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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

Laila Souza Santos

DESEMPENHO DA LUZ NATURAL EM EDIFÍCIO


PÚBLICO ESCOLAR EM VITÓRIA – ES

Vitória
Junho de 2009.
Laila Souza Santos

DESEMPENHO DA LUZ NATURAL EM EDIFÍCIO


PÚBLICO ESCOLAR EM VITÓRIA – ES

Monografia entregue ao curso de Pós


Graduação em Projetos Luminotécnicos da
Universidade Castelo Branco, como requisito
parcial à obtenção do título de Especialista
em Projetos Luminotécnicos.

Orientação: Profa. Dra. Cláudia N. D. Amorim

Vitória
Junho de 2009.

2
Àqueles que ensinam, àqueles que aprendem e
àqueles que também projetam...

3
À arquiteta Ângela Maria Pandolfi e ao corpo de funcionárias da Escola
Irmã Maria Horta pela atenção e disponibilidade em ajudar;
À arquiteta Brunella Amblard pelas informações prestadas;
À Profa. Orientadora Cláudia Amorim pela experiência compartilhada
e pela segurança com que transmite as informações.
Meus sinceros agradecimentos a todos que contribuíram ou
facilitaram de alguma maneira o desenvolvimento deste trabalho.

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RESUMO

O trabalho vem responder a importantes questões referentes à


iluminação arquitetônica. De um lado, há a necessidade de oferecer
ambientes escolares mais adaptados ao clima, com o adequado conforto
luminoso nas salas de aula. De outro, o grande potencial de economia
energética representada pelo uso da luz natural nas edificações, em
conformidade com os preceitos de sustentabilidade. A pesquisa consiste
em analisar o nível de conforto luminoso nas escolas públicas do Espírito
Santo, por meio de um estudo de caso representativo da Escola Irmã
Maria Horta. Para isso, os conceitos de conforto luminoso são
apresentados e a seguir, instrumentos e métodos de análise por meio dos
quais é avaliado o edifício escolar: o Diagrama Morfológico, as cartas
solares e as máscaras de sombra, e simulações computacionais com o uso
do software Dialux. O estudo leva a uma proposta de correção dos efeitos
indesejáveis da luz natural existentes nas salas de aula, no intuito de
oferecer conforto luminoso e reduzir o uso da iluminação artificial durante
o dia.

Palavras-chave: iluminação natural, conforto luminoso, simulação


computacional, arquitetura escolar, escolas sustentáveis.

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ABSTRACT

This paper addresses important issues in architectural lighting. On


one hand, there is the need of offering more adapted school environments
according the climate, with the appropriate luminous comfort in the
classrooms. On the other hand, there is a great potential to save energy
with the use of daylight in edifices, according to the precepts of
sustainability. This research consists of an analysis of the luminous
comfort in public schools in Espírito Santo State, Brazil, through a
representative case study at Irma Maria Horta School. Thus, the concepts
on luminous comfort are presented and then the tools and methods of
evaluation through which the school building is analysed: the
morphological diagram, the Sun path diagram and the shadow masks, and
computer simulations with the use of Dialux software. Finally, these lead
to a proposition that will correct the current undesirable effects of daylight
in the classrooms, in order to give luminous comfort and reduce the use of
artificial lighting in the daytime.

Keywords: daylight, luminous comfort, computer simulations, school


building design, sustainable schools.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Diagrama Solar da latitude 20°Sul (p. 20)


Figura 2.2 Distribuição da iluminação fornecida por abertura horizontal junto ao piso
(p.27)
Figura 2.3 Distribuição da iluminação fornecida por abertura horizontal centralizada
(p.27)
Figura 2.4 Distribuição da iluminação fornecida por abertura horizontal junto ao teto
(p.27)
Figura 2.5 Distribuição da iluminação unilateral centralizada (p.28)
Figura 2.6 Distribuição da iluminação bilateral centralizadas (p.28)
Figura 2.7 Distribuição da iluminação unilateral alta (p.28)
Figura 2.8 Distribuição da iluminação bilateral alta (p.28)
Figura 2.9 Iluminação Zenital Estação da Luz, São Paulo. (p.29)
Figura 2.10 Cúpula do Centro Cultural Banco do Brasil, RJ. (p.30)
Figura 2.11 World Trade Center, Nova Iorque (p.30)
Figura 2.12 Prateleira de Luz. (p.31)
Figura 2.13 Associação Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro. (p.32)
Figura 2.14 MEC, Rio de Janeiro. (p.32)
Figura 2.15 Balcões como elementos sombreadores em edifício residencial, Rio de
janeiro (p.32)
Figura 2.16 Obstrução gerada por elementos externos (p.34)
Figura 2.17 Representação da obstrução em máscara de sombra (p.34)
Figura 4.1 Porção de céu visível em fachadas noroeste (p.39)
Figura 4.2 Porção de céu visível em fachadas sudeste (p.39)
Figura 4.3 Máscara de sombra da Sala 06. Orientação Noroeste (p.49)
Figura 4.4 Máscara de sombra da Sala 06. Orientação Sudeste (p.49)
Figura 4.5 Máscara de sombra da Sala 09. Orientação Noroeste (p.50)
Figura 4.6 Máscara de sombra da Sala 09. Orientação Sudeste(p.50)
Figura 4.7 Simulação da Sala 06, condição A, dia 21 Dez às 9h (p.53)
Figura 4.8 Simulação da Sala 06, condição A, dia 21 Dez às 15h (p.53)
Figura 4.9 Simulação da Sala 06, condição A, dia 21 Jun às 9h (p.53)
Figura 4.10 Simulação da Sala 06, condição A, dia 21 Jun às 15h (p.53)
Figura 4.11 Simulação da Sala 06, condição B, dia 21 Jun às 9h (p.55)
Figura 4.12 Simulação da Sala 06, condição B, dia 21 Jun às 15h (p.55)
Figura 4.13 Simulação da Sala 06, condição B, dia 21 Dez às 9h (p.55)
Figura 4.14 Representação das luminâncias em cores falsas. Sala 06, condição B, 21 de
Dez às 9h (p.55)

7
Figura 4.15 Brises Horizontais e Verticais propostos para as janelas da Sala 06 (p.56)
Figura 4.16 Interior da sala 06 com a nova abertura à direita (p.56)
Figura 4.17 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Dez às 9h (p.58)
Figura 4.18 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Jun às 9h (p.58)
Figura 4.19 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Dez às 12h (p.58)
Figura 4.20 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Jun às 12h (p.58)
Figura 4.21 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Dez às 15h (p.58)
Figura 4.22 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C, dia 21
Jun às 15h (p.58)
Figura 4.23 Simulação da Sala 09, condição A, dia 21 Dez às 9h (p.59)
Figura 4.24 Simulação da Sala 09, condição A, dia 21 Dez às 15h (p.59)
Figura 4.25 Simulação da Sala 09, condição A, dia 21 Jun às 12h (p.60)
Figura 4.26 Simulação da Sala 09, condição A, dia 21 Jun às 15h (p.60)
Figura 4.27 Simulação da Sala 09, condição B, dia 21 Jun às 15h (p.61)
Figura 4.28 Representação das luminâncias em cores falsas. Sala 09, condição B, 21 de
Jun às 15h (p.61)
Figura 4.29 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09, condição B, dia 21
Dez às 9h (p.62 e 63)
Figura 4.30 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09, condição B, dia 21
Jun às 15h (p. 62 e 64)
Figura 4.31 Brises horizontais propostos para as janelas da sala 09 (p.62)
Figura 4.32 Brises horizontais propostos para as janelas da sala 09 (p.62)
Figura 4.33 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09, condição C, dia 21
Dez às 9h (p.63)
Figura 4.34 Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09, condição C, dia 21
Jun às 15h (p.64)

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 4.1 Corredor de acesso às salas de aula no 1° pavimento (p.45)


Fotografia 4.2 Corredor de acesso às salas de aula no 2° pavimento (p.45)
Fotografia 4.3 Vegetação da fachada (p.45)
Fotografia 4.4 Cobertura da quadra sombreando as janelas das salas do 1° pavimento
(p.45)
Fotografia 4.5 Vegetação do pátio e janelas de abrir voltadas para o corredor de acesso
às salas do 2° pavimento (p.46)
Fotografia 4.6 Janelas pivotantes “transformadas” em prateleiras de luz nas salas do 2°
pavimento (p.47)
Fotografia 4.7 Fachada da escola (p. 47)
Fotografia 4.8 Vista geral do pátio Interno (p.47)
Fotografia 4.9 “Prateleira de luz” direcionando a luz para o interior (p.48)
Fotografia 4.10 “Prateleira de luz” direcionando a luz para o interior (p.48)

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 Iluminâncias recomendáveis para interiores (p.22)


Quadro 2.2 Recomendações para Distribuição da Luz Natural (p.22)
Quadro 2.3 Intervalos recomendados de Iluminâncias em salas de aula (p.23)
Quadro 2.4 Luminâncias x Iluminâncias (p.23)
Quadro 2.5 Avaliação dos Contrastes (p.24)
Quadro 4.1 Dados climáticos da cidade de Vitória (p.38)
Quadro 4.2 Escala de cores e valores para os níveis de iluminância e índice de
diversidade (p.51)
Quadro 4.3 Resumo das iluminâncias da Sala 06, condição A (p.52)
Quadro 4.4 Resumo das iluminâncias da Sala 06, condição B. (p.54)
Quadro 4.5 Resumo das iluminâncias da Sala 06, condição C. (p.57)
Quadro 4.6 Resumo das iluminâncias da Sala 09, condição A (p.59)
Quadro 4.7 Resumo das iluminâncias da Sala 09, condição B. (p.60)
Quadro 4.8 Resumo das iluminâncias da Sala 09, condição C. (p.63)

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ...................................................................13


1.1 Objetivos Gerais e Específicos ...............................................14
1.2 Justificativa ...........................................................................14

CAPÍTULO II: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..............................................17


