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RÁDIO
A Pérola da Madeira
E
star constipado no Carna- Agualva, ficará na história como te são feitos por jovens já nascidos
val deu-nos a oportunida- um dos melhores actores e autor de nesta terra, o que é de saudar e
A orografia da Madeira é complexa e com muitas possi- de de poder “consumir” o bailinhos de Carnaval. No entanto, o louvar.
bilidades de se criarem canais inesperados quando a água Carnaval da Terceira em João Mendonça, de vez em quando
é demasiada e que não pode escoar pelos normais meios doses duplas, através do meu com- nos seus bailinhos, atira para o ar as Quinto - impressionante, quer cá
existentes. O povo da Madeira que foi capaz de fazer o putador. No primeiro dia vimos 12 palavras mais degradantes do nosso quer na Terceira, ver centenas de jo-
trabalho extraordinário das levadas, que são um monu- horas de bailinhos e no segundo dia dicionário. Para rir não precisamos vens a tocar em toda a qualidade de
mento histórico da arte do homem, em trazer e levar água foram oito horas de novos bailinhos usar tais palavrões. O João tem ex- instrumentos possíveis nos nossos
a toda a ilha, vai ser capaz agora de reconstruir o que foi e muita emoção. Doía-me os olhos e periência e talento bastante para evi- bailinhos. Lindo de se ver e lindo de
danificado. possívelmente atrasei a minha cura tar essas calinadas que não adiantam se ouvir.
Infelizmente a Madeira, ou outra terra qualquer, não pode em dois dias, mas valeu a pena. nada ao Carnaval, nem acrescentam
dar conveniente resposta, quando em cerca de 5 horas Ao mesmo tempo na California os beleza à história que se quer contar. Sexto - uma referência muito espe-
choveu um quinto das chuvas anuais na Ilha. Numa hora bailinhos percorriam os nossos sa- cial a todos aqueles que quiseram
choveu o equivalente a um mês de muita chuva. Já como lões, enchendo-os de gente alegre e Terceiro - o tratamento que o João transmitir os bailinhos da Terceira
alguém disse, se estas chuvadas terríveis tivessem ocor- feliz, esquecendo por momentos as Mendonça fez no baile que escreveu usando as novas tecnologias e a In-
rido à noite, teria sido uma catástrofe que nem podemos agruras da vida dos nossos dias de chamado “Os Palhaços”, foi mui- ternet - Via Oceânica, Azorestv, Vi-
imaginar. crise. to infeliz, num curto texto sobre o tec e possívelmente outras, e mais as
O povo da Madeira, tal como o povo da Agualva, e em Gostaria no entanto de fazer eco de casamento gay, que é um problema televisões públicas como a RTP Aço-
geral todo o povo português, não deixará que esta tragédia alguns casos que deram nas vistas. complexo e que ele gozou em termos res e RTP Internacional (em muito
os demova de ter um futuro como merecem. As desgraças a roçar a boçalidade. Fazer Carnaval menor escala). Tiro-lhes o chapéu.
causam sempre unidade. Primeiro - o tratamento em muitos nos dias de hoje requer mais inteli-
A nossa solidariedade a todas as vítimas. bailinhos dos homossexuais (“ma- gência de quem escreve do que nos Sétimo - é preciso compreender-se
ricas”) foi antiquado, com falta de tempos de outrora. Foi penoso ouvir- as despesas que os bailinhos têm e
A nossa repulsa vai para aqueles jornalistas que no dia verdade e muita banalidade em que se tanta banalidade. ajudá-los pagando entradas, mesmo
da tragédia, em vez de fazer notícia, andaram, à procura já ninguém acredita. Deu para rir a que não as peçam. Muito, dividido
de representantes da oposição política ao Governo Regio- muita gente, mas esses momentos Quarto - depois de ter visto 22 bai- por muitos, nada cabe a cada um.
nal da Madeira, com perguntas parvas e que não fizeram foram muito infelizes. Trataram os linhos da Terceira ficámos satisfei- Também de referir que o Carnaval é
sentido a quem tem um pouco de inteligência, como se a homossexuais, na maioria da vezes, tos por poder pensar que a maioria bom para muitas das nossas organi-
tragédia fosse um caso político. Um mau exemplo de jor- como gente que não se pode confiar, dos nossos bailinhos estão ao nível zações, que aproveitam a boa vonta-
nalismo. Uma vergonha em democracia. como gente que não é igual a todos nós. dos da Terceira e isso deixa-nos de dos seus amigos e associados para
josé avila feliz. Mais importante ainda é que fazerem e venderem excelentes filho-
Segundo - João Mendonça, da os nossos bailinhos maioritáriamen- ses e coscorões, de chorar por mais.
Tribuna da Saudade
Recordando o Mestre
Ferreira Moreno Faquenim
R
eza um ditado francês bobos que os divertiam, mas di- “Creio que ninguém sabia o seu Faquenim
que cada aldeia tem ferente era a sorte duns e doutros. verdadeiro nome, nem eu tão pedindo-lhe
um maluquinho. Em
A evolução dos costumes da so- pouco o soube. que pintasse o
português, diríamos
ciedade culta expulsou os bobos Conheci-o por vê-lo nas ruas da nome da firma
que cada um é para o que nasceu.
dos salões, mas não os dispensou cidade, e dizerem-me que era na frontaria do
Lembra-nos o velho adágio que
de médico, poeta e louco todos o povo, que continuou e continu- uma espécie de faz tudo, colo- Talho e fanta-
têm um pouco, e um provérbio ará certamente por muito tempo cando vidros nas janelas, pintan- siasse um boi
antigo avisa-nos que não há sábio ainda, a rir-se das suas misérias do portas e tabuletas, andando sobre a relva a
nem douto que de louco não te- com uma infantil e inconsciente de casa em casa e de oficina em pastar. Claro
nha um pouco. crueldade”. oficina, prestando pequenos ser- que Faquenim
Desde sempre e por toda a parte Apropriadas amostras temo-las, viços e vivendo assim à sorte e ao acedeu sem
C
há conhecimento de figuras po- por exemplo, no livrinho “Tipos Deus-dará”. demoras, mas
pulares, com certas característi- Minha Terra” (1927) de Frederi- omo descreveu Vascon- primeiro per-
cas, que nas localidades do seu co Lopes Júnior, mais conhecido celos, o Mestre Faque- guntou: “O se-
tempo, duma forma ou doutra, por João Ilhéu; no livro “Outros nim “era uma figura nhô qué o bou
deixaram vinculada a sua marca Tempos, Outras Gentes” (1978) anedótica, de aparência cum corrente
original e pessoal, quiçá bizarra de Cândido Pamplona Forjaz; e franzina e queixo anguloso, que ou sin corren-
na maioria dos casos. ainda através de “Filósofos da fazia rir onde quer que chegas- te?” O talhante
Luís da Silva Ribeiro (1882- Rua” (1984) de Augusto Gomes; se pelas graçolas proferidas. A habituado aos
1955), no prefácio a Tipos da Mi- e mais recentemente em “Histó- voz tinha um som semelhante ao gracejos, res-
nha Terra de João Ilhéu, anotou rias com Peripécias” (1999) de duma cana rachada, e ademais pondeu que isso
não pronunciava as últimas sí-
devidamente: “Todas as épocas Victor Rui Dores. ficava à conta
labas das palavras. As pessoas
têm os seus tipos das ruas e, não Estou a lembrar-me que foi há já dele. Faquenim
metiam-se com ele. A rapaziada
sei bem porquê, a meus olhos várias décadas atrás, no antigo prometeu, en-
atirava-lhe pedras e soltava pia-
pelo menos, eles imprimem às Café Tamar de San Jose (Cali- das p’ra o irritar. Ele ripostava
tão, representar
multidões que os perseguem com fórnia), em convívio com o jovial com palavrões e outros insultos uma pintura sem corrente. rando em boca desdentada, numa
risos e mofas uma feição particu- João Garoupa d’Água d’Alto (S. do seu jocoso vocabulário”. No dia seguinte, lá estava ele com cara ressequida e
lar até certo ponto característica. Miguel), que ouvi falar pela pri- as latinhas de tinta de baixa qua- enrugada, com o ar mais natural
É que parece-me descobrir certa meira vez àcerca duma figura tí- Passo agora a narrar uma picares- lidade, mais as brochas e pinceli- deste mundo e cheio de calma,
afinidade entre o tipo da rua com pica de nome Mestre Faquenim. ca aventura que, até certo ponto e nhos, empoleirado num escadote, retorquiu:
os seus ridículos, as suas manias, O que se segue, porém, é uma circunstâncias locais, trouxe-lhe a dar início aos desenhos. Ao fim “Hom’essa agora! Ê-me, ei in-
a sua filosofia, a sua indumentá- transcrição parcial do que escre- laivos de fama... de dias estava concluída a pintura tances não parguntei ó senhô se
ria, e a multidão em cujo seio se veu Bruno de Vasconcelos em Certa vez, um talhante estabe- das letras e do boi, sem corrente, qu’ia um bou sin
gerou. “Paz Cinzenta” (1979), recordan- lecido na Rua da Canada (Rua pastando num relvado. corrente? Pois o bou fugiu!”
Outrora os reis e os grandes se- do o popular Faquenim de Ponta Tavares Resendes), chamou o Sucedeu que choveu na noite a A fechar, recordo-me de ter co-
nhores tinham, como o povo, os Delgada. seguir e a água diluiu por com- nhecido um cachorro de muita
pleto as tintas, já de si estimação chamado FAKNIN.
bastante fracas. Toda a Pertencia a gente amiga da Ribei-
fachada ficou uns bor- ra Grande de antigamente. Mas,
rões de tinta escorrida, diga-se a verdade, o nome do
e a pintura do boi jun- cão em nada era sinónimo com
tamente com o relvado aqueloutro aparentado vocábulo
desapareceu, restando inglês!
apenas manchas esver-
deadas e pretas.
Estupefacto, o talhan-
te mandou chamar o
Faquenim exigindo
explicação. Este, com
um sorriso irónico aflo-
4 COLABORAÇÃO 1 de Março de 2010
Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mor-
talidade mundial de recém-nascidos, melhor que a média da UE. Fernando Dutra
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mun-
dial de tecnologia de transformadores.
Eu conheço um país que inventou e desenvolveu o melhor sistema A aniversariante, Estela Neves, com os seus cinco netos - Yolanda e Duarte Silveira, Mário Paulo Simas, Yvo-
mundial de pagamento de pré-pagos para telemóveis. ne Silveira e Edgar Simas
H
orrorizamo-nos: “Cre- pela web, chegando-me à caixa deles nos responde se nos aproxi- o marido foi dar a volta ao carro
do, que coisa tão por- de correio a cada três semanas, mamos com o tabuleiro, ousando e, portanto, o lugar já está ocu-
tuguesa…” – e com que “Ser português é: levar arroz sequer olhar para uma das cadei- pado. À noite vamos a um con-
isso nunca queremos de frango para a praia; guardar ras vazias? “Está ocupado.” certo no Coliseu, chegamos um
dizer mais nada senão: “De um as cuecas velhas para polir o car- Apetece virar a mesa. Apete- bocado em cima da hora, a maior
terceiro-mundismo atroz!” Nada ro; tirar a cera dos ouvidos com ce bater-lhes. Apetece fazer um parte dos lugares livres ficam por
a fazer: trazemos connosco isto a chave do carro; gastar uma for- chinfrim e chamar-lhes egoístas, detrás dos pilaretes – e lá está a
de que ser português é ser mes- tuna no telemóvel, mas pensar anormais, filhos de uma grandes- rapariga do telemóvel, com sete
quinho, pobre de espírito, egoísta duas vezes antes de ir ao den- síssima mãe – e era precisamente belas cadeiras vazias à volta,
– e, quando se trata de falar dos tista; viver em casa dos pais até isso que faríamos, não fosse in- mas todas elas “ocupadas” por
aos 30; falar mal do Governo e surgir-se o receio de o grandalhão um dos pullovers velhos que ela
“portugueses em geral”, nunca
esquecer que se votou nele (…)”. efectivamente ser tão grandalhão traz numa mochila que tem es-
somos um deles. Curiosidade: o
Ora, eu conheço uma dúzia de como parece, de a senhora reben- pecialmente para o efeito. No dia
hábito não é especialmente lu-
países onde também se leva ar- tar de repente num pranto ou de seguinte vamos ao supermercado
sitano. A snobeira, já se sabe, é roz para a praia. Já estive noutra a rapariga reconsiderar quanto a e lá está o grandalhão a ocupar
coisa de pobre – e não há país vinte minutos para resgatar uma
dúzia onde se guardam as cuecas incluir-nos na sua tão promissora uma caixa, com ar absolutamen-
novo-rico onde não se suspire: sopa e depois passa outros vinte
velhas para polir o carro. Sei de noitada. E, no entanto, nem uma te respeitável, enquanto a mulher
“Ah, como o meu povo é mesqui- às voltas pela sala, com o tabulei-
pelo menos outra dúzia ainda hesitação: dizem-nos “Está ocu- foi dar uma última volta pelo cor-
nho…” Os brasileiros fazem-no. ro na mão e a mochila às costas
onde se vive até aos 30 anos em pado”, como se fosse tão óbvio os redor dos frescos, porque afinal
Os angolanos fazem-no. Os eslo- e a sopa a pingar, à procura de
casa do papá. E nunca ouvi falar lugares estarem ocupados como tinha faltado o Häagen-Dazs.
