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Pelos Mares da Vida

Que o Senhor Jesus seja o comandante do nosso barco.

Os navios estão entre os meios de transporte mais antigos e importantes da


história. Sua primeira citação bíblica encontra-se em Gênesis 49.13. Sua
utilidade, já em tempos remotos, incluía o comércio (Pv.31.14), a guerra
(Nm.24.24) e a condução de passageiros (Jn.1.3).

A vida humana pode ser comparada a uma viagem.

Como viajantes que somos, precisamos ter um rumo definido, uma direção,
um destino escolhido. Não podemos viver à deriva. É importante que
estabeleçamos alvos na vida, não apenas materiais, mas espirituais e
eternos.

A CONSTRUÇÃO DO NAVIO

“No coração dos mares estão os teus termos; os que te edificaram


aperfeiçoaram a tua formosura. De ciprestes de Senir fizeram todas as tuas
tábuas; trouxeram cedros do Líbano para fazerem um mastro para ti.
Fizeram os teus remos de carvalhos de Basã; os teus bancos fizeram-nos de
marfim engastado em buxo das ilhas de Quitim. Linho fino bordado do
Egito era a tua vela” (Ez.27.4-7).

Para todos os nossos empreendimentos, precisamos passar pela etapa de


preparação. Não sejamos negligentes. É preciso que seja feito o melhor
investimento possível. No citado texto, notamos a alta qualidade como
elemento prioritário. O preço seria igualmente elevado. Economizar nesse
momento pode ser medida imprudente.

A infância, por exemplo, é um período precioso, quando os pais estão


preparando os filhos para a vida. Em seguida, vem a adolescência e a
juventude, ocasiões propícias para que se prepare, no que for possível, para
a vida profissional, o casamento e a constituição familiar. Quando estes
propósitos são realizados prematuramente, sem o devido preparo, é como
se o barco fosse colocado na água antes da hora. Tendo sido, porém,
terminada e bem feita, a embarcação estará apta para enfrentar os embates
de sua missão oceânica.
O INÍCIO DA VIAGEM

Depois de pronto, o navio precisa sair do cais. Ele não pode ficar
eternamente ancorado, evitando os desafios do mar aberto. O propósito de
sua existência não é o eterno estacionamento. Barco que não navega cria
lodo, mofa, enferruja e apodrece. Tais são os efeitos da omissão. Todo ser
humano precisa crescer, sair do seu lugar de conforto e estabilidade para
alcançar outros locais e novas experiências (Gn.12.1). Contudo, nada disso
pode ser feito com irresponsabilidade.

Apesar da possível resistência inicial, sair do cais ainda é a parte mais fácil
da viagem. Nesse começo, geralmente, tudo parece tranquilo e promissor.
As águas litorâneas costumam ser relativamente calmas e, em caso de
agitação, o porto está ao alcance do marinheiro. Os viajantes partem cheios
de boas expectativas, principalmente aqueles que fazem a primeira viagem.

A infância é uma época de fantasias coloridas para a maioria das crianças.


O futuro parece um lugar agradável aonde se deseja chegar rapidamente.
Ser adulto, aos olhos infantis, parece sinônimo de independência e
liberdade, uma idade em que, supostamente, será possível obter e fazer
tudo o que se deseja. O princípio da vida cristã também pode ser uma
experiência tão maravilhosa que o mundo parece ter ficado mais belo.
Muitos problemas ficaram para trás e experiências gloriosas se aproximam.

Da mesma forma, o início de um negócio ou de um relacionamento, pode


ser excelente. Contudo, quando se chega em alto mar, algo pode mudar.
Muitas surpresas podem ocorrer.

QUEM AVANÇA RENUNCIA

Quando o navio se afasta do porto, muitas coisas ficam para trás. Não é
possível alcançar novas terras sem que algo seja abandonado e perdido. O
viajante não pode levar sua casa com todos os seus pertences. Todo
crescimento tem essa característica: a perda.

O adolescente perde sua vida infantil, seus brinquedos, roupas e regalias. O


adulto renuncia a casa dos pais e os costumes juvenis. Quem se casa perde
prerrogativas da vida de solteiro em troca da constituição familiar. Assim
também, quem decide seguir a Cristo, deve abrir mão dos prazeres do
mundo e das artimanhas do velho homem. É o preço a ser pago. Contudo, o
ganho é muito maior do que a renúncia. O apego excessivo pode impedir o
desenvolvimento.
“Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
adiante, prossigo para o alvo...” (Fp.3.13-14).

O MEIO DA JORNADA

“Os teus remadores te conduziram sobre grandes águas; o vento oriental te


quebrantou no meio dos mares” (Ez.27.26).

