infração – se crime comum intérprete a posteriori, quando elas
ou político –, processar e julgar não eram conexas ao tempo da
originariamente a extradição prática delituosa. O extraditando
solicitada por Estado estran- contrário, confirma-a: ao tempo é um extremista político que
geiro (Constituição Federal, art. dos fatos, era um ativista de praticou vários crimes comuns.
102, I). esquerda. Mas a condição de É fácil também perceber a
A extradição solicitada pelo extremista político não determina natureza dos crimes por ele
governo da Itália foi finalmente que todos os atos por ele praticados a partir de sua mo-
autorizada pelo STF, por cinco praticados tenham que ser tivação ao pedir extradição: não
votos contra quatro, tendo em forçosamente considerados de a deseja por temer ser perse-
vista que os crimes imputados ao natureza política. O político, assim guido, em seu país, por motivos
extraditando não tiveram cono- como qualquer cidadão, pode de raça, religião, nacionalidade,
tação política e não foram praticar e, de fato, pratica atos de grupo social ou opiniões políticas
alcançados pela prescrição. A natureza não política; pode – o que justificaria a negativa da
extradição foi condicionada, cometer crimes políticos e crimes extradição – mas para fugir à
entretanto, à limitação da pena comuns. prisão a que foi condenado pela
privativa de liberdade a 30 anos, Mesmo se o fim último de sua prática de crime comum. Exata-
máximo permitido pela legislação ação tivesse sido político, ela, em mente a distinção inicial entre
brasileira. O Presidente da Repú- si mesma, pode ter tido outra refugiado político e delinquente
blica ficou autorizado, assim, a finalidade, e, portanto, outro comum. Os processos criminais
executar a extradição. caráter. Com muito acerto afirmou nos quais foi condenado à pena
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os delitos pelos quais ele foi pelo Brasil com a Itália. Deverá,
condenado foram julgados pela sim, aguardar a conclusão do
Justiça italiana e qualificados por
ela, em última instância, como
crimes comuns. O mesmo que fez
processo-crime a que responde
o extraditando no Rio de Janeiro A Suécia depois
a Justiça francesa quando os
apreciou. Parece, por isso, que a
e, se for o caso, o cumprimento
da pena dele resultante. Depois
disso, o descumprimento da
do modelo sueco
função constitucional do STF obrigação de extraditá-lo sujei- de Mauricio Rojas
poderia esgotar-se no reconhe- taria o País a graves conse-
cimento de que, de acordo com a quências. Em primeiro lugar,
decisão da Justiça italiana, trata- levaria a Itália a denunciar o
se de crimes comuns, que au- tratado celebrado com o Brasil,
torizam a extradição, isto é, ruptura diplomática com possível
acolher a decisão judiciária repercussão sobre outros in-
italiana e não ignorá-la, porque o teresses dos dois países; e são
STF não pode assumir o papel de inimagináveis as represálias
órgão revisor das decisões pro- internacionais contra o Brasil pelo
latadas em última instância pela eventual descumprimento de
Justiça italiana e tentar modificá- tratado livremente celebrado. Os
las, o que caracterizaria inter- demais países que mantêm
venção indevida nas instituições tratados com o Brasil poderiam
soberanas de um país amigo. Foi colocar em dúvida o cumpri- R$ 15,00
exatamente o que afirmou a Min. mento futuro das obrigações
Ellen Grace, lembrando a neces- assumidas por parte deste e
sidade de respeito às soberanias tomar a iniciativa de revogar seus
internacionais: não podemos tratados ou não renová-los no Esse livro mostra o que
revisar os atos judiciários de vencimento, quando a prazo aconteceu com o modelo de
outros Estados, disse ela. Para determinado. A Convenção de
comprovar o acerto de tal asser- Viena sobre o Direito dos Tra- welfare state implantado
tiva, basta imaginar-se a situação tados, de 27 de janeiro de 1980, naquele país. Originalmente
inversa: admitiríamos, sem drás- viria em apoio às represálias: a socialista, Rojas assistiu à
tica reação, que algum tribunal violação substancial de um
estrangeiro quisesse rever deci- tratado bilateral por uma das debacle do famoso modelo sueco
sões de nosso Poder Judiciário? partes autoriza a outra parte a da economia do bem-estar e às
Em suma, os crimes pelos invocar a violação como causa
quais foi condenado o extradi- alterações que se sucederam,
de extinção ou suspensão da
tando são de natureza comum, execução do tratado (art. 60). desmascarando a derradeira
como reconheceu a Justiça ita- E esta Convenção, que equivale utopia da esquerda no mundo.
