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1.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A pressão intracraniana é um importante fator regulador do equilíbrio neurológico e


um dos principais mecanismos que resulta em disfunção neurológicas. Ela é definida como
uma pressão intracraniana maior que 20 cm de fluido cerebroespinal. Pode ser a manifestação
de uma síndrome conhecida por hipertensão intracraniana benigna ou devido a edema
cerebral.
O enfermeiro deverá estar preparado para assistir ao paciente com quadros de HIC
segundo vários aspectos. É necessário que ele esteja apto a realizar procedimentos de alta
complexidade, monitorar a atividade elétrica do cérebro do paciente, monitorar os valores da
pressão intracraniana, identificar os principais sinais e sintomas que caracterizam a
hipertensão intracraniana, conhecer as intervenções de enfermagem para o paciente com esse
quadro e saber quais os diagnósticos que podem ser feitos.
Diante da importância do embasamento teórico e da suprimida quantidade de
informações relevantes para os profissionais de enfermagem sobre as bases teóricas da PIC e
suas alterações, achou-se necessário desenvolver esse trabalho. O principal objetivo desse
texto é contribuir para o embasamento teórico do profissional de enfermagem para que a
assistência ao portador de HIC possa ser completa, humanizada e correta.
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2. DEFINIÇÃO DA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA

De acordo com Black e Matassarin-Jacobs (1996), a pressão intracraniana é a pressão


exercida no crânio por seu conteúdo: o cérebro, o sangue e o líquido cefalorraquidiano (LCR).
A pressão é medida através do liquor. A pressão normal do LCR é de 5 a 15 mm Hg ou de 60
a 180 mm H2O. Pressões acima de 250 mm H2O são apontadas como hipertensão
intracraniana, sendo um sintoma de um distúrbio grave subjacente. A pressão do LCR na área
lombar, tal como aquela registrada durante uma punção lombar, pode não refletir a PIC, caso
o fluxo do LCR seja obstruído entre o cérebro e a medula espinhal, a pressão lombar pode
estar normal e a PIC muito elevada.
De acordo com Smeltzer e Bare (2002), a calota craniana rígida contem o tecido
cerebral (1400 g), sangue (75ml) e líquido cefalorraquidiano (LCR, 75ml). O volume e a
pressão desses três componentes estão, em geral, em um estado de equilíbrio. A hipótese de
Monro-Kellie afirma que, em virtude do espaço limitado para a expansão dentro do crânio,
um aumento em qualquer um desses componentes provoca um aumento em qualquer um
desses componentes provoca alteração no volume dos outros ao deslocar ou movimentar o
LCR, aumentando a absorção do LCR ou diminuindo o volume sanguíneo cerebral. Sem essas
alterações, a PIC começará a elevar-se.
Sob circunstâncias normais, as alterações menores no volume sanguíneo e no volume
do LCR ocorrem constantemente quando existem alterações na pressão intratorácica (tosse,
espirro, esforço), postura e pressão arterial, bem como diante de flutuações nos níveis
gasométricos do sangue arterial. A PIC normal varia de 10 a 20 mm Hg (SMELTZER; BARE,
2002).
A pressão intracraniana (PIC) é uma relação de pressão/volume entre o crânio e o
conteúdo dentro da abóbada craniana. O volume dentro do crânio consiste em sangue, tecido
cerebral e LCR. A relação de pressão desses elementos se ajustam constantemente para
manter um “estado estável” aceitável ou equilíbrio entre os componentes do sistema
intracraniano. O estado da PIC se reflete no líquido cefalorraquidiano.
Nettina (1999) afirma que a PIC aumentada é definida como uma pressão do LCR
superior a 15 mm Hg. Os fatores que influenciam a capacidade do sangue para conseguir esta
estabilidade incluem pressão arterial sistêmica, ventilação e oxigenação, metabolismo e
consumo de oxigênio (febre, calafrio, atividade), espasmo vascular cerebral regional e
saturação de oxigênio/ hematócrito. A incapacidade para manter esta estabilidade, levando a
uma PIC aumentada, pode ser resultante de traumatismo cefálico, edema cerebral, abscesso,
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infecção, lesões, cirurgia intracraniana e tratamento por irradiação. Uma PIC aumentada
constitui uma urgência e exige um tratamento imediato.
A pressão intracraniana pode ser monitorada por meio de um cateter intraventricular,
um parafuso ou rosca subaracnóidea ou um dispositivo de registro da pressão epidural
(NETTINA, 1999). Na visão de Murta (2006), a maioria das lesões neurológicas de urgência
leva a intervenções cirúrgicas ou a tratamento de suporte para observação e acompanhamento
de sua evolução, pois a hipertensão intracraniana aguda (HIC) requer monitoração intensiva
dada a instabilidade do sistema nervoso central.

3. INCIDÊNCIA

A hipertensão intracraniana (HIC) ocorre em larga escala entre os pacientes com


tumores cerebrais, lesões cranioencefálicas, meningite, encefalite, hemorragia subaracnóide e
algumas condições que alteram o fluxo do LCR, como, por exemplo, a estenose dos
aquedutos e a hidrocefalia (BLACK; MATASSARIN-JACOBS, 1996).
Enrione (2001) afirma que a HIC é uma das causas mais comuns de lesão cerebral
secundária em crianças. A correlação da HIC com a morbimortalidade nos pacientes
pediátricos justifica a busca de uma melhor compreensão da fisiopatologia, levando,
conseqüentemente, à maior adequação no tratamento (LEVIN et al, 1997).
Nos últimos 20 anos, houve significativo declínio na morbidade e mortalidade
associadas ao trauma craniano em crianças. No entanto, continuam sendo mais elevadas do
que em adultos, com pico na faixa de lactentes (MAZZOLA; ADELSON, 2002).

4. ETIOLOGIA

Segundo Black e Matassarin-Jacobs (1996), o aumento da pressão intracraniana está


associado mais frequentemente a uma lesão rapidamente expansiva, como um sangramento,
por exemplo; uma obstrução à vazão do líquido cefalorraquidiano, como nos casos de
tumores; ou o aumento da formação de LCR, nos casos de edema cerebral, por exemplo.
Nettina (2007) refere algumas condições associadas à etiologia da HIC, dentre as quais
citamos:
• Alteração na complacência intracraniana;
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• Distúrbios na pressão arterial sistêmica;


• Alterações na ventilação e oxigenação;
• Variações anormais da taxa metabólica e consumo de oxigênio;
• Vasoespasmo cerebral regional;
• Saturação de oxigênio e hematócrito inadequados;
• Incapacidade de manter um estado de equilíbrio, que resulta em aumento da
PIC.

