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aay rere VAMPIROS eed Pete Myertovets Poa ey Jornalista Responsivel Prin Penner] en eet Se eee a ees Teeter Eocene nares Satta eet eas so ote . peat ee: Ce ea sg cored eee ar en) ee ee cel eee icy See Dirctores s earn) Lsscaiicinie Pri ea eae erry Produsio oe Deanery SL . ran porir mana CEC cacti Serene enn Pecan Ua preteen Pee ‘Ava Ange Coen eres Cons a Cee ny a Peal eect ton Pa TH See eee) eee cece a ro sparring oer ny rrr neh nT mR abate Taterncoat ere arene Leeaniscat oatia Leacheevormneenerien e Comsetho Edorat ‘André Lima, Carlos Gongalves, Carlos. Seenied Seater ages ene et ee emmge Cee Lee es Doren anne Peer acsiy rptteerhrnastental ‘ wet eg Cerieemnennnn aT TN, eR Cretan een Sen ok ca A On ON eed arr ew eer erin ninair on AGRADECIMENTOS ; A Deus (without You I’m nothing...) A Princesa Mariana ¢ todo 0 povo das Terras de Aruanda, A Eddie Van Feu, gue desde o principio acreditou neste projeto, OO en eR Ree Re Renee Ore ate eee ete sua hora de almoco posando, servindo assim de modelo e insubstituivel inspiragéo para a. composigao de A E a todos os que contribuitam, seja para destruir ou incentivar este projeto. Vocés deram um certo gosto de aventura a Myertovers. ie Depois er ary fome. oO Senhor da Guess os trouxe nessa época, quando poderiam ter morrido de fome ou de frio. Ele nao se importava. Os gémeos eram idénticos como animais. Mau agouro. Palidos de fome... Deixou-os ali, para que o Homem ficasse com eles ou os matasse. O Homem acolheu aquelas coisas magras e artedias, de olhos pintados de gordura e cinza, O Homem cuidou deles, ou tentou. Os gémeos nunca Peace Themen matey (cn Com Ce CTD meee IET tribo, e sim, rondando-a desde quando chegaram roe renner tbe famintos. Bastou ner fo ere ete Frnt eevee to mee ireybeCce} ETO UE coment POCONen rte retin ESM DaETae ede te Bretces O Homem que também era o Senhor da Caga — ninguém cacava sem sua petmissao, sem lhe dar a melhor parte —, tolerou aquilo. Nao por amor ou estima, mas apenas por medo. Olhava para o Oeste, onde havia a Estrada Romana e via morte. Ele olhava dentro dos olhos dos gémeos, e enxetgava a mesma coisa. Ele fez o melhor que péde, e quando nao pode mais... Ele fez o que tinha de fazer. Isso deixou tudo mais insuportavel. O Homem nao entendia 0 que se passava ao seu redor. Nenhum deus poderia explicar. E os gémeos?... Eles recusavam a carne que era assada no fogo. Eles, afinal, fizeram o que era de sua natureza, Como os animais que eram. Sumiram no pantano, desapareceram da tribo, expulsos, como era da vontade do Homem - que chamavam de Pai, mesmo sabendo que seu pai era o Senhor da Guerra, das lembrangas mais antigas. Trémulos de uma fome que nenhuma carne mais podia saciar (nao havia o que cacar, nao podiam partir e nao podiam ficar) quebraram o siléncio que havia entre eles, e que durava anos a fio: “Trmao...” — Disse ela, encolhendo-se mais. O cheiro de morte do pantano era doce como 0 cheito da Mae, a unica, a verdadeira. “Irma...” — Disse ele, rouco, baixo e trémulo. Se eles pensavam em alguma coisa, isso era um mistério. “Traz a fome, o Pai que nos abandona.” “Nao o chama de Pai. O Senhor da Guerra é 0 Pai. Agora ele é apenas dot.” “Traz o vento, o cheiro da caga que o Homem nos nega.” “Traz tua voz a ita que também é minha.” O siléncio voltou, e o vento quebrou-o, partindo galhos secos de arvores esqueléticas e assobiando nas pedras, e trouxe mais do que 0 cheiro da caga. Num maravilhoso desespero, eles sairam de dentro da escuridao da mata seca para a cegueira adorvel e terrivel da selvageria. E se o pai dizia que aquele gosto de sangue escorrendo garganta abaixo era um crime, isso s6 fazia