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CURSO SOBRE TRATAMENTO DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

Fundação Estadual do Meio Ambiente Maio de 2005

Tratamento de resíduos agroindustriais


Prof. Antonio Teixeira de Matos
Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental
Universidade Federal de Viçosa

1. INTRODUÇÃO

As atividades agropecuárias e de processamento de produtos agropecuários têm proporcionado


sérios problemas de poluição no solo, em águas superficiais e em águas subterrâneas. Como os resíduos de
atividades agroindustriais (aí incluídas atividades agropecuárias) apresentam, em geral, grande concentração
de material orgânico, o seu lançamento em corpos hídricos pode proporcionar grande decréscimo na
concentração de oxigênio dissolvido nesse meio, cuja magnitude depende da concentração de carga orgânica
e da quantidade lançada, além da vazão do curso d'água receptor.
Quando há o lançamento de grande quantidade de material orgânico oxidável no corpo hídrico, as
bactérias aeróbias, para estabilizarem o material orgânico presente, passam a utilizar o oxigênio disponível no
meio aquático, baixando sua concentração na água e podendo, com isso, provocar a morte de peixes e
outros animais aquáticos aeróbios, por asfixia. Em caso de lançamento de grandes cargas orgânicas, além de
proporcionar a morte de animais, pode provocar a exalação de odores fétidos e de gases agressivos, causar
eutrofização de rios e lagos e dificultar o tratamento da água para o abastecimento público.
Enquanto as águas residuárias exclusivamente industriais contém, geralmente, maior percentual de
sólidos suspensos e dissolvidos inorgânicos, as águas residuárias de atividades agropecuárias,
agroindustriais e domésticas podem conter partículas de solo, fertilizantes, pesticidas, patógenos e,
comumente, grande carga orgânica.
A pecuária intensiva é uma forma de exploração concentradora de dejetos animais, sabidamente
possuidores de grande carga poluidora para o solo, o ar e a água. A lavagem de estábulos, baias de retirada
de leite, pocilgas e galpões de criação de aves gera grandes quantidades de efluentes poluentes. Resíduos
animais de explorações pecuárias incluem dejetos bovinos, suínos, avícolas, eqüinos, piscícolas, entre
outros. Em locais de criação confinada de animais, pode ocorrer a contaminação das águas superficiais com
grande carga orgânica, bactérias do trato intestinal dos animais, além de alguns metais pesados e outros
componentes tóxicos, presentes nas excretas em razão da inclusão de complementos minerais e do uso de
vacinas e antibióticos. Entretanto, há de se ressaltar que é baixo o risco de transmissão de doenças, em vista
do grande controle sanitário que se faz necessário em criações de grande porte.
Os resíduos agroindustriais são gerados no processamento de alimentos, fibras, couro, madeira,
produção de açúcar e álcool, etc., sendo sua produção, geralmente, sazonal, condicionada pela maturidade
da cultura ou oferta da matéria-prima. As águas residuárias podem ser o resultado da lavagem do produto,
escaldamento, cozimento, pasteurização, resfriamento e lavagem do equipamento de processamento e das
instalações. Os resíduos sólidos são constituídos pelas sobras de processo, descartes e lixo proveniente de
embalagens, lodo de sistemas de tratamento de águas residuárias, além de lixo gerado no refeitório, pátio e
escritório da agroindústria.
Águas residuárias do processamento de produtos animais, tal como as geradas em laticínios,
matadouros e curtumes, são muito poluidoras, podendo conter gordura, sólidos orgânicos e inorgânicos, além
de substâncias químicas que podem ser adicionadas durante as operações de processamento, enquanto que
águas residuárias geradas no processamento de produtos de origem vegetal podem conter, além de elevado
conteúdo de material orgânico, outros poluentes, tais como solo, restos de vegetais e pesticidas.
Da mesma forma que ocorre com águas residuárias domésticas e industriais, a remoção de poluentes
das águas residuárias geradas em atividades agroindustriais (neste texto, as atividades agropecuárias, por
diversas razões, serão consideradas agroindustriais), a fim de torná-las em condições adequadas, de acordo
com os padrões estabelecidos pela legislação ambiental, só pode ser obtida se eficientes sistemas de
tratamento forem implantados e adequadamente operados.

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2. CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

O conhecimento das quantidades geradas e as principais características físicas e químicas dos


resíduos agroindustriais é fundamental para a concepção e o dimensionamento dos sistemas de tratamento
e, ou, disposição dessas águas na natureza.

2.1. Resíduos sólidos

Os resíduos sólidos de agroindústrias (bagaços, tortas, restos de frutas e hortaliças, etc.) são
constituídos por aqueles provenientes de usinas sucro-alcooleiras, matadouros e indústrias do
processamento de carnes (vísceras e carcaça de animais), frutas e hortaliças (bagaço, tortas, refugo e
restos), indústria da celulose e papel (resíduos da madeira, lodo do processo de produção e do tratamento de
águas residuárias), curtumes (aparas de couro e lodo do processo e tratamento de águas residuárias), etc.
Nas Indústrias de processamento de carne gera-se sangue, banha, sólidos orgânicos ou inorgânicos,
sais e químicos que são adicionados durante as operações de processamento. Na industrialização de peixe
constituem os resíduos sólidos pequenos pedaços de peixes, escamas e peles, vísceras, etc.
Nos criatórios de animais em confinamento, tais como de suínos, aves, bovinos, eqüinos, ovinos, são
produzidas grandes quantidades de dejetos que podem ser manejados na forma sólida (conteúdos de sólidos
totais maiores que 15-20 dag L-1), quando são denominados “estercos”.
Os resíduos do cultivo agrícola são constituídos pelos restos de plantas não aproveitados
comercialmente (“cana” de milho, “palha” de feijão, “palha” de soja, etc.).
Além de possível contaminação direta, os maiores impactos provocados por resíduos sólidos orgânicos
são decorrentes da fermentação do material, quando pode ocorrer a formação de ácidos orgânicos
(“chorume” – líquido de elevada DBO formado com a degradação do material orgânico e a lixiviação de
substâncias tóxicas) com geração de maus odores e diminuição do oxigênio dissolvido em águas superficiais.
A produção de gases fétidos provoca desconforto aos seres humanos e animais, além de poder atrair vetores
de doenças. O material orgânico é, também, habitat para proliferação de micro (bactérias, fungos, vírus,
protozoários, etc.) e macrovetores (moscas, mosquitos, baratas e ratos).

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2.1.1. Esterco animal


A produção de resíduos na suinocultura é variável de acordo com o estádio de desenvolvimento do
animal, tipo e quantidade de ração fornecida, condições climáticas, etc. Um suíno na faixa dos 15 - 100 kg
produz, diariamente, o equivalente a 5-9 % de sua massa como fezes+urina, o que corresponde, em média,
de 2,35 kg e esterco por dia ou, somando-se a urina produzida, a 5,8 kg d-1, ou seja, 0,17 m3 cab-1 mês-1. A
geração de poluentes produzida, por dia, por suínos está apresentada no Quadro 1.

Quadro 1. Quantidade de DBO5, sólidos totais e voláteis produzidos por dia pelos suínos.

Parâmetro kg dia-1 (animal de 100kg)-1


Quantidade Produzida 6,7
Conteúdo da Umidade (%) 75-85%
DBO5 0,20-0,25
Sólidos Totais 0,50-0,97
Sólidos Voláteis 0,35-0,80

Bovinos de corte, quando criados em confinamento, proporcionam a produção de grande quantidade


de resíduos, na faixa de 10-15 kg cab-1 d-1, podendo alcançar 27 kg de dejeto fresco por dia, no caso de
animais de 400 kg.
Uma vaca leiteira (peso médio de 400 kg) produz, diariamente, em excretas o equivalente a 28-32 kg
de fezes, estando a produção de fezes + urina na faixa de 38 – 50 kg.
Na engorda, os bezerros são alimentados com dietas altamente concentradas, recebendo leite e
subprodutos do processamento do leite e produzindo um dejeto mais líquido que o de outros animais. A
produção diária de excretas frescas por bezerros é de cerca de 7,5 L.cab-1.
A produção diária de dejetos por frangos é de apenas 0,20 - 0,23 L d-1, entretanto, por crescerem sobre
“camas” de serragem, casca de arroz, casca de amendoim, pó-de-serra ou outros materiais disponíveis, o
volume de resíduo sólido produzido por estes animais torna-se muito grande, considerando-se que a troca da
“cama” tem sido feita de 5-8 vezes por ano.
A composição das excretas de cavalos varia em função do tipo de alimentação que os animais
recebem (concentrado e fenos) e do tipo de “cama” que está sendo utilizada nas estrebarias. As “camas”
podem ser constituídas por camada de maravalha, palha de arroz, de casca de frutos do cafeeiro, capim
seco, feno, etc. Quando se considera apenas o esterco fresco, um cavalo de 450 kg produz de 7 a 8 kg d-1,
sendo o material constituído em cerca de 20% por urina e 80% por material sólido. No caso de uso de
“camas” nas estrebarias, pode-se obter até 30 kg d-1 de resíduo.
O esterco (dejeto sólido fresco ou seco) animal tem constituição variável com a espécie, estádio de
desenvolvimento, alimentação, época do ano, etc. Os valores médios de concentração dos principais
nutrientes presentes em estercos animais estão apresentados no Quadro 2.

QUADRO 2 – Concentração média de nutrientes, em dag kg-1, na massa fresca de estercos de animais.

Esterco Nutrientes
N P K Ca Mg S Fe
gado de leite 0,53 0,35 0,41 0,28 0,11 0,05 0,004
gado de corte 0,65 0,15 0,30 0,12 0,10 0,09 0,004
cavalo 0,70 0,10 0,58 0,79 0,14 0,07 0,010
frango 1,50 0,77 0,89 0,30 0,88 0,00 0,100
ovelha 1,28 0,19 0,93 0,59 0,19 0,09 0,020
suíno 0,58 0,15 0,42 0,57 0,08 0,14 0,020

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2.1.2. Resíduos de cultivo agrícola

A produção de resíduos agrícolas é extremamente variável, dependendo da espécie cultivada, do fim a


que se destina, das condições de fertilidade do solo, condições climáticas, etc. Sabe-se, por exemplo, que,
na cultura da soja, produz-se cerca de 2.700 t de biomassa para cada 1.000 t de grãos colhidos.
O conteúdo de nutrientes em resíduos de culturas é muito variável, dependendo do tipo de material e,
dentre outras coisas, da fertilidade do solo. Uma característica muito importante para resíduos sólidos é a
relação carbono/nitrogênio, pois é usada como referencial para preparo da mistura de resíduos a serem
compostados e para monitorar o processo de degradação aeróbia dos resíduos. A relação C/N é, obviamente,
maior em resíduos muito ricos em carbono e pobres em nitrogênio, como é o caso de serragem de madeira,
por exemplo, que pode apresentar valores em torno de 800:1. No caso de resíduos de cultivos agrícolas, é
mais comum encontrar-se valores entre 10 e 100, como é o caso da palha de trigo que apresenta relação C/N
de 80:1 e resíduos culturais de plantas leguminosas, que apresentam valores de 20:1 ou menos.
No Quadro 3 estão apresentados valores, encontrados na literatura, de concentração e
macronutrientes e relação C/N de alguns resíduos vegetais.

QUADRO 3. Composição química da matéria seca de alguns resíduos de vegetais

Resíduo Ntotal Ptotal Ktotal


------------------------------------------ dag kg-1 --------------------------------------------
Palha de trigo 0,5 0,08 0,75
Palha de milho 0,68 0,16 0,68
Palha de aveia 0,54 0,08 0,98

2.1.3. Resíduos Agroindustriais

A geração de resíduos na agroindústria (aqui incluídos os gerados no beneficiamento de produtos


agropecuários) é, marcadamente, sazonal, uma vez que a matéria-prima é de produção irregular no ano. Por
essa razão, diz-se que existe alta instabilidade do volume produzido de resíduos agroindustriais.
A casca de arroz corresponde, em média, de 20 a 25% do peso do grão, enquanto que cerca de 39%
do peso do fruto do cafeeiro é constituído pela casca. O último resíduo sólido pode ser separado em peneiras
(quando do descascamento a seco do fruto) ou em grades (quando do descascamento a úmido do fruto) e
deve receber destinação adequada, por ser altamente poluente para o meio ambiente, apresentando 1,3 a
1,65 dag kg-1 de Ntotal, 0,05 a 0,17 dag kg-1 Ptotal e 3,17 a 3,66 dag kg-1 de Ktotal.
As usinas açucareiras e destilarias produzem, como resíduo sólido, o bagaço de cana (resíduo da
moagem da cana-de-açúcar), a torta de filtro (resíduo obtido após a filtração do caldo de cana). O
processamento de 1000 toneladas de cana rende, nas usinas açucareiras, em média, 280 toneladas de
bagaço e 35 toneladas de torta de filtro.
Os resíduos de matadouros são constituídos por esterco dos currais, vômitos, conteúdo estomacal e
conteúdo intestinal, além de ossos e pele. Nos matadouros de bovinos são produzidos cerca de 23 kg de
barrigada e 18 kg de dejetos, para cada animal abatido, enquanto nos abatedouros de frango o descarte de
material (penas, intestinos, pé, cabeça e sangue) representa 30% da massa total do animal.
Na industrialização de peixe há produção de resíduos predominantemente constituídos por pedaços de
peixes, escamas e peles, vísceras, etc.
Atualmente as indústrias de papel e celulose enfrentam sérios problemas em relação à eliminação de
resíduos sólidos, sendo que na etapa de preparação da polpa produz-se cerca de duas vezes mais sólidos do
que a fase de branqueamento da celulose.
No Quadro 4 estão apresentados valores, encontrados na literatura, de concentração e
macronutrientes e relação C/N de alguns resíduos sólidos agroindustriais.

