O texto discute diferentes concepções da natureza humana, incluindo: (1) como uma natureza inata e universal ou variável entre culturas; (2) como adquirida através da experiência e potencialmente universal; (3) como vista na conduta humana comum. O autor argumenta que a literatura fornece insights valiosos sobre a natureza humana ao apresentar experiências humanas diversas.
O texto discute diferentes concepções da natureza humana, incluindo: (1) como uma natureza inata e universal ou variável entre culturas; (2) como adquirida através da experiência e potencialmente universal; (3) como vista na conduta humana comum. O autor argumenta que a literatura fornece insights valiosos sobre a natureza humana ao apresentar experiências humanas diversas.
O texto discute diferentes concepções da natureza humana, incluindo: (1) como uma natureza inata e universal ou variável entre culturas; (2) como adquirida através da experiência e potencialmente universal; (3) como vista na conduta humana comum. O autor argumenta que a literatura fornece insights valiosos sobre a natureza humana ao apresentar experiências humanas diversas.
O homem tem uma natureza, difundida e persistente, que obviamente caracterstica da
sua espcie e extremamente diferente da natureza dos demais seres vivos. No h, contudo, nenhuma descrio aceitvel que inclua todos os principais aspectos dessa natureza como um todo. A natureza do homem conhecida, magnificamente nica e quase indescritvel. A experincia comum defronta-se com ela diariamente; todo sistema judicioso de pensamento ou ao declara ou implica alguma viso dela; nenhuma das disciplinas acadmicas ou cientficas a apresenta em termos ele tudo o que o senso comum nela reconhece. Diferentes significados tm sido atribudos expresso natureza humana. Na maioria das vezes, ela se refere a uma caracterstica original, inata, de todos os homens ou de um homem particular, ou de certos homens em particular. Assim compreendida, a natureza humana , a forma especial daquilo que biologicamente herdado com toda e qualquer espcie. , evidentemente, uma abstrao ou inferncia, pois desde muito cedo combina-se com o ambiente e, a partir dos efeitos da experincia, transforma-se numa outra coisa. Essa natureza original, inata, nunca diretamente observada, j foi concebida de vrias maneiras: como composta de disposies discernveis para um comportamento especfico (reflexo e instinto); como capacidades ou faculdades da mente; como algo extremamente ou at infinitamente plstico, ou vazio e sem forma. Entre os que vm a natureza inata do homem desta ltima maneira, alguns chegaram a identificar as naturezas humanas agora no plural com as manifestaes nicas particulares da humanidade em grupos locais; cada grupo tradicional, ou cultura, teria sua prpria natureza humana e, nessa perspectiva, nada pode ser declarado como a verdadeira natureza de todas as pessoas. Uma concepo semelhante a esta, por identificar a natureza humana com o que adquirido atravs da experincia, contrasta com ela ao afirmar a realidade de uma natureza adquirida que seria muito difundida ou at universal. Nesse caso, a natureza humana considerada uma resultante das experincias caractersticas do homem em toda e qualquer sociedade at agora, Em qualquer lugar onde ele viva ou tenha vivido em grupos com necessidades bsicas e atividades semelhantes, tenha tido relaes ntimas e pessoais, tenha reconhecido diferenas entre pessoas prximas a ele e da sua prpria raa e outras afastadas e de outra raa. E assim por diante. Os que assim concebem a natureza humana tentam descrever os estados mentais e os sentimentos subjacentes s grandes diferenas locais e que seriam semelhantes em toda parte. A partir dessas trs formas principais de conceber a natureza humana como potencialidade ou necessidade inata definida ou vaga; como s podendo ser conhecida em suas formas especiais localmente desenvolvidas; como uma natureza universalmente adquirida ou desenvolvida e comum a todos -, vrias combinaes podem ser feitas, e foram feitas. A viso freudiana do homem, por exemplo, combina a primeira e a terceira. A viso que se adota no tocante ao que o homem, de maneira essencial e geral, est associada aos juzos morais do pensador e sua posio com relao s possibilidades e aos mtodos de ao e de reforma. Quem acredita firmemente no poder da educao e do aprendizado, ou da resposta condicionada, concebe a natureza humana como muito modificvel. Quem