A era Vargas (1930-1945), como é conhecido essa época, foi um
episódio muito conturbado e marcante da história da política brasileira. Foi o período que substitui a República Velha, isto é, período que os grandes latifundiários do café-com-leite de Minas Gerais e São Paulo dominavam o país. Como vimos nas discussões passadas, do final do século XIX até início do século XX não existiam políticas públicas concretas no Brasil, e sim ações momentâneas para o combate a surtos de doenças e para alguma melhoria do saneamento básico local das principais cidades do país. Quando Vargas assumiu a presidência da República tinha poderes quase ilimitados para fazer o que quisesse, e acabou realizando alguns projetos de modernização no país. Ele criou os ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio; e os ministérios da Educação e Saúde; atendeu algumas exigências da elite cafeeira, criou a lei de sindicalização, estabeleceu a CLT (consolidação das leis de trabalho), dentre muitas outras medidas. Contra isso, houve muitas tentativas por parte da oposição de tirá-lo do poder, principalmente no Estado de São Paulo, mas nenhuma delas foi eficaz a ponto de cumprir com seus objetivos.
Em 1933, Getúlio Vargas convocou a Assembléia, visando a
construção de uma nova Constituição que estaria pronta em 16 de Julho de 1934. A mesma trazia novidades como o voto secreto e feminino, sendo o fim do voto aberto como existia na República Velha. Posteriormente, com fortes ameaças de derrubada do governo por grupos socialistas, Getúlio, apoiado pelos militares e pelo povo, derruba a constituição e declara o Estado Novo (1937-1945), período esse de caráter extremamente centralizador. Nele, os prefeitos eram eleitos pelo governador, e estes por sua vez, pelo presidente. Durante a segunda Guerra Mundial, Getúlio chegou a enviar tropas para a Europa em favor dos Aliados, e firmou um acordo com o presidente Roosevelt dos Estados Unidos, onde o Brasil enviaria Látex para as forças aliadas. Nesse período foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que funcionava com capital estrangeiro (EUA) e Nacional, tendo como objetivo criar condições sanitárias adequadas nos vales do Amazonas e do Rio Doce que garantissem o provimento de matérias-primas cruciais aos esforços militares dos Estados Unidos na Guerra.
Vargas tinha como objetivo a construção de um Estado Nacional,
centralizador e intervencionista, que respondesse com políticas sociais aos conflitos urbanos por meio do MTIC (ministério do trabalho, indústria e comércio), ou, a partir do MESP (ministério da educação e saúde pública), contemplasse as populações rurais, fora do âmbito do mercado formal de trabalho. A bandeira do saneamento, agitada pelos sanitaristas e por intelectuais da Primeira República, foi incorporada e reelaborada sob a ótica do MESP, acompanhando o desenvolvimento econômico e burocrático, adaptando novas instituições e agentes ao novo arcabouço institucional de saúde. Em torno das concepções de prevenção definiam-se as estratégias de ação e prioridades a doenças e regiões, bem como a formação das especializações profissionais. Não houve, nesse contexto, ruptura com o que se passava na Primeira República, sendo que esses rumos foram impulsionados em 1941, pela criação de serviços nacionais de saúde, cujos parâmetros universalistas diferiam da política previdenciária, lançada em bases mais restritivas. Em 1937 foi lançado o projeto “Capanema”, responsável pela realização de conferências nacionais de saúde e de educação, que eram marcos de debate e participação dos novos profissionais no âmbito do ministério. Em pauta nas conferências, o tema do alcance ou cobertura populacional das políticas sanitárias ganhava cada vez mais espaço, pela superação do atraso e da pobreza no interior do país. Em compensação foi criada no Brasil uma mentalidade tal qual políticas assistencialistas de saúde eram tidas como “bondade” da política paternalista de Vargas, e não como obrigação do Estado.
Em 1945 Getúlio Vargas foi deposto por um golpe militar, onde
posteriormente, em 1951 seria eleito mais uma vez, dessa vez por voto popular. Após ser muito pressionado, Getúlio Vargas não suportou e (supostamente) suicidou-se com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Teria escrito uma carta-testamento onde dizia como sempre pertenceu ao povo e um dos últimos trechos, havia a frase: "… Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.".