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QUADRO 4. Composição química da matéria seca de alguns resíduos sólidos agroindustriais.

Resíduo Ntotal Ptotal Ktotal C/N


------------------------------- dag kg-1 -------------------------------------
Torta de mamona 5,4-5,5 0,8-0,9 1,2-1,3 10/1
Bagaço de cana-de-açúcar 0,3-0,8 0,05-0,12 0,15-0,8 64-108/1
Torta de filtro 0,6-2,2 1,0 1,0 20-28/1
Serragem de madeira 0,06-0,18 <0,04 0,1-0,15 865/1
Bagaço de laranja 0,71 0,08 0,34 18/1
Borra de café (solúvel) 1,91 0,07 0,02 25/1
Casca de semente de algodão 0,68 0,03 1,00 78/1
Casca de arroz 0,78 0,25 0,41 39/1
Polpa de sisal 1,38 0,21 0,73 27/1
Torta de babaçu 3,70 0,85 0,90 14/1
Torta de cacau 3,28 1,06 1,21 11/1
Torta de coco 4,37 0,82 3,14 12/1
Sangue seco 11,8 0,52 0,58 4/1
Torta de linhaça 5,66 0,75 2,61 9/1
Pó de couro 8,7 0,10 0,37 6/1

2.1.4. Lodo de estações de tratamento de águas residuárias

Em sistemas de tratamento de águas residuárias agroindustriais são gerados subprodutos sólidos no


gradeamento, caixa de areia, nos decantadores primários e secundários, em lagoas anaeróbias e facultativas,
etc.
O período entre remoções varia com as características da água residuária tratada e critérios de projeto.
Na lavagem de frutos do cafeeiro, raízes (cenoura, mandioca) ou tubérculos (batata), como é grande a
presença de partículas de solo em suspensão nas águas residuárias, um decantador primário deverá ser
construído e, diariamente, limpo para o adequado tratamento dessas águas. Em outras unidades do sistema
de tratamento, a remoção do lodo pode ser semanal, mensal, anual ou em intervalos de anos definidos no
projeto.
Muito pouca informação encontra-se disponível na literatura a respeito das características físicas e
químicas do lodo gerado no tratamento de águas residuárias agroindustriais, o que tem gerado problemas na
definição das formas de disposição final desses resíduos.

2.1.5. Lixo

O lixo gerado na agroindústria, constituído por embalagens, sobras diversas e descartes provenientes
de refeitório, escritório e pátio de produção, apresenta composição semelhante ao de lixo urbano, sendo
constituído, em média, por 31% de material reciclável e 65% de matéria orgânica putrescível (restos de
frutas, de legumes, de comida, de folhas etc).

2.2. Águas residuárias

A determinação da vazão de águas residuárias nas agroindústrias, se não puder ser obtida
diretamente em pontos de lançamento, pode ser estimada tomando-se por base o consumo de água no
processo de produção, incluindo-se águas usadas na lavagem de pisos e maquinário.
Os principais impactos ambientais proporcionados pelo lançamento de águas residuárias
agroindustriais, sem tratamento prévio, em corpos hídricos são a elevação da DBO da água, o que provoca
diminuição do oxigênio dissolvido no meio; alteração da temperatura e aumento da concentração de SS
(aumento da turbidez) e SDT na água; eutrofização dos corpos hídricos e proliferação de doenças veiculadas
pela água.
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2.2.1. criatórios animais

Caso nos criatórios de animais tenha se optado pelo manejo de resíduos produzidos na forma líquida
(liqüame, com concentração de sólidos totais de 8 a 15 dag L-1, ou água residuária, com concentração de
sólidos totais menor que 8 dag L-1), as quantidades produzidas e as características do resíduo serão
alteradas pela diluição proporcionada pela adição de água. Além disso, as quantidades produzidas variam
com o período do ano, dia da semana e horário do dia. No geral, a vazão de águas residuárias geradas na
criação de animais é função do número de animais confinados, da quantidade de água desperdiçada nos
bebedouros, da quantidade de água usada na higienização das instalações e transporte hidráulico dos
dejetos e da existência ou não de sistemas de isolamento para evitar a incorporação de águas pluviais.
A incorporação de água aos dejetos frescos, a fim de facilitar o transporte e, principalmente a
aplicação desses resíduos em áreas de cultivo agrícola, tem sido prática freqüente em muitos países,
notadamente nos que têm mais avançada tecnologia agropecuária. Nesses países, até a “cama” de frango
tem recebido água para tornar o resíduo líquido, facilitando, dessa forma, sua aplicação no solo.
Em suinoculturas, nas quais o dejeto é transportado por meio hidráulico, gera-se, em média, entre 8 e
25 litros de águas residuária por animal por dia. A produção diária de águas residuárias na bovinocultura
confinada está em torno de 4,6 dag kg-1 da massa viva do animal. Ovinos geram, por dia, o equivalente a 3,6
dag kg-1 de sua massa viva como água residuária.
As características químicas e físicas das águas residuárias de criatórios de animais são altamente
variáveis, uma vez que dependem da digestibilidade e composição da ração, além da idade dos animais. A
concentração de sólidos totais é dependente da diluição imposta aos dejetos pela água usada na
higienização das baias, e como fluido transportador, perdas em bebedouros e existência ou não de sistema
para e condução em separado das águas pluviais.
As águas residuárias da suinocultura contêm grande quantidade de material orgânico (DBO de 5.000 a
20.000 mg.L-1) e sólidos totais, estando a composição química básica do liqüame, produzidos em unidades de
crescimento e terminação (animais de 25 a 100 kg), apresentada no Quadro 5.

Quadro 5. Características físicas e químicas do liqüame gerado em unidade de crescimento e terminação de


suínos.

Parâmetros Média Coeficiente de Variação(%)


pH 6,94 2,45
Matéria seca (dag L-1) 8,99 13,68
Sólidos totais/ ST (dag L-1) 9,00 27,33
Sólidos voláteis/SV (dag L-1) 75,05 5,86
Nitrogênio total (dag L-1) 0,60 8,33
Fósforo (dag L-1) 0,25 28,00
Potássio (dag L-1) 0,12 33,33

No Quadro 6 estão apresentadas algumas características físicas e químicas dos liqüames e águas
residuárias geradas por bovinos de corte, bovinos de leite e bezerros.

QUADRO 6. Nutrientes presentes nos liqüames produzidos em criatórios de bovinos de corte, bovinos de leite
e bezerros.

Manejo ST Total
N-NH4+ N disponível P K
(dag kg-1) -------------------------------------------- kg t-1 de liqüame ----------------------------------------
Bovinos de corte 11 2,96 4,93 1,45 3,48
Bovinos de leite 8 1,48 2,96 0,97 2,96
Bezerros 3 2,34 2,96 1,31 5,21
Frangos 13 7,88 9,86 1,92 9,82
Cavalos 9 0,45 0,12 0,22

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No Quadro 7 estão apresentados dados médios de produção de águas residuárias, considerando


diferentes unidades de produção, além das faixas normais para os principais parâmetros de sua
caracterização.

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QUADRO 7. Características das águas residuárias de alguns criatórios de animais

Gênero Tipo Unidade de produção Carga DBO (kg unid-1.) E.P. de DBO (hab unid-1) DBO (mg L-1) Carga SS (kg un-1.)
CRIATÓRIOS DE Suínos t viva.dia 1,5-2,5 28-46 5.000 - 20.000 -
ANIMAIS Vacas leiteiras t viva.dia 0,8-2,0 16-38 1500-5000 -
CONFINADOS Bovinos de corte t viva dia 1,6 4-12 5.000-15.000 12
Eqüinos t viva.dia 1,0 – 1,6 4-12 5.000-10.000 12
Ovinos t viva.dia 0,9 16 2.000-3.000 15

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2.2.2. agroindústrias

A vazão de águas residuárias em agroindústrias é função, principalmente, do tipo e quantidade de


matéria-prima processada e das técnicas empregadas no processamento. Em termos qualitativos, os
resíduos agroindustriais apresentam, também, grande variabilidade, por isso o assunto será tratado
separadamente para cada tipo de unidade agroindustrial.

- beneficiamento de frutos do cafeeiro


Com o intuito de produzir grãos de café ditos “finos”, de melhor qualidade e maior valor comercial,
produtores de café têm, nos últimos anos, instalado máquinas de beneficiamento desse fruto em suas
propriedades. Os resíduos gerados no processamento, por via úmida, de frutos do cafeeiro, entretanto em
grande problema ambiental em razão dos grandes volumes de águas residuárias, cascas e polpas úmidas
gerados na atividade. A vazão de águas residuárias geradas, condicionada pelo volume de frutos
processados, está em torno de 1 litro para cada litro de fruto lavado e de 4 litros para cada litro para cada litro
de fruto despolpado, quando não for feita a recirculação da água.
As características químicas e bioquímicas das águas residuárias geradas no beneficiamento de frutos
do cafeeiro gêneros conilon e arábica estão apresentadas no Quadro 8. Pode-se observar, com base nos
valores apresentados no Quadro 8, que o potencial poluente das águas em recirculação aumentam durante o
processo de descascamento/despolpa dos frutos.

QUADRO 8: Características químicas e bioquímicas da água residuária da lavagem e


descascamento/despolpa (Desc/desp) dos frutos do cafeeiro

Tipo função pH DQO DBO Ntotal Ptotal Ktotal Natotal


------------------------------------------------------- mg.L-1 ------------------------------------------------------
Conilon Lavador 4,9 1.520 411 76.8 5 41 25,5
Conilon Desc/desp 4,1 10.000–11.000 3.100-3400 120-160 10,2-14,0 150-205 58-77
Conilon Desc/desp2 4,1 11.000 3.374 160 13,9 204,7 77,1
Arábica Desc/desp1 3,5 – 5,2 3.430–8000 1.840-5.000 120-250 4.5-10.0 315-460 2,0-5,5
Arábica Desc/desp2 - 18.600-29.500 10.500-14.340 400 16 1.140 16,5
1 sem recirculação; 2 com recirculação.

- usinas sucro-alcooleiras
A vinhaça é um efluente de usinas de destilarias de álcool e aguardente, resultante da destilação do
mosto fermentado (caldo de cana, melaço ou xarope diluído), sendo gerada na proporção de 13 a 16 litros por
litro de álcool produzido. O processamento de 1.000 toneladas de cana-de-açúcar rende, nas usinas de
produção de álcool, em média, 910 m3 de vinhaça. No caso de usinas açucareiras com destilaria, a geração
de vinhaça está entre 150 e 300 m3 por cada 1.000 toneladas de cana-de-açúcar processada. No Quadro 9
estão apresentadas características químicas, físicas e bioquímicas da vinhaça, segundo diversos autores.
Em destilarias de álcool e aguardente gera-se, como água residuária, vinhaça e água amoniacal. A
vinhaça é, no entanto, o principal resíduo de usinas de produção de álcool e aguardente, sendo de elevado
potencial poluente, em razão da elevada DBO (>20.000 mg.L-1) que detém.
Devido à sua riqueza em matéria orgânica e nutrientes, particularmente K, conforme pode-se verificar
no Quadro 9, torna conveniente a sua aplicação na lavoura canavieira.

