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Brasília, 2008
Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Secretária Executiva
Arlete Sampaio
O texto publicado nesta edição traz os resultados da avaliação do Projeto Agente Jovem realizada em 2007 pelo Núcleo de Pes-
quisas da Universidade Federal Fluminense (DataUff). Esse estudo utilizou como metodologia a comparação entre ex-bene-
ficiários e não beneficiários. Foram identificados impactos do projeto nas áreas de educação, trabalho e renda, comportamento
sexual e reprodutivo, violência, entre outras, além de traçar a relação com políticas e projetos sociais governamentais.
ISSN 1808-0758
CDD 330.981
CDU 304(81)
Maio de 2008
Patrus Ananias
Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
SUMÁRIO
I. Introdução 09
1. Plano amostral 12
2. Processo de amostragem 12
III. Resultados 13
2.1 Educação 19
2.7 Violência 46
IV. Conclusão 75
V. Bibliografia 77
O Projeto Agente Jovem foi criado em 1999 e, como todo projeto ou programa,
apresenta demandas de monitoramento e avaliação permanentes. É por meio dessas
práticas que se torna possível fazer mudanças que levem à política maior eficiência e
eficácia. Nesse sentido, ressaltamos a importância do Agente Jovem no contexto da
Proteção Social Básica e pontuamos que o presente estudo também foi muito impor-
tante para reestruturar o serviço socioeducativo para os jovens de 15 a 17 anos, o que
culminou com a modalidade Projovem Adolescente dentro do Programa Nacional
de Inclusão de Jovens. 1
Doutor em Ciências Sociais pela Universi-
dade Estadual do Rio de Janeiro e diretor
As discussões acerca da temática da “adolescência” sinalizam claramente a dificulda- adjunto do Núcleo de Pesquisas da Univer-
sidade Federal Fluminense (DataUff).
de em se definir de forma precisa o período que compreende essa fase da vida. Essa
dificuldade fundamenta-se na intensa mutação e transitoriedade que o caracterizam, 2
Mestre em Política Social pela Universida-
uma vez que sua variação está condicionada à cultura, história e sociedade a que o de Federal Fluminense e coordenador de
pesquisas do Núcleo de Pesquisas da Uni-
indivíduo pertence. Portanto, tratar do tema requer que sejam traçados parâmetros de
versidade Federal Fluminense (DataUff).
definição de uma faixa etária que por si só representa a idéia de transitoriedade entre
a vida infantil e a adulta, além de poder representar ou não uma crise e até mesmo a 3
Mestranda em Política Social pela Univer-
ruptura de valores vigentes em determinada sociedade (SPOSITO, 2003). sidade Federal Fluminense e coordenadora
do Núcleo de Pesquisas da Universidade
Federal Fluminense (DataUff).
Julgamos, portanto, importante fazer nesta introdução um comentário de que é exa-
tamente pelo caráter transitório que envolve o público beneficiado pelo projeto que
4
Doutor pela Universidade de Paris e diretor
do Núcleo de Pesquisas da Universidade
delimitou-se uma faixa etária para direcionamento das suas ações. Federal Fluminense (DataUff).
Os grupos focais ocorreram em cinco capitais (Belém - PA, Curitiba - PR, Rio de
Janeiro - RJ, Goiânia - GO e Porto Alegre - RS), uma de cada região. Em cada local
foram realizados quatro grupos focais: um com os pais dos jovens ex-beneficiários
do Projeto Agente Jovem; um com pais de jovens de 15 a 17 anos que nunca haviam
participado do projeto; outro com jovens ex-beneficiários; e outro com jovens que
nunca haviam participado do Agente Jovem, resultando um total de vinte grupos de
discussão no Brasil.
1. Plano amostral
Ficou também definido que a amostra seria feita em, no mínimo, 80 municípios, em
todos os estados brasileiros.
2. Processo de amostragem
A seleção dos municípios foi feita com probabilidade proporcional ao tamanho (PPT),
em que a medida de tamanho foi a população de jovens atendidos pelo projeto. As
A amostra controle, com cerca de 500 entrevistas, também foi proporcional ao tamanho
do público atendido em cada município. Definimos um mínimo de 10 entrevistas
por estado. No caso dessa amostra, para não termos um número inexpressivo de
entrevistas por cidade, fizemos a amostragem em um número menor (um total de
43 cidades e 512 entrevistas). A lista das cidades está no Anexo 2.