2.1 Luz.........................................................................................17
2.1.1 Luz Natural .......................................................................17
2.1.2 Trajetória Solar .................................................................19
2.1.3 As Grandezas Fotométricas e Conforto Luminoso....................21
2.2 Estratégias Arquitetônicas para uso da Luz Natural................26
2.2.1 Aberturas Laterais..............................................................26
2.2.1.1 Janelas altas x baixas...................................................27
2.2.1.2 Iluminação Unilateral x bilateral.....................................28
2.2.2 Aberturas Zenitais..............................................................29
2.2.3 Dispositivos de Controle Solar..............................................30
2.2.3.1 Prateleiras de luz.........................................................31
2.2.3.2 Refletores externos......................................................31
2.2.3.3 Varandas e Beirais ......................................................32
2.3 Instrumentos para Análise da Luz Natural em Ambientes
Internos.......................................................................................33
2.3.1 Diagrama Morfológico ........................................................33
2.3.2 Máscaras de Sombra ..........................................................34
2.3.3 Simulações Computacionais.................................................35

CAPÍTULO III: METODOLOGIA ..............................................................36

CAPÍTULO IV: ESTUDO DE CASO............................................................38


4.1 A cidade..................................................................................38
4.2 O entorno...............................................................................38
4.3 O edifício escolar ...................................................................39
4.4 Diagrama Morfológico ............................................................43
4.5 Máscaras de Sombra ..............................................................49

11
4.6 Simulações Computacionais ...................................................50
4.6.1 Sala 06. Condição A ...........................................................52
4.6.2 Sala 06. Condição B ...........................................................54
4.6.3 Sala 06. Condição C ...........................................................56
4.6.4 Sala 09. Condição A ...........................................................59
4.6.5 Sala 09. Condição B ...........................................................60
4.6.6 Sala 09. Condição C ...........................................................62

CAPÍTULO V: RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................65

CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES .................................................................66

BIBLIOGRAFIA .....................................................................................67

APÊNDICE A: RESULTADOS SIMULAÇÃO PROPOSTA SALA 06.................69


APÊNDICE B: RESULTADOS SIMULAÇÃO PROPOSTA SALA 09.................81

ANEXO A: CARTA SOLAR LATITUDE 20° SUL..........................................93


ANEXO B: DIAGRAMA MORFOLÓGICO....................................................94

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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

Muito se vem discutindo atualmente o modelo educacional vigente


no país e as eventuais mudanças necessárias para se oferecer uma
educação de qualidade. O edifício escolar, como espaço físico de aquisição
do conhecimento, deve também figurar como agente facilitador do
processo de aprendizagem. Ele deve ser o invólucro eficaz que confere,
dentre muitos outros, o conforto luminoso, requisito indispensável às
atividades que ocorrem dentro da sala de aula.
Por outro lado, a utilização da luz natural nos espaços internos
constitui um aspecto para a melhoria tanto da funcionalidade como da
qualidade do ambiente escolar, além de contribuir positivamente para a
economia e o meio ambiente. As discussões ambientais e energéticas
atuais aumentam a demanda por projetos que respondam à necessidade
de se construir com sustentabilidade. Dessa forma, o uso da luz natural _
recurso econômico, inesgotável e abundante em regiões tropicais _ é
fundamental em projetos ambientais com conforto luminoso.
O conforto luminoso, entretanto, nem sempre é alcançado nos
interiores das edificações. Diversos fatores, desde a inadequada
orientação do edifício até a incorreta especificação dos revestimentos,
podem ser apontados como causas ou agravantes do desconforto
luminoso. É preciso conhecer o comportamento da luz natural e os
referenciais de conforto luminoso que precisam ser alcançados para que
se possa projetar conscientemente e usar corretamente as estratégias
arquitetônicas para a luz natural.
Posto isso, o presente trabalho propõe uma avaliação do
desempenho da luz natural, considerando um estudo de caso na escola
estadual Irmã Maria Horta, na região da Praia do Canto, em Vitória–ES.
São apresentados os referenciais teóricos necessários à obtenção do
conforto luminoso, verificados os níveis de iluminação existentes e ao final

13
são propostos dispositivos que permitam aperfeiçoar ou otimizar o uso da
luz natural no interior das salas de aula dessa escola.
Conhecer melhor o comportamento da luz natural nos ambientes
internos e estudar a arquitetura do edifício escolar que possibilita ou inibe
o conforto luminoso é fundamental para que os próximos edifícios
escolares contemplem o tema e que os projetistas usem a luz natural de
maneira consciente, melhorando a qualidade do projeto arquitetônico de
edifícios escolares e o conforto luminoso nas salas de aula.

1.1 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

O objetivo geral deste trabalho é avaliar as alternativas


arquitetônicas para a melhoria da iluminação natural no ambiente escolar,
e oferecer alguns subsídios para a elaboração de diretrizes para novos
projetos e adaptações a edifícios existentes, através de um estudo de caso
na cidade de Vitória-ES.
Objetivos específicos:
- avaliar o nível de conforto luminoso nas salas de aula do estudo de
caso;
- avaliar as características do projeto arquitetônico no contexto
climático específico de Vitória–ES que favorecem o conforto luminoso em
salas de aula;
- realizar simulações computacionais com elementos arquitetônicos
do estudo de caso _ orientação, dimensões, forma, cores, aberturas,
elementos de proteção _ a fim de indicar algumas estratégias adequadas
ao contexto climático local.

1.2 JUSTIFICATIVA

O olho humano se adapta a uma ampla variação dos níveis de


iluminação e é capaz de enxergar, ainda que desconfortavelmente,
mesmo em ambientes pouco ou excessivamente iluminados. Embora seja

14
a visão permitida nessas situações, Krüger (2006) diz que o grau de
concentração, o comportamento, a produção e a qualidade de aprendizado
de um aluno é função do nível de conforto ambiental e luminoso conferido
pelo espaço.
Para Viana & Gonçalves (2007), em edifícios escolares “a boa
iluminação, juntamente com a boa acústica, conforto térmico e ventilação,
será parâmetro fundamental para o bom aprendizado e rendimento dos
alunos”.
Segundo Lopes (2006), estudos realizados por Baker et al (2000)
indicam que os usuários preferem ambientes iluminados naturalmente e
que, dependendo da intensidade de luz natural disponível, inclusive
chegam a atrasar o acionamento da iluminação artificial complementar.
Os usuários aceitam também níveis de iluminação superiores aos níveis de
iluminação artificial por poder desfrutar da visão do ambiente externo,
observar a passagem do tempo e as variações climáticas ao longo do dia,
o que permite concluir que o homem tem preferência pela luz natural.
Ainda que a luz natural apresente inúmeras vantagens, ela nem
sempre tem sido usada de maneira coerente para atender às necessidades
dos ambientes escolares. (LOPES, 2006). Para a autora, “devido à
padronização e a otimização do tempo na etapa de projeto, muitas escolas
são implantadas sem o correto planejamento (...), o que resulta em
muitas salas deficientes em relação ao conforto visual e térmico.”
Neste trabalho, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Irmã Maria Horta (EIMH) foi selecionada como estudo de caso para
levantar a problemática do conforto luminoso nas salas de aulas. Além de
funcionar há mais de 68 anos e ser uma das mais antigas escolas
estaduais, a EIMH obteve a melhor colocação no exame do Enem dentre
as escolas da Região Metropolitana em 2006, colocando-a em evidência
nos últimos anos com relação à qualidade do ensino oferecido. Ainda
assim, é importante comentar que a Escola compartilha dificuldades
similares e comuns à maioria das escolas públicas estaduais, quer seja do
ponto de vista de sua estrutura, quer seja da educação oferecida.

15
Deve-se, portanto, admitir que as salas de aula da EIMH não
oferecem o conforto luminoso adequado a seus usuários ao longo do dia e
do ano. Algumas evidências podem ser apontadas como razões para essa
inferência. Algumas delas são vidros pintados de branco em básculas
junto ao teto e a existência de papéis colados nos vidros das janelas. A
adoção dessas práticas sugere que em determinados horários a luz direta
do sol incomoda os usuários, com excesso de iluminação direta,
ofuscamento ou calor.
Visto que a luz natural é das fontes mais eficientes de energia, a
mais econômica, ambientalmente correta, abundante, de melhor
qualidade e a preferida pelo olho humano, é preciso valorizar esse recurso
como forma de conferir conforto e economia às edificações, à luz dos
conceitos de sustentabilidade.

16
CAPÍTULO II: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 LUZ

A luz é a manifestação visual da energia. Certos comprimentos de


onda da radiação eletromagnética podem ser captados pela visão, e é
exatamente essa faixa que chamamos de luz.
Segundo a fonte emissora de luz, podemos classificá-las em luz
natural ou luz artificial. (LOPES, 2006). O presente estudo aborda as
questões referentes à luz natural.