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QUADRO 9. Análise física, química e bioquímica da vinhaça

Atributo Autor
(1) (2) (3) (4) (5)** (6) (7) (8)
pH 4,1-4,5 5,0 4,12 3,5 6,9
DQO (mg L-1) 60.000 30.000 31.360
DBO (mg L-1) 20.000 12.302 16.000 26.891
ST (mg L-1) 46.000-85.000 21.992
SDT (mg L-1) 945 11.312
SST (mg L-1) 10.680
SP (mg L-1) <1
SFT (mg L-1) 2.961
SVT (mg L-1) 19.031
m.o. (mg L-1) 130.390 9.760 6920
Relação C/N 16-24 27/1
Ctotal (mg L-1) 5420
Ntotal (mg L-1) 1.290 364 6.600-9600 3.860 200 120 392,1
P (mg L-1) 49,4* 82 49 200-400 162 140 35 87,9
K (mg L-1) 2.398 -2.940 4.001 2.816 5.800-7800 1.502 1.950 744 324,0
Na (mg L-1) 39 94,9
Ca (mg L-1) 1062 3.600-5.200 4118 210 258
Mg (mg L-1) 39,4 1.000-1.600 1818 220 100
* fosfato

- laticínios
As águas residuárias das indústrias de laticínios apresentam ampla variação de vazão, dependente do
período do dia e do tipo de atividade executada. A quantificação da vazão ou volume de águas residuárias
geradas em laticínios depende, fundamentalmente de uma caracterização prévia dos produtos obtidos e das
formas de processamento empregadas.
A variedade de produtos das indústrias de laticínios é grande, abrangendo desde o processamento do
leite até a elaboração de produtos mais trabalhados, tais como queijos diversos, requeijão, cremes, sorvetes,
iogurtes, leite em pó, leite condensado etc.
No processamento do leite para consumo “in natura”, as operações geradoras de águas residuárias
são: lavagem e desinfecção de equipamentos (tanques, centrifugas, pasteurizador, homogeneizador,
tubulações, latões, etc), quebra de embalagens contendo leite, perda nas enchedeiras e lubrificação dos
transportadores. Em média, produz-se cerca de 3,25 litros de água residuária para cada litro de leite
processado. Tem-se, em média, a geração de 2,0 kg ou mais de DBO por cada 1.000 kg de leite processado.
Na obtenção de creme, o leite, após o recebimento e estocagem, é enviado a uma centrífuga onde é
feita a separação creme-leite. O leite desnatado obtido é, então, utilizado na fabricação de queijos, iogurte e
leite condensado. O creme de leite obtido passa por uma mistura, sendo a seguir, pasteurizado e
homogeneizado. Nessas fases do processamento, as águas residuárias são constituídas, principalmente, por
leite, materiais sólidos (substâncias graxas), detergentes, desinfetantes e lubrificantes. Águas residuárias de
características semelhantes são geradas na fabricação de leite condensado e leite em pó, sendo, entretanto,
maior sua carga orgânica.
Na fabricação do queijo, o leite desnatado ou puro é submetido a um processo de coagulação com a
adição de determinadas enzimas. Após estar coagulado, a emulsão é quebrada, obtendo-se, após ser
submetida a prensagem ou não, uma parte sólida (coágulo) e uma parte líquida (soro), esta se constituindo
no resíduo que causa maior preocupação pela significativa carga orgânica que detém. No Brasil, os queijos
são geralmente maturados já embalados. Após a maturação, os queijos são guardados em câmaras de
estocagem e/ou comercializados.
Para cada litro de leite utilizado na fabricação de queijo são gerados de 0,6 a 0,9 litro de soro ou, de
outra forma, para cada quilo de queijo produzido gera-se cerca de 27-55 kg de soro. Na produção de queijo

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gera-se entre 3 e 4 litros de água residuária para cada litro de leite processado, além de mais 5 a 10 L de
soro para cada quilo de queijo produzido.
Na fabricação de iogurte são feitas adições de polpas de frutas, essências, açúcar, leite em pó, etc, que
devem proporcionar a geração de águas residuárias com carga orgânica ainda mais elevada.
Além do soro, as águas residuárias de laticínios podem conter leite, leitelho ou “soro da manteiga”
(líquido resultante da batedura do leite), coágulos, detergentes e desinfetantes, areia, lubrificantes, açúcar,
pedaços de frutas, essências e condimentos diversos, diluídos nas águas de lavagem de equipamentos,
tubulações, pisos e demais instalações da indústria. Dentre as substâncias usadas para limpeza de
equipamentos e utensílios, encontram-se os alcalinos, os fosfatos, os ácidos, os complexantes e os
tensoativos. Entre os principais agentes alcalinos utilizados, destaca-se o hidróxido de sódio ou soda
cáustica, que apresenta um pH próximo a 13, quando em solução a 1%; já entre os agentes ácidos
inorgânicos, estão os ácidos nítrico, fosfórico e clorídrico. Dentre os sanitizantes químicos mais usados em
laticínios estão os compostos à base de cloro, iôdo, amônia quaternária, ácido peracético, peróxido de
hidrogênio, clorhexidina, irgasan, entre outros.
As águas residuárias do processamento do leite fresco são ricas em material orgânico dissolvido e
muito pobres em material orgânico suspenso.
A DBO do leite integral é cerca de 100.000 mg L-1 e exigem uma alta demanda de oxigênio para sua
decomposição, mesmo em pequenas quantidades, porém seu valor nas águas residuárias irá depender do
tipo de processamento a que o leite foi exposto e do tipo de produto manufaturado. Tem-se, em média, 2,0
kg ou mais de DBO por cada 1.000 kg de leite processado, sendo que, em média, a água residuária contém
4.200 mg L-1 de DBO. Em um laticínio com queijaria, em razão do soro, que contém cerca de 4 dag L-1 de
sólidos e elevada DBO (entre 30.000 a 60.000 mg.L-1), as águas residuárias geradas apresentam maior
carga orgânica.

-matadouros de bovinos
O consumo de água em matadouros de bovinos é bastante variável, dependendo do tipo de instalação.
Os volumes de água gastos estão entre 0,25 e 0,4 m3 para cada animal abatido, sendo distribuídos da
seguinte forma: 0,9 m3 na sala de abate, cerca de 1,0 m3 nas demais dependências (bucharia, triparia,
sanitários, etc.) e 0,6 m3 na área externa (currais, pátios, etc.). considerando-se uma recuperação de 75-80%
da água usada no processo, estima-se a geração de 0,20-0,35 m3 de água residuária por animal abatido.
O efluente líquido de matadouros é constituído, principalmente, por água de limpeza dos equipamentos
e do piso, devendo conter sangue, resultante do gotejamento no piso ao longo da linha de abate, e pequenas
partículas da carcaça, pêlos, gordura, vômitos e barrigada. Peças condenadas da carcaça são, em grande
parte, recuperadas para a produção de graxas e farinhas.

- Celulose e papel
A produção de águas residuárias na indústria de celulose e papel é dependente do tipo de processo de
produção empregado, do grau de reciclagem da água na planta e das técnicas empregadas no controle da
poluição. O consumo de água é muito alto, da ordem de 20 a 450 m3 por tonelada de polpa produzida (em
plantas bem operadas pode-se gerar efluentes na faixa de 25 a 60 m3 t-1), porém são também dependentes
do processo utilizado e do grau de recirculação da água nas plantas.
O volume de águas residuárias geradas na indústria de celulose é bastante alto, sendo que uma
indústria que produz, em média, 2.000 kg dia-1 de polpa pode chegar a 6.500 m3 dia-1. A vazão de águas
geradas em um processo Kraft é de 90 a 127 m3 t-1 processada, sendo que a etapa de branqueamento da
polpa contribui com 50% do efluente gerado em toda a indústria.

- curtumes
No geral, as águas residuárias de curtume caracterizam-se por apresentarem elevado pH, alta carga
orgânica, grande quantidade de sólidos suspensos (pelos e carnaça), intensa cor, grande dureza e elevadas
concentrações de sulfetos e de crômio.

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O crômio, presente nas águas residuárias de curtumes que utilizam sais de crômio na operação de
curtição, tem sido considerado poluente significativo, por ser potencialmente tóxico à biota, sendo a espécie
iônica Cr+6, considerada muito mais tóxica que a Cr+3.
As águas residuárias de curtumes, provenientes da etapa de tratamento chamada “ribeira” (lavagens,
remolho, caleação e curtição) são fortemente alcalinas (pH elevado), turvas, esbranquiçadas, devido ao
excesso de cal, contêm suspensão de tecido muscular, colágeno, pêlos, sebo, restos de pele, areia, terra,
gordura e sangue. Em decorrência dos tratamentos químicos a que o couro é submetido, essas águas
residuárias podem apresentar, em solução, sulfeto de sódio, cloreto de sódio, aminoácidos, albumina. A DBO
das águas residuárias dessa etapa do processamento do couro é elevada.
As águas residuárias da etapa de curtição (acidificação e curtição propriamente dita) contêm, enzimas
e curtientes (vegetais e minerais utilizados para facilitar o curtimento do couro) e ácidos minerais (HCl) e
orgânicos (lático e fórmico), apresentando, por isso, pH ácido. Apresentam, também, elevada turbidez e cor
verde (curtição por crômio) ou castanha (curtição por taninos). Dependendo do curtiente utilizado, essas
águas residuárias apresentarão maior ou menor DBO.

- Indústrias de processamento de frutas e hortaliças


Em indústrias de processamento de frutas e hortaliças são gerados resíduos sólidos e líquidos. As
águas residuárias apresentam, caracteristicamente, elevado conteúdo orgânico, devido à presença de restos
vegetais e inseticidas; altas temperaturas; baixas concentrações de sólidos em suspensão e DBO
relativamente baixa.
Águas residuárias do processamento de cenoura e tomate apresentam, respectivamente, DQO de
1.750-2.900 e 650-2.300 mg L-1 e DBO de 800-1.900 e 450-1.600 mg L-1. A lavagem de batata gera efluentes
de DBO em torno de 3.300 mg L-1.

- Indústrias de processamento de carne


Em matadouros de bovinos as águas residuárias são compostas de sangue (156.000 mg.L-1 de DBO5);
apararas, sebo, pêlos, parte da barrigada, além de dejetos do animal abatido. O sangue bovino tem DBO5 de
156.000 mg L-1, DQO de 218.300 mg L-1, conteúdo de umidade de 820 g L-1 e pH de 7,3. Águas residuárias
da seção de empacotamento de carnes tem valores médios de 1.240 mg L-1, DQO de 2.940 mg L-1, 85 mg L-1
de N orgânico e 1.850 mg L-1 de sólidos suspensos.
Em abatedouros de frangos, as águas residuárias de processo apresentam DBO e DQO mais elevadas
do que as de lavagem das máquinas e pisos, apresentando as primeiras DBO em torno de 3.900 mg L-1 e
DQO de 16.230 mg L-1, enquanto as segundas DBO de 2.350 mg L-1 e DQO de 4.850 mg L-1. O conteúdo de
óleos e graxas é, no entanto, maior nas águas de lavagem, alcançando concentração de 8.000 mg L-1,
enquanto as águas de processo apresentam valor de 2.500 mg L-1.
No cozimento dos peixes e águas de resfriamento dos condensadores são gerados grandes volumes
de águas residuárias, com DBO de 2.700 a 3.500 mg.L-1, sólidos totais de 4.200 a 21.800 mg.L-1 de sólidos
em suspensão de 2.200 a 3.000 mg.L-1. As águas de cozimento dos peixes e as águas utilizadas no
resfriamento dos condensadores são geradas em grandes volumes, porém de pequena carga orgânica. A
DBO das águas residuárias é de 2.700-3.440 mg L-1, com 4.200-21.800 mg L-1 de sólidos totais e 2.200-3.020
mg L-1 de sólidos em suspensão.

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3. TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

3.1. INTRODUÇÃO

Para a concepção e o dimensionamento de sistemas de tratamento de águas residuárias


agroindustriais ou de qualquer outra água residuária, deve-se definir, primeiramente, o objetivo do tratamento,
o nível do tratamento que se quer alcançar e a destinação do efluente tratado. Caso pretenda-se lançar o
efluente em corpo receptor, o sistema deve ser planejado de forma que se atenda a Legislação Ambiental,
cuja exigência é de que ou efluente atinja o padrão de lançamento (DBO de 60 mg L-1) ou que o sistema
tenha eficiência de 85% na remoção de DBO e que o lançamento do efluente tratado não venha a alterar a
classe de enquadramento dos cursos d’água. Entretanto, caso a opção final seja a disposição no solo,
algumas etapas de tratamento podem ser eliminadas e o sistema de tratamento pode ser simplificado, porém
critérios agronômicos de aplicação deverão, necessariamente, ser considerados.
Para remoção de sólidos em suspensão, pode-se utilizar o gradeamento, caixas de remoção da areia,
sedimentação. O material orgânico biodegradável pode ser removido em sistemas anaeróbios, lagoas de
estabilização e variações, sistemas de lodos ativados, filtros biológicos, sistemas alagados de tratamento
(“wetlands”) ou por disposição no solo. A remoção de patogênicos ocorre em lagoas de maturação, processos
de tratamento por disposição no solo, por desinfecção com produtos químicos ou com o uso de radiação solar
ou ultra-violeta. A remoção dos nutrientes nitrogênio e fósforo pode ser feita por remoção biológica, em
sistemas de tratamento por disposição no solo ou por processos físico-químicos, sendo que desnitrificação
um processo bioquímico que pode, também, ser usado para remoção de nitrogênio das águas residuárias.