vacos fazem-no. Os franceses não um sítio para comer. Há cadeiras
de um só país, já agora, onde não o céu ser azul e as nuvens bran- Está mal. Está mal e, quando se
o fazem, mas porque são ricos há vazias? Claro que há. Por exem-
houvesse a tradição de guardar quinhas – e, no fim, ainda fran- trata de um Inverno tão longo
muito tempo – e, de resto, nunca plo: naquela mesa à esquerda,
lugar. zem a testa, esticam o pescoço e como este, uma pessoa já só tem
lhes faltou a vaidade colectiva. onde uma senhora gorda espera
E, porém, é uma das mais irri- sugam o ar pelo canto da boca, vontade de fazer como o Frank
sozinha, tamborilando os dedos e
Muitos americanos não o fazem, tantes características do ser hu- num estalido, como quem diz: no seu sonho mais selvagem, re-
ajustando os botões do camiseiro.
mas por etnocentrismo – e, em mano quando confrontado com “Azarito…” gando tudo, acendendo um fósfo-
Naquela mesa ao meio, onde um
todo o caso, há sempre alguém, o tormento da espera: guardar Depois precisamos de ir às Fi- ro e estacionando do outro lado
grandalhão aguarda em silêncio,
entre a classe “pensante” da costa lugar para um amigo, para a mu- nanças, andamos uma hora às da rua, a rir e a ver arder. Eu nun-
feito boi sentado, de olhar disper-
Leste, disposto a fazê-lo. lher, para o vizinho que se atra- voltas para estacionar, avistamos ca consegui tolerar estes bois – e,
so. Naquela mesa ao canto, onde
Portanto, isto não é um lamento sou, que foi virar o carro ou que um lugar milagroso entre dois em semanas assim, é sempre o
uma rapariga fala alto ao tele-
sobre a portugalidade: é um de- fez um desvio para comprar os Fiat Puntos – e lá está de novo a Frank que me vale.
móvel, combinando a noitada de
sabafo sobre a espécie. Diz um chupa-chupas. Uma pessoa chega senhora gorda, agora em pé, ace-
sábado. E o que é que cada um
daqueles emails que circulam à cafetaria, leva com uma fila de nando e franzindo a testa porque in NS’, 30 de Janeiro de 2010
A Pastelaria Lusa
Crónicas Terceirenses
Victor Rui Dores
victor.dores@sapo.pt
É
bastante olfactiva a memória que lutar e humaníssima. O sr. Manuel, no- chamavam “ O Cara de Cu” e que, volta então a comer vorazmente as guloseimas.
guardo da Pastelaria Lusa, onde bre cavalheiro, esmerava-se de atenções e meia, entrava na Pastelaria Lusa e per- Em menos de um ai, “limpou” a primeira
pairava um intenso aroma a café para com toda a gente. Os cândidos e fiéis guntava: prateleira e ia já para a segunda quando o
moído… clientes bebiam cerveja Cuca e comiam -Ó sr. Manuel, posso comer uma queijada? sr. Manuel, vendo o negócio mal parado,
Acolhedor estabelecimento que se situava lhe pergunta:
na Rua Direita, na cidade de Angra do He- -Não queres um copinho de água para de-
roísmo, a Pastelaria Lusa era propriedade senjoar?
de Manuel Pereira da Costa, mais conhe- Responde o pedinte, continuando a deli-
cido pelo senhor Manuel da Lusa, figura ciar-se com os doces:
patriarcal e generosa, sorridente, cortês e - Mais lá p´ró meio…
afável, porte distinto, homem do convívio,
da cavaqueira e dos ditos jocosos… 2. De entre os assíduos frequentadores da
Desta Pastelaria, espaço de afectos e ter- Pastelaria Lusa, contava-se um distinto
túlias, guardo os cheiros e os sabores da cavalheiro, ocupando posição de relevo na
mais deliciosa doçaria terceirense: as sociedade angrense, e que, todos os dias,
“donas-amélias”, as cuvilhetes de leite, à mesma hora, solicitava a costumada
as cornucópias, as queijadas, as bolachas “bica”. Ora, este cavalheiro tinha um es-
araruta… tranho hábito: sempre que tomava o café, e
Recordo que, aos domingos de manhã, o como era muito guloso, despejava, de uma
sr. Manuel recebia uns deliciosos bolinhos só vez, o conteúdo do açucareiro metálico
que vinham ainda quentes... E, como nesse para dentro da chávena.
tempo eu morava ali por perto (Rua de San- Um dia, a dita personagem entrou na Pas-
to Espírito), criei o hábito de, ao domingo, telaria e, como era habitual, pediu o café
entrar na Pastelaria Lusa para comer um ao sr. Manuel. Este, que já se afastara,
desses bolinhos antes de ir para a missa do pressuroso, a dar cumprimento ao solici-
padre Gil, na Igreja do Colégio. Confesso tampinhas de fiambre. Ali ouvi, um dia, -Está bem, homem, tira lá uma queijada. tado, parou repentinamente e, voltando-se,
que nunca mais comi doce tão saboroso e um apreciador de café, amigo de meu pai, -Obrigado, sr. Manel e seja pelas almas do inquiriu solícito:
ainda hoje desconheço a respectiva recei- a preceituar esta fórmula axiomática: “O Prigatório… -Meu caro senhor, tenha a bondade de me
ta, certamente um segredo guardado pela café tem que ser quente como o inferno, Durante alguns tempos esta cena foi-se dizer uma coisa: quer a “bica” na chávena
esposa do sr. Manuel – doceira das mais preto como o diabo, aromático como o repetindo. O sr. Manuel acedia aos pedi- ou no açucareiro?...
prestigiadas da cidade. céu, e doce como os anjos”… E foi na Lusa dos do pobre, mas como este já começava
Não me esqueço que, por essa altura, ha- que escutei, da boca de um oposicionista, a abusar, o compassivo dono da Pastelaria Depois veio o tempo em que a Pastelaria
via um jovem estudante que, nos interva- este slogan, que, num tempo em que as pensou: “Este é pobre mas não é tolo. Es- Lusa encerrou para balanço e nunca mais
los das aulas do liceu velho, arregaçava as paredes ainda tinham ouvidos, não tive a pera lá que já te vou dar uma lição”. voltou a abrir as suas portas. O espaço foi
mangas e pegava num pano húmido para idade nem o discernimento para entender: Certo dia, volta o pedinte à Pastelaria: transformado em boutique e, posterior-
limpar as mesas da exigente clientela, mas “O governo salazarista tira onde faz falta e -Ó sr. Manuel, posso comer uma queijada? mente, em imobiliária. Com grande pena
fazia-o com tão pouco jeito que dava para põe onde faz vista”… E responde o sr. Manuel: minha, deixei de comer aquelas deliciosas
ver que o rapaz não estava destinado a se- Há muitas histórias ocorridas na Pastela- -Olha, como eu hoje estou bem disposto, cuvilhetes de leite. E nunca mais conheci
guir as pisadas do pai. Chamava-se Vasco ria Lusa. Não resisto à tentação de aqui vamos aqui combinar uma coisa. Estás a cavalheiros com a distinção do sr. Manuel
Pereira da Costa e, mais tarde, revelar-se- contar duas: a primeira foi-me relatada por ver aquelas três prateleiras cheias de do- Pereira da Costa.
ia excelente poeta e homem de muitos ou- Carlos Alberto Moniz; a segunda faz parte ces, ali na montra? Pois fica à vontade e Durante três décadas andei de país em
tros ofícios.. do imaginário angrense e vem narrada no podes comer o que tu quiseres. Começas país, visitei inúmeras cidades e frequentei
A Pastelaria Lusa, ponto de encontro de livro “Filósofos da rua”, de Augusto Go- num prato, passas para o outro, vais de muitos cafés – mas nenhum deles tinha
conversas e amizade, foi meu espaço de mes. prateleira em prateleira e comes o que te aquele charme e aquele cheiro da Pastela-
descoberta e aprendizagem. Pairava ali apetecer… ria da Rua Direita.
uma serenidade boa, uma ambiência sa- 1. Havia um pedinte insofrido, a quem Foi o que o pedinte quis ouvir, e desatou Sic transit gloria mundi.
6 COLABORAÇÃO 1 de Março de 2010
Portuguese Youth
Day @ CAL
Thursday, March 11, 2010
Maude Fife Room, Wheeler Hall
University of California, Berkeley
A Foto da Quinzena
9:30 am Registration (201 Moses Hall)
Sponsored by:
Rescaldo Oportuno
Rasgos d’Alma
Luciano Cardoso
lucianoac@comcast.net
J
á lá vai. Mas, uma vez mais, deixou vários salões da ilha sem sequer sair do demandar, experimen-
saudades. cantinho que tenho cá em casa destinado a te a espreitar os vídeos
O Carnaval é mesmo assim. Quem o botar uma vista d’olhos pelo mundo fora. disponiveis para deliciar
vive e desfruta com rijo entusiasmo Nestes dias de intensa farra, o nosso pe- todos os interessados.
guarda recordações para o resto do ano. quenino mundo ilhéu reveste-se duma in- Tanto lá como cá, hou-
Quem, ano após ano, lhe dedica o melhor contornável dimensão sócio-cultural. Sa- ve trabalhos este ano de
da sua abnegada carolice, saboreia-as para lões, como sempre, à cunha, inspiram-nos apreciável qualidade que
o resto da vida. de sobremaneira. Enredos brilhantemente continuam a merecer o
São dias de folia inigualável, de diverti- escritos convidam-nos à gargalhada. Vo- aplauso geral e consti-
mento sem rival. O seu convívio é mágico, zes doces em rostos bonitos deliciam-nos tituem forte incentivo
a sua magia…contagiosa. os olhos e enchem-nos os ouvidos. As me- para que se possa fazer
É inevitavel o salutar contágio que o Car- lodias, os instrumentos, as piadas, o afino ainda melhor para o ano
A
naval exerce sobre as massas quando se e o incandescente brio dos vistosos guar- que vem.
transforma em benigna “doença”, feliz- da-roupas encarregam-se de nos encher as presença
O
mente tratável com uns bem apetecidos medidas. massiva da juventude em cima “horas mortas”. Ninguem gosta de estar
“comes e bebes” de pé e sempre a aviar garrido Carnaval terceirense, dos palcos, sobretudo no nos- num salão tempo demais a namorar as
porque não há tempo a perder. Tambem em tempos idos dominado pelo so caso, a dos filhos e filhas cortinas ou a olhar para as moscas. É cha-
sofri em tempos dessa contagiante febre rigor dramático das danças de da diáspora que aproveitam o Carnaval to e escusado, mas perfeitamente evitável.
carnavalesca. Não me fez mal nenhum. espada e pela exclusiva partici- para aperfeiçoarem o idioma de seus pais Basta que se combinem as coisas a tempo
Antes pelo contrário, marcou-me agrada- pação masculina, tem mudado muito para e avós, começa a revelar-se aposta ganha e horas. Para isso, tal como o povo diz, o
velmente para o resto dos meus dias. Ti- melhor em todos os aspectos. A óbvia para um futuro que se antevê animador na remédio já é antigo e não custa nada: a fa-
nha eu, sei lá, talvez uns vinte anos. Dei melhoria na dicção, na representação, na promoção continuada desta folgazona tra- lar é que a gente se entende. Francamente,
a volta à ilha por mais do que uma vez a orquestração, na coreografia mas, sobre- dição cultural. para quem dança, canta e entôa tão bem,
cantar e a dançar até me faltar a voz e me tudo, a graca e beleza da juventude feme- Claro que, fechadas as cortinas e apagadas falar custará porventura alguma coisa?
trairem os pés. nina em cima do palco dão outra vida e as luzes, aqui e acolá, na ressaca comum Pois, então, falem e entendam-se antes de
Este ano traíu-me a gripe. Passei o Carna- oferecem outro fulgor ao espectáculo, que do rescaldo final, há sempre pormenores recomeçarem com os ensaios. Acho que é
val em casa mas, graças aos meios tecno- não cessa de nos divertir. Mais qualidade, delicados a merecerem um reparo opor- do interesse geral.
