You are on page 1of 134

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

FLÁVIO AUGUSTO CELLA DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS UTILIZADOS NA


PRODUÇÃO DE LEITE CONCENTRADO, NA INDÚSTRIA CONFEPAR
AGRO-INDUSTRIAL COOPERATIVA CENTRAL, UNIDADE DE PATO
BRANCO, PR

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATO BRANCO
2009
FLÁVIO AUGUSTO CELLA DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS UTILIZADOS NA


PRODUÇÃO DE LEITE CONCENTRADO, NA INDÚSTRIA CONFEPAR
AGRO-INDUSTRIAL COOPERATIVA CENTRAL, UNIDADE DE PATO
BRANCO, PR, BR

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação,


do Curso Superior de Administração do Departamento
Ciências e Engenharias – DECEN – da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Augusto Faber Flores

PATO BRANCO
2009
DEDICATÓRIA

À todos pesquisadores interessados na problemática da gestão de


de recursos hídricos; que esta pesquisa possa servir de base para
futuros estudos mais aprofundados.
AGRADECIMENTOS

Presto meus agradecimentos a pessoas que sem as quais a realização deste


trabalho jamais teria sido possível, não necessariamente nesta ordem:
- A Confepar Agro-Industrial Cooperativa Central por permitir a realização
desta pesquisa, além de ter estado sempre de portas abertas a me receber, e
fornecer informações;
- A Alexandre Ribeiro Ferreira Silva, Supervisor industrial da Confepar,
unidade Pato Branco, que intermediou o contato com a empresa, além de estar
sempre a disposição, apoiando e contribuindo com a realização do trabalho;
- A Everton Pizato, Responsável técnico pela Estação de Tratamento de
Efluentes da Confepar, unidade de Pato Branco, que acompanhou a realização da
pesquisa, estando sempre disposto, e contribuindo com o levantamento e
organização dos dados;
- A Prof.ª Denise Rauber, minha orientadora inicial, que sempre esteve pronta
a me atender, e ajudar na elaboração do trabalho, e por sua imensa dedicação na
constante correção do mesmo;
- Ao Prof. Augusto Faber Flores, por ter aceitado assumir a orientação do
trabalho, e ter contribuído para a conclusão do mesmo;
- A Prof. Maria de Lourdes Bernartt, pela correção do trabalho;
- Ao Curso de Administração da UTFPR, os professores e colegas que
fizeram parte da minha passagem por esta instituição.
“Existem vários modos de trabalhar para a sustentabilidade da
água, não através da tentativa de se produzir mais, mas utilizando-a
em menores quantidades de maneira muito mais eficiente”
(MEADOWS, 2007).
RESUMO

A água é o recurso natural mais abundante no Planeta Terra, e também vital a vida
no planeta, e a muitos processos criados pelo homem. No Brasil a água sempre foi
vista como um bem público, onde todos têm direito ao mesmo. A Lei Federal
9.433/07 organiza seu uso e sua proteção direcionando o Plano Nacional de Gestão
dos Recursos Hídricos. Na indústria, este recurso é empregado em larga escala para
diversas atividades. Segundo a bibliografia a indústria alimentícia é a maior
consumidora de água, e a produção de leite em pó apresenta as maiores faixas de
consumo. Assim o objetivo geral deste trabalho foi a análise da gestão de recursos
hídricos, no processo produtivo, da Confepar Agro-industrial Cooperativa Central,
localizada em Pato Branco-PR, empresa produtora de leite concentrado, quanto aos
aspectos ambientais, econômicos e sociais. A pesquisa foi realizada através de
visitações supervisionadas a empresa, entre o período de março a agosto de 2009,
sendo, portanto um estudo quantitativo em virtude da contextualização da indústria,
e a busca de bibliografias, entretanto, a análise dos dados forneceram uma
perspectiva qualitativa. A empresa não possuía um plano formal de gestão ambiental
e de recursos hídricos, dificultando a pesquisa devido a ausência de alguns dados.
Assim requereu-se da pesquisa a analise de todos os pontos de consumo, o que
possibilitou também a percepção de alguns pontos do processo que necessitam de
reavaliação, visando o uso mais eficiente da água. Devido aos poucos equipamentos
de medição também não foi possível estabelecer com precisão a demanda de água
da atividade produtiva, sendo formulada uma estimativa deste consumo. Chegou-se
ao valor de 3,22 litros de água por litro de leite concentrado produzido.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão ambiental. Gestão de recursos hídricos. Leite em pó.


Leite concentrado.
ABSTRACT

Water is the most abundant natural resource on Earth, and also a vital for life, and
many industrial processes. In Brazil, the water has always been seen as a public,
where all have the same right. The Federal Law 9.433/07 organizes the water uses
protection establishing the National Plan for Water Management. In industry, the
water is used for various activities. According to the literature the food industry is the
largest consumer of water, and the production of milk powder has the highest
consumption ranges. The overall objective of this study was to examine the
management of water resources in the production process of Confepar Agro-
Industrial Cooperativa Central, located in Pato Branco-PR, company that realize the
process of concentrated milk, on the environmental, economic and social aspects.
The survey was conducted in the company through supervised visitations, that
occurred between the period March to August 2009. The survey is quantitative
because of the industry contextualization, and the search of bibliographies, however,
was qualitative too, because of the analysis of data. The company did not had a plan
of environmental management and water resources, making it difficult to search due
to lack of some data. It was been necessary identify all points of water consumption,
which also allowed the perception of parts of the process they need a detailed
analyse for a most efficient use of water. The measuring water equipment of the
organization, is not a exact equipment. Because of it, was not possible to pinpoint the
water demand of the productive activity. The survey made an estimate of
consumption, that resulted a value of 3.22 liters of water per liter of milk concentrate
produced.

KEY-WORDS: Environmental management. Water resources management. Powder


milk. Concentrated milk.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: As 12 regiões hidrográficas do Brasil....................................................17


Ilustração 2: Gráfico da demanda industrial de água por regiões hidrográficas do
Brasil. ........................................................................................................................32
Ilustração 3: Modelo de gestão ambiental objetivando a melhoria contínua. ............ 36
Ilustração 4: Organograma da estrutura organizacional da empresa –
Matriz/Londrina-PR. .................................................................................................. 52
Ilustração 5: Organograma da estrutura organizacional da empresa – Unidade Pato
Branco-PR ................................................................................................................. 57
Ilustração 6: Fluxograma da cadeia produtiva. ..........................................................64
Ilustração 7: Composição média do leite. .................................................................. 65
Ilustração 8: Laboratório de análises do leite. ...........................................................67
Ilustração 9: Sistema de filtragem de leite. ................................................................68
Ilustração 10: Silos de armazenagem de matéria prima............................................ 68
Ilustração 11: Esquema representativo do resfriador. ............................................... 69
Ilustração 12: Resfriador de leite. .............................................................................. 69
Ilustração 13: Evaporador instalado na empresa; fabricado pela empresa APV An
SPX Brand................................................................................................................. 71
Ilustração 14: Balão de armazenagem de leite concentrado..................................... 72
Ilustração 15: Fluxograma da produção. ................................................................... 73
Ilustração 16: Modelo de caldeira da marca EIT, do tipo flamatubular com um passe
de chamas, horizontal, movida a lenha, com capacidade para 3.500 Kg/h............... 75
Ilustração 17: Alpina. ................................................................................................. 77
Ilustração 18: Bombas do evaporador, detalhando o processo de resfriamento. ...... 78
Ilustração 19: Local onde é realizada a primeira lavagem dos caminhões................ 79
Ilustração 20: Esquema representativo da caixa de separação de barro e óleo. ...... 80
Ilustração 21: Fotografia da caixa de separação de barro e óleo. .............................80
Ilustração 22: Bomba de sucção de leite para descarregamento dos caminhões.. ... 81
Ilustração 23: Vista geral da ilha de recepção de matéria prima. ..............................81
Ilustração 24: Medidor de vazão instalado na entrada da ETE. ................................84
Ilustração 25: Gráfico de origem dos efluentes. ........................................................86
Ilustração 26: Detalhamento do transbordamento da calha de captação de água na
ilha de recepção de matéria prima. ........................................................................... 94
Ilustração 27: Detalhamento do processo de CIP adotado antes após análise......... 94
Ilustração 28: Exemplo de boas práticas na utilização de mangueiras para
higienização dos caminhões. .................................................................................. 101
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Parâmetros hidrológicos da regiões hidrográficas brasileiras. .................. 17


Tabela 2: Consumo de água em algumas indústrias do mundo................................28
Tabela 3: Uso de água nas regiões hidrográficas brasileiras. ................................... 31
Tabela 4: Composição média do leite de vaca. .........................................................65
Tabela 5: Quantidade de matéria prima recebida (em litros)..................................... 69
Tabela 6: Detalhamento do cálculo realizado para identificação da quantidade de
água por unidade de produto final. ............................................................................ 87
Tabela 7: Comparação entre as quantidade de água demandadas por produto final
de alguns produtos laticínios apresentados por Leeden (1990) e os resultados
obtidos por esta pesquisa..........................................................................................87
Tabela 8: Dados mensais de consumo de água por setor. ....................................... 90
Tabela 9: Planilha de custos da ETE. ....................................................................... 96
Tabela 10: Composição do custo total do m3 de água. ............................................. 97
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Principais categorias de uso da água. ......................................................22


Quadro 2: Vazões dos poços. ...................................................................................73
Quadro 3: Descrição da origem dos efluentes. .........................................................85
Quadro 4: Exemplo de como foram realizadas as médias da tabela do Apêndice C.
.................................................................................................................................. 87
Quadro 5: Custos considerados para elaboração do valor do tratamento de
efluentes. ...................................................................................................................95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agência Nacional de Águas


CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
ETE - Estação de Tratamento de Efluentes
IPAGUAS - Instituto de Águas do Paraná
ONU - Organização das Nações Unidas
PNRH - Plano Nacional de Recursos Hídricos
SAG - Sistema Aqüífero Guarani
SGA - Sistema de Gestão Ambiental
SNGRH - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SUDERHSA - Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
2. ÁGUA ....................................................................................................................14
2.1 FORMAS DE USO ..............................................................................................19
2.2 USOS MÚLTIPLOS .............................................................................................21
2.3 USO INDUSTRIAL ..............................................................................................24
2.4 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - SGA .......................................................32
2.5 PROGRAMA DE MELHORIA CONTÍNUA ..........................................................35
2.6 VALORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS ........................................................38
2.7 LEGISLAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ........................................................42
2.8 GESTÃO SOCIAL DA ÁGUA .............................................................................. 47
3. CONFEPAR .......................................................................................................... 50
3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA ................................................................................ 50
3.1.1 Missão, Princípios e Valores ............................................................................ 51
3.1.2 Estrutura Organizacional .................................................................................. 51
3.1.3 Política de cargos e salários ............................................................................. 52
3.1.4 Programas de qualidade .................................................................................. 53
3.1.5 Benefícios......................................................................................................... 54
3.2 A UNIDADE DE PATO BRANCO ........................................................................ 55
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................59
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 59
4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 59
4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DE PESQUISA ..........................................................61
4.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................................................61
4.5 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................62
5. ANÁLISE DE DADOS ...........................................................................................64
5.1 A CADEIA PRODUTIVA ......................................................................................64
5.2 PROCESSO PRODUTIVO .................................................................................. 65
5.3 A ÁGUA NO PROCESSO PRODUTIVO .............................................................73
5.3.1 Caldeira ............................................................................................................ 74
5.3.2 Sistema Alpina e Condensador ........................................................................ 76
5.3.3 Sistema Caixa de Gelo e Resfriador ................................................................77
5.3.4 Resfriamento de bombas ................................................................................. 78
5.3.4 Ilha de Recepção de Matéria Prima ................................................................. 78
5.3.5 Clean in Pleace - CIP .......................................................................................82
5.3.6 Outros usos ...................................................................................................... 83
5.4 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES – ETE ..................................... 83
5.5 ORIGEM DOS EFLUENTES ............................................................................... 85
5.6 QUANTIFICAÇÃO DOS USOS ........................................................................... 86
5.7 PROCESSO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS DA EMPRESA ............ 91
5.7.1 Reuso do condensado na caldeira ................................................................... 92
5.7.2 Reuso da água de resfriamento de bombas.....................................................92
5.7.3 Reuso da água da recepção ............................................................................ 93
5.7.4 Mudanças implementadas................................................................................ 93
5.8 ANÁLISE DO CUSTO DA ÁGUA UTILIZADO PELA EMPRESA ........................95
6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 99
6.1 SUGESTÕES IMPLEMENTADAS OU EM FASE DE IMPLEMENTAÇÃO.......... 99
6.2 DEMAIS SUGESTÕES .......................................................................................99
6.2.1 Lavagem de caminhões ...................................................................................99
6.2.2 Sala para motoristas....................................................................................... 100
6.2.3 Instalação de esguichos nas mangueiras de lavagem ................................... 100
6.2.4 Usar água descartada da caldeira pra lavar caminhões................................. 102
6.2.5 Substituição Medidor de Vazão ...................................................................... 103
6.2.6 Hidrômetro ilha de recepção de matéria prima ............................................... 103
6.2.7 Sistema de informações ................................................................................. 104
6.2.8 Sistema de gestão ambiental e de recursos hídricos ..................................... 104
6.2.9 Programa de conscientização ........................................................................ 105
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 107
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 111
APÊNDICES ........................................................................................................... 115
ANEXOS ................................................................................................................. 124
9

1. INTRODUÇÃO

A água é o recurso natural mais abundante no Planeta Terra, compreendendo


2/3 de sua composição. É também um recurso vital à vida no planeta, e a muitos
processos criados pelo homem.
No Brasil, a água sempre foi vista como um bem público, onde todos têm
direito ao mesmo, usando-o sem limites e sem comprometimento com a sua
preservação. Na tentativa de organizar esses usos e sua proteção foi estabelecida a
chamada Lei das Águas, a Lei 9.433, de 1997, que direciona e norteia o Plano
Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos.
Na indústria, este recurso é empregado em larga escala, seja como matéria
prima, ou auxiliando outros processos. A bibliografia aponta a indústria alimentícia
como a maior consumidora de água, e a produção de leite em pó com as maiores
faixas de consumo. Com base no exposto, surgiu o interesse em responder à
problemática sobre como são realizados a gestão e o controle do uso da água no
processo produtivo da Confepar, unidade de Pato Branco. Isso determinou como
objetivo geral a análise da gestão de recursos hídricos, no processo produtivo, da
Confepar Agro-industrial Cooperativa Central, localizada em Pato Branco-PR, quanto
aos aspectos ambientais, econômicos e sociais. Sendo que, para tanto, foram
estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
1. Descrever o processo produtivo da empresa;
2. Identificar e quantificar a demanda de água na atividade produtiva;
3. Verificar e quantificar o destino dos efluentes gerados na atividade
produtiva;
4. Sugerir, se necessário e viável, procedimentos que visem a melhoria dos
aspectos ambientais, econômicos e sociais, na gestão dos recursos hídricos.
Salienta-se que o interesse maior deste estudo é no processo produtivo, de
leite concentrado, que consiste na retirada de aproximadamente 50% da água
contida no leite (reduzindo seu volume em aproximadamente 43%), para posterior
produção do leite em pó, com foco na utilização de água, visando uma análise da
gestão de recursos hídricos adotada pela empresa na unidade de Pato Branco.
Com a finalidade de um melhor entendimento sobre a utilização de recursos
naturais pode-se buscar aporte no desenvolvimento sustentável que pode ser
10

atingido quando se considera o equilíbrio entre os ecossistemas e os processos


humanos. Seguindo este ponto de vista, Meadows (2007) comenta que para
sustentar um decente padrão de vida para toda população, não são necessários os
altos índices de consumo, que ocasionam a produção excessiva de bens.
As mudanças climáticas ocorridas a nível global, comentadas por Gore (2006)
e Tundisi (2000), assim como a poluição influem na disponibilidade e qualidade dos
recursos hídricos, interferindo no ciclo hidrológico da água. Assim, torna-se vital
encontrar meios que não venham a comprometer os recursos utilizados para
produção, buscando um equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento
econômico, bem como permitir o seu uso por todos os seres vivos. A água é o
recurso natural mais dificilmente substituível, ou seja, é essencial à vida, e a sua
escassez como meio de produção pode comprometer a disponibilidade de produtos
como alimentos e energia necessários ao homem.
Para identificar o uso da água são utilizados alguns critérios, como
consultivos e não-consultivos. Dessa forma, os usos múltiplos podem ser
classificados em infra-estrutura, agricultura e aquicultura, indústria, conservação e
preservação. Mediante esta problemática (situação) é fundamental conhecer e
identificar as formas de uso da água na produção, assim como a qualidade exigida
da água utilizada para que possam ser estudadas novas formas de aproveitamento
da mesma visando redução e reutilização de tal recurso.
O setor industrial alimentício foi selecionado para a realização da pesquisa,
por constituir, segundo Leeden (1990), o setor que mais consome água, e existir
representantes deste setor no município de Pato Branco-PR. Ainda, segundo o
mesmo autor, a produção de leite em pó é o produto que apresenta as maiores
faixas de consumo do recurso analisado, no entanto é vital identificar in loco quais
os usos e qualidade exigida do recurso, justificando-se, assim, também o interesse
da empresa no estudo.
A pesquisa procurou demonstrar aspectos do processo que tenham
necessidade de reavaliação, objetivando sugerir novas formas de gestão mais
eficientes e que tragam benefícios para a empresa, sociedade e meio ambiente.
Autores, como Cruz (2001) e Jouravlev (2001), comentam sobre a gestão
integrada da água e das bacias hidrográficas segundo as legislações que
regulamentam o uso da água, que tem por objetivo o desenvolvimento regional e o
desenvolvimento sustentável dentro de uma determinada região, salientando a
11

relevância dos usos múltiplos, ou seja, que a água seja utilizada de forma correta e
eficiente. Para compreender e planejar a forma de gestão adequada é preciso
avaliar a demanda e a oferta do recurso por região, a fim de que se saiba quais os
limites do recurso a nível local, e sua utilização para a produção, na empresa,
proporcionando, assim, crescimento econômico, socialmente eficiente e com
sustentabilidade ambiental.
Na gestão de recursos hídricos, Cruz (2001) coloca que um aspecto relevante
é o manejo, que pode ser conceituado pelo processo de administrar tanto a
quantidade quanto a qualidade da água usada para o benefício humano, sem
destruir a disponibilidade e a pureza do recurso água.
A sociedade desenvolveu-se em meio a abundancia de recursos naturais,
tornando-se complexo compreender a necessidade do uso racional destes, e a
utilização dos recursos de água doce é fonte de numerosos problemas, inclusive
conflitos armados em algumas partes do mundo, cuja resolução necessita de uma
profunda reflexão ética.
Assim, um estudo mais aprofundado em uma organização em que o consumo
de água é significativo a nível local se faz necessário, visando compreender e
identificar a forma de gestão deste recurso na produção, bem como possibilitar
sugestões de melhoria.
Para o pesquisador, é importante resgatar conceitos até então não muito
explorados, no entanto, vitais para o desenvolvimento da sociedade, como o uso
ético da água apresentado por Selborne (2001), e a integração da administração da
produção com a gestão ambiental. Desta forma, podendo contribuir para expor e
aplicar as ferramentas de gestão ambiental, que constitui um mercado novo dentro
da área da administração.
Assim, a presente pesquisa contribui com o cumprimento de uma das funções
da universidade pública, que é a extensão. O trabalho levou o acadêmico
pesquisador para dentro da organização em estudo, o qual representa a instituição
de ensino. Neste intercâmbio, há o mútuo crescimento, tanto do acadêmico, da
academia e da organização, uma vez que os resultados da pesquisa serão
relevantes para os três.
Quanto aos procedimentos metodológicos, as pesquisas atualmente
realizadas na área de administração comportam diferentes níveis de profundidade e
extensão, dependendo do objeto de estudo e nível do pesquisador. Segundo Marion
12