III. Resultados
No geral, os domicílios são compostos por quatro ou cinco pessoas – exceto em Be-
lém, em que encontramos uma variação que indica um número maior de membros
que compõem o núcleo familiar. Poucos jovens residiam com outros parentes que
não o pai e/ou a mãe. A maioria dos jovens se situava em domicílios com a presença
do pai e da mãe ou moravam somente com suas mães (há somente um caso de filhos
morando com o pai).
No que tange a cor ou raça dos ex-beneficiários predominam os pardos, seguidos dos
pretos e dos brancos (em percentuais praticamente iguais). Quando cotejamos esse
perfil de cor ou raça com o encontrado no Censo de 2000 para o conjunto da população
do Brasil vemos, como esperado em um projeto voltado para jovens em situação de
vulnerabilidade social, que os brancos estão sub-representados como beneficiários
(pois são 22,4% da amostra e 53,74% da população nacional). Os pardos e pretos
estão super-representados, na medida em que são respectivamente 46,6% e 22,5% na
amostra e 38,4% e 6,21% no país. Entre os não beneficiários, há uma proporção um
pouco maior de brancos; no entanto, repete-se a mesma lógica de sub-representação
desse grupo e de super-representação de pretos e pardos (o que se relaciona com a
predominância de jovens de classe D)5.
(Ex-beneficiário)
Ex-beneficiários
2%
Não
Sim
98%
(Não beneficiário)
Não beneficiários
1% 2%
Não
Sim
NS/NR
97%
6
Acórdão número 040/2004 - TCU
Chama atenção na caracterização dos domicílios o fato de que, nos dois grupos, mais
de 40% dos domicílios não sejam atendidos por rede pública de esgoto e, segundo
relatos dos pesquisadores que fizeram o recrutamento para os grupos focais ou que
aplicaram os questionários, os jovens que participaram da pesquisa estão vivendo em
moradias bastante precárias. A pavimentação dos bairros é ruim ou inexistente e a
iluminação das ruas, quando existe, é de má qualidade.
A maioria dos ex-beneficiários é oriunda de famílias com renda entre um e três sa-
lários mínimos. Se somarmos esses com aqueles que estão localizados em famílias
Encontramos, ainda, uma diferença entre os responsáveis pelos domicílios dos não
beneficiários, que são um pouco mais escolarizados do que os dos ex-beneficiários.
Essa diferença pode ser observada, principalmente, no ensino médio completo ou
incompleto.
Mais de 86% dos jovens apontam a mãe ou o pai como responsáveis principais. De-
vemos, no entanto, destacar que os jovens de ambos os grupos se referem prioritaria-
mente às mães (cerca de 73%) nesse papel. Os avós também são citados em proporção
significativa (cerca de 7%), o que mostra que eles possuem papel importante também
na criação dos netos.
2.1 Educação
A cada ano perdido pela criança ou adolescente abre-se uma lacuna cada vez mais
difícil de ser preenchida, e sem intervenções nesse quadro vai se perpetuando de ge-
ração para geração. O ciclo vicioso vai se propagando. Esse fato pode ser comprovado
não só pelos estudos de Barros, Henriques e Mendonça, como também pode ser
explicado pelo histórico escolar dos pais e responsáveis que participaram dos grupos
focais, assim como pela análise que segue.
Ex-beneficiários
Ingressou
Classe 1ª a 4ª 5ª a 8ª Ensino
NS Alfabetização no ensino Total
social série série médio
superior
Classe B 2,1% 17,0% 78,7% 2,1% 100,0%
Classe C 0,2% 1,4% 32,4% 66,1% 100,0%
Classe D 0,2% 0,3% 3,5% 43,4% 52,4% 0,2% 100,0%
Classe E 1,0% 11,2% 69,4% 18,4% 100,0%
Total 0,2% 0,2% 3,2% 40,4% 55,8% 0,2% 100,0%
Não beneficiários
Ingressou
Classe 1ª a 4ª 5ª a 8ª Ensino
NS Alfabetização no ensino Total
social série série médio
superior
Classe B 14,3% 28,6% 57,1% 100,0%
Classe C 0,5% 1,5% 38,3% 57,1% 2,6% 100,0%
Classe D 0,7% 8,3% 53,5% 37,5% 100,0%
Classe E 28,6% 66,7% 4,8% 100,0%
Total 0,4% 0,2% 6,6% 47,9% 43,9% 1,0% 100,0%
A Tabela 3 mostra que, como poderíamos esperar, a classe social tem grande relação
com a escolaridade nos dois grupos. Os jovens das classes B e C são os que mais
chegam ao ensino médio. A comparação entre os dois grupos mostra ainda que a
participação no projeto teve maior impacto entre os jovens das classes E e D. Isso
porque, entre os jovens da classe E que chegaram ao ensino médio, a comparação
entre o grupo de não beneficiários com o de ex-beneficiários mostra uma evolução
de exatos 200%. Já na classe D essa evolução é de 39,7%, enquanto para os jovens da
classe C é de 15,76% e de classe B é 37,8%.