lógicos, cada vez mais sofisticados, quase mais frescura, mais colorido proporciona- tuno. A coor-
dava a volta à ilha. Vontade não me falta- ram este ano aos nossos olhos bem como denação mais
va. Queria poder abraçar a minha gente, aos de muitos milhares de telespectadores adequada nos
aplaudir os dançarinos, felicitar as dança- por esse mundo fora um produto cultural horários das
rinas, congratular os ensaiadores e dizer único que merece ser refinado, reproduzi- actuações, por
a todos do orgulho imenso que sentimos do e redimensionado sem receios. exemplo, se for
cá ao longe nesta típica tradição cultural O nosso dignificante património cultural bem organiza-
sem paralelo à vista no globo inteiro. Cul- fala por si e não fica a dever nada a nin- da entre todos
tivamo-la, os que podemos, participando guem. com a devida
activamente na diáspora. Quando não po- antecedência,
demos, auscultamos. Foi o que eu fiz. Quem não teve oportunidade de ver ao pode livrar a
vivo os bailhinhos locais nem tempo para plateia das sem-
Graças às imagens sonoras da Rádio Co- apreciar as imagens teledifundidas do pre aborrecidas
mercial, às gravações oportunas da R.T.P. Carnaval de lá para cá, aproveite para re-
Internacional e ao milagre ao vivo dos ver com atenção a reportagem fotográfica
prodigiosos clicks da Internet, percorri desta edicão, ou, se a curiosidade assim o
8 COLABORAÇÃO 1 de Março de 2010
N
Tulare, Califórnia--93274 o dia 2 de Março pró- me referindo a um especialista com a falta de equilíbrio, mas
ximo, vou ser sub- daquela nova tecnologia. Acto nunca atribuí tal facto a qual-
A associação estudantil SOPAS das escolas secundárias Tulare metido a uma forma contínuo, foi logo agendado um quer coisa de anormal que es-
Union, Tulare Western e Mission Oaks High Schools promoverá, nova de tratamento exame IRM (imagem de resso- tivesse a acontecer. A médica
no Domingo, 7 de Março de 2010 (o dia que marca o fim da semana em virtude do aparecimento de nância magnética), que confir- também nunca se pronunciou a
nacional para o ensino de línguas estrangeiras) o seu Nono anual mais dois cancros no cérebro - mou a existência das referidas esse aspecto, pois tal como eu,
pequeno almoço - Portuguese-American Style Country Breakfast. um relativamente pequeno ain- células cancerosas. Depois, nova terá erróneamenete assumido
Este evento ocorrerá entre as oito da manhã e o meio-dia. A ementa da e outro já com 2 cm. consulta no departamento de que era devido aos efeitos do
constará de ovos mexidos, pancakes, linguiça frita, feijão guisado, Foi algo completamente inespe- Radioterapia, onde me fizeram tratamento quimioterapêutico.
café, leite e sumo de laranja. O preço para este evento é de apenas 7 rado, pelo menos para mim, e um molde à cabeça, para asse- Dessa nova tecnologia, a Radio-
dólares para adultos e 5 dólares para crianças com menos de 12 anos. que me deixou bastante dececio- gurar que fique completamente cirurgia, nasceu o robô que me
nado e desanimado, na medida imobilizada enquanto estiver na vai agora tratar, de nome “Cy-
A refeição será preparada pelos pais dos alunos desta Associação, e
em que tenho reagido berKnife”, ou faca (bis-
os próprios jovens membros, no refeitório da escola Tulare Union.
de forma muita posi- turi) cibernética, de que
Para a compra de bilhetes, ou mais informações, podem ligar para o
tiva aos tratamentos, o Centro Hospitalar da
professor encarregado, Diniz Borges através do (559) 686-7611. Po- Universidade de Mon-
tudo indicando que
dem ainda comprar os seus bilhetes através dos estudantes membros a doença estava dor- treal foi o primeiro no
da associação SOPAS nas escolas secundárias Tulare Union , Tulare mente e/ou estável nos Canadá a adquiri-lo.
Western e Mission Oak. Entre as 3 escolas a cidade de Tulare tem pulmões, estômado e Quanto à Rádiocirurgia
cerca de 320 alunos inscritos nos cursos de língua e cultura portu- cérebro. (vi há dias esse nome
guesas dos quais cerca de 95 são membros do SOPAS. Não haverá Fomos de facto todos ilustrado na fachada de
bilhetes à porta. apanhados de surpre- um departamento do
Podem tomar a refeição no refeitório da escola Tulare Union ou sa, e foi preciso que Hospital do Funchal,
podem levar o pequeno-almoço para casa. eu, à falta do resulta- Madeira), é a tecnologia
do do TAC (tomogra- inovadora presentemen-
Gratos pela divulgação fia computadorizada) te usada no tratamento
que me tiraram à ca- de uma variedade de te-
Diniz Borges beça em Novembro de 2009, ti- mesa a receber o tratamento, no cidos humanos, desde a pele até
d.borges@comcast.net vesse perguntado por ele a uma Hospital Notre-Dame, de Mon- às células mais interiores, numa
559-686-7611 pessoa amiga que trabalha na treal. operação em que são usadas
unidade hospitalar onde estou a Estive, pois, cerca de três meses ondas radiofónicas em vez do
Luís Rebelo, presidente na Tulare Union ser tratado. com a doença em progressão, bisturi.
Victória Simas, presidente na Tulare Western Na próxima vez que me encon- sem que ninguém soubesse ou A vantagem desta forma de tra-
Serena Silva, presidente na Mission Oak trei com a minha oncologista, desconfiasse, porque realmente tamento para o utente, é, entre
o meu filho chamou à atenção houve negligência ou omissão várias, a de que, por exemplo,
para tal contrariedade e lapso. na leitura do resultado encon- as ondas de baixa temperatura
A médica consultou prontamen- trado no dito TAC. usadas com a radiocirurgia, não
É
te o computador; logo ficando a queimarem os tecidos como su-
saber que realmente tinha havi- por essa e por outras cede com o tratamento à base de
Grupo Folclórico
do uma alteração, para pior, no que costumo dizer que electrocirurgia.
meu estado de saúde, evolução a ciência poderá estar A ver vamos, pois nada mais me
Tempos de
essa comparada entre o referido cada vez mais adian- resta do que experimentar tudo
TAC de Novembro e o do mês tada, que tenhamos muita fé e o que me puserem pela frente. E
de Maio anterior. coragem, mas que um pouco de se posso ser um pouco irónico,
Outrora
Verdade se diga, logo a médica sorte nunca fez mal a ninguém. veremos quem é mais teimoso!
me falou do novo tratamento Pensando bem, realmente tenho
actual, Radiocirurgia, para tal andado desde há alguns meses
Sabor Tropical
Elen de Moraes
Um Português, o “Rei do
elendemoraes_rj@globo.com
Carnaval” no Rio
F
alar sobre o carnaval do aprendendo o jeito e da sua equipe garantiu à Esco- - são os colaboradores financei-
Brasil seria repetir o que carioca de viver. la o retorno ao grupo da elite do ros da Escola, que se alegra, ain-
a maioria já sabe, uma Seu primeiro con- carnaval carioca. Desde então da, em fazer a integração entre
vez que, para quase todo tato com a “Uni- tem se dedicado a agremiação e brasileiros e portugueses, que se
mundo, nosso país está ligado a dos da Tijuca” não mede esforços para que o seu misturam entre seus quase 4000
essa festa - assim como o futebol aconteceu há 27 carnaval seja, a cada ano, melhor participantes, sem distinção de
- e muito se tem dito a respeito. anos quando re- e mais competitivo. Pelo menos cor, idade, cultura ou religião.
Entretanto, quando num piscar cusou convite do seis carnavais, sob sua orienta- Ao festejar o título conquistado
de olhos, um português torna-se então presidente ção, tiveram inspiração lusa e fez pela Escola, como campeã do
a personalidade número um do – seu funcionário Portugal brilhar no sambódro- carnaval carioca de 2010, Fernan-
- para assumir a mo. do Horta foi aclamado por mais
carnaval do Rio de Janeiro, aí
presidência da Es- A “Unidos da Tijuca” orgulha-se de quatro mil pessoas que esta-
sim, tem-se que “dar a Cesar o
cola, mas passou de ter em sua Escola pessoas de vam na quadra e emocionado, ao
que é de Cesar”!
a ajudá-la finan- todos os níveis sociais e se de- erguer a taça, disse que “ É difí-
A “Escola de Samba Unidos da
ceiramente. Anos nomina a única representante da cil explicar essa emoção. Estava
Tijuca”, presidida pelo português
mais tarde, quando colônia portuguesa no carnaval frustrado comigo mesmo. Estava
Fernando Horta e tendo, atual-
foi rebaixada para carioca. Deduz-se, conforme es- devendo isso pra minha comuni-
mente, Paulo de Barros como
o segundo grupo tatísticas, que pelo menos metade dade. Estou de alma lavada”.
carnavalesco, fez por merecer
e a comunidade dos componentes e torcedores da
o título de campeã de 2010. Foi
lhe apresentou um Escola é composta de portugue- Dados:
uma belíssima e surpreendente
abai xo -a ssi na do ses e seus descendentes, inclusi- http://unidosdatijuca.com.br
apresentação, como poucas vezes
com mais de 17 ve sua diretoria. Como a Escola
se viu. Não são palavras minhas
mais antiga do Brasil, depois de mil assinaturas não tem e não conta com a ajuda
- sou leiga – que julgo o que vi só
um jejum de 74 anos, torna-se a pedindo-lhe que assumisse a pre- financeira da figura de um “Pa-
esteticamente e, sim, afirmações
campeã do carnaval carioca pela sidência, decidiu aceitar o posto trono”, os comerciantes do bairro
de comentaristas especializados,
segunda vez e de quebra leva o que lhe ofereciam e seu trabalho – na sua grande maioria lusitanos
que dizem ter sido este desfile um
novo marco na história dos car- Estandarte de Ouro como a me-
navais. Falam mais: que de ago- lhor de 2010. Sagrou-se campeã,
ra em diante, muita coisa deve pela primeira vez, em 1934.
mudar, assim como no final dos Mas, como se explica a presen-
anos 70, quando o carnavalesco ça de um emigrante português à
Joãozinho Trinta, com sua inven- frente de uma Escola de Samba?
tividade, revolucionou os desfiles Segundo o próprio José Fernando
das Escolas de Samba. Horta de Souza Vieira, foi uma
Do princípio ao fim, tudo foi per- relação de amor e reconhecimen-
feito. A “comissão de frente” deu to à comunidade tijucana que o
um verdadeiro “show de mágica” recebeu de braços abertos quan-
ao mostrar seus participantes do, há muitos anos, jovem ainda,
com diferentes fantasias, troca- abriu o seu próprio negócio no
das diversas vezes, ali, em pleno ramo de cristais e inaugurou sua
sambódromo, deixando curiosos primeira loja no bairro da Tijuca.
e atônitos os milhares de olhos Formava-se, assim, sua estreita
voltados para aquele espetáculo ligação com os tijucanos.
diferente e deslumbrante, com Nascido na localidade de Lixa,
cenas jamais vistas - e com tal região do Alto D’Ouro, Portugal,
precisão - num desfile de carna- Fernando Horta veio para o Bra-
val, que levantou o público da sil aos 12 anos, na companhia dos
Marquês de Sapucaí, com o grito pais. Cresceu nas imediações da
de “è campeã”! Lapa, bairro boêmio do Rio de
Vibrante, com uma bateria afi- Janeiro e conta que desde cedo
nadíssima, uma Rainha nota 10, freqüentou as quadras das Es-
alegorias impactantes e alas com colas de Samba. Muito festeiro,
coreografias muito bem desen- explica, integrou-se rapidamente
volvidas, a “Unidos da Tijuca”, aos costumes brasileiros e, entre
fundada em 1931, terceira Escola um chope e um sambinha, foi
10 COLABORAÇÃO 1 de Março de 2010
Reflexos do Dia–a–Dia
Diniz Borges
A hipocrisia anda à solta...
d.borges@comcast.net
O
mundo político de ra dos Representantes, e líder da os resgatadores destes sistemas, gislação que retirará direitos e sido um dos processos mais hi-
Washington está cada “revolução conservadora” que os mesmo que afirmam ser, des- serviços aos mais idosos, en- pócritas dos últimos tempos. É
vez mais partidário em 1994 extraiu a maioria aos truidores das liberdades america- quanto que na retaguarda, nos nauseante ver-se os políticos que
e cada vez mais ino- Democratas no Congresso, Newt nas. É a hipocrisia no seu mais bastidores, apresentam legislação querem privatizar todos os pro-
peracional. É o que nos dizem, Gingrich, num artigo de opinião requintado aparato! Será que os alternativa que destruirá toda e gramas sociais do governo fede-
diariamente, os políticos ligados escrito em parceria com John cidadãos americanos já se esque- qualquer rede de segurança para ral embrulhados na duplicidade
ao Partido Republicano e alguns Goodman, presidente do institu- ceram que em 1995 o próprio os mais idosos e para os mais de os defenderem. Espero que
dos seus acólitos na comunica- to conservador National Center Gingrich tentou desmantelar o vulneráveis desta sociedade. o cidadão comum não alinhe.