(2002), a existência de vários tipos de pesquisa, umas de cunho mais básico,


chamada pesquisa pura e outras de aplicação mais prática, chamadas pesquisas
aplicadas, no atual estágio da ciência da administração, não comportam mais uma
divisão precisa entre ambas, e sim uma linha muito tênue que tange em certo grau
por uma vertente de complementaridade. Assim, esta pesquisa aparece tal
complementaridade, através do uso de conceitos teóricos aplicados na prática do
processo produtivo em análise.
Já, quanto ao tipo de pesquisa utilizou-se a abordagem baseada em Roesch
(1999) e Richardson (2004) como sendo quantitativa, devido a busca da
contextualização da indústria e a utilização de bibliografias que apresentem faixas
de consumo de água por atividade, já definidas, bem como métodos de utilização
deste recurso, embasando-se ainda nas legislações e instrumentos de gestão, assim
como a mensuração da demanda de água necessária na organização em estudo.
Entretanto, a análise das formas de gestão do recurso água, empregados
pela organização, forneceu uma perspectiva qualitativa dos dados mensurados,
representando, dessa forma, a comprovação de uma metodologia que trabalha com
a complementaridade em suas análises.
Quanto aos objetivos, a pesquisa foi classificada como descritiva e
exploratória, e os instrumentos utilizados foram: a) visitação supervisionada na
empresa, que ocorreu de maio a agosto de 2009, com suporte de um roteiro de
acompanhamento para a observação e a coleta de dados da pesquisa, previamente
elaborado, e discutido com o supervisor de produção e ao responsável técnico pelo
tratamento de efluentes, além de outros colaboradores da empresa; b) anotações e
observações de todo processo produtivo; c) documentos e planilhas de controle da
própria empresa.
Com a utilização destes instrumentos e das teorias estudadas organizou-se
a análise dos dados, buscando demonstrar a resolução dos objetivos pretendidos
neste trabalho, tendo o foco maior na problemática apresentada.
Com base no exposto, elaborou-se o presente relatório, em 5 capítulos sendo
que o primeiro e o segundo capítulos apresentam uma revisão teórica sobre os
temas: Água, Gestão Ambiental, Melhoria Contínua e Legislações pertinentes, temas
diretamente relacionados com o objeto de pesquisa.
A apresentação do histórico e estrutura da Instituição, na qual foi realizada a
pesquisa, é realizada no terceiro capítulo e, no seguinte, são aprofundadas a
13

apresentação, a discussão e a análise dos dados. A partir da análise foi possível o


levantamento de algumas sugestões a serem implantadas na organização. O último
capítulo compreende as considerações finais, concluindo-se então, com a
apresentação da bibliografia e dos anexos utilizados na presente pesquisa.
14

2. ÁGUA

O ciclo hidrológico é um fenômeno natural responsável pela renovação das


águas. É estimulado pela energia solar, que causa a vaporização das águas
superficiais, que acabam por formar nuvens, e estas em contato com o ar
atmosférico produzem a precipitação sobre mares e continentes, num ciclo sem fim,
o qual gera a circulação e renovação da água (RAUBER, 2006).
Esta água, tanto superficial como subterrânea, é permanentemente
influenciada por todas as atividades humanas, pois suporta e integra as interações
das atividades com a indústria, energia, saúde humana, desenvolvimento urbano,
agricultura e com todo o sistema biológico, tornando visível a sua relevância para
toda a vida do planeta terra (TUNDISI, 2000).
O Planeta Terra possui 70,8% de sua superfície coberta de água segundo a
Agência Nacional das Águas - ANA (2007a). No entanto, destaca van der MOLEN
(1981), 97% de toda esta água está contida nos oceanos, como água salgada,
sendo apenas 3% água doce. Da água doce do planeta, 75% está na forma de gelo,
nas geleiras (2% da água total do planeta). Logo, apenas 1% é água doce
disponível.
Da parte disponível 25% está no solo, parte ainda está na atmosfera sob a
forma de vapor e nos organismos vivos (animais e vegetais). Na atmosfera a água
corresponde a apenas 0,03% de sua composição, no entanto é vital para
manutenção da vida, pois mantém a circulação de água sobre a Terra. Segundo
dados da ANA (2007a), apenas 0,3% de toda a água do planeta é água doce e
encontra-se disponível ao consumo humano, sem que sejam desconsideradas as
águas poluídas ou contaminadas, o que reduz ainda mais este número.
A água doce não é um recurso global. Ela está limitada a certas regiões,
disponível em bacias hidrográficas específicas, de modo que os limites assumem
muitas formas diferentes (MEADOWS, 2007).
Uma vez que estas águas doces não estão distribuídas uniformemente no
planeta, acaba trazendo grandes problemas para as populações, pois o atual
sistema de vida organizado em sociedades econômicas está ultrapassando os
limites de sustentação do equilíbrio e renovação das águas. Países com grande
escassez de água têm limitações quanto ao desenvolvimento agrícola e industrial
15

com agravamento de problemas para a saúde de suas populações e para a própria


manutenção da biodiversidade conforme relata Shiklomanov (1998), citado por
Tundisi (2000). A desigualdade da distribuição de água sobre a terra é devida a
fatores físicos (climáticos) e humanos (densidade populacional). Os fatores físicos
podem ser considerados como o lado da disponibilidade do recurso (oferta) e os
fatores humanos como o da demanda.
ANA (2007a), salienta que o Brasil tem posição privilegiada no mundo, em
relação à disponibilidade de recursos hídricos. O País conta com diversidade de
paisagens e a riqueza em recursos naturais, o que inclui importante parcela dos
recursos hídricos do planeta, constituindo uma rede hidrográfica extensa formada
por rios de grande volume de água. A vazão média anual dos rios em território
brasileiro é de cerca de 180 mil metros cúbicos por segundo (m3/s), valor que
corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade mundial. Considerando as
vazões oriundas de território estrangeiro que ingressam no país (Região Amazônica,
Uruguai e Paraguai), a vazão média total atinge cerca de 18% da disponibilidade
mundial.
O Brasil possui uma das maiores redes hidrográficas do mundo, além de
extensas reservas de água subterrâneas. A gigantesca bacia Amazônica, com mais
de sete milhões de quilômetros quadrados - dos quais 3,9 milhões passam pelo
território brasileiro - é a maior do planeta. Seus rios são responsáveis por 70% dos
recursos hídricos do país. As águas encontradas no subsolo do Brasil, que formam
os aquíferos, têm reservas estimadas de 112 bilhões de metros cúbicos. O Aqüífero
Guarani, principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul, ocupa uma
área que equivale aos territórios da Espanha, França e Inglaterra juntos - cerca de
1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão. Passa pela Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai, sendo que dois terços de suas águas se distribuem nos
subsolos de oito estados brasileiros, inclusive no Paraná. Estima-se que o aqüífero
possa fornecer até 43 bilhões de metros cúbicos de água por ano, suficientes para
abastecer uma população de 500 milhões de habitantes. Diante deste cenário de
números, é possível imaginar que o acesso à água não seja um problema para os
brasileiros. Entretanto, esta é uma conclusão precipitada. Antes disso, é preciso
levar em conta uma série de outros fatores geográficos, políticos e sociais
(BARLOW, 2003).
16

Conforme já destacado pela ANA (2007a) e Barlow (2003), o Brasil encontra-se


em situação bastante favorável em relação ao seu patrimônio hídrico, que poderá se
tornar uma grande vantagem competitiva internacional caso venha a ser bem
gerenciado, no entanto não se pode esquecer que sua distribuição é bastante
desigual no território e isso deve ser levado em consideração para a tomada de
decisões, tanto empresarial como de políticas públicas.
Barlow (2003), ressalta a questão da distribuição desuniforme de recursos
hídricos no país. Segundo o autor, a Amazônia, que concentra 70% da água do país,
abriga cerca de 7% da população brasileira. Enquanto isso, a região Sudeste, com
42% da população, possui apenas 6% das reservas.
Em termos de distribuição per capita, a vazão média de água no Brasil é de
aproximadamente 33 mil metros cúbicos por habitante por ano (m3/hab/ano), volume
19 vezes superior ao piso estabelecido pela Organização das Nações Unidas - ONU,
que é de dois mil e quinhentos m3/habitante/ano (ANA, 2007a).
Com a finalidade de orientar, fundamentar e implementar o Plano Nacional de
Recursos Hídricos - PNRH, foi instituída a Divisão Hidrográfica Nacional em regiões
hidrográficas. Constitui região hidrográfica o espaço territorial brasileiro
compreendido por uma bacia, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas
contínuas, com características naturais, sociais e econômicas homogêneas ou
similares (ANA, 2007a). Em alguns casos, o rio principal de certas bacias
hidrográficas leva o mesmo nome de algum estado da nação, por conseguinte a
região hidrográfica também leva o mesmo nome. Desta forma, não se deve pensar
que uma região hidrográfica é delimitada pelos limites políticos dos estados. Como
exemplo pode-se citar a bacia do Paraná, que compreende quase a totalidade dos
estados do Paraná e São Paulo, e ainda uma parte dos estados de Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso do Sul. A Ilustração 1 mostra as 12 regiões hidrográficas do
Brasil.
17

Ilustração 1: As 12 regiões hidrográficas do Brasil.


Fonte: ANA (2007).

A região hidrográfica do Paraná apresenta grande importância no contexto


nacional, pois possui 32% da população nacional e o maior desenvolvimento
econômico do país (ANA, 2005).
Segundo ANA (2005), a Região Hidrográfica do Paraná é a terceira maior do
país em extensão territorial (880.000 Km2), e apresenta a maior população
(54.670.000 habitantes), e a quarta maior densidade demográfica (62 habitantes /
Km2). A Tabela 1 apresenta alguns parâmetros hidrológicos das regiões hidrográficas
brasileiras.

Tabela 1: Parâmetros hidrológicos da regiões hidrográficas brasileiras.


Regiões Vazão Disponibilidade Reservas
media hídrica subterrâneas
3 3
(m /s) (m /s) Exploráveis (m3/s)
Amazônia 131.947 35.402 1.643
Tocantins-Araguaia 13.624 2.517 327
Atlântico Nordeste Ocidental 2.683 328 287
Parnaíba 753 290 20
Atlântico Nordeste Ocidental 779 32 12
São Francisco 2.850 854 222
Atlântico Leste 1.492 253 48
Atlântico Sudeste 3.179 989 11
Atlântico Sul 4.174 624 173
Uruguai 4.121 391 323
Paraná 11.452 4.021 943
Paraguai 2.368 785 85
Brasil 179.422 46.486 4.095
Fonte: adaptado de ANA (2007a).
18

A vazão media da bacia do Paraná é a terceira maior do país, acompanhando


a terceira maior disponibilidade hídrica. Sua vazão média representa 6,4% de da
vazão que corre pelo território nacional. As reservas subterrâneas exploráveis é a
segunda maior do território nacional, o que deve-se ao SAG.
Para melhor localização, a bacia hidrográfica do rio Pato Branco, pertence
territorialmente ao município de Mariópolis e Pato Branco, ambos localizados no
sudoeste do estado do Paraná, é identificada como tributaria da bacia do rio
Chopim, que por sua vez, tributa a bacia do rio Iguaçu, pertencente a bacia
hidrográfica do Paraná. A bacia do rio Pato Branco, possui uma área de contribuição
de 130,43 Km2, sendo que a área citada compreende a considerada como de
manancial de abastecimento público da cidade de Pato Branco (MACHADO, 2006).
Machado (2006), enumera os principais rios da bacia do rio Pato Branco
como: Mangueirinha, Pato Branco, Lambedor, Conrado e Pinheiro. No entanto, o
autor afirma que não foram encontrados dados regionais disponíveis para a
caracterização das sub-bacias do rio Pato Branco.
A bacia do rio Pato Branco, segundo Machado (2006), possui interferências
entre a qualidade das águas de seu corpo hídrico, com as seguintes atividades:
abastecimento público para a cidade de Pato Branco, dessedentação de animais,
atividades de lazer e recreação, tanto de contato indireto como de contato direto,
diluição de efluentes industriais, serviços e atividades rurais.
De acordo com ANA (2007a), outra fonte de água de qualidade disponível as
atividades humanas e industriais são os aquíferos. Um sistema aqüífero é uma
quantidade de água armazenada entre rochas abaixo do solo.
Em termos de gerenciamento de recursos hídricos, os aquíferos apresentam
uma característica singular, a sua extensão não se restringe a uma bacia
hidrográfica (ANA, 2007b).
A Região Sudoeste do Paraná abriga em seu subsolo o Sistema Aqüífero
Guarani - SAG, que segundo ANA (2007b), distribui-se em uma área de
aproximadamente 1.195.000 Km2, no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Cerca
de 71% (840.000 Km2) dessa área está no Brasil. [...] No território nacional, esse
sistema ocorre no subsolo de oito Estados e em quatro regiões hidrográficas:
Paraguai, Tocantins, Paraná e Atlântico Sul.
Para o desenvolvimento dos aspectos da gestão dos recursos hídricos é
relevante elucidar alguns conceitos que passam a ser explicados.
19

2.1 FORMAS DE USO

Mediante a vitalidade dos recursos hídricos para a vida humana e para


produção industrial, e ainda, mediante a disponibilidade limitada deste recurso,
evidencia-se a relevância do estudo das formas como este é utilizado, assim como
os seus usos múltiplos, a fim de otimizar o consumo.
Deve-se reconhecer o caráter multisetorial do uso dos recursos hídricos no
contexto do desenvolvimento sócio-econômico, bem como os interesses múltiplos na
utilização desses recursos para o abastecimento de água potável e saneamento,
agricultura, indústria, desenvolvimento urbano, geração de energia hidroelétrica,
pesqueiros de águas doces, transporte, recreação, manejo de terras baixas e outras
atividades.
Segundo Cruz (2001), a gestão dos recursos hídricos possui duas linhas
básicas no que se refere à gestão de uso da água: a) a gestão da oferta e b) a
gestão da demanda. A administração e a gestão da oferta, segundo a prerrogativa
da legislação brasileira, são papéis exclusivos do Estado, proprietário das águas, e
visa estabelecer ações para garantir maior disponibilidade, tanto quantitativa como
qualitativamente. Já a gestão da demanda tem por objetivo racionalizar e disciplinar
o uso, evitando ou equacionando situações de conflito, principalmente a partir dos
instrumentos:
i) “outorga de uso”, a qual se constitui em uma licença emitida pelo Estado, no
caso do Paraná pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental - SUDERHSA, para que o usuário possa derivar
determinados volumes de água para atender as suas necessidades,
ii) cobrança pelo uso de derivação da água e também pelo lançamento de
efluentes.
Estas ações estão baseadas na orientação da gestão integrada de bacia
hidrográfica, que tem como fim, favorecer o desenvolvimento sustentável desde o
momento em que concilia o aproveitamento dos recursos naturais da bacia e permite
manejar os recursos com fins de evitar conflitos e problemas ambientais.
Salientando ainda Jouravlev (2001), sobre os objetivos da gestão integrada de
bacias e o desenvolvimento regional são equivalentes, porque tem por finalidade
fundamental o desenvolvimento sustentável dentro de uma região definida.
20

No entanto observa a seguinte diferença: no enfoque por bacias é necessário


determinar o potencial de uso dos recursos naturais, com a tecnologia conhecida
(oferta) para fixar metas de crescimento econômico e equidade. No enfoque por
regiões é necessário determinar as necessidades de crescimento econômico
(demandas) para fixar metas de sustentabilidade ambiental e equidade.
Entende-se hoje que os dois enfoques devem ser complementares e que
devem chegar ao mesmo objetivo, visando o crescimento econômico, socialmente
eficiente e com sustentabilidade ambiental.
Neste cenário da gestão de recursos hídricos um aspecto relevante é o
manejo, que segundo Rauber (2006), pode ser conceituado como atuar de forma
coordenada sobre os recursos naturais, a fim de recuperar, proteger e conservar e
exercer o controle sobre a descarga de água captada na bacia, observando a
quantidade, qualidade e tempo, sem deixar de lado a questão dos usos múltiplos e o
compartilhamento de águas. Assim esses aspectos acabam por interferir
diretamente no desenvolvimento regional, por isso da sua importância.
Nesse procedimento, o sistema ambiental, que compreende um processo de
interação do conjunto de elementos e fatores que compõem o meio ambiente,
incluindo-se, além dos elementos físicos, biológicos e sócio-econômicos, os fatores
políticos e institucionais, que deverão ser considerados como um campo de atuação.
Quanto ao manejo integrado de bacias hidrográficas, Lanna (1996) fundamenta-se
no tratamento da totalidade do sistema de cursos de água, isto significa que cada
parcela do espaço pode ser considerada em seu todo e ao mesmo tempo, em sua
relação com as demais parcelas.
Este processo engloba um programa, que busca as melhores práticas de
manejo do solo, da água, das florestas e fauna, além da definição das formas de
ocupação do espaço e dos sistemas de produção a serem implantados.
Assim, é importante entender a necessidade do manejo adequado dos cursos
de água, que servem para vários usos, e que muitas vezes, são antagônicos entre
si, necessitando-se estabelecer prioridades para os usos em cada caso específico, a
partir das necessidades existentes.
Portanto é fundamental entender que o processo de gestão dos recursos
hídricos no âmbito regional, interfere diretamente na forma de uso deste recurso
pelos diferentes atores sociais, demonstrando sua complexidade e necessidade de
maior conhecimento.
21

2.2 USOS MÚLTIPLOS

Há de se considerar que certos usos causam pequenos impactos nos cursos


de água, outros usos podem diminuir ou prejudicá-los, como exemplo a irrigação e o
consumo humano, que são considerados usos consultivos. Neste último o retorno da
água não se dá nas condições em que foi retirada tanto na qualidade quanto na
quantidade. Outros ainda podem alterar a composição química da água, como o
despejo de dejetos urbanos e industriais, podendo muitas vezes ser causa de
grandes conflitos.
Essencial à vida, a água constitui elemento necessário para quase todas as
atividades humanas, sendo, ainda, componente da paisagem e do meio ambiente.
Trata-se de bem precioso, de valor inestimável, que deve ser, a qualquer custo,
conservado e protegido. Presta-se para múltiplos usos: geração de energia elétrica,
abastecimento doméstico e industrial, irrigação de culturas agrícolas, navegação,
recreação, aqüicultura, piscicultura, pesca e também para assimilação e afastamento
de esgotos (SETTI, 2000).
Para Bressan (1997), o uso múltiplo deveria levar em consideração a
capacidade de sustentação para a manutenção da qualidade da água. Assim, o uso
múltiplo não exclui as contradições entre os interesses econômicos de produção e
os interesses complementares. No entanto, fórmulas igualmente múltiplas de
resolução desses conflitos devem ser geradas, de modo a contemplar as diversas
situações particulares.
O uso múltiplo pressupõe um contínuo compromisso entre a quantidade da
produção e a qualidade do espaço vital, mantendo o equilíbrio no ecossistema. Essa
concepção significa em termos objetivos, que em cada situação vários usos da
natureza são possíveis, mas não qualquer uso.
Para análise dos ecossistemas segundo enfoque da multiplicidade de usos, é
decisivo agregar determinados elementos como os conceitos de recurso natural e de
capacidade de utilização dos sistemas naturais.
O conceito de recurso natural, trabalhado por Bressan (1997), está vinculado
ao padrão tecnológico próprio de cada momento histórico, o que significa que a parte
da natureza transformada em recurso muda com o tempo, tanto pela incorporação
de novos, quanto pela observância de outros até então considerados efetivamente
22

como recurso. Conseqüentemente tem-se efeito dinâmico em que o trabalho e a


inteligência do homem é que fazem com que a matéria passe a condição de recurso.
No entanto, a capacidade de utilização de um sistema ecológico, deve ser
determinada por seu máximo rendimento sustentável, o que depende de suas
dimensões, complexidade e capacidade de regeneração.
Ainda, segundo Bressan (1997), o uso múltiplo, em muitas vezes, está
associado à idéia de manejo dos recursos naturais em regime sustentado de
produção, ou seja, a possibilidade de produção constante e contínua, visando à
obtenção de benefícios diretos, como exemplo a produção de frutos, a fauna
silvestre, energia e benefícios indiretos como manutenção da qualidade da água e
do ar, lazer e recreação.
Os mananciais hídricos comportam, igualmente, a possibilidade de uso
múltiplo, desde que as diferentes atividades não impliquem prejuízos para a
qualidade da água.
As estratégias de proteção da qualidade dos recursos hídricos que envolvem o
disciplinamento dos usos e o zoneamento (ocupação) das terras nas respectivas
bacias hidrográficas devem ficar atentas às atividades e ao crescimento populacional
e industrial nas áreas que possam comprometer o uso prioritário das águas, que é o
abastecimento público.
No Quadro 1 são demonstradas as principais categorias de uso da água,
conforme Bressan, (1997).