2.1.1 LUZ NATURAL

É chamada de luz natural a luz proveniente do sol. O sol libera uma


imensa quantidade de lumens¹ dos quais 134.000lux² alcançam a
atmosfera externa da terra. Parte dessa luz é absorvida, parte é refletida
para o espaço e outra parte, cerca de 60 a 110Klux², chega à superfície
da Terra em forma de feixes paralelos. Essa fração é considerada luz
natural direta. (BLANCO, 2007).
Outra porção de luz proveniente da mesma fonte e representada por
uma série de raios indiretos é retransmitida pela abóbada celeste. A luz
proveniente do céu produz uma iluminação mais suave, não possui
atributos direcionais marcantes e por isso quase não gera sombras. Sua
intensidade é bem menor que a da luz direta do sol, e sua disponibilidade
varia segundo as condições de nebulosidade do céu. (BLANCO, 2007;
LOPES, 2006).
Segundo Blanco, são várias as condições que interferem na
disponibilidade da luz natural:

1. Lumens: unidade de medida de intensidade luminosa.


2. Lux: unidade de medida de iluminância. 1 Klux = 1.000 lux.

17
Latitude: os vários pontos do globo “percebem” o Sol de maneira
diferente e isso varia com a latitude, ou seja, a distância desse ponto à
linha do Equador;
Sazonalidade: em cada um desses pontos a quantidade de luz
varia ciclicamente no decorrer do ano;
Clima: quanto maior a quantidade e a espessura das nuvens,
menos luz do céu chegará à superfície do planeta. Quando o céu se
apresenta encoberto, por exemplo, a iluminação fornecida pela abóbada
celeste representa cerca de 1/10 a 1/15 da iluminação fornecida pela luz
direta do sol;
Qualidade do ar: as espessas massas de ar poluído existentes em
cidades como São Paulo agem como barreiras aos raios luminosos e
prejudicam significativamente a quantidade de luz natural incidente,
podendo ser reduzida a até 60% do total;
Os seguintes fatores também interferem na disponibilidade da luz
natural e são condicionados pelas decisões de projeto urbano e
arquitetônico e portanto são responsabilidade de arquitetos e projetistas:
Horizonte Natural/ Artificial: diz respeito à morfologia urbana e à
proximidade das construções. Em locais muito adensados os raios solares
são obstruídos e a parcela de céu visível é bem mais restrita;
Orientação: a luz natural não está distribuída homogeneamente
pelo céu. Para uma mesma latitude, as direções norte, sul, leste e oeste
“vêem” o sol em diferentes horários, e em determinados períodos do ano,
sendo, portanto fundamental a correta orientação do edifício e das
aberturas para a captação da luz natural.
O Fator de Luz diurna, ou FLD, é uma percentagem da luz natural
que adentra o espaço interior. Ao longo do dia e do ano, por exemplo, a
iluminância no exterior diminui e a iluminância no interior acompanha
essa redução proporcionalmente. As componentes do FLD são: a
componente do céu, a componente refletida externa e a componente
refletida interna.

18
Segundo Bertolotti, uma das principais recomendações de conforto
luminoso para salas de aula é “evitar a radiação solar direta e utilizar a
iluminação difusa, indireta e refletida.”. Para ele, a radiação solar é uma
poderosa fonte de luz, mas também pode causar desconforto térmico e
visual e, portanto devemos “prevenir a entrada de luz direta do sol em
espaços de aprendizagem sensíveis ao ofuscamento”.

2.1.2 TRAJETÓRIA SOLAR

Sabe-se que o planeta descreve anualmente uma trajetória elíptica


ao redor do Sol. Um observador na superfície do globo terá a impressão
de que é o Sol quem está girando em torno da Terra, variando suas
posições ao longo do dia e no ano. Esse efeito é chamado de Movimento
Aparente do Sol. Para um mesmo instante, observadores situados em
diferentes pontos no globo terrestre receberão os raios de Sol em
inclinações também diferentes. (FROTA & SCHIFFER, 2003)
Assim, o Sol aparentemente descreve uma trajetória circular plana
ao redor da Terra, variando de plano todos os dias, e passando pela
mesma trajetória duas vezes por ano. Ele faz sua trajetória mais longa no
verão e a mais curta no inverno e é por isso que os dias de verão são
mais longos. Nos equinócios, 21/3 e 21/09, os dias possuem a mesma
duração. (CORBELLA & YANNAS, 2003)
As cartas ou diagramas solares indicam as trajetórias percorridas
pelo sol no céu durante o ano em dada latitude do globo terrestre. Cada
latitude apresenta um diagrama próprio. Os pontos do globo terrestre
situados a 20° de latitude Sul (latitude aproximada de Vitória),
apresentam a seguinte carta solar representada pela figura abaixo.

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Figura 2.1: Diagrama Solar da latitude 20°S.
Fonte: FROTA & SCHIFFER

Para esse local especificamente, o diagrama acima permite tirar as


seguintes conclusões:

 O solstício de verão têm aproximadamente 13 horas; o


solstício de inverno, 11 horas;
 Nos dias 22/11 e 21/01 ao meio-dia o sol estará a pino, ou
seja, a linha formada entre o observador e o Sol coincide com
o zênite;
 As fachadas voltadas ao norte recebem a luz direta do sol
durante quase todo o ano; o sul recebe a luz solar nas
primeiras e últimas horas do dia nos meses de verão, sendo a
fachada que recebe a menor quantidade de radiação solar
direta, logo a menor carga térmica.

Dotar de iluminação natural uma edificação localizada nessa latitude


muitas vezes esbarra na questão de conforto térmico e é também por isso
que se faz necessário o conhecimento das cartas solares.

20
2.1.3 GRANDEZAS FOTOMÉTRICAS E CONFORTO LUMINOSO

Fotometria é o ramo da Ciência que trata da medição da luz nos


processos de emissão, propagação e absorção. São nove as grandezas
fotométricas descritas por Vianna & Gonçalves (2007). São elas:

 Fluxo energético;
 Fluxo luminoso;
 Intensidade luminosa;
 Iluminância;
 Eficiência Luminosa;
 Luminância;
 Contraste;
 Índice de reprodução de cores.
 Temperatura de cor;

Dentre elas, três estariam diretamente relacionadas à luz natural: a


iluminância, a luminância e o contraste, conceituados a seguir.
A Iluminância é um conceito que trata da quantidade de luz
recebida por uma superfície. É determinada em lumens por m², ou lux,
que quer dizer a densidade ou fluxo de luz que incide na superfície,
dividida pela sua área.
O olho humano é extremamente adaptável e sensível a luz. Ele é
capaz de captar iluminâncias da ordem de 0,25lux (luz da lua) até
100.000lux (um dia de verão com céu claro). Segundo Souza (2006),
apesar de toda essa adaptabilidade à luz, estudos comprovaram que o
olho humano tem preferência por ambientes iluminados à quantidade
indicada no quadro 2.1.

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Quadro 2.1: Iluminâncias recomendáveis para interiores.
Fonte: Extraído da apostila Luz Natural na Arquitetura. (SOUZA, 2006)

Vianna & Gonçalves (2007) discorrem sobre o fato de haver


melhoria da visão com o aumento dos níveis de iluminância. Segundo os
autores, essa melhoria não é ilimitada. Existe um ponto, chamado de
ponto de saturação, a partir do qual os acréscimos de iluminação não
trazem melhorias. Esse ponto estaria por volta dos 2000lux.
Souza (2006) complementa que o conforto luminoso não se resume
à quantidade de luz oferecida, mas também se relaciona com
homonegeidade da iluminação, ou seja, o conforto luminoso é obtido em
ambientes onde a relação entre a iluminância máxima e a mínima (índice
de diversidade) é a menor possível, conforme quadro 2.2:

Quadro 2.2: Recomendações para distribuição da Luz Natural.


Fonte: Extraído da apostila Luz Natural na Arquitetura. (SOUZA, 2006)

Por outro lado, a norma brasileira NBR 5413, referente à Iluminância


de Interiores, sugere que o nível de iluminação mínimo dos ambientes
deve ser feito de acordo com o uso a que se destina o ambiente e
classifica-os em três níveis segundo características como idade do usuário,
precisão, duração e velocidade da tarefa. A norma aponta os seguintes
valores para iluminação de salas de aula:
Nível 01 - 200lux; Nível 02 - 300lux; Nível 03 - 500lux

22
Após confrontar a norma com a recomendação de outros autores,
Lopes (2006) considera a seguinte tabela para a classificação dos
intervalos de iluminâncias no ambiente escolar.

Quadro 2.3: Intervalos recomendados de iluminâncias


em salas de aula. Fonte: LOPES (2006)

Segundo a autora, a simples satisfação das iluminâncias mínimas


exigidos pela norma não são suficientes para se obter conforto luminoso.
É necessário evitar os ofuscamentos e os grandes contrastes porque eles
geram desconforto e cansaço visual.
A Luminância é uma grandeza que diz respeito ao brilho, ou seja, a
quantidade de luz que é refletida por uma superfície quando essa recebe a
luz. Sua unidade é a candela por m², ou cd/m². Por se tratar da luz
refletida, a luminância está relacionada com a direção segundo a qual está
posicionada o observador e do coeficiente de reflexão do material, ou
seja, sua textura e cor. Uma mesma iluminância gera diferentes
luminâncias. (BLANCO, 2007. SOUZA, 2006)

Quadro 2.4: Luminâncias x Iluminâncias. Fonte: Extraído


da apostila Luz Natural na Arquitetura. (SOUZA, 2006)

Vianna (2007) compara a iluminância com a luminância e comenta


que a primeira é a parte não visível da luz, é a luz incidente. A Luminância
é a luz visível, refletida. O olho humano é capaz de perceber luminâncias
da ordem de um milionésimo de cd/m² até o limite superior de 1 milhão
de cd/m². Entretanto, segundo Blanco, é recomendado que a iluminância
23
média do entorno de uma tarefa visual esteja entre 1/3 da luminância da
tarefa e a luminância da própria tarefa. Quando as luminâncias são muito
contrastantes, o olho tende a fazer sucessivos ajustes e adaptações,
gerando fadiga visual.
O Contraste é uma grandeza referente à diferença relativa entre a
luminância do objeto e do fundo, expressa pela fórmula: (Lo-Lf)/Lf, em
valor adimensional. Se a luminância do fundo é elevada, a sensibilidade
da retina é menor, ou seja, os detalhes parecem mais escuros. Por isso,
em tarefas como leitura, que requer o reconhecimento dos contornos em
detalhe, acentua-se as letras pretas sobre o papel branco, pois assim o
contraste entre objeto e fundo poderá ser percebido ainda que haja níveis
mais baixos de iluminância. (LOPES, 2006).
Em pleno dia o olho humano é capaz de diferenciar luminâncias de
até 1%, entretanto, em condições onde há baixos níveis de iluminação,
variações de luminâncias da ordem de 10% podem passar despercebidas.
(LAMBERTS, 2004). Segundo o autor, a avaliação do contraste pode ser
feita simplificadamente segundo as seguintes proporções máximas
expressas no quadro abaixo:

Quadro 2.5: Avaliação dos contrastes. Fonte: (LAMBERTS, 2004)

O ofuscamento é uma sensação desconfortável (e não uma


grandeza fotométrica) produzida por uma grande variação de luminâncias.
Quando há ofuscamento, a vista experimenta uma perturbação,
desconforto ou perda temporária da visão, podendo ocorrer devido a dois
efeitos:
Ofuscamento por contraste: Caso a proporção entre as luminâncias
seja maior que 10:1;

24
Ofuscamento por saturação: ocorre quando a luminância média no
campo visual8 excede 25.000cd/m².
Segundo o grau de desconforto, Lamberts (2004) classifica o
ofuscamento em desconfortável, perturbador ou inabilitador. Os dois
primeiros são atribuídos à tendência do olho em se fixar em pontos
brilhantes do campo visual, ainda que não necessariamente impeçam a
realização das tarefas. O ofuscamento inabilitador pode ser bastante
perigoso em certas circunstâncias, impedindo o desenvolvimento da tarefa
visual. Pode ocorrer porque:
 há um espalhamento de luz pelo cristalino, encobrindo a
imagem da cena;
 o olhos exige um tempo para adaptar-se a uma diferença
de luminâncias;
 o cérebro se confunde e continua a ver imagens da fonte de
luz, num processo de adaptação retinal lento, quando em
contato com luz excessiva.
Algumas estratégias citadas por Blanco para evitar o ofuscamento
são:
 Colocação de elementos de proteção na fonte de luz;
 Proporcionar uma iluminação relativamente uniforme por
todo o ambiente;
 Inclinar das superfícies de trabalho onde estão sendo
realizadas as tarefas para fora dos ângulos de reflexão;
 Usar acabamento opaco ou fosco nas superfícies de
trabalho, com índices de reflexão entre 35% e 50% (evitar
o uso de mesas com superfície branca ou com refletância
de 85% ou mais)
O ofuscamento também pode ser classificado como direto ou
indireto. No primeiro, o agente causador do ofuscamento é a própria fonte
de luz. O ofuscamento indireto se dá por meio da visualização de uma
superfície excessivamente iluminada.

25
2.2 ESTRATÉGIAS ARQUITETÔNICAS PARA USO DA LUZ NATURAL

2.2.1 ABERTURAS LATERAIS

As aberturas laterais são elementos arquitetônicos tradicionais e de


larga utilização, comumente chamados de janelas. As janelas permitem a
entrada da luz e do vento, além de possibilitar a visão do exterior.
Segundo Lopes (2006), num ambiente pode haver janelas que
servem somente para iluminação e outras que cumprem somente a
função de contato visual com o exterior. Para a autora, deve-se ter o
cuidado ao definir as aberturas de uma sala de aula: a luz natural é
sempre favorável, mas o contato visual com o exterior pode se tornar
fonte de distração para os alunos, influenciando sua concentração.
Para Vianna & Gonçalves (2007), “as aberturas devem ser
controladas a fim de se evitar distrações e dispersões visuais dos alunos.
Isso é conseguido evitando-se o contato visual direto com áreas muito
movimentadas, tanto do exterior, como de partes internas do próprio
edifício.”
Quanto à orientação das aberturas laterais, Amorim (1998) comenta
que, em Brasília (latitude 16° Sul), as fachadas preferenciais para sua
localização são Sul, Norte e Leste. A orientação Oeste não é recomendada
pelo excessivo ganho térmico. Para Vitória (latitude 20°Sul), podemos
considerar as mesmas recomendações devido a pouca representatividade
da variação da latitude dessas cidades.
Segundo Lopes (2006), as aberturas orientadas a norte, nordeste e
noroeste produzem altos níveis de iluminação, com elevados ganhos
térmicos no inverno e médios no verão.
As dimensões, o tipo, a posição e a orientação das aberturas laterais
podem influenciar diretamente a maneira como a luz se distribui no
ambiente interior.

26
2.2.1.1 JANELAS ALTAS X BAIXAS

Segundo Lopes (2006), quando se eleva o peitoril de uma janela,


aumenta-se também a profundidade de penetração da luz, acarretando
uma melhor distribuição no ambiente. As janelas baixas, fora do campo
visual, oferecem uma luz refletida pelo piso para outros pontos do
ambiente. Nessa posição, os níveis de iluminação no plano de trabalho são
bem mais altos próximos à abertura.
Vianna & Gonçalves (2007) comentam que peitoris envidraçados
abaixo do plano de trabalho não contribuem para a iluminação do local e
não são consideradas no cálculo de iluminação natural. Isso
provavelmente se deve ao fato de que a luz que entra por essa porção da
abertura deverá ser refletida pelo piso (com baixos índices de reflexão na
maioria das escolas) e sofrer muitas reflexões até que chegue ao plano de
trabalho, contribuindo para o incremento do ganho térmico sem trazer
benefícios consideráveis para a iluminação.
Por exemplo, em salas de dimensões 5x5m e pé-direito de 3m, uma
mesma abertura em posições diferentes (junto ao piso, centralizada, junto
ao teto) produzem uma iluminação como as indicadas nas imagens abaixo
para um plano de trabalho a 75cm do piso:

Figuras 2.2, 2.3 e 2.4: Distribuição da iluminação fornecida por aberturas horizontais
junto ao piso, centralizada e junto ao teto, respectivamente. Fonte: Simulações Dialux.

27
2.2.1.2 ILUMINAÇÃO UNILATERAL X BILATERAL

A distribuição das aberturas num mesmo ambiente também pode


propiciar diferentes formas de distribuição da luz nos interiores. Segundo
Vianna & Gonçalves (2007), ambientes que possuem duas ou mais janelas
são mais bem iluminados do que aqueles com somente uma janela. Essas
aberturas, quando posicionadas em paredes opostas, apresentam
resultados ainda melhores, pois o efeito de uma se soma ao efeito da
outra, aumentando os níveis de iluminância e melhorando a diversidade.
As imagens abaixo indicam a distribuição das iluminâncias num
plano de trabalho a 75cm do piso em uma sala de dimensões 5x5 e pé-
direito de 3m, com igual área total de aberturas.

Figuras 2.5 e 2.6: Distribuição da iluminação unilateral e bilateral,


com aberturas centralizadas de mesma área total. Fonte: Simulações Dialux.

Figuras 2.7 e 2.8: Distribuição da iluminação unilateral e bilateral,


com aberturas altas de mesma área total. Fonte: Simulações Dialux.

28
A situação mais crítica do ponto de vista do conforto luminoso está
representado pela figura 2.5 (abertura unilateral centralizada), com
luminosidade excessiva próxima a abertura e altos índices de diversidade,
o que faz aumentar a probabilidade de ofuscamento por contraste no
interior da sala de aula.
Por outro lado, a situação mais confortável para o conforto luminoso
está representado pela figura 2.8 (aberturas bilaterais altas), onde se
obtém melhorias níveis de iluminação e diversidade, comparativamente.
Essa situação, entretanto, não permite visualização do exterior em
momento algum, visto que a linha de visão dos usuários se encontra
abaixo do peitoril da janela. Soluções intermediárias podem ser obtidas
posicionando-se uma abertura alta e uma centralizada, por exemplo.

2.2.2 ABERTURAS ZENITAIS

Em escolas, a utilização de aberturas zenitais é uma opção para


evitar as distrações geradas pela visualização do exterior através das
aberturas laterais. A iluminação oferecida por aberturas zenitais produzem
distribuições bem mais uniformes que as oferecidas pelas aberturas
laterais. (CORBELLAS & YANNAS, 2003)
Vários são os elementos arquitetônicos que possibilitam o uso da luz
natural zenital. Vianna & Gonçalves (2007) listam os sheds, os lanternins,
os tetos de dupla inclinação, domus, clarabóias, cúpulas e etc.

Figura 2.9: Iluminação Zenital Estação da Luz, São Paulo.


Fonte: Site da Prefeitura de São Paulo.

29
Nas regiões tropicais, entretanto, aberturas zenitais envidraçadas
podem representar problemas pelo aumento nos ganhos de carga térmica
e desconforto causado por ofuscamento e contrastes. Nessas regiões, as
aberturas zenitais devem ser compatíveis com as necessidades de
iluminação natural e dotadas de dispositivos que controlem a entrada da
radiação direta do sol. (CORBELLAS & YANNAS, 2003).

Figura 2.10: Cúpula do Centro Cultural Banco do Brasil, RJ.


Figura 2.11: World Trade Center, Nova Iorque. Fonte: Vianna & Gonçalves (2007)

2.2.3 DISPOSITIVOS DE CONTROLE SOLAR

Tanto aberturas laterais quanto zenitais podem permitir a entrada


indesejável da radiação direta do sol, por isso é necessário o uso de
dispositivos que controlem a passagem dessa luz. Segundo a Amorim
(1998), essa proteção pode ser feita interna ou externamente, sendo
preferíveis os dispositivos externos, devido à sua maior eficiência.
Dentre os inúmeros dispositivos de controle da entrada da luz solar
citados por Vianna & Gonçalves (2007) estão os pátios internos, o átrio, o
shed, o duto de luz, os vidros reflexivos, os refletores internos e etc,
entretanto alguns exemplos mais significativos para esse trabalho serão
comentados adiante. São eles: as prateleiras de luz, os brises e as
varandas e beirais.

30
2.2.3.1 PRATELEIRAS DE LUZ

As prateleiras de luz, também chamadas de bandejas de luz, são


elementos planos horizontais posicionados junto às aberturas, a certa
altura do piso de modo a direcionar a luz que vem do exterior para o
interior, fazendo-a refletir primeiro no teto e depois em outras direções.

Figura 2.12: Prateleira de Luz. Fonte: Vianna & Gonçalves (2007)

Quando corretamente projetadas, elas diminuem os níveis de


iluminação próximos à abertura, e direcionam a luz em profundidade no
ambiente, melhorando a distribuição da luz no seu interior.