ção social, desde o megafone dos for Policy Analysis, alertou para Medicare, ao ponto de fechar toda Como exemplo poder-se-á citar o Mais, espero que os Democratas
o facto de que a reforma legisla- a actividade do governo federal “Roadmap for America’s Future” tenham a audácia e a pertinácia
conservadores, a Fox News, aos
tiva sobre a saúde nacional (que como tentativa para forçar o en- para combater mais esta batalha
“tradicionais” órgãos da comuni- (Mapa para o Futuro da Améri-
está como se sabe em compasso tão presidente Bill Clinton a acei- repulsiva. Se não o fizerem per-
cação social, como a CNN. Nem ca) recentemente anunciado pelo
de espera no Congresso) contem tar as reduções propostas pelos derão as próximas eleições. Por-
que os Democratas não tivessem legislador Paul Ryan. O plano
reduções (diminuições em despe- conservadores? As quais seriam, que se é certo que a propaganda
sido os vencedores das eleições indubitavelmente, o principio do deste legislador conservador re- dos conservadores é extrema-
sas desnecessárias) no plano de
legislativas e presidências em saúde para a terceira idade, o Me- fim dos planos nacionais de saúde sume-se a alimentar os fracassos mente bem orquestrada e por
2008. Nem que as sondagens dicare, na ordem dos 500 biliões e reformas publicas para os ame- económicos da administração de vezes sem escrúpulos ou qual-
nacionais não indicassem que a de dólares. O que para o antigo ricanos mais idosos. Que somos George W. Bush, incluindo o pla- quer respeito pela verdade, não
maioria dos cidadãos apela mais líder do movimento conservador, de memória curta já o sabemos, no que há cinco anos Bush tentou é menos certo que, e utilizando
e melhor governação e menos e aspirante à presidência dos Es- mas não estar ciente das medidas vender à nação: a privatização do um provérbio popular america-
obstrução pela parte da oposição. tados Unidos, é um assalto aos destrutivas dos republicanos, que sistema nacional das reformas. no, fugindo para as montanhas,
Porém, sem pisca de vergonha, as mais idosos da nossa sociedade. incluem a tentativa de privatizar Um verdadeiro galardão para a não vai trazer qualquer benefício
forças mais reaccionárias do mo- A afirmação de Gingrich tem o Social Security durante a admi- alta finança. Felizmente, o povo ao Partido Democrático.
vimento conservador americano sido repetida ad nauseam por ou- nistração de George W. Bush, é, americano compreendeu que, Como disse o presidente Barack
E
atravancam, sistematicamente, tros conservadores como forma simplesmente, não ter memória. ainda mais uma vez, os Republi- Obama no discurso “O Estado
toda e qualquer peça legislativa de mais uma vez assarapantar o é precisamente o que canos queriam vender-nos gato da União”, este não é o momento
significante apresentada pelos cidadão comum. E o mais curio- acontece com ainda ou- por lebre. O plano do congressis- para se desistir das nossas aspi-
Democratas nas câmaras legisla- so é que os esforços do Partido tra acção fingidora dos ta Ryan passa por dar senhas aos rações e do nosso trabalho em
tivas e, hipocritamente, semeiam Republicano, o partido qu nunca Republicanos. É que utentes do Medicare, com fundos prol de uma América mais equi-
na comunicação social america- viu um programa social que gos- enquanto promovem comícios, governamentais, para compra- tativa.
na uma amalgama de embusti- tasse, têm, em termos de política discursos, debates e sessões pú- rem o que o Medicare fornece, Há que trabalhar e avançar a luta
ces que têm por objectivo, ainda efémera, sido frutíferos. blicas para destruir a tentativa às grande seguradoras. Aliás, a perpétua para se demolir os con-
mais uma vez, espalhar o pavor, a É impressionante como os Repu- do presidente Barack Obama de visão e o plano do congressista tínuos, e cada vez mais disfarça-
perturbação e a confusão do elei- blicanos, que desde a era de Ro- transformar o sistema de saúde Ryan, estão repletos de rebuça- dos, artifícios dos conservado-
nald Reagan, na década de 1980, res. A América não precisa, nem
torado, que por seu turno acaba nos Estados Unidos num proces- dos para o sector privado à custa
têm tido como prioridade princi- merece, esta hipocrisia.
por votar contra os seus próprios so mais abrangente e muito mais do sector publico.
pal aniquilar o Medicare e o So-
interesses económicos. equitativo, os líderes do Partido Conclui-se, sem o mínimo esfor-
cial Security (o sistema de saúde
Recentemente, o antigo Speaker Republicano, alimentam, à boca ço, que a cruzada do Partido Re-
e as reformas estatais para a ter-
(presidente da câmara) da Câma- do cenário, os papões duma le- publicano contra a reestruturação
ceira idade) apresentam-se como
da saúde pública nos EUA tem
COMUNICADO
O Consulado Geral de Portugal em San Francisco apresenta os
seus melhorores cumprimentos aos Orgãos de Comunicação
Social e tem a honra de informar que decorrerá em Portel de 10 a
15 de Maio de 2010, a 7ª edição do Concurso Nacional Escolar -
VIII Festival de Cinema “O Castelo de Imagens”.
Para mais informações os interessados podem contactar o Con-
sulado Geral de Portugal em San Francisco, da Segunda a Sexta
-feira, das 9 da manhã as 2 da tarde, pelo telefone (415) 346-3400
ou fax (415) 346-1440 ou aceder à página cinemaportel@hotmail.
com.
Temas de Agropecuária
Egídio Almeida
Podem ser boas notícias
egidioisilda@charter.net para a agropecuária
Nem todas as notícias da ral para a Asia tenham crescido destinos de uma exploração em
Sabores da Vida
agropecuária são negativas, significantemente nos anos mais New York, que não representam
os promotores dos produtos recentes. Estamos ainda muito a indústria em geral, mas sim um
do leite da California estão aquém da Australia e Nova Ze- produtor apenas, que por sinal
introduzindo os ingredientes landia em termos de mercado e demonstrou falta de responsabili-
do mesmo na indústria de identificação dos productos. Pro- dade, em geral os produtores de Quinzenalmente convidaremos
panificação Asiática gramas como este podem real- leite sao cumpridores dos seus uma pessoa a dar-nos a receita
mente demonstrar a viabilidade e deveres e amam os seus animais. do seu prato favorito, com uma
No passado Outono “California qualidade como alternativa a es- Publicar qualquer coisa diferen- condição - que saibam cozinhá-lo.
Milk Advisory Board” promoveu tes fornecedores pelos produtores te não é justo, e é apenas usado
uma série de eventos com a fina- da California. por grupos controversiais para se A nossa convidada nesta quinzena é
lidade de exportar produtos do Espera-se que o consumo de pro- promoverem a si próprios. Deborah Vale Stone, residente em San
leite da California e introduzi-los dutos de leite na Ásia continuará José, California.
numa série de mercados na in- a aumentar depois de uma curta
dustria de panificação Asiática. paragem económica, por exem- Arroz com Linguiça e Espargos
Para promover a qualidade dos plo, a indústria de panificação
ingredientes derivados do leite tem crescido significativamente Ingredientes
e seus benefícios no fabrico de nos anos mais recentes, e espera-
pão e outros produtos das pada- se que continuará no futuro e nós 1/4 colher de chá de pimenta branca, 3 copos de água, 2 copos de
rias (CMAB) preparou uma série devemos informar o comércio caldo de galinha "chicken broth", 3 colheres de sopa de manteiga
de sessões de treino e recessões destes países de que a ou margarina (dividida), 2 toros de linguiça, normal ou picante,
comerciais em seis importante California é um enor- depende do gosto da pessoa, cortada às rodelas, 1 libra de espar-
cidades, com a finalidade de cha- me produtor de leite gos frescos cortados em diagonal do tamanho de 1", 1/2 meio copo
mar a atenção dos comerciantes que produz produtos de cebola picada, 1 copo de arroz "Arborio", 1/4 copo de queijo
de qualidade que po- ralado "Parmesan", 1/2 colher de chá de sal, 1/2 copo de natas.
e consumidores da grande varie-
Mistura-se a água com o "chicken broth" num tacho e vai ao lume.
dade e qualidade dos produtos e dem ajudar ao suces-
Assim que ferver apaga-se o fogão. Num tacho maior, derrete-se 2
ingredientes do leite produzidos so nos seus próprios
colheres de sopa de manteiga em lume brando, junta-se os espar-
pela industria de lacticinios da negócios. gos e coze até ficarem tenros, mas não cozidos demais. Tiram-se
California. Depois de experi- para fora e põem-se de lado. Usa-se o mesmo tacho para refogar
Segundo os promotores, estas ac- mentarmos um dos a cebola e linguiça com 1 colher de sopa de manteiga. Junta-se o
tividades tiveram um sucesso tre- piores anos econó- arroz e mexe-se por 2 ou 3 minutos, adiciona-se 1 copo da mistura
mendo em chamar a atenção para micos na indústria de da àgua com o "chicken broth", até este ter sido absorvido. Coze
o mercado da California como lacticínios, os produ- destapado, mexendo-se com frequência, continua-se a mexer e
fornecedor destes produtos para a tores de leite de toda assim que fica mais ou menos seco, junta-se mais outro copo do
Ásia com mercados importantes a Nação receberam líquido, e vai-se juntando 1 copo do caldo de cada vez. Leva apro-
e em crescimento tais como, Chi- outro grande ataque ximadamente 25 a 30 minutos até o arroz estar cozido. Depois do
na, Indonesia, Filipinas,Tailândia ético quando a ABC arroz cozido, juntam-se os espargos, natas, queijo, sal e pimenta.
e Vietname. News e ABC Ni- Mexe-se até a mistura ficar como um creme, por cerca de 2 a 3
Embora as exportações da Cali- ghtline, resolveram minutos.
fornia e Estados Unidos em ge- publicar vídeos clan- Serve-se imediatamente. Bom apetite.
Eduardo da
Silveira, M.D.
Diplomado em
Gastroenterologia.
Especialista em Doenças
do Fígado e do Aparelho
Digestivo.
O
livro Bodas de Ouro dos Cur- la do Exército eram maiormente oriundos foi o de um tenente piloto-aviador que no (4) O Instituto Profissional dos Pupilos do
sos Entrados na Escola do de pequenas freguesias do Norte ao Sul do seu avião desertou para a Tanzânia (o li- Exército de Terra e Mar (hoje denominado
Exército em 1956, editado pela País ou, em muito menor número, de uma vro menciona diplomaticamente apenas Instituto Militar dos Pupilos do Exército e
Academia Militar em 2006 e capital de distrito, além de um punhado que “saiu para o estrangeiro”). Após a in- aberto aos dois sexos) foi criado em 1911
coordenado pelo Coronel Alberto Ribeiro vindo das Ilhas Adjacentes, da África Por- dependência de Moçambique assumiu o como um internato destinado a propor-
Soares, contém um vasto somatório de in- tuguesa, Estado da Índia e Macau. comando da Força Aérea do novo país e cionar instrução técnica e militar a jovens
formações sobre essa instituição (1) e por- Das principais manchas populacionais atingiu o posto de Major-General. do sexo masculino filhos de militares e de
menorizados verbetes biográficos de cada portuguesas, Lisboa, Porto e respectivas Treze anos de guerra passaram. Em 2006 civis.
um dos cadetes em 1956 admitidos e a sua zonas suburbanas chegaram 39 cadetes. 36 doa antigos cadetes já haviam falecido. (5) O Colégio Militar teve a sua origem
posterior carreira militar. Na base dos dados fornecidos por alguns, De um modo geral todos os adolescentes no Colégio da Feitoria, criado em Oeiras
Todos estes dados permitem extrapolar poderia talvez deduzir-se que as suas fa- inscritos no CGP da Amadora vieram a no ano de 1803 para a educação dos filhos
preciosas conclusões sobre o cunho assu- mílias habitavam bairros de classe média alcançar considerável êxito na sua vida. dos oficiais do Regimento de Artilharia de
mido pelos escalões mais altos do Exército (entre os da Grande Lisboa um, contudo, Assim, deste curso viriam a emergir 19 Costa, aquartelado nessa localidade. Com
Português desde a segunda metade do sé- havia nascido nas imediações do Chiado generais, 74 coronéis, 18 tenentes-coronéis o nome de Real Colégio Militar foi trans-
culo XX. e outro no Monte Estoril) ou em subúrbios e 15 oficiais abaixo destes postos. ferido em 1814 para a zona da Luz, em Lis-
A admissão ao 1º ano dos cursos das ar- algo modestos. Ainda outro, surpreenden- Os que optaram pela vida civil também ob-
boa, onde ainda hoje funciona.
mas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia e temente, provinha do não muito respeitável tiveram consideráveis êxitos ao nível pro-
Pelos fins da década de 1950 oferecia as
Engenharia da então denominada Escola Bairro Alto. Vários deles indicaram como fissional. Entre os que após o 25 de Abril
aulas do ensino liceal até ao 7º ano. De
do Exército estava condicionada por um naturalidade a freguesia de S. Sebastião da enveredaram pela política contaram-se um
bom aproveitamento no Curso Geral Pre- cunho consideravelmente elitista, contras-
Pedreira, o que faz pressupor uma residên- deputado, um subsecretário de estado e
paratório, (2) com a duração de um ano, cia nas razoavelmente prósperas Avenidas quatro ministros. tava com o Instituto dos Pupilos do Exérci-
realizado em precárias condições de con- Novas lisboetas. Também pelo que alguns Todos fizeram História, já que constituí- to, vocacionado para o ensino técnico pro-
forto no Aquartelamento da Amadora (3) e destes divulgaram, os pais inseriam-se ram a primeira geração de oficiais do Qua- fissional aos níveis secundário e médio.
extremamente rigoroso quanto à prepara- num nível social relativamente alto, como dro Permanente a entrar em missões de (6) Nesta categoria, num critério algo ar-
ção física e ao nível académico. um general, um coronel e dois advogados. combate desde 1918. Representaram tam- bitrário, inclui-se os apenas mencionados
Os futuros oficiais do Serviço de Adminis- Na totalidade, julgando pelos seus apeli- bém uma das últimas classes demonstran- como “militares”.
tração Militar entravam directamente para dos, 29 parece terem pertencido a baixas do o forte interesse de numerosos jovens (7) Posto que os designados como “co-
a Escola, após haverem concluído pelo me- camadas sociais e cinco a famílias de mais por uma vida militar, posto que é conheci- merciantes” ou “industriais” provinham
nos dois anos de estudos de Contabilidade alto coturno. Os apelidos dos restantes, do que pouco depois do lnício das guerras predominantemente de zonas rurais, a me-
e Administração no Instituto Profissional muitos bastante comuns, como Silva, Fer- coloniais a Academia experimentou enor- ados do século passado ainda pouco de-
dos Pupilos do Exército de Terra e Mar (4) reira, Santos ou Costa, não permitiam uma me dificuldade no recrutamento de alunos, senvolvidas, seria talvez plausível pensar
ou num Instituto Comercial. significativa avaliação. tendo chegado ao ponto de haver lançado em lojistas ou donos de pequenas oficinas.