5. FATORES DE RISCO

Para Black e Matassarin-Jacobs (1996), os clientes que apresentam maior risco de


apresentarem aumentos da pressão intracraniana são aqueles que têm massas expansivas no
cérebro. Aqueles que sofreram um trauma cranioencefálico (TCE), os que foram submetidos a
uma cirurgia cerebral, os que apresentaram hidrocefalia, tumores cerebrais e sangramentos
(por exemplo, hemorragia subaracnóide).
O aumento de volume do encéfalo, difuso ou localizado, tende a causar deslocamento
das partes afetadas em relação aos compartimentos intracranianos criados pelas dobras durais:
a foice do cérebro e a tenda do cerebelo. Isto leva a insinuação de linguetas de tecido cerebral
em espaços exíguos, com compressão de estruturas vitais. São as chamadas hérnias
intracranianas, que podem ser de cíngulo ou supracalosa; de uncus temporal; de amígdalas
cerebelares ou transcalvarianas (MASCIA et al., 2000).
Black e Matassarin-Jacobs (1996) afirmam que a HIC pode ser reduzida pelo
posicionamento adequado do paciente de alto risco, o uso de diuréticos e o monitoramento
intracraniano para detecção precoce de pressões elevadas. A incidência de lesões graves da
cabeça pode ser reduzida através do uso de cintos de segurança, minimizando assim os
problemas decorrentes do aumento da PIC.

6. FISIOPATOLOGIA

De acordo com Mazzola e Adelson (2002), o líquido cefalorraquidiano (LCR)


constitui 10% do volume intracraniano e seu volume, em todo o sistema nervoso, é de
aproximadamente 150 ml, dos quais 20-30 ml estão no interior dos ventrículos e o restante
nos espaços subaracnóides intracraniano e raquidiano. O LCR é produzido em torno de 0,3 a
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4,0 ml/min, principalmente nos plexos coróideos dos ventrículos laterais (70% da produção),
e, em menor quantidade, por transudação de líquido através do epêndima.
Uma vez produzido, o LCR dos ventrículos laterais circula através dos forames de
Monro para o terceiro ventrículo e daí para o quarto ventrículo, através do aqueduto cerebral.
Do quarto ventrículo, o LCR sai pelos forames de Luschka e Magendie e alcança as cisternas
basais. Por via anterior, através das cisternas anteriores do tronco cerebral, alcança a
convexidade do cérebro, após passar pela base dos lobos frontais e temporais. Por via
posterior, o LCR que sai do quarto ventrículo circula pela cisterna magna, cisternas
supracerebelares, cisternas ambientes e cisternas do corpo caloso, atingindo também a
convexidade cerebral. Além disso, o LCR circula ao redor da medula no canal raquidiano, em
um movimento de entrada e saída na caixa craniana. A propagação da corrente liqüórica é
atribuída ao efeito exercido pelas pulsações cardíacas nas artérias do plexo coróideo, o qual
provoca uma onda de pressão.
A reabsorção liquórica ocorre, em grande parte, nas vilosidades aracnóideas, ao longo
do seio sagital, através de um mecanismo passivo do tipo valvular unidirecional. Quando a
pressão liquórica atinge 5mm/H2O, mecanismos valvulares nos canalículos que unem o
espaço subaracnóideo às veias que drenam para o seio sagital superior abrem-se e permitem o
escoamento do LCR, para dentro do sistema venoso (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
Segundo a óptica de Mazzola e Adelson (2002), as alterações liquóricas que levam à
HIC, geralmente, são aquelas que causam obstrução da circulação liquórica em qualquer
ponto de sua via e as que causam dificuldade na reabsorção do LCR. O volume total de
sangue intracraniano é, aproximadamente, 4 - 4,5 ml/100 g de tecido cerebral, que,
normalmente, está distribuído em 60% no lado venoso e 40% no lado arterial. Clinicamente, o
sistema venoso pode ser considerado incompressível e os vasos do sistema venoso não sofrem
alterações dos seus diâmetros, portanto toda a resposta vascular cerebral está do lado arterial,
que representa menos de 2% do volume intracraniano ou aproximadamente 25 ml no cérebro
adulto. O fluxo sangüíneo cerebral (FSC) é diretamente proporcional à pressão de perfusão
cerebral (PPC) e inversamente proporcional à resistência vascular cerebral (RVC). A PPC é
igual a pressão arterial média (PAM) menos a pressão venosa. Como, no homem, a pressão
nos seios venosos é difícil de ser medida e ela corre paralela à PIC, considera-se a PPC igual à
diferença entre a PAM e a PIC. Portanto, o FSC pode ser expresso na seguinte equação:
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A auto-regulação do FSC pode ser definida como a capacidade de aumento do FSC


devido ao aumento da necessidade metabólica do cérebro e diminuição do fluxo com redução
da demanda (auto-regulação metabólica) ou como a capacidade de manutenção do fluxo
apesar do aumento ou da redução da pressão arterial sistêmica (auto-regulação pressórica). A
auto-regulação funciona adequadamente na faixa de variação da PAM, de 50 a 160 mmHg, o
que significa que, conforme a PAM diminui, os vasos de resistência dilatam até que atinjam
um ponto máximo em resposta à redução da pressão. A partir de 50 mmHg, o FSC reduz
abruptamente com quedas adicionais da PAM. O resultado dessa intensa vasodilatação é um
quadro de vasoplegia capilar, que provoca ingurgitamento da microcirculação. Essa
vasoplegia pode ser irreversível e, com o aumento progressivo, a PIC pode igualar-se à PAM,
interrompendo o FSC.
Com o aumento da PAM, os vasos contraem-se até que a PAM atinja 160 mmHg, nível
em que a pressão quebra a resistência da vasoconstrição, causando dilatação passiva e um
aumento no FSC. A teoria mais aceita para a regulação do FSC é a metabólica, que se baseia
na premissa de que os músculos das paredes vasculares são influenciados por metabólitos
vasodilatadores, produzidos nos tecidos vizinhos. O CO2 tem um acentuado efeito relaxante
na musculatura dos vasos cerebrais e, conseqüentemente, suas alterações têm um grande
efeito sobre a resistência vascular, sobre o FSC e sobre o volume sangüíneo cerebral.
Entretanto seu efeito não é direto sobre o diâmetro das arteríolas e, sim, age mediado pela
alteração que provoca no pH do líquido extracelular (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
Em resumo, o acúmulo de CO2 no espaço intersticial leva à acidose tecidual, que
ocasiona o relaxamento da musculatura lisa da microcirculação e reduz a RVC. O contrário
ocorre quando o CO2 é eliminado e o pH tecidual aumenta. Embora com a auto-regulação o
FSC permaneça constante, o fluxo sangüíneo regional varia de acordo com as necessidades
metabólicas regionais, havendo uma relação direta entre o fluxo e a atividade metabólica das
áreas do córtex cerebral.
Uma extensão do conceito de auto-regulação cerebral é o de acoplamento, que é a
relação ideal do FSC com o metabolismo tissular. A condição patológica é chamada de
desacoplamento, quando pode ocorrer excesso de FSC para um tecido que não está
consumindo toda a oferta oferecida (hiperemia) ou um FSC menor que as necessidades do
tecido (oliguemia); tais situações têm sido descritas no traumatismo craniencefálico (TCE).
Uma forma de avaliar esse acoplamento é o de medir a diferença da saturação arteriovenosa
(jugular) de O2 e inferir se o tecido cerebral está extraindo muito oxigênio (déficit de fluxo)
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ou se existe oxigênio em excesso no sangue venoso (excesso de fluxo) (LUERSSEN;


