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A TERCEIRA IDADE E A ESPIRITUALIDADE1

Leda Lísia Franciosi Portal2


Valéria Moura Venturella3

VELHICE OU TERCEIRA IDADE?

O filósofo e poeta egípcio Ptá-hotep discorreu sobre o envelhecimento em 2.500 a.C.:

Como são difíceis e dolorosos os últimos dias de um velho! Fica mais fraco a
cada dia; os olhos quase não vêem, os ouvidos ficam surdos; a força
desfalece; o coração não conhece mais a paz; a boca silencia e não diz
palavra. O poder da mente diminui e hoje não pode lembrar como foi ontem.
Todos os ossos doem. Coisas que até pouco tempo eram feitas com prazer
são dolorosas agora; e o paladar desaparece. A velhice é a pior desgraça que
pode afligir o homem (Viorst, apud Mello e Abreu, 2001, p. 1).

A passagem revela a profunda frustração do autor com as limitações impostas ao ser


humano idoso: diminuição das capacidades visual, auditiva e de expressão oral, a gradual
perda de memória e de apetite, a fraqueza dos ossos e músculos. Essas limitações físicas,
entre outras tais como a diminuição do desejo sexual, são comuns na idade avançada. O idoso
toma aos poucos consciência da deterioração da própria saúde: a necessidade de constantes
idas ao médico, quantidades maiores de exames e medicamentos, além d a possibilidade real
de doenças causadas pela fraqueza ou pela velhice.
As limitações físicas crescentes, impostas pelo avanço da idade, ocasionam na pessoa
que envelhece a perda de parte significativa dos atributos físicos desejáveis em nossa
sociedade o que pode abalar profundamente a auto-estima do idoso (Gianiselle, 2001). A
pessoa idosa passa pouco a pouco a depender dos mais jovens para uma série de tarefas que
se acostumou a fazer ao longo de sua vida, podendo esse cerceamento da liberdade pessoal e
da autonomia vir a causar sentimentos de insegurança, de dependência ou mesmo de
inutilidade e desvalia que facilmente levam à melancolia, à dependência e até mesmo a
pensamentos autodestrutivos.
Acrescentadas às perdas causadas pelas limitações físicas, outras como a
aposentadoria lhes ocasiona o afastamento do trabalho, da rotina e de boa parte do convívio
social. Além disso, com o passar do tempo, o idoso passa a ver o mundo de uma maneira
diferente, sendo comum fazer balanços de sua vida e contabilizar realizações e frustrações,
perdas e ganhos, boas e más opções. A morte de pessoas próximas lhes obriga a tornarem-se
conscientes da proximidade cada vez maior da própria morte, que se impõe sobre sua atenção

1
Artigo publicado em inglês com o título Spirituality Issues at Third Age no 14th. International Seminar:
Later Life Learning: International Themes and Perspectives, 2004, Coventry. Talis 2004 Third Age
Learning International Studies. Saskatoon, SK, Canada: Talis Network, 2003. v. 1. p. 31-36.
2
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; professora adjunta
na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
3
Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; professora nos
cursos de Pedagogia e Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Uruguaiana.
e que não pode mais ser colocada de lado tão prontamente, como lhe era comum fazer durante
a juventude (Mello e Abreu, 2001).
Cezar (1999), autor do inspirador livro Fui moço, agora sou velho... e daí? ressalta que
essas ocorrências são peculiaridades da idade avançada, que, embora possam ser atenuadas
em decorrência dos avanços da medicina, não podem ser impedidas de ocorrer, e – para que a
pessoa que envelhece possa levar uma vida que lhe proporcione satisfação – devem ser
encaradas com naturalidade.
Em seu artigo Representações sobre a velhice: o ser velho e o estar na terceira idade,
Dias (1998), estabelece que essa etapa da vida pode ser percebida de duas maneiras
radicalmente diferentes, por ela denominadas ser velho e estar na terceira idade.
Ser velho é encontrar-se “no final da vida, esperando a morte” (p. 60),
independentemente do menor ou maior avanço da idade. Segundo a autora, o termo designa
uma posição que traz consigo as idéias de estagnação, de inflexibilidade, de inutilidade, de
isolamento e de dependência, bem como transtornos decorrentes do desconhecimento de si ou
do próprio corpo, revelando uma profunda falta de unidade interior.
Um dos sinais mais evidentes dessa postura, acrescenta a autora, é o apego rígido a
valores do passado e a dificuldade para lidar com as mudanças, tanto as pessoais quanto as
do mundo ao seu redor. Tal situação, geralmente é acompanhada de nostalgia e de
saudosismo (César, 1999), e de dificuldades para encontrar alegrias no presente, reforçadas,
por ser comum nesta fase da vida, pela inexistência de objetivos vir a acarretar desestímulo e
inércia.
Já estar na terceira idade é uma atitude, uma postura diante da vida que reconhece
novas oportunidades, tanto de auto-realização quanto de sociabilidade. O idoso que considera
essa nova etapa da vida não como o fim, mas como um novo começo ou continuidade com
possibilidades, muito mais do que o aceitar das limitações, as encara como um estimulante
desafio.