Os cadetes admitidos no CGP, que incluía Pelo que se pode deduzir das profissões apelos televisivos para inscrições. (9) (8) O livro não menciona se ao seu regres-
candidatos para os três ramos das Forças dos pais, quando indicadas nos verbetes Bodas de Ouro dos Cursos Entrados na Es- so foram punidos, como ocorrera com
Armadas, haviam sido aprovados nos biográficos do livro, a maior parte era cola do Exército em 1956 não é pois mais bastantes dos seus camaradas. Recorde-se
exames finais do 7º ano do ensino liceal, oriundo de uma baixa classe média: um livro comemorativo de um determina- que Salazar havia exigido nas vésperas da
neste ano completados por doze deles no Sargentos das forças armadas ou militari- do evento, de interesse particular para os invasão que só houvesse “soldados e ma-
Colégio Militar. (5) Não recebiam soldo e zadas 12 (6) seus participantes. Muito mais do que isso, rinheiros vencedores ou mortos” e que se
deviam adquirir por conta própria os seus Oficiais do Exército 8 oferece valiosas pistas para uma análise da sentiu fundamente indignado quando a sua
uniformes e um “enxoval” composto por Professores primários 6 evolução do corpo de oficiais do Exército
determinação não foi obedecida.
um baú, um colchão, três ou quatro mudas Funcionários públicos, bancários 6 Português no sentido da sua democratiza-
(9) No período anterior ao início da guer-
de roupa de cama e um talher. Bacharéis ou licenciados em Direito, jui- ção e, por consequência, de uma emblemá-
ra em África a Academia Militar admitia
O programa escolar consistia nas cadeiras zes, advogados 5 tica fase da história moderna do País.
de Formação Militar Básica, Matemáticas uma média anual de cerca de 200 cadetes.
Praças ou agentes das forças militarizadas
Gerais, Física Geral, Geometria Descritiva 4 NOTAS Em 1961 e 1962 as admissões aumenta-
e Desenho Rigoroso. Dos 253 candidatos Professores liceais 4 ram respectivamente para 257 e 266 mas
ao CGP, apenas 164 conseguiram admis- Comerciantes 4 (1) Embora precedida desde o século XVII a partir de 1963 os números começaram a
são, entre eles dois oficiais e três sargentos Industriais 3 (7) por várias academias de preparação mili- decair vertiginosamente atingindo 88 em
da Força Aérea e um furriel do Exército. Proprietários 2 tar, a primeira instituição a ser criada em 1973, 81 em 1972, 74 em 1970 e apenas 36
Desses 164 dois desistiram e quatro foram Artesãos 2 Portugal especificamente para formar o em 1969.
eliminados por falta de aproveitamento. Agricultores 2 oficialato de terra foi a Escola do Exérci- Após o restabelecimento da paz voltou a
No exame final 44 reprovaram, o que re- Empreiteiro da construção civil 1 to, de 1837, que contudo, através dos anos, ser atraente o acesso a uma carreira militar.
D
presentou uma perda total de 50, ou seja se designou de vários modos: Escola de Em 2009 1 714 candidatos concorreram às
30,5 % do contingente inicial. Dos 114 res- esta contagem não é surpre- Guerra em 1911, Escola Militar em 1918, 136 vagas anunciadas pela Academia.
tantes, oito foram transferidos para a Es- endente verificar que cerca de novo Escola do Exército em 1927 e por
cola Naval, 13 incorporaram-se na Força de 40% dos cadetes referidos fim Academia Militar em 1959, nome que
Aérea e 93 ingressaram no 1º ano da Esco- proviessem de famílias com mantém até hoje.
la do Exército. afinidades militares, ainda que não neces- (2) O curso de 1956-1957 era o nono a ser
Dos 32 candidatos ao curso de Adminis- sariamente a nível superior. Por outro lado realizado. Anteriormente exigia-se aos fu-
tração Militar só quatro não eram oriundos teria decerto sido inaudito, décadas atrás, turos cadetes um ciclo preparatório de Ma-
do Instituto dos Pupilos do Exército. Os que um agente da PSP ou um guarda fis- temática, Física e Química a ser efectuado
restantes haviam completado nessa insti- cal pudessem aspirar a um filho oficial de numa Faculdade de Ciências,
tuição pelo menos o 2º ano do programa de (3) A sede da Escola do Exército locali-
carreira.
Contabilidade e Administração, enquanto zava-se em Lisboa, no chamado Paço da
Uma vez promovidos a alferes no verão de
que outros tinham obtido um bacharelato Rainha. O nome do edifício deve-se ao
1960, os cadetes de 1956 viram–se con-
nessa matéria. Esta preparação justificava facto de para aí ter ido viver D. Catarina
frontados, uns seis meses depois, com o
a dispensa da frequência do CGP. Estra- de Bragança, esposa do Rei Carlos II de
eclodir da guerra em Angola e um pouco
nhamente, Bodas de Ouro apenas propor- mais tarde com a invasão dos territórios Inglaterra, após o falecimento deste,
ciona escassíssimas referências à vida aca- da chamada Índia Portuguesa. Com a ex-
démica após o ingresso na Escola. cepção de um, todos foram mobilizados
Uma análise dos dados biográficos relata- para o Ultramar. Em idêntica situação en-
dos ao longo destas páginas ilustra o pro- contraram-se quase todos os 39 ex-colegas
cesso de alargamento social do oficialato reprovados ou desistentes, agora oficiais
militar então já em curso, que iria culmi- milicianos.
nar após o início das guerras do Ultramar. Dos egressados da Academia um oficial
Recorde-se que em épocas anteriores os piloto-aviador morreu ao fim de uma mis-
oficiais do Exército provinham em geral são quando pretendia aterrar na sua base.
de classes abastadas e mesmo da aristo- Outros 13 oficiais sofreram ferimentos ou
cracia. Muitos eram membros de famílias doenças graves, incluindo um que pisou
de longa tradição militar, Com o decorrer uma mina em Angola e perdeu 95% da
dos anos as exigências da mobilização ate- sua visão. 16 sofreram meses de cativeiro
nuaram em alto grau a situação. como prisioneiros de guerra em Goa. (8)
No caso presente, Bodas de Ouro revela Um caso dissonante, ocorrido em 1963,
que os cadetes admitidos em 1956 na Esco-
PATROCINADORES 13
O upgrade XFINITY da Comcast. Internet mais rápida, o triplo de canais de Alta Definição, TV no
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14 PATROCINADORES 1 de Março de 2010
COMUNIDADE 15
Bailinhos de Newark
Bailinho de N.Sa. da Assunção, Turlock - "Quando o Amor é mais forte" de Daniel Arruda
Bailinho do Grupo Carnavalesco do Chino - "A Visita do Presidente" de José Fernandes Andrade
COMUNIDADE 17
Bailinho do Portuguese Athletic Club, de San José - "Agora estamos em crise" de João Costa. Mestra: Leslie Pavão
Salão e Cozinha de Nossa Senhora da Assunção em Turlock - dizem que as suas filhoses são Bailinho do Grupo de Newark
das melhores da California
18 COMUNIDADE 1 de Março de 2010
Eugénio Vargas
O que mais gosto de
fazer são lanchas da baleia
Quando é que começou a construir lan- móveis, desenhei o nosso pátio, construí a
chas da baleia? minha oficina, já fiz estantes e mesas em
feitio de barco e outras obras quando há
As primeiras lanchas que eu me lembro de tempo, mas o meu “hobby” são as lan-
construir era eu ainda uma criança com 6 chas.
ou 7 anos. Uma tábua cortada com uma
ponta bicuda e outra quadrada pregada em A construção das lanchas é feita à esca-
cima com um prego para fazer a cabine. la?
Brincava na areia, quando o Varadouro
ainda tinha uma praia. Já aqui nos Estados Se tenho as medidas de uma lancha, com-
Unidos quando era rapaz, fiz muitos bar- primento e largura, uso uma escala de
cos e navios de “kit” em plástico. Tinha 26 1:24. Uma lancha de 40 pés é feita com o
anos quando comecei a dedicar-me ao tipo comprimento de 20 polegadas, mas o resto
de lanchas que faço agora. dos detalhes é feito a olho e fotografias. É
Em 1982 fui de passeio aos Açores, dei mais ou menos em escala, mas está claro
a volta ao Pico um dia, só à procura das que às vezes deve haver coisas que não es-
lanchas baleeiras antigas, mas as que en- tão exactas em medida.
contrei estavam num triste estado de de-
gradação, abandonadas e apodrecendo. Fala-nos de si, onde nasceu, hobbys. etc
Talvez foi isso o que me motivou para as
fotografar e ao menos salvar um pouco da Nasci na ilha do Faial, e emigrei para a Ca-
sua memória em maquete. lifornia quando tinha nove anos.
Agora felizmente muitas delas já foram Depois de acabar o Liceu, estive 4 anos na
recuperadas o que é uma grande alegria aviação da marinha americana.
pessoal. Depois graduei-me na Universidade com
um curso aeronáutico e agora trabalho
Porque não botes baleeiros? para a NASA a fazer pesquisa aeronáutica.
Também tenho licença de piloto privado,
Eu sempre gostei dos botes baleeiros, são pois a minha vida tem sido sempre envol-
uma das embarcações mais belas do mun- vido na aviação, é uma coisa que também
do, mas a minha paixão sempre foi pelas gosto muito, mas a minha paixão sempre
lanchas. Quando era criança passava o foi barcos e o mar.
verão no Varadouro com o meu avô, e via Já tive vários barcos, o meu último era de
as lanchas Walkiria e o Cetáceo que esta- 38 pés, era um lindo barco, mas agora com
vam ancoradas lá. Passava horas na rocha dois filhos na Universidade e o preco da entusiasmo. horas, nunca calculei, mas perto de 200
a olhar para elas, e vê-las a ir e vir da ba- gasolina, os brinquedos foram vendidos, Mas não sei, se alguém estivesse verdadei- horas não é exagerado.
leação. e para dizer a verdade a água no Delta e ramente interessado era capaz de lhe fazer
Quando ia à cidade (Horta) corria sempre na Baía não tem grande proveito para an- uma, mas o preço era só para as despesas, Que materiais é que usa na feitura das
à doca para ver as lanchas baleeiras que dar de barco, não é como o nosso mar dos porque nunca podia cobrir o meu tempo, lanchas?
lá estavam, e também via outras, como a Açores. ou seja a mão-de-obra.
Calheta, Espalamaca, Velas, Picarota, e o O meu sonho é recuperar uma das lanchas O material que uso depende da obra. Se só
Terra Alta. Gostava delas todas. baleeiras antigas que ainda existem no Se alguém quiser uma lancha diferente vou fazer uma lancha, o casco é feito de ti-
Faial ou Pico, talvez depois de me refor- daquelas que já construíu, poderá fazê- ras de madeira numa armação temporária
O Eugénio tem familiares que andaram mar. la? em duas partes, se vou fazer várias lanchas
na baleação? iguais, então faço um molde e depois pos-
As vossas lanchas estão à venda? Eu posso fazer qualquer tipo de lancha so construir vários cascos idênticos.