liana, única competente para a um tratado, foi assinada pelo
julgá-los. Se houve erro ou in- Brasil (inspirada no pacta sunt
justiça nessa decisão, pode ele servanda dos romanos) e dispõe Esta e mais 80 obras
pleitear, lá na Itália, a revisão do que todo tratado em vigor obriga
julgado; não no Brasil. as partes e deve ser cumprido estão à venda no
por elas de boa-fé (art. 26). Além Instituto Liberal
A EXECUÇÃO DA MEDIDA do mais, como o Tratado passou
a integrar a ordem jurídica in-
Ao contrário do que afirmou o terna, a valer como lei, seu des-
Min. Joaquim Barbosa em seu cumprimento pelo Presidente da
voto, acompanhado por alguns República poderia ser carac-
colegas, o Presidente da República terizado como crime de preva-
não tem poder discricionário ricação: retardar ou deixar de
relativamente a executar ou não praticar, indevidamente, ato de
a extradição. Está obrigado a ofício, ... para satisfazer interesse Peça pelo site:
determiná-la, de acordo com o ou sentimento pessoal (Código www.institutoliberal.org.br
Tratado de Extradição firmado Penal, art. 319).
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Livros
oucos defendem tanto a li- papel-moeda. Thomas Jefferson e bém. Os políticos precisavam
P berdade quanto Ron Paul, e Thomas Paine consideravam-no um apenas sonhar com inúmeros
uma de suas principais bandeiras inimigo das liberdades individuais. projetos ambiciosos, já que a
é a extinção do Fed, o Banco A própria origem do Fed inflação poderia ser usada como
Central americano. Em End the aponta nessa direção: um grupo fonte de recursos. A analogia de
Fed, os argumentos morais e de poderosos banqueiros, aliado Ron Paul é com um adolescente
econômicos contra essa máquina ao governo, decidiu criar um irresponsável com uma linha
de inflação merecem profunda Banco Central para atuar como ilimitada de crédito, e imune ao
reflexão. O Fed é um agente le- emprestador de última instância. império da lei. Isso seria o governo
galizado de falsificação de moeda, Em outras palavras, agora seria com um Banco Central a seu
mas poucos aceitam questionar a possível privatizar os lucros e dispor. Enquanto as impressoras
necessidade de sua existência. Ron socializar os prejuízos. A política de papel-moeda estiverem à
Paul vai direto ao ponto, sem medo disposição dos governos, elas
de mexer com poderosos grupos serão usadas para todo tipo de
de interesse. abuso.
O grande poder do Fed vem Mesmo alguns defensores do
de um fato simples: ele tem ca- livre-mercado acham que o
pacidade de criar nova moeda do monopólio do governo sobre a
nada. Esse é um poder de criar moeda é uma necessidade. Mas
ilusões, de postergar ajustes a taxa de juros não deixa de ser
necessários, de hipotecar o fu- um preço, e um dos mais impor-
turo. O Fed tem o poder de criar tantes da economia: ele equilibra
bolhas, que inevitavelmente irão oferta e demanda por capital.
estourar. A criação de Bancos Como acreditar que um grupo de
Centrais sempre andou de mãos burocratas será capaz de planejar
dadas com o expansionismo a economia de cima para baixo?
estatal. As guerras foram fatores Essa é justamente a função do
fundamentais no seu surgimento, Fed ao definir as taxas de juros e
pois os governos não conseguiam controlar a emissão de moeda.
mais se financiar através de im- atual do Fed não deixa margem Por que pessoas inteligentes acre-
postos e emissão de dívida. O a dúvidas: os bilionários planos ditam que a prosperidade pode
imposto inflacionário, bem mais de resgate salvam os banqueiros ser criada através da simples ex-
sutil e disfarçado, foi a solução de Wall Street à custa dos pansão monetária?
encontrada. pagadores de impostos. Em Roberto Campos ajudou a
Alguns tomam como certa a contrapartida, o governo vai criar o Banco Central do Brasil,
necessidade de um Banco Cen- exigindo o aumento de controle mas parece ter se arrependido
tral, e consideram coisa de ma- sobre o setor financeiro, de- depois. Ele escreveu: “Concebido
luco defender sua extinção. En- cidindo até sobre os bônus dos como um Anjo Gabriel, o Bacen
tretanto, vários foram os econo- executivos. Um problema criado virou um Frankenstein”. Quando
mistas que compreenderam os pelo próprio Fed – a bolha perguntavam se ele era a favor da
perigos do monopólio da emissão especulativa – acaba gerando “independência” do Bacen, ele
de moeda nas mãos do governo. como “solução” mais poder no respondia: “Será que o monstro
O Prêmio Nobel Hayek, por exem- governo. deve existir?” Eis a questão.
plo, defendia um mercado de Ron Paul mostra como a exis-
moedas privadas. Os “pais tência do Fed serviu como loco-
motiva do crescimento do por Rodrigo Constantino
fundadores” dos Estados Unidos Economista e escritor
também eram céticos quanto ao governo em outras áreas, tam-
MAR
M /ABR
AR/A /MAIAI -- 2010
BR/M 2010 -- NNºº 50
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MAR/ABR/MAI - 2010 - Nº 50 27
MAR/ABR/MAI - 2010 - Nº 50 28