1-infra-estrutura -Dessedentação (C)


-Navegação (NC)
-Usos domésticos (C)
-Recreação (NC)
-Usos públicos (C)
-Amenidades ambientais (NC)
2-Agricultura e a aqüicultura -Agricultura (C)
-Piscicultura (NC)
-Pecuária (C)
-Uso de estuários (NC,L)
-Irrigação (C)
-Preservação de banhados (L)
3- Indústria -Arrefecimento (C)
-Mineração (NC)
-Hidroeletricidade (NC)
-Processamento industrial (C)
-Termoeletricidade (C)
-Transporte hidráulico (C)
4-Em todas as classes de uso -Transporte, diluição e depuração de efluentes (NC)
5- Conservação e preservação -Consideração de valores de opção, de existência ou
intrínsecos (NC,L)
Quadro 1: Principais categorias de uso da água.
Fonte: Bressam (1997).
23

Quanto à forma de utilização da água existem três possibilidades:


 Consuntivos (C): refere-se aos usos que retiram a água de sua fonte natural
diminuindo suas disponibilidades, espacial e temporalmente.
 Não-consuntivos (NC): refere-se aos usos que retornam à fonte de
suprimento, praticamente, a totalidade da água utilizada, podendo haver
alguma modificação no seu padrão temporal de disponibilidade.
 Local (L): refere-se aos usos que aproveitam a disponibilidade de água em
sua fonte sem qualquer modificação relevante, temporal ou espacial, de sua
disponibilidade.
Nas atividades industriais pode-se perceber no Quadro 1, que todas as formas
de uso apresentadas são Consuntivos ou Não-Consuntivos. Os Consultivos, que
retiram água de sua fonte natural, podem ser associados aos processos que
incorporam água no produto final, enquanto os Não-Consuntivos podem ser
entendidos como aqueles em que a água tem papel auxiliador em alguns processos.
A gestão de recursos hídricos pode ser entendida através da combinação
adequada entre as disponibilidades de água (oferta) e a necessidade de seu uso
(demanda). Para tanto é necessário resgatar alguns conceitos da teoria da demanda
e oferta, advindos da economia. Oliveira (2008) diz que a demanda ou procura, pode
ser definida como a quantidade de bens ou serviços que um consumidor deseja e
está disposto a consumir (adquirir) num determinado momento e a um determinado
preço. A demanda pura e simplesmente é a expressão de uma intenção de
consumo. No caso dos recursos hídricos, a demanda é a quantidade de água que
uma determinada pessoa, indústria, atividade econômica, etc., necessita, não
significando que tal quantidade estará disponível.
A oferta, segundo Oliveira (2008), pode ser definida como a quantidade de
bens e serviços produzidos e ofertados em um mercado, por determinado preço e
período de tempo. Na questão de recursos hídricos, a oferta de água é a quantidade
disponível que pode ser retirada de um determinado corpo hídrico, sem causar
impacto ecológico.
Na configuração da gestão dos recursos hídricos a demanda deve ser
percebida como uma necessidade comparada a oferta que é a possibilidade de
realização desta necessidade. No entanto a relação de utilidade da água e seu valor
como um recurso produtivo, podem acabar interferindo nesse sistema de equilíbrio,
24

fazendo ressaltar o aspecto mercadológico de sua necessidade através do preço,


que para a economia é vinculado ao aspecto da escassez.
Observa-se assim que quanto maior a escassez maior será a sua valorização,
podendo representar a formação de um mercado independente do recurso ser de
domínio da União como é o caso do Brasil.
Portanto parece inevitável a preocupação envolvida sobre a formação de um
mercado da água, principalmente no setor industrial. E este deve ser gerido por
normas e regulamentos baseados nos condicionantes dos usos múltiplos, levando
em consideração a demanda e a oferta, bem como a indicação da gestão integrada
de bacias hidrográficas.
Assim, seguir com cuidado a orientação e os avisos que a própria natureza
aponta é um grande passo para um trabalho harmonioso com base nos princípios do
desenvolvimento sustentável, crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio
ecológico.
Para regulamentar as retiradas de água, existe a outorga de uso da água. A
Resolução nº16/01 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH (2001),
define outorga de direito de uso de recursos hídricos como sendo um ato
administrativo mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao requerente o
direito de uso dos recursos hídricos, por prazo determinado, nos termos e condições
expressas no respectivo ato, consideradas as legislações específicas vigentes.
Ou seja, a outorga pelo uso da água, é uma autorização para utilização da
água, que foi regulamentada pela Lei das Águas. Esta autorização é emitida pelos
órgãos estaduais, no caso do Paraná pela SUDERHSA, e determina qual a
quantidade de água o proprietário da outorga pode retirar de certo corpo hídrico.

2.3 USO INDUSTRIAL

Com relação à utilização de suas águas, o Brasil registra retirada total de 1.568
m³/s para diferentes usos (ANA, 2007a). A região hidrográfica que mais utiliza o
recurso é a do Paraná, com 478 m³/s, o que representa 30% da retirada e 23% do
consumo do País. A distribuição do uso da água por tipo de demanda indica que, na
média nacional, o consumo humano (urbano e rural) equivale a pouco menos de 1/3
25

do total. Ana (2007a), afirma que o maior consumo brasileiro está na irrigação, que
utiliza 46% do total de recursos hídricos retirados. Em segundo lugar aparece o
consumo humano urbano, com 27%, ficando o uso industrial em terceiro, com 18%
do total. Barlow (2003), aponta a indústria mundial como consumidora de faixas
semelhantes. O autor afirma que a indústria reivindica entre 20% e 25% da água
doce retirada no mundo.
A demanda industrial por água decorre, em grande parte, do seu
aproveitamento no arrefecimento em processos com geração de calor. Pode ser
fonte de energia hidráulica ou de geração de vapor com altas pressões, objetivando
gerar energia elétrica. Pode ser elemento de desagregação ou diluição de partículas
minerais, podendo ser utilizado como insumo do processo industrial e como meio
fluído para transporte (LANNA, 1997).
Apesar da crescente participação da indústria na demanda total de água e do
impacto causado pelo lançamento de efluentes nas bacias hidrográficas, o papel da
água no setor industrial ainda é um assunto pouco estudado no Brasil. Tal fato pode
ser explicado pela limitada disponibilidade de dados consistentes sobre o uso da
água no setor. As escassas informações existentes baseiam-se em cadastros de
usuários pouco confiáveis. Ademais, estas informações encontram-se dispersas nos
diversos órgãos estaduais de recursos hídricos e de meio ambiente, não se
dispondo de uma consolidação de abrangência nacional. Estes fatores constituem-
se assim em um obstáculo para a efetiva caracterização das indústrias em termos de
uso de água e aporte de poluentes às bacias (MOTTA, 2006).
Continua Motta (2006), destacando que a caracterização do uso industrial da
água é de fundamental importância para se avaliar o impacto de políticas de gestão
de recursos hídricos sobre o setor. Esta avaliação mostra-se ainda mais necessária
no contexto das reformas iniciadas com a promulgação da Lei 9.433/97 de 8 de
Janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos.
De acordo com Mierzwa (2005), a qualidade e quantidade de água utilizada na
indústria variam de acordo com as atividades industriais, o ramo de atividade e sua
capacidade de produção. A qualidade é definida em função de suas características
físicas, químicas e biológicas, já a quantidade está relacionada ao porte e a
capacidade de produção. Portanto a água na indústria pode ter as seguintes
aplicações:
26

i) Matéria prima: a água é incorporada ao produto final, a exemplo do que


ocorre nas indústrias de bebidas, produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica,
cosméticos, alimentos e conservas e farmacêutica. Também pode ser utilizada para
gerar outros produtos, como o hidrogênio, por meio de eletrólise.
Nessas aplicações, o grau de qualidade da água pode variar significativamente,
podendo-se admitir características equivalentes ou superiores às da água para
consumo humano. O principal objetivo é proteger a saúde dos consumidores finais
e/ou garantir a qualidade final do produto.
ii) Uso como fluido auxiliar: a água pode ser o fluido auxiliar de diversas
ativiadades, como a preparação de suspensões e soluções químicas, compostos
intermediários, reagentes químicos, como veículo ou em operações de lavagem.
Da mesma forma que a água utilizada como matéria-prima, o grau de
qualidade da água utilizada como fluido auxiliar depende do processo a que se
destina. Caso essa água entre em contato com o produto final, seu grau de
qualidade será mais restritivo, de acordo com o tipo de produto. Se a água não
entrar em contato com o produto final, seu grau de qualidade pode ser menos
restritivo que o da água para consumo humano, principalmente, com relação à
concentração residual de agentes desinfetantes.
iii) Uso para geração de Energia: este tipo de aplicação envolve a
transformação de energia cinética, potencial ou térmica acumulada na água em
energia mecânica e, posteriormente, em energia elétrica. O grau de qualidade da
água depende do processo de geração de energia em questão. A água é utilizada
em estado natural, para que se aproveite sua energia potencial ou cinética.
iv) Uso como fluido de aquecimento e/ou resfriamento: nesses casos, a água é
usada para aquecer, principalmente na forma de vapor; para remover o calor de
misturas ou de outros dispositivos que exijam resfriamento devido à geração de calor
ou às condições de operação estabelecidas [...]. Quando se utiliza a água na forma
de vapor, seu grau de qualidade deve ser alto.
v) Transporte e assimilação de contaminantes: embora não seja uma das
aplicações mais nobres, a maioria das indústrias inevitavelmente utiliza a água para
esta finalidade seja em suas instalações sanitárias, na lavagem de equipamentos e
instalações ou para incorporação de subprodutos sólidos, líquidos ou gasosos,
gerados pelos processos industriais.
27

FIESP/CIESP (2004), complementa as formas de uso da água na indústria,


citando alem de Mierzwa (2005):
i) Consumo humano: água utilizada em ambientes sanitários, vestiários,
cozinhas e refeitórios, bebedouros, equipamentos de segurança (lava-olhos, por
exemplo) ou em qualquer atividade doméstica com contato humano direto;
ii) Outros Usos: Utilização de água para combate à incêndio, rega de áreas
verdes ou incorporação em diversos subprodutos gerados nos processos industriais,
seja na fase sólida, líquida ou gasosa.
Dependendo da função que desempenha, a água deve ter características
físicas, químicas e biológicas tais que possibilitem a obtenção dos melhores
resultados possíveis já que as funções podem comprometer o resultado do
processo. Quando a água é empregada para a limpeza dos equipamentos, por
exemplo, pode ser que se exija um grau de pureza elevado, principalmente quando
os processos em questão não toleram a presença de outras substâncias químicas
e/ou microrganismos. Isso é comum nas indústrias farmacêutica, eletrônica, de
química fina e fotográfica, entre outras (MIERZWA, 2005).
Dessa maneira, entende-se que a água é um insumo imprescindível na
indústria e que deve estar disponível na qualidade e quantidade necessárias para
atender a cada uso específico, salientando-se que pode cumprir vários papéis numa
mesma indústria, podendo também ser entendida no aspecto da sustentabilidade,
como um recurso natural a ser utilizado por todas as formas de vida.
O ramo de atividade da indústria, que define as atividades desenvolvidas,
determina as características de qualidade da água a ser utilizada, ressaltando-se
que em uma mesma indústria podem ser utilizadas águas com diferentes níveis de
qualidade. Por outro lado, o porte da indústria, que está relacionado com a sua
capacidade de produção, irá definir qual a quantidade de água necessária para cada
uso (FIESP/CIESP, 2004).
Mierzwa (2005), comenta ainda sobre os fatores que influem na demanda de
água nas diversas atividades industriais, sendo estes, o ramo de atividade,
capacidade de produção, condições climáticas da região, disponibilidade, método de
produção, idade da instalação, práticas operacionais, cultura da empresa e da
comunidade local.
Por essas razões, se considerarmos indústrias do mesmo ramo de atividade,
com a mesma capacidade de produção, porém instaladas em diferentes regiões ou
28

com idades diferentes, a probabilidade do volume de água que cada uma consome
não ser o mesmo é muito grande. Isso acontece porque vários fatores influenciam o
consumo de água, como o clima de cada local. Duas indústrias localizadas em
regiões fria e quente, respectivamente, consumirão diferentes quantidades de água
para os processos de troca térmica (MIERZWA, 2005).
Com relação à idade da indústria, o consumo pode ser diferente em razão da
tecnologia adotada para a produção. As indústrias mais modernas, que utilizam
novas tecnologias e métodos de produção, aproveitam melhor a água e os outros
recursos naturais (MIERZWA, 2005).
A Tabela 2 apresenta o consumo de água de algumas indústrias.

Tabela 2: Consumo de água em algumas indústrias do mundo.


(continua)
Indústria e produto Unidade de produção Necessidade de água por
(tonelada de produto, exceto unidade de produção (l)
quando especificado)
Pães ou massas 600 a 4.200
Peixe enlatado e em conserva 400 a 1.500
Frutas e vegetais enlatados 2.000 a 80.000
Matadouro t de carcaça 4.000 a 10.000
Carne enlatada t de carne preparada 8.800 a 34.000
Derivados de carne, Bélgica t de carne preparada 200
Fábrica de salsicha 20.000 a 35.000
Peixe fresco e congelado 30.000 a 300.000
Peixe enlatado 58.000
Conserva e preservação de 16.000 a 20.000
peixes
Aves, Canadá 6.000 a 43.000
Frangos, EUA Por ave 25
Perus, EUA Por ave 75
Manteiga 20.000
Queijo 2.000 a 27.500
Leite 1.000 litros 2.000 a 7.000
Leite em pó 45.000 a 200.000
Laticínios em geral, Canadá 12.200
Sorvetes, EUA 10.000
Iogurte, Chipre 20.000
Açúcar (de beterraba) 1.800 a 20.000
Açúcar (de cana-de-açúcar) 15.000
Cerveja 1.000 l 6.000 a 30.000
Whisky, EUA 1.000 l 2.600 a 76.000
Destilados alcoólicos, Israel 1.000 litros 30.000
Vinho, França 1.000 litros 2.900
Vinho, Israel 1.000 l 500
Chocolates e confeitos 15.000 a 17.000
Gelatina comestível 55.100 a 83.500
Farinha de trigo 700 a 2.000
Macarrão 1.200
Papel e Celulose (Poupa t de poupa de madeira 30.000 a 40.000
Mecânica)
Papel e Celulose (Poupa ao t de poupa de madeira 170.000 a 500.000
Sulfato)
29

Tabela 2: Consumo de água em algumas indústrias do mundo.


(conclusão)
Indústria e produto Unidade de produção Necessidade de água por
(tonelada de produto, exceto unidade de produção (l)
quando especificado)
Papel e Celulose (Poupa ao t de poupa de madeira 300.000 a 700.000
Sulfito)
Papel jornal 165.000 a 200.000
Papel fino 900.000 a 1.000.000
Gasolina para aviação 1.000 l 25.000
Gasolina 1.000 l 7.000 a 10.000
Querosene 40.000
Extração de petróleo 1.000 l de petróleo cru 4.000
Refinarias de petróleo t de petróleo cru 10.000 a 30.500
Ácido acético 417.000 a 1.000.000
Alumina (Processo Bayer) 26.300
Amônia sintética t de amônia liquida 129.000
Soda cáustica 60.500 a 200.000
Maceração e tratamento de 30.000 a 40.000
linho
Tratamento de lã 240.000 a 250.000
Tingimento de tecidos 52.000 a 560.000
Tecelagem de algodão 10.000 a 250.000
Ouro t de minério 1.000
Minério de ferro 4.200
Bauxita t de minério 300
Cobre 3.100 a 3.750
Ferro e produtos de aço (alto 50.000 a 73.000
forno, sem reciclagem)
Aço acabado e semi-acabado 22.000 a 27.000
Indústria automobilística Veículo produzido 38.000
Cimento portland 550 a 2.500
Geração de energia kWh 200
(termoelétrica) EUA
Geração de energia kWh 230
(termoelétrica) China
Produção de fertilizantes, t de nitrato de potássio 270.000
Finlândia
Vidro 68.000
Lavanderias 20.000 a 50.000
Beneficiamento de couro t de peles 50.000 a 125.000
Materiais não ferrosos, brutos e 80.000
semi-acabados
Borracha sintética 83.500 a 2.800.000
Amido, Bélgica t de milho ou batata 10.000 a 18.000
FONTE: Leeden (1990), consultado em Mierzwa (2005) e FIESP/CIESP (2004).