3.2. NÍVEL DO TRATAMENTO

O tratamento de águas residuárias pode ser classificado em Preliminar, Primário, Secundário e


Terciário (apenas eventualmente inserido em sistemas de tratamento). A distribuição dos processos dentro
dessa classificação tem sido, entretanto, motivo de divergência entre autores, já que alguns enquadram
determinados processos unitários em um nível de tratamento enquanto outros os enquadram em outro.

Preliminar

O tratamento preliminar constitui uma etapa inicial de tratamento das águas residuárias agroindustriais,
com a qual visa-se a remoção de sólidos grosseiros, óleos e graxas. Com este fim, tem sido usado grades,
crivos, telas e peneiras, desarenadores ou caixas de areia e caixas de gordura. No caso da presença de
decantadores primários no sistema de tratamento, caixas de gordura são dispensáveis.
As principais finalidades da remoção dos sólidos grosseiros são a proteção dos dispositivos de
transporte das águas residuárias (bombas e tubulações) e das unidades de tratamento subsequentes ou,
caso seja a única etapa de tratamento, minimizar impactos em corpos receptores. A remoção de óleos e
gordura justifica-se para evitar a formação de incrustações nas tubulações e estruturas, além de facilitar o
tratamento subseqüente da água residuária.
O gradeamento é de fundamental na remoção de partículas sólidas grosseiras das águas residuárias,
sendo necessário no tratamento preliminar e águas residuárias do processamento de frutas e hortaliças
(descascamento/despolpa de frutos do cafeeiro, indústrias de suco de frutas etc.) e de abatedouros de
animais. A grade deverá ser inserida em um canal concretado e ser instalada numa inclinação de 45o com a
horizontal, a fim de facilitar sua limpeza. O espaçamento entre as barras da grade vai depender do diâmetro
de partículas que se quer remover.
A remoção da areia porventura contida nas águas residuárias é feita por meio de unidades especiais,
denominadas desarenadores. O mecanismo de remoção da areia é simplesmente o de sedimentação: grãos
de areia, por apresentarem maior massa específica do que a água e tamanho superior a 0,2 mm, deverão
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decantar no reservatório do desarenador, ficando aí retidos. É uma etapa importante no tratamento de águas
residuárias da lavagem de raízes e tubérculos e de frutos do cafeeiro.
Além das unidades de remoção dos sólidos grosseiros, pode ser incluída, também, uma unidade para a
medição da vazão. Tem sido utilizados, com este fim, calhas Parshall e vertedores (retangulares ou
triangulares).

Primário

O tratamento primário é, também, uma etapa de tratamento parcial, podendo ser intermediária em
sistema de tratamento mais completo ou final, no caso de disposição da água residuária no solo. As águas
residuárias, após passarem pelas unidades de tratamento preliminar, podem conter, ainda, grande
quantidade de sólidos em suspensão não grosseiros, os quais podem ser parcialmente removidos em
unidades de decantação. Uma parte significativa destes sólidos em suspensão é compreendida pelo material
orgânico em suspensão. Assim, a sua remoção por processos simples, como a decantação, implica na
redução da carga de DBO dirigida ao tratamento secundário, onde a sua remoção é, de certa forma, mais
custosa.
No tratamento Primário, tem-se por objetivo a remoção de sólidos em suspensão, e que são passíveis
de decantação, além de sólidos flutuantes. Para que isso seja possível, podem ser utilizados processos de
decantação, digestão anaeróbia, filtros biológicos, filtros orgânicos, lagoas anaeróbias ou reatores
anaeróbios.
Nos decantadores, as águas residuárias devem fluir vagarosamente, de forma a permitir que os sólidos
em suspensão, de maior massa específica que o líquido em tratamento, possam decantar, gradualmente, no
fundo do tanque. Essa massa de sólidos é denominada lodo primário bruto.
Materiais flutuantes, como graxas e óleos, tendo uma menor massa específica que o líquido em
tratamento e que não foram removidos na caixa de gordura, sobem para a superfície dos decantadores, onde
são coletados e removidos do tanque, devendo ser conduzidos para receber tratamento posterior (digestão
ou secagem em “leitos de secagem”).
As fossas sépticas e suas variantes, como os tanques Imhoff são também formas de tratamento de
águas residuárias consideradas de nível primário. Essas unidades de tratamento são basicamente
constituídas por decantadores, onde os sólidos sedimentáveis são removidos, permanecendo neste local por
períodos de tempo suficientes (3-5 anos) para a sua estabilização bioquímica.
Para remoção de grande parte do material orgânico em suspensão, como etapa posterior ao
decantador ou mesmo quando eles não estão presentes, podem ser utilizados filtros orgânicos. Nesse caso,
alguns resíduos agrícolas, tais como bagaço de cana-de-açúcar, sabugo de milho triturado, serragem de
madeira, casca de arroz, pergaminho do grão de café e a própria casca do fruto do cafeeiro podem ser
utilizadas como materiais filtrantes para separação de sólidos da água residuária. O material filtrante, após
exaurida sua capacidade de remoção de material orgânico da água residuária, deve ser substituído por
materiais orgânicos “limpos”. O material orgânico retirado dos filtros pode ser submetido ao processo de
compostagem e, após estabilizado bioquimicamente, ser usado na adubação de culturas agrícolas.
No caso do aproveitamento agrícola ou o tratamento da água residuária por disposição no solo, o
tratamento primário, geralmente, já coloca a água residuária em condições de ser transportada e aplicada ao
solo. Caso a opção seja pelo lançamento em corpos hídricos, para atendimento da legislação ambiental, o
tratamento deverá ser, necessariamente, continuado, sendo o líquido enviado para recebimento de
tratamento secundário.
Considera-se que, no geral, a eficiência de remoção de poluentes no tratamento primário seja a
seguinte:
• Sólidos em suspensão (SS): 60-70%
• DBO: 30-40%
• Coliformes: 30-40%

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Com o uso de filtros orgânicos tem se conseguido eficiências de remoção maiores que 40% para
sólidos totais, que 90% para sólidos em suspensão, que 95% para óleos e graxas e que 60% para DBO de
águas residuárias da suinocultura.

Secundário

Em razão de apresentarem elevadas concentrações de material orgânico biodegradável, as águas


residuárias agroindustriais apresentam maior aptidão para o tratamento biológico, o qual tem sido utilizado
para obtenção de mais completa remoção do material orgânico.
No tratamento Secundário visa-se a remoção de parte significativa do material orgânico em suspensão
fina (DBO em suspensão), não removido no tratamento primário, e parte do material orgânico na forma de
sólidos dissolvidos (DBO solúvel). Para isso, pode ser usada a filtração biológica, lodos ativados, lagoas de
estabilização, tratamento por escoamento superficial ou sistemas de tratamento em áreas alagadas
(”wetlands”).
Enquanto nos tratamentos preliminar e primário predominam mecanismos de ordem física, no
tratamento secundário, a remoção do material orgânico é, predominantemente, decorrente de transformações
bioquímicas proporcionadas pelos microrganismos.
Uma grande variedade de microrganismos pode tomar parte nesse processo: bactérias, protozoários,
fungos etc. A base de todo o processo biológico é o contato efetivo entre esses organismos e o material
orgânico contido nas águas residuárias, de tal forma que esse possa ser utilizado como alimento pelos
microrganismos. Os microrganismos aeróbios convertem o material orgânico em gás carbônico, água, nitratos
(NO3-), sulfatos (SO42-) e outros compostos estáveis, além de material celular (estruturas biológicas dos
microrganismos), enquanto bactérias anaeróbias transformam material orgânico em dióxido de carbono (CO2)
e compostos orgânicos simples como metano (CH4), sulfeto de hidrogênio (H2S) e amônia (NH3), conforme
esquema apresentado na Figura 1.
A decomposição anaeróbia, por sua vez, tem sido o processo mais indicado para tratamento de águas
residuárias de elevada carga orgânica.
A decomposição aeróbia é um processo essencialmente inodoro, que possibilita maior destruição de
organismos patogênicos, proporcionando grande redução nas características poluidoras das águas
residuárias.

FIGURA 1. Esquema ilustrativo do tratamento biológico em lagoas facultativas.

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O tratamento secundário, geralmente, requer que a água residuária tenha recebido tratamento
preliminar, entretanto, pode ou não ser antecedido pelo tratamento primário. Existe uma grande variedade de
métodos de tratamento em nível secundário, sendo que os mais comuns os de lagoas de estabilização,
sistemas de Lodos ativados e disposição sobre o solo.
A eficiência obtida na remoção de poluentes no tratamento secundário é mais dependente do sistema
utilizado e de detalhes de dimensionamento e projeto do que no tratamento primário. Entretanto, pode-se
considerar que, de forma geral, a remoção de DBO e de bactérias coliformes deve ocorrer na faixa de 60 a
99%.)

Terciário

Com o tratamento terciário objetiva-se a remoção de poluentes específicos (nitrogênio, fósforo, metais
pesados ou outras substâncias tóxicas ou compostos não biodegradáveis), agentes patogênicos ou ainda, a
remoção complementar de poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário, sendo, por
isso, geralmente utilizados processos químicos ou físico-químicos de remoção. Entretanto, com o maior
conhecimento de sistemas solo-planta como reatores, altamente eficientes na remoção de sólidos dissolvidos
e de agentes patogênicos das águas residuárias, o emprego de sistemas alternativos, de baixo custo de
operação e manutenção começaram a ser implantados, notadamente em locais onde a disponibilidade de
área para implantação do sistema de tratamento não seja problema. Com isso, importantes resultados têm
sido obtidos sob o ponto de vista de minimização dos riscos de eutrofização de mananciais de água.

3.3. OPERAÇÕES, PROCESSOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO

Os principais sistemas utilizados para tratamento de águas residuárias são:

3.3.1. Sistemas anaeróbios

Sistemas anaeróbios são bastante apropriados como primeira etapa, e eventualmente a única etapa,
no tratamento de efluentes com elevadas concentrações de material orgânico, como é o caso das águas
residuárias da agroindústria que venham a ser dispostas ou tratadas no solo.

Filtro Anaeróbio

No sistema de tratamento em filtros anaeróbios, a DBO é estabilizada anaerobiamente por bactérias


aderidas a um meio suporte, constituído por uma coluna de material inerte (geralmente brita no. 4),
acondicionada dentro do reator. O fluxo de líquido a ser tratado ocorre meio filtrante saturado e no sentido
ascendente.
O sistema requer decantação primária (freqüentemente fossas sépticas ou tanque de Imhoff) seguida
de lagoa facultativa (Figura 2). A inclusão de uma lagoa facultativa no sistema de tratamento justifica-se por
apresentar o efluente do filtro anaeróbio aspecto desagradável, concentração muito elevada de N, P e sólidos
em suspensão e, em determinadas situações, maus odores, o que o lhe proporciona condições inadequadas
para lançamento em corpos hídricos receptores.

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FIGURA 2. Esquema de sistema de tratamento com filtro anaeróbio

A produção de lodo nos sistemas anaeróbios é baixa, saindo o lodo já estabilizado do sistema e,
portanto, em condições de ser conduzido diretamente para um leito de secagem. Entretanto, por ser um
sistema anaeróbio, sempre há o risco da geração de maus odores, ainda que procedimentos de projeto e
operacionais possam contribuir para reduzir estes riscos.
A eficiência de remoção de DBO no sistema fossa-filtro anaeróbio é baixa, exigindo, conforme já
discutido, para águas residuárias agroindustriais, tratamento posterior (lagoa facultativa) a fim de atender as
exigências da legislação referente ao lançamento de efluentes em corpos receptores. No caso de disposição
no solo, a inclusão da lagoa facultativa pode ser dispensável.
Dentre as vantagens apresentadas pelo sistema fossa-filtro anaeróbio é a boa adaptação aos
diferentes tipos e concentrações de águas residuárias e boa resistência às variações de carga orgânica
aplicada, o que é muito comum no caso de atividades agroindustriais. A principal desvantagem é a de ser
insuficiente para atendimento dos padrões de lançamento em corpos d’água receptores, exigindo, no caso de
águas residuárias agroindustriais, eficiente tratamento em nível secundário.