adota uma viso pessimista no tocante eliminao de danos causados pelo homem, como a guerra e o crime, tende a pensar nesses males como enraizados em particularidades de uma natureza inata inaltervel. A experincia cotidiana que a pessoa comum tem da natureza do homem apresenta-se na forma de estados mentais e sentimentos, e como ao caracterstica, nas ou pelas pessoas que ela encontra e com quem lida. Ela chega a conhecer a natureza humana atravs das pessoas que conhece, do carter e da conduta destas. Passa a reconhecer, por trs do que fazem as demais pessoas, qualidades que freqentemente no a surpreendem: as outras pessoas so o que ela passou a esperar de outros seres humanos, no de vacas ou de cavalos. So orgulhosas, sensveis, vidas de reconhecimento ou de admirao, muitas vezes ambiciosas, esperanosas ou desanimadas, egostas ou capazes de se sacrificar. Ficam satisfeitas com suas realizaes, ocasionalmente sentem culpa ou vergonha, tm dentro de
si algo chamado conscincia, so leais ou desleais. Na concepo do senso comum, a
natureza humana no vista como inata e dedutvel de certos comportamentos, mas como presente, seja qual for a sua origem, na conduta de adultos de todos os tempos. Foi contra esse tipo de natureza humana que Walt Whitman se rebelou quando disse que iria viver com os animais porque They do not sweat and whine about their condition; They do not lie awake at night and weep for their sins; They do not make me sick discussing their duty to God; Not one is dissatisfied not one is demented with the mania of owning things; Not one kneels to another, nor to his kind that lived thousands of years ago* ________________ [* Eles no sofrem nem se lamuriam por sua condio; / No passam noites em claro a chorar por seus pecados; / No me do nusea discutindo suas obrigaes com Deus; / Nenhum insatisfeito - nenhum est enlouquecido com a mania de possuir coisas; / Nenhum se ajoelha perante outro, nem perante seu semelhante que viveu milhares de anos atrs... (N. da T.)] Esta a concepo comum da natureza humana que suscitou idias por diferentes que sejam suas definies do desumano e do super-humano. Ela implica um espectro de condutas que so simplesmente o que se espera das pessoas; comportamentos que escapam a esse espectro so encarados como violaes ou excessos em relao expectativa normal. Esses atributos comuns da natureza do homem como humana so diferentemente concebidos, de modo a incluir ou excluir alguns povos mas no outros. Povos mais distantes e exticos podem no obter plena incluso: no so realmente de todo humanos. Em geral, povos que tm experincia e conhecimento da natureza humana tal como manifesta em costumes e instituies muito diferentes dos seus tendem a reconhecer nesses povos estranhos uma humanidade semelhante sua prpria. Em geral, no curso da histria, a categoria popular seres humanos se ampliou, passando a incluir cada vez mais povos, sendo as variantes locais reconhecidas, apesar de tudo, como simples variantes de uma humanidade comum. Esta concepo da natureza humana aquela que se desenvolve e se aprofunda atravs da experincia com pessoas e suas condutas. O conhecimento e a compreenso so adquiridos em parte por meio de um trabalho de imaginao da inteligncia: biografia, cartas, romances, teatro. A literatura o grande repositrio de que se pode extrair a experincia do humano. Ela fornece uma variedade e amplitude que a experincia direta no pode ter. Ao encontrar seres humanos na literatura, o leitor encontra aquelas mesmas perguntas referentes ao local e especial, e ao difuso ou universal, sobre as quais o pensador sistemtico, seja no campo de uma cincia ou na filosofia, sente que deve refletir. Tm as pessoas apresentadas nas tragdias gregas a mesma natureza humana que as pessoas que Shakespeare nos mostra? Quando lemos Guerra e paz e A histria de Genji, temos a impresso de ver uma natureza humana que ao mesmo tempo diferente e idntica. Embora essas impresses quanto universalidade e variabilidade da humanidade no estejam sujeitas aos mtodos de uma cincia comportamental, parecem, para os que refletem sobre elas, aprofundar e depurar opinies sobre a natureza humana, ainda que s possam ser imperfeitamente definidas. [Britnica]
REDFIELD, Robert. A natureza humana. In: FADIMAN, Clifton (org.). O tesouro da
Enciclopdia Britnica: O melhor do pensamento humano desde 1768. Trad. Maria Luza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 [1961], p. 251-254.