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Análise Crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

“Não ensino os meus alunos.


Crio-lhes as condições necessárias para que aprendam.”
Albert Einstein

Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares


Uma orientação num caminho que se apresenta árduo de trilhar

A actual sociedade de informação cria novas exigências quanto à capacidade de


cada indivíduo para compreender e usar a informação, de modo a desenvolver novos
conhecimentos que lhe permitam melhorar cada vez mais a sua actividade profissional
e pessoal como elemento social.
Um novo desafio se coloca também às escolas do século XXI – a fusão
aprendizagem, informação e tecnologia como elementos integrantes do processo
educativo.
É neste contexto de proliferação célere de informação em múltiplos suportes,
que se integram as bibliotecas escolares, que necessitam reformular objectivos,
estratégias e tarefas a desempenhar. De simples gestoras de informação, cuja
preocupação essencial era a qualidade e a quantidade da colecção, em articulação com
os docentes e alunos, passam a gestoras da qualidade da aprendizagem, que se reflecte
na aquisição e mestria de conteúdos curriculares, competências na construção do
conhecimento e desenvolvimento da compreensão e espírito crítico. As palavras-chave
de acção da biblioteca são agora: Informar, Transformar e Formar. Processo
extremamente complexo e exigente que mede a sua acção pela qualidade de
desempenhos e de resultados obtidos.
Só assim os nossos alunos estarão preparados a enfrentar os novos desafios da
Sociedade de Informação do séc. XXI.
Para que este novo modelo de actuação da BE dê frutos é imperiosa a sua
monitorização, através de uma auto-avaliação criteriosa, rigorosa, uniformizada e

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aferida, comum a todas as BEs, de forma a orientar os professores bibliotecários nas


suas novas e exigentes tarefas.
Com base em vários estudos internacionais que demonstram a importância das práticas
de avaliação nesta área, o modelo de Auto-Avaliação das BEs , “Bibliotecas Escolares: Quadro
referencial para avaliação”, apresentado pela RBE às escolas, parte do pressuposto de que “a
biblioteca escolar constitui um contributo essencial para o sucesso educativo, sendo um
recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem.”

Para que tal se concretize é necessário que a BE:


• Seja integrada na escola de forma institucional, referenciada no PE, PCA
e RI;
• Seja integrada no processo de ensino/aprendizagem de acordo com os
objectivos educacionais e programáticos da escola;
• Desenvolva competências de leitura e de Literacia da Informação,
integradas no desenvolvimento curricular;
• Articule com Departamentos, professores e alunos na planificação e
desenvolvimento de actividades educativas e de aprendizagem.
Este modelo encontra-se dividido em quatro domínios, a saber: Apoio ao
Desenvolvimento Curricular; Leitura e Literacias; Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de
Abertura à Comunidade; Gestão da Biblioteca Escolar; de forma a orientar o papel das BEs no
“seu contributo para as aprendizagens, para o sucesso educativo e para a promoção da
aprendizagem ao longo da vida”.
Para que o professor bibliotecário não se desvie desta sua complexa tarefa é
fundamental uma avaliação contínua do processo que permita aferir e medir “o impacto que
as actividades realizadas pela e com a Biblioteca Escolar vão tendo no processo de ensino e na
aprendizagem, bem como o grau de eficiência dos serviços prestados e de satisfação dos
utilizadores da BE.”
Uma avaliação criteriosa da BE, permitirá contribuir para uma adequada gestão e para a
afirmação e reconhecimento do seu papel, determinando até que ponto os objectivos
estabelecidos estão a ser atingidos, identificando práticas de sucesso e pontos fracos a
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melhorar, de acordo com os objectivos a que a escola se propõe, incorporados no seu Projecto
Educativo.
Só assim se poderá construir uma biblioteca escolar de qualidade, fundamentada em práticas
equacionadas com o rigor científico de uma constante reavaliação pedagógica, pensada
conjuntamente por bibliotecários e professores, atendendo aos resultados dos alunos
De acordo com Ross Todd, no seu artigo The Evidence-Based Manifesto for School Librarians,
este feedback, fulcral na avaliação do desempenho das BEs, deve ser obtido, mediante o
recurso sistemático a uma prática baseada em evidências (“evidence-based practice”). Estas
evidências devem ser de três tipos:

• Evidence for practice – centrada na pesquisa de criação e identificação de boas


práticas – Dimensão Informativa da Prática da BE;

• Evidence in practice – combina a teoria com o conhecimento profundo e


entendimento que advêm da experiência profissional, bem como evidências in
loco para identificar problemas e necessidades de aprendizagem e falhas nos
resultados. Esta prática reflexiva permite tomar decisões informadas sobre
como a BE pode optimizar os resultados da aprendizagem e contribuir para a
concretização da missão e objectivos da escola – Dimensão Transformadora da
Prática da BE;

• Evidence of practice – deriva da medição sistemática de dados dos alunos. São


os resultados reais do trabalho do professor bibliotecário. Centra-se em
medições de resultados e impactos. Estabelece o que se alterou nos alunos
como resultado daquilo que foi absorvido, intervenções, actividade e processos.

A interligação destes três tipos de evidências permite um processo dinâmico e


completo que informa sobre a prática, gera novas práticas e demonstra o impacto da prática
nos resultados da aprendizagem.