2.2.3.2 BRISES

Os brises são lâminas paralelas posicionadas junto às aberturas


comumente utilizadas para controlar a entrada de luz direta do sol nos
ambientes interiores. Segundo Vianna & Gonçalves (2007), são os mais
eficientes quanto à redução da radiação direta das ondas de calor, na
medida em que impedem o contato dos raios diretos do sol com a
superfície transparente da janela. Os brises podem ser verticais,
horizontais, combinados, fixos ou reguláveis.
Quanto ao uso de brises em edifícios escolares, Bertolotti ( comenta
que os brises reguláveis manuais ou eletrônicos devem “ser de fácil
manutenção e acesso aos professores para que controlem a iluminação
interna conforme a variação externa.”

31
Figura 2.13: Associação Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro.
Figura 2.14: MEC, Rio de Janeiro. Fonte: Vianna & Gonçalves (2007)

2.2.3.3 VARANDAS E BEIRAIS

Amorim (1998) afirma que “varandas e beirais são muito úteis como
controle da radiação solar e proteção contra chuvas.” Seu projeto e
dimensões devem ter os cuidados necessários para atender à necessidade
de proteção das aberturas e essa definição pode ser auxiliada pela carta
solar.

Figura 2.15: Balcões como elementos sombreadores em edifício


residencial, Rio de janeiro. Fonte: Vianna & Gonçalves (2007)

32
2.3 INSTRUMENTOS PARA ANÁLISE DA LUZ NATURAL EM
AMBIENTES INTERNOS

Apresentam-se a seguir alguns instrumento e métodos que podem


auxiliar na avaliação do desempenho da luz natural no ambiente
construído. São eles:
 Diagrama Morfológico
 Máscaras de Sombra
 Simulação Computacional

2.3.1 DIAGRAMA MORFOLÓGICO

Segundo Amorim (2007), o diagrama morfológico surgiu como um


aprimoramento do diagrama tipológico apresentado por Baker et al (1993)
e foi desenvolvido pela autora para as necessidades brasileiras de conforto
ambiental e eficiência energética.
O diagrama é um sistema de classificação e análise de obras
arquitetônicas que serve para avaliar suas estratégicas de conforto
térmico, uso de luz natural e eficiência energética em suas várias escalas,
desde o urbano, até os ambientes do interior da edificação. Cada aspecto
da obra é analisado separadamente, de maneira que possa ser avaliado
com relação ao clima local, a posição no globo terrestre, a insolação, a
radiação solar, a luz natural e outros.
Dentre outras aplicações, o diagrama pode ser utilizado como forma
de catalogar obras arquitetônicas que trabalham bem o conforto
ambiental, auxiliando o projetista enquanto oferece um repertório de boas
soluções arquitetônicas para os problemas referentes à iluminação
natural, por exemplo.
Neste estudo, o diagrama será utilizado para que os elementos e
recursos arquitetônicos utilizados no projeto da Escola Irmã Maria Horta
possam ser classificados como adequados ou passíveis de modificação ou
otimização, sistematizando a avaliação do projeto nos níveis global e
detalhado.
33
O diagrama morfológico proposto por Amorim encontra-se
integralmente no anexo B.

2.3.2 MÁSCARAS DE SOMBRA

Segundo Corbella & Yannas (2003), os diagramas solares podem


proporcionar a visualização dos horários em que há obstrução solar
definida pela vizinhança, que devem ser calculadas e marcadas nesses
diagramas, constituindo assim as máscaras de sombra. As máscaras de
sombra indicam os pontos da abóbada celeste que não podem ser vistos
porque existem elementos no entorno que escondem o céu.
Frota & Schiffer (2003) discorrem sobre o funcionamento das
máscaras de sombra e indicam que a utilização desse instrumento na
representação da porção de céu visível por uma abertura permite analisar
os dias e horários do ano em que essa abertura receberá a luz direta do
sol ou a luz proveniente da abóbada celeste.

Figura 2.16: Obstrução gerada por elementos externos.


Figura 2.17: Representação da obstrução em máscara de sombra sobre trajetórias.
Fonte: CORBELLA & YANNAS, 2003.

A não visualização da abóbada celeste pelas edificações vizinhas


pode ser indesejável em determinados horários e períodos do ano, pois ao
reduzir-se a porção de céu visível, reduz-se também a quantidade de luz
no plano de trabalho dos alunos, podendo eventualmente se tornar
insuficiente.
Além de fornecer iluminação, a luz natural propicia também ganho
térmico _ como as demais fontes de luz _ e por isso deve-se considerar
não exclusivamente os aspectos visuais, mas também o desconforto

34
causado pelo excesso de carga térmica que as superfícies livres ou
envidraçadas podem oferecer.

2.3.3 SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

Amorim & Lancelle (2007) indicam várias razões para o uso da


simulação computacional da iluminação, dentre elas a possibilidade de se
trabalhar tanto com projetos quanto com edificações pré-existentes e
fazer análises sem a necessidade de se construir protótipos ou realizar
medições in loco.
A respeito do comportamento da luz natural no interior de
ambientes, com entrada de dados como latitude, orientação solar,
geometria e dimensões do espaço e suas aberturas, obstruções do
entorno, índice de reflexão dos materiais de revestimento, é possível
simular, por exemplo, os níveis de iluminação que se obtém em
determinado dia e horário no ano, sendo, portanto uma poderosa
ferramenta e um importante aliado na avaliação do desempenho da
iluminação natural no interior das edificações.
Dentre as muitas ferramentas computacionais existentes (AMORIM
& LANCELLE, 2007), o Dialux é uma ferramenta de simulação
computacional que possibilita o desenho e a modelagem ambientes
internos e externos a fim de reproduzir as situações reais e permitir
leituras relativas às condições dos sistemas artificiais e naturais de
iluminação existentes ou projetados. Assim como no Desktop Radiance,
essa reprodução permite verificar a eficiência dos sistemas de iluminação,
o comportamento da luz natural, os níveis de iluminância nas superfícies,
os contrastes no ambiente, dentre outros. (KRÜGER, 2006)

35
CAPÍTULO III: METODOLOGIA

Esse capítulo descreve os procedimentos adotados no trabalho para


análise das condições de conforto luminoso existentes em edifícios
públicos escolares do Espírito Santo.
Em primeira instância, é feita uma revisão bibliográfica dos
princípios de iluminação natural que subsidiam o estudo do
comportamento da luz natural e das condições de conforto luminoso, além
da conceituação de alguns termos necessários à compreensão do trabalho,
como por exemplo, algumas grandezas fotométricas. São também
estabelecidos os níveis de referência a partir dos quais são avaliados os
resultados.
Como estudo de caso é escolhida a Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Irmã Maria Horta, localizada no bairro Praia do
Canto, em Vitória – ES pela sua representatividade na sociedade capixaba
enquanto escola estadual pública que oferece ensino de qualidade.
Em seguida, é feita uma coleta de dados como plantas baixas e de
situação, fotos, modelos explicativos, sistema construtivo, orientação do
edifício, características do entorno e etc., que auxiliem a avaliação do
edifício escolar e suas relações com a luz natural, utilizando os métodos e
instrumentos de análise a seguir:
Diagrama Morfológico: O edifício é analisado em seus vários
aspectos pelo diagrama morfológico, desde a escala do espaço urbano ao
ambiente interno, permitindo a classificação das estratégias de conforto e
iluminação utilizadas pela arquitetura. O uso desse instrumento facilita a
indicação das estratégias e/ou elementos arquitetônicos utilizados no
edifício que se relacionam com a obtenção ou não do conforto luminoso,
além de fornecer dados para a escolha das salas de aula a serem
simuladas.
Cartas Solares e Máscaras de Sombra dos elementos de
proteção: As cartas solares das fachadas e as máscaras de sombra
permitem determinar os períodos em que a radiação solar atinge

36
diretamente as aberturas, e quando há maior probabilidade de haver
carência ou excesso de iluminação. As máscaras de sombra também
permitem indicar os prováveis momentos em que se obtém um conforto
luminoso adequado com uso exclusivo de luz natural, os momentos em
que será necessário o acionamento de iluminação artificial complementar,
e também aqueles em que a radiação solar tende a ser inadequada por
permitir a entrada da luz direta do sol. Nesse último caso, a luz direta do
sol, além de fornecer energia em forma de calor, pode gerar contrastes
desagradáveis e ofuscamento, sendo, portanto inadequada.
Simulações computacionais da iluminação: Sozinhos, os
instrumentos anteriores não fornecem dados precisos, mas apenas uma
indicação de probabilidades. Por meio do uso do software de cálculo de
iluminação Dialux 4.2, as salas de aula selecionadas são simuladas em 02
dias do ano, (os solstícios de verão e de inverno) em 03 diferentes horas
do dia, para que se obtenham dados bem diversos que possibilitem uma
ampla avaliação dos níveis de iluminação no interior dos ambientes.
Neste trabalho, a simulação da iluminação em dias e horários pré-
determinados diante da impossibilidade de medi-las em todos os
momentos do ano é uma opção para se verificar os níveis de iluminação
natural oferecido pela sala de aula de maneira global.
São comparados os níveis de iluminação natural num plano de
trabalho a 75cm do piso em 3 situações:
A. A sala sem tipo algum de elemento de controle solar;
B. A sala com os elementos de controle solar projetados, ou seja, a
condição existente
C. A sala com elementos de controle solar existentes acrescidos de
elementos complementares;
Os valores obtidos são analisados e julgados conforme os
referenciais de conforto luminoso adotados neste trabalho. A partir disso
são analisados e discutidos os resultados a respeito do conforto luminoso
do ambiente de estudo e quais os elementos e estratégias arquitetônicos
que os tornaram possíveis.

37
CAPÍTULO IV: ESTUDO DE CASO

Esse capítulo apresenta o projeto arquitetônico, as características


locais e a análises do edifício da Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Irmã Maria Horta, localizado em Vitória-ES.