Experimentando o declínio e as deficiências da idade, a pessoa pode encarar o


fato como um desafio. Os limites, provações e desgostos atuam como
estimulante e incentivo, para acordar forças interiores e poder criativo, que
ajudarão a descobrir e desenvolver novas dimensões humanas e transformar a
derrota em vitória.” (Deecken, 1973, p. 32).

Para a pessoa que se percebe na terceira idade, esta é uma fase de transformações
pessoais, de busca por novas alternativas, de dedicação a novos ideais e projetos de vida.
Mais do que isso, é um momento em que encontra respostas para muitos dos questionamentos
pessoais que se fez ao longo da vida, bem como é também a oportunidade de desfrutar da
experiência acumulada, da paciência e da tranqüilidade que o capacita para uma vida melhor.
Acima de tudo, continua o autor, a terceira idade é vista como uma oportunidade para
dar continuidade às identidades pessoais, ao sentimento de existência enquanto pessoa, com
papéis e funções sociais. É a chance de dar um novo sentido para a vida e para descobrir,
cada um à sua maneira, as alegrias da velhice (Deecken, 1973).
Importante se faz ressaltar que todos nós, seres vivos, trazemos duas tendências: de
conservação e de diferenciação, ambas passíveis de manifestação ao longo de nossas vidas e,
em todos os aspectos, entretanto é esta última que pressupõe mudanças, pelas quais as
pessoas se diferenciam, ao mesmo tempo em que precisam conservar a si mesmas como
individualidades únicas. As fases da mudança, conforme Moggi e Burkhard (2000) são
cercadas pelo fenômeno da crise. E a crise definitiva é a morte, que pode ocorrer em qualquer
etapa da vida.
Como se pode observar, ainda que não seja possível eliminar as limitações e problemas
decorrentes do envelhecimento natural do ser humano, é possível que os idosos possam se
sentir bem de maneira global e tenham melhor qualidade de vida. A velhice, além das perdas
naturais traz, também, muitos ganhos – uma longa experiência de vida, o dom da sabedoria,
como o maior legado que o ser humano pode deixar para gerações futuras (Mello e Abreu,
2001).
O idoso não tem que, necessariamente, ter medo de envelhecer. Ele pode aceitar o
envelhecimento, assumi-lo com tranqüilidade, predispondo-se a apreciá-lo como um processo
que resulta em uma nova fase da vida (César, 1999).