A Tabela 2, acima apresentada, é originária de Leeden (1990), a qual para este


trabalho foi consultada nas versões adaptadas por Mierzwa (2005) e FIESP/CIESP
(2004), uma vez que a publicação original não foi encontrada.
Mesmo que superficial, o conhecimento das atividades industriais é
fundamental para o desenvolvimento de qualquer iniciativa que busque otimizar o
uso da água, fomenta a habilidade de identificar os principais pontos de consumo de
30

água, a quantidade e a qualidade exigidas para cada aplicação e os pontos de


geração de efluentes (Mierzwa, 2005).
Ainda Mierzwa (2005), cita as principais ferramentas de redução do consumo
de água e da geração de efluentes, que são: eliminar desperdícios, mudar
procedimentos operacionais, treinar operadores, substituir dispositivos e
equipamentos e alterar o método de produção.
Portanto obter dados da demanda de água para a indústria requer um
planejamento em longo prazo, formatação de séries temporais para comparação e
uma avaliação multidisciplinar levando em consideração aspectos econômicos,
sociais e ambientais. Bem como interesse da própria indústria no levantamento
destes dados percebendo contribuição desta informação para a própria gestão
estratégica empresarial e para a gestão integrada de bacia hidrográfica.
A indústria pode inovar, melhorar o uso da água, acrescentando essas
inovações à sua abordagem atual, assim como ajudar a desenvolver procedimentos,
produtos e serviços totalmente novos, tais como a dessalinização menos cara, a
irrigação mais eficiente, etc. No entanto, o processo de inovação implica que opções,
muitas vezes, precisam ser feitas entre tecnologias e métodos competitivos, assim
como a definição do objetivo fundamental dessas inovações. A indústria precisa
ponderar a informação de que dispõem sobre os custos e vantagens, os
rendimentos das alternativas; para fazer isso de forma inteligente, a indústria está
obrigada a dirigir recursos à área de pesquisa e desenvolvimento, compartilhando
com o mercado as novas informações (SELBORNE, 2001).
É preciso refutar a idéia de que o desenvolvimento industrial provoca
inevitavelmente a poluição dos rios ou dos aquíferos. Com efeito, durante as duas ou
três últimas décadas diminuiu, em muitos países industrializados, o volume de água
usado pela indústria, e a conseqüente poluição, sem que houvesse qualquer impacto
econômico significativo nos setores envolvidos. O mesmo poderá acontecer em
muitos países em desenvolvimento, desde que se cria uma consciência social e que
haja mais recurso às tecnologias industriais “limpas” desenvolvidas nos últimos anos
(SELBORNE, 2001).
A indústria pode dar contribuições positivas; por exemplo: localizando as
operações que utilizam muita água em regiões onde o seu suprimento seja
suficiente, adotando práticas conservacionistas tais como o uso de águas “cinzentas”
nos processos que não exigem água de melhor qualidade, e melhorando a
31

qualidade da água esgotada após o uso. Só o reuso e a reciclagem pode reduzir o


consumo de muitas indústrias em 50% ou mais, com a vantagem adicional de
diminuir a poluição resultante. A indústria pode promover o gerenciamento social da
água, em cooperação com outras partes interessadas, com base no respeito
recíproco pelas necessidades e valores de todos os interessados e iniciando um
diálogo permanente sobre os temas relacionados com o recurso hídrico e o
respectivo intercâmbio de informações (SELBORNE, 2001).
A Tabela 3 mostra os usos de água nas regiões hidrográficas brasileiras,
ressaltando que na região hidrográfica do Paraná, a atividade que mais consome o
recurso, é a industrial.

Tabela 3: Uso de água nas regiões hidrográficas brasileiras.


Regiões Humana Humana Industrial Irrigação Animal
Urbana Rural
Amazônica 30% 7% 6% 29% 27%
Tocantins-Araguaia 25% 4% 4% 39% 28%
Atlântico Nordeste Ocidental 50% 16% 5% 11% 17%
Parnaíba 32% 7% 3% 47% 12%
Atlântico Nordeste Oriental 25% 4% 9% 60% 2%
São Francisco 18% 3% 10% 64% 5%
Atlântico Leste 40% 8% 8% 33% 11%
Atlântico Sudeste 46% 2% 26% 23% 3%
Atlântico Sul 14% 1% 12% 71% 2%
Uruguai 5% 1% 3% 86% 5%
Paraná 33% 2% 33% 24% 7%
Paraguai 28% 2% 3% 22% 46%
Brasil 27% 3% 18% 46% 7%
Fonte: ANA (2007a).

Na bacia do Paraná, os maiores usos identificados através da Tabela 3, são o


consumo humano e o uso industrial, que podem ser entendidos devido a maior
concentração demográfica verificada no estado de São Paulo, pertencente a esta
bacia, assim como o maior parque industrial nacional também ser abrigado neste
estado.
Ilustrando os dados da Tabela 3, o Gráfico da Ilustração 2 mostra a demanda
industrial de água por região hidrográfica.
32

Ilustração 2: Gráfico da demanda industrial de água por regiões hidrográficas do Brasil.


Fonte: ANA (2007a).

Na Ilustração 2 fica visível a discrepância quanto ao uso industrial entre a


bacia do Paraná e as demais. A partir disto destaca-se a importância de um
processo de gestão adequado nas empresas, visando o uso sustentável e a garantia
da disponibilidade de água tanto em quantidade e qualidade necessárias para o
desenvolvimento dos processos industriais.

2.4 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - SGA

A partir da década de 80, a preocupação do Brasil com a utilização de seus


recursos naturais aumentou sensivelmente. A Constituição Federal de 1988 criou
condições para a descentralização da formulação de políticas, permitindo que
estados e municípios assumissem uma posição mais ativa nas questões ambientais
locais e regionais (LOPES, 2001).
Uma nova postura, assumida gradativamente pelo homem durante a década
de 90 e denotando melhor compreensão do seu habitat e maior objetividade nas
33

ações para conservá-lo, está contribuindo para mudar essa situação, quando
associa a Qualidade ao Meio Ambiente. Ao incorporar à discussão as noções de
Desenvolvimento Sustentável, Atuação Responsável e Qualidade de Vida, o homem
conseguiu reverter a atitude derrotista que adotara até então com respeito ao Meio
Ambiente (VALLE, 2000).
A preocupação que a sociedade vem demonstrando com a qualidade do
ambiente e com a utilização sustentável dos recursos naturais tem-se refletido na
elaboração de leis ambientais cada vez mais restritivas à emissão de poluentes, à
disposição de resíduos sólidos e líquidos, à emissão de ruídos e à exploração de
recursos naturais. Acrescente-se a tais exigências, a existência de um mercado em
crescente processo de conscientização ecológica, no qual mecanismos como selos
verdes e Normas, como a Série ISO 14000, passam a constituir atributos desejáveis,
não somente para a aceitação e compra de produtos e serviços, como também para
a construção de uma imagem ambientalmente positiva junto à sociedade
(NICOLELLA, 2004).
Existe na legislação federal uma excessiva regulamentação que se traduz em
minuciosa normatização do uso dos recursos naturais pelos agentes econômicos.
Essa regulamentação, apesar de ser parte integrante da política ambiental, tem
encontrado dificuldade para ser implementada, devido à fragilidade dos recursos
humanos e financeiros disponíveis nas instituições responsáveis por sua
fiscalização. Surge então um círculo vicioso que começa com a falsa premissa de
que o Estado possui responsabilidade exclusiva na proteção dos recursos naturais
da nação (LOPES, 2001).
Nos últimos vinte anos, diversos documentos foram elaborados, entre eles o
da Comissão Bruntland, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente, e a Agenda 21,
que, demonstram a importância de um gerenciamento voltado para o
desenvolvimento ecologicamente correto. Com a globalização da economia mundial
e a criação de grandes blocos, como a União Européia, Nafta e Mercosul, o cuidado
com o meio ambiente passa a ser fator importante para qualquer organização
(SEBRAE, 2007)
As ações de empresas em termos de preservação, conservação ambiental e
competitividade estratégica - produtos, serviços, imagem institucional e de
responsabilidade social - passaram a consubstanciar-se na implantação de sistemas
de gestão ambiental para obter reconhecimento da qualidade ambiental de seus
34

processos, produtos e condutas obtidos por meio de certificação voluntária, com


base em normas internacionalmente reconhecidas (NICOLELLA, 2004).
As empresas têm se defrontado com um processo crescente de cobrança por
uma postura responsável e de comprometimento com o meio ambiente. Esta
cobrança tem influenciado a ciência, a política, a legislação, e as formas de gestão e
planejamento, sob pressão crescente dos órgãos reguladores e fiscalizadores, das
organizações não governamentais e, principalmente, do próprio mercado, incluindo
as entidades financiadoras, como bancos, seguradoras e os próprios consumidores
(NICOLELLA, 2004).
A Qualidade Ambiental é parte inseparável da Qualidade Total ansiada pelas
empresas que pretendem manterem-se competitivas e assegurar sua posição em
um mercado cada vez mais globalizado e exigente (VALLE, 2000).
Desta forma, fica evidente a importância das organizações colocarem em
prática um eficiente sistema de gerenciamento ambiental, atendendo não só as
legislações pertinentes, mas garantindo o uso responsável dos recursos naturais,
sem causar alterações significativas na qualidade e disponibilidade dos mesmos, ou
seja, utilizando-os de maneira sustentável.
Um Sistema de Gestão Ambiental pode ser definido como o mecanismo de
controle que integra um conjunto de procedimentos e instruções usados para gerir
ou administrar uma organização de modo a alcançar o melhor relacionamento
possível com o meio ambiente (SEBRAE, 2007; VALLE, 2000).
O ciclo de atuação da Gestão Ambiental, para que essa seja eficaz, deve
cobrir, portanto, desde a fase de concepção do projeto até a eliminação efetiva dos
resíduos gerados pelo empreendimento depois de implantado, durante toda sua vida
útil. Deve também assegurar a melhoria contínua das condições de segurança,
higiene e saúde ocupacional de todos os seus empregados e um relacionamento
sadio com os segmentos da sociedade que interagem com esse empreendimento e
a empresa (VALLE, 2000).
O SGA é operacionalizado através de um Programa de Gestão Ambiental
(PGA) que é um instrumento gerencial dinâmico e sistemático, com metas
ambientais e objetivos a serem alcançados em intervalos de tempo definidos
(VALLE, 2000).
35

2.5 PROGRAMA DE MELHORIA CONTÍNUA

A filosofia da melhoria contínua deriva do kaizen (termo de origem japonesa,


em que kai, significa mudança e zen, significa bom). É um processo de gestão e
uma cultura de negócios, que passou a significar aprimoramento contínuo e gradual,
implementado por meio do desenvolvimento ativo e comprometido de todos os
membros da organização no que ela faz e na maneira como as coisas são feitas
(CHIAVENATO, 2000).
O processo de melhoria contínua descrito por Chiavenato (2000), deve estar
estreitamente relacionado a avaliação do uso de recursos hídricos no processo
industrial analisado. Tal processo deve ser confrontado com as legislações que
devem ser atendidas, e com as metas da organização. Assim torna-se possível
avaliar os resultados e levantar possíveis pontos em que haja necessidade de
reavaliação.
Chiavenato (2000), coloca que o kaizen é uma filosofia de contínuo
melhoramento de todos os colaboradores da organização, de maneira que
aprimorem suas tarefas a cada dia. Fazer sempre melhor. É uma jornada sem fim,
baseada no conceito de começar de um modo diferente a cada dia, tendo como
princípio o fato de que os métodos de trabalho podem ser sempre melhorados. Mas,
a abordagem kaizen não significa somente fazer melhor as coisas, mas conquistar
resultados específicos como a eliminação do desperdício (de tempo, material,
esforço e dinheiro) e a elevação da qualidade (de produtos, serviços,
relacionamentos interpessoais e competências pessoais), reduzindo os custos dos
projetos, fabricação, estoques e distribuição e, principalmente tornar os clientes mais
satisfeitos.
Assim o processo sugerido por Chiavenato (2000) é cíclico, e pode ser
comparado ao modelo sugerido por Valle (2000), onde o autor mostra que um
sistema de gestão ambiental deve ser cíclico, revendo sempre seus objetivos e
corrigindo falhas.
A Ilustração 3 mostra esquematicamente, o ciclo de aplicação da Gestão
Ambiental na busca da melhoria contínua das condições ambientais em uma
empresa.
36

Ilustração 3: Modelo de gestão ambiental objetivando a melhoria contínua.


Fonte: ABNT (1996).

Mierzwa (1999), também sugere um programa de gerenciamento de águas e


efluentes, o qual é apresentado a seguir:
1) Avaliação da quantidade e qualidade de água a ser consumida pela
indústria;
2) Conhecimento das normas ambientais referentes à captação de água e
controle dos efluentes;
3) Análise dos processos desenvolvidos pela instalação, com identificação
dos pontos de consumo de água e geração de efluentes;
4) Otimização dos processos onde ocorram elevados consumos de água ou
geração de efluentes;
5) Definição das tecnologias a serem adotadas para a produção de água para
consumo, na quantidade e qualidade necessária;
37

6)Verificação da possibilidade de reutilização de água em cascata, sem a


necessidade de tratamento prévio;
7) Caracterização das correntes de efluentes remanescentes, verificando-se a
possibilidade de reutilização dentro do processo, ou então, recuperação de algum
composto, composto ou subproduto de interesse;
8) Definição de procedimentos para coleta dos efluentes ainda existentes,
buscando-se o agrupamento das correntes com características similares,
segregando-se aquelas com alta concentração de contaminantes e pequenos
volumes das correntes mais diluídas;
9) Identificação de tecnologias de tratamento, adequadas para as correntes
de efluentes identificadas;
10) Definição de um sistema de tratamento de efluentes, considerando-se as
tecnologias de tratamento mais adequadas;
11) Identificação de oportunidades para reutilização do efluente tratado;
12) Estabelecer critérios e procedimentos para controle e monitoração de
efluentes a serem liberados para o meio ambiente, com o objetivo de garantir que
sejam atendidos todos os requisitos estabelecidos nas normas ambientais vigentes;
13) Promover uma avaliação contínua de todos os procedimentos utilizados
no programa de gerenciamento, visando a sua atualização e identificação e correção
de falhas, para que o mesmo possa ser aperfeiçoado.
Embora o enfoque do plano de gerenciamento sugerido por Mierzwa (1999),
sejam os efluentes, assim como Valle (2000), aponta a necessidade de contínua
reavaliação. Seguindo a mesma linha, de reavaliação contínua, Sebrae (2007),
baseado na ABNT NBR ISO 14.001, sugere um esquema de desenvolvimento e
implementação do SGA, o qual é apresentado em 5 princípios a seguir:
Princípio 1 – Comprometimento e Política – a direção da organização deve
estar comprometida com seu desempenho ambiental expressando suas intenções
na sua política ambiental;
Princípio 2 – Planejamento – a organização deve elaborar um plano para
cumprir sua política ambiental. Para isso deve identificar todos os aspectos
ambientais de suas atividades, determinando os que são significativos e definindo
ações de controle para que não gerem impactos ambientais negativos. Deve,
também, identificar e atender os aspectos legais a que está sujeita, de acordo com o
tipo de atividade que desenvolve e, ainda, estabelecer objetivos, metas e programas
38

que possibilitem o atendimento de sua política ambiental, dos requisitos legais e das
preocupações de outras partes com o seu desempenho ambiental;
Princípio 3 – Implementação e Operação – a organização deve desenvolver a
capacitação e o apoio necessários para a efetiva implementação da sua política
ambiental, seus objetivos e metas ambientais e programas ambientais;
Princípio 4 – Verificação – a organização deve monitorar e avaliar
sistematicamente o seu desempenho ambiental; e
Princípio 5 – Análise pela Administração – a organização deve ter
sistematizado a avaliação crítica e o aperfeiçoamento contínuo de seu Sistema de
Gestão Ambiental com o propósito de aprimorar seu desempenho ambiental global.
Portanto o SGA deve ter como objetivo o aprimoramento contínuo das
atividades da empresa, através de técnicas que conduzam aos melhores resultados,
em harmonia com o meio ambiente (VALLE, 2000).

2.6 VALORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS

Todas as mercadorias têm valor econômico, pois têm preço fixado pelos
mercados. Mas os recursos naturais da biodiversidade, tais como um orangotango,
uma floresta, o ar e tantos outros não têm preço fixado pelos mercados, possuem
pela teoria da economia ecológica o valor de existência independente de serem
utilizados como um recurso. Já no entendimento da utilização de recursos naturais,
como insumos produtivos, estes tornam-se mercadorias, passiveis de valor
econômico identificado pelo mercado, portanto são vistos como mercadorias, e
também constituem-se em ativos essenciais à preservação da vida de todos os
seres (MOTA, 2001).
Barlow (2003), critica o sistema globalizado surgido após o período Pós-
Guerra Fria, pois, segundo o autor, nessa economia de mercado global, tudo agora
está à venda, até mesmo setores já considerados sagrados, como a saúde e a
educação, cultura e herança, códigos genéticos, sementes e recursos naturais,
incluindo o ar e a água.
Na visão limitada da economia, o meio ambiente era visto apenas como fonte
de matéria-prima e receptor de lixo proveniente dos processos de produção e
39

consumo, pois os bens/serviços naturais eram tratados como gratuitos/livres,


abundantes em grande escala na natureza (MOTA, 2001).
A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da administração
amplia substancialmente todo o conceito de administração (CALLENBACH et
al.,1993, citado por MOTA 2001). Mota (2001) complementa dizendo que
anteriormente, os objetivos preconizados pelo modelo da administração tradicional
eram estritamente econômicos, tratando o meio ambiente apenas como uma fonte
inesgotável de suprimento de matéria-prima para as empresas.
A valoração dos ativos naturais, segundo Mota (2001), é de grande
importância a fim de permitir analisar as questões de mercado, as externalidades de
projetos de investimentos e dos problemas judiciais que envolvem os danos ao meio
ambiente e a terceiros.
Um mercado é um local onde grupos de compradores e vendedores
interagem entre si com a finalidade de transacionar bens/serviços gerados pela
atividade econômica. Os bens econômicos têm preços fixados pela lei da
oferta/demanda, mas serviços naturais não têm valor em mercados concorrênciais.
Conclui-se, então, que os mercados tradicionais apresentam falhas, pois os serviços
ambientais não são negociados nesses mercados. Portanto, um sistema de mercado
é considerado bem-sucedido quando um conjunto de mercados comparativos gera
uma alocação eficiente de recursos entre e dentro das economias (MOTA, 2001).
Como os mercados são ineficientes na valoração dos serviços ambientais, o
papel da valoração como instrumento de política pública ambiental é de vital
importância. Um serviço ambiental não é um bem puramente econômico, mas tem
várias características de similaridade com os bens econômicos, por ter consumo e
valor (MOTA, 2001).
Embora Motta (2001), critique a inexistência de um modelo específico para a
valoração de recursos naturais, deve-se seguir a teoria da utilidade econômica, que
segundo Oliveira (2008), está intimamente ligada ao consumo de bens e serviços,
uma vez que as pessoas só consumirão algo que lhes trouxer alguma satisfação. O
consumo de recursos naturais, como a água, não só traz satisfação, como é vital a
vida.
Pearce (1994), cria uma equação para a valoração de bens naturais. O
mesmo diz que o valor econômico total (VET) de um recurso ambiental consiste no
seu valor de uso (VU) e valor de não-uso (VNU). Um valor de uso é aquilo que
40

