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A inserção da comunicação
organizacional na nova
lógica midiática
The insertion of of the organizational
communication in the new mediatic logic
Eugenia Mariano da
Rocha Barichello
Doutora em Comunicação pela UFRJ e Líder do Grupo de Pesquisa
Comunicação Institucional e Organizacional - UFSM/CNPq
Docente do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFSM
eugeniabarichello@gmail.com
Daiana Stasiak
Mestranda em Comunicação midiática na
Universidade Federal de Santa Maria/RS
Membro do grupo de Pesquisa de Comunicação
Institucional e Organizacional - UFSM/CNPq
daiastasiak@gmail.com
Resumo
A comunicação das organizações ainda é estudada teoricamente por meio de modelos lineares e instrumentais de comunicação,
não contemplando a sua inserção em uma sociedade mais complexa. Nesse contexto, este artigo visa retomar alguns conceitos
funcionalistas com intuito de demonstrar que sua utilização não é mais compatível com o modelo social vigente, que tem a
midiatização como processo de referência e no qual a internet traz fluxos de comunicação e patamares de interatividade com-
patíveis com a atualização das práticas comunicacionais. Por fim, apontamos a midiatização como um conceito basilar para
que as organizações internalizem os processos de mudança e se adaptem às demandas do seu tempo.
Palavras-chave: teorias da comunicação; Comunicação organizacional; Midiatização.
Abstract
Organizational communications is still theoretically studied through linear and instrumental communication models, not
contemplating its insertion in a more complex society. In this context, this theoretical essay aims to revisit some funcionalist
concepts in order to show its usage is not compatible anymore with the current social model. This model has mediatisa-
tion as its reference process, and internet brings communication flows and interactivity patterns that are compatible with
the updating of communicative practices. Finally, mediatisation is pointed out as a basic concept for the organisations to
internalise the change processes and adapt themselves to the current demands.
Key words: theory of communication; organisational communication: mediatisation.
Resumen
La Comunicación de las organizaciones aún es estudiada teóricamente por medio de modelos lineares e instrumentales de co-
municación, no contemplando su inserción en una sociedad más compleja. En ese contexto, este ensayo teórico visa a retomar
algunos conceptos funcionalistas con intuito de demostrar que su utilización ya no es compatible con el modelo social vigente,
que tiene la mediatización como un proceso de referencia y en el que la internet trae flujos de comunicación y niveles de inte-
ractividad compatibles con la actualización de las prácticas comunicacionales. Por fin, señalamos la mediatización como un
concepto basilar para que las organizaciones internen los procesos de cambio y se adapten a las demandas de su tiempo.
Palabras clave: teorías de la comunicación, comunicación organizacional, mediatización.
A inserção da comunicação organizacional...
E
ste artigo busca abordar a co- internet como uma ambiência que abarca
municação organizacional na diversas mídias e caracteriza um espaço
perspectiva da midiatização con- de fluxos rico em possibilidades de atua-
temporânea, tendo em vista a necessidade lização para as ações organizacionais.
de um repensar teórico e prático acerca do Neste artigo, nossa reflexão teórica
tema com intuito de atualizar, dinamizar apresenta-se em três partes: a primeira
e aperfeiçoar a comunicação nas organi- objetiva resgatar teorias funcionalistas e
zações sociais. abordar as características mais relevantes
A reflexão visa colaborar com o campo que as tornaram modelos em meio às hipó-
da comunicação, pois revisita determina- teses do seu tempo. A segunda parte visa
das teorias apresentadas no século XX, caracterizar o fenômeno da midiatização e
como o modelo matemático-informacional dar destaque à internet como a mídia mais
de Shannon e Weaver, o modelo teórico de representativa das transições ocorridas nos
Berlo e a teoria do meio como mensagem, fenômenos da comunicação. A terceira
de Marshall McLuhan. A proposta estabe- visa contribuir com a renovação das con-
lece um paralelo teórico dessas teorias com cepções da comunicação organizacional
a noção de midiatização de em uso hoje, principalmente a partir das
Sodré (2003), elaborada no possibilidades oferecidas pelo espaço de
século XXI. fluxos proporcionado pela internet. Por
A teoria da As transformações ocor- fim, as considerações finais apontam para a
ridas a partir da metade do
comunicação tem seu século passado nos apresen-
midiatização como um conceito teórico que
deve servir de base para as organizações
marco inaugural com taram a uma esfera social de
heterogeneidades na qual
internalizarem os processos de mudança e
adaptarem-se às demandas do seu tempo.
