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Ao longo dos últimos anos, o Conselho Nacional de Justiça, órgão regulador e disciplinador do poder
Judiciário brasileiro, tem agido fortemente no sentido de modernizar os nossos tribunais.
O CNJ tem pressionado os Tribunais de Justiça a se informatizarem, tem estabelecido normas para o
registro de processos (o que parece ser uma medida meramente burocrática, mas com importantes
consequências para a possibilidade de acompanhamento de feitos judiciais) e tem definido metas para
tentar reduzir a pavorosa lentidão das cortes brasileiras.
Um dos objetivos que o CNJ definiu em 2008 para o ano de 2009 foi que os tribunais identificassem
processos autuados até 31 de dezembro de 2005 e tomassem providências para resolvê-los todos. É a
famosa Meta nº 2 do CNJ.
A própria formulação da meta indica que, ao menos para alguns tribunais, deve haver dificuldades
para identificar tais processos. Como essas cortes mais atrasadas não são adequadamente
informatizadas, seus processos são registrados apenas em papel, como no século 19, o que torna a
identificação dos atrasados algo problemático. Nesses tribunais, gasta-se dinheiro com automóveis
para desembargadores, remuneração de cargos de confiança para cupinchas diversos, contratação de
relações públicas, construção de prédios caros e assim por diante, e menos com a prestação
jurisdicional propriamente dita.
A meta do CNJ tampouco definiu um prazo para que os processos anteriores a 2006 fossem
finalizados, mas apenas que "providências" fossem tomadas para isso.
As metas abrangem explicitamente as Cortes superiores, entre elas o Supremo Tribunal Federal.
O fato de o presidente do CNJ ser o presidente do STF situa este último em situação especial em
relação ao cumprimento das metas gerais para o Judiciário. Todo mundo espera que o STF dê o
exemplo.
Em suas manifestações recentes, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, tem procurado
mostrar que o STF cumpriu a sua parte, que deu esse exemplo. Em particular, no que tange a Meta nº
2, Mendes tem declarado que o congestionamento do STF (ou seja, o número de processos abertos)
referente a processos autuados até 31 de dezembro de 2005 seria hoje de apenas 1.481 processos.
É claro que o presidente do STF não levanta pessoalmente as estatísticas do Tribunal. Para isso
existem estruturas internas, como departamentos administrativos e os gabinetes dos diversos ministros.
Não é verdade que o congestionamento pré-2006 do STF inclua apenas 1.481 processos.
Ministro 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total
Carlos Velloso 1 1 3 5
Gilmar Mendes 2 7 9 3 3 4 16 10 21 75
Joaquim Barbosa 46 89 113 150 117 282 344 569 904 2614
Nelson Jobim 1 1
Ricardo
8 16 16 17 23 67 98 172 195 612
Lewandowski
Sepúlveda Pertence 1 1
Total 188 344 428 557 641 1470 2088 3076 4440 13232
Grande parte do congestionamento é devido aos dois ministros mais lentos do Tribunal, Joaquim
Barbosa e Marco Aurélio.
Sozinhos, esses dois ministros respondem por 38% do total de processos atrasados.
(Quanto a Dias Toffoli, acabou de chegar ao Tribunal e herdou os processos que estavam com o ex-
ministro Menezes Direito, morto no ano passado, de modo que, por enquanto, atrasos não podem
realmente ser atribuídos a ele.)
2. Há 155 processos abertos antes de 2006 ainda oficialmente nas mãos de Menezes Direito.
Claramente, tais processos deveriam ter sido redistribuídos, mas não foram. Permanecem,
portanto, num limbo.