WOLFLA, 1997).
Segundo Mazzola e Adelson (2002), a pressão venosa intracraniana também deve ser
considerada no estudo da etiologia da HIC, doenças intracranianas (fístulas arteriovenosas) e
extracranianas (obesidade mórbida, trombose traumática de veias jugulares) podem causar seu
aumento e, secundariamente, HIC. O parênquima cerebral contribui com 85% do volume
intracraniano (1000 a 1250 ml), sendo constituído por substância branca, onde há predomínio
de axônios e mielina, e por substância cinzenta, onde há predomínio de corpos celulares. A
parte sólida representa 25% do parênquima e os 75% restantes são constituídos por água,
distribuída nos espaços extra e intracelulares.
O aumento do volume cerebral pode se dar pelo crescimento anormal de um tecido
(tumores), pelo aparecimento de uma resposta inflamatória em resposta a um agente
infeccioso (abscesso ou granulomas) ou pelo acúmulo de líquido nos espaços intersticial e/ou
intracelular. O acúmulo é chamado de edema cerebral, e resulta do funcionamento indequado
dos mecanismos de transporte da água e de eletrólitos entre os capilares e espaços extra e
intracelular. De acordo com o mecanismo de formação, pode ser dividido em vasogênico e
citotóxico (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
O edema vasogênico resulta da quebra da barreira hematoencefálica, o que provoca
aumento da permeabilidade do endotélio capilar e permite o extravasamento de componentes
do plasma (água e proteínas), para o espaço intersticial. A partir do local da lesão, o líquido do
edema espalha-se pela substância branca adjacente, por gradiente de pressão. A composição
do líquido do edema é intermediária entre o plasma e o líquido extracelular e varia desde a sua
formação até a sua resolução (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
Para Mazzola e Adelson (2002), os principais efeitos prejudiciais do edema
vasogênico são: alteração na perfusão tissular por dificuldade de fluxo nos capilares, aumento
do volume tissular, dificultando a difusão adequada de substratos metabólicos e catabólitos
entre os compartimentos tissular e vascular, desmielinização ou interrupção do fluxo
axoplasmático secundários à pressão sobre os axônios, e alterações na excitabilidade da
membrana nervosa pelos componentes do líquido do edema.
O edema citotóxico, ou celular, é o acúmulo de líquido no espaço intracelular,
caracterizado por um aumento do volume intracelular e redução do volume extracelular. O
mecanismo ultra-estrutural do edema celular é a alteração da membrana celular. A situação
clínica em que ele ocorre com maior freqüência é a isquemia, por alteração no suporte
energético das trocas iônicas ao nível da membrana, tanto no neurônio como nas células da
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glia. Segundos após a falência da bomba de Na+ e K+, verifica-se o acúmulo de água e Na+
dentro da célula e de K+ no líquido extracelular, cujo grau depende da duração e intensidade
da isquemia (YOUNG; RAPPER; BOLTON, 1998).
Nessa fase, não há quebra da barreira hematoencefálica. Entretanto, durante a
evolução do edema celular por isquemia, ocorre a sua tranformação em vasogênico. A
reversão do edema intracelular pode ocorrer quando os mecanismos de troca iônica ativa, na
membrana celular são restabelecidos. Além desses dois tipos, são ainda descritos o edema
hidrostático, que ocorre no espaço intersticial por aumento da pressão venosa (edema
passivo), e o denominado edema intersticial, que se verifica nas regiões periventriculares, pela
transudação transependimária de LCR, em pacientes com hidrocefalia e HIC (LUERSSEN;
WOLFLA, 1997).
O edema pode levar a um aumento da PIC com conseqüente redução do FSC, o que,
por sua vez, leva à hipóxia, que contribui para o aumento do edema, fechando um círculo
vicioso. O círculo vicioso, se não for impedido pelos mecanismos normais de reabsorção ou
por medidas terapêuticas, leva à interrupção do FSC, que é o principal parâmetro clínico para
a determinação da morte cerebral (HICKEY, 2003).
A relação do volume intracraniano com a PIC não se faz de forma linear, mas, sim,
exponencial. A injeção de pequenos volumes de líquido no interior do crânio, de início,
praticamente não altera a PIC, nas injeções subseqüentes, o aumento é lento, mas, a partir de
um volume injetado, o acréscimo de pequenos volumes de líquidos determina grandes
aumentos na PIC e vice-versa. Esse fato acontece devido aos mecanismos tampões, existentes
no interior do crânio, ou seja, a saída de líquido cefalorraquidiano para dentro do saco dural
ou sua reabsorção (70% da capacidade de compensação intracraniana) e a redução do volume
sangüíneo por compressão do leito vascular e ejeção do sangue para fora da caixa craniana
(30% da capacidade de compensação espacial) (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
Para Porth (2002), o somatório do volume do encéfalo, do líquor e do sangue é
responsável pela pressão no interior do continente cranio-vertebral o qual é praticamente
inextensível. Qualquer aumento de volume de um dos componentes sem a correspondente
redução de outro, resultará em aumento da pressão intracraniana (doutrina de Monro-Kellie).
A pressão intracraniana normal é, de acordo com Mazzola e Adelson (2002), de 18cm
de H2O ou 14mmHg em condições basais. Multiplicando-se o valor da pressão em milímetros
de mercúrio por 13 ( densidade do mercúrio ), obtém-se a pressão em milímetros de água.
Já no final da década de 1940, Lundberg foi pioneiro na monitorização da pressão
intracraniana utilizando cateter intraventricular e transdutor de esforço mecânico. Observou
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também que diuréticos osmóticos ou a hipocapnia, em alguns casos, eram efetivos em


melhorar pacientes com HIC. Mais recentemente Langfitt também constatou dramática
melhora da condição neurológica adversa, reduzindo a PIC em alguns pacientes com HIC.