Ao fazer uma análise por gênero podemos afirmar, à luz dos dados coletados, que as
expectativas de escolarização das mulheres são mais elevadas do que as dos homens
nos dois grupos. Enquanto no grupo de ex-beneficiários 65,6% dos homens preten-
dem ingressar no ensino superior, para as mulheres esse percentual é de 77,1%. Já
entre os não beneficiários, esses índices são de 68,8% e 72,7% respectivamente. Mais
uma vez, a distância entre os sexos é maior entre os ex-beneficiários do que entre os
não beneficiários. Isso parece, novamente, indicar que, no que tange a educação, o
projeto tem mais impacto sobre jovens do sexo feminino.
A opinião dos jovens entrevistados sobre a importância dos estudos, quando cruzada
com classe social segundo o Critério Brasil, possibilita concluir que há uma relação
clara entre essas variáveis, ou seja: quanto mais elevada a classe social, maior o per-
centual dos que respondem que estudar é muito importante, embora haja pouca
variação nos que respondem que é pouco ou nada importante. Mais uma vez, o pro-
jeto parece ter impactado mais os jovens de classe E (diferença percentual entre os
dois grupos da ordem de 47,2%) do que das outras classes, cuja diferença fica abaixo
desse percentual.
Nos dois grupos, as mulheres apontam em maior medida que os homens que estudar
é muito importante (no teste de hipótese com o grupo experimental χ2 = 35, mos-
trando a significância da diferença) e em menor medida que estudar é pouco ou nada
importante. Se considerarmos a resposta muito importante, veremos que a distância
entre os sexos, também aqui, é maior no grupo de ex-beneficiários do que no de não
beneficiários. Isso, mais uma vez, pode indicar que no campo da educação o projeto
tende a ter mais impacto sobre as jovens do que sobre os jovens.
Dessa forma, no que tange a inserção no mercado de trabalho, a maioria dos pais
ouvidos nos grupos focais têm emprego informal como vendedores autônomos, dia-
ristas ou simplesmente fazem “bicos”. Mas há vários casos de empregados formais e
poucos de servidores públicos. Estes, no entanto, ocupam cargos de baixa qualificação
profissional. Entre os jovens de ambos os grupos encontramos poucos exercendo
atividade de trabalho (em geral de baixa qualificação), mas quase a totalidade está a
procura de emprego.
Mais uma vez, quando se cruzam as variáveis sexo e idade em que começou a traba-
lhar, verificamos diferença entre os sexos. Há percentuais maiores de mulheres que
declararam nunca terem trabalhado do que de homens. Não há, porém, diferenças
significativas de sexo entre os dois grupos no que tange a idade de início do trabalho
ou ao percentual de homens e mulheres que já trabalharam.
Ex-beneficiários
(Ex-beneficiários)
2%
26%
Sim
Não
NS/NR
72%
(Não beneficiário)
Não beneficiários
4%
40%
Sim
Não
NS/NR
56%
Também não há diferenças significativas entre os dois grupos no que tange a situação
no mercado de trabalho, para além do fato do percentual de jovens que não trabalham
ser maior entre os não beneficiários (cerca de 9%). Podemos dizer que a situação dos
ex-beneficiários é ligeiramente mais positiva, na medida em que entre estes encon-
tramos um percentual menor de trabalhadores domésticos e um percentual maior
de empregados com carteira de trabalho.
Quanto à ultima série que o jovem completou com aprovação e se estava ou não
trabalhando em outubro de 2006, podemos afirmar que, embora não haja uma
correlação linear, em geral nos dois grupos (desconsiderando os casos em que a fre-
qüência absoluta é muito baixa), os jovens menos escolarizados são os que mais se
encontravam trabalhando no período.
Nos dois grupos, considerando as duas faixas de escolarização com maior freqüência
absoluta (5ª a 8ª série e ensino médio), vemos que o maior avanço no sistema formal
de ensino corresponde a uma posição um pouco melhor na renda oriunda do trabalho
em setembro de 2006.