Estar no meio do mar pode ser assustador. A grandeza do oceano faz com
que nos sintamos insignificantes. Tal é o nosso sentimento diante dos
grandes empreendimentos, desafios e problemas da vida. Por isso,
precisamos de Deus. Os navios antigos, por não terem motores, dependiam
dos remos, mas principalmente do vento. Sua falta seria um problema. A
calmaria nos paralisa. É um tempo quando nada acontece. Precisamos
esperar. É hora propícia para o descanso, embora a ansiedade nos assedie.

Em outros momentos, os ventos são contrários (At.27.4). As circunstâncias


nos impelem em sentido oposto ao que desejamos. Precisamos resistir,
recolher as velas e remar.

Durante grande parte da viagem, os navegantes não veem a terra, nem a


origem nem o destino. Nesse momento não se pode viver por vista, mas
pela fé. A determinação em prosseguir deve ser obstinada. A insegurança e
o medo nos ameaçam, mas a fé os sobrepuja e vence. Quantas vezes nos
sentimos assim? Não vemos coisa alguma. Nosso passado está perdido e o
futuro parece inatingível. Porém, nossa confiança está em Deus, que não
nos deixará perecer.

Os navios antigos não possuíam bússola. A orientação era determinada pela


posição do sol e das estrelas (At.27.20). Logo, o navegador deveria olhar
para cima quando precisasse se orientar. Nós também não podemos viver
apenas por referências terrenas, pois estas são incertas.

“Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl.3.2). Os
perigos marítimos são muitos, principalmente naquelas viagens dos tempos
bíblicos, quando as naus não eram tão fortes e equipadas como as atuais.
Os recursos de navegação eram rudimentares. Em todos os tempos, porém,
alguns riscos são comuns: as rochas submersas (Jd.12), os icebergs, os
piratas e, principalmente, as tempestades.

Os icebergs são traiçoeiros, pois a parte submersa pode ser muito maior do
que a que se vê na superfície. Não podemos subestimá-los, considerando-
nos, por arrogância, capazes de enfrentá-los. Por esta causa, pereceu o
Titanic, em 1912. Algumas situações que parecem ruins podem tornar-se
péssimas. Alguns indivíduos que não parecem confiáveis, podem ser muito
perigosos. Devemos ser prudentes, evitando lugares e pessoas que possam
representar riscos desnecessários (Tt.3.10; IITm.2.16).

As colisões do percurso podem causar avarias ao casco. Um pequeno furo


pode ser suficiente para que entre muita água, capaz de levar a pique uma
grande embarcação. Portanto, não podemos considerar de pequena
importância os pecados que tenazmente nos perseguem, por mais
inofensivos que possam parecer.

Quando se está no meio de um trajeto, o risco de continuar é semelhante ao


risco de retroceder. Então, prossigamos para o alvo. A jornada é longa e o
deslocamento é quase sempre lento. Sejamos pacientes e perseverantes.
Não vale a pena voltar. Não façamos como os israelitas que desejaram
retornar ao Egito (Num.14.3).

“O justo viverá da fé e se ele retroceder, a minha alma não tem prazer nele”
(Heb.10.38).

A TEMPESTADE

“Mas o Senhor lançou sobre o mar um grande vento, e fez-se no mar uma
grande tempestade, de modo que o navio estava a ponto de se despedaçar”
(Jn.1.4).

Algumas vezes, a embarcação é atingida pela forte chuva, sacudida pelo


vento e açoitada pelas grandes ondas. Suas estruturas são provadas com
rigor. É assim também conosco. Somos atingidos por muitas tribulações
que parecem destruidoras. As tempestades são previsíveis. Não sabemos
quando virão, mas sua vinda é certa. Erram gravemente aqueles que se
iludem, pensando que a vida seja fácil, imaginando que não haja ataques
nem reveses. Aquele que se converte ao evangelho de Cristo deve esperar
tribulações e lutas, pois elas fazem parte do nosso processo de
aperfeiçoamento (Jo.16.33; IPd.1.7; Rm.5.3-5). As dificuldades são
necessárias, úteis e importantes para o nosso crescimento.

Sabemos que a chuva, seja garoa ou tempestade, vem sobre os maus e os


bons (MT.5.45). O apóstolo Paulo enfrentou grande temporal enquanto
navegava para Roma (At.27.18). O próprio Jesus, com os discípulos,
conheceu a agitação no mar da Galiléia (Mt.8.24). Não é apenas o ímpio
que enfrenta problemas sérios na vida. Em alguns momentos, ocorre até o
contrário do que se espera: o justo está sendo atribulado, enquanto os
incrédulos se encontram em aparente tranquilidade (Sl.73).
A tempestade pode ocorrer como ato do juízo divino, mostrando que
erramos o rumo (Jn.1.4), ou simplesmente como tribulações naturais que
vêm para provar a nossa fé (Mt.8.24).