Na minha família só me lembro de meu Qual é o preço médio de uma lancha da logo que tenho um bom desenho ou então A cabine, bancos, janelas, mastros, etc. é
avô ser pescador, mas conhecia os baleei- baleia? muitas fotografias. Já fiz uma, a Marota, de madeira, certas peças da palamenta são
ros quase todos do Varadouro e os mestres só com duas fotografias, mas tive que “adi- feitas de bronze e plástico, a roda e a hélice
das lanchas. Nunca tentei vender as minhas lanchas, já vinhar” alguns dos pormenores. quase sempre compro já feitas.
dei várias a amigos de presente. Outras peças são feitas com coisas que
Além das lanchas da baleia que outro Se fosse para pôr um preço, nem sei, é di- Quanto tempo é que leva a construir encontro à roda de casa, por exemplo, a
tipo de construção é que faz? fícil de calcular. Se eu vendesse uma por uma lancha? bússola da Walkiria que estou construin-
500 dólares, não fazia 3 dólares por hora do neste momento, foi feita usando a capa
Em termos de modelos já fiz barcos de pes- pelo meu trbalho, pois leva muitas horas. Em termos de tempo leva-me três ou qua- de uma caneta cortada ao meio. São coisas
ca (boca-aberta), de vela e navios. Gosto Para mim é um entertinimento. Se fosse tro meses para construir uma lancha com- assim que fazem um projeto interesante.
de trabalhar com madeira, para casa faço para fazer e vender talvez eu perdesse o pleta. Só tenho os fins de semana para As letras e os números eu faço no com-
trabalhar nelas, penso que em termos de putador e depois copio num papel transpa-
rente especial para colar.
Agua Viva
Filomena Rocha
filomenarocha@sbcglobal.net
Fevereiro quente,
diabo no ventre
E
ste 2010 está a ganhar velocidade, tal como o
ano anterior, a toque de águarrás, como quem
tem pressa de chegar a lugar seguro ou de fugir
às desgraças. E muitas têm acontecido.
Diz o Provérbio que Fevereiro quente, diabo no ventre.
De facto, tem havido tanto mau tempo no canal, tanto
mar a galgar a terra, a chuva pesada a fazê-la deslizar
em derrocadas enormes, estradas abertas a meio e o mais
que se tem visto, não só em lugares lindíssimos como
na Itália, mas também no nosso Continente português,
nos nossos Açores, na nossa Madeira mais recentemente,
onde infelizmente muitas vidas se perderam, deixando de
luto muitos lares que só por si desmoronados, ainda mais
pelos desaparecidos nas enxurradas. Parece tocar a todos.
Se de um lado chove, no outro troveja, para que ninguém
se sinta melhor que o visinho do lado. Para todos vai o
meu sentido pesar, em todos os sentidos.
Não vou dizer que seja o fim do Mundo; a Natureza faz os
seus ciclos muito próprios até acomodar-se, mas na ver-
dade todos estes casos dão que pensar. Sinais dos Tempos
sempre os houve, o Mundo está sempre em mudança e é
preferível pensar que outros dias melhores virão. Que a
Terra seja um paraíso para todos com a bênção de Deus.
Entramos em Março, o mês da Primavera, o despertar,
renascer, renovar, florescer da Natureza que é também o
mês dedicado à Mulher - dia 8, entre outras datas im-
portantes e algumas sempre no feminino, onde sem-
pre o masculino manda, impera, governa, escraviza, se
apodera, reduz à insignificância, desde o princípio dos
séculos, passando pelas cavernas, de onde e para onde
as mulheres eram levadas ou arrastadas pelos cabelos e
apedrejadas por quem delas se servia. Jesus Cristo, a esse
propósito chamou a atenção dos homens com a Sua com-
preensão, tolerância, exemplo de vida, muito amor e mui-
ta inteligência, a que alguns patetas, como Elton John,
atrevidamente chamam de “gay”. Nem o Cristo escapa à
mediocridade humana. Que cada um se assuma com as
suas realidades, sem promiscuir-se nem atentar contra a
Divindade. É que já não se consegue ter paciência para
ouvir tanta barbaridade e insensatez, nem estômago para
aguentar sem vomitar tanta porcaria que alguns reisinhos
nos querem fazer engolir.
M
elhor aturamos o Rei-Momo, que esse é
simples, engraçado, divertido e só rei-
na três dias de cada ano, para fazer rir os
mais sisudos e trazer com graça os defeitos
e qualidades que temos, sem pretender ofender os por-
menores pessoais de cada um. E todos nos divertimos,
passamos bem o tempo, sentados a comer as filhós ou
outras guloseimas do momento, entre amena cavaqueira
com os que gostam de nós e os que apenas nos suportam
no dia da festa.
Afinal de contas, cada um tem o seu modo de celebrar a
Vida.
Ao Sabor do Vento
José Raposo
Aqueles que amigos são
raposo5@comcast.net
É
muito possível que alguns dos minha mulher com quem eu vivi durante véssemos que preencher mais
leitores ao lerem os meus artigos 13 anos dizia: formulários mas, o compu-
perguntem a si mesmos o que - “Guarda o que não presta terás o que tador toma conta da maio-
lhes interessa saberem de certas precisas”. Infelizmente aqui o que normal- ria dessas coisas desde que
coisas que se passam na minha vida. mente acontece é: a gente coloque os números
Quando eu escrevo crónicas sobre algo - “Guarda o que não presta e vais pagar nos lugares certos.
que me acontece ou sobre as minhas peri- para deitar fora.” A minha mulher normalmen-
pécias é sempre com o intuito que possam Mas, a vida é assim mesmo e temos que te nunca quer saber de contas.
vir a prevenir ou ajudar o leitor se por aca- nos ajustar à época em que vivemos, ao lo- Toda a sua vida trabalhou ar-
so se encontrar nas mesmas situações. cal e a tudo mais o que nos rodeia. duamente mas deixou sempre
Não é nem nunca foi com a intenção de Eu não me considero perito algum em ma- as contas à minha responsa-
propagar a minha vida particular aos qua- térias de finanças. Sou deveras pessimis- bilidade.
tro ventos. Todos nós sabemos que o mun- ta e estou sempre esperando o pior. Se o Agora com a venda da casa
do atravessa uma grande crise. Alguns de pior acontecer, estou preparado para isso ela sempre se interessou mais
nós fomos obrigados a fazer decisões, tais e se as coisas correm bem, melhor ainda. um pouco e lá me ia pergun-
como vender a casa, por motivos de saúde Quando foi o problema que tivemos com tando.
ou por uma questão económica. Finalmen- a poluição na lavandaria, perdemos umas Uma vez pergunta-me quan-
te depois de 2 meses exactos conseguimos quantas centenas de milhares de dólares to dinheiro cresceu da venda
a casa que queríamos e no lugar que dese- e esteve quase tudo a ir por água abaixo. da casa, quanto vamos exac-
jávamos. Fiz das tripas coração, lutei, argumentei tamente pagar pela outra, etc.
Temos que fazer alguns ajustes porque com advogados, companhias de seguros e etc.
é mais pequena do que a que tínhamos e o diabo a quatro e no fim se bem que não Eu disse:
fracamente podemos viver perfeitamente fosse da maneira que eu queria resolvemos - Ó mulher. Escuta.
sem as quinquilharias que acarretámos o problema e ficamos com a cabeça fora de - Pela primeira vez na vida
para casa durante 23 anos. Vamos ter me- água e a poder respirar. temos casa paga, tudo o que
nos roseiras, menos pombas, menos ca- Há poucos dias comecei a preparar a nossa temos está pago, temos di-
nários e algumas coisas serão eliminadas relação de impostos para mandar para o nheiro no banco e não devemos nada a -Devemos muito, o amor da família e a
por completo. Não sei quais porque eu sou IRS. Receitas para um lado, despesas para ninguém. amizade dos nossos amigos, aqueles que
uma das pessoas que guardo tudo. A tia de o outro, a venda da casa fez com que ti- Diz ela: amigos são...
N
ão é incomum encontrar quem
julgue que Portugal tem as
fronteiras mais estáveis e du-
radouras da Europa. Boa par-
te dos portugueses, talvez a maioria, crê
que o território de Portugal Continental
não sofre alterações há quase oito séculos
(desde a conquista do Algarve, muitos te-
rão aprendido), e que as fronteiras oficiais
do nosso país estão totalmente definidas.
Tal não é absolutamente verdade.
Ao contrário até de países como a Alema-
nha (que apesar das severas perdas de ter-
ritório sofridas após 1945, não tem actu-
almente nenhuma indefinição fronteiriça),
a realidade é que parte da fronteira luso-
espanhola é ainda hoje motivo de quezília,
não surgindo delineada nos mapas oficiais
portugueses.
Falamos da margem do rio Guadiana limí-
trofe ao termo da vila de Olivença, ocupa-
da por Espanha desde 1801, na sequência
dum conflito que a História recordaria Posteriormente, o Tratado de Paris (1814) Maria Madalena), sempre sob a presença jurídicos são, em meu entender, bem mais
como “Guerra das Laranjas”, instigado estipulou a anulação do Tratado de Ba- constante das armas e brasões nacionais, favoráveis à causa portuguesa, como a po-
por complicações decorrentes do relacio- dajoz, e a acta final do Tratado de Viena sente-se fervilhar ainda toda a pujança da sição oficial espanhola, de ambivalência
namento entre as potências europeias e a (1815) estabeleceu que todas as potências História de Portugal. Esta percepção é tão total de tratamento perante questões simi-
França revolucionária. signatárias se esforçariam para que os ter- profunda que, enquanto português, se tor- lares, não é eticamente compatível com o
Muito haveria a escrever sobre os porme- ritórios perdidos por Portugal em 1801 fos- na inevitável sentir um certo sentimento respeito pelas instituições democráticas e
nores do diferendo e das razões de Portu- sem restituídos por Espanha o mais pron- de injustiça, até frustração… o direito internacional. Assim, não deveria
gal, todavia nem todas as páginas deste tamente possível. Tal nunca aconteceu… E todavia, no que concerne às relações in- ser impossível ao diplomata hábil conectar
jornal seriam para tal suficientes. Resuma- A “Olivenza” actual é, de facto, cidade e ternacionais, a posição de Portugal é estra- a questão de Olivença à resolução do pro-
mos apenas que, finda a guerra, Portugal município da comunidade autónoma espa- nhamente dúbia. Se, por um lado, não re- blema de Gibraltar…
foi obrigado a assinar a paz pelo Tratado nhola da “Extremadura”. Por todo o lado conhece a soberania espanhola, por outro, Alterar-se-á um dia a condição deste ter-
de Badajoz, que previa, entre outros pon- ouve-se falar o castelhano (a Língua de nada parece fazer quanto à reivindicação ritório? Do passado conclui-se que dificil-
tos, a entrega de Olivença a Espanha. Se Camões é agora materna quase exclusi- da reintegração de Olivença no território mente, porém ninguém poderá adivinhar
bem que alguns afirmem prontamente que vamente para os mais idosos, sobretudo nacional. o futuro. Garantido é que, da parte de Por-
tal situação, por si só, violou o princípio nos meios rurais) e a bandeira espanhola Pior, a posição de Portugal é até bem dis- tugal, muito ficou por fazer ao longo dos
da validade dos negócios jurídicos (pois ergue-se nos edifícios oficiais. Boa parte tinta daquela da própria Espanha em rela- anos, e o esquecimento volvido a esta terra
nenhum compromisso poderia existir sob da actual população local já nem sequer ção a um problema similar, o de Gibral- é, no mínimo, extraordinário, inusitado e
coacção), certo é que, independentemen- descende de oliventinos. tar, pertença do Reino Unido desde 1704. de certa forma até inexplicável. Veremos
te do atrás descrito, o próprio Tratado de Contudo, ao passear pela localidade, Novamente sem entrar em detalhes, seria se o futuro nos trará mudanças, e se os
Badajoz previa a sua nulidade caso certas caminhando pelas suas ruas de calça- teoricamente bem mais fácil a Portugal portugueses, enquanto cidadãos, governo
situações se verificassem, nomeadamente da portuguesa, seu castelo, por entre as obter, pelo menos, argumentação moral e nação, definitivamente adquirem a sabe-
a posterior quebra da paz entre as duas na- casas caiadas de branco (bem ao estilo para iniciar negociações sobre Olivença doria do carácter pró-activo, para serena e
ções. Tal não tardou a suceder, e a invasão alentejano), admirando as inúmeras mo- junto de Espanha, do que para Espanha afincadamente perseguirem e aproxima-
franco-espanhola de 1807 deveria ter ime- numentais edificações lusitanas, algumas fazê-lo com o Reino Unido relativamente rem-se dos seus objectivos, não só nesta,
diatamente anulado qualquer justificação até obras únicas do nosso tão exclusivo a Gibraltar. Não só os detalhes históricos e mas em todas as questões.
espanhola de soberania sobre Olivença. estilo manuelino (como a Igreja de Santa
Cães de Fila
para Venda
P'ra uma casa guardar,
não há nada como um cão
só precisa ele ladrar
para fugir o ladrão.