Reatores Anaeróbios

Nos Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente (RAFA), também denominados UASB (Upflow
Anaerobic Sludge Blanket Reactors) ou Reatores Anaeróbios de Manta de Lodo, a biomassa cresce dispersa
no meio, e não aderida a um meio suporte, como no caso dos filtros biológicos e anaeróbios.
Como nas reações em meio anaeróbio há geração de gases (principalmente metano e gás carbônico),
as bolhas formadas, apresentando tendência ascendente e carreiam consigo sólidos. Na parte superior dos
reatores é instalada uma estrutura capaz de promover a separação de fases sólida, líquida e gasosa,
construída de forma a fazer retornar a biomassa em suspensão para a base do reator possibilitando a saída
do gás metano de forma canalizada do reator. O gás metano, quando produzido em grande quantidade pode
tornar viável seu aproveitamento como fonte de energia, quando produzido em pequenas vazões isso não
compensa e ele deve ser queimado antes de ser lançado para a atmosfera, a fim de se minimizar os impactos
de gases que proporcionam efeito estufa no planeta.
Para a operação de um RAFA (Figura 3) não é necessário que seja efetuada, previamente, a
decantação primária e, caso o efluente seja direcionado para disposição no solo, pode ser a única etapa de
tratamento. O uso do efluente de reatores anaeróbios na fertirrigação, desde que feito de forma adequada, é
opção importante e deve ser considerada quando do projeto de sistemas de tratamento de águas residuárias
agroindustriais. Entretanto, como o efluente de RAFA não adquire condição para ser lançado em corpos
hídricos receptores, uma vez que ainda apresenta relativamente alta DBO, aspecto desagradável e,
possivelmente, com maus odores, além de elevada concentração de N e P, torna-se necessário a inclusão do
tratamento secundário em seqüência, o que pode ser obtido em uma lagoa facultativa, tratamento por
escoamento superficial no solo, tratamento em áreas alagadas (“wetland”) e outros.

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Dentre as vantagens apresentadas por reatores anaeróbios de fluxo ascendente, destaca-se os


relativamente baixos requerimentos de área e a parcial estabilização do lodo no próprio reator. Dentre as
desvantagens, devem ser citadas a relativa sensibilidade às variações de carga e o mau desempenho no
tratamento de águas residuárias ricas em óleos e graxas, desbalanceadas em termos de nutrientes para os
microrganismos ou que contenham substâncias tóxicas aos microrganismos. Porém, as principais
desvantagens desses sistemas de tratamento são os custos de instalação, manutenção e operação
(necessidade de relativamente grande conhecimento técnico para a adequada operação do reator), o que
torna sua instalação pouco interessante em áreas não urbanas.

FIGURA 3. Esquema de sistema que inclui Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (RAFA)

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3.3.2. Sistemas de lagoas de estabilização

As lagoas de estabilização são unidades especialmente construídas com a finalidade de tratar águas
residuárias por meios predominantemente biológicos, isto é, por ação de microrganismos naturalmente
presentes no meio.
Lagoas de estabilização podem ser classificadas, de acordo com o tipo de tratamento, em: anaeróbia,
facultativa, de maturação ou aeróbia e aerada (com uso de aeração mecânica). A escolha entre as formas de
tratamento vai depender da disponibilidade de área junto à fonte geradora da água residuária, taxa de
geração do resíduo, velocidade exigida no tratamento do resíduo, e localização (distância de áreas
residenciais). O uso de lagoas de estabilização tem sido freqüente para o tratamento de águas residuárias
ricas em material orgânico, sendo muito adequadas no caso das agroindustriais.
As lagoas de estabilização podem ser construídas de forma simples, escavadas no solo ou formadas
por diques de terra, porém devem ter os seus fundos compactados e cobertos com borracha butílica, no caso
das anaeróbias, e camada de material argiloso, compactado, para evitar a infiltração de águas residuárias no
solo e colocar em risco a qualidade das águas subterrâneas.

a) Lagoas facultativas

Dentre os sistemas de lagoas de estabilização, o processo de lagoas facultativas é o mais simples,


dependendo unicamente de fenômenos naturais.
Durante o percurso da água residuária, que demora vários dias, o material orgânico em suspensão
(DBO particulada) tende a se sedimentar, vindo a constituir o lodo de fundo. Este lodo sofre o processo de
decomposição por microrganismos anaeróbios, sendo convertido em gás carbônico, água, metano e outros,
restando apenas a fração inerte (não biodegradável), que permanece junto ao fundo da lagoa. O material
orgânico dissolvido (DBO solúvel), juntamente com o material orgânico em suspensão, de pequenas
dimensões (DBO finamente particulada), é decomposto por bactérias facultativas (têm a capacidade de
sobreviver tanto na presença quanto na ausência de oxigênio). O oxigênio necessário para a respiração das
bactérias aeróbias é fornecido, principalmente, pela fotossíntese realizada pelas algas.
Como para a ocorrência da fotossíntese é necessário o fornecimento de energia luminosa às algas,
para maior eficiência do tratamento, é fundamental se privilegiar a exposição da massa de água à radiação
solar. Assim, a camada de água mais superficial na lagoa, receptora de maior intensidade luminosa, estará,
durante o dia, sob condições estritamente aeróbias. À medida que se aprofunda na lagoa, em função da
menor fotossíntese realizada pelas algas, a disponibilidade de oxigênio dissolvido diminui e o ambiente pode
se tornar anóxico e, posteriormente, anaeróbio. Grupos de bactérias diferenciadas, desde estritamente
aeróbias, facultativas e estritamente anaeróbias podem, então, participar na estabilização do material
orgânico.
A estabilização do material orgânico se processa em taxas mais lentas em lagoas facultativas,
implicando na necessidade de maior período de detenção na lagoa (usualmente superior a 20 dias). A
fotossíntese, para ser mais efetiva, demanda grandes áreas de exposição da massa líquida, já que, com isso,
haverá maior aproveitamento da energia solar pelas algas. Por isso, dentre todos os processos de tratamento
de águas residuárias (excluindo-se os processos de disposição sobre o solo), as lagoas facultativas são as
que requerem maior área total. Por outro lado, o fato de ser um processo totalmente natural e estar associado
a uma maior simplicidade operacional, fator de fundamental importância no tratamento de águas residuárias,
notadamente em países em desenvolvimento, o emprego de lagoas de estabilização é e será, por muito
tempo, importante opção no tratamento dessas águas.
Na Figura 4 está apresentado o fluxograma típico de um sistema de tratamento com lagoas
facultativas.

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FIGURA 4. Esquema de um sistema de tratamento com lagoas facultativas

Em lagoas facultativas, a eficiência de remoção de sólidos em suspensão pode chegar a mais 90% e
de DBO a mais de 85%.
Dentre as vantagens apontadas para o sistema de tratamento com lagoa facultativa estão satisfatória
resistência às variações de carga, relativamente elevada eficiência na remoção de DBO e de agentes
patogênicos, reduzidos custos de implantação, operação e manutenção, baixo requerimento energético (só
há requerimento de energia no caso de necessidade de bombeamento da água). Como desvantagens pode-
se citar os elevados requisitos de área, desempenho variável com as condições climáticas (temperatura e
insolação) e a possibilidade do desenvolvimento de insetos.
Caso o tratamento efetuado em lagoas facultativas não seja suficiente para atender as exigências da
legislação vigente ou se deseje baixar a concentração de agentes patogênicos, pode-se inserir, no sistema de
tratamento, lagoas de maturação ou aeróbias. As lagoas de maturação possibilitam um “polimento” no
efluente de qualquer dos sistemas de lagoas de estabilização descritos anteriormente ou, em termos mais
amplos, de qualquer sistema de tratamento de águas residuárias.

b) Sistema de lagoas anaeróbias - lagoas facultativas

O processo de lagoas facultativas, apesar de possuir eficiência satisfatória, requer, tal como já
comentado, grandes áreas, muitas vezes não disponível na localidade em que se pretende efetuar o
tratamento da água residuária. Há, portanto, a necessidade de se buscar soluções que possam implicar na
redução da área total requerida. Uma dessas soluções é a de uso de sistema de lagoas anaeróbias seguidas
por lagoas facultativas, também denominado de “sistema australiano” (Figura 5).
Nas lagoas anaeróbias, os organismos transformarão o material orgânico em material menos
complexo, porém ainda passível de decomposição, o que deve ser feito sob condições aeróbias. Por isso, as
lagoas são especialmente indicadas como pré-tratamento de águas residuárias, notadamente as que detêm
grande carga orgânica, como é o caso da maioria dos efluentes da agroindústria (águas residuárias de
criatórios de animais, de abatedouros, de laticínios, etc).
A água residuária bruta entra numa lagoa de menores dimensões e mais profunda (profundidades de
3,0 a 5,0 m têm sido recomendadas), de forma a minimizar-se a penetração de luz solar e, com isso, diminuir
a proliferação de algas fotossintetizadoras, privilegiando-se as reações anaeróbias. Em períodos curtos de
permanência na lagoa anaeróbia (no caso de águas residuárias agroindustriais precisa ser maior do que o
recomendado para esgoto doméstico, que é de 3-5 dias), a decomposição do material orgânico é apenas
parcial. Ainda assim, a remoção da DBO alcança 50 - 60%, o que, apesar de insuficiente para que o efluente
tenha satisfeito os padrões para lançamento em cursos d’água, representa grande contribuição de
tratamento, aliviando sobremaneira a carga orgânica a ser tratada na lagoa facultativa, situada a jusante e
que, dessa forma, pode ter dimensões menores que as necessárias no tratamento de águas residuárias com
apenas uma lagoa facultativa (o requisito de área total sistema de lagoas anaeróbias-lagoas facultativas é de
cerca de 2/3 do necessário para uma lagoa facultativa única). O funcionamento da lagoa facultativa
posicionada em seqüência no sistema de tratamento é exatamente o mesmo já descrito no item anterior.
O sistema lagoas anaeróbias-facultativas tem eficiência ligeiramente superior à de uma lagoa
facultativa única, é conceitualmente simples e fácil de operar. No entanto, a existência de etapa anaeróbia em
uma unidade aberta é sempre causa de preocupação, devido à possibilidade da liberação de maus odores,
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ainda que se saiba que, em sistemas esteja bem equilibrados, a geração de mau cheiro não deve ocorrer.
Ainda assim, recomenda-se, a implantação de lagoas anaeróbias em locais mais distantes de residências ou,
pelo menos, em posições em que os ventos que sobre ela passem não tenham a direção predominante de
residências.

FIGURA 5. Esquema do sistema de tratamento com lagoa anaeróbia-facultativa.