a fome ser mais deliciosa. Quase mais do que sacia-la. O cheiro. Era cheiro de sangue. Conheciam-no de tantas vezes que mataram — Um crime a ser cometido, mais uma regra daquela tribo a set quebrada. O Homem dizia que a carne dos cavalos brancos nao deveria pertencer a eles, que aquele lindo animal branco e reluzente como gelo novo era apenas pata a fome do deus. Que importava quem era o deus? Os gémeos nunca conheceram uma tnica palavra sagrada. Para eles nao havia entao... Nada além do cheiro. Como ferro, nauseante, excitante. Impossivel ser indiferente. Nada disseram, nem um tnico olhar. O cheiro atravessou, como um perfume de cio, o fedor insuportavel do pantano. Sentiram um fino cheiro de terra umida, relinchos ecoando, reverberando na agua estagnada. Suas gargantas estavam secas e suas mos ficaram geladas. Idénticos. Os mesmos olhos, a mesma natureza. “O Pai nao nos da fogo, e nem nos deixa cacar, amarra nossos tornozelos com vinhas para nos prender. A linhagem do Pai nao é a nossa. Nao ha 0 que cagar. Vamos cacar 0 Pai.” “Nao o chama de Pai... Agora ele é carne.” O cavalo estava preso, entre pedras afiadas ¢ escuridao da caverna, a morada do deus que vinha com a noite eterna do inverno, O cavalo nao estava ferido, mas o Pai, que o havia deixado ali... Lste sim havia se ferido, seu cheito fazia o rastro no ar. O 6dio Coton aN Ee Neo eRCLUTSMa Code (eRe CCM ats on “QO cavalo do deu: — O gémeo apontou, enxergando com olhos fundos dentro da caverna, ao lado da irma. Ele nao sabia 0 quanto sempre estiveram perto dele e da tribo... Bry KOI Cale OMe eta OMe MrT emo le mci niccn me (ol oReernN) Pe Rennie Mace CCR Ta reece acto ore ate erence en Te cner ae ree erg fazia serem lenda, um pavor espreitando entre as arvores secas. “Se o deus tem fome de carne, entaio é como nds.” — Ele disse. Nos seus labios havia um esgar de fera. “N6s somos como o deus... “Um deus tao bom nao ficaria com raiva de dividir ley Cte TIL e Saas E agora... Lindo e terrfvel, eles se descobriam mais parecidos com aquele deus que era tantos e nado era nenhum; sedentos, e 0 sangue era dividido entre os gémeos, pela dor do nascimento, pela dor da fome e pela dogura da carne. O sangue que o deus dividia com eles era derramado sobre as pedras. O Pai escutou os gritos do cavalo desde antes do amanhecer. O medo, e apenas isso — e ele o conhecera no dia em que o Senhor da Guerra lhe havia entregado seus filhos para cuidar — nao o deixou ir saber 0 que estava acontecendo. Depois, siléncio... e o Homem estremeceu entre as peles em um arrepio de terror escutando risos alegres como de criangas. Nunca se havia escutado risos como aqueles. O Escravo dizia que eram deménios. O Homem duvidou. E quando o dia clareou em violeta pelo céu estitico, ele lembrou-se dessas palavras e teve certeza quando viu as ctias do monstro. “Tguais como animais, famintos como lobos... Nao conhecem o sagrado?” - Ele gritou, estalando o chicote. O cavalo estava morto havia muito, o sangue eta pouco nas pedras, assim como a carne nos ossos. O cavalo seria entregue ao sactificio. O deus queria sangue. As crias do monstro eram famintas e selvagens e parecidas com o animal que as pariu. Idénticos como animais. “Nao nos da comida. “... Nem fog: “Eu os deixo viver. Isso é tudo...” - Disse o Pai, que nunca:a fora pai dos gémeos. “Nunca foi...” “... Jamais sera.” Quando acabou, eles estavam saciados. Nio havia mais a negra fome com a qual o Homem queria maté-los. Na escuridio densa, carregada de cheiro de morte ainda vibrante de gritos, a alegria era sincera e desprovida de culpa, como 0 ato de um animal, e como tal, misturavam-se de forma que um nio sabia se a satisfacio daquela raiva era sua ou