4.1 A CIDADE

Vitória é uma ilha que está situada a 20º19' de latitude sul e 40°20'
de longitude oeste. A cidade possui um clima tropical úmido, invernos
secos e verões chuvosos, com predominância de céus claros e
parcialmente encobertos. Pela sua posição geográfica, a cidade apresenta
longos períodos de insolação e médias das temperaturas bastante
elevadas no decorrer do ano, conforme vemos no quadro 4.1.

Quadro 4.1: Dados Climáticos da cidade de Vitória. Fonte: Software Analysis Bio

4.2 O ENTORNO

O edifício da escola está localizado na região da Praia do canto, no


número 1060 da Rua Aleixo Neto, uma via plana cujas calçadas
arborizadas são de aproximadamente 3 metros.
Todos os lotes da quadra onde se encontra a escola e a quadra
imediatamente à frente estão edificados ou se encontram em fase de
construção. A região é uma das mais adensadas da cidade e o fluxo de

38
automóveis e pedestres é intenso durante o dia e a noite. Não há
afastamento entre o limite dos lotes e as construções, exceto quando
existe alguma abertura.
A dinâmica do entorno foi bastante modificada nos últimos anos, e a
antiga escola é hoje parcialmente sombreada pelos edifícios do entorno,
permissão concedida pelos sucessivos códigos municipais. A região que
era composta de sobrados se transformou em área de especulação
imobiliária nos anos 90 e 2000, apresentando vários edifícios de até 14
pavimentos ao redor da edificação escolar.

4.3 O EDIFÍCIO ESCOLAR

O edifício está localizado na parte central da quadra. Segundo


Corbella & Yannas (2003), para esse clima, a orientação que melhor
resolve a questão térmica é a Norte-Sul. Entretanto, a implantação do
edifício obedece à orientação do traçado das vias formando um ângulo de
34° com o Norte magnético e por isso não apresenta aberturas que se
orientem coincidentemente com os pontos cardeais. Elas estão
direcionadas a Noroeste e a Sudeste, recebendo a radiação indicada nos
gráficos das figuras 4.1 e 4.2.

Figura 4.1 e 4.2: Porção de céu visível em fachadas noroeste e sudeste,


respectivamente. Fonte: FROTA & SCHIFFER. Imagem editada pela autora.

A tipologia arquitetônica da escola é a de um de edifício com pátio


central. Ao redor da quadra esportiva se desenvolvem as salas de aula e

39
demais ambientes escolares, sendo parte dessa área edificada em um
pavimento e parte dela em dois pavimentos.
Na seqüência apresentam-se a3 implantação e as plantas baixas do
edifício escolar, fornecidos pelo Instituto de Obras Públicas do Espírito
Santo (IOPES), e um corte esquemático de autoria da autora, cujas
informações foram obtidas por meio de medições e fotografias.

40
PA 1 PLANTA DE SITUAÇÃO
Estudo de Caso ESCOLA IRMÃ MARIA HORTA

41
CORTE ESQUEMÁTICO

PA 2 PLANTAS BAIXAS
Estudo de Caso ESCOLA IRMÃ MARIA HORTA

42
4.4 DIAGRAMA MORFOLÓGICO
A seguir apresenta-se o diagrama morfológico do edifício escolar
preenchido. Nas tabelas, as variáveis indicadas em amarelo foram
apontadas como passíveis de otimização.

43
44
As salas de aula são dispostas linearmente e apresentam corredores
de acesso orientados a noroeste, que são cobertos por laje e protegidos
lateralmente por uma grade de madeira branca ao longo de sua extensão.

Fotografias 4.1 e 4.2: Corredor de acesso às salas


de aula no 1° e 2° pavto, respectivamente

Nas salas do pavimento inferior (salas 01 a 06), que não possuem


janelas voltadas para o noroeste (apenas um pequeno visor sobre a
porta), esses elementos _ corredor e grade _ auxiliam no controle
térmico. O lado da sala oposto ao corredor, ou seja, a fachada voltada
para o interior do pátio possui apenas um pequeno beiral como proteção
solar, entretanto a cobertura metálica da quadra esportiva oferece
sombreamento a algumas dessas aberturas.

Fotografias 4.3 e 4.4: Vegetação da fachada e cobertura da quadra


sombreando as janelas das salas do 1° pavto.

As salas do pavimento superior (salas 07 a 12) apresentam


aberturas dos dois lados, sendo umas orientadas a noroeste (corredor de
acesso), e outras para sudeste, ou seja, os fundos do terreno. Se por um

45
lado, aberturas nos dois lados facilitam a distribuição da luz de maneira
mais homogênea no seu interior e promovem a ventilação cruzada como
estratégia para o conforto térmico, por outro, aumentam-se também as
chances da radiação direta do sol provocar incômodos como calor ou
ofuscamentos. Para evitar isso, é necessário o controle da entrada de luz.
Nesse caso, parte do problema é evitado porque o elemento
corredor e a grade de madeira branca funcionam como elementos de
controle térmico e de controle da luz para as janelas de abrir orientadas a
noroeste.

Fotografia 4.5: Vegetação do pátio e janelas de abrir voltadas para


o corredor de acesso às salas do 2° pavimento.

Do outro lado da sala, as aberturas tipo pivotante, orientadas a


sudeste, estão posicionadas horizontalmente e próximas ao teto. Apesar
de haver sido projetadas como janelas, funcionam atualmente como
prateleiras de luz, visto que, com o uso, preferiu-se pintar os vidros dessa
esquadria de branco. Na imagem abaixo, é possível constatar a real
necessidade de se haver feito essa alteração.

46
Fotografia 4.6: Janelas pivotantes “transformadas” em
prateleiras de luz nas salas do 2° pavimento.

Em ambas as situações, além do corredor há também uma


vegetação frondosa que auxilia no controle térmico. No caso das salas do
pavimento superior essa vegetação diminui consideravelmente a porção
de céu visível pelas aberturas, logo, os níveis de iluminação no interior
das salas.

Fotografias 4.7 e 4.8: Fachada da escola e vista geral do pátio interno.

As salas 13 e 14, no pavimento superior, são laboratórios de


informática iluminados e condicionados artificialmente. Nesses ambientes,
o corredor está orientado a sudoeste e não existe vegetação que proteja
as salas da radiação solar.
A problemática representada pelos pontos marcados em amarelo no
diagrama morfológico, ambos referentes ao controle da entrada de luz,
não levou em consideração a cobertura metálica da quadra esportiva nem
a pintura branca feita nos vidros das janelas pivotantes das salas do 2°

47
pavto. Assim, o diagrama morfológico avalia as condições de conforto
oferecidas pelo projeto arquitetônico em si, e não a situação atual.
A cobertura metálica da quadra esportiva está posicionada
paralelamente às aberturas das salas de aula do 1° pavto, e protege a
maioria dessas aberturas com sua generosa sombra nos horários em o sol
incide nelas, ou seja, principalmente na parte da manhã.
Quanto às janelas pivotantes das salas do 2° pavimento, a questão
foi resolvida no decorrer do uso. Essas aberturas, orientadas a sudeste
não possuíam tipo algum de proteção solar, e a luz no sol no interior das
salas de aula provavelmente gerava incômodos como ofuscamento ou
calor. A pintura branca transformou a janela original numa prateleira de
luz.

Fotografias 4.9 e 4.10: “Prateleira de luz” direcionando a luz para o interior.

Segundo Viana & Gonçalves (2007), a incorporação de prateleiras de


luz é uma boa alternativa para se otimizar a quantidade e a distribuição
da luz natural no interior das escolas.
Quanto ao ofuscamento no plano da lousa, os autores comentam
que ele pode ser evitado quando existe uma distância entre o plano da
lousa e o canto da sala, ou a lateral da janela até o canto da sala. Todas
as salas da EIMH se encontram de acordo com a recomendação dada.

48
4.5 MÁSCARAS DE SOMBRA

Para os estudos da insolação através das máscaras de sombra foram


selecionadas as salas 06, no 1° pavimento, e a sala 09, no 2° pavimento,
pela representatividade da geometria e orientação de suas aberturas em
relação ao conjunto de salas da EIMH.

Sala 06:

As imagens a seguir apresentam as sombras produzidas pelas


obstruções do entorno imediato num ponto central das faces noroeste e
sudeste da sala 06.

Figuras 4.3 e 4.4: Máscaras de sombra da Sala 06.


Orientação Noroeste e Sudeste respectivamente.

O sombreamento da fachada noroeste traz benefícios quase que


exclusivamente do ponto de vista do conforto térmico, visto que o
corredor coberto de acesso à sala 06 reduz a insolação nas superfícies
dessa fachada. A única abertura nessa orientação é a porta de madeira,
completamente opaca, e um pequeno vidro fixo (visor) na sua parte
superior.
Constata-se também a pouca eficiência do beiral na fachada
sudeste, visto que o volume da própria arquitetura faz o sombreamento
da região correspondente ao sombreamento oferecido pelo beiral.
A cobertura da quadra apresenta-se como importante elemento
sombreador das aberturas orientadas a sudeste (interior do pátio);

49
Sala 09:
As imagens abaixo apresentam as sombras produzidas pelas
obstruções do entorno imediato num ponto central das faces noroeste e
sudeste da sala 09.

Figuras 4.5 e 4.6: Máscaras de sombra da Sala 09.


Orientação Noroeste e Sudeste respectivamente.

A máscara da imagem 4.5 confirma a eficiência do corredor coberto


orientado a noroeste, que sombreia as aberturas desse lado nos horários
mais quentes do dia ao longo do ano.
O sombreamento oferecido pela cobertura da quadra corresponde a
aproximadamente os horários de 17h às 18h no verão e 15h às 17h no
inverno. Contudo esconde boa parte da abóbada celeste, privando essas
aberturas da luz difusa proveniente dela.
Na fachada sudeste, o beiral se posiciona muito acima da abertura,
gerando um sombreamento bastante reduzido. A “prateleira de luz” não
se constitui um elemento de sombreamento total importante, ou seja, não
representa proteção térmica para a fachada, entretanto direciona boa
parte da luz da abóbada celeste para o ambiente interno, fazendo a
refletir no teto branco, principalmente nos períodos da manhã ao longo do
ano.