Ex-beneficiários
Renda de trabalho
Última série completada com
aprovação
Não teve De 1 a 3 De 3 a 5 De 5 a 10
Até 1 s. m. NS/NR Total
renda s. m. s. m. s. m.
Continua
Não beneficiários
Renda de trabalho
Última série completada com
aprovação
Não teve De 1 a 3 De 3 a 5 De 5 a 10
Até 1 s. m. NS/NR Total
renda s. m. s. m. s. m.
Apenas um percentual de 17% tem emprego com carteira assinada. Entre os demais
que responderam estar trabalhando em 2006, 38,8% trabalham sem carteira assinada,
32,4%, fez/faz bicos, 7% trabalham por conta própria sem registro e 1,5% trabalham
por conta própria com registro. Ou seja, até mesmo entre os autônomos encontramos
um percentual bem maior de jovens que trabalham sem garantia nenhuma.
De acordo com a Tabela 7, podemos afirmar que não há uma correlação linear entre
a realização de cursos preparatórios e o acesso ao mercado de trabalho.
Os estudos sobre o tema da família e proteção social apontam, pelo menos, dois perío-
dos distintos em que o envolvimento da família tornou-se imprescindível para que
políticas sociais tivessem êxito. No primeiro momento (década de 30), a família serviu
de elemento para a institucionalização de um modelo que serviria de aporte para a ação
do Estado, em sentido amplo. As políticas de atenção à família visavam à construção
de um sentimento de patriotismo e proximidade do Estado com a população.
Diante de tal reflexão, é importante ressaltar que verificamos nos grupos focais pouca
valorização de relações de amizade e supervalorização das relações intrafamiliares.
A família aparece para os jovens como ponto de apoio, em geral para resolução dos
problemas cotidianos. Confrontando esses dados com o estudo quantitativo verifi-
camos outro possível resultado positivo do projeto. Os ex-beneficiários têm no geral
um melhor relacionamento com suas famílias. A soma das variáveis regular, ruim
e péssimo – quando solicitados a classificar o relacionamento com a família – atinge
11,2% entre esses e 15,3% entre os não beneficiários.
A classe social também tem relação direta com a percepção do entrevistado acerca do
seu relacionamento familiar. Nos dois grupos, os jovens das classes B e C apontam
em maior percentual a existência de um ótimo relacionamento com a família.
Ex-beneficiários
Relacionamento familiar
Classificação
socioeconômica Muito bom Bom Regular Ruim Péssimo NS/NR Total
Não beneficiários
Relacionamento familiar
Classificação
socioeconômica Muito bom Bom Regular Ruim Péssimo NS/NR Total
A visão dos pais sobre seus filhos é, na maior parte das vezes, positiva: sentem orgulho
pelas suas qualidades e atributos pessoais. Por outro lado, identifica-se também uma
percepção por vezes moralista das condutas e do comportamento dos jovens, o que
em alguns casos é reiterado por estes. As regras de trabalho, estudo e bom compor-
tamento são priorizadas no discurso, em oposição às irresponsabilidades, condutas
perigosas ou que indicam uma relação com o entorno perigoso.
Ao serem perguntados sobre a qualidade de suas vidas à época, tanto nos grupos de
jovens quanto no de responsáveis nota-se, em geral, uma contradição. Eles manifes-
tam insatisfação e demandas que estão diretamente relacionadas à insegurança social
e norteadas pelas condições de trabalho, educação, moradia e violência.
Nos dois grupos, quando há violência em casa, o principal agressor é o pai (31%). De
fato, como poderíamos esperar, não há diferenças significativas entre os agressores mais
freqüentes nos dois grupos (respectivamente o pai, o irmão, a mãe e o padrasto).
O risco sempre aparece como uma das questões centrais da vida (GUIMARÃES,
2004). Grande parte dos responsáveis deixa transparecer a preocupação constante
com a entrada dos filhos no circuito das drogas, no consumo ou no tráfico. Poucos
jovens relatam experiências de envolvimento ou quase envolvimento com atividades
ilícitas, mas boa parte conhece outros jovens que trilharam tais caminhos. Nessa dire-
ção, tanto responsáveis quanto jovens apontam as relações “fora” do núcleo familiar
como “más influências” que levam os jovens à violência.