TERCEIRA IDADE: QUALIDADE DE VIDA E ESPIRITUALIDADE

Uma vez que acreditamos que a qualidade de vida durante a idade avançada, muito
mais do que das condições físicas, depende primordialmente da atitude de cada indivíduo
frente à sua vida, devemos questionar o que pode estar subjacente e o que faz a diferença
entre o idoso que tem uma percepção e, conseqüentemente, uma atitude positiva ou não frente
à sua existência.
Segundo Marques (1996), o termo qualidade de vida pode ser definido – para além dos
indicadores objetivos mensuráveis – como a percepção que o indivíduo tem de suas condições
reais de vida. Isso quer dizer que a pessoa terá uma alta qualidade de vida se estiver satisfeita
com a maneira como vive e, se atribuir a sua vida um alto valor. A autora afirma que “uma
pessoa que esteja desenvolvendo plenamente sua condição humana, certamente perceberá
sua vida como tendo qualidade” (p. 57), e acrescenta que o desenvolvimento da dimensão
espiritual de uma pessoa, por capacitá-la a se colocar em uma perspectiva global, determina a
maneira como avalia suas condições de vida. Assim, é possível também relacionar diretamente
o desenvolvimento da espiritualidade com uma vida de qualidade.
Alfons Deecken (1973) em seu livro Saber envelhecer, afirma que a percepção de
sentido é determinante na atitude de qualquer pessoa perante a vida, e na maneira como se
conduz ao longo de sua trajetória. O autor afirma que um dos maiores problemas da
humanidade é a incapacidade de perceber o sentido da vida e a dificuldade de expressá-lo o
que geralmente leva à frustração, ao desespero, por ele denominado “vácuo existencial”. Um
vazio e solidão interiores, que acredita podem estar na raiz de muitas das neuroses e outros
graves problemas da sociedade, tais como delinqüência, abuso de drogas e suicídio, pela
sensação de que suas vidas perderam a razão de ser.
Por se sentirem desmotivadas e vazias, muitas pessoas na terceira idade procuram
aconselhamento psicoterápico de vários tipos (psicólogos, psiquiatras, gerontólogos,
assistentes sociais), que embora sejam de grande valia para o tratamento dos chamados
“males da alma”, entendida como nossa parte vital, que transcende nossa efêmera existência
terrena, nossa parte imortal, espiritual, nos provocam algumas dúvidas no que se refere à
crença de que o uso da razão e da racionalidade nos possibilitará compreender a realidade,
tanto do mundo quanto do interior de cada um de nós. Complementa Morin (2001), quando
expressa que a ciência não pode nos oferecer uma compreensão completa da realidade,
especialmente da realidade do espírito humano, pois só é capaz de descrever o mundo de
forma limitada e aproximada.
Percebemos que há outros tipos de conhecimento, como a intuição e a sensibilidade,
que têm sido por nós negligenciados e que ao nos abrirmos para eles, permitindo que nossas
emoções se manifestem, possivelmente estaremos vislumbrando um outro caminho para o
desenvolvimento de nossa espiritualidade (Portal, 2002).
A palavra espírito deriva do termo latino “spiritus” que significa sopro de vida, alma,
elemento que anima e que energiza os seres vivos, diferenciando-os dos não vivos. A partir da
definição de espírito, podemos entender espiritualidade como uma profunda sabedoria sobre a
alma, o ânimo e a energia de cada ser vivo. Espiritualidade é um modo de ser, uma maneira de
experimentar a consciência numa dimensão transcendental (Marques, 1996).

Se queres conhecer a ti mesmo


Olha para o mundo.
Se queres conhecer o mundo,
Olha para teu próprio interior (Rudolf Steiner).

A busca do sentido na vida deve constituir a preocupação primeira de cada pessoa,