Curva de volume/pressão de Langfitt:

ELASTÂNCIA
P dV/dP
I
C COMPLACÊNCIA dP/dV

VOLUME

Complacência: é a capacidade de se deformar


Elastância: é a capacidade de reassumir a forma original

De acordo com Luerssen e Wolfla (1997) pressão intracraniana se mantém dentro de


valores normais enquanto se aumenta o volume de um balão colocado no compartimento
intracraniano. A partir de determinado momento, pequeno incremento em volume determinará
aumento brusco da pressão intracraniana. Daí a importância em determinar em que ponto
desta curva se encontra nosso paciente portador de HIC para que se possa agir para evitar
irreversibilidade. Como veremos no tratamento da HIC, várias medidas estão disponíveis para
o manejo destes pacientes, tais como monitorização da pressão intracraniana e da pressão de
perfusão cerebral. O perfeito entendimento da fisiopatologia da HIC é fundamental par que se
possa tirar proveito destes dados assim como de outras medidas e fármacos que estão a nossa
disposição.
A partir da visão de Mazzola e Adelson (2002), a manutenção da pressão
intracraniana em valores normais é conseguida através do acionamento de mecanismos
tampões. A redução do volume de sangue intracraniano é o mecanismo tampão mais ágil e,
em segundo lugar está o volume de líquor. Sabe-se que o conteúdo intracraniano pode
acomodar hematoma subdural ou contusão cerebral hemorrágica cujo volume não exceda 50 a
60ml. Quando se esgotam os mecanismos de neutralização da pressão intracraniana, esta
começa subir a níveis superiores a 20mmHg e, a pressão arterial sistêmica responde com
elevação (resposta de Cushing), na tentativa de manter o fluxo sanguíneo cerebral (FSC). A
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pressão venosa jugular (PJ) em geral é baixa e pode ser desprezada na maioria dos casos. O
numerador da fração ficaria PAM – PIC que traduz a pressão de perfusão cerebral (PPC), a
qual deve ser mantida acima de 60 – 70mmHg, para que haja perfusão cerebral adequada.

PPC = PIC – PAM

A pressão de perfusão cerebral (PPC) quando se anula (PIC = PAM), corresponde ao


estágio de morte cerebral que é o evento final da chamada cascata da vasodilatação que pode
acontecer nas lesões cerebrais graves.

PIC PPC FSC VASODILATAÇÃO PIC

PAM

PIC

Em condições normais o FSC está em torno de 50 a 55ml / 100g de tecido / minuto.


Quando o FSC, em animais de laboratório, é gradualmente reduzido, uma seqüência de
eventos começa a ocorrer como conseqüência da isquemia que passa a danificar o tecido
nervoso. Com FSC se aproximando de 25ml / 100g / min começa a haver edema e acúmulo de
ácido lático. Abaixo de 20ml / 100g / min cessa a condução neuronal de impulsos elétricos.
Reduzindo-se para 15ml / 100g / min cessa a atividade da bomba de Na / K que mantém
potencial eletroquímico através da membrana neuronal. Finalmente sobrevém a morte celular
(BRAIN TRAUMA FOUNDATION, 2000).
Efeitos da queda do FSC:
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ml /100g / min isquemia penumbra infarto

50 a 55 25 20 15 8
normal edema perda da falha da bomba morte celular
acúmulo de atividade Na / K
ácido lático elétrica

7. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os sintomas de aumento da PIC devem-se à tração exercida sobre os vasos sanguíneos


cerebrais pelos tecidos inchados e à pressão sobre a dura-máter sensível à dor e sobre diversas
estruturas no cérebro e atrás do olho. A hipertensão intracraniana (HIC) representa
efetivamente várias entidades ocorrendo ao mesmo tempo e não um processo único. Não há
um conjunto único de manifestações clínicas ocorrendo em todos os pacientes. As indicações
de HIC estão relacionadas à localização e à causa do aumento de pressão e à rapidez e
extensão de sua manifestação (BLACK; MATASSARIN-JACOBS, 1996).
Quando a PIC aumenta até o ponto em que a capacidade funcional de ajuste cerebral
alcançou seu limite, a função neural fica comprometida; isso pode manifestar-se por
alterações clínicas, primeiramente no nível de consciência e, mais adiante, por respostas
vasomotora e respiratória anormais. Qualquer alteração súbita na condição do paciente, como
a inquietação (sem causa aparente), confusão ou sonolência crescente, possui significado
neurológico. Esses sinais podem resultar da compressão do cérebro devido à inchação
decorrente da hemorragia ou edema, de uma lesão intracraniana expansiva (hematoma ou
tumor) ou de uma combinação de ambas (SMELTZER; BARE, 2002).
Os sintomas da HIC são sutis e o enfermeiro deve ser diligente na observação de
alterações na condição do paciente. Os sintomas incluem quaisquer alterações no nível de
consciência, inquietação, irritabilidade, confusão e uma diminuição no escore da GCS. Além
disso, o paciente pode ter alterações na fala, reações pupilares, alterações motoras ou
sensoriais ou alterações da freqüência e ritmos cardíacos, cefaléia , náuseas, vômitos ou vista
turva ou dupla (diploplia) podem ser relatados. A tríade de Cushing de aumento da pressão
sistólica, aumento da pressão diferencial e respirações irregulares é uma resposta tardia à HIC,
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indicando freqüentemente que está ocorrendo herniação (BLACK; MATASSARIN-JACOBS,