Nos lugares onde a violência é sabidamente muito maior, como no Rio de Janeiro,
nota-se um reconhecimento de outros atores que influenciam e reforçam essa adesão.
Principalmente no grupo de responsáveis, a mídia, a elite e o governo são culpabi-
lizados pela busca dos adolescentes por alternativas ilícitas de sobrevivência e satisfação
de necessidades de consumo imediato.
Os grupos focais apontam, mais uma vez, para a falência da instituição policial. A
polícia, como é sabido, pode causar mais temor do que os bandidos. Tanto os jovens
quanto os pais de jovens apontam isso. Em alguns locais, bandidos e polícia parti-
lham um binômio descritivo da violência. Mais especificamente no Rio de Janeiro,
quando a violência é citada, bandidos e polícia estão na maioria das vezes presentes,
podendo apenas mudar a hierarquia de maior peso ou responsabilidade; ora o pior é
o bandido, ora é a polícia.
Nesse sentido o Projeto Agente Jovem apresentou alguns resultados que serão dis-
cutidos a seguir. No que tange as escolhas das amizades, podemos afirmar à luz dos
dados que não existe diferença significativa entre os jovens não beneficiários e os
ex-beneficiários. O índice de preconceito é mais alto contra aqueles que estão ou já
estiveram envolvidos com ilícitos, ou seja: os traficantes (cerca de 20%), os mem-
bros de gangues (cerca de 18%), os viciados em drogas (cerca de 14%), os garotos
e garotas de programa (cerca de 9%) e os que já estiveram presos (cerca de 8%). O
preconceito contra os negros é praticamente inexistente, enquanto os homossexuais,
as pessoas que bebem demais, os fanáticos religiosos e as pessoas ricas foram citadas
em percentuais não desprezíveis.
7
Vale ressaltar que nada menos que
No que se refere ao conhecimento de instâncias de participação e cidadania, identifi- 41,1% dos ex-beneficiários que haviam
camos mais um possível efeito positivo do projeto. Os ex-beneficiários, em proporção participado de um ou mais desses grupos
e associações afirmaram que a passagem
bem maior que os não beneficiários, sabem da existência de conselhos de direitos pelo projeto não estimulou sua participa-
voltados para os jovens no município em que residem. ção em tais grupos.
(Ex-beneficiário)
Ex-beneficiários
3%
36%
Sim
Não
NS/NR
61%
(Não beneficiário)
Não beneficiários
10%
22%
Sim
Não
NS/NR
68%
As perguntas sobre hábitos de leitura apontam que, apesar dos dois grupos não declara-
rem ter uma atividade de leitura mais sistemática e contínua, os ex-beneficiários lêem
um pouco mais que os não beneficiários, sejam jornais, revistas e, em menor medida,
livros. Os coeficientes de correlação entre os grupos experimental e controle são
superiores a 0,95, mostrando que não há diferença significante nos diversos itens.
Analisando item por item, podemos afirmar que a leitura de livros é citada em maior
proporção do que de jornais e revistas. Dos entrevistados, 77,5% lêem livros, sendo que
a maioria dos que lêem está entre os que lêem uma vez por mês ou menos (34,6%) e
o segundo maior percentual é dos que lêem de duas a quatro vezes por mês (17,8%).
As revistas são citadas em segundo lugar como as mais lidas e depois os jornais, mas
sempre a variável “uma vez por mês ou menos” é a mais freqüente.
A primeira relação sexual para jovens de camadas populares ocorre sob impacto da
rede de sociabilidade em que eles se encontram inseridos, adquirindo significados
muitas vezes questionáveis se contrapostos aos valores e costumes vigentes na socie-
dade brasileira. Por exemplo, para jovens que moram em comunidades cujo tráfico
é predominante, ser a mulher do traficante não só significa a passagem para a vida
adulta como também é sinônimo de status. Os espaços de lazer geralmente são os
determinantes da decisão de iniciação sexual tanto para os jovens do sexo feminino
como masculino.
Ex-beneficiários
(Ex-beneficiários)
3% 1%
Sim
Não
NS/NR
96%
(Não beneficiário)
Não beneficiários
7% 1%
Sim
Não
NS/NR
92%
A maioria dos jovens utiliza, atualmente, métodos de contracepção. Mais uma vez,
os ex-beneficiários, apresentam percentual um pouco maior (menos de 4 pontos
percentuais) de utilização.