do outro, se o corpo de um era o do outro. Mais uma vez, como no utero da Mie, eles se abracaram, estreitos, sentindo-se apenas um. 0 da Mae - a a cada vez que 0 de amor. A escuridao da caverna. eau verdadeira, cuja carne tinh Os que vieram junto com a noite nao olharam para 0 que restou do corpo do Homem. Cheg: are ern receber 0 cavalo para Coe enti fe OMEN ey cavalo estava morto, osu en CRC O er limpos pelo chao. Seren ere) Elles mesmos eram ements pertenciam ao deus. Iam eee oe eeu Seen sua carne. i Oh, que filhos ingratos, eles lamentaram pelo animal de pélo tao branco que agora era Tb Become tL OneLy escuridao, que devoraram 0 coracao de seu cavalo. O [copester Cone ee icr en con entao, era 0 que deveria ser espetado nas lancas de ferro no alto das rochas. a Dae then Eles chamaram pelo Pai. Nao o Homem. Mas 0 Senhor da Guerra. O verdadeiro. E chamaram sem cessat, rugindo como feras, arrastados pela terra e pelo gelo afiado que cobria 0 chao. No final, estavam onde a tribo vivia. Os homens do deus haviam expulsado a todos e assassinado os vardes. Os cavalos mais belos foram mortos, pata aplacar o deus. Os outros cavalos foram levados para longe, deixados soltos pela estepe. Do bando que ali vivia, aos gémeos sé testou uma palavra, que ecoou nos labios secos de um daqueles homens estranhos: “Malditos.” “Animais.” - Outro disse, em furia. O cheiro deles era de couro e terra. Eram os homens da tribo, encontrariam as mulheres depois. Ainda choravam pelos filhos que eles mesmos haviam assassinado, e também de raiva, e lamentavam pelo branco cavalo que estava morto, como se este tivesse mais importancia do que a vida de qualquer um: “O deus quer sangue! Oh... Sangue pelo sangue do cavalo... Dor pela dor do cavalo! A cada grito do nosso cavalinho, o deus quer mil destes hereges... Idénticos como animais... Famintos como lobos, bem o disse o Senhor da Caga.” atc foram amarrados. “Nao derrama o sangue deles, irmao! Nao abrevia a dor que eles causam em dobre ao nosso cla! Maldito o Senhor da Guerra que ajudou © monstro a parir estas bestas! Maldito o dia que viu e&tas feras nascerem! Medo. Medo. Medo. ‘Tao apegados as suas vidas quanto qualquer animal, uma sensagao que comeg¢ava na sola dos pés ¢ subia como um arrepio, por todo 0 corpo frio de emogao. Tanto fazia os motivos, o sagrado nunca teve valor. Apenas a vida. Apenas a carne. Medo. “Faz destes animais 0 que bem entendes, que nao ha aqui ninguém por estes gémeos! Esmaga a cabeca destas serpentes que se deitam com 0 seu préprio sangue e fazem festins sobre a carne de quem os acolhe!” Medo. Medo. Medo. Desejo. Raiva. Jamais culpa. Eram apenas animais, e cediam a negros impulsos, vivendo tao somente 4 sombra do que era o homem. Esta sombra era a sombra da maldade. Eles nao gritaram. O siléncio gelou a alma dos homens, e depois ficaram chocados com o que a inércia dos gémeos patecia forca-los a fazer, repletos de algo maligno e selvagem que os invadiu, em que tocaram aquelas peles frias e rigidas de raiva. Siléncio. “O que sera deles agora?” “Que o mal que os acompanha zele por estes animais, entao. Deixa-os para mortrer.” “Que o inferno os abengoe. Pois o deus esta faminto. E tera apenas esta carne maldita, um erro cometido em dobro no ventre do monstro, para saciar sua fome.” Nio sabiam o que era o inferno, E nem o mal. O mal era o que lhes faziam, as estacas de madeira que um deles temperava no fogo, enquanto os outros se satisfaziam no corpo deles, que lhes inspirava ddio e nojo, e também um desejo sujo que contrariava tudo, 0 castigo pela heresia. O mal encarnou nos pares de mios, que os seguraram, no alarido de ordens, risos, uma alegria ptimitiva e selvagem, como nunca