As vantagens apresentadas pelo sistema de tratamento com lagoa anaeróbia-facultativa são as


mesmas apresentadas para lagoas facultativas, acrescida da de que há menor requisito de área do que o
necessário para instalação de sistemas com lagoas facultativas únicas. As desvantagens são, também,
idênticas às de sistemas com lagoas facultativas, porém existe a possibilidade de maus odores na lagoa
anaeróbia e, com isso a necessidade de escolha de um local, com afastamento razoável de residências, para
locação dessa lagoa.

c) Sistema de lagoas aeradas

Caso se deseje ter um sistema de lagoas de estabilização de menores dimensões e que promova, mais
rapidamente, a redução da DBO até o nível requerido, pode-se utilizar aeradores mecânicos para
fornecimento de oxigênio ao meio líquido. Nessas condições, a fotossíntese deixa de ser a fonte de oxigênio
para as bactérias aeróbias passando a ser a incorporação do ar atmosférico ou de oxigênio puro a principal
fonte de oxigênio para as bactérias aeróbias degradarem o material orgânico em suspensão.
Os aeradores mecânicos mais comumente utilizados em lagoas aeradas são unidades de eixo vertical
que, ao rodarem em alta velocidade, causam um grande turbilhonamento na água. Este turbilhonamento
propicia a penetração do oxigênio atmosférico na massa líquida, onde ele se distribui, passando a constituir o
denominado “oxigênio dissolvido”. Com isto, consegue-se maior e mais rápida introdução de oxigênio no meio
líquido do que em sistemas que utilizem aeração natural (lagoa facultativa convencional), o que concorre para
mais rápida decomposição do material orgânico. Para evitar condições limitantes de oxigênio dissolvido no
meio líquido, a sua concentração na lagoa aerada deve ser de 1-2 mg L-1. Com a aeração mecânica,
consegue-se baixar o tempo de detenção da água residuária e, por conseqüência, as necessidades de área
para instalação do sistema de tratamento.
As lagoas aeradas podem ser subdivididas em aeradas-facultativas e aeradas de mistura completa-
lagoa de decantação.
A lagoa é denominada aerada-facultativa quando o turbilhonamento causado no líquido pelos
aeradores for suficiente apenas para a oxigenação do meio, mas não para manter os sólidos (bactérias e
sólidos presentes) em suspensão na massa líquida. Desta forma, os sólidos tendem a sedimentar e constituir
a camada de lodo de fundo, a ser decomposta anaerobiamente. Apenas a DBO solúvel e finamente
particulada permanece na massa líquida, vindo a sofrer decomposição aeróbia.
No sistema constituído por lagoa aerada de mistura completa seguida de lagoa de decantação (Figura
6), o turbilhonamento proporcionado pelos aeradores é suficientemente elevado para suspender e manter os
sólidos (material orgânico e biomassa microbiana) dispersos no meio líquido, ou em mistura completa. A
maior concentração de bactérias no meio líquido e a maior interação material orgânico-bactérias. aumenta a
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eficiência do sistema na remoção da DBO, possibilitando que se obtenha redução no volume da lagoa
quando em comparação à necessária para uma lagoa aerada-facultativa, no tratamento, em iguais condições,
da água residuária. No entanto, o efluente deverá conter grande concentração de sólidos (bactérias) em
suspensão, que devem ser removidos antes do lançamento no corpo hídrico receptor, o que pode ser
proporcionado por uma lagoa de decantação secundária.
O tempo de detenção típico na lagoa aerada, tratando esgotos domésticos, deve ser da ordem de 2 a 4
dias, enquanto o necessário para a remoção da biomassa proveniente da lagoa aerada de mistura completa
deve ser de cerca de 2 dias na lagoa de decantação secundária. A remoção do lodo formado nas lagoas de
decantação deve ser feita após o período de alguns anos de operação do sistema.
As principais vantagens de sistemas com lagoas aeradas são apresentarem construção, operação e
manutenção relativamente simples, requisitos de área inferiores aos sistemas de lagoas facultativas e
anaeróbio-facultativas, maior independência das condições climáticas locais que os sistemas de lagoas
facultativas e anaeróbio-facultativas, relativamente alta eficiência na remoção da DBO, ligeiramente superior
às obtidas em sistemas com lagoas facultativas, satisfatórias resistências às variações de carga e reduzidas
possibilidades de maus odores. No caso das aeradas de mistura completa-lagoa de decantação, além das
vantagens citadas, há, também, menor requisito de área dentre todos os sistemas de lagoas de estabilização.
As desvantagens desses sistemas são a necessidade da introdução de equipamentos, o aumento no
nível de sofisticação do processo e os requisitos de energia relativamente elevados. No caso de sistemas
com lagoas aeradas de mistura completa-lagoa de decantação, a necessidade de contínua remoção do lodo
deve também ser incluída entre as desvantagens do sistema.

FIGURA 6. Esquema do sistema com lagoa aerada de mistura completa-lagoa de decantação

3.3.3. Sistemas de lodos ativados

Os sistemas de lodos ativados são constituídos por decantadores primários, seguidos de tanques de
aeração de mistura completa e decantadores secundários (Figura 7), sendo o fornecimento de oxigênio feito
por aeradores mecânicos ou por sistema de aplicação de ar subaquático, denominado “ar difuso”. O
decantador primário tem por função proporcionar a remoção de parte do material orgânico sedimentável e,
com isso, diminuir as necessidades de aeração e, obviamente, os gastos de energia no processo.
O princípio básico do sistema de lodos ativados é a recirculação, por bombeamento, dos sólidos
(biomassa bacteriana) sedimentados no decantador secundário, com o objetivo de aumentar o tempo de
contato das bactérias degradadoras do material orgânico com o líquido. Com isso, os sólidos permanecem
por muito mais tempo no sistema e é justamente esta maior permanência que garante a elevada eficiência
dos lodos ativados, já que a biomassa tem tempo suficiente para metabolizar praticamente todo o material
orgânico presente nas águas residuárias.

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O lodo produzido, constituído basicamente pela biomassa bacteriana desenvolvida no tanque de


aeração, deve ser removido periodicamente e estabilizado antes de sua disposição final no ambiente.
Em sistemas de lodos ativados convencionais, o tempo de detenção do líquido deve ser baixo, da
ordem de 6 a 8 horas, o que implica em pequeno volume para o tanque de aeração. Entretanto, devido à
recirculação dos sólidos, estes permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido, devendo
apresentar um tempo de retenção da ordem de 4 a 10 dias. O tempo de retenção dos sólidos no sistema é
denominado “idade do lodo”.
Existem algumas variantes nos sistemas de lodos ativados que são os sistemas de Lodos ativados por
aeração prolongada e os de Lodos ativados de fluxo intermitente. Nos sistemas de aeração prolongada a
biomassa permanece mais tempo no sistema (os tanques de aeração são maiores), em decorrência disso o
lodo retirado já sai estabilizado. Em sistemas intermitentes, no mesmo tanque, podem ocorrer, em fases
diferentes, as etapas de reação (aeradores ligados) e sedimentação (aeradores desligados). Quando os
aeradores estão desligados, os sólidos sedimentam, ocasião em que se retira o efluente (sobrenadante). Ao
se religar os aeradores, os sólidos sedimentados retornam à massa líquida, o que dispensa as elevatórias de
recirculação. Nesse caso não há a necessidade da inclusão de decantadores secundários no sistema de
tratamento.
As vantagens dos sistemas de lodos ativados são a elevada eficiência na remoção de DBO,
possibilidade de remoção biológica de N e P, baixos requisitos de área (bastante inferiores às do sistema de
lagoas e estabilização), reduzidas possibilidades de ocorrência de maus odores e desenvolvimento de insetos
e vermes.
Como desvantagens, pode-se citar os elevados custos de implantação e operação, o elevado consumo
de energia, a necessidade de conhecimento técnico para sua operação, apresentar grande sensibilidade às
descargas tóxicas, além de poder apresentar problemas de ruídos e exalação de aerossóis.

FIGURA 7. Esquema de sistema de tratamento com Lodo ativado.

3.3.4. Sistemas de Tratamento por Disposição no Solo

As águas residuárias agroindustriais são, em geral, ricas em nutrientes de interesse agrícola,


podendo ser fonte de água e nutrientes para plantas. Em vista disso, a sua disposição no solo deve passar a
ser considerada como importante opção para a solução de problemas relativos à poluição decorrentes de
atividades agroindustriais. Esta técnica de tratamento, que é de grande potencial de aplicação, em vista dos
baixos custos de implantação e operação, por contribuir para a preservação do meio ambiente e possibilitar o
aproveitamento dos nutrientes nela contidos, para a produção agrícola. Em vista disso, deve ser incentivada a
sua aplicação, considerando que para a expansão da construção de unidades de tratamento de águas
residuárias deverá ocorrer quando o produtor rural ou empreendedor de unidades agroindustriais visualizar a
possibilidade de transformação dos resíduos gerados em sua atividade econômica em fonte de renda ou
benefício social.
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A disposição de águas residuárias no solo pode representar uma complementação a tratamentos


primários ou ser a única forma de tratamento para águas residuárias. Em qualquer um dos casos, tem se
mostrado de grande viabilidade técnica e econômica. Além dos benefícios ambientais e agrícolas, estima-se
que essa forma de tratamento/disposição final apresente um custo oscilando entre 30% e 50% do custo de
formas de tratamento convencionais.
A disposição de águas residuárias oriundas de atividades agroindustriais no solo, deve ser feita,
entretanto, de tal forma que não venha a contribuir para o aumento dos problemas de qualidade ambiental,
tais como contaminação de águas subterrâneas e superficiais, contaminação de plantas por metais pesados e
trazer influências negativas sobre as características físicas e químicas do solo. Em vista disso, o
desenvolvimento de estudos que tornem possível a definição de taxas de aplicação de águas residuárias,
considerando-se as peculiares capacidades de suporte de cada solo e resguardando-se a integridade dos
recursos naturais, devem ser efetuados, sob pena de deixar-se de poluir recursos hídricos superficiais para se
passar a poluir o solo e águas subterrâneas.
A aplicação de águas residuárias no solo pode ser uma forma de tratamento (nível primário, secundário
e terciário) e de disposição final, uma vez que vários mecanismos, de ordem física (sedimentação, filtração,
radiação, volatilização, desidratação), química (oxidação e reações químicas, precipitação, adsorção, troca
iônica e complexação) e biológica (biodegradação e predação) que ocorrem no solo atuam na remoção dos
poluentes da água residuária.
A capacidade do solo em assimilar compostos orgânicos complexos depende de suas propriedades e
condições climáticas. A taxa de aplicação, a textura do solo e o tipo de cobertura vegetal na área receptora da
água residuária são alguns dos fatores que devem ser levados em consideração para um
tratamento/disposição adequado da água residuária no solo. Para que haja eficiente degradação do material
orgânico da água residuária, é necessária adequada aeração do solo, que por sua vez, pode ser prejudicada
em condições de conteúdo de água muito alto no solo. Condições de insuficiente aeração vão conduzir a
menor capacidade de assimilação e degradação do resíduo orgânico pelo solo.
Solos argilosos, com textura fina, ou solos com uma considerável quantidade de matéria orgânica, podem
reter os constituintes da água residuária por meio dos mecanismos de adsorção, precipitação e troca iônica.
A remoção resulta da ação filtrante do solo seguida pela oxidação biológica do material orgânico.
Quase todos os tipos de solo são eficientes na remoção de material orgânico, entretanto, a classe e a textura
do solo devem ser levadas em consideração, quando da escolha do local para se instalar o sistema de
tratamento, já que, para alguns sistemas, torna-se necessário que haja grande velocidade de infiltração da
água residuária e em outros essa infiltração é não desejável, para que predomine o escoamento superficial.
Em vista disso, a má escolha de um local para o tratamento de águas residuárias por disposição no solo pode
ser o fator definidor do sucesso ou fracasso do empreendimento.
As formas de disposição podem ser infiltração-percolação, escoamento superficial e fertirrigação, além
do lançamento em “áreas alagadas”.

Sistema de infiltração-percolação
No sistema de infiltração-percolação ou infiltração rápida, o objetivo é fazer do solo um filtro para as
águas residuárias. Este sistema é caracterizado pela percolação da água residuária, a qual, purificada pela
ação filtrante do meio poroso, constitui recarga para águas freáticas ou subterrâneas. Nesse caso, o efluente
é disposto em bacias rasas (tabuleiros) ou valas de infiltração (Figura 8) e sem revestimento
impermeabilizante no fundo, construídas em solos de alta permeabilidade, onde é forçado a se infiltrar e
percolar pelo perfil. Neste método, são utilizadas altas taxas de aplicação, sendo as perdas por evaporação
relativamente pequenas. A aplicação deve ser intermitente, proporcionando um período de descanso para o
solo.
As águas percoladas podem ser direcionadas para abastecimento freático ou captadas por rede de
drenagem subsuperficial ou sistema de poços freáticos, para terem outros usos.
A aplicação deve ser feita de maneira intermitente, de forma a permitir período de descanso ou “pousio”
para o solo. No período de descanso, o solo deverá secar, possibilitando o restabelecimento de condições
aeróbias no seu interior. A oxigenação do meio proporcionará mais rápida mineralização do material orgânico,
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diminuição da exalação de maus odores, reestruturação do material sólido mineral do solo, além de
diminuição da contaminação por microrganismos estranhos a ele.