pois, como afirma Nietzsche, citado por Deecken, (1973, p. 57) “aquele que conhece o porquê
da vida pode suportar o como”. Na idade avançada, essa busca se torna ainda mais
importante, uma vez que a percepção de sentido, principal motivação da vida do homem,
oferece a possibilidade de uma nova significação para o viver dessa etapa, apesar de suas
limitações. É comum nessa faixa etária que a pessoa se questione profundamente sobre o
sentido de sua vida, e sobre sua importância no mundo. Muitos idosos falham em percebê-los,
de onde advêm sentimentos negativos em relação a si próprios e ao mundo, e muitas vezes ao
impulso de desistir de tudo.
Embora cientistas e teólogos discordem em muitos pontos, ambos concordam que, para
além do mundo físico de causa e efeito descrito pelas ciências, deve haver uma força invisível
e indefinível, uma energia presente em cada elemento do universo que estabelece os nexos
essenciais entre esses elementos, integrando-os e dando um sentido verdadeiro a tudo o que
há e que ocorre.
Na terceira idade, a integração entre corpo, mente e espírito é ainda mais necessária
que em épocas anteriores da vida (Marques, 2002). Com o envelhecimento, as pessoas vão-se
tornando menos materialistas, e os prazeres mundanos que traziam alegrias na juventude,
mesmo quando possíveis às pessoas mais maduras, já não lhes trazem o mesmo tipo de
satisfação. É nessa idade que a pessoa se depara com a oportunidade de descobrir e
desenvolver os níveis mais profundos de seu “eu” (Deecken, 1973) o que justifica questões
sobre inteireza e espiritualidade receberem nessa fase mais atenção e ganharem mais força.
Corroboram com essas idéias Moggi e Burkhard (2000) quando ao trabalharem sobre
as fases do desenvolvimento do ser humano entendem que em torno dos 56 anos de idade,
após passar por uma fase, por eles denominada de moral, na qual a energia inteligente
predomina e a pessoa tem grande visão de conjunto, passa a liberar o sentir e desenvolver
criatividade, predominando a beleza interior, sendo comum buscar uma nova missão de vida,
iniciando-se uma nova fase, aquela em que a pessoa liberta o querer e procura fazer o bem,
fase chamada pelos autores de mística. Nela começa a ficar mais evidente que as forças
físicas regenerativas começam a deixar o corpo, e a pessoa se predispõe a ficar mais consigo
mesma. Logo a seguir, há a fase da Luz, da Interiorização, quando a pessoa encontra a
serenidade e consegue pensar em “nós” em lugar do “eu”, sendo evidente o desprendimento
natural das exigências físicas e biológicas, como se as portas do mundo exterior começassem
a se fechar e é, em grande parte, da determinação e evolução individual, que a pessoa se
conduzirá de forma mais ou menos satisfatória, do nascimento físico até a fase da Luz.
A dimensão humana espiritual permeia todas as outras: física, emocional, mental, e
social, e quanto mais desenvolvida estiver, mais sua existência nas diferentes áreas da vida
auxiliará para novas organizações a partir da interação entre harmonia e desarmonia e entre
equilíbrio e desequilíbrio, pois a espiritualidade estimula uma consciência mais elevada da
integridade do ser, tanto interna como externamente. Espiritualidade é também capaz de dar
sentido à maneira como a pessoa está conectada com as demais ao seu redor; é uma
perspectiva mais ampla, uma visão mais total perante a vida e o mundo, que permitem que se
tenha um discernimento mais profundo do verdadeiro sentido de tudo. (Deecken, 1973).
Espiritualidade está estreitamente relacionada com sentido e seu desenvolvimento torna
as pessoas capazes de atribuir sentido as suas experiências boas e ruins, inclusive à doença e
ao sofrimento o que nos permite também entendê-la como uma dimensão da saúde,
especialmente importante na terceira idade, uma vez que, por envolver questionamentos
existenciais, seu desenvolvimento tem profundas implicações no bem-estar das pessoas
(Marques, 2002). Segundo a autora, diversos estudos têm sugerido uma profunda ligação entre
o bem- estar espiritual e existencial, e baixos níveis de sentimento de solidão ao que
complementa estudos de Zohar e Marshal (2000), quando relacionam a crise da sociedade
atual ao baixo nível de nossa Inteligência Espiritual. A espiritualidade pode desempenhar um
importante papel na diminuição de sentimentos de depressão no enfrentamento do luto, uma
experiência recorrente na idade avançada. Entretanto, o idoso espiritualizado nem mesmo
chega a temer a própria morte, pois acredita profundamente que esta faz parte de um projeto
universal maior, sobre o qual ele não tem controle, mas que compreende em toda a sua
complexidade.
O cultivo da espiritualidade se configura, assim, como uma poderosa ferramenta na
vivência de uma terceira idade plena de significado e qualidade.
De acordo com a psicoterapeuta americana Cristina Grof (apud Marques, 1996) a
espiritualidade é uma propriedade intrínseca da psique humana que emerge espontaneamente
no momento em que os processos de autoconhecimento e de auto-exploração atingem a
profundidade adequada. É, portanto, uma busca pessoal e íntima, que passa pelo profundo
conhecimento de si.
Complementa Morin (2001), quando afirma que a ordem cósmica se encontra integrada
no interior de cada ser vivo, mas, enquanto uma pessoa pouco desenvolvida espiritualmente
está geralmente inconsciente da presença dessa ordem cósmica, a espiritualizada tem um
profundo sentimento de pertença ao universo, e acredita que há um processo cósmico maior,
da qual ela faz parte, embora não o compreenda totalmente.
É exatamente este senso de pertença ao universo, e um profundo respeito e reverência
por tudo o que há – no mundo observável ou não – que dá a pessoa espiritualizada a sensação
de plenitude, de propósito e de sentido na vida, tendo a sensação de que se está no mundo
com uma incumbência e uma missão. A espiritualidade é um sentimento de conexão com uma
ordem superior, que, embora seja percebido individualmente de forma diferente, oferece às
pessoas espiritualizadas a consciência de que nunca estamos sós (Deecken, 1973).
Pessoas que têm uma visão espiritual frente à vida têm maior probabilidade de cultivar
bons hábitos, bons relacionamentos com os outros e bem-estar psicológico (Kurtz, apud
Marques, 2002).
Espiritualidade, por possuir elementos comuns a todas as religiões (amor, respeito à
vida, livre arbítrio, justiça, lealdade, integração...) deve ser trazida ao dia-a-dia da vida das
pessoas, apoiando-as a viver integralmente suas crenças e valores. Podemos dizer, assim, que
a espiritualidade é uma atitude de fé perante o universo, “um combustível sempre presente que
favorece essa conexão da pessoa consigo mesma e com os outros, imprimindo um sentido
transcendental em todas as ações, uma finalidade e um sentido últimos que alçam a
consciência humana a um reino de clareza, lucidez e disposição (Marques, 2002, p. 460).”