se viu depois daquela madrugada terrivel. E 0 coragao de tudo batia como um martelo, cada batida, afundando mais a estaca de madeira temperada a fogo. As estacas varavam os tornozelos dos gémeos, o som do martelo quase abafando os gritos, os risos quase abafando as batidas, e a madeira se enterrou em mais de um palmo no chao duro e congelado. Enquanto desfaleciam com a dor, agora que nao podiam defender-se, os homens, sim, estes tornaram-se animais, felizes como nunca, como fosse a alegria da comunhao com o sangrento deus que tinha fome de carne e violéncia. Comemoraram, riram, e enlouquecidos, partiram, cuspindo para tras, deixando apenas a palavra que sempre foi de todos, pata os gémeos: “Malditos.” E sobre eles pesou, densa como a madrugada, fria e acolhedora como a neve, uma sombra, os envolvendo no esquecimento que a dor causava... A sombra da maldade. aS IRN LMAO Cea Ea RTE ARCO TR | MERCURE LLCO RL ORRICK CLEC | ORE ITTY LER Cancao folclérica russa) Evitamos a Estrada Romana. Ha exércitos confiscando animais, armas de aco, levando as mulheres para servirem 4s legides, e nio apenas elas, se assim os varOes os agradarem. Estes conquistadores que nos chamam de barbaros nao diferem de nds tanto assim...a... Digo a meus soldados que é sorte que nao nos matam. Quando houverem conquistado estas terras, fario conosco como fazem com os cavalos feridos: varam-nos com langas, e deixam-nos para os corvos. Enquanto isso, eu continuo sendo chamado de Senhor da Guerra como eles, pois possuo um exército feroz, e desde o norte da Pérsia até as margens do Amur, em torno do Lago Salgado, eu possuo o respeito de todos. E a inveja, Ela me envaidece mais do que o orgulho de minhas vit6rias e das cabecas que cortei, das mulheres que forcei a catregar minha semente em seu ventre, quando devastamos as aldeias dos tartaros. O que causa esta ira é apenas um pdssaro, que enche de cor e som a minha tenda, Um lindo e negro Rouxinol que repousa sobre a minha mio direita, tao doce e tio perigoso quanto o falco do Rei Persa, que com prazer comeria meus olhos tal os corvos de Erevan. Mas este Rouxinol me devora com promessas... “Cumpre tuas promessas... Eu cumprirei as minhas.” Dentro desta tenda, 0 esctavo sou eu. “Eu te cobrirei de ouro. Canta, maldito Rouxinol, que enegrece o dia...” Ele nunca responde. DS LTO pee TKO ONE (03! Pen ememtetaece rect: 00 Tne Caer Reaper anit Den Ree Recrer ay elma H ) espadachins pelo dia ¢ pela noite F f. unicamente por meu Rouxinol / Poremakea nen rmtecc tae tt jurei jamais voltar a pisar, Meee GMM ssl teRCteys Romanos, abandonando um ORC nee hte met yg Ree eee “Bu te darei riquezas. Quebra o siléncio desta noite de solidao.” Quando implorei, o passato olhou-me através de olhos de violeta, da cor deste céu de fim de mundo, em anoiteceres quase etetnos. Seus olhos entardecem em laranja e dourado, debaixo do fogo. Pela primeira vez em muito tempo ele me responde: “Poderds me alegrar apenas com o animal que me trazes todos os dias. Nao quero ouro. Purpura e a rés sio a minha riqueza. Eu vivia com muito menos antes de chacinares 0 meu povo.” “Atiras isso na minha cara? Eu te cubro de ouro, de luxos, de escravos. Até duas reses por dia, se quiseres, até os touros sagrados...” “Uma somente basta. Eu nunca quis ouro... E nao me ameagas, ou estendo minhas asas... — Disse, negro e melodioso, 0 passaro, que fazia de mim seu ptisioneiro... — “E nunca mais me veras. Nao me deste sequer um nome. Deixa que eu tenha ao menos as riquezas que eu escolher. Guarda teu ouro para dar ao porteiro do inferno, quando morreres.”” Sorriu. Se nao soubesse como é capaz de dissimular, diria que talvez tenha uma alma. Partiremos antes de