FIGURA 8. Esquema de sistema de tratamento de águas residuárias, por infiltração-percolação, em canais de


infiltração

A taxa de aplicação de água residuária no terreno deve variar de 15 a 30 cm dia-1, sendo que, do
volume aplicado, mais de 90% poderá constitui recarga de água subterrânea. Entretanto, caso se opte por
definir a taxa de aplicação com base numa carga orgânica considerada máxima para que os microrganismos
possam degradar, com eficiência, o material orgânico adicionado (750 kg ha-1.d-1 de DBO), que é técnica e
ambientalmente muito mais adequada, as lâminas a serem aplicadas podem ser tão pequenas que podem
até não gerar significativo fluxo vertical descendente de água no solo. Nesse caso, se grande parte da DBO
não for removida por tratamentos prévios, o que possibilitaria a aplicação de maiores lâminas diárias de água
residuária, o sistema poderá não funcionar como infiltração-percolação.
A infiltração de águas residuárias no solo oferece, entretanto, pela própria concepção do método de
tratamento, sérios riscos de contaminação das águas subterrâneas, não devendo ser recomendada sem que
cuidadoso monitoramento da qualidade do solo e da água subterrânea seja feito.
Neste sistema de tratamento/disposição final, estima-se remoção da ordem de 90-99% na DBO; de
60-80% no N e de 70-95% no P, sendo essa eficiência de remoção dependente de características químicas
físicas e mineralógicas do solo.
As vantagens do sistema de infiltração-percolação são: requerer relativamente pequenas áreas,
quando comparado ao de outros métodos disposição no solo, para a disposição da água residuária;
apresentar requerimentos energéticos dispensados apenas quando for necessário o bombeamento e a
aplicação da água residuária de forma pressurizada; reduzidos custos de implantação, operação e
manutenção; efetuar a disposição final do lodo no próprio local de tratamento, poder efetuar a aplicação de
água residuária durante todo o ano, além de proporcionar a carga do lençol d’água subterrâneo em regiões
carentes nesse recurso. Como desvantagens, pode-se citar a possibilidade da ocorrência de maus odores;
possibilidade do desenvolvimento de insetos e vermes na superfície do solo; ser dependente das
características do solo; apresentar risco potencial de contaminação de águas subterrâneas com nitratos e
outros constituintes de maior mobilidade no solo e possibilidade de ocorrência de alterações químicas e
físicas no solo.

- Escoamento superficial

No método de tratamento por escoamento superficial, as águas residuárias são aplicadas em taxas
superiores às da sua capacidade de infiltração no solo, em terrenos regulares e de baixa declividade,
cultivados com vegetação rasteira, geralmente gramíneas, onde se deslocam, rampa abaixo, até canais de
coleta, posicionados ao final dessas rampas de tratamento (Figura 9). À medida que a água residuária escoa
sobre o terreno, parte se evapora, uma pequena parte se infiltra e o restante é coletado em canais. Durante o
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percurso de escoamento, o sistema solo-planta, juntamente com os microrganismos que se desenvolvem


nesse meio, constituem filtro natural, possibilitando a degradação de parte do material orgânico e a retenção
química e física de constituintes inorgânicos em solução na água.
Os terrenos a serem utilizados para tratamento por escoamento superficial devem ser constituídos por
solos de baixa permeabilidade, para serem minimizados os riscos de contaminação das águas freáticas e
declividade entre 2% e 15%. Nesta técnica de tratamento, a depuração da água residuária depende da
vegetação cultivada nas rampas, principalmente da capacidade de absorção de nutrientes disponibilizados no
processo de decomposição proporcionada pelos microrganismos que desenvolvem na película superficial do
solo e colo das plantas.
O uso de culturas em crescimento, na área de tratamento/disposição das águas residuárias, é
essencial para aumentar a taxa de absorção dos nutrientes disponíveis no solo e a perda de água por
transpiração. Além disso, a vegetação representa barreira ao livre escoamento superficial do líquido no solo,
aumentado a retenção de sólidos em suspensão e evitando a erosão, e proporciona um “habitat” para a biota,
possibilitando maior oportunidade para a ação dos microrganismos.
A aplicação da água residuária pode ser feita por aspersão, utilizando-se aspersores de média e baixa
pressão, por tubos “janelados” ou por sistema de bacias de distribuição para os sulcos (irrigação por
superfície).
No método de tratamento por escoamento superficial, adequadamente dimensionado e operado, o
efluente coletado ao final das rampas deve apresentar qualidade tal que possibilite seu lançamento direto em
corpos hídricos receptores. Sistemas de aplicação no solo por escoamento sobre grama estão em uso há
vários anos, na Austrália, para o tratamento de esgotos municipais, com eficiência em termos de remoção de
sólidos em suspensão e de DBO em torno de 95 %. A eficiência na remoção de N está na faixa de 70-90% e
de P na de 50-60%. Acredita-se que em função de uma escolha mais adequada do solo e com maior ajuste
na operação do sistema, as remoções de P devam aumentar, significativamente.

FIGURA 9. Esquema de sistema de tratamento de águas residuárias por escoamento superficial

A escolha da espécie vegetal a ser cultivada em rampas de tratamento é, entretanto, fundamental para
que se obtenha sucesso no uso do método de tratamento por escoamento superficial. A cultura ideal para ser
cultivada em rampas de tratamento deve ser perene, tolerante às condições de baixa oxigenação e elevada
salinidade em nível radicular, de elevada capacidade de extração de nutrientes e pouco susceptível às pragas
e doenças. Plantas forrageiras de grande poder extrator de nutrientes, denso sistema radicular, rápido
crescimento, adaptada às condições salinas e de excesso de água e passíveis de cortes sucessivos e
freqüentes, apresentam os requisitos desejáveis para cultivo em áreas de tratamento de águas residuárias.
O escoamento sobre o solo permite o tratamento de grandes volumes em pequenas áreas,
proporcionando o aproveitamento do potencial fertilizante da água residuária aplicada. O capim produzido nas
rampas de tratamento de águas residuárias pode ser utilizado, na forma de feno ou fresca, ou após ser
ensilado, na alimentação de ruminantes. Pesquisas têm demonstrado que essa forma de aproveitamento do
capim não oferece risco sanitário, notadamente se houver a paralisação da aplicação da água contaminada
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com agentes patogênicos por, pelo menos, 7 dias antes da colheita do capim, ou após 12 dias do capim
fenado. Caso não haja interesse em aproveitamento na alimentação animal, o material vegetal pode ser
utilizado como adubo verde para lavouras agrícolas.
O sistema de tratamento por escoamento superficial apresenta as mesmas vantagens listadas para o
sistema de infiltração-percolação, acrescida da vantagem de menor risco de contaminação de águas
subterrâneas e a produção de massa verde que pode ser utilizada na alimentação animal ou fertilização do
solo. As maiores desvantagens são a dependência de características do solo como declividade e
permeabilidade.

- Fertirrigação
A fertirrigação é uma técnica de disposição/tratamento, onde prioriza-se o aproveitamento dos
nutrientes presentes na água residuária, razão suficiente para se considerar ser este o método de disposição
excelente opção para tratamento/disposição final de águas residuárias agroindustriais. Nutrientes como
nitrogênio, potássio e, principalmente, fósforo são fundamentais no cultivo de solos pobres, como os que
ocorrem na maior parte do Brasil, dessa forma, acredita-se que métodos de tratamento que não vislumbrem a
reciclagem de nutrientes estão inexoravelmente condenados a desaparecerem em futuro próximo. O
aproveitamento de águas residuárias ricas em nutrientes na fertirrigação de culturas agrícolas, possibilita o
aumento da produtividade e qualidade dos produtos colhidos, redução da poluição ambiental, além de
promover melhoria nas características químicas, físicas e biológicas do solo.
O uso de águas residuárias na fertirrigação de espécies vegetais de crescimento durante todo o ano
é desejável. Assim, algumas capineiras de sistema radicular abundante e profundo podem ser muito úteis,
sob o ponto de vista ambiental, uma vez que são capazes de retirar grande quantidade de macro e
micronutrientes do solo, diminuindo os riscos de contaminação de rios, lagos e águas subterrâneas. Águas
residuárias provenientes de atividades agroindustriais podem, também, ser aplicadas na produção de grandes
culturas (milho, sorgo, trigo etc.), frutas e hortaliças e madeira em reflorestamentos.
A taxa de aplicação de águas residuárias agroindustriais deve, no entanto, estar baseada na dose de
nutrientes recomendados para as culturas agrícolas, pois, caso esses níveis sejam suplantados, além de
poder ser comprometida a produtividade da cultura, podem provocar poluição do solo e das águas
superficiais e subterrâneas. Por essa razão, deve-se atentar para o fato de que águas residuárias
agroindustriais nunca devem ser aplicadas em quantidades equivalentes às requeridas pelas plantas para
atender suas necessidades hídricas, pois, se isso for feito, poderá haver salinização do solo, com
conseqüente queda de produção da cultura, além de contaminação de águas superficiais e subterrâneas.
A fertirrigação com águas residuárias agroindustriais pode ser feita por sulco, aspersão (Figura 10),
gotejamento ou com chorumeiras, sendo a seleção do método de tratamento feita, principalmente, em função
da cultura, susceptibilidade a doenças e capacidade de infiltração de água no solo. A fim de evitar possíveis
riscos de desenvolvimento de pragas nas folhas ou dispersão de maus odores, se essas águas forem
aplicadas via aspersão, recomenda-se, sempre que possível, a aplicação de águas residuárias agroindustriais
utilizando-se sistemas de irrigação localizada (gotejamento ou microaspersão), considerados ideais quando
se tem por objetivo minimizar os riscos do desenvolvimento de pragas nas plantas e o impacto ambiental.

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FIGURA 10. Esquema ilustrativo da disposição de águas residuárias como fertirrigação de culturas agrícolas
(método da infiltração lenta)

Segundo as normas de saúde pública, quando se estuda o uso de águas residuárias domésticas ou
oriundas de criatórios de animais para a irrigação, deve-se primeiro avaliar suas características
microbiológicas e bioquímicas, tendo em consideração o tipo de cultura, o solo, o sistema de irrigação e a
forma em que se consumirá o produto. Somente depois de verificar que estas águas reúnem as condições
especificadas pelas normas de saúde, deve-se considerar a avaliação em termos de seus componentes
químicos.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda, como suficiente, o tratamento primário das águas
residuárias domésticas para a fertirrigação de culturas que não são de consumo humano direto. O tratamento
secundário e, provavelmente, a desinfecção e a filtração são consideradas necessárias apenas quando estas
águas forem utilizadas na fertirrigação das culturas para consumo direto (vide Quadro 12).
Os critérios recomendados pela OMS para as atividades recreativas são igualmente aplicáveis ao
fertirrigante ou aqueles que possam ter contato direto com as águas residuárias.

QUADRO. 12 - Processo de tratamento sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para
aproveitamento agrícola de águas residuárias

Condições Irrigação Lazer


Consumo Consumo cozido Consumo cru Sem contato Com contato
indireto
Critério de Saúde 1+4 2 + 4 ou 3 + 4 3+4 2 3+5
Tratamento Primário xxx xxx xxx xxx xxx
Tratamento Secundário xxx xxx xxx xxx xxx
Filtragem ou método equivalente x x xxx
Desinfecção x xxx x xxx
Critério de Saúde
1. Livre de sólidos grandes; eliminação significativa de ovos de parasitas.
2. Igual a 1, porém com eliminação significativa de bactérias
3. Não permite mais de 100 organismos coliformes/100 mL em 80% das amostras.
4. Não permite elementos químicos que deixam resíduos indesejáveis nas culturas ou peixes.
5. Não permite substâncias químicas que podem afetar as mucosas ou pele
Obs.: Para satisfazer os requisitos de saúde os elementos marcados com x x x são essenciais; além disso podem ser necessários,
às vezes, os tratamentos marcados com x.

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Diversos autores têm, entretanto, interpretado de forma equivocada a legislação CONAMA 20/86 ou a
atual CONAMA 357/05, nas quais estão estabelecidos os padrões de qualidade para as classes de corpos de
água doce, salobra e salina. Ao serem usados os limites estabelecidos para as classes de enquadramento de
corpos de água doce, por exemplo, para condicionar a fertirrigação de culturas agrícolas com águas servidas,
está se cometendo o erro de querer dar às águas servidas a mesma qualidade requerida para águas doces
superficiais, o que não é correto e constitui interpretação incorreta da legislação. Se ao invés disso, fossem
utilizados os padrões utilizados para qualificar efluentes a serem lançados em corpos de água, o erro seria
minimizado, ainda que se saiba que legislação específica seja exigida no caso de lançamento de efluentes no
solo. Os padrões de lançamento de efluentes em corpos de água superficiais não, necessariamente, devam
ser os mesmos dos requeridos para lançamento em solos agrícolas. Aguarda-se, ansiosamente, legislação
específica com este fim.
Algumas águas residuárias geradas no processamento de produtos agropecuários tal como soro de
leite, vinhaça etc. estariam, presumivelmente, fora de riscos de contaminação microbiológica do ambiente e,
portanto, podem ser livremente aplicadas no solo, desde aspectos de suas constituições químicas passem a
ser considerados. Águas residuárias oriundas de atividades agroindustriais podem ser aplicadas na produção
de forrageiras, grandes culturas, florestas e hortaliças. A vinhaça, por razões econômicas e práticas tem sido
quase que exclusivamente usada na fertirrigação da cana-de-açúcar.
O uso de águas residuárias na fertirrigação de espécies persistentes, perenes e produtivas durante
todo o ano seria altamente desejável. Dessa forma, algumas capineiras, de sistema radicular abundante e
profundo, podem ser muito úteis também sob o ponto de vista ambiental, por serem capazes de retirar grande
quantidade de macro e micronutrientes do solo, diminuindo a lixiviação para as águas subterrâneas e
diminuindo o carreamento via escoamento superficial.
A fertirrigação constitui o sistema de disposição que requer a maior área superficial por unidade de
água residuária tratada. Por outro lado, é o sistema natural com maior eficiência na remoção de poluentes. As
plantas são as grandes responsáveis pela remoção de nutrientes, como fósforo e nitrogênio presentes em
solução ou suspensão nas águas residuárias, cabendo aos microrganismos do solo a remoção das
substâncias orgânicas. Estima-se que a queda na DBO seja de 90 a 99%, a remoção de nitrogênio seja maior
que 90% e que a remoção de fósforo atinja 99%.
As principais vantagens do método de disposição como fertirrigação de culturas agrícolas são: ser um
método combinado de tratamento e disposição final além de proporcionar fertilização e condicionamento do
solo e, com isso, retorno financeiro na fertirrigação de áreas agricultáveis. As maiores desvantagens são os
elevadíssimos requisitos de área, ser dependente do clima e dos requisitos de nutrientes dos vegetais,
possibilidade de contaminação dos trabalhadores na agricultura (na aplicação, por aspersão, de águas
contaminadas com agentes patogênicos) e possibilidade de ocorrência de alterações químicas e físicas no
solo quando aplicadas em doses e formas inadequadas.