Liga Europa
Sporting ganhou ao Everton por 3-0
O
s leões carimbaram em grande atirou com estrondo à barra. Na recarga com a bola teve ainda
estilo a passagem aos oitavos- Tonel não fez melhor do que atirar para discernimento para ver
de-final da Liga Europa ao ven- a bancada. Era a melhor oportunidade Pedro Mendes à entrada
cerem em Alvalade os ingleses do jogo. da área.
do Everton por três golos sem resposta. Mais uma oportunidade aos 30’ e de O médio não esteve com
Venha o Atlético de Madrid! novo por Izmailov, que até pode estar meias medidas, encheu o
Um Sporting de alma chegou e sobrou de saída. O russo hesitou numa primeira pé e bateu Tim Howard
para sacudir a crise que assolava Alvalade. fase do lance e quando rematou a bola pela segunda vez. Alva-
Há sete jogos sem ganhar, em boa altura a acabou por embater em Phil Neville. lade ao rubro.
equipa de Cavalhal voltou para jogar fute- A primeira parte chegava ao fim com Era tempo de cerrar fi-
bol e durante 90 minutos em Alvalade foi amargo de boca para os leões: exibição leiras, pois um golo do
sempre a equipa que esteve por cima. positiva mas o 0-0 dava o apuramento Everton empatava a eli-
Um pouco nervoso, o Sporting entrou em ao Everton. minatória. A defesa le-
jogo um pouco nervoso e os primeiros pas- Mas o Sporting entrou na segunda parte onina passou então por
sos raramente acertaram no destino. decidido a conseguir a única coisa que maior aperto, mas deu
Mas durou pouco o desacerto verde e não tinha conseguido no primeiro tem- sempre conta do recado.
branco, com Marat Izmailov a dispor da po: golos. E o melhor ainda estava
primeira ocasião para celebrar em Alvalade. E logo aos 5’ Djaló, sem medos, atirou em todo o jogo e Miguel Veloso não quis para vir. A jogar em con-
Djaló recebeu na área de costas para a ba- forte e pouco acima da trave de Howard. esperar mais: entrou pela esquerda, rece- tra-ataque, a última jogada do encontro foi
liza e o russo na passada levou a bola e Era o primeiro sinal de revolta em Alvala- beu de Saleiro e atirou forte e a contar para a cereja no topo do bolo de Alvalade.
com um remate frouxo obrigou Tim Ho- de e aos 15’ Moutinho deu o mote ao apa- a equipa leonina. Djaló arrancou sozinho para a baliza dos
ward à primeira defesa da noite. recer na área para responder ao cuzamento O 1-0 dava apuramento para os oitavos, ingleses, deu para Matias e o chileno deu-
O lance não deu golo mas teve o condão de Abel que só uma defesa por instituto de mas os leões não descansaram. se ao luxo de tropeçar na bola e inventar
de despertar a equipa de Carlos Carvalhal, Howard impediu que o Sporting chegasse O Everton reagiu, com mais posse de bola uma finta que ele próprio ainda vai tentar
que passou a ser mais dominante e a ter à vantagem. e Rui Patrício salvou o Sporting do empate perceber.
mais posse de bola. Sem nunca baixar os braços, a equipa de com uma extraordinária defesa a remate Resultado: sozinho, perante Howard, des-
Rápido mas nem sempre lúcido, o Sporting Carvalhal haveria de conseguir os seus de Saha. viou do norte-americano e só teve de en-
jogava mais perto da área inglesa e num intentos, mas antes o sul-africano Pienaar Mais uma vez, na resposta, Djaló sentou costar para o 3-0.
desses lances Djaló arrancou uma falta a gelou Alvalade e Rui Patrício que apenas Phil Neville com um túnel e rematou for-
Senderos. conseguiu seguir com os olhos um remate te para defesa (mais uma) de Howard. O
À entrada da grande área, o capitão Mouti- que quase beijou o poste. norte-americano não segurou e sobrou in sapodesporto
nho encarregou-se da marcação do livre e Era o primeiro lance de perigo do Everton para Izmailov, que depois de se embrulhar
N
novas viagens ao sabor de uma aventura composições em faixa contínua onde se
o campo ilimitado da inter- que o leva a mergulhar no plasma delirante desenrolam instantâneos arquitectónicos, A página de artes e letras desta Tribuna
venção artística que o séc. XX da matéria líquida (oh! Como eu me reco- anatómicos ou de design e se colam e re- Portuguesa é hoje dedicada a um jovem
proporcionou, vemos o jovem nheço aí também), deixando que a imagi- petem em frisos longitudinais, de um raro extremamente talentoso que tive o privi-
artista num saudável jogo ex- nação da matéria o deslumbre e o conduza equilíbrio e beleza formal. légio de conhecer há pouco mais de uma
ploratório, como de um pêndulo oscilante à porta do caos sensível – esse mistério de Resta-me augurar a Rui Melo um futuro década. Foi, no ano de 1999 que o ar-
se tratasse em busca de sentido e espaço delírios que os fluidos revelam – e aí saber promissor – não sem antes lembrar-lhe a tista Rui Melo, então ainda mais jovem,
de identidade. parar a tempo; o que aconteceu contigo na necessidade de ciclos de silêncio e reflexão veio a Tulare com uma magnífica expo-
Dá gosto vê-lo navegando no plural labi- série de trabalhos que se seguiram com as após cada etapa deste peregrinar – a fim sição. Foi uma das quatro exposições
rinto da interdisciplinaridade, manipulan- figuras recortadas, contidas e suspensas de cimentar as propostas de um discurso integradas no simpósio literário/dramá-
do recursos tradicionais ou tecnologias de no silêncio raso da tela. estético que tantos desejam se torne cons- tico Filamentos da Herança Atlântica,
onde sobressai o computador num enten- Não surpreende que uma nova investida tante e duradouro. que durante 12 anos teve como palco
dimento estético que o seu tempo lhe per- nasça da experiência de contrários e re- a cidade de Tulare. Os quatro artistas
mite e lhe propõe. meta o artista para uma assumida relação José Nuno da Camara Pereira plásticos que Tulare teve a honra de re-
Da fotomontagem dos seus auspiciosos com o conflito, agora já não só no plano IN: catálogo da Exposição de Dezembro ceber foram: Dimas Lopes, José Nuno
auto-retratos gráficos ao tributo prestado formal, mas também no campo semântico, de 2003, Palácio dos Capitães Generais, da Câmara Pereira, Carlota Monjardino
à pintura antiga, numa salutar viagem de na série do conjunto de imagens a que cha- Angra do Heroísmo e Rui Melo. Foram anos de grande efer-
vescência cultural na pequena e pacata
comunidade portuguesa (e na comuni-
dade em geral) da cidade de Tulare.
SOBRE A PINTURA periências com cartão «kapeline». A sua
curiosidade vai ultrapassar a condenação
As técnicas são diversificadas e múltiplas.
As objectivas fotográficas, por exemplo,
Hoje destacamos um desses artistas
generosos que trouxeram a Tulare e à
DE RUI MELO sumária de tal material. Ele vai autopsiá- vão permitir-lhe uma aproximação, muito Califórnia a sua arte. Destacamos Rui
V
lo, arrancando-lhe a pele de um dos lados. válida, aos processos da digitalização. No Melo, com um texto escrito por Álamo
Perante a delicada camada de músculos entanto, nunca enjeitou aquilo que, even- Oliveira e inserido no Vento Norte do
er o Rui Melo entregue, sem moles, vai talhá-los ao jeito de goiva, de- tualmente, poderia ser-lhe fastidioso e sem Diário Insular e outro para um catálogo
quaisquer reservas, aos seus volvendo-nos uma espécie de pauis mari- proveito, como as aulas de desenho. O Rui por José Nuno da Câmara Pereira.
primeiros contactos com as co- nhos, a que não faltam juncos e musgos. Melo tem também essa vantagem sobre o Destacamos ainda algumas imagens do
res, às tentativas de as dispor Mais do que a sua captação do inefável potencial de muitos outros artistas plásti- artista Rui Melo assim como seu impres-
esteticamente na tela, à sua própria surpre- plástico, surpreendeu-me a capacidade de cos: sabe desenhar. Qualquer quadro do sionante currículo.
sa perante o comportamento, imprevisível enobrecer, em termos de linguagem esté- Rui mostra o harmonioso domínio da for- Bem hajas, Rui. Os nossos parabéns e
da matéria, à forma – digamos que realista tica, materiais susceptíveis de serem con- ma, tanto com o lápis como com o pincel. a nossa eterna gratidão por teres trazido
– como organizava as suas primeiras pa- siderados lixo. E não se trata de qualquer O Rui Melo, que regressa da Faculdade de à pequena cidade de Tulare, e às nossas
letas, foi o poder fruir de momentos en- favorecimento à reciclagem. O material Belas Artes, afinal, não é o mesmo. Terá, comunidades o teu talento.
cantatórios que, ainda hoje, retenho como sedu-lo enquanto matéria e é essa matéria de alguma forma, perdido a inocência da abraços
lição sobre o que é isso de ser artista, cres- que ele valoriza utilizando e recriando. Das expressão plástica, perante a abundante, diniz
cendo. Rui Melo, sem pensar nisso sequer, experiências sucedidas – e sempre na pes- cúmplice e promíscua carga informati-
quando me dava o privilégio de poder ver, quisa de outros materiais e de expressões va, regulada e reguladora de opiniões, de
num ambiente de intimidade muito amiga com objectivos pré-definidos – Rui Melo materiais, de técnicas e, sobretudo, de sa-
e, da parte dele, muito tolerante, ensinava- andou também (e anda) nos espaços da fic- beres. Com certeza, não deixaram de lhe Melo desestabiliza apaziguando; serve-se
me, de forma intuitiva também, que nascer ção arquitectónica e plástica, criando-os dizer que Van Gogh tinha uma predilecção dos sentimentos para provocar emoções;
com a pancada de artista não é o suficien- para representações teatrais específicas. especial pelo amarelo e que, só por acaso, através da abstracção, disciplina a estética
te para o ser; que o talento, se preguiçoso Se se tem que enaltecer, mais uma vez, o descobriu que o roxo seria a cor da sombra da nossa relação com a obra de Arte. E fica
também não dá; e a imaginação descon- seu gosto estético, não se pode deixar de sempre que o amarelo fosse tocado pela com a mesma força lírica da poesia.
trolada pode dar, aquela de «uma no cra- apreciar a noção exacta do que é um es- luz solar. Parecem-me ser estes os princípios temá-
vo, outra na ferradura». Está provado que paço cénico, envolvido pelo cenário e este E nem mesmo estas trivialidades Rui Melo ticos que movem Rui Melo; se calhar até,
talento e imaginação, sem transpiração, com a monumentalidade necessária para descurou. Continua a respeitar o princípio a filosofia que o anima. De resto, não o
conduzirão, quando muito, a um caos de ilusionar o espectador, fazendo-o acredi- de que a sabedoria é uma prática porfiante entendo a reinventar signos e símbolos de
futilidades. tar numa realidade do faz-de-conta. e porfiada, sem meta alcançável. interpretação labiríntica; a dar aos enig-
Até frequentar a Faculdade de Belas Artes Antes de frequentar a Faculdade de Belas Mas, o que pinta Rui Melo? Poderíamos mas o sortilégio dos sorrisos; a complicar
da Universidade de Lisboa, as exposições Artes, Rui Melo conquistara já os códigos filosofar sobre a estética significante das a simplicidade da pintura, para justificar o
de Rui Melo mostraram-nos a lógica de um específicos da Pintura e reescrevera uma suas manchas abstractizantes e sentir- por que pinta. Aliás, Rui Melo é um subs-
caminho percorrido com um fôlego límpi- «gramática plástica» pessoal, de forma que nos-íamos satisfeitos por conseguirmos tantivo das transparências. Não precisa de
do, seguro, meticuloso, subindo, subindo o seu «discurso» pictórico fosse entendido envaidecer o nosso ego artístico. Mas tan- recorrer a truques e a adjectivos para ape-
sempre, mostrando uma apetência cada no seu conteúdo universal. Sem se deixar to quanto percebo, o abstractismo de Rui lar ao olhar.