amanhecer, que ele deseja se afastar cada vez mais do deserto que tanto amava. Estendera suas asas negras sobre estes pantanos e planicies estéreis, tal a sombra delas fosse uma negra e acolhedora sombra de maldade... No entanto eu espero que cumpra as suas promessas, como cumpro as minhas, e me presenteie com a morte negra que bios... existe entre Os seus Meu Rouxinol abomina o dia tanto quanto minhas perguntas e minha dedicagao. “Traz meu carneiro.” “Nao ha mais carneiros.” “Entio entrega-me aquele touro que guardas para o banquete com o Romanos.” Todas as noites em que exige sangue, hesito em continuar. Penso em mata-lo, sinto-me um louco fazendo tudo o que ele quer. Sou um homem sem patria e sem orgulho, O Passaro que me trouxe tanta alegria, o doce Rouxinol que alegrava o meu palacio, desde que o arrastei pela areia, arrancando-o dos seus, quando era tao apenas um menino... agora traz agouro e medo. Eu poderia maté-lo. Tenho sete espadachins que me sao leais na vida e na morte. Jé apontei, em certo dia, uma espada para seu pescogo. O meu Rouxinol... Solavei... Era assim que o chamava antes de ter fugido de mim pela primeira e pela ultima vez... Cumpre tuas promessas que eu cumprirei as minhas, ele disse. Essa voz enche de felicidade 0 meu desespero. Ele nunca mais fugiu de mim. Um dos soldados traz 0 touro. F apenas por sorte que Solavei, o Rouxinol, contenta-se facilmente. E lindo e assustador o prazer de vé-lo fazer isso. Espero ansioso pelo dia em que, sem mais nenhum soldado, ou animal que lhe sirva de alimento, ele cumpra a promessa que me fez, e em troca que o permita ser havomecente CRO cenn in RCC Cenc! FE compartilhe comigo a celebragio amaldigoada deste Rene eater era ates Neste dia estaremos juntos mais do que quando o forcei RCo nee Onn eter n un ken cecerieme nr etd uma das favoritas ou favoritos de meu palacio. “Por ti cu abandono meu palicio ¢ tudo 0 que todos os homens desejam, em troca do que nenhum homem sonha em conquistar.” - Penso nas noites que dividirei (cow cRo Te me nce Oh, doce cheiro de morte que impregna 0 seu corpo, quando 0 aque¢o nas frias madrugadas... Como em meus pesadelos, a cada noite agora ele exige um homem para saciar sua ede, quando animais acabam, ¢ para me enlouquecer, 0 escolhido nunca sou eu. Agora somos eu, 0 Rouxinol e 0 ultimo dos espadachins. Os outros preferiram se matar, do que morrer nos dentes da fera. Este quer morrer lutando. A lamina rebrilha sob a luz do fogo, ¢ 0 fio de sua espada tio somente acaricia a pele de Solavei, nunca o ferindo. Bran Ao amanhecer, somos eu e cle. Nao me choco com 0 espetaculo de sua matanga. Ele se envolve na purpura e volta para a tenda antes do Sol surgir no horizonte. “Sera esta noite, meu Rouxinol?” Poa “Prometeu que quando eu fosse o ultimo, haveriamos de ter chegado aonde queria. Apenas nos dois...” “Sim. Apenas nds dois. Alegra-me. Traz-me presentes.” “Nao ha o que cacar!” oe EU eo Te hed cee Den Cosi kcecm pr Te Mec aac cent Ce) meu agtado. Entao eu te darei asas para estender sobre a noite ao meu lado. Para sempre.” Servil e obe i te, ponho os arreios no cavalo e cinjo a espada. Disparo pela estepe, nao sabendo por que raios o fago, que Solavei pode nao estar 4 minha espera quando voltar. | Nao. O Sol sera o seu sentinela 4 porta da tenda. Passo pelo acampamento romano e, afinal, os soldados interrompem minha passagem. Um General cansado e perplexo, palido, contraria tudo 0 que se costuma ver em um Senhor da Guerra. “Tens cuidado quando cruzares aquela arvore seca.” — Ele aponta, sua voz é um distante trovao. — “Nao te cobraremos nada, e vai em paz com teu cavalo e tua espada. Eu te oe que és um homem de coragem se seguires aquele