Existem algumas regiões dos mares onde a navegação é desaconselhável.


São lugares perigosos, onde as borrascas são constantes ou a profundidade
é insuficiente. As estações do ano também ajudam a prever um tempo
tranquilo ou hostil. Assim, se o viajante, mesmo alertado, quiser se
aventurar, estará assumindo a responsabilidade pelos possíveis danos. Na
vida, existem situações que geralmente conduzem ao prejuízo e à morte. Se
tantas pessoas pereceram naquele trajeto, por quê haveremos de segui-lo?
Se Deus nos tem avisado, por quê seremos insistentes na prática do mal?
Não poderemos reclamar quando estivermos encalhados ou submersos.

Não há como dizer que todas as viagens serão bem sucedidas. Quando
estimulamos as pessas a buscarem seus sonhos, não podemos generalizar a
possibilidade de êxito, pois alguns projetos são errados e Deus não os
abençoará. O cruzeiro de Jonas fracassou (Jn.1.15). Os navios de Tiro
foram destruídos, ainda que tenham sido bem preparados (Ez.27.27). O
mesmo aconteceu com os de Josafá (IRs.22.48). Precisamos examinar
nossos propósitos, sob a luz da palavra de Deus, antes de colocá-los em
prática.

CARGAS AO MAR

No meio do mar bravio, o barco precisa manter sua flutuabilidade. Para


tanto, todo peso que não seja indispensável deve ser lançado fora (Jn.1.4).
Muitos viajantes levam bagagem excessiva. São hábitos do passado, ídolos,
culpas, ressentimentos, coisas que precisam ser abandonadas. Com elas não
poderemos prosseguir. O apego pode ser fatal.

“Como fôssemos violentamente açoitados pela tempestade, no dia seguinte


começaram a lançar a carga ao mar” (At.27.18).

A renúncia precisa ser completa em se tratando daquilo que não pode ser
levado para o nosso destino pelo fato de ser incompatível, prejudicial ou
inútil. Precisamos nos dedicar ao principal, eliminando o que rouba nosso
tempo, energia, dinheiro e outros recursos. Aquele que se recusa a entregar
o que precisa ser eliminado corre o risco de naufragar, levando consigo
outras pessoas.

Em se tratando da vida cristã, o pecado é a carga mais pesada que pode


existir (Heb.12.1-2). Alguns, por não renunciarem à iniquidade,
naufragaram na fé (ITm.1.19-20). Naufrágio é fracasso, podendo ser mortal
ou não, transitório ou definitivo.

CLAME AO SENHOR

Algumas vezes, enfrentamos situações que são verdadeiras tormentas.


Parece que estamos perdendo o controle da vida. Devemos buscar ao
Senhor para que nos proteja, de modo que não sejamos tragados pelas
ondas.

“O mestre do navio, pois, chegou-se a ele, e disse-lhe: Que estás fazendo, ó


tu que dormes? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim ele se lembre
de nós, para que não pereçamos” (Jn.1.6).

Aqueles que receberam Jesus Cristo como salvador contam com sua divina
presença dentro do barco e podem clamar a ele sempre que for necessário.
Todavia, além de estar presente, é importante que ele seja o comandante.
Nossas vidas precisam seguir a sua direção. Além de Salvador, precisamos
reconhecê-lo como Senhor. Cristo é aquele a quem o vento e o mar
obedecem (Mt.8.27). Contudo, é preciso perguntar: Será que nós o
obedecemos?

A ÂNCORA

Este é um dos mais importantes instrumentos das grandes embarcações. É


utilizada para prender o navio, de modo que ele não seja levado pelas
águas. A âncora é lançada para alcançar algo que está próximo, mas ainda
não pode ser tocado com as mãos, seja uma rocha ou o próprio porto.

“Ora, temendo irmos dar em rochedos, lançaram da popa quatro âncoras”


(At.27.29).

“Tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar


mão da esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e
firme, e que penetra até o interior do véu...” (Heb.6.18-19).

A CHEGADA

Se a nossa viagem é feita de acordo com os propósitos do Senhor e se ele


comanda o nosso barco, chegaremos salvos ao nosso destino. Que o Senhor
nos fortaleça enquanto navegamos nas águas turbulentas deste mundo. Que
alcancemos portos seguros, que representam o bom resultado do nosso
trabalho com a bênção de Deus. E, ao terminar esta vida, chegaremos à
pátria celestial, nosso último porto.

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