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Só através de uma recolha rigorosa de evidências as BEs poderão tirar conclusões


acerca do seu trabalho e afigurar-se, aos olhos dos demais docentes e órgãos pedagógicos das
escolas, como uma mais valia para a qualidade de aprendizagem dos alunos.

Uma prática baseada em evidências centra-se nos resultados dos alunos, justificada
pelo desenvolvimento de novo conhecimento, evidenciado em expressões, tais como
“questiona, tem espírito crítico, tira conclusões, aplica conhecimentos a novas situações,
participa eticamente e de forma produtiva como membro de uma sociedade democrática (…)”.

É através de uma prática baseada em evidências que questões como: Como é que as
BEs podem ter impacto na aprendizagem? ; Como ajudam os alunos a aprender ? Como
assegurar que as nossas BEs são sustentáveis e responsáveis , em termos de infra-estruturas,
pessoal, recursos e processos de instrução, de forma a conseguir optimizar resultados
escolares? ;poderão ter resposta e colocar a BE como pólo centralizador de aprendizagens,
local de informação, transformação e formação de utilizadores.

Para que tal se concretize é imperiosa a colaboração entre os professores bibliotecários


e os restantes docentes na identificação de recursos e desenvolvimento de actividades
conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; a acessibilidade e a qualidade dos serviços
prestados; a adequação da colecção e dos recursos tecnológicos.

Apesar de, nestes últimos anos, se verificar um maior interesse das autoridades pelas
BEs, mediante o esforço desenvolvido pela RBE na sua integração institucional, ainda há
constrangimentos a colmatar.

O professor bibliotecário, qualificado e agora afecto à biblioteca a tempo inteiro,


necessita uma equipa que lhe permita assegurar rotinas inerentes à gestão e que articule e
trabalhe com a escola, professores e alunos.

Sem uma equipa multidisciplinar, tal nem sempre é exequível. Para além disso, o
tempo de que dispõem semanalmente para trabalhar na e com a biblioteca, muitas vezes é
escasso (3,4 horas no máximo), não permitindo senão orientar pontualmente alunos em
tarefas escolares, impedindo um trabalho mais sistemático.

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A articulação da BE com os restantes docentes para a melhoria das aprendizagens ainda


é um caminho a desbravar, devido à resistência oferecida por alguns. O elevado número de
reuniões pedagógicas, a indisciplina crescente dos alunos e a exigência cada vez maior de uma
prática pedagógica que fomente a auto-aprendizagem e a construção do conhecimento, são
sentidas como uma sobrecarga excessiva que muitas vezes os desmoraliza e desmotiva.

Os problemas socioeconómicos com que se debatem as famílias, reflectem-se em


problemas afectivos sentidos pelos alunos, que encaram a aprendizagem com dificuldade por
sentirem necessidades mais básicas por superar.

A preferência dos alunos pelas novas tecnologias em detrimento do documento livro,


usando-as quase exclusivamente para jogar e demonstrando muita dificuldade na resolução de
actividades de pesquisa e selecção de informação.

Aqui se revela a importância do papel de liderança do professor bibliotecário que,


segundo Michael Eisenberg, no artigo “This Man Wants to Change Your Job” para além de
especialista de informação, gerindo uma colecção adquirida e avaliada em parceria com
outros elementos da comunidade educativa, incluindo alunos, e criando acessibilidades na
aquisição da informação, é também, e fundamentalmente, o administrador de um programa,
trabalhando colaborativamente com os outros membros da comunidade pedagógica, definindo
programas de acção, guiando e dirigindo actividades da BE com eles relacionadas. Alguém
com mestria no uso da informação e das tecnologias de informação; com habilidade para
fornecer conhecimento, visão e capacidade de liderança; com capacidade para planear,
executar e avaliar o programa com regularidade e a diferentes níveis.

Para a execução de um papel desta envergadura é necessária formação contínua e o


apoio e colaboração de todos os outros docentes, pois só em articulação consertada e
empenhada se conseguirá caminhar para o sucesso da missão da escola que é a qualidade da
aprendizagem, ou seja, conseguir que os alunos se tornem “utilizadores de ideias e
informação”, tal como preconizado em Information Power (ALA, 1998).

O caminho avizinha-se árduo e difícil de trilhar, mas interligando o programa da BE com


as iniciativas levadas a cabo pela escola, as suas preocupações e prioridades através da criação
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de um grupo de trabalho que envolva elementos dos diversos sectores ligados à comunidade
educativa, incluindo pais, de modo a demonstrar que ABE se preocupa com todos e é de todos.

Este grupo reuniria regularmente para:

• Aconselhar e estabelecer prioridades no programa da BE;

• Ajudar o professor bibliotecário e a equipa a determinar onde despender mais


tempo e esforço;

• Superar problemas ocasionais;

• Comprometer-se na solução de problemas e preocupações a longo prazo e


planeamento de objectivos;

Embora seja ainda um longo caminho a percorrer, as orientações fornecidas pela RBE,
as leituras efectuadas, a formação contínua e a gestão partilhada on-line por todos,
ajudar-nos-ão a obter sucessos numa prática que se pretende baseada em evidências.

Caldas das Taipas, 7 de Novembro de 2009

A professora bibliotecária

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