rumo.” “Por que o dizes, General?” “Aquele é um campo de morte como nenhum homem desta legiao jamais presenciou. Restam apenas criancas mortas, dezenas delas, as cabecas quebradas contra as rochas, como lebres, mulheres suicidadas em torno delas...” “2? — Eu mesmo ja espalhei morte assim, e até pior, ando matei o povo de Solavei. — “E os homens: Nem meus soldados e nem mesmo eu queremos voltar aquela estepe. Os cavalos que aquela tribo criava estao todos esquartejados.” “E o que resta?” “Apenas dois animais, amarrados para morrer, rico senhor... Se seguires em frente, desvia a Oeste e nao olhes se gritarem por ti.” «& “Gritar?...” 4 et Todo um cla encontrou seu fim num unico dia. Mortes de tal forma cruéis que somente a loucura , ouum mal inominavel poderiam justificar isso. ily A estepe tem cheito de sangue, e por vezes € coberta de cadaveres de animais dilacerados, e pouco antes de anoitecer vejo que o romano nao mentiu sobre os dois animais deixados para morrer. Estao amarrados e se encolhem quando me véem. Nao sao animais. Nao estao amarrados. Os tornozelos foram varados para que morressem de fome aqui. Selvagens. Avancgam na minha garganta quando chego mais perto, descobrindo que um deles é uma moga. Meu cavalo se assusta. Sujos de sangue seco. Idénticos, pelos deuse: Eles sao idénticos como animais. Sao de outro cla. Nao sei o que fazem aqui, ou quem os deixou... ou o motivo disto... esto furiosos e aquietam-se quando acendo uma fogueira perto deles. Quando ergo a espada embainhada para bater em suas cabegas, levantam os olhos ao mesmo tempo, como soubessem que posso fazer isso para maté-los. Volto. Quase mato meu cavalo de cansaco, para trazé-los para a tenda de Solavei. Estou desesperado. Foi tudo 0 que encontrei, eu lhe digo. Sao dois. Idénticos. Presentes aos pares eu nunca lhe dei. “Deu-me aquelas algemas em torno de meus tornozelos, quando fez de mim teu escravo.” - O Rouxinol escarnece, sem ver os gémeos estranhos e selvagens que lhe dou de presente. “O que queria? Que te trouxesse um romano?” “Deve ter sangue menos azedo que o teu.” “Temos apenas o meu € 0 teu cavalo. A estepe é quase infinita.” “Eu estendo minhas asas e nunca mais me verds. Tu escolhes.” “Ao menos vem olhat 0 que te trouxe.” “Se nao me agradar?... “Eu os mato. Cravo as estacas novamente nos tornozelos deles e os deixo pata morrer em qualquer lugar.” “E traz-me um soldado em lugar deles: “A legiao toda, meu Rouxinol... Tudo para dividir contigo esta morte que nao é morte...” Ele olha sem expressao para as cabegas machucadas, 0 cabelo empapado de sangue fo Corecess “Magros... No) Ln Koi “... Vocé os machucou. Como fez comigo.” “Oh, Rouxinol...” SeAN ENE) essa mao imunda de mim! Eles me pertencem! “... O que pretendes? Trocar-me por ele: Rasgo tua garganta e te dou uma morte sem honra se te atreveres a fazer deles os teus passaros em Peron cnettco ga Solavei nunca falou dessa forma, com esta voz. Foi a do deménio aprisionado em seu interior. O Bebedor de Sangue. Ele derrete neve no fogo para livrar os gémeos do sangue e da terra. Eles acordam, mas nao o atacam. Somente olham para a mao totalmente branca de Solavei e para seus olhos de violeta. Um rosnado comega do fundo da garganta da moga e seu irmao a acompanha. Solavei apenas sorti e lambe a ferida atravessada nesses tornozelos finos e palidos. Eu o conhe¢o desde menino, desde antes de ter fugido de mim e retornado com esta sede mistetiosa... O Rouxinol brinca com sua caga, diverte-se, como fez com o espadachim tentando mata-lo. Eu olho, maravilhado. Ele se deita entre estas feras incertas, deixa-se tocar, cuida daquelas feridas, e acende-lhes de repente um siléncio profundo e completo que cala