1996).
Sob a óptica de Smeltzer e Bare (2002), à medida que a PIC aumenta, o paciente fica
torporoso, reagindo apena aos estímulos auditivos altos ou dolorosos. Nesse estágio
provavelmente está ocorrendo o grave comprometimento da circulação cerebral, sendo
necessária a intervenção imediata. À medida que a função neurológica se deteriora ainda
mais, o paciente fica comatoso e exibe respostas motoras anormais na forma de decorticação ,
descerebração ou flacidez.
De acordo com as palavras de Black e Matassarin-Jacobs (1996), a variedade de
sintomas e a natureza vaga daqueles que indicam a HIC levaram ao desenvolvimento de
formas mais confiáveis de determinação da PIC, como os monitores de PIC. A detecção e
tratamento precoces da HIC podem melhorar muito a evolução final do paciente, pois a
hipertensão intracraniana precede os sinais e sintomas clínicos.
Para Carlotti et al. (1998), As manifestações clássicas da HIC, nos adultos e nas
crianças maiores, são a cefaléia, as alterações visuais e as náuseas e vômitos. Outros sinais
que podem ser observados são os ditúrbios psíquicos, paresia do VI nervo craniano (desvio
medial do olho), que não tem valor como sinal localizatório, e tonturas.
A cefaléia ocorre pelo aumento da pressão e por distensão da dura-máter, dos vasos e
dos nervos cranianos, que são estruturas que têm terminações nervosas sensitivas.
Geralmente, é mais freqüente no período da manhã e acorda o paciente durante a noite, e pode
melhorar durante o dia, quando o paciente permanece na posição supina o que facilita o
retorno venoso (MARMAROU; TABADDOR, 1993).
Para Giugno et al. (2003), os vômitos são devidos ao aumento da pressão e à irritação
do assoalho do quarto ventrículo. Além disso, podem ocorrer tonturas e alterações discretas da
marcha. No exame clínico, é importante o exame do fundo de olho para detectar o
papiledema. O edema de papila ocorre por propagação retrógrada da hipertensão pelo espaço
subaracnóideo ao redor do nervo óptico, que funciona como um manguito e dificulta o retorno
venoso pela veia oftálmica que tem um trajeto parcial dentro do nervo. A cefaléia e os
vômitos são comuns a muitas outras doenças mas o edema de papila é um sinal que, na
maioria das vezes, indica HIC.
Nos recém-nascidos e lactentes, devido a não soldadura das suturas, esses sinais não
são observados e as manifestações clínicas apresentadas, são abaulamento da fontanela,
irritabilidade, macrocrania e outras alterações, como choro fácil e recusa da alimentação.
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A HIC pode determinar outros sinais e sintomas que resultam das herniações do tecido
cerebral e do deslocamento cefalocaudal do tronco cerebral, geralmente causados por lesões
expansivas supratentoriais. Essa sintomatologia caracteriza o quadro de descompensação da
HIC. A herniação subfálcica ocorre quando há crescimento de lesão expansiva em um dos
hemisférios cerebrais, deslocando o giro do cíngulo por sob a borda livre da foice do cérebro.
Isso pode causar a compressão das artérias pericalosas, com infarto de seus territórios,
resultando em paresia de um ou de ambos os membros inferiores (BAKAY; WOOD, 1985).
As lesões supratentoriais hemisféricas, como edema difuso ou localizado, tendem a
deslocar o tronco cerebral no sentido cefalocaudal e provocar distorções e isquemias no
diencéfalo, cujas manifestações clínicas caracterizam a denominada herniação do tipo central.
O sofrimento do diencéfalo inicia pela alteração na capacidade de concentração e da memória
recente e, posteriormente, pelo comprometimento do nível de consciência, por aparecimento
de pupilas pequenas, além de manifestações de lesão do trato piramidal, geralmente do tipo
postura de decorticação. A respiração é caracterizada por inspirações profundas, com pausas
ocasionais; muitos pacientes apresentam respiração do tipo Cheyne-Stokes (PLUM;
POSNER, 1978).
Quando a compressão é ocasionada por herniação do uncus do lobo temporal,
lateralmente, através da incisura, o sofrimento do nervo oculomotor manifesta-se,
inicialmente, pela dilatação da pupila homolateral, que também perde reatividade à luz, e, em
seguida, pela paralisia na musculatura extrínsica do globo ocular. A compressão do
pedúnculo cerebral (mesencéfalo), caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações de lesão
do trato piramidal do tipo reação de descerebração, evidenciada do lado oposto à midríase.
Observa-se também alteração do nível de consciência por mecanismo semelhante ao referido
na herniação central. A artéria cerebral posterior pode ser comprimida pela hérnia lateral, o
que pode causar infarto na região occipital e ocasionar alterações do campo visual, que,
geralmente, são difíceis de serem detectadas na fase aguda. A progressão de lesão leva ao
sofrimento mesencefálico bilateral, com a conseqüente extensão do quadro clínico(PLUM;
POSNER, 1978).

8. COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA

Segundo Smeltzer e Bare (2002), as complicações da HIC incluem a herniação do


tronco cerebral, diabetes insípido e a síndrome da secreção inapropriada de hormônio
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antidiurético (SIADH). A herniação do tronco cerebral resulta de um aumento excessivo na


PIC, quando a pressão se acumula na calota craniana e o tecido cerebral exerce pressão para
baixo sobre o tronco cerebral. Essa pressão crescente sobre o tronco cerebral resulta na
cessação do fluxo sanguíneo para o cérebro, gerando anóxia cerebral irreversível emorte
cerebral.
Para Young et al (1998), o diabetes insípido é conseqüência da secreção diminuída de
hormônio antidiurético. O paciente exibe débito urinário excessivo, resultando em
hiperosmolalidade. A terapia consiste na administração de volumes de líquidos, reposição
eletrolítica e terapia com vasopressina.

9. DIAGNÓSTICO

Para a Brain Trauma Foundation (2000), os exames diagnósticos são utilizados para
determinar a causa subjacente a PIC aumentada. O paciente pode passar por angiografia
cerebral imageamento por tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) ou
tomografia com emissão de pósitrons (PET). Os resultados com Doppler intracraniano podem
fornecer informações sobre o fluxo sanguíneo cerebral. O paciente com PIC aumentada
também pode sofrer monitorização eletrofisiológica para monitorizar indiretamente o fluxo
sanguíneo cerebral. A monitorização do potencial evoluído e realizada ao se medirem os
potenciais elétricos produzidos pelo tecido nervoso em resposta à estimulação
externa(auditiva, visual ou sensorial). A punção lombar é evitada nos pacientes com PIC
aumentada porque a súbita liberação da pressão pode provocar a herniação do cérebro.
Os pacientes com

10. TRATAMENTO

O tratamento da hipertensão intracraniana é feito de acordo com a evolução do quadro


clínico do paciente. Para Giugno (2003), as metas no tratamento da HIC são dirigidas para a
prevenção do segundo insulto, que exacerba o dano neuronal e acentua a lesão cerebral
secundária. Tal meta é buscada através de intervenções dirigidas para a redução da pressão
intracraniana, a maximização da pressão de perfusão cerebral e da oferta de oxigênio ao
cérebro. A PPC e a oferta de oxigênio dependem de ventilação adequada, da função cardíaca e
da perfusão sistêmica. O atendimento imediato, objetivando o correto diagnóstico e a
15