Ex-beneficiários
(Ex-beneficiários)
1% 1%
Sim
Não
NS/NR
98%
(Não beneficiários)
Não beneficiários
4% 1%
Sim
Não
NS/NR
95%
(Ex-beneficiários)
Ex-beneficiários
1% 1%
Sim
Não
NS/NR
98%
(Não beneficiários)
Não beneficiários
4% 1%
Sim
Não
NS/NR
95%
(Ex-beneficiários)
Ex-beneficiários
0%
Sim
32% Não
NS/NR
68%
(Não beneficiário)
Não beneficiários
0%
35%
Sim
Não
NS/NR
65%
Nessa variável não encontramos diferenças entre os dois grupos. No entanto, chama
atenção o fato de que cerca de um quarto dos jovens não tenham usado preservativo
em sua iniciação sexual.
No que tange o consumo de bebidas alcoólicas, por sua vez, o consumo é um pouco
maior entre os ex-beneficiários (Qui-quadrado = 4,57 significante já que o valor
crítico para um grau de liberdade é 3,57).
Embora a maconha seja a droga mais utilizada entre aquelas listadas no questionário
aplicado, não há diferenças significativas entre os dois grupos no que tange os que
nunca a usaram. Deve-se registrar, porém, que os ex-beneficiários utilizam atualmente
essa droga em proporção um pouco menor que os não beneficiários.
Não há diferenças significativas entre os dois grupos no que tange os que nunca usaram
cocaína. No entanto, também aqui se deve registrar que os ex-beneficiários utilizam
atualmente essa droga em proporção um pouco menor que os não beneficiários e,
ainda, a baixa proporção de jovens que declaram usar esse tipo de droga.
2.7 Violência
Ex-beneficiários
(Ex-beneficiário)
3%
23%
Sim
Não
NS/NR
74%
Não
(Não beneficiários
beneficiário)
2%
21%
Sim
Não
NS/NR
77%
Para que pudéssemos perceber se houve impacto do projeto, foi necessário destacar
o ano de 2006, ano em que os ex-beneficiários entrevistados já haviam deixado o
projeto. Vemos que ele mostra seus resultados, na medida em que agora o percen-
tual de ex-beneficiários envolvidos em atos de violência passa a ser menor do que o
de não beneficiários (os ex-beneficiários, no entanto, permanecem com maior peso
percentual no uso de arma branca e na ameaça a outrem).
Nos tabelas a seguir temos a distribuição por sexo, na qual constatamos que as medidas
socioeducativas não privativas de liberdade atingem mais os jovens do sexo masculino
de ambos os grupos (χ2 = 7.5 para o grupo de ex-beneficiários, ou seja, a diferença
verificada é significativa estatisticamente).
• Teatro;
•Oficina de grafite;
•Palestras (sic) sobre diversos temas; os mais citados foram meio ambiente
(“a gente falou até sobre o espaço geográfico da água, um monte de coisas”),
saúde, sexualidade, DSTs, prevenção às drogas, convivência familiar, infor-
mações referentes à preparação profissional, como se comportar socialmente
(“higiene, falar de lavar as mãos antes de merendar, sobre nutrição”), “aula
de cidadania”;
•Oficinas de dança;
•Atividades de artesanato;
Os jovens, de uma forma geral, elogiaram as atividades realizadas e suas condições
de realização. Podemos afirmar que essa avaliação foi positiva entre a grande maioria
dos egressos e também dos responsáveis por eles, porém com nuances diferenciadas
entre as capitais pesquisadas.
Vale ressaltar que o número de jovens encontrados na pesquisa que permaneceu menos
de 12 meses no projeto é muito maior do que o indicado acima. No entanto, somente
responderam ao questionário os jovens que permaneceram como beneficiários por
pelo menos nove meses.
167 40 5 212
9 a 11 meses
10,1% 2,4% 0,3% 12,9%
469 93 0 562
12 meses
28,5% 5,7% 0,0% 34,1%
608 118 2 728
13 a 24 meses
36,9% 7,2% 0,1% 44,2%
122 22 0 144
25 meses ou mais
7,4% 1,3% 0,0% 8,7%
1366 273 7 1646
Total
83,0% 16,6% 0,4% 100,0%
Cinqüenta e dois por cento dos ex-beneficiários afirmam que o projeto funcionava
cinco dias por semana. No entanto, um significativo número de beneficiários fre-
qüentava o projeto por três e quatro dias (cerca de 41%).