aquele rosnado, abranda o olhar de raiva dos gémeos. “Criangas... Sao apenas criangas...” Seu olhar é 0 de alguém que viveu mil anos. Ergo a espada para matar os gémeos. Gémeos nunca foram de bom agouro, quanto menos idénticos como animais. DIN CACO MIO SEER UHL Aterrorizado, chamo por velhos deuses que costumava acreditar quando jovem. Ele ri. Acolhe debaixo de suas asas os dois irmaos. Sacia-os com vinho e carne assada de gazela. DYe wer CMT Ce Coren Or Mn TM MCRD RCM TELS e ed com seu proprio corpo. “Oh, doces animais... F. hora de despertar... Despertem para a vida... Florescam como uma flor de fogo dentro da noite... Despertem...” — Ele chama docemente, acariciando aqueles corpos ambiguos com 0 seu proprio, entre as sedas ¢ as puirpuras. — Be RCo [RCL ES TMG Nees eee STC Cee em Que importa porque estavam abandonados... AV on URC (ey ean ran As asas de Solavei eram largas ¢ negras, sua voz era um canto perturbador do rouxinol que abandonara seu ninho e trouxera a serpente para devorar seus irmaos. Gritos curtos que nao sao de dor atravessam a noite. A fogueira la fora arde alta, os cavalos se agitam nas Pater é a Unica coisa na qual consigo ter fé. suas amarras, eu me agito, agarrado a esta que descubro... Sao apenas os gémeos quase mortos, desfalecidos de prazer ¢ de dor, nos bragos de Solavei, procurando por sua boca suja de sangue, para beijé-la, como eu sempre tive de fazé-lo a forca, e eles fazem apenas com dogura. “Despertem...” lO Rete ceke Om DiC Kemcn (a Nem n Ce MeltNy ele Reconnect TT facas cravassem-se neles. Antes que grite de horror, meus pés ficam presos no chao e minha mio fecha-se na lamina da espada. arene erttroretera ices Despreza toda a dedicagao cega que lhe presenteei fered toda minha vida. Esta jornada foi uma armadilha. Quem defender a minha vida, se entreguei meus soldados 4 morte ¢ dei-lhe poder para fazer de mim o que quiser? A morte esta bem 4 minha frente. Definitiva e sem honra. “O fogo me defendera! Afasta-te de mim, deménio!” “Sou teu passaro, desperto a inveja dos teus inimigos. Tua vaidade! “Niol” “Paga o preco desta vaidade! Nao sou agora tao belo quanto sempre, na gaiola de ouro em que me prendeste?” “Oh, sim... sim! Mas afasta-te!” “Eu cumprirei a minha promessa... Vem...” “Nao!” “Entao eu irei até ti, cumprir a minha promessa. Olha...” “Assim serao tuas asas quando anoiteceres nesta vida para despertar em outra.” “Sim.” Mas nao foi Solavei quem me mostrou suas asas. Foram as crias do monstro - que nao creio terem sido paridas de uma mulher — as duas bestas que deixei de abandonar para buscar caga menos maldita... Esta vaidade é que me mata. Oh, se eu nao houvesse... ‘Tanto que nao houvesse... Agora é tao tarde. Leva meu amor, Rouxinol... E tuas crias... que estas levem meu arrependimento. E o meu sangue. Galeria SOBRE A AUTORA pr Oe U No SUR et ermine ron Antes disso vocé nao sabia que na ver- Pete Cn Once cr marinh OTe Orn ree ns) Coa MereeC ha SRO RC OUTS eu sou de Belém do Para. Sim, aquele POOL Le Nena ste acts fiz bem mais do que a Mangé Booken, que foi meu primeiro trabalho em revis- Pen Cee cer te Ce crecretn primeiro passo, e ainda ao lado de Eddie Van Feu e da Equipe Frente!, também fiz Peer tater eater mmcr Ty Peres eat Uae ime (om Cal sola Colm oOo) hentai ao livro de anjos, do fanart a HQ original, com varios nomes, varios enre- lermero te tonee one tenet] mel Croce NV eeretaettaene ker eal eno en E que ele foi feito, desenhado e pintado Reem eit nce omen ceeToa imc Bes (one came oer oro um pouco mais sobre quem o fez. Without you, I'm nothing... Baroy ANON sDyesten) emorh Wayott sia Gaye escaia VAMPTROS MYERTOVETS Ga

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