parece - um valor resultante de um uso real de um dado recurso. Este pode ser o
uso de uma floresta para madeira, ou de uma floresta úmida para diversão ou pesca,
e assim por diante. Os valores de uso são posteriormente divididos em valores de
uso direto (VUD), que se referem a usos reais tais como a pesca, a extração de
madeira, etc.; valores de uso indireto (VUI), que se referem aos benefícios
resultantes de funções do ecossistema, tais como a função de uma floresta ao
proteger a bacia hidrográfica; e valores de opção (VO), que é um valor aproximado
da disponibilidade de um indivíduo em pagar para salvaguardar uma riqueza com a
opção de a usar numa data futura. É como um valor de seguro.
Valores de não-uso (VNU) são divididos entre um valor legado (VL) e um
valor de existência ou de uso "passivo" (VX). O primeiro mede o benefício relativo a
qualquer indivíduo do conhecimento que outros possam beneficiar de um recurso no
futuro. O último não está relacionado com o uso corrente ou valores de opção,
derivando simplesmente da existência de qualquer riqueza específica. O interesse
de um indivíduo em proteger, digamos, a baleia azul, embora ele ou ela nunca
tenham visto uma e também não é provável que tal aconteça, pode ser um exemplo
de valor de existência. Portanto temos no total: VET = VU+VNU =
(VUD+VUI+VO)+(VX+VL). (PEARCE, 1994).
Pearce (1994), destaca que segundo muitos ecologistas o valor econômico
total não representa toda a economia. Existem algumas funções subjacentes de
sistemas ecológicos que são anteriores às funções ecológicas. Turner (1992), citado
pelo autor destaca a existência de uma união dos fatores integrantes de um
ecossistema, que excede a soma dos fatores de funções individuais.
Oliveira (2008), numera as principais características da utilidade:
1) não mensurável: não existe uma unidade que a mensure;
2) ser comparável: mesmo não sendo mensurável, frequentemente
adquirimos um determinado bem ou serviço em detrimento de outro, por julgarmos
que um deles será mais útil;
3) depender da percepção de cada indivíduo: está ligada ao nível de
informação e cultura de cada indivíduo, de forma que determinado bem ou serviço
pode ter grande utilidade para uns e nenhuma para outros.
A água é um recurso muito visível, o que causa uma falsa impressão de
abundância, assim, segundo Setti (2000) ela pode ser tratada como bem livre, sem
valor econômico. No entanto o autor argumenta que com o crescimento da
41

demanda, começam a surgir conflitos entre usos e usuários da água, a qual passa a
ser escassa e, então, precisa ser gerida como bem econômico, devendo ser-lhe
atribuído o justo valor. Essa escassez também pode decorrer devido aspectos
qualitativos, quando a poluição afeta de tal forma a qualidade da água que os
valores excedem os padrões admissíveis para determinados usos.
Conforme a idéia de Setti (2000), é preciso calcular-se o valor da água. Mota
(2001), explica que a valoração de recursos naturais resume-se em um conjunto de
métodos úteis para mensurar os benefícios proporcionados pelos ativos naturais e
ambientais, os quais se referem aos fluxos de bens e serviços oferecidos pela
natureza, às atividades econômicas e humanas. Mesmo com a escassez desses
recursos, tais atividades continuam consumindo os recursos da natureza em escala
acelerada.
Desta forma o princípio da escassez contribui para que o recurso água receba
um valor identificado pelo mercado.
Serviços como o fornecimento de água, tradicionalmente realizado por
governos municipais na maioria dos países, é assumido por corporações,
frequentemente estrangeiras, com interesse, nos lucros. Através desse processo de
privatização, a água é transformada em um artigo, recebe um preço e é colocada e
vendida no mercado, normalmente com base na capacidade para pagar por ele
(BARLOW, 2003).
Geralmente a privatização da água ocorre em uma de três formas. Na
primeira delas, os governos vendem completamente o fornecimento de água pública
e os sistemas de tratamento para as corporações, como aconteceu no Reino Unido.
O segundo modo é o modelo desenvolvido na França, por meio do qual os governos
cedem concessões às corporações de água para que elas assumam o fornecimento
do serviço e o custo da operação e manutenção do sistema, enquanto coletam todas
as receitas dos serviços de água e mantém o excesso como lucro. A terceira
maneira segue um modelo mais restrito; no qual uma corporação é contratada pelo
governo para administrar os serviços de água por uma taxa administrativa, mas a
empresa não pode assumir a coleta de receitas nem acumular lucros. Enquanto as
três formas contêm a semente da privatização, o mais comum é o segundo modelo,
freqüentemente chamado de "parcerias público-privado" (BARLOW, 2003).
42

2.7 LEGISLAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

Para orientar a gestão dos recursos hídricos no Brasil tem-se o Código de


Águas estabelecido pelo Decreto Federal nº. 24.643 de 10/07/1934 (BRASIL,1934);
a própria Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Lei Federal nº. 9.433 de
08/01/1997 (BRASIL, 1997), e a Lei Federal nº. 9.984 de 20/06/2000 (BRASIL,
2000). No âmbito estadual o Estado do Paraná apresenta a Lei 12.276 de 26 de
novembro de 1999 (PARANÁ, 1999), e o projeto de Lei Estadual 515/2008.
O Código de Águas define o uso prioritário para abastecimento público e
defende os aproveitamentos múltiplos. O artigo 36 define que tem “preferência a
derivação para o abastecimento das populações”. No artigo 71 é dito que “terá
sempre preferência sobre quaisquer outros o uso das águas para as primeiras
necessidades da vida”.
A Constituição Federal de 1988, no art. 20, estabelece que, são bens da
União os lagos, rios e quaisquer correntes em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado da federação, sirvam de limite com outros países, ou se
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos
marginais e as praias fluviais. Estabelece, ainda, como “bens dos Estados, as águas
superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas,
neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União”. (BRASIL, 1988).
Em 1997 concretizou-se a decisão do país de enfrentar, com um instrumento
inovador e moderno (Lei 9.433 a chamada Lei das Águas), o desafio de equacionar
a demanda crescente de água para fazer face ao crescimento urbano, industrial e
agrícola, os potenciais conflitos gerados pelo binômio disponibilidade-demanda e o
preocupante avanço da degradação ambiental de nossos rios e lagos. Foi definida,
então, a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e criado o Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SNGRH (ANA, 2002).
A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei 9.433, de 1997,
baseia-se em fundamentos e princípios aceitos hoje em quase todos os países que
avançaram na gestão de recursos hídricos. Este dispositivo legal estabelece que a
água é um bem de domínio público; um recurso natural limitado, dotado de valor
econômico; que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
múltiplo das águas; que, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos
43

hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; que a gestão de


recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder
Público, dos usuários e da sociedade civil organizada (ANA, 2002).
Esta lei promoveu uma importante descentralização da gestão: da sede do
Poder Público para a esfera local da bacia hidrográfica. A Lei permite efetivar,
também, uma parceria do Poder Público com os usuários da água e com a
sociedade civil organizada.
Prevê como diretriz geral de ação a gestão integrada e como instrumentos
para viabilizar sua implantação os planos de recursos hídricos, o enquadramento
dos corpos de água em classes segundo os usos preponderantes, a outorga de
direito de uso, a cobrança pelo uso da água e o sistema de informação sobre
recursos hídricos (ANA, 2002).
ANA (2002), mostra que o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, deve cumprir os seguintes objetivos:
- coordenar a gestão integrada das águas;
- arbitrar administrativamente os conflitos ligados ao uso da água;
- implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
- planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos
recursos hídricos;
- promover a cobrança pelo uso da água.
Dentre as principais inovações introduzidas pela Lei 9.433/97 está o
estabelecimento claro, quase didático, dos instrumentos que devem ser utilizados
para viabilizar a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos (ANA, 2002):
I. os Planos de Recursos Hídricos;
II. o enquadramento dos corpos de águas em classes de usos
preponderantes;
III. a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos;
IV. a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
V. a compensação aos Municípios;
VI. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos;
A Lei 9.433/97 é avançada e importante para a ordenação territorial do país,
mas implica mudanças importantes dos administradores públicos e dos usuários, já
que requer receptividade ao processo de constituição de parcerias (ANA, 2002).
44

Grassi (2000) coloca que a Política de Gestão de Recursos Hídricos, no


Brasil, já avançou, mas ainda é preciso buscar a interação de todas as áreas e a
correta alocação dos recursos. A água precisa ser vista como um direito de todos, e
todos devem ser responsáveis pela sua manutenção e proteção. Como também
afirma Jouravlev (2001), a Política de Recursos Hídricos, está em plena formação, e
permanente atualização buscando a interação de todas as áreas e a correta
alocação do recurso água.
O Projeto de Lei de criação da Agência Nacional de Águas - ANA foi
aprovado pelo Congresso Nacional no dia 20 de junho de 2000, resultando na Lei
9.984. A ANA, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e dotada de autonomia
administrativa e financeira, tem o objetivo de disciplinar a utilização dos rios, de
forma a controlar a poluição e o desperdício, para garantir a disponibilidade das
águas para as gerações futuras. Para sua atuação, a ANA se subordina aos
fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos
Hídricos e articula-se com órgãos e entidades públicas e privadas, integrantes do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Sua missão é complexa
e a lista de tarefas é extensa (ANA, 2002).
A Lei Estadual nº 12726 de 26/11/1999, institui a Política Estadual de
Recursos Hídricos e cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, como parte integrante dos Recursos Naturais do Estado do Paraná.
A Política Estadual de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos (PARANÁ, 1999):
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV - gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Estadual de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
45

Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política


Estadual de Recursos Hídricos (PARANÁ, 1999):
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos
de quantidade e qualidade;
II - a gestão sistemática dos recursos hídricos adequada às diversidades
físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões
do Estado;
III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV - a articulação da gestão de recursos hídricos com o dos setores usuários
e com os planejamentos regional, estadual e nacional;
V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo e o
controle de cheias;
VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas
estuários e zonas costeiras.
A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos é um dos instrumentos da
Política Nacional e Estadual de Recursos Hídricos, instituído pela Lei Federal nº
9433/97 e no Estado do Paraná está disciplinada no Capítulo VI Seção IV da Lei
Estadual de Recursos Hídricos de nº 12.726/99 e regulamentada pelo Decreto nº
4.646 de 31 de agosto de 2001.
O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos do Estado tem
como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e
efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estão sujeitos à outorga pelo Poder
Público os seguintes direitos de uso de recursos hídricos, independentemente da
natureza, pública ou privada, dos usuários (PARANÁ, 1999):
I - derivações ou captação de parcela da água existente em um corpo de
água para consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo de processo
produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo
de processo produtivo;
III - lançamento, em corpo de água, de esgotos e demais resíduos líquidos
ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final;
IV - aproveitamento de potenciais hidrelétricos;
46

V - intervenções de macrodrenagem urbana para retificação, canalização,


barramento e obras similares que visem ao controle de cheias;
VI - outros usos e ações que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade
da água ou o leito e margens de corpos de água.
A resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, nº 357, DE
17 DE MARÇO DE 2005 (CONAMA, 2005), dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece
as condições e padrões de lançamento de efluentes, sendo assim uma das
legislações pertinentes as atividades industriais que utilizam-se de recursos hídricos.
Desta forma evidencia-se que a implementação da gestão dos recursos
hídricos influenciará de muitas formas na gestão das empresas, principalmente nas
que possuem grande demanda do recurso nos seus processos produtivos. O
caminho a percorrer é longo, mas exigirá adequação e conhecimento de todos os
atores envolvidos.
É vital que as organizações tenham conhecimento das legislações
pertinentes, levando-as em conta em seus processos de gestão, para que as
decisões tomadas ocorram de acordo com a legislação. A Lei 9.433/97 é de grande
importância para todas as indústrias e deve fazer parte do quotidiano de todos os
gestores que trabalharem nesta área, pois prevê a implantação da cobrança pela
água, fenômeno este que poderá implicar em grandes mudanças a nível
organizacional, assim como bons gestores, as organizações que já se mostrarem
preparadas a tais mudanças com certeza poderão converter isto em vantagens
competitivas.
A água é um recurso indiscutivelmente essencial à vida, e a quase todas as
atividades humanas, como apresentado por Setti (2000). Cabe as organizações
cumprir com seu papel social e cumprir as legislações garantindo a preservação dos
recursos hídricos, através de sua adequada utilização de forma sustentável.
Em 2008, o estado do Paraná passa por uma grande mudança quanto a
gestão de suas águas. Com o projeto de Lei Estadual 515/2008, é extinta a
SUDERHSA, sendo então criado então o Instituto de Águas do Paraná - IPAGUAS,
a qual é vinculada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos -
SEMA.
47

O Instituto Paranaense das Águas terá sede e foro na cidade de Curitiba e


jurisdição em todo território do estado do Paraná, podendo instalar unidades
administrativas regionais.
O IPAGUAS tem por finalidade oferecer, suporte institucional e técnico à
efetivação dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos - PERH/PR
instituída pela Lei nº 12726/99. Constitui, também, suas finalidades o exercício das
funções de entidade de regulação e fiscalização dos serviços públicos de água,
esgoto e resíduos sólidos prestados na gestão associada entre o estado e
municípios.
Em reportagem do jornal Diário do Sudoeste de 04 de setembro de 2009
(SPIGOSSO, 2009), diz que a lei regulamenta a cobrança pela água no estado,
praticamente isentando os agricultores, no entanto, grandes industrias deverão
efetuar o pagamento que ficará em R$ 0,03 por metro cúbico, a partir de 2010.

2.8 GESTÃO SOCIAL DA ÁGUA

A política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei Federal 9.433/97,


trouxe em seu bojo um princípio que torna o assunto “Mobilização Social” tema
obrigatório nos debates sobre sua implementação (ZINATO, 1998).
Em seu Artigo 1º - VI, a Lei Federal 9.433/97 traz que “a gestão dos recursos
hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos
usuários e das comunidades.”(BRASIL, 1997)
Neste contexto, Zinato (1998), diz que historicamente, se sabe que mobilizar
uma comunidade não é uma tarefa tão simples quanto se desenhar um projeto
técnico. As incontáveis variáveis que uma negociação reúne quase torna um
possível pensar-se num processo nacional de mobilização. Sem a conscientização e
a ação dos usuários das águas, os problemas não só se tornam maiores, mas
também suas soluções mais caras e pouco eficazes.
A necessidade de refletir sobre modelos e experiências de gestão de recursos
hídricos se faz necessária, hoje, para assim se pensar na sua aplicabilidade no
contexto brasileiro. A gestão deste recurso é fundamental para a compreensão e
discussão da gestão ambiental de forma amplificada, pois a sua projeção transcende
a outras áreas, como a indústria e a agricultura (BOTELHO, 2007).
48

Medeiros (2006), discute a crise hídrica planetária que se instalou nas últimas
décadas, desencadeando um amplo processo de discussão sobre os usos da água,
principalmente pela escassez e pela contaminação em muitas regiões do globo.
Neste contexto histórico da crise da água, é necessário que a sociedade
tenha a compreensão das dimensões que a envolvem sob pena de se perder o
controle social deste patrimônio natural e pôr em risco um grande contingente
humano. A gestão hídrica implicará num grande debate nos países que se
comprometeram em implantar políticas ambientais após as grandes conferências
internacionais sobre o ambiente humano (MEDEIROS, 2006).
Ainda Medeiros (2006), comenta que a participação social envolve
diretamente a Escola e sua comunidade. Neste caso, dependendo da ação dos
atores deste espaço ele pode adquirir diferentes funções em relação à questão
hídrica.
Muito discute-se o contexto econômico e ambiental da água, no entanto, não
pode-se excluir o contexto social. Desta forma, as empresas assumem também a
responsabilidade desta perspectiva, uma vez que as praticas adotadas dentro da
organização, são levadas para fora através dos colaboradores. Uma organização
que incentive e cobre boas práticas de utilização da água, estarão contribuindo com
a extensão desses conceitos as casas de seus colaboradores.
Zinato (1998), levando em conta a vulnerabilidade do recurso água, e o
compromisso compartilhado da sociedade, cita algumas mudanças necessárias:
- Estimular a participação e a mobilização das comunidades e sociedade civil
organizada no processo de gestão das bacias hidrográficas;
- Fortalecer a Política Nacional de Recursos Hídricos;
- Estabelecer Políticas Municipais e Regionais de Recursos Hídricos;
- Democratizar as informações sobre as fontes e a utilização dos recursos
financeiros existentes destinados à revitalização dos recursos hídricos;
- Envolver os centros de excelência existentes no país na gestão dos recursos
hídricos, sobretudo as universidades brasileiras; e
- Treinar, apoiar e valorizar os poderes de polícia, visando coibir os crimes
ambientais.
As indústrias, principalmente aquelas apontadas como grandes consumidoras
de água apresentam um papel importante na conscientização da comunidade.
49

Adotando boas práticas internas, pode, através de seus colaboradores ser uma
grande difusora de conhecimentos.
Tundisi (2003) cita formas simples que visam o uso racional da água em
residências, que estão ao alcance de todos, podendo também refletir e serem
adotadas no ambiente organizacional, como:
- Inspecionar a tubulação e prevenir vazamentos;
- Instalar sistemas capazes de controlar a quantidade de água nos chuveiros;
- Fechar o registro geral durante as férias ou quando a casa estiver vazia;
- Isolar as tubulações de água quente;
- Efetuar concertos imediatos;
- Diminuir a quantidade de água por descargas;
- Não utilizar pias como cestos de lixo;
- Esperar encher completamente a máquina de lavar roupas antes de acioná-
las;
- Tomar uma “chuveirada” em vez de um “banho”;
- Desligar a água do chuveiro enquanto estiver se ensaboando;
- Para ter água quente, ligar esse registro primeiro e depois misturar a água
fria;
- Ao lavar pratos, utilizar uma esponja só para detergente e outra só para
água;
- Planejar as atividades de jardinagem, no sentido de economizar água;
- Durante a construção ou reforma:
- Instalar tubulações de diâmetro menor que as convencionais;
- Posicionar o aquecedor o mais próximo possível do local de consumo da
água quente.
Através das colocações de Tundisi (2000) pode-se verificar que os primeiros
passos para o uso racional da água são simples e podem ser praticados por todos.
Zinato (1998), discute a dificuldade na mudança de paradigmas da sociedade, e
assim enfatiza-se o papel das organizações em contribuir com o desenvolvimento do
pensamento, visando o desenvolvimento do ambiente.
Após o amadurecimento dos conceitos teóricos envolvidos, passa-se a
apresentar a organização em estudo.
50

3. CONFEPAR

3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA

A CONFEPAR é uma união de cooperativas agropecuárias nascida na região


norte do Paraná, voltadas especialmente para a produção de leite. A entidade
nasceu em 1982 como Confederação das Cooperativas Centrais Agropecuárias do
Paraná Ltda. transformando-se, em 1986, na Confepar Agro-Industrial Cooperativa
Central, mantendo-se esta sua atual denominação.
A empresa, engloba 8 cooperativas, sendo estas:
- Cativa - Cooperativa Agropecuária de Londrina Ltda (Londrina/PR);
- Coamig – Cooperativa Agropecuária Mista de Guarapuava Ltda
(Guarapuava/PR);
- Cocafé - Cooperativa Agrícola de Astorga (Astorga/PR);
- Cofercatu - Cooperativa Agropecuária de Cafeicultores de Porecatu
(Porecatú/PR);
- Colari –Cooperativa de Laticínios de Mandaguari Ltda (Mandaguari/PR);
- Coopleite - Cooperativa Central de Captação de Leite (Londrina/PR);
- Copagra - Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Nova Londrina (Nova
Londrina/PR);
- Corol – Cooperativa Agroindustrial Ltda (Rolândia/PR).
Atualmente a empresa conta com a unidade de Londrina/PR, e uma filial em
Pato Branco/PR, além de 6 entrepostos de resfriamento nas seguintes localidades:
- Barracão – PR;
- Imbaú – PR;
- Maringá – PR;
- Nova Londrina – PR;
- Batayporã – MS;
- Dionísio Cerqueira – SC.
Na matriz, na cidade de Londrina/PR, a capacidade de recebimento é de
1.200.000 litros de leite diários, a partir dos quais são produzidos os seguintes
produtos:
51

- Carro-Chefe: Leite em Pó 25kg e fracionado (marcas Polly, Optimilk e


Confepar, bem como terceirização);
- Leite Concentrado;
- Leite Pasteurizado (marcas Polly, Cativa e Cidade Verde);
- Leite UHT (Ultra Hight Temperature) Integral, Semi-Desnatado e Desnatado
(marcas Polly e Cativa);
- Bebida Láctea Fermentada Sabores Morango, Coco, Pêssego e Salada de
Frutas (marcas Polly e Cativa);
- Bebida Láctea Sabor Chocolate e Chocolate com Morango (marcas Polly e
Cativa);
- Manteiga Extra (marcas Polly e Confepar).