A Tabela 29 demonstra que o tempo de permanência no projeto tem uma relação direta
com a opinião dos jovens sobre a política, na medida em que os ex-beneficiários que
ficavam mais de 12 horas semanais no projeto representam maior proporção entre
os que reconhecem a influência da política na vida dos jovens.
Embora a análise dos grupos focais, tanto com ex-beneficiários como com não bene-
ficiários, aponte para uma total descrença na política e até mesmo uma visão negativa
do regime democrático - expressa na afirmação de que votar não adianta porque os
políticos não resolvem nada -, os ex-beneficiários que ficavam mais de 12 horas se-
manais no projeto apontam em maior medida que após o Agente Jovem passaram a
ter maior interesse por política.
A tabela a seguir mostra que a atividade mais realizada pelos ex-beneficiários no Agente
Jovem era assistir a aulas ou palestras (o que era feito por quase 99% dos entrevistados).
Atividades esportivas e passeios também eram muito realizados (chegando ambos à casa
dos 80%). Atividades com as comunidades, que fazem parte da proposta pedagógica
do projeto, somente foram realizadas por 71,4% dos jovens. Por sua vez, cursos de
informática e outros cursos de capacitação somente foram ofertados a pouco mais
de 25% dos entrevistados. Embora não previsto no projeto, 17% dos ex-beneficiários
realizaram atividades de estágio.
Por questões metodológicas optamos por agrupar o número de atividades que eram
oferecidas a cada jovem e atribuir categorias (qualidade péssima, ruim, regular,
boa, ótima e excelente). Entendemos como qualidade péssima quando ao jovem era
oferecida somente uma ou duas atividades, qualidade ruim quando eram oferecidas
três ou quatro atividades, qualidade regular quando eram oferecidas cinco atividades,
qualidade boa quando eram oferecidas seis ou sete atividades, qualidade ótima quando
aos jovens eram oferecidas oito atividades e qualidade excelente quando eram oferecidas
nove atividades.
Nesse sentido, vemos que somente cerca de 8% dos jovens participaram de projetos
cuja quantidade de atividades era passível de ser considerada ótima ou excelente. Já
os que tiveram participação em projetos com qualidade ruim ou péssima somam
13,7% do total. A maior concentração, porém, encontra-se nos ex-beneficiários que
participaram de projetos com qualidade boa (42,6%), embora seja elevado o percentual
dos projetos de qualidade regular (35,9%).
A maioria dos ex-beneficiários (53,4%) afirma que ficavam com o recurso transferido.
No entanto, 38,7% dos jovens deixavam parte desse recurso com os pais ou respon-
sáveis e 7,5% declararam que todo o dinheiro ficava com os pais ou responsáveis.
O recurso transferido era gasto em primeiro lugar com alimentos para a casa e em
segundo lugar com roupas e calçados.
Vale ressaltar que a grande maioria dos ex-beneficiários (sempre mais de 90%) recebeu
informações acerca dos temas indicados na proposta pedagógica (saúde, sexualidade,
cidadania e direitos humanos, meio ambiente e uso de drogas).
O número de horas por semana que o egresso passava no projeto leva a diferenças no
que tange a: 1) perspectivas educacionais ampliadas e maior afirmação da importân-
cia de estudar; 2) maior participação em grêmios estudantis, partidos políticos (em
menor escala), grupos de igrejas, grupos culturais/musicais e grupos esportivos; 3)
maior conhecimento da existência dos conselhos de representação e dos programas e
projetos sociais voltados para sua faixa etária; 4) maior reconhecimento da importân-
cia da política para a vida dos jovens e da capacidade do jovem influenciar o campo
da política; 5) maior freqüência de leitura de livros e revistas; 6) menor consumo da
droga mais utilizada pelos ex-beneficiários - a maconha e 7) aumento do desejo de
chegar à universidade.
Quanto à bolsa, mais de 50% dos jovens ficavam com o recurso transferido e quase
40% repassavam parte dele para os responsáveis. No entanto, 76% dos ex-beneficiários
auxiliavam o sustento da família com a bolsa. Exatamente por isso, cerca de 40% dos
ex-beneficiários apontam que em primeiro lugar esse dinheiro era gasto com a compra
de alimentos para a casa. Já as atividades de lazer eram o gasto principal de somente
1,5% desses jovens, ficando atrás mesmo das contas de água, luz e gás (5,7%).
A grande maioria dos ex-beneficiários aponta que teve mais vontade de estudar e
melhorou seus rendimentos escolares após o projeto. Quanto ao desempenho es-
colar, 83,2% declaram que ele melhorou depois da participação no Agente Jovem.