4.6 SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

As simulações da iluminação natural são feitas para o solstício de


verão (21 de dezembro) e de inverno (21 de junho), nos horários de 9h,
12h e 15h, com céu claro.
50
As salas selecionadas possuem dimensões de 800x600cm e pé-
direito correspondente a 350cm, dimensões padrão para todas as salas
dessa escola. Para os pisos, paredes e tetos, são adotados os índices de
reflexão padrão do software, que correspondem a 30%, 50% e 70%,
respectivamente. Os níveis de iluminação são medidos à altura de um
plano de trabalho a 75cm do piso, correspondente ao plano das carteiras
dos alunos.
Ainda que a iluminação natural seja condicionada a uma série de
variáveis, considerou-se na simulação apenas as interferências relativas à
sua própria arquitetura. O entorno da escola foi desconsiderado, visto que
as massas de vegetação e as questões urbanas não são pertinentes
devido à complexidade de suas transformações.
A escala de cores a seguir é adotada a fim de facilitar a identificação
dos momentos em que há maior probabilidade de haver conforto luminoso
no interior dos ambientes simulados, segundos os referenciais relativos à
quantidade de iluminação recomendada por Lopes (2006) para ambientes
escolares e a distribuição da iluminação recomendada por Souza (2006).

Quadro 4.2: Escala de cores e valores para os níveis


de iluminância e índice de diversidade.

Para facilitar a identificação dos momentos em que há bons níveis


de conforto luminoso no interior das salas, considera-se que tanto o índice
de diversidade quanto a média da iluminância devam ser conceituados
como: amarelo e amarelo, verde e amarelo, amarelo e verde, ou verde e
verde, respectivamente.

51
As simulações são feitas em três condições diferentes, para cada
sala, a saber:
Condição A: As salas são simuladas sem qualquer tipo elemento de
proteção solar, somente com as aberturas nas dimensões e forma
existentes. Os dados obtidos sob essas condições servem de base de
referência para as comparações com as simulações posteriores;
Condição B: As salas são simuladas com os elementos de controle
solar existentes. Os dados permitem avaliar os níveis de iluminação
existentes e analisar a eficiência dos elementos de controle solar utilizados
no edifício em comparação com a condição A;
Condição C: É sugerida a instalação de um sistema de controle
solar complementar e/ou eventuais modificações nas aberturas
compatíveis com a tipologia utilizada no edifício, no intuito de aperfeiçoar
o aproveitamento da luz natural. A simulação dessa proposta de
otimização do uso na luz natural objetiva a verificação dos níveis de
iluminação obtidos no interior das salas e a avaliação da eficiência da
proposta em comparação com as condições A e B;

4.6.1 SALA 06. CONDIÇÃO A.


Sem qualquer elemento de controle solar.

‘O quadro abaixo apresenta os níveis de iluminação mínimo (Emín),


máximo (Emáx), médio (Emédia) e o índice de diversidade (Emáx/Emín)
obtidos no interior da sala 06 por meio de simulações, sob a condição A,
ou seja, caso não houvesse estratégia alguma de proteção solar.

Quadro 4.3: Resumo das iluminâncias da sala 06, condição A.

52
Nessas condições, verifica-se que apesar das Emín estarem
próximas dos níveis adequados, as Emáx estão realmente excessivas,
elevando a Emédia a níveis considerados regulares e o índice de
diversidade a valores bastante inadequados na maioria dos momentos
simulados.

Figuras 4.7 e 4.8: Simulação da Sala 06, condição A,


dia 21 Dez às 9h e 15h, respectivamente.

Figuras 4.9 e 4.10: Simulação Sala 06, condição A,


dia 21 Jun às 9h e 15h, respectivamente.

Caso não existissem a cobertura da quadra esportiva e o corredor


coberto _principais elementos sombreadores da sala 06 _ haveria luz de
sol direta no interior desse ambiente em grande parte dos momentos do
dia, assim como mostram as imagens 4.7, 4.8, 4.9 e 4.10. Os horários de
melhor conforto luminoso seriam próximos do meio-dia, justamente no
momento em que há a troca de turno e as salas não são utilizadas.
Isso acontece por conseqüência da orientação noroeste/sudoeste
das aberturas, conforme visto anteriormente no gráfico das máscaras de
sombra: os momentos em que o sol está mais próximo do zênite
possibilitam uma iluminação interior um pouco mais homogênea; as
manhãs e tardes ao longo do ano apresentariam sérios problemas de
distribuição da luz.

53
4.6.2 SALA 06. CONDIÇÃO B.
Com elementos de controle solar existentes.

Os elementos de controle solar considerados nas simulações da sala


06 são:
- corredor coberto e grelha de madeira na orientação noroeste;
- beiral na fachada sudeste, voltada para o interior do pátio;
- a sombra da própria arquitetura, ou seja, a cobertura da quadra
no centro do pátio e o volume construído.
O quadro a seguir apresenta os níveis de iluminação da Sala 06 sob
a condição B existente hoje na escola.

Quadro 4.4: Resumo das iluminâncias da sala 06, condição B.

O sombreamente oferecido pela própria arquitetura da escola e os


elementos de controle solar existentes na sala 06 trazem consideráveis
benefícios ao conforto luminoso no interior das salas. A sala apresenta
bons níveis de conforto luminoso em 50% dos momentos simulados.
Porém, ainda assim, as manhãs de verão e as tardes de inverno
apresentam elevados índices de diversidade e níveis de iluminância no
interior das salas, aumentando-se a probabilidade de se obter
ofuscamento, sendo considerados inadequados.
As imagens a, b e c mostram os momentos em que as janelas à
esquerda e o visor sobre a porta (direita) permitem a entrada da luz
direta do sol no ambiente. O problema causado pela ausência de
elementos de controle solar junto às aberturas, inicialmente apontado

54
pelo Diagrama Morfológico como passível de modificação, é confirmado
pelas simulações.

Figuras 4.11 e 4.12: Simulação da Sala 06, condição B,


dia 21 de Jun às 9h e 15h, respectivamente.

Figuras 4.13 e 4.14: Simulação da luz e representação das luminâncias


em cores falsas. Sala 06, condição B, 21 de Dez às 9h.

A imagem 4.14 apresenta os níveis de luminâncias do ambiente sob


a representação de cores falsas, ou seja, uma escala de medida do brilho
emitido por cada superfície da sala de aula em direção ao olho humano. O
contraste oferecido por essa diferença de luminâncias é causada pela
entrada da luz direta do sol no ambiente. Tal fato oferece risco de
ofuscamento indireto na medida em que o olho do aluno percebe a
superfície branca de sua carteira refletindo a luz do sol.

55
4.6.3 SALA 06. CONDIÇÃO C.
Proposta de otimização do uso da luz natural

No intuito de oferecer melhorias no nível de conforto luminoso na


sala 06, são propostas as seguintes alterações:
1. A retirada do visor da porta de entrada orientada a noroeste ou a
pintura de seus vidros. Tal abertura foi apontada anteriormente como
passível de modificação por permitir a entrada da luz nas tardes de
inverno;
2. A instalação de brises opacos verticais e horizontais nas aberturas
voltadas a sudeste (pátio interno), cobrindo ângulos de 45° tanto na
vertical quanto na horizontal. Isso quer dizer lâminas verticais de 15cm de
largura a cada 15cm, e lâminas horizontais de 20cm de largura a cada
20cm. As lâminas propostas são opacas e possuem altos índices de
refletância (70%), para que funcionem como uma série de prateleiras de
luz;
3. A abertura de um novo vão, horizontal e próximo ao teto na
parede oposta às janelas existentes, a fim de melhorar a distribuição da
luz. Esse vão é voltado para o corredor coberto de acesso às salas, que
funciona como elemento de controle solar para a nova abertura,
sombreando-a em todos os momentos simulados;

Figura 4.15: Brises horizontais e verticais propostos para as janelas da sala 06


Figura 4.16: Interior da sala 06 com a nova abertura à direita.

O quadro a seguir apresenta os níveis de iluminação obtidos na Sala


06 sob a condição C:

56
Quadro 4.5: Resumo das iluminâncias da sala 06, condição C.

Para atestar sua real necessidade, também foram realizadas


simulações sem a inclusão dessa nova abertura. Tais simulações
demonstraram que a sala não atinge os níveis mínimos de iluminação
recomendados em importante parte do tempo, sugerindo que o sistema
de iluminação artificial seria acionado com mais freqüência.
A iluminação natural “quando provinda de um só lado, causa um
problema de distribuição da luz, que decresce rapidamente com a
profundidade do cômodo”. (CORBELLA & YANNAS, 2003). Quando isso
ocorre, existe a necessidade de complementação com outro sistema de
iluminação. Como o objetivo é dotar o ambiente escolar de luz natural, a
fim de prover o ambiente de conforto luminoso e diminuir a demanda por
energia, optou-se por criar a nova abertura. Essa abertura proverá o
ambiente também dos benefícios da ventilação, recomendados por FROTA
& SHIFFER (2003) para regiões de clima quente e úmido.
Em relação à carga térmica, Bertolotti cita Moore, que enfatiza o
fato de "a luz natural, tanto a direta como a difusa do céu, produz menos
calor por unidade de energia que as lâmpadas elétricas disponíveis
comercialmente.“ Assim, uma nova abertura trará o máximo de luz com o
mínimo acréscimo de energia térmica possível no interior da sala de aula.
Essa proposta de alteração permite alcançar níveis adequados de
conforto luminoso em 100% dos momentos simulados. As imagens abaixo
mostram em escalas de cinza a distribuição das iluminâncias no interior da
sala 06 nos momentos simulados. (Ver Apêndice 1).