3.1.1 Missão, Princípios e Valores

A missão da empresa é: “contribuir para viabilizar a pecuária leiteira através


da industrialização e comercialização de produtos lácteos, com soluções inteligentes
que respeitem o meio ambiente e os colaboradores”.
A empresa adota como princípios: “reconhecer a responsabilidade como
indústria e contribuir para garantir o alimento, a paz e a preservação do meio
ambiente.”, e valores:
- “Ter qualidade em todas as atividades,
- Atender nossos clientes e fornecedores alcançando sua satisfação,
- Valorizar o crescimento do ser humano, bem como respeitá-los,
- Buscar sempre a transparência em nossas atitudes,
- Ser humildes para a aprendizagem, correção e ensinamentos, e
- Respeitar o meio ambiente”.

3.1.2 Estrutura Organizacional

Uma vez que a empresa é uma confederação de cooperativas, possui uma


estrutura organizacional diferenciada, onde as decisões devem passar por uma
52

assembléia geral, constituída por representantes de todas as cooperativas


acionistas.
O organograma da empresa é apresentado na Ilustração 4.
Assembléia Geral

Presidência

Auditoria Interna Assessoria Jurídica

Comitê da Secretaria
Qualidade

Departamento Departamento Departamento Departamento de


Adm./Financeiro Industrial Comercial Captação

Finanças Manutenção/ Vendas Leite Captação de


Serviços Pasteurizado/ Matéria-Prima
Derivados

Contábil Produção/Utilidades Vendas Leite Assistência Técnica


UHT/Derivados

Recursos Humanos Garantia da Vendas Leite em Pó Captação


Qualidade e Meio Administrativo
Ambiente

Segurança e Controle da Armazém/Expedição


Medicina do Qualidade
Trabalho

Serviços Gerais Planejamento e Faturamento


Controle de Prod.

Suprimentos Marketing

Centro de
Informações

Controladoria

Ilustração 4: Organograma da estrutura organizacional da empresa – Matriz/Londrina-PR.


Fonte: Manual do Colaborador CONFEPAR

3.1.3 Política de cargos e salários

A empresa visualiza sua política de cargos e salários como uma recompensa


aos colaboradores dentro da política salarial de mercado, em uma cultura de
remuneração justa e equitativa. Constitui ainda um instrumento que permite à
53

cooperativa planejar, medir e avaliar o grau de desempenho e desenvolvimento dos


colaboradores. Os principais objetivos do plano de cargos e salários são:
- Definir a política salarial da empresa, normas e procedimentos;
- Respeitar a equidade salarial interna e externa, buscando atrair e reter
profissionais qualificados;
- Criar a base para decisões salariais e mecanismos de promoções internas;
- Gerenciar os custos da folha de pagamento;
- Favorecer os demais subsistemas de gerenciamento de pessoas (AD,
recrutamento e seleção, treinamento, rotinas trabalhistas, etc);
- Contribuir com a melhoria do clima organizacional.

3.1.4 Programas de qualidade

O D`OLHO é um sistema de qualidade adotado pela empresa, o qual é


inspirado no método japonês 5S. O principal objetivo do D`OLHO é criar um
ambiente de trabalho digno organizado e limpo, onde o colaborador se sinta bem
consigo mesmo e com os demais. Para tanto, é fundamental a participação de cada
um, para que os objetivos sejam atingidos. O D`OLHO é, acima de tudo, um
programa de execução, de ação!
As premissas do programa são:
D – Descarte: separar o útil do inútil no seu local de trabalho;
O – Organização: um nome para cada coisa, cada coisa em seu devido lugar;
L – Limpeza: quem limpa não suja, quem limpa inspeciona;
H – Higiene: higiene pessoal e melhoria contínua no ambiente de trabalho;
O – Ordem mantida: fazer as coisas de acordo com as normas.
Quando se fala em qualidade de alimentos, deve-se ter em mente a
segurança alimentar. Um alimento seguro é aquele que não oferece perigo à saúde
do consumidor. Por isso, a Confepar implantou o programa “Boas Práticas de
Fabricação – BPF” e o sistema “Análise de Perigos e Prontos Críticos de Controle –
APPCC”.
54

O programa BPF, abrange uma serie de regras que previnem a contaminação


do produto durante sua fabricação, de modo que se obtenha um alimento seguro e
de qualidade.
O sistema APPCC, consiste em um método com base científica, que adota
procedimentos sistemáticos para identificar os perigos de contaminação e estimular
os riscos que podem afetar a qualidade e segurança dos alimentos. Visa-se com
este sistema, estabelecer as medidas preventivas necessárias para evitar esses
perigos, os quais são classificados como químicos, físicos e microbiológicos.

3.1.5 Benefícios

Uma das prioridades da Confepar é manter o bem-estar do colaborador, de


forma que este desempenhe seu trabalho com satisfação e alegria.
Com esse propósito, a Confepar faz investimentos, propiciando aos
colaboradores vantagens e benefícios muito importantes, a seguir destacados:
- Adiantamento salarial: 40% do salário base, pago ate o dia 15 de cada mês;
- Fornecimento de uniforme: cada colaborador recebe 3 uniformes completos,
lavados e passados na lavanderia da empresa;
- Ajuda alimentação: todos os colaboradores recebem auxilio alimentação;
- Restaurante: a empresa oferece aos colaboradores, sem custo, café da
manha; almoço; café da tarde; jantar; ceia;
- Ônibus: alem do vale transporte obrigatório, a empresa disponibiliza ônibus
do centro da cidade até a empresa, e vice-versa;
- Kit bebê: para os colaboradores que tiverem filho, a empresa disponibiliza
um kit bebê, contendo produtos de primeira necessidade do bebê;
- Presente de casamento: por ocasião do casamento, os colaboradores
recebem um presente, e uma licença adicional a prevista em lei;
- Seguro de vida e auxilio funeral: a empresa disponibiliza o seguro de vida
em grupo e auxílio-funeral;
- Assistência médica: trata-se de um plano ambulatorial, no qual são
permitidas consultas, exames e pequenas cirurgias ambulatoriais;
55

- Assistência odontológica: a empresa tem convenio com a Assistência


Odontológica Oralmed, tanto para colaboradores e seus dependentes;
- Farmácia: a empresa mantém convênio com farmácias, para aquisição de
medicamentos, com desconto em folha.
- Aniversariantes do mês: a empresa realiza um almoço especial no final de
cada mês em comemoração aos aniversariantes do mês, e cada aniversariante
recebe uma lembrança no café da manha especial para os aniversariantes;
- Associação recreativa e convênios: a empresa possui uma associação
recreativa. O colaborador interessado desconta 1,5% do salário mínimo por mês,
podendo assim utilizar o ambiente para eventos sociais, festivos e culturais;
- Eventos especiais: Em algumas datas especiais, a Confepar prepara uma
comemoração festiva diferente, visando o reconhecimento e a satisfação do
colaborador na data específica.
- Auxílio-educação: Atenta a responsabilidade social, a Confepar investe
também na educação de seus colaboradores. Para tanto, contribui com 50% do valor
das mensalidades escolares efetivamente pagas, a título de auxílio-educação.
- Empréstimos bancários: Para a concessão de empréstimos á seus
colaboradores, a cooperativa mantém convênios com os bancos: Caixa Econômica
Federal e Banco do Brasil.
- Programa de participação nos resultados - PPR: A empresa é adepta ao
PPR, conforme legislação 10.101/2000 e Acordo de Participação nos Resultados
com o sindicato da categoria.

3.2 A UNIDADE DE PATO BRANCO

A região sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina é uma grande bacia


leiteira, compondo assim parte significativa dos fornecedores da empresa. Em média
partiam sete caminhões da região levando leite até a matriz da empresa em
Londrina-PR, gerando elevados custos com frete.
Desta forma, a unidade de Pato Branco foi idealizada visando a redução no
custo com fretes. A unidade recebe todo o leite vindo da região, e de algumas
localidades do Rio Grande do Sul, e realiza o processo de concentração, que é
capaz de retirar aproximadamente 50% da água da composição do leite, reduzindo
56

seu volume em aproximadamente 43%. Assim o produto final da unidade é o leite


concentrado, que é enviado a matriz para produção de diversos produtos, não sendo
o leite concentrado comercializado.
Assim ao invés de irem, em média, 7 caminhões semanalmente da região até
a matriz, atualmente vão apenas 3. A partir disto, o pay-back da unidade foi de
aproximadamente um ano, através da redução de custos com transporte.
A unidade foi inaugurada em abril de 2008, com capacidade de recebimento
de 320 mil litros de leite diários, contando com 60
colaboradores. A instalação da unidade prevê mais 2 fases. A segunda contempla
ampliação, para recepção de 920.000 litros de leite por dia, e produção de leite
concentrado e manteiga, ampliando o quadro funcional para 100 colaboradores. A
terceira fase prevê a recepção de 1.500.000 litros de leite ao dia, produção de leite
concentrado, leite em pó, e manteiga, contando com 240 colaboradores.
A unidade de Pato Branco segue a mesma Missão da matriz, assim como
adota os mesmos Princípios e Valores.
A estrutura organizacional da unidade é bastante reduzida em relação a
matriz. Existem dois setores principais, que são o Departamento Industrial e o
Departamento de Captação. Cada um destes departamentos possui subordinados
para dar suporte a suas atividades.
O Departamento Industrial é responsável pelas atividades de produção,
atuando diretamente na área fabril, enquanto o Departamento de Captação é
responsável pela compra de matéria prima, envolvendo assim o contato e a
assistência aos produtores.
Estes dois departamentos por sua vez estão subordinados a Diretoria da
matriz da empresa, e contam com o suporte de alguns outros departamentos,
também da matriz, que são: Auditoria interna, Comitê da Qualidade, Assessoria
Jurídica e Secretaria. No organograma da Ilustração 5, está esquematizada a
estrutura organizacional da unidade de Pato Branco, sendo os departamentos da
unidade, em azul, e em cinza, aqueles da matriz.
57

Assembléia Geral

Presidência

Auditoria Interna Assessoria Jurídica

Comitê da Qualidade Secretaria

Departamento Industrial Departamento de Captação

Manutenção/Serviços Captação de Matéria-Prima

Produção/Utilidades Assistência Técnica

Garantia da Qualidade e Meio Captação Administrativo


Ambiente

Controle da Qualidade

Planejamento e Controle de
Produção

Ilustração 5: Organograma da estrutura organizacional da empresa – Unidade Pato Branco-PR


Fonte: Manual do Colaborador CONFEPAR

Na unidade de Pato Branco, é aplicada a mesma política de cargos e salários,


visando uma remuneração justa e equitativa aos colaboradores, e uma forma de
planejar, medir e avaliar o grau de desempenho e desenvolvimento dos
colaboradores.
Assim visando o bem estar dos colaboradores, estes contam com os mesmos
benefícios disponibilizados para os colaboradores da matriz, com exceção de alguns
58

itens, que devido a estrutura ainda reduzida da empresa, não são possíveis, no
entanto constituem promessas futuras, como:
- Lavanderia da empresa;
- Restaurante; até o momento existe apenas o refeitório, com espaço para
aqueles que levam refeição de casa, possam almoçar;
- Assistência odontológica;
- Farmácia;
- Aniversariantes do mês;
- Associação recreativa.
Muitos dos benefícios concedidos na matriz, ainda não fazem parte daqueles
oferecidos aos colaboradores da unidade de Pato Branco, devido ao pouco tempo
de funcionamento da mesma, e esta não contar com uma estrutura tão desenvolvida
quanto a da matriz.
59

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para analisar a gestão dos recursos hídricos utilizados na produção de leite


concentrado, o presente estudo foi realizado com base na pesquisa desenvolvida na
empresa Confepar Agro-industrial Cooperativa Central, através da vivencia na
empresa no período de maio a agosto de 2009, o qual possibilitou o contato com os
processos adotados pela empresa, análise de documentos, e desenvolvimento de
metodologias que objetivaram responder a problemática de como é realizada a
gestão e controle do uso da água no processo produtivo da Confepar Agro-industrial
Cooperativa Central, unidade de Pato Branco?

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A definição da metodologia adotada para a condução da pesquisa está


intrinsecamente relacionada com a natureza do estudo. Para Gil (1999), pesquisa é
“um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O
objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o
emprego de procedimentos científicos”.
Portanto a pesquisa é “um procedimento formal, com método de
pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho
para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. (MARCONI e
LAKATOS, 2003).

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Com objetivo de analisar a gestão dos recursos hídricos na organização em


questão, foi vital identificar a demanda de água em seus processos. Para tal utilizou-
se o método da pesquisa quantitativa, pois necessitou-se estabelecer relações, a
partir de informações, que permitiram a análise e conclusões dos objetivos
propostos.
60

Roesch (1999) diz que enquanto na pesquisa quantitativa o pesquisador


parte de conceitos a priori sobre a realidade, o pesquisador qualitativo sai a campo
não estruturado, justamente para captar as perspectivas e interpretações das
pessoas. Neste caso, a reflexão teórica ocorre durante ou quase no final do
processo de coleta de dados.
No entanto, ainda segundo Roesch (1999), a pesquisa quantitativa leva em
consideração a procura por padrões estabelecidos. Assim, neste estudo, a
legislação que estabelece as normas e regulamenta o processo, assim como autores
citados que fornecem margens de consumo pré-estabelecidas podem ser entendidas
como padrões já existentes, que foram utilizados como comparação.
De acordo com os métodos empregados, este estudo caracteriza-se como
quantitativo em virtude da contextualização da indústria, e a busca de bibliografias
que apresentem faixas de consumo de água por atividade, assim como métodos de
utilização deste recurso, embasando-se ainda nas legislações e instrumentos de
gestão, assim como a mensuração da demanda de água necessária na organização
em estudo.
Entretanto, a análise das formas de gestão do recurso água, empregados
pela organização forneceram uma perspectiva qualitativa dos dados mensurados.
Quanto aos objetivos, a pesquisa foi descritiva e exploratória; descritiva,
pois exigiu descrição do processo produtivo do leite em pó/concentrado e a forma de
uso do recurso água. Exploratória, pois, conforme Gil (1999), este tipo de pesquisa
visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explicito
ou a construir hipóteses. Envolvem levantamento bibliográfico; análise de exemplos
que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas
Bibliográficas e Estudos de caso, sendo nesta entendido como um estudo de caso.
Marconi e Lakatos (2003), consideram a pesquisa exploratória como tendo o
objetivo de formular questões ou relacionar o problema com finalidade de
proporcionar conhecimento ao pesquisador sobre um ambiente, fato ou fenômeno,
para clarear conceitos e serem desenvolvidas pesquisas futuras.
61

4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DE PESQUISA

O universo da pesquisa foi a indústria Confepar, Cooperativa Central


Agroindustrial, localizada no município de Pato Branco-Pr, devido ao seu ramo de
atividade (produção de leite concentrado), que encontra-se entre uma das indústrias
que mais consome água, segundo Leeden (1990). Desta forma, tornou-se relevante
uma análise mais acurada de sua gestão de recursos hídricos, com o foco na
produção.

4.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Foram coletados dados através da pesquisa bibliográfica, utilizando-se de


livros, artigos, documentos e publicações encontradas em sites, jornais, revistas e
demais materiais que forneceram informações referentes ao assunto abordado,
assim como as legislações que regulamentam o uso da água, para dar
fundamentação teórica a pesquisa.
Para o melhor entendimento do processo produtivo adotado pela empresa foi
feita uma descrição do mesmo através de informações obtidas em visitas in loco, do
ambiente fabril, com acompanhamento de um responsável da empresa. O registro
de fotografias normalmente não é permitido pela empresa, visando a segurança e a
não exposição dos colaboradores, no entanto, para este trabalho a empresa
autorizou a publicação de algumas fotografias, com objetivo de ilustrar os processos
produtivos. Desta forma propiciando um aprofundamento do conhecimento do
processo.
Quanto a quantificação da demanda de água foi utilizado o referencial teórico
e um roteiro de acompanhamento para observação e coleta de dados da pesquisa
(APÊNDICE A), que identificou previamente dados vitais a pesquisa. Os dados de tal
roteiro foram obtidos ao longo de visitações na empresa, entre os meses de maio e
agosto de 2009, sendo repassados pelos responsáveis de cada setor. Quanto as
políticas de gestão adotadas pela empresa, foi possível conhecê-las através de uma
62

visita realizada na matriz da empresa, na cidade de Londrina-PR, no mês de julho de


2009.
Foram ainda consultados documentos da empresa, como planilhas de
controle, relatórios, manuais técnicos, etc. de uso interno da empresa para obtenção
de dados.
As primeiras visitas proporcionaram o conhecimento das atividades
desenvolvidas na empresa, e a familiarização com ambiente. A partir disto, então,
foram identificadas todas as formas de consumo de água, e criado então um
fluxograma ilustrativo (APÊNDICE B). Partindo do conhecimento de todas as formas
de consumo de água, procedeu-se então com análises, objetivando a quantificação,
as quais estão descritas no decorrer do trabalho.