estabilização do paciente é essencial. O roteiro de tratamento deve incluir medidas que visem
à estabilização global do paciente, assim como medidas específicas para o controle da pressão
intracraniana.
A monitorização permite, de acordo com as palavras de Marshall et al (2000), uma
avaliação correta da PIC e da pressão de perfusão cerebral, permitindo uma individualização
da terapia. A monitorização contínua da pressão intracraniana está indicada nos pacientes com
Glasgow = 8, já que o aumento da pressão intracraniana e a diminuição da pressão de
perfusão cerebral contribuem para a lesão secundária. Isto é feito através da inserção de
cateter intraventricular, que permite a monitorização e drenagem de liquor (quando se fizer
necessária). A PPC deve ser mantida na faixa normal, garantindo adequada oferta de oxigênio
ao cérebro. A sobrevida observada é de 94% no TCE grave, quando a PIC é mantida abaixo de
20 mmHg.
Para Mazzola e Adelson (2002), a monitorização da PIC está mais amplamente
estudada e tem sua indicação mais estabelecida nos pacientes com traumatismo
craniencefálico grave. Há uma redução importante da mortalidade, de 50% para 36%, devido
à utilização de protocolos de tratamento intensivo, incluindo a monitorização da PIC. No
entanto, a monitorização da PIC pode ser útil em outras situações, embora não existam
indicações padronizadas, como, por exemplo, nos pós-operatórios de hematomas espontâneos
e tumores e em pacientes com encefalites e acidentes vasculares isquêmicos.
As indicações de monitorização da PIC no paciente com traumatismo craniencefálico,
segundo as ecomendações da Brain Trauma Foundation (2000), são: pacientes com TCE
grave e tomografia computadorizada (TC) de crânio com anormalidades. TCE grave é
definido como um escore na escala de Glasgow (Tabela 1) de três a oito após ressuscitação
cardiopulmonar, e anormalidades na TC incluem hematomas, contusões, edema ou cisternas
basais comprimidas.
Em adultos, a monitorização da PIC também está indicada na presença de TC de
crânio normal, quando dois dos
seguintes fatores forem encontrados: idade acima de 40 anos, pressão arterial sistólica
<90 mmHg e postura motora anormal (descerebração ou decorticação). Para crianças, não há
recomendações específicas no caso de TCE grave com TC de crânio normal.
16

Tabela 1 – Escala de coma de Glaslow e suas variações em adultos (coluna da esquerda) e em crianças
(coluna da direita).

Existem recomendações para escolha do sistema para monitorização da pressão


intracraniana. O aparato de monitorização ideal é aquele que seja confiável, preciso, de baixo
custo e que cause mínima morbidade ao paciente (BRAIN TRAUMA FOUNDATION, 2000).
Ainda de acordo com a Brain Trauma Foundation (2000), os monitores atualmente
disponíveis permitem o registro da pressão através de dreno ventricular acoplado a um
transdutor externo (ex. qualquer monitor de pressão invasiva), transdutor na ponta de um
eletrodo (ex. Codman®), ou por tecnologia de fibra óptica (ex. Camino®) (Figura 1).
Dreno (cateter) ventricular acoplado a um transdutor de pressão externo são
transdutores de pressão invasiva acoplados na drenagem ventricular externa em contato com a
coluna de líquido (liquor). Podem ser recalibrados a qualquer momento. A obstrução do dreno
impossibilita ou torna o registro impreciso. O transdutor externo deve ser mantido num ponto
de referência fixo, em relação à cabeça do paciente, para não ocorrer erros de medida.
Eletrodo com transdutor ou cateter de fibra óptica na ponta tem o transdutor
posicionado internamente no crânio. São calibrados previamente à inserção e não podem ser
17

recalibrados (sem cateter ventricular associado). Conseqüentemente, há um risco para a


ocorrência de erros de medição (drift), especialmente se a monitorização for feita por diversos
dias. Os dois sistemas podem apresentar desvios de medição, no entanto, parece que o
eletrodo com transdutor na ponta teria uma menor chance deste problema no período de cinco
dias. A precisão das aferições podem ser checadas colocando-se o eletrodo transdutor e o
cateter de fibra óptica associado ao dreno ventricular.

Figura 1 – Monitoriazação da pressão intracraniana (Adaptada de Brain Trauma Foundation, 2000).


A medida da pressão intraventricular é o padrão de referência para a monitorização da
PIC. A medida da PIC com eletrodo transdutor intraparenquimatoso, ou subdural, com cateter
acoplado à coluna líquida, é considerada similar à pressão intraventricular. O valor da pressão
obtida por cateter de fibra óptica, colocado no parênquima ou em posição subdural, nem
sempre se correlaciona com a pressão intraventricular. Por outro lado, a medida por eletrodo
com transdutor na ponta colocado no espaço subdural apresenta muita diferença em relação à
colocação no interior do parênquima. A mensuração através de cateter epidural, acoplado à
coluna líquida, ou através de parafusos subaracnóides, é menos precisa que a monitorização
intraventricular (LUERSSEN; WOLFLA, 1997).
Podemos determinar medidas gerais no tratamento da hipertensão intracraniana. Elas
são, de acordo com Mazzola e Adelson (2002):
a) Posição da cabeça
A cabeça deve ser mantida em posição neutra e elevada a trinta graus, para otimizar o
retorno venoso. Quando houver necessidade de mobilização do paciente, a cabeça deve ser
18

mantida em alinhamento com a coluna. Movimentos de rotação para a direita podem


aumentar mais a PIC do que movimentos para a esquerda. A posição prona deve ser evitada,
por aumentar as pressões intra-abdominal e intratorácica, com conseqüente aumento da PIC.
b) Temperatura corporal
A meta quanto à temperatura é a manutanção do paciente normotérmico, evitando
agressivamente a hipertermia, pois esta pode aumentar o metabolismo cerebral. Já a
hipotermia prolongada pode diminuir os leucócitos, aumentando o risco de infecção, além de
não melhorar a morbimortalidade em vários insultos neurológicos. Ainda pode causar
distúrbios na condução ventricular e na cascata da coagulação.
c) Monitorização hemodinâmica
É recomendada a instalação de um cateter arterial, para medida de PAM contínua, e
cateter central com medida de pressão venosa central (PVC). A hipotensão deve ser tratada
agressivamente com o uso de drogas vasoativas. Deve-se
tolerar hipertensão arterial sistêmica (HAS) leve, pois esta pode ser compensatória
para manter a PPC. Nas situações de perda da auto-regulação cerebral, qualquer alteração de
pressão pode ser diretamente transmitida aos vasos cerebrais, com maior risco de edema ou
isquemia. Nestes casos, pode-se empregar o nitroprussiato de sódio ou betabloqueadores.
d) Manejo respiratório
Recomenda-se a intubação do paciente, quando houver sinais clínicos de HIC,
Glasgow menor ou igual a oito, presença de sofrimento respiratório, hipercapnia ou
hipoxemia refratária. A técnica de seqüência rápida de intubação (preparação, pré-oxigenação,
sedação, pressão cricóide, bloqueio neuromuscular e intubação orotraqueal) tem se mostrado
mais segura do que a intubação nasotraqueal, ou a intubação orotraqueal sem bloqueio
neuromuscular.
A saturação do paciente deve ser mantida acima de 92%. A PaCO2 deve ser mantida
em torno de 35 mmHg (evitar níveis de PaCO2 >38 mmHg). Não deve ser usada a
hiperventilação profilática, pelo risco de vasoconstricção arterial e conseqüente isquemia
cerebral. No suporte ventilatório, é recomendada a manutenção de uma freqüência respiratória
baixa, pois o tempo expiratório mais prolongado facilita o retorno venoso. A utilização de
pressão expiratória final positiva (PEEP) não é contra-indicada; deve-se, entretanto, ter
presente as suas potenciais interferências hemodinâmicas. A hemoglobina e o hematócrito
devem ser mantidos, respectivamente, acima de 10 mg/dl e 30%10.
e) Sedação/Analgesia
19