vez mais definida por um entendimento de algemar a nenhum dos «discursos» que foi Melo não tem a função redutora de nos Mas, agora, se tivesse de desenhar um per-
Pintura – um entendimento prático, quase explorando, a sua evolução, sobretudo a deixar amolecer pelo que o abstracto tem curso sobre o mapa da vida, referindo o
nada teórico – e que o foram recomendan- qualitativa, foi sempre uma constante. E de indecifrável. Não é só com isso que os que Rui Melo já cumpriu, penso ser realis-
do a espaços cada vez mais internacionais, sempre são notórios a sua meticulosidade, quadros do Rui nos seduzem. O que seduz ta se disser que tudo está no princípio. Ele
nomeadamente europeus e americanos. o seu perfeccionismo e, até, os seus objec- é apreender o equilíbrio entre volumetria tem muito para fazer, aprendendo; para
Mas nada disto foi meteórico, nem sequer tivos. Ele sabe que não sabe pintar. Isto é: e ausência dela, no duelo saudável entre aprender, fazendo. Assim, garantirá que a
repentino. Pelo contrário. Foi a transpira- ele sabe que é pintando que aprende; que luz e sombra. Aliás, uma das fases mais sua busca pela perfeição será um trabalho
ção aliada ao talento e à imaginação, sem é aprendendo que pinta; tudo contínuo e sedutoras da pintura de Rui Melo aposta persistente, respeitando os silêncios da pa-
qualquer preconceito perante essa forma em continuado. Ele ainda está longe dos em paisagens inlocalizáveis e indefiníveis, ciência, ousando desafiar, com humildade,
de dominar o espaço da tela. compêndios, dos abecedários, das fórmu- mas onde luz e sombra se digladiam para a alva virgindade da tela, tal como Penélo-
Rui Melo sabe deste domínio, conquistan- las químicas para a preparação das telas, se afigurarem em luminosidades subterrâ- pe, que não desistiu de Ulisses, tecendo e
do. Em cada quadro, torna-se sempre mais dos segredos óbvios sobre mistura de pig- neas, assim como momento genesíaco da destecendo o seu tapete de esperança. Ela
visível a harmoniosa distribuição cromáti- mentos e definição de paletas. Fez tudo separação das trevas e da luz, ou, porque sabia que a chegada de Ulisses era sinóni-
ca, mesmo quando recorreu ao figurativo. isso sem aval académico. Até que, um dia, foi essa a minha impressão inicial, a luz mo de perfeição e que esta, há muito, ul-
A lava dos Biscoitos, por exemplo, é duma teve de ser. uterina do encanto. A fase dos azuis con- trapassara o lado mítico da Arte. Por isso,
negridão ostensiva e o seu contraste com a E foi. Mais uma vez, Rui Melo surpreende. firma esse jogo entre o claro e o escuro, o um artista, nunca pode desistir de sonhar.
inconstância das cores do mar e do céu não Surpreende, porque sabendo tanto, aceita som e o silêncio, o etéreo e o palpável, o
passou despercebido. Quase nos sentimos
dispostos a esperar que anoiteça. Lembro
a sua condição de caloiro, reaprendendo odor que se deixa tocar para que se cumpra ÁLAMO OLIVEIRA
o alfabeto da expressão plástica. Aprovei- a paleta dos sentidos.
sempre o arrepio desse negro franjado de tou o tempo da Escola para reconfirmar o Se falarmos de sentidos, teremos de falar
espuma branca e de um mar perdido em in :Jornal “DIÁRIO INSULAR”
que já firmara, mas, sobretudo, para rea- de sentimentos; se de sentimentos, tere-
azuis que chegavam ao céu. dquirir conhecimentos que se prendem às mos de falar de afectos. Não sei se é de-
Mas, ainda mais a meu gosto, as suas ex- mais vanguardistas expressões plásticas. feito ou qualidade, mas a pintura de Rui
PATROCINADORES 27
READERS’ TRIBUNE ty of Ribeira Grande, island of and Community Development where he was born and grew up. for adventure and travel. Most of
São Miguel, in the Azores. He for his unique status as the “Se- Because of my father, I learned all, I learned from my father the
LINO PEDRO DE SOUSA attended the Seminary in Angra nior Migrant Center Manager” to love the islands so much that power of family. Because of his
(Terceira) from 1940 to 1945, and with the Statewide Migrant Farm I, like him, developed a longing love and service we are all the ri-
On December 30, 2009 Lino Pe- was later employed at the Secre- Labor Program. In May 1990 the in my heart for which the Portu- cher for it. His spirit lives on in
dro de Sousa died at Mercy Me- taria Notarial in Ribeira Gran- Tenant Council requested that guese have a special word - Sau- our hearts, and his love remains
dical Center in Merced. He was de. He served in the Portuguese Center Road be named after him, dade. to inspire us now, as he enters the
81 years of age, married to Nor- Army with the rank of Sargento and henceforth be known as “De- Because of my father, I also lear- Kingdom of Heaven to join the
ma Jean de Sousa since 1961, the Miliciano, and worked as a travel Sousa Road.” As a Notary Public, ned to be a man of integrity and Holy Family.”
father of Michael and Richard, 1ing salesmam for the Comissão for a period of 30 years, Lino hel- service. My father was a man of Personally, I have always tre-
father-in-law of Marci and Adele, Reguladora dos Cereais do Ar- ped many Portuguese immigrants humble beginnings, growing up asured Lino’s friendship, from
and grandfather of Mateo, El iza- quipélago dos Açores. Together with documentation and prepara- in the Azores. He attended the the long-gone days of our you-
beth, Carol ine and Maya. with a cousin, Lino came to the tion for U.S. citizenship. local Seminary, where he formed th in Ribeira Grande, and later
A resident of Atwater, Lino be- United States in 1959, and establ Following are some excerpts a strong spiritual foundation and I equally’ enjoyed his cheerful
longed to several Portuguese ished residence in Stockton, whe- from the eulogy given by Micha- many great lasting friendships.
company at many social events
fraternal organizations, and ser- re he taught Portuguese classes in el de Sousa at the time of Lino’s He was a devout Cathol ic and a
throughout California.
ved as secretary-treasurer of the the evening. From 1960 to 1965 funeral: big-hearted man of service, who
To Lino’s family, my heartfelt
U.P.E.C. Merced Council for he worked as sa1es agent for the “Because of my father, I learned loved to help the community,
U.P.E.C. Supreme Council, after to love my Portuguese heritage. from his membership in many condolences and prayers.
47 years. He was also a charter
member and co-founder of the which he worked for the Housing My father made sure to take our Portuguese fraternal societies to
Authority’ of Merced County, un- family back to the Azores several his involvement in his parish. Ferreira Moreno
Festa do Santo Cristo of Buhach
(1988). Lino was born in 1928 in til his retirement 25 years later. times throughout my childhood, Because of my father, I Iearned
the town of Ribeira Seca, coun- In 1989 Lino was recognized by so that I could share his connec- to value dedication and the value
the State Department of Housing tion with that very special place of hard work, as well as the love
COMUNIDADE 29
30 ENGLISH SECTION 1 de Março de 2010
W
hen the young and ged the palace in Lisbon, where
reckless Portugue- they apprehended the Duchess of
se king Sebastião Mântua, Margaret of Savoy, vi-
was killed on Au- ceregal and cousin of Philip IV,
gust 4, 1578at the battle of Alca- and shot her adviser, Miguel de
cer Quibir in Morocco, his feeble Vasconcelos, who had hidden hi-
66-year-old grand-uncle Cardi- mself inside a bedroom closet.
nal Henrique assumed the duties After the surrender of the Spa-
of chief of state with the title of nish garrisons and coastal forts,
king. After the Cardinal’s death the Duke of Bragança left his life
on January 31, 1580 there was no of ease in Vila Viçosa to be ac-
direct descendant to the throne, claimed King João in Lisbon on
but rather a number of potential December 15. Supporting him
candidates ready to fill the royal to the hilt was his wife, Luisa de
vacancy. Among them was Phi- Gusmão, a noble Spanish lady no-
lip II of Spain, whose pretension netheless, who assured the cons-
was based on being the grandson pirators, “I would rather die as a
of Portuguese king Manuel I on queen than live as a servant.”
his maternal side. It must be emphasized that the
According to Richard Pattee, 640 conspiracy was organized
(Portugal & The Portuguese by a group of aristocrats, histori-
World, 1957), when Philip was cally known as Conjurados, even
proclaimed the new sovereign, though there were several rebell
Portugal ceased to exist as an in- ions promoted by peasants at va-
dependent entity. rious other times and places in
The sixty years (1580-1640) of Portugal.
Spanish rule that followed cons- Presently, I would like to broach
tituted a hiatus in the history of another aspect of intrigue, albeit
Portugal. obscure and never revealed in his-
Marion Kaplan (The Portugue- tory books, but closely associated
count. In the neighborhood of tagem to provide the security ne- cions about their conspiratory ac-
se, The Land & Its People, 1991) with the conspirators’ scheme. I
Almada’s residence stood the eded by the Conjurados. At least, tivities. It is all quite possible and
wrote that none of the Spanish still recall how we were told that
Mancebias of Lisbon, which in it was more prudent than taking even suggestive. Evidently, the
monarchs spent much time in the Conjurados began their secret
English are called brothels. Pos- the high risk of either entering most important story is that the
Portugal. Initially, Philip II stayed meetings on October 12 by gathe-
sibly, that was the place chosen or leaving the Almada’s palatial Conjurados not only retrieved an
a few months, Philip III made a ring at night in the palatial resi-
by the Conjurados to hold their residence. independence that had been lost,
short visit in 1619, and Philip IV dence of Antão de Almada.
clandestine meetings. Beside Curiously enough, a similar sce- but also re-established Portugal
took virtually no interest at all. However, and more preferably,
being disguished in heavy’ coats ne occured in the movie “Gone as an independent power in the
In 1640 a group of Portuguese the Conjurados held their nightly
and under cover of the night, they With The Wind”, when, to avoid world after six decades of the
conspirators persuaded a reluc- meetings outdoors at Almada’s
were able to approach any brothel suspicions of conspiracy, Rhett suspension of its sovereignty.
tant and cautious Duke of Bra- gardens, as a clever way to avoid
from different directions, arri- Butler (Clark Gable} stated that In closing, the first of December,
gança, a man whose pleasures suspicion, for the 1ighted win-
ving separately and departing at some individual had spent the ni- the day of the overthrow of Spa-
were music and hunting, to be- dows certainly would attract the
different times. ght with him in a local bordello. nish rule in 1640, is now a Portu-
come king. The Bragança family attention of any passerby.
That way, people would think of Maybe someday it will be pro- guese national holiday.
was the wealthiest in Portugal, Writing in the Azorean newspaper
it merely as a casual occurence, ven that the Conjurados used the
with vast properties and nume- “A União” (December 2, 1995), a
with no fears of a dangerous ploy Almada’s residence and gardens
rous titles. good friend of mine, Dr. Alvaro
in the making. Such ingenious as a detour to reach the Mance-
On December 1st, early in the Monjardino, presented another
escapade served as the best stra- bias, and thus prevented suspi-
morning, the conspirators char- curious and quite plausible ac-
Quando visitámos a cozinha já a morcela estava a ser frita Mais cozinha, mais batata doce e mais morcelas penduradas
Alcides Machado alegrou a noite com a boa música portuguesa Malassadas em São Miguel, filhoses nas outras ilhas
Depois do jantar, o habitual bailarico, vendo-se Joe Rosa e esposa em primeiro plano
linguiça, fígado, batata doce, inhames, caldo de couves e para acabar a festa, ao
As matanças em Watsonville devem ter tudo na Sexta-feira, dia 19 de Fevereiro,
arroz doce, seguido de baile abrilhantado jantar serviu-se novamente produtos de
começado em 1972, como se pôde ver nas com um jantar de caldo de peixe.
pelo Alcides Machado. A meio do baile porco, como no Sábado e com torresmos.
fotografias expostas no Salão. No Sábado, o almoço foi de peixe - atum
houve desfile de mascarados e arremata- Houve actuação do Grupo Folclórico de
Este ano foram três dias de festa, o que e salmão. Uma delícia.
ções. O almoço do Domingo consistiu em Newark. Um fim de semana em grande.
deve ser único na California. Começou Jantar de matança à tarde, com morcela,
O desfile das máscaras foi um momento de boa disposição, porque houve muitas dificuldade em adivinhar quem eram as pessoas mascaradas
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se r v i n g t h e p o r t u g u ese – a m e r i c an c o m m u n i t i es s i n c e 1 9 7 9 • E N G L I S H S E CTIO N
Ideiafix
portuguese
Miguel Valle Ávila
miguelvalleavila@tribunaportuguesa.com
To tell you something about myself, as What is the book of your life?
I stated earlier, I was born and raised in
San Jose, California. I grew up on a dairy My favorite author is John Steinbeck. I
farm that was located on what is now Lake appreciate both American and California
Cunningham Park and Raging Waters. history and Steinbeck has written some
My education took place in San Jose, in- of my favorite books/stories dealing with
cluding a Bachelor of Science in Business, areas I like reading about. I’ve especially
with a Concentration in Office Adminis- enjoyed Of Mice and Men and Tortilla Flat
tration, from San Jose State University. and the areas where they took place. Ho-
My wife, Margaret, and I live in Pacific wever, my favorite book by John Steinbe-
Grove, California. Margaret is a retired ck is Cannery Row and the characters such
teacher having taught 4th grade at St. John as Doc Ricketts.
Vianney in San Jose and later teaching 5th
grade at Our Lady of Fatima in Los Ba-
nos. Our daughter, Jenny, graduated from
the University of San Diego and currently
lives in San Diego with her husband Tim
and their daughter Erin (3 years old) and
son Jack (one year old). Our son John is a
Junior at the University of Southern Cali-
fornia (USC) in Los Angeles.