O ENVELHECIMENTO COMO PROCESSO


”Uma das experiências mais encorajadoras e felizes de muitas pessoas idosas é a
consciência crescente do triunfo do espírito, mesmo quando a força física as abandona”
(Deecken, 1973, p. 32). Nessa passagem, o autor expressa a satisfação que os idosos
espiritualizados sentem com seu conjunto de valores e crenças e sua atitude perante a vida,
embora seu estilo de vida já tenha sofrido as alterações decorrentes da passagem do tempo.
Embora seja comum afirmarmos que sempre é tempo para a pessoa iniciar sua viagem
interior rumo ao autoconhecimento que, por sua vez, levará ao desenvolvimento da
espiritualidade, devemos nos questionar se é realmente necessário – ou recomendável – que
se espere a chegada da terceira idade para o aflorar da espiritualidade. Sabemos que o
envelhecimento é um processo, uma construção que ocorre por toda a vida, e a atitude do
idoso perante sua existência é conseqüência do modo como o indivíduo se conduziu ao longo
de sua trajetória (Dias, 1998).
Durante a vida adulta, por falta de tempo ou de cuidado, a espiritualidade é pouco
cultivada, podendo trazer sérias conseqüências na qualidade de vida das pessoas e de toda a
sociedade.

As demandas do mundo atual, os apelos e os desafios para a sobrevivência, a


competitividade, a concorrência, o desemprego, o analfabetismo, a
desestruturação familiar, a ausência da prática de princípios de bem-viver, o
materialismo e a objetividade social e econômica em que estamos
mergulhados nos remeteram para a construção de uma sociedade
espiritualmente estúpida e atrofiada (Portal, 2002, p. 19).

Se a espiritualidade não for suficientemente vivida ao longo da infância, juventude e


idade adulta, o questionamento a respeito da vida nos afetará de maneira muito negativa
(Deecken, 1973).
Assim, podemos vislumbrar que investir na descoberta de nossa missão e do sentido
mais profundo de nossa existência é responsabilidade de cada um de nós; responsabilidade
que pode nos trazer o mais profundo sentimento de satisfação conosco, com o mundo e com a
vida. “Nada proporciona melhor a capacidade de superação e resistência a problemas e
dificuldades do que a consciência de ter uma missão a desempenhar na vida” (Dyer, 1994, p.
29)

REFERÊNCIAS:

CÉSAR, Kléos Magalhães Lenz. Fui moço, agora sou velho... e daí?. Viçosa: Ultimato, 1999.

DEECKEN, Alfons. Saber envelhecer. Petrópolis: Vozes, 1973.

DIAS, Ana Cristina Garcia. Representações sobre a velhice: o ser velho e o estar na terceira
idade. In: CASTRO, Odair Perugini de (org.) Velhice, que idade é essa?: uma construção
psicossocial do envelhecimento. Porto Alegre: Síntese, 1998.
DYER, Wayne. A verdadeira magia: criando milagres na vida diária. Rio de Janeiro: Record,
1994.

GIANISELLE, Francisca Garcia. A vivência de uma terapeuta idosa junto a um grupo da


mesma idade. In: Boletim Clínico, n. 10 – may/2001 [on line] Available:
http://www.pucsp.br/clinica/boletim10.htm.

MARQUES, L. F. Qualidade de vida: uma aproximação conceitual. In: 4Psico, Porto Alegre, v.
27, n. 2, p 49-62, jul/deC. 1996.

MARQUES, L.F. A saúde e a espiritualidade: uma integração necessária na terceira idade. In:
TERRA, Newton Luiz (org.) Envelhecimento bem-sucedido. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

MELLO, Anamaria Schrepel de B.; ABREU, Beatriz Castro de. A possibilidade de elaboração
psíquica das perdas na psicoterapia de grupos para idosos. In: Boletim Clínico. n. 11,
may/2001 [on line] Available: http://www.pucsp.br/clinica/boletim11.htm

MOGGI, Jair; BURKHARD, Daniel. O espírito transformador. a essência das mudanças


organizacionais do século XXI. São Paulo: Infinito, 2000.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

PORTAL, L. L. F. et al. Espiritualidade: um potencial a ser desenvolvido. In: TERRA, Newton


Luiz (org.). Envelhecimento bem-sucedido. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

ZOHAR, Dana; MARSHAL, Ian. Inteligência Espiritual: QS. O “Q” que faz a diferença. Rio de
Janeiro, Editora Record, 2000.

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