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DO TEXTO NÃO LITERÁRIO AO TEXTO LITERÁRIO

VEROSÍMIL/INVEROSÍMIL
FANTÁSTICO / FICÇÃO / VERÍDICO

Lê estes textos em que participam animais.


1. Qual deles representa uma situação que «de facto» aconteceu?
2. Qual deles corresponde a uma situação que só pode aceitar-se no
domínio da imaginação?
3. O Texto 2 pode aceitar-se integrado numa «fábula»?
4. Explique em que consiste a anedota (texto 2).

PARA SABER
Verídico, ad. verdadeiro, autêntico, que não é falso.
Verosímil, adj. que aparenta ser verdadeiro, que não repugna acreditar,
provável.
Fantástico, adj. criado pela fantasia, imaginário, incrível.
Ficção, s. f. invenção fabulosa ou engenhosa.
Dos Dicionários

PARA SABER MAIS


IMAGINAÇÃO — Latim imaginatione(m), imaginação, fantasia.
«...a imaginação era considerada genericamente, até ao século XVIII,
actividade menor, inferior à Razão ou a ela subordinada. Com a reforma
romântica, a ideia de conferir-lhe função activa e criadora entrou em voga
e, apesar dos altos e baixos, manteve-se até aos nossos dias. Kant e
Schelling trataram-na de modo especial, segundo a perspectiva filosófica,
mas deve--se a Schiller, Jean Paul Richter e sobretudo a Wordsworth e
Coleridge a importância literária que veio a ostentar. Os dois últimos,
notadamente o segundo, procuraram estabelecer uma distinção, que se
tornaria famosa, entre imaginação e fantasia. A seu ver, a imaginação
consiste na faculdade de unificar todas as coisas, de harmonizar os
contrários, de recriar, de idealizar, de uniformizar; enquanto a fantasia é
«faculdade acumuladora, associadora», trabalha com as coisas fixas e
definidas, não passando, por conseguinte, de «uma forma de memória,
emancipada do tempo e do espaço».
(...)
O vocábulo «fantasia», de origem grega, que os latinos substituíram por
imaginatio, aponta para um tipo de actividade mental limítrofe do sonho e
da magia, ao passo que a imaginação semelha a actividade mental de tipo
superior: a fantasia conota «devaneio», a caprichosa associação de
imagens, desobediente aos nexos lógicos, ou construída ao sabor de uma
lógica inconsciente, primária; em contrapartida, a imaginação constitui um
modo de ser coerente de nosso mundo mental, e, portanto, um mecanismo
de investigação e conhecimento da realidade. A fantasia consistiria numa
imaginação criadora ou inovadora, própria das Artes, e a imaginação
propriamente dita seria reprodutora, afecta às demais áreas do saber
humano; a primeira classificar-se-ia de imaginação difluente, na medida em
que tende a desgarrar-se do real, e a outra seria a imaginação plástica,
visto que se caracteriza por aproximar-se do real tanto quanto possível
através da linguagem. A ficção gótica exemplificaria o emprego maciço de
fantasia, ou imaginação difluente, e a prosa realista, a imaginação
plástica».

Massaud Moisés Dic. Termos Literários (adapt.)

1. Seguem-se dois textos, um dos quais é inverosímil. Identifica-o e diz em


que baseaste a tua escolha.

Texto 1

A migração das aves

«A andorinha, mais do que qualquer


outra espécie, simboliza este instinto
migratório, simultaneamente espantoso
e complexo.
Reproduz-se na Europa, Ásia, África do
Norte e América do Norte e passa o
Inverno no hemisfério Sul. Voando de
dia e alimentando-se em pleno voo, as andorinhas da Europa parecem
preferir pequenos trajectos marítimos, como o estreito de Gibraltar,
dirigindo-se para o Sul pela orla do deserto do Sara.
Na primavera, a viagem de regresso é mais directa: muitas destas aves
atravessam o deserto do Sara em vez de o contornar e cruzam o
Mediterrâneo numa frente bastante ampla.»

in Grande Atlas Mundial, Selecções do Reader’s Digest

Texto 2
A Andorinha e a Violeta

«Tu cais!... Tu cais!... — Dizia a violeta à andorinha, que estava pousada


nos fios do telégrafo ao longo da estrada.
A violeta vivia de pés plantados na terra, junto ao tronco de um velho
plátano. Ali nascera por acaso, e nunca dali saíra.
Fazia-lhe confusão ver a andorinha tão alto, em equilíbrio nos fios do
telégrafo, como uma nota de música escrita numa pauta.
- Não caio! Tenho muita prática - respondeu a andorinha. - Apetece-me
descansar de vez em quando nestes fios. E, se não estivesse com tanta
pressa, ia passeando por eles adiante, como um artista de circo, vestidinha
com este fato de seda preto e branco, bem cingido ao corpo. Mas é mais
fácil voar.
- Voar, quem me dera! - disse com tristeza a violeta. Até admira que, tendo
asas, a D. Andorinha pouse os pés, ainda que seja para descansar, nos fios
do telégrafo.
- Não é só para descansar! Aqui ouvem--se coisas. Sabe que é por estes
fios que passam os telegramas? Gosto de me inteirar do que vai pelo
mundo. Estive tanto tempo foral...»

Ricardo Alberty, A Galinha Verde

2. Conta uma pequena história verídica que se tenha passado contigo.

3. Escreve uma pequena história fantástica que tenhas ouvido em casa ou


aos amigos.

4. Indica duas ou três histórias de ficção científica que tenhas lido ou visto
na TV.

5. Por que razão alguns escritores escrevem estas frases logo no início da
obra?
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.

6. A nossa literatura oral é rica em contos e lendas. Recolhe quatro de


entre aqueles de que mais gostas.
Classifica-os de acordo com o que acabas de estudar.

7. Comenta este fragmento de Fernando Namora, tendo em conta a


oposição verosímil/inverosímil.

Um dia, Matilde disse-me:


«Enfadam-me as tuas estórias. Todas poderiam ter acontecido».
«E isso é um defeito?», repliquei, um tanto amuado.
«Para mim, é. Prefiro coisas inverosímeis, incomuns.»
«Mas as coisas inverosimeis onde acontecem é na vida. A literatura tem uma
lógica, a vida tem outra.»
«Pois experimenta misturá-las. Talvez te dê o mesmo resultado de quando se
cruzam as linhas telefónicas e nos pomos a escutar uma conversa alheia que nos
revela insolitamente uma outra gente e um outro mundo. E, no entanto, esse
mundo é o nosso, essa gente somos nós.»
Cismei um pedaço naquilo e, por fim, anui.
«Vou tentar. Depois telefono-te».
Meses passados, disquei o número de Matilde.

8. Explica, sob a mesma perspectiva, os versos 3 e 4 da primeira estrofe de


«Leão Moribundo» de João de Deus.

Achou-se um dia o rei dos animais


Por velhice ou doença moribundo,
E (há casos neste mundo
Incríveis, mas reais...)
Quem dantes mais solícito o servia,
Ë que às portas da morte o injuria!
[…]

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