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados foi realizada procurando responder aos objetivos


propostos, que tem como objetivo geral, analisar a gestão de recursos hídricos, no
processo produtivo, da Confepar Agro-industrial Cooperativa Central, localizada em
Pato Branco-PR, quanto aos aspectos ambientais, econômicos e sociais.
Para chegar-se a este objetivo maior, utilizou-se de quatro menores,
denominados específicos, que são: descrever o processo produtivo da empresa;
identificar e quantificar a demanda de água na atividade produtiva; verificar e
quantificar o destino dos efluentes gerados na atividade produtiva; e, sugerir, se
necessário e viável, procedimentos que visem a melhoria dos aspectos ambientais,
econômicos e sociais, na gestão dos recursos hídricos.
A partir dos dados obtidos, foi possível identificar a demanda de água em
cada fase da produção, assim como, por unidade final do produto.
O processo produtivo foi entendido e descrito, correlacionando cada fase com
os dados de consumo de água.
Com as quantidades de água empregada no processo, foi possível compará-
la as faixas de consumo obtidas na bibliografia. Também sendo possível sua
quantificação na estação de tratamento.
63

Através da percepção do uso do recurso água por parte dos colaboradores,


pretendeu-se identificar o comprometimento dos mesmos com o uso racional da
água, verificando o aspecto social.
Primeira análise de dados quantitativa, devido ao levantamento de dados da
empresa e adequação a legislação e normas de produção. Sendo posteriormente
concluída com uma avaliação qualitativa buscando o aprofundamento do tema e
correlação com os autores abordados no referencial.
Para conclusão do trabalho, foram confrontados os dados obtidos na empresa
através dos questionários e demais informações documentais, com a revisão
bibliográfica, que sugere formas de gestão.
Através da vivência no quotidiano da empresa, foi possível conhecer as
políticas da empresa quanto a utilização de recursos hídricos, e dos programas de
gestão ambiental desenvolvidos, a política ambiental existente, suas metas e
objetivos. Desta forma tornou-se possível uma analise da gestão de recursos
hídricos, confrontando as políticas adotadas com a teoria e as legislações
referenciadas.
64

5. ANÁLISE DE DADOS

Os dados apresentados neste capítulo foram obtidos por intermédio de visitas


realizadas na empresa, através da observação, das conversas com os
colaboradores, sendo estes principalmente com o Supervisor de produção e o
Responsável técnico pela ETE, assim como a consulta em alguns documentos,
pôde-se formular a presente análise.

5.1 A CADEIA PRODUTIVA

A empresa recebe leite de diversos produtores cadastrados, ao longo do Rio


Grande do Sul ao Mato Grosso. Na unidade de Pato Branco, a recepção ocorre do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do Paraná, sendo a maioria da região
Sudoeste do Paraná.
A coleta do leite nos produtores é feita através de caminhões tanque, que
levam o produto até a indústria. Quando a distância a ser percorrida é muito extensa,
o produto passa pelos postos de resfriamento visando manter a qualidade do
produto até chegar à indústria.
A Ilustração 6 mostra o fluxograma da cadeia produtiva.

CONFEPAR Leite CONFEPAR Produto


Produtor
Pato Branco Concentrado Londrina Final

Posto de
Resfriamento

Ilustração 6: Fluxograma da cadeia produtiva.


Fonte: Autor.
65

5.2 PROCESSO PRODUTIVO

O leite de vaca é constituído, em sua maioria, de água, conforme mostra a


Tabela 4.

Tabela 4: Composição média do


leite de vaca.
Água 87,5 %
Matéria gorda 3,6%
Caseína 3,0 %
Albumina 0,6 %
Lactose (açúcar) 4,6 %
Sais minerais 0,7%
Fonte: Behmer (1984).

Para as análises realizadas, o mais relevante é a porcentagem de água


contida no leite, a qual, conforme a Tabela 4 é de 87,5%. O gráfico apresentado na
Ilustração 7 ilustra esta relação.

Composição Média do Leite

Água
Estrato Seco Total

Ilustração 7: Composição média do leite.


Fonte: Behmer (1984).

O leite chega à empresa (unidade de Pato Branco) em caminhões tanque,


que passam por um processo de higienização externa, anterior ao descarregamento.
Para evitar que partículas de poeira, que estejam no exterior do caminhão, possam
entrar em contato com o leite, é realizada uma pré-lavagem do caminhão. Esta pré-
lavagem não tem por objetivo lavar o caminhão, e sim, apenas molhá-lo evitando o
desprendimento de poeira.
66

Após a pré-lavagem, o caminhão segue para a ilha de recepção de matéria


prima. Antes de iniciar o processo de descarregamento, são coletadas amostras
individuais dos tanques, e realizadas as seguintes análises laboratoriais:
- Temperatura: 3 a 7ºC
- Acidez: 13 a 15,5ºD
- Álcool: mínimo 78ºGL
- Gordura: mínimo de 3,0%
- Densidade: 1028 a 1033g/L
- Proteína: mínimo de 2,9%
- Crioscopia: 0,530 a 0,550º H
- pH: 6,4 a 6,8
- Redutase: mínimo de 1h00’
- Fosfatase: Positivo
- Peroxidase: Positivo
- Redutores de Acidez:
- Inibidores/Conservantes
- Reconstituintes
- Estrato Seco Desengordurado - ESD
- Estrato Seco Total - EST
- Antibiótico
A Ilustração 8 mostra o laboratório onde são realizadas as análises.
67

Ilustração 8: Laboratório de análises do leite.


Fonte: Autor.

Caso o produto esteja dentro dos parâmetros considerados aceitáveis pela


empresa, o produto é descarregado, passando então por um sistema de filtragem
(Ilustração 9), e em seguida pelo resfriador, que reduz a temperatura do leite para
entre 3 e 5 ºC, ficando posteriormente armazenado nos silos (Ilustração 10), até que
seja processado.
68

Ilustração 9: Sistema de filtragem de leite.


Fonte: Autor.

Ilustração 10: Silos de armazenagem de matéria prima.


Fonte: Autor.

O resfriador é um equipamento composto por várias placas, por onde, de


forma intercalada, circula água fria, e na placa imediatamente ao lado circula leite,
69

sem que os dois líquidos se misturem, e através do contato, o leite é resfriado. A


Ilustração 11 mostra um esquema representativo deste equipamento, e a Ilustração
12 mostra uma imagem do equipamento.

Ilustração 11: Esquema representativo do resfriador.


Fonte: Autor.

Ilustração 12: Resfriador de leite.


Fonte: Autor.

Através dos dados de descarregamento de dezembro de 2008, janeiro e


fevereiro de 2009, formulou-se a Tabela 5 que mostra as quantidades de matéria
prima recebida.
Tabela 5: Quantidade de matéria prima recebida (em litros).
Dez/08 Jan/09 Fev/09 Média
Total Média/dia Total Média/dia Total Média/dia Geral
8.596.870 277.318 8.735.410 281.787 7.489.950 267.498 275.534
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados fornecidos pela empresa.
70

Uma vez que o produto não atenda os requisitos mínimos de qualidade


exigidos pela empresa, o mesmo pode ser vendido a indústrias de queijo, pois estas
possuem exigências de qualidade inferiores, ou caso também não atenda a estas
especificações, é destinado a Estação de Tratamento de Efluentes - ETE.
Após o descarregamento procede-se com a limpeza dos caminhões, em um
processo denominado Clean in Place - CIP, o que será descrito a seguir.
Para processamento, a planta industrial possui capacidade de 16.000 litros de
leite in natura por hora. O evaporador (equipamento que concentra o leite) possui
um ciclo de trabalho de 20 horas, desta forma é preciso que haja uma quantidade
mínima armazenada para inicio do processamento. Em tese seria necessário então,
que houvesse um estoque de 320.000 litros de leite. No entanto com quantidades
inferiores é possível iniciar a atividade, conforme as previsões de chegada de
cargas.
Os silos são destinados exclusivamente para armazenagem de matéria prima,
sendo em número de dois, com capacidade individual de 200.000 litros.
Dos silos, a matéria prima vai para o pasteurizador, onde passa pelo processo
de pasteurização.
Obtém-se a pasteurização aquecendo-se o leite a certa temperatura, durante
tempo determinado e fazendo-se que ele se resfrie imediatamente depois. A
pasteurização não renova um leite mau ou alterado, é apenas um recurso de
natureza industrial para prevenir e retardar sua deterioração (BEHMER, 1984).
Na sequência, o produto já pasteurizado segue para o evaporador,
equipamento responsável pela retirada de água do leite, em um processo
denominado concentração.
Concentração é um processo que remove somente parte da água dos
alimentos (1/3 ou 2/3 da água), como, por exemplo, em sucos concentrados, massa
de tomate, leite condensado, geléias, doces em massa, etc. (GAVA, 2002).
Entre as razões da concentração de certos alimentos, pode-se mencionar
(GAVA, 2002):
- é uma forma de conservação de alimentos;
- economiza-se na embalagem, transporte e armazenamento dos alimentos;
- a maioria dos alimentos líquidos é concentrada antes da desidratação, pois
a retirada de água por evaporadores é mais econômica do que por desidratadores;
71

- certos alimentos são preferidos na forma concentrada.


O processo de concentração do leite, realizado na CONFEPAR, unidade de
Pato Branco, consiste na remoção de aproximadamente 50% de água do produto,
ou seja, reduz em aproximadamente 43% seu volume total. Dessa forma, o leite
concentrado apresenta-se apenas mais espesso em comparação ao leite in natura,
e por conter quantidade inferior de água limita o desenvolvimento de
microorganismos, proporcionando assim, maior durabilidade, conforme apresentado
por Gava (2002). O objetivo da concentração na empresa se faz devido ao segundo
e terceiro item apresentado por Gava (2002), ou seja, a redução no custo com
transporte até a matriz. Assim, como o terceiro item sugerido por este autor, uma vez
que na matriz, parte do leite é desidratação para produção de leite em pó.
O evaporador instalado na empresa foi fabricado pela empresa APV, An SPX
Brand. Este é do tipo “película descendente”, que por suas características é mais
apropriado para a indústria láctea. A Ilustração 13 mostra uma fotografia do
equipamento.

Ilustração 13: Evaporador instalado na empresa; fabricado pela empresa APV An


SPX Brand.
Fonte: Autor.
72

O equipamento tem como força motriz o vapor, gerado pela caldeira, e 19


bombas elétricas que fazem a movimentação do produto e geram vácuo.
O vapor aquece o leite fazendo com que evapore a água do mesmo. Esta
água é coletada e condensada novamente, sendo então enviada a ETE. Para
condensação do evaporado é utilizado um resfriador de placas por onde circula água
da alpina. Tanto o resfriador quanto a alpina serão descritos abaixo.
Após este processo, tem-se o produto final desta unidade da empresa, o leite
concentrado, que fica armazenado em balões (Ilustração 14), até ser enviado para a
matriz da empresa. Os balões são em numero de 4, com capacidade de 20.000 litros
cada um.

Ilustração 14: Balão de armazenagem de leite concentrado.


Fonte: Autor.

Posteriormente, o produto é carregado em caminhões tanque e enviado à


matriz da empresa, onde é utilizado para produção de diversos produtos, reduzindo-
se, assim, os custos com fretes.
A Ilustração 15 mostra o fluxograma do processo produtivo adotado na
empresa.
73

Ilha de Resfriador Silos Pasteurizador


Recepção

Evaporador

Carregamento Balões

Legenda:
Matéria Prima Produto Final
(leite cru) (leite concentrado)

Ilustração 15: Fluxograma da produção.


Fonte: Elaborado pelo autor.

5.3 A ÁGUA NO PROCESSO PRODUTIVO

A água é um insumo de fundamental importância para as atividades da


empresa, sendo utilizada em diversos processos.
Uma vez que a demanda deste insumo é grande, e em qualidades altas, por
se tratar de uma empresa do ramo alimentício, a forma mais viável de obtenção é
através de poços. Dessa forma, a empresa conta com 4 poços a nível de lençol
freático e um que chega ao Sistema Aquífero Guarani – SAG, totalizando uma vazão
de 157 mil litros por hora. As vazões de cada poço estão expressas no Quadro 2.

Poço Vazão (m3/h) Origem de captação


Poço 1 5,5 Subterrânea
Poço 2 3,5 Subterrânea
Poço 3 11,0 Subterrânea
Poço 4 17,0 Subterrânea
Poço 5 120,0 Subterrânea – SAG
Quadro 2: Vazões dos poços.
Fonte: Autor.
74

Cada poço conta com uma bomba que envia a água para uma cisterna. Da
cisterna a água é direcionada através de bombas para a caixa d’água central, com
capacidade de 200 mil litros, onde é adicionado Cloro, e distribuída para todos os
processos.
A dosagem de cloro visa a qualidade da água. O cloro é mantido em um
reservatório na base da caixa, e dosado através de uma bomba elétrica, que é
acionada juntamente com a bomba que puxa água da cisterna. A cada duas horas
são feitas análises, visando que a concentração de cloro mantenha-se entre 2 e 4
ppm (partes por milhão). Caso a concentração encontre-se fora destas faixas, são
feitas correções através do aumento ou diminuição da dosagem do produto. Tal
operação, tanto de medição, assim como de alteração da concentração do produto
dosado, é de responsabilidade dos técnicos do laboratório de análises do leite.
Para a utilização de água, seja de rios, identificados como águas superficiais
ou poços, águas subterrâneas, é necessária a outorga de utilização, que, no caso do
estado do Paraná, é de responsabilidade da SUDERHSA. A empresa protocolou os
pedidos de vistoria no ano de 2007, tendo recebido a visita dos técnicos do órgão,
posteriormente, e recebido a autorização para utilização da água.
Na seqüência, nos itens entre 5.3.1 a 5.3.6 serão apresentados as diversas
formas de utilização de água na indústria.

5.3.1 Caldeira

Na caldeira a água é utilizada para geração de vapor. A empresa possui uma


caldeira da marca EIT do tipo flamatubular com um passe de chamas, horizontal,
movida a lenha, com capacidade para 3.500 Kg/h de vapor (Ilustração 16).
75

Ilustração 16: Modelo de caldeira da marca EIT, do tipo flamatubular com um passe
de chamas, horizontal, movida a lenha, com capacidade para 3.500 Kg/h.
Fonte: Caldeiras EIT.

O vapor produzido na caldeira é utilizado para geração de calor no


evaporador, e para aquecimento de água para a realização de limpeza dos
caminhões (processo CIP).
A entrada de água é automática, ou seja, quanto mais calor produzido, maior
será o aquecimento da água, assim, esta tornar-se-á vapor de forma mais rápida,
ocasionando a entrada de mais água.
Na entrada da caldeira há um hidrômetro, para controle da quantidade de
vapor produzida, sendo realizadas leituras a cada duas horas, pelos operadores, e
registro em planilha.
Para o correto funcionamento, a caldeira possui algumas exigências quanto à
qualidade da água de entrada. A água precisa passar por um abrandador,
equipamento este, que retira os minerais presentes na água, evitando que os
mesmos encrustem nas tubulações, no interior da caldeira. Ainda com o uso deste
equipamento, a caldeira, possui uma série de descargas programadas,
denominadas descarte de fundo, em que uma quantidade de água, presente no
fundo de seu reservatório, é bruscamente expelida, carregando, assim, eventuais
minerais e sais que possam não ter sido removidos pelo abrandador.
76

A descarga de fundo libera aproximadamente 100 litros de água por


descarga, conforme informações obtidas com o fabricante, a uma temperatura
próxima de 100 ºC. As descargas ocorrem de três em três, sendo uma a cada 30
minutos. Prossegue-se, então, um intervalo de 90 minutos e reinicia-se o ciclo. Esta
água descartada segue para a ETE.

5.3.2 Sistema Alpina e Condensador

No evaporador, o vapor de água retirada do leite, precisa ser novamente


condensado para, então, virar água e seguir para a ETE. Este vapor é resfriado
através de um resfriador de placas de contato, semelhante aos do resfriador de leite
descrito no item 5.2 onde em uma placa, circula o vapor que se deseja condensar, e
na placa imediatamente ao lado, circula-se água fria para que haja troca de calor, no
entanto, sem que os dois líquidos entrem em contato.
A água fria que entrou no resfriador para remoção de calor do vapor chega ao
mesmo à temperatura de aproximadamente 30 ºC, e após trocar calor com o vapor,
retorna para alpina a uma temperatura de aproximadamente 60 ºC. Como esta água
de resfriamento é mantida em circuito fechado, não havendo substituições da
mesma, a alpina, portanto, é responsável em resfriá-la, de 60 ºC para 30 ºC. A
alpina (Ilustração 18) realiza o abaixamento da temperatura da água através de
ventilação.
77

Ilustração 17: Alpina.


Fonte: Autor.

Há uma entrada de água na alpina para repor possíveis perdas, controlada


por uma bóia, não necessitando intervenção manual e nem sendo possível
quantificar tal entrada.

5.3.3 Sistema Caixa de Gelo e Resfriador

O resfriador responsável pelo resfriamento do leite, na entrada dos silos, é


responsável por abaixar a temperatura do leite para uma temperatura entre 3 ºC e 5
ºC, visando sua conservação por um período de tempo maior.
O resfriador funciona com circulação de água fria. A água utilizada no
resfriador mantém-se em circuito fechado com a caixa de gelo, que é composta por
dois compartimentos de 40 mil litros cada. No interior de cada compartimento da
caixa há serpentinas, por onde circulam amônia, resfriando a água.
Quando há grande quantidade de matéria prima passando pelo resfriador,
necessita-se de maior eficiência das caixas de gelo, assim, o operador é informado
pela recepção a respeito da demanda, e aumenta a circulação de amônia.
78

As eventuais perdas de água do sistema são repostas automaticamente,


através de uma entrada controlada por bóia, não havendo intervenção do operador,
e, por conseguinte tal entrada de água também é inquantificavel.

5.3.4 Resfriamento de Bombas

Conforme discutido no item 5.2, o equipamento responsável pela


concentração do leite, o evaporador, tem como forca motriz, além do vapor, 19
bombas elétricas. Estas podem ser visualizadas na parte esquerda da Ilustração 19.

Ilustração 18: Bombas do evaporador, detalhando o processo de resfriamento.


Fonte: Autor.

Tais bombas precisam ser resfriadas com água, conforme mostra o lado
direito da Ilustração 19. A água utilizada para tal processo é água potável advinda da
caixa d’água central, e após passar pelo interior da bomba, é destinada a ETE.

5.3.4 Ilha de Recepção de Matéria Prima

A Ilha de recepção de matéria prima é onde ocorre o descarregamento do


leite dos caminhões tanque para os silos, para posterior processamento.
A recepção consiste em duas etapas. Na primeira delas, próxima ao portão de
entrada da fabrica, há a rampa de lavagem, onde é esguichada água na parte
79

externa do caminhão para que a poeira existente não se desloque para o leite no
momento do descarregamento. O intuito deste processo não é lavar o caminhão,
mas umedecê-lo, fazendo com que não se desprenda poeira. A Ilustração 20 mostra
o local onde este processo é realizado.

Ilustração 19: Local onde é realizada a primeira lavagem dos caminhões.


Fonte: Autor.

A água da lavagem, acima descrita, vai para uma caixa de separação, onde
são separados barro e óleo. Os resíduos líquidos seguem para a ETE, enquanto os
sólidos ficam retidos na caixa. A Ilustração 21 mostra o esquema da caixa de
separação de barro e óleo, sendo que 1 indica a entrada de água e 4 a saída, e as
setas simbolizam o caminho percorrido pela água. Em 2 é a fase onde são
separadas as partículas mais pesadas, como o barro, por exemplo. A separação
ocorre, pois as partículas mais pesadas tendem a decantar. O óleo, como é menos
denso que a água, tende a boiar, assim ficando retido em 3. A Ilustração 22 mostra
uma fotografia da caixa descrita.
80

Ilustração 20: Esquema representativo da caixa de separação de barro e óleo.