O paciente deve ser mantido sem dor e agitação, evitando-se estímulos sempre que
possível. Antes da aspiração e/ou intubação, recomenda-se o uso de lidocaína 1 mg/kg
endovenoso, visando evitar o aumento da PIC12. As drogas comumente usadas são o
midazolam, a morfina ou o fentanil.
A infusão de propofol deve ser limitada a 12 horas, pelo risco de hipotensão e acidose
metabólica. O uso de ketamina deve ser evitado, pois aumenta a PIC. Algumas vezes é
necessário o emprego de paralisia muscular com agentes derivados do curare. Uma vez
paralisado, o paciente requer adequada atenção a todos os pontos de pressão do corpo. Os
pacientes curarizados devem ter monitorização eletroencefalográfica contínua, em função do
risco de crise convulsiva.
Deve ser considerada a profilaxia de trombose venosa nas crianças maiores e naquelas
que requerem altas doses de barbitúrico ou paralisia prolongada.
f) Controle de crises convulsivas
As crises convulsivas podem levar à hipoxemia e hipercapnia com aumento da PIC e
do FSC. Estudos em adultos mostram eficácia no uso profilático da fenitoína na primeira
semana pós-trauma, diminuindo o número das crises convulsivas. Em crianças, é indicado o
uso de anticonvulsivantes se houver crise convulsiva repetida, epilepsia prévia, evidência de
contusão cortical severa ou evidência de laceração à cirurgia.
g) Suporte nutricional
Iniciar alimentação do paciente precocemente, preferindo- se a via enteral.
Administração em torno de 30% a 60% do gasto metabólico basal. Pacientes tratados com
altas doses de barbitúricos podem necessitar nutrição parenteral em função de gastroparesia
ou íleo prolongado.
Deve-se promover um controle rigoroso da glicemia, evitando a infusão de glicose nas
primeiras 48 horas, a menos que haja hipoglicemia (<75mg/dl), considerando-se o risco
potencial de incremento da acidose lática.
h) Aporte hídrico
A restrição da ração hídrica é indicada no paciente com hiponatremia dilucional. Além
disso, devemos monitorizar eletrólitos e osmolaridade regularmente, observando a tendência
atual de manter o paciente com o nível sérico de sódio em faixa mais elevada. Manter controle
rigoroso do débito urinário com atenção especial aos pacientes com uso de diuréticos para
evitar a desidratação.
Mazzola e Adelson (2002) se referem a um tratamento específico para a HIC. Para
eles, o tratamento específico da pressão intracraniana elevada visa a manter a pressão de
20

perfusão cerebral em 40-45 mmHg nos lactentes e nas crianças menores, e em 50-55 mmHg
nas crianças maiores e adolescentes. O tratamento da HIC deve ser iniciado se: PIC = 15
mmHg nos lactentes, = 18 mmHg em crianças menores de oito anos, e >20 mmHg em
crianças maiores e adolescentes.
Drenagem liquórica
É uma estratégia utilizada para diminuir a PIC, quando o paciente possui um cateter
intraventricular. Recomenda-se a retirada de alíquotas entre 3 a 5 ml de liquor, com
reavaliação da PIC.
Agentes osmóticos e diuréticos
O emprego de agentes osmóticos e diuréticos pressupõe a manutenção do paciente em
euvolemia com hiperosmolaridade. Manitol: o manitol inicialmente causa expansão
plasmática, reduzindo o hematócrito e a viscosidade sangüínea, aumentando o fluxo
sangüíneo e o aporte de oxigênio ao cérebro, e reduzindo a PIC em poucos minutos. Em um
segundo momento, ocorre aumento da osmolaridade sérica, desidratando o parênquima
cerebral. Quando administrado em bolo, o manitol diminui a PIC em um a cinco minutos,
com um pico máximo em 20 a 60 minutos. Entretanto, quando a redução urgente é necessária,
a dose inicial de 1 mg/kg deve ser administrada em aproximadamente 20 minutos12,17. O
manitol é dramaticamente efetivo, revertendo sinais de herniação transtentorial. Na
manutenção do tratamento, deve-se administrar 0,25 a 0,5 mg/kg a cada duas a quatro horas,
monitorizando a osmolaridade plasmática, pelo risco de insuficiência renal. A osmolaridade
plasmática deve ser mantida em torno de 320 mOsm/l. O manitol ultrapassa a barreira
hematoencefálica e, se usado por período prolongado, pode causar aumento da PIC. Além
disso, as dosagens devem ser diminuídas gradativamente, pois o manitol pode causar HIC
rebote.
Furosemide: pode ser usado na dose de 1 mg/kg até de seis em seis horas, para
diminuir a produção de liquor, principalmente se a PIC se mantiver elevada mesmo com o uso
do manitol. Não deve ser utilizado se osmolaridade sérica for superior a 320 mOsm/l. Alguns
autores consideram desnecessário seu uso.
Barbitúricos
São empregados para controle da HIC refratária em paciente hemodinamicamente
estável. Diminuem a PIC por diminuição do metabolismo cerebral e há conseqüente
diminuição do FSC. O fator limitante no uso dos barbitúricos está relacionado à diminuição
do tônus simpático, levando à vasodilatação periférica, que ocorre em até 50% dos pacientes.
21