Outro impacto do projeto apontado pelos jovens na sua vida escolar foi o aumento
da expectativa de chegar ao ensino superior (80%).
A atitude particularista atribuída à política, tanto por parte de pais de egressos quanto de
não egressos, se reproduz em manifestações sobre a ausência desses políticos na ajuda
individual: “Pra mim ele nunca fez nada”. Ou a reclamação de um problema particular
para o qual se buscou o político e não se obteve resposta. “Se dependesse dele pra pagar
pra mim, o meu marido morria”. Ou, ao contrário, “ele estava lá quando eu precisei”.
Quanto à política partidária e à organização política nacional, elas são apontadas criti-
camente. Poucos responsáveis e jovens conversam sobre esse tema e poucos parecem
se interessar pelo assunto. Os índices de participação de responsáveis e jovens em
organizações partidárias são praticamente nulos.
A melhoria de tratamento no âmbito familiar após passar pelo Agente Jovem também
foi declarada por mais de 80% dos ex-beneficiários.
No que se refere aos impactos do projeto na vida profissional dos jovens, 35% deles
apontam que a passagem pelo Agente Jovem os auxiliou a conseguir trabalho.
A maioria dos ex-beneficiários aponta que sua qualidade de vida melhorou durante
o período em que participaram do projeto.
Em resumo:
Esses resultados atingem, porém, uma menor proporção de jovens quando as variáveis
envolvidas remetem à participação em grupos e associações, interesse pela política,
qualidade de vida após sair do projeto e obtenção de trabalho.
A relação com os instrutores e orientadores do projeto foi muito bem avaliada. So-
mente cerca de 5% dos ex-beneficiários apontam que não tiveram relacionamento
ótimo ou bom com os instrutores ou orientadores do Agente Jovem.
Avaliação (%)
Atividades
Ótima Boa Regular Ruim Péssimo NS/NR Total
Aulas e palestras 41 52,6 3,8 0,5 0,2 1,8 100
Atividades esportivas 34,2 57,5 4,8 0,6 0,2 2,7 100
Atividades culturais 32,1 58,9 4,7 0,6 0,2 3,6 100
Aulas de teatro, dança ou capoeira 36,5 54,4 5,5 0,7 0,1 2,9 100
Ida a passeios 43,2 49,5 2,9 0,6 0,1 3,4 100
Eventos ou atividades comunitárias 31,1 59,5 5,1 0,5 0,2 3,6 100
Curso de informatica 43,6 38 8,3 2 1,8 6,3 100
Outros cursos (capacitação p/ trabalho) 36,8 50,1 5,9 0,4 0 6,7 100
Outras atividades 42,6 27,8 1,9 0 1,9 25,9 100
De início é importante lembrar que sempre mais de 90% dos jovens receberam in-
formações e orientações sobre as temáticas básicas para a formação teórica prevista no
projeto. Podemos dizer que ter recebido orientações e informações relacionadas ao
tema da cidadania e direitos humanos levou os ex-beneficiários a terem maior inte-
resse associativo e comunitário, a serem mais ativos na busca de auxílio após sofrerem
violência, a terem maior interesse pela política e a reconhecem mais a importância da
política em suas vidas e da atuação dos jovens para a política.
Em virtude do que foi mencionado, é possível concluir que o Projeto Agente Jovem
proporcionou grandes melhorias aos seus beneficiários. O trabalho realizado com
os jovens alcançou, em maior ou menor escala, os objetivos propostos inicialmente,
DALT, S. Bolsa família: impacto dos programas de transferência de renda no cotidiano fa-
miliar. Universidade Federal Fluminense, 2008. Apresentado como Dissertação de Mestrado.
SINGER, P. A juventude como coorte: uma geração em tempos de crise social. In:
Abramo, H. W.; Branco, P. P. M (Orgs.). Retratos da juventude brasileira. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
Anexo 1
*O plano amostral corresponde à previsão do número de jovens a serem entrevistados na pesquisa. Desses, 1698
ex-beneficiários e 512 não beneficiários participaram efetivamente do estudo.
Volumes anteriores:
Nº. 01 A IMPORTÂNCIA DO BOLSA FAMÍLIA NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS
Rosa Maria Marques
Nº. 06 Health and Nutrition Day: A Nutritional Survey of Children Living in the Semi-arid area and
Land-reform settllements in Northeast Brazil
Versão revista em inglês do n°. 4