Sistema de áreas alagadas (wetland)

O tratamento de águas residuárias em áreas alagadas tem sido utilizado, desde as décadas de 60 e
70, na Europa, apresentando bons resultados. Os mecanismos envolvidos no tratamento são: filtração,
degradação microbiana da matéria orgânica, absorção de nutrientes, adsorção no solo, entre outros.
A vegetação desempenha papel importante no tratamento em áreas alagadas, que é o de utilizar os
nutrientes disponibilizados pela água residuária, extraindo macro e micronutrientes além de carbono (matéria
orgânica), necessário ao seu crescimento, evitando seu acúmulo e a conseqüente salinização do meio ou
substrato onde ocorre o desenvolvimento das plantas. Estas plantas favorecem o desenvolvimento de filmes
biologicamente ativos que propiciam a degradação dos compostos orgânicos, concorrendo para mais
eficiente e rápida depuração da água residuária. As espécies vegetais freqüentemente usadas em sistemas
de tratamento em áreas alagadas são plantas helófitas, cujas folhas ficam posicionadas acima da superfície
da água. Dentre as espécies utilizadas, pode-se citar o Phragmites sp. (carriço), o Scirpus sp. (junco) e a
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Thypha sp. (taboa). Pesquisas recentes têm evidenciado o grande potencial de uso de espécies mais
adaptadas às condições redutoras do meio, ta como a Alternanthera, além do cultivo de espécies forrageiras
de interesse na alimentação animal (capim tifton, capim elefante, etc).
Áreas alagadas podem ser implantadas em tanques de concreto ou em valetas devidamente
impermeabilizadas por lona butílica ou qualquer outro material impermeável, devendo esses tanques conter
sistema de drenagem artificial no seu fundo e serem preenchidos com uma camada de 20 cm de brita
seguido de uma camada de 0,5-0,6 m de solo, no caso de sistemas de escoamento preferencialmente
superficial (Figura 11), ou por uma camada de 0,3-0,5 m de substrato permeável (areia grossa ou brita “zero”),
no caso de sistema de escoamento subsuperficial (Figura 12).

FIGURA 11. Esquema de um sistema construído de área alagada (wetland)- escoamento superficial com
filtragem vertical

FIGURA 12. Esquema de um sistema construído de área alagada (wetland)- escoamento subsuperficial com
filtragem horizontal

As grandes vantagens do sistema são o baixo custo implantação e operação e alta eficiência na
remoção de DBO e nutrientes em solução.

4. TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

4.1. Introdução

Por serem os resíduos sólidos agroindustriais ricos em nutrientes, toda e qualquer técnica que
vislumbre seu aproveitamento na alimentação animal ou agrícola torna-se interessante, tendo em vista que a
reciclagem desses nutrientes é recomendável. No caso de não ser possível ou recomendável o
aproveitamento desses resíduos “ïn natura”, técnicas de tratamento devem ser aplicadas com o fim de
proporcionar transformações vantajosas em suas características químicas ou físicas.

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Dentre as técnicas de transformação de resíduos orgânicos, uma de grande alcance, em vista da sua
praticidade e dos resultados alcançados, é a compostagem. A compostagem possibilita a transformação de
resíduos orgânicos em adubo orgânico de grande valor fertilizante para as plantas.
A compostagem pode ser definida como um processo aeróbio, baseado na decomposição biológica
controlada, que tem por objetivo a transformação de resíduos orgânicos em material parcialmente humificado.
Para a realização da compostagem o material orgânico a ser processado deverá formar leiras, que são
pilhas compostas por material de alta relação C/N misturado a material de baixa relação C/N.

4.2. Etapas da compostagem

A primeira etapa da compostagem é denominada fase termofílica, na qual ocorrem reações


bioquímicas de oxidação, com exaustão da fonte de carbono mais disponível. Nesta fase, a temperatura do
material permanece entre 40 e 65oC, o que proporciona a eliminação de sementes e agentes patogênicos. A
fase termofílica tem duração de 25 a 60 dias.
A segunda etapa é denominada fase de maturação, na qual ocorre o processo de humificação do
material orgânico. Nesta fase, há mineralização do carbono remanescente (lignina, celulose, etc.) e a
temperatura do material deve permanecer entre 35 e 45oC.

4.3. Fatores que afetam a compostagem

- aeração
Como a compostagem é um processo aeróbio, a deficiência de oxigênio no meio das leiras vai
concorrer para que haja uma queda na velocidade de oxidação do material orgânico e a exalação de mau
cheiro.

- temperatura
A temperatura do material nas leiras deve ser monitorada, uma vez que temperaturas maiores que 65 -
70 C irão proporcionar destruição de microrganismos benéficos e aumento da perda de N do material. A
o

ocorrência de temperaturas menores do que 40oC durante a fase termofílica é indicativa de deficiência de
água ou nutrientes para as bactérias decompositoras do material orgânico.

- umidade
A umidade do material, da mesma forma que a temperatura, deve ser monitorada durante a
compostagem. Umidade maior que 65% traz prejuízo à aeração, uma vez que a água estará presente,
ocupando espaço poroso que deveria estar ocupado com ar. Por outro lado, umidades menores que 40%
trarão inibição da atividade microbiológica, diminuindo a velocidade de degradação do material orgânico.

- concentração de nutrientes
Resíduos agroindustriais são, geralmente, fonte de macro e micronutrientes essenciais, entretanto, na
compostagem é fundamental o conhecimento da relação carbono-nitrogênio (C/N), uma vez que, quando o
seu valor é alto, haverá imobilização do nitrogênio disponível no material pelos microrganismos, passando a
constituir sua biomassa. Com o esgotamento do nitrogênio disponível, a população de bactérias não terá
como aumentar, já que esse elemento é requerido em grande quantidade para a síntese protéica. Caso a
relação C/N esteja muito baixa, haverá grande perda de N (na forma de gás amônia), notadamente se o pH
do material estiver acima de 8,0. Considera-se que, para início da compostagem do material orgânico, a
relação C/N deva estar entre 30 a 40.

- tamanho da partícula
A fragmentação do material a ser utilizado na compostagem é importante, uma vez que aumentando
sua superfície específica, haverá mais rápida e melhor distribuída degradação do material orgânico e, com

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isso, mais rápida maturação do composto. Entretanto, se for feita uma redução muito grande no tamanho de
partícula, poderá haver comprometimento da aeração da leira, já que a porosidade do material irá diminuir,
dificultando a penetração de oxigênio no meio. Por essa razão, tem sido recomendado que o material
orgânico seja picado até adquirir o tamanho de 30 a 50 mm.

4.4. Processos de compostagem

Os processos de compostagem podem ser divididos em aqueles em que há reviramento do material


durante todo o período de compostagem (sistema “Windrow”) e o de leiras estáticas aeradas.

- processo com reviramento


No processo de compostagem por reviramento, as leiras devem possuir de 1,0 a 1,8 m de altura e 1,0 -
4,0 m de base. Por ocasião da formação das pilhas, deverá haver alternância de camadas de material
palhoso e material rico em nitrogênio, nas proporções calculadas para preparo da leira de compostagem.
O reviramento, nos 30 primeiros dias deve ser feito de 3 em 3 dias, pois nesse período o material tem a
temperatura muito aumentada e a demanda por oxigênio é muito grande, com o reviramento freqüente,
dissipa-se parte da energia acumulada e consegue-se aerar o meio. Dos 30 aos 60 dias, como a intensidade
das reações diminuiu muito, o reviramento pode passar a ser feito de 5 em 5 dias.
Nesse processo, a leira deve ser coberta com composto maturado ou material palhoso fresco, a fim de
evitar a exalação de mau cheiro e a atração de vetores (moscas, mosquitos etc.). A maturação do material
geralmente ocorre após 90 - 120 dias e o custo estimado de produção é de 1 homem.dia-1.t-1.

- processo em leiras estáticas aeradas


No processo de compostagem em leiras estáticas aeradas, como o próprio nome já diz, o material a ser
compostado permanece estático durante a sua degradação. O oxigênio, fundamental para manter o meio em
condições aeróbias, é adicionado no meio do material em degradação biológica por meio de compressores
(ventilador centrífugo), com os quais pode-se injetar o ar por dutos de aeração que o distribui por baixo das
leiras, promovendo dessa forma, aeração homogênea e contínua do material.
Nesse processo, a fase termofílica dura de 25 a 30 dias. Ao final dessa fase, a leira pode ser
desmontada, sendo o material colocado para maturação por 60 - 90 dias.

4.5. Vantagens da compostagem

As seguintes vantagens podem ser citadas para a compostagem de resíduos sólidos orgânicos:
- aproveitamento agrícola de macro e micronutrientes presentes nos materiais residuais;
- eliminação de efeitos alelopáticos, no caso de uso de resíduos vegetais;
- eliminação de sementes vivas de plantas daninhas, no caso de uso de resíduos vegetais;
- eliminação de agentes patogênicos, no caso de uso de excretas de humanos ou animais;
- elevação do pH de solos ácidos (pH de 6,0 a 8,0);
- melhoria nas características físicas, químicas e biológicas do solo;
- minimização de riscos de poluição de águas superficiais e subterrâneas.

4.6. Uso e aplicação

Como o composto orgânico produzido é um adubo orgânico, como fertilizante deve ser tratado. Dessa
forma, a sua disposição no solo deve seguir critérios agronômicos, baseados nas características químicas do
solo e nos requerimentos da cultura que se quer adubar.

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As necessidades nutricionais são diferentes para cada cultura, entretanto, para se dar uma base das
doses a serem aplicadas, pode-se recomendar valores entre 10 e 35 t.ha-1; com base na matéria seca do
adubo orgânico.
Compostos orgânicos podem ser aplicados na produção agrícola (culturas anuais e perenes), em áreas
de reflorestamento, parques e jardins e recuperação de áreas degradadas (mineração, aterros sanitários).
Além disso, pode ser usado como prática edáfica em áreas com problemas de erosão.

5. LITERATURA CONSULTADA
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Antonio Teixeira de Matos


Engenheiro Agrícola, Mestre em Engenharia Agrícola pela UFV e Doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela
UFV. Prof. Adjunto IV do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal de
Viçosa, Bolsista nível 1C do CNPq
Área de atuação: Controle da Poluição, Engenharia de Água e Solo, Qualidade da Água e do Solo, Manejo e
Tratamento de Resíduos Agroindustriais.

Fone (031) 3899 1886 End. Eletrônico: atmatos@ufv.br

Projetos de pesquisa financiados e já concluídos:


Tratamento de águas residuárias provenientes de granjas suinícolas - FAPEMIG. Tratamento de águas
residuárias da lavagem e despolpa de frutos do cafeeiro - CNP&Dcafé; Fertirrigação do eucalipto utilizando
efluente do tratamento secundário da indústria de celulose e papel - ARACRUZ CELULOSE. Compostagem
da palha de milho – MONSANTO; Fertirrigação do cafeeiro com a água residuária do processamento de seus
frutos – CNPq; Tratamento de esgoto doméstico em áreas alagadas construídas – CNPq; Parâmetros de
projeto de filtros orgânicos – FAPEMIG.

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Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental/UFV

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