O barbitúrico de curta ação, para uso endovenoso, disponível em nosso meio, é o


tiopental. Iniciamos com dose de ataque de 5 mg/kg em 10 minutos. Subseqüentemente é
mantida a infusão contínua de 1 a 5 mg/kg/hora, com doses de reforço de 2,5 mg/kg, se
necessário. Os níveis séricos terapêuticos devem ser mantidos entre 6-8,5 mg/dl. O tratamento
persiste por no mínimo 48 horas após o controle da PIC, realizando uma diminuição
gradativa. Se a PIC se mantiver elevada mesmo com níveis séricos adequados da medicação,
ou se ocorrer hipotensão persistente, deve ser suspensa a infusão.
Hiperventilação
A hiperventilação deve ser empregada somente na situação de herniação transtentorial
incipiente (com dilatação pupilar transitória, postura anormal, hipertensão inexplicável ou
bradicardia) ou HIC refratária, pelo risco de isquemia cerebral. A redução da PaCO2 para
menos de 30 mmHg pode levar à perda da autoregulação cerebral. Quando indicada a
hiperventilação, o objetivo deve ser de manter a PaCO2 entre 30-35 mmHg inicialmente e
entre 25-30 mmHg numa segunda etapa. É importante evitar agressivamente PaCO2 = 25
mmHg e, se obtido o controle da PIC, retornar lentamente à normoventilação, pelo risco de
HIC rebote.
Corticosteróides
Não existem estudos que mostrem vantagens em seu uso. Não são recomendados na
prática clínica.
Cloreto de Sódio a 3%
Recentes estudos têm se voltado para o uso de solução hipertônica de cloreto de sódio
(NaCl 3%), que aumenta a osmolaridade com redução da PIC, e mantém o volume
intravascular. Atua por gerar gradiente osmótico na barreira hematoencefálica intacta,
reduzindo o volume cerebral.
Pesquisas realizadas em animais e em crianças mostraram que tanto o manitol quanto
o NaCl 3% são eficazes na redução da PIC, mas o efeito obtido com a infusão da solução
salina hipertônica é mais acentuado e mais prolongado. Recomenda-se o uso de NaCl 3%,
quando a PIC se mantém elevada (>25 mmHg) em vigência de tratamento máximo, incluindo
hiperventilação controlada e coma barbitúrico.
O objetivo é elevar o sódio até 160 mEq/l e manter a osmolaridade em torno de 330
mOsm/l. A administração do NaCl 3% deve ser feita em infusão contínua, com controle do
sódio sérico a cada seis horas, respeitando-se o aumento máximo de sódio em torno de 15
mEq/l/dia. Peterson et al (2000) sugerem a infusão contínua de NaCl 3%, variando de 0,1 a 1
ml/kg/h, dependendo da concentração de sódio e da ração hídrica desejada. Para não ocorrer
22

edema cerebral de rebote, deve ser evitada a queda rápida da osmolaridade. Na retirada,
recomenda-se a diminuição máxima de 10 mEq/l/dia na concentração do sódio sérico. Agindo
desta forma, o risco de desenvolvimento de mielinólise pontina, hemorragia cerebral e
insuficiência renal aguda é baixo.
Craniectomia descompressiva
Embora exista na literatura a proposta de craniectomia descompressiva nas situações
de HIC refratária, não existe uma recomendação padronizada quanto ao seu emprego. Estudos
mostraram melhores resultados quando empregada de maneira precoce (< 48 horas), em casos
selecionados.
Hipotermia leve
A hipotermia leve (32-34 ºC) tem se mostrado neuroprotetora em animais de
experimentação. Diminui os níveis de aminoácidos excitatórios na região peritrauma.
Pesquisas conduzidas em pacientes adultos mostram resultados conflitantes. Enquanto estudos
publicados não mostraram vantagens no uso desta terapêutica, outros mais recentes sugerem
benefício com seu emprego. Estão em curso estudos visando demonstrar o potencial benefício
desta modalidade terapêutica.
Dexanabinol
É um canabinóide sintético, não psicotrópico, antagonista não competitivo dos
receptores NMDA (N-metil-Daspartato), que atua também como removedor de radicais
tóxicos e inibidor da produção de fator de necrose tumoral. Observou-se redução da HIC e da
hipotensão sistêmica, que, acrescidas às propriedades antiexcitatórias, antioxidantes e
antiinflamatórias, torna o dexanabinol uma droga promissora no tratamento da HIC. Indicado
nas primeiras seis horas do TCE grave.

11. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

O histórico inicial do paciente com PIC aumetada inclui a obtenção de uma historia
dos eventos que levaram à doença atual e outros dados subjetivos; pode ser necessário obter
essa informação a partir da família ou de amigos. Ele inclui uma avaliação do estado mental,
NDC, função de nervos cranianos, função cerebelar (equilíbrio e coordenação), reflexos e
funções motora e sensorial. Como o paciente está criticamente doente, a avaliação continua
provavelmente será mais focalizada, incluindo as verificações pupilares, avaliação de nervos
cranianos selecionados, mensurações freqüentes dos sinais vitais e da pressão intracraniana e
uso da Escala de Coma de Glasgow (MASCIA et al., 2000).
23

Para Nettina (2007), o NDC, um indicador sensível da função neurológica, é


avaliado com freqüência com base nos critérios identificados na Escala de Coma de Glasgow:
abertura dos olhos, resposta verbal e resposta motora.
A abertura dos olhos indica a capacidade de paciente de abrir os olho sob um
comando. Os pacientes com disfunção neurológica grave não conseguem fazer isso. A
enfermeira deve pesquisar edema periorbitário, que pode impedir que o paciente abra os
olhos, documentando que o edema interfere com a abertura dos olhos.
A resposta verbal deve ser cuidadosamente avaliada. Não podemos presumir
que o paciente está orientado apenas porque ele responde. O examinador precisa avaliar a
orientação do paciente em relação ao tempo, pessoa e espaço. A resposta verbal não pode ser
avaliada quando o paciente está sob uso de TOT, o que deve ser claramente documentado. A
resposta motora inclui o movimento espontâneo e com finalidade, o movimento apenas em
resposta ao estímulo nocivo ou postura anormal.

Com base nos dados do histórico, os principais diagnósticos de enfermagem podem


incluir os seguintes:
 Depuração ineficaz da via área relacionada ao acúmulo de secreções secundário à
depressão do nível de consciência;
 Padrões respiratórios ineficazes relacionados à disfunção neurológica;
 Perfusão alterada do tecido cerebral relacionada aos efeitos da PIC aumentada;
 Risco de déficit de volume hídrico relacionado a procedimentos de desidratação;
 Risco de infecção relacionado ao sistema de monitorização da PIC.
24

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, podemos os objetivos no manejo da hipertensão intracraniana na


infância incluem: monitorização criteriosa da pressão intracraniana, permitindo que se busque
normalizar a pressão intracraniana, otimizar o fluxo sangüíneo cerebral e a pressão de
perfusão cerebral, prevenir os desequilíbrios que exacerbam a lesão secundária e evitar as
complicações associadas com o tratamento empregado. Apesar de significativos avanços no
entendimento dos mecanismos de lesão secundária, o prognóstico em longo prazo de lactentes
e crianças que sofreram TCE continua pobre.
Foi possível, com a realização desse trabalho, concluir que a maioria das lesões
neurológicas de urgência leva a intervenções cirúrgicas ou a tratamento de suporte para
observação e acompanhamento de sua evolução, pois, de acordo com as palavras de Murta
(2006), a hipertensão intracraniana aguda (HIC) requer monitoração intensiva dada a
instabilidade do sistema nervoso central.
A intervenção do enfermeiro torna-se evidente nos quadros de hipertensão
intracraniana, pois, como já observado nesse trabalho, o paciente com HIC requer atenção
especial que só a equipe de enfermagem pode oferecer. Uma monitoração contínua e o
acompanhamento da evolução do quadro clínico do paciente são papéis que competem ao
enfermeiro, observando os princípios de humanização da assistência de enfermagem.

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