Fonte: Autor.

Ilustração 21: Fotografia da caixa de separação de barro e óleo.


Fonte: Autor.

A segunda etapa, consiste em uma rampa com capacidade para 3 caminhões


estacionarem simultaneamente, na qual é descarregada a matéria prima (o leite in
natura, ou leite cru). Nesta etapa, após o produto passar por análises laboratoriais e
ser aprovado, são conectadas mangueiras na saída do caminhão, e ligadas as
81

bombas que succionam o produto (Ilustração 22), enviando-o até os silos. A


Ilustração 23 mostra uma vista geral da ilha de recepção.

Ilustração 22: Bomba de sucção de leite para descarregamento dos caminhões..


Fonte: Autor.

Ilustração 23: Vista geral da ilha de recepção de matéria prima.


Fonte: Autor.
82

Após o descarregamento, procede-se com a limpeza, denominada de CIP,


sigla originaria da língua inglesa que significa “limpeza no local”.
Na recepção há grande variação nas quantidades de água utilizadas, pois a
há variações de acordo com o operador. Como não há nenhum equipamento de
medida, estas quantidades foram alocadas em “outros usos” na tabela de consumo
do Apêndice C.

5.3.5 Clean in Pleace - CIP

É um termo advindo da língua inglesa, utilizado para denominar a limpeza de


um equipamento. O CIP é realizado tanto em caminhões, como nos equipamentos
(silos, balões, linhas e evaporador), e todos seguem a mesma metodologia.
A higienização na indústria de alimentos visa basicamente a preservação da
palatibilidade e da qualidade de um produto que, além das qualidades nutricionais e
sensoriais, tenha uma boa condição higiênica sanitária não oferecendo riscos a
saúde do consumidor. Assim, contribui decisivamente para a produção de alimentos
dentro de padrões microbiológicos recomendados pela legislação (GUIMARÃES,
2007).
Uma das consequências mais graves de uma má higienização, nas indústrias
de alimento, de uma forma geral, é a possível ocorrência de doenças de origem
alimentar, pois cerca de 200 doenças podem ser veiculadas pelos alimentos. Elas
são provocadas por bactérias, fungos, vírus, parasitas agentes químicos e
substancias tóxicas de origem animal. As bactérias representam o grupo de maior
importância, sendo responsável pela ocorrência de cerca de 70% dos surtos e 90%
dos casos (GUIMARÃES, 2007).
A higienização divide-se em duas etapas: a limpeza e a sanificação. Na
limpeza, o objetivo é a remoção de resíduos aderentes as superfícies. A limpeza
reduz a carga microbiana das superfícies, mas não a níveis satisfatórios, por isso,
procede-se com a santificação, que visa a eliminação de microorganismos
patogênicos (GUIMARÃES, 2007).
83

Os CIPs realizados nos caminhões são de difícil quantificação quanto a água


utilizada, pois uma vez que são processos onde a abertura e fechamento das
válvulas são manuais, o tempo e consequentemente o consumo de água são muito
variáveis. As variações no tempo podem ser devido à necessidade de limpeza mais
eficiente, ou ao esquecimento do operador.
O CIP do evaporador, segundo especificações do fabricante, possui uma
quantidade estimada de água utilizada, fixada em 70 m3, e o CIP dos Balões e Silos
também estimado, 40 m3 de água.

5.3.6 Outros usos

Além dos usos descritos nos itens de 5.3.1 a 5.3.5 há ainda os usos
eventuais. Que podem ser listados como:
- Reposição de água da caixa de gelo;
- Reposição de água no sistema da alpina;
- Utilização de hidrantes;
- Limpezas e lavagens externas dos equipamentos, e pisos;
- Manutenções;
- Falhas operacionais, esquecimento de equipamentos ligados;
- Dentre outros.
Constatando a impossibilidade de quantificação destes usos, devido a falta de
equipamentos, os mesmos foram alocados juntamente com o consumo da recepção,
no item “outros usos”, na tabela do Apêndice C.

5.4 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES – ETE

Todos efluentes gerados na empresa tem como destino a ETE própria,


instalada a aproximadamente 1 km da fábrica. Há uma tubulação única que liga a
fábrica a estação. Como a fábrica encontra-se em um nível superior a ETE, os
efluentes chegam até a mesma por força da gravidade, não sendo necessário
nenhum tipo de bomba.
84

A estação opera com sistema biológico de tratamento, sendo capaz de


receber até 480 m3/dia de efluente, sem perder eficiência. O esquema de
funcionamento da estação esta disposto no Anexo B.
Após o efluente passar por toda estação, têm-se água dentro dos parâmetros
exigidos pelo Instituto Ambiental do Paraná - IAP para lançamento no rio Ligeiro.
Para tal lançamento é necessária outorga de lançamento, que no caso do estado do
Paraná é emitida pela SUDERHSA. A empresa protocolou a solicitação de tal
outorga no ano de 2007, quando a empresa foi instalada, e aguarda a visita do
órgão.
Desde o inicio da operação da estação, a empresa entrega ao IAP o relatório
de auto monitoramento, atendendo aos padrões exigidos pela legislação, com
análises quinzenais, ao contrario das exigidas pela referida legislação, que indica
análises trimestrais.
Além das analises, o relatório de auto monitoramento exige as vazões
tratadas pela ETE. Para tal a estação possui um medidor de vazão, da marca APS,
na entrada da mesma, conforme mostra a Ilustração 24.

Ilustração 24: Medidor de vazão instalado na entrada da ETE.


Fonte: Autor.

O equipamento descrito, após o mês de março de 2009 apresentou diversos


problemas. A equipe de manutenção da empresa realizou diversas tentativas e
mudanças no intuito de concertá-lo, no entanto, não foi obtido sucesso. Assim, os
85

dados apresentados pelo equipamento foram de períodos esparsos além de não


serem confiáveis a partir de março de 2009, por isso não foram utilizados para o
presente trabalho.

5.5 ORIGEM DOS EFLUENTES

Os efluentes gerados no processo produtivo são advindos de todas as formas


de uso de água na fábrica, que são apresentadas no item 5.3, somados da água
proveniente do processo de concentração do leite. Conforme apresentado, os
processos que geram efluentes estão resumidos no Quadro 3.

Origem do efluente Descrição do efluente


Processo de Concentração Água retirada do leite
CIP evaporador Água soda e resíduos de leite
Resfriamento de bombas Água pura
Descarte de fundo da caldeira Água pura
Outros usos Diversas qualidades de água
Quadro 3: Descrição da origem dos efluentes.
Fonte: Autor.

O gráfico da Ilustração 25 mostra a origem dos efluentes, tendo sido


calculado pela média dos meses de dezembro de 2008, janeiro e fevereiro de 2009.
86

Origem dos Efluentes

Concentração
10,93
8,68 Caldeira
44,07 Resfriamento

15,19 CIP evaporador


5,21 CIP balões e silos
14,81
Outros Usos

Ilustração 25: Gráfico de origem dos efluentes.


Fonte: Autor.

A partir do elucidado no gráfico da Ilustração 25, percebe-se que uma parcela


significativa do efluente gerado advém do condensado retirado do leite (44,07%).
Desta forma, torna-se relevante estudar formas de reuso desta água.

5.6 QUANTIFICAÇÃO DOS USOS

Como a água é utilizada por diversos setores, de diversas formas, é de


grande importância para uma análise mais acurada, quantificar todas as formas de
utilização.
Na ETE é realizada leitura diária da vazão (exceto domingos e feriados, em
que o valor é acumulado até o dia seguinte), com a finalidade de compor o relatório
de auto monitoramento, o qual é entregue ao IAP, conforme legislação.
Este mesmo monitoramento foi utilizado para o presente estudo, sendo o
período utilizado de dezembro/08 a fevereiro/09. Salientando a ausência de dados a
partir de março, devido a defeitos do equipamento.
Desta forma, observa-se que todos os usos de água no processo produtivo
têm como destino final a ETE, portanto, a partir das quantidades de entrada na
estação, pode-se deduzir uma estimativa da demanda de água no processo.
Assim, todas as quantificações formam uma média diária. Nos dias em que
não havia leitura foi realizada a média de acordo com o elucidado no Quadro 4.

3
Data Leitura realizada da vazão de entrada da ETE (m ) Média realizada
87

(m3)
Dia 1 X X
Dia 2 Sem leitura Y/2
Dia 3 Y Y/2
Quadro 4: Exemplo de como foram realizadas as médias da tabela do Apêndice C.
Fonte: Autor.

A partir dos dados obtidos foi possível obter o uso total de água, o qual
possibilitou a identificação da média de consumo por unidade final de produto, o qual
foi de 0,90 litros de água por litro de leite cru processado, e 3,22 litros de água por
litro de leite concentrado. Os detalhes do cálculo realizado estão expressos na
Tabela 6.

Tabela 6: Detalhamento do cálculo realizado para identificação da quantidade de água


por unidade de produto final.
MÊS CONSUMO LEITE CRU LEITE RELAÇÃO RELAÇÃO
TOTAL DE PROCESSADO CONCENTRADO ÁGUA / ÁGUA / LEITE
ÁGUA (m3) (m3) LEITE CRU CONCENTRADO
(m3) RECEBIDO (m 3)
3
(m )
dez/08 7.789,80 8.928,74 2.484,94 0,87 3,13
Jan/09 8.536,59 8.774,13 2.474,52 0,97 3,45
Fev/09 6.610,29 7.661,79 2.144,62 0,86 3,08
Média 7.645,56 0,90 3,22
Fonte: Autor.

Portanto, comparando-se os dados deste trabalho com a obra de Leeden


(1990), temos os resultados expressos na Tabela 7.

Tabela 7: Comparação entre as quantidade de água demandadas por produto final de


alguns produtos laticínios apresentados por Leeden (1990) e os resultados obtidos por
esta pesquisa.
Van der Leeden (1990)* Esta pesquisa
Leite Leite em pó Laticínios em Geral Leite concentrado***
2 a 7** 45 a 200 12,2 3,22
* Dados da Tabela 2.
** Todas as unidades utilizadas são em litros de água por litro de produto final.
*** Produto final da Confepar, Pato Branco.
Fonte: Autor, com base nos dados de Leeden (1990) e dados obtidos por esta pesquisa.
88

Os dados apresentados por Leeden (1990), para a produção de leite em pó,


podem parecer extremamente excessivos quando comparados com outras
atividades de laticínios, e em uma faixa extremamente ampla.
Quanto a excessividade proceder-se-á no intuito de chegar a uma possível
justificativa. Segundo informações da empresa, para a produção de um quilo de leite
em pó são necessários de 8 a 10 litros de leite in natura. Salientando que na
unidade de Pato Branco da empresa, é produzido apenas o leite concentrado. Esta
variação deve-se de acordo com características físicas e químicas variáveis do leite.
Logo, se segundo Leeden (1990), para processamento de um litro leite são
necessários de 2 a 7 litros de água, multiplicaremos esta faixa por 8 (quantidade de
litros necessários para obtenção de um quilo de leite em pó), e teremos que para um
quilo de leite em pó são necessários de 16 a 56 litros de água.
Quanto ao segundo ponto em análise, nas faixas de consumo Leeden (1990),
estão na amplitude das faixas. Quando elencado de 45 a 200 litros de água para a
produção de um quilo de leite em pó, há uma variação de mais de 344%. Ainda que
não se conheça a metodologia empregada, uma variação tão grande revela a
imprecisão dos dados levantados.
Um ponto importante identificado na pesquisa realizada é que para
identificação da demanda de água na produção de leite em pó existem algumas
peculiaridades. Em diversas atividades produtivas, pode-se estabelecer uma relação
entre a quantidade de efluente gerado e a quantidade de produto final. Deduz-se,
desta forma, que a quantidade de efluente gerado é a demanda total de água do
processo produtivo analisado. No caso do leite em pó, a peculiaridade é a retirada
de água do produto, sendo esta incorporada ao efluente. Desta forma é preciso
atentar a isto, e reduzir este valor para realização da relação.
Visando mostrar o quanto significativo isto pode ser, simulou-se uma relação
errônea, a fim de estabelecer uma comparação. A demanda de água para o
processo de concentração do leite na Confepar, unidade de Pato Branco, utilizando-
se dados dos meses de dezembro de 2008, janeiro e fevereiro de 2009, foi de 3,22
litros de água por litro de leite concentrado, conforme já apresentado na Tabela 7.
Caso não fosse subtraída a água proveniente do processo de concentração para
realização da relação, teríamos a demanda de 5,69 litros de água por litro de leite
concentrado, o que representaria um acréscimo de 76,71%.
89

A presente pesquisa procedeu então, no intuito de quantificar os diferentes


usos de água no processo produtivo, conforme apresentado a seguir.
Na caldeira há um hidrômetro, onde são realizadas leituras a cada duas
horas, no entanto foram utilizados dados diários, uma vez que na ETE as leituras
são realizadas diariamente.
No evaporador, a água tem 4 modalidades de uso, a saber:
- na forma de vapor, para aquecimento (advindo da caldeira, o qual já foi
quantificado);
- resfriamento, advindo do sistema alpina (sistema fechado, não havendo
consumo);
- resfriamento de bombas; e
- CIP.
O resfriamento de bombas é realizado com água potável, a qual é
posteriormente descartada para a ETE. Tal uso foi quantificado para utilização dos
dados no presente estudo, através de testes de vazão, que foram realizados
medindo-se o tempo necessário para completar-se um litro, em um recipiente
graduado. O teste foi realizado em diversos momentos, para obter-se uma média
que pudesse ser realmente representativa. Foi obtido o resultado de 24m3/dia para o
total das 19 bombas, o que representou surpresa no resultado, uma vez que os
operadores, assim como o Supervisor de produção, acreditavam ser uma quantidade
inferior.
O CIP é realizado após cada ciclo de trabalho do evaporador, sendo o ciclo
de 18 horas. Segundo informações técnicas do equipamento e testes empíricos
realizados pelos operadores, cada CIP consome 70m3 de água.
O CIP dos balões e silos é estimado pela empresa e operadores como
consumidor de 40 m3 de água.
Na alpina, na caixa de gelo e no resfriador de amônia, embora trabalhem em
circuito fechado, ocorrem percas de água, devido a evaporação, vazamentos, e
manutenções, exigindo que esta água seja reposta. No entanto não houve formas de
mensuração destas reposições devido a falta de equipamentos, e também a não
periodicidade destes eventos.
Na ilha de recepção de matéria prima, também não foi possível quantificar o
uso da água, devido a falta de equipamentos de medição. A estimação também não
foi possível devido a grande variação no consumo ocorrida por conta das diferentes
90

práticas adotadas pelos operadores. Na ilha de recepção de matéria prima onde é


realizado o CIP nos caminhões, processo no qual também não foi possível
quantificar e nem estimar o consumo de água.
A tabela do Apêndice C foi construída a partir das vazões de entrada na ETE,
medidas pelo medidor de vazão. Como as leituras da ETE são feitas diariamente em
metros cúbicos (m3), todos os demais dados da tabela estão expressos na mesma
unidade (m3/dia).
A partir da organização dos valores de entrada na ETE foram descontados os
usos que foram possíveis de quantificação, como a quantidade de condensado
gerada, o uso na caldeira, a água de resfriamento de bombas, os CIPs do
evaporados, balões, e silos. Desta forma ainda houve uma parte do que chegava a
ETE, a qual não foi possível quantificar. Esta parte denominada como “outros usos”,
compreende o uso na ilha de recepção de matéria prima, assim como outros
eventuais usos.
Na Tabela 8, são apresentados os dados mensais de consumo de água,
oriundos da tabela diária, conforme Apêndice C.

Tabela 8: Dados mensais de consumo de água por setor.


ETE Concentração Caldeira Resfr. CIP CIP Outros
Evaporador balões Usos
e silos
3 3 3 3 3 3 3
(m ) (m ) (m ) (m ) (m ) (m ) (m )
Dez/08 14.233,6 6.443,80 2.134,20 744,00 2.170,00 1.240,00 1.501,60
Jan/09 14.646,6 6.110,01 2.088,50 720,00 2.100,00 1.200,00 2.209,49
Fev/09 12.127,45 5.517,17 1.849,50 672,00 1.960,00 1.120,00 771,29
Fonte: Adaptado da Tabela do Apêndice C.

Tomando o mês de dezembro como exemplo, a ETE recebeu no total do mês


14.233,6 m3 de efluentes, e, por conseguinte, estima-se que esta tenha sido a
quantidade de água utilizada pelo processo produtivo. Sabe-se que do processo de
concentração do leite foram retirados 6.443,8 m3 de água; na caldeira foram
utilizados 2.134,2 m3; para resfriamento 744 m3; no CIP do evaporador foram
consumidos 2.170 m3; no CIP dos balões e silos 1.240 m3. Assim, restaram ainda
1.501,6 m3 que foram utilizados em outros processos.
Na tabela de uso da água, do Apêndice C, houve alguns dias (grifados de
verde) em que o item “outros usos”, resultou em valor negativo. De acordo com a
dinâmica de uso da água no processo não é possível que existam valores negativos,
91

pois isto representaria que o acréscimo de água no sistema. No entanto não foi
possível identificar os motivos de tal inconsistência, porém, através de discussões
com os responsáveis técnicos, levantou-se alguns possíveis motivos para este fato:
- No resfriamento das bombas do evaporador, são considerados 24 m3/dia de
água, no entanto, as mesmas podem ter funcionado por um período menor que um
ciclo completo;
- Todo efluente descartado, demora certo tempo para chegar a ETE. Assim
pode-se ter sido feita uma leitura na ETE, e descontado na tabela um valor referente
ao condensado que somente adentrou na estação no dia seguinte;
- Quedas de energia, alterando as leituras dos medidores (medidor de vazão
da ETE, e de leite processado);
- Falha dos equipamentos, seja do medidor de vazão da ETE, ou do medidor
de leite processado;
- Leituras realizadas em diferentes horários, assim seriam considerados
períodos maiores ou menores que 24 horas;
- Dias em que não foram realizadas leituras na ETE, sendo então realizadas
médias. As médias podem não serem representativas do dia, uma vez podem
reduzir ou aumentar a real quantidade de entrada do dia em questão;
- Realização de CIPs mais prolongados;
- Manutenções.
Através do atual sistema de medição, não foi possível identificar o real motivo
de alguns dias apresentarem resultados negativos. Para isto seria necessário a
disponibilidade de maior número de pontos de medição. Portanto estes dias em
questão não foram utilizados para análise.

5.7 PROCESSO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS DA EMPRESA

A empresa não possui um plano formal de gestão de recursos hídricos, no


entanto, apresenta por parte do departamento industrial uma crescente preocupação
com a utilização da água. A mesma tem conhecimento das legislações pertinentes e
tem consciência da necessidade futura em adaptar-se a estas. Até o presente
92

momento a empresa atende a todas as normas legais, entregando periodicamente o


relatório de auto