57
Figuras 4.17 e 4.28: Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C,
dias 21 Dez e 21 Jun às 9h.

Figuras 4.29 e 4.20: Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06, condição C,
dias 21 de dezembro e 21 de junho às 12h.

Figuras 4.21 e 4.22: Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 06,


condição C, dias 21 de dezembro e 21 de junho às 15h.

58
4.6.4 SALA 09. CONDIÇÃO A.
Sem qualquer elemento de controle solar

O quadro abaixo apresenta os níveis de iluminação obtidos no


interior da sala 09 por meio de simulações, sob a condição A, ou seja,
caso não houvesse estratégia alguma de proteção solar.

Quadro 4.6: Resumo das iluminâncias da sala 09, condição A.

Verifica-se, sob essas condições, que todos os momentos simulados


estão fora dos limites recomendados, com a maioria das iluminâncias
médias além do ponto de saturação (2000lux), indicados por Vianna &
Gonçalvez (2007) como limite a partir do qual não são obtidas melhorias
visuais com o incremento da iluminância.
Para essa orientação não basta que um ambiente apresente
aberturas em seus lados opostos para que ofereça homogeneidade e bons
níveis de iluminação; é preciso dotá-las de dispositivos de controle solar a
fim de evitar a entrada da luz direta, responsável pelas iluminâncias
excessivas, altos índices de diversidade e calor.

Figuras 4.23 e 4.24: Simulação Sala 09, condição A,


dia 21 Dez às 9h e 15h, respectivamente.

59
Figuras 4.25 e 4.26: Simulação Sala 09, condição A,
dia 21 Jun às 12h e 15h, respectivamente.

4.6.5 SALA 09. CONDIÇÃO B.


Com elementos de controle solar existentes

Os elementos de controle solar existentes na sala 09 são:


- corredor coberto e grelha de madeira na orientação noroeste;
- pequeno beiral na fachada sudeste e a nova “prateleira de luz”;
- a sombra da própria arquitetura, ou seja, a cobertura da quadra
no centro do pátio e o volume construído.

O quadro a seguir apresenta os níveis de iluminação obtidos no


interior da sala 09 por meio de simulações, sob a condição B. Na
modelagem da sala é considerada também a alteração que transformou a
janela pivotante em “prateleira de luz”, pois ainda que ela não tenha sido
prevista na fase de projeto, essa condição representa a situação existente
em sala de aula.

Quadro 4.7: Resumo das iluminâncias da sala 09, condição B.

60
De maneira similar ao que acontece na sala 06 (devido à mesma
orientação), quando comparados os quadros das condições A e B da sala
09, é possível constatar que os elementos de controle solar existentes
nessa sala são eficientes em aproximadamente 50% do tempo, ou seja,
durante metade do tempo a sala de aula oferece conforto luminoso a seus
usuários. A outra metade fica prejudicada, seja pelo excessivo nível médio
de iluminação, seja pela ausência de homogeneidade na distribuição da
luz.
O dia 21 de junho às 15h, por exemplo, mostra um momento em
que os níveis de iluminação médios são excessivos (além do ponto de
saturação) e o índice de diversidade próximo do limite aceitável, fato que
potencializa a possibilidade de ofuscamento. Nessa hora, a luz direta do
sol aparece no interior do ambiente, como é possível verificar nas imagens
abaixo.

Figuras 4.27 e 4.28: Simulação da luz e representação das luminâncias em


cores falsas. Sala 06, condição B, 21 de Junho às 15h.

A entrada da luz atesta que para essa orientação o corredor coberto


não constitui um elemento de controle solar eficiente para todos os
momentos do dia e do ano, sendo a ausência de um dispositivo mais
eficiente identificada como passível de melhorias
As imagens a seguir mostram em escalas de cinza a distribuição das
iluminâncias no interior da sala 06 nos momentos considerados mais
desconfortáveis da condição B.

61
Figuras 4.29 e 4.30: Simulação da distribuição das iluminâncias, Sala 09, condição B, céu
claro, dia 21 Dez às 9h e dia 21 de Jun às 15h, respectivamente.

4.6.6 SALA 09. CONDIÇÃO C.


Proposta de otimização do uso da luz natural

No intuito de oferecer melhorias no nível de conforto luminoso na


sala 09 é proposta a inclusão de brises horizontais nas aberturas de
ambos os lados, cobrindo um ângulo de 64°. As lâminas propostas são
opacas, com 70% de índice de reflexão e larguras de 20cm, posicionadas
a cada 10cm.
Os brises são propostos com o objetivo de impedir a entrada da luz
direta do sol, ao mesmo tempo em que suas lâminas funcionam como
uma série de prateleiras de luz. É proposta também a remoção da pintura
dos vidros das aberturas junto ao teto à sudeste.

Figuras 4.31 e 4.32: Brises horizontais propostos para as janelas da sala 09

62
O quadro a seguir apresenta os níveis de iluminação obtidos na Sala
06 sob a condição C:

Quadro 4.8: Resumo das iluminâncias da sala 09, condição C.

A instalação dos brises propostos permite oferecer conforto luminoso


dentro da sala 09 na totalidade dos horários simulados. Abaixo seguem as
imagens da distribuição das curvas de iluminância em escala de cinza nos
momentos identificados desconfortáveis na condição B e corrigidos na
condição C com a instalação dos brises. (Ver Apêndice 2).

Figuras 4.29 e 4.33: Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09, dia 21 de
dezembro às 9h, condições B e C, respectivamente.

63
Figuras 4.30 e 4.34: Simulação da distribuição das iluminâncias na sala 09,
dia 21 de junho às 15h, condições B e C, respectivamente.

64
CAPÍTULO V: RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma análise inicial do edifício, permitida pelo diagrama morfológico,


não apontou características ou atributos específicos no projeto
arquitetônico que sozinhos sejam avaliados como um problema para o
conforto luminoso em sala de aula, exceto o fato de que algumas
aberturas não possuem elementos de controle solar.
Algumas dessas aberturas receberam alterações posteriores, ao
longo da utilização das salas, confirmando na prática a necessidade de
dispositivos de proteção solar, apontada inicialmente pelo diagrama
morfológico. Essas alterações somadas aos dispositivos previstos em
projeto mostraram ser eficazes em apenas 50% dos momentos simulados
para as duas salas. É importante comentar a importância que
representam atualmente, visto que, se não existissem, as salas não
ofereciam conforto luminoso em 80% a 100% dos momentos estudados.
Entretando, as simulações indicam que a instalação de brises nas
aberturas existentes pode potencializar o uso da iluminação natural, com
conseqüente diminuição da necessidade de acionamento da iluminação
artificial complementar durante o dia. Em alguns ambientes a abertura de
novos vãos traria, além dos benefícios mencionados, a possibilidade de
incremento da ventilação, recurso importante para a aquisição de conforto
térmico em regiões de clima quente e úmido como Vitória.
Por meio das simulações, a proposta mostrou ser possível a
obtenção de conforto luminoso em 100% dos momentos simulados, sem a
exigência de grandes transformações das estrutras existentes.
Ainda que os conceitos de conforto luminoso e os dispositivos de
controle de entrada da luz natural aqui discutidos já sejam conhecidos há
muito tempo, a não utilização dos mesmos no projeto original da escola
denota dificuldade ou inaptidão dos projetistas em trabalhar com luz
natural no ambiente escolar.

65
CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES

A investigação da eficiência dos dispositivos de controle solar e a


proposição de recursos que otimizam o uso da luz natural pode ajudar as
escolas a funcionar em edifícios mais adequadamente adaptados ao clima
da região em que se instalam, no intuito de elevar o desempenho dos
usuários, proporcionar melhores condições ambientais e contribuir para a
eficiência energética do edifício.
A discussão levantada pelo problema da iluminação natural no
interior das salas de aula também pode ser estendida às demais
dependências escolares como salas dos professores, biblioteca, refeitório,
cozinha, obviamente observados os requisitos de iluminação específicos
de cada ambiente. Também vários edifícios destinados a outros usos como
escritórios, auditórios, indústrias apresentam dificuldades semelhantes
quanto ao aproveitamento da luz natural, sendo felizmente objeto de
vários trabalhos e pesquisas no cenário atual.
Pela eficiência demonstrada na aquisição de conforto luminoso no
interior dos ambientes e pela facilidade de instalação que apresentam os
dispositivos de controle solar comentados, o presente trabalho se mostra
relevante e direcionado a objetivos urgentes, como a melhoria do ensino
no país e o potencial de redução da demanda por energia nos edifícios em
geral.

66
BIBLIOGRAFIA

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Luminotécnicos, Universidade Castelo Branco, 2007.
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na Região de Brasília, 1998. 147p. Dissertação de Mestrado. Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília. Brasília, 1998.
AMORIM, C.N.D. Diagrama Morfológico - Parte I. Instrumento de
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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília.
AMORIM, C.N.D. Diagrama Morfológico - Parte II. Projetos
Exemplares para a Luz Natural: Treinando o olhar e criando repertório.
Paranoá, Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, n°3, 2007. Programa de
Pesquisa e Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de Brasília.
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Software desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações
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BERTOLOTTI, Dimas. Iluminação Natural em Projetos de Escolas:
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BLANCO, Mônica Andréa. O conforto luminoso como fator de inclusão
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Distrito Federal, 2007. 255 p. Dissertação de mestrado. Faculdade de
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67
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Site da Prefeitura de São Paulo. Galeria de Fotos. Acesso em 08 de junho de
2009.

68
APÊNDICE 1: RESULTADOS SIMULAÇÃO
PROPOSTA SALA 06

69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
APÊNDICE 2: RESULTADOS SIMULAÇÃO
PROPOSTA SALA 09

81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
ANEXO A: DIAGRAMA SOLAR
LATITUTE DE 20° SUL

93
ANEXO B: DIAGRAMA MORFOLÓGICO

94
95
96

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