a obra “Arte retórica”, a evolução das tecnologias
pode ser considerada um
de Aristóteles divisor de águas na con-
2. Teorias da
Comunicação
cepção dos paradigmas
comunicacionais, pois esses A teoria da comunicação tem seu mar-
evoluem de uma perspecti- co inaugural com a obra “Arte retórica”, de
va linear e instrumental, na qual os meios Aristóteles, que tinha como objetivo expli-
de comunicação eram vistos como meros car como ocorriam os modos de convenci-
disseminadores de informações, para mento das pessoas em um auditório. Nesse
uma perspectiva que concebe a mídia modelo, o filósofo considerava o falante, o
como centralidade nos processos sociais. discurso e o ouvinte como os componen-
Seguindo em grande parte a lógica da tes do processo de comunicação, em que
mercantilização, a mídia é responsável a produção do discurso buscava prever a
pela produção dos sentidos que circulam reação do ouvinte, visando à forma mais
na sociedade, de modo a afetar nossa eficiente de persuadi-lo, característica
cultura, educação e, sobretudo, nossas principal da arte da retórica.
sociabilidades. O modelo aristotélico serviu como base
Identificar e analisar como a midia- para a elaboração das primeiras teorias de
tização altera as estruturas de ações da comunicação do século XX. Como exem-
comunicação organizacional é nosso plo desse processo, pretendemos mostrar
papel como estudiosos da comunicação. resumidamente as características dos mo-
Ao levantar questionamentos sobre a ne- delos funcionalistas de Shannon e Weaver,
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David Berlo e Marshall McLuhan. receptor. Porém, essa interação entre co-
Em 1949, os engenheiros Shannon e municantes ainda é explicada de forma
Weaver apresentaram a teoria matemática linear, ou seja, a ação e a reação do ato
da informação tida, por muito tempo, como comunicativo ainda rejeitam a proposta
modelo de comunicação. Para essa teoria, da comunicação como um processo.
numa comunicação entre duas pessoas, Para Peruzzolo (2006:20) “Tanto na
o cérebro de uma é a fonte emissora da comunicação telegráfica de Shannon e We-
informação, enquanto o cérebro da outra aver quanto na comunicação interpessoal
é o seu destino. Nesse contexto a voz é o de Berlo [...] comunicar é uma técnica”.
emissor/transmissor e o aparelho auditivo Pode-se dizer que os modelos tecnicistas
é o receptor, enquanto a outra pessoa é o preocupavam-se somente com a obtenção
destinatário. A ênfase estava no canal e na da máxima eficácia e o feedback, por exem-
restrição dos sentidos. Pontualmente os plo, servia apenas como um afirmador da
autores acreditavam que: uma pessoa (A) se ação mecânica. As teorias expostas acima
comunica com outra (B), quando esta, em são modelos de seu tempo, porém não con-
seus comportamentos de resposta, corres- sideram a comunicação como um processo
ponde às intenções do indivíduo (A). que engloba também os sujeitos, suas reci-
No modelo acima referenciado, a co- procidades, as culturas, a estrutura social,
municação é abordada como um processo ou seja, um processo relacional. O caráter
no qual a fonte produz uma mensagem, relacional do processo comunicativo tam-
ou uma série delas, para serem comuni- bém não é claramente explicado no modelo
cadas. Essas mensagens transformam-se de comunicação elaborado por Marshall
em sinais que são adaptados a um canal McLuhan (1971), o qual propunha a com-
com vistas a atingir o receptor; porém, preensão dos meios de comunicação como
como os processos são mecânicos, podem extensões do homem, ou seja, próteses que
ocorrer interferências caracterizadas como aumentam seu poder e influência.
“ruídos” pelos autores. O filósofo canadense representa a
Um desafio aos teóricos que o produ- transição do modelo matemático informa-
ziram, após a proposta do modelo mate- cional para o paradigma midiológico, e sua
mático da informação, foi adaptá-lo para preocupação é com os efeitos do processo
explicar a comunicação humana. Com de comunicação sobre os indivíduos. Daí
esse objetivo, Berlo apresentou, em 1960, considerar a mensagem como uma “mas-
um modelo no qual retomou a retórica sagem”, um conjunto dos resultados de al-
de Aristóteles e orientou-a ao modelo de guma tecnologia sobre o sensório humano.
Shannon e Weaver. McLuhan não visou os efeitos ideológicos
Polistchuk e Trinta (Polistchuk, Trinta, da mídia sobre as pessoas e sim o impacto
2002) explicam que Berlo concebe a comu- físico e social das novas tecnologias.
nicação como uma partilha, que é situada Em termos da era eletrônica, já se criou
pelo quadro social e sistema cultural de um ambiente totalmente novo, o conteúdo
cada um. Nesse quadro, o emissor e o re- deste novo ambiente é o velho ambiente
ceptor têm posições equilibradas, porém, mecanizado da era industrial... Hoje, as
para que o ato comunicativo seja bem tecnologias e seus ambientes conseqüen-
sucedido, deve haver alguma equivalên- tes se sucedem com tal rapidez que um
cia de códigos entre eles. Berlo considera ambiente já nos prepara para o próximo.
que, nessa proposta de interação, ocorre As tecnologias começam a desempenhar a
o feedback, ou seja, há uma retroalimen- função da arte, tornando-nos conscientes
tação que permite saber se houve ou não das conseqüências psíquicas e sociais da
interferência na mensagem enviada ao tecnologia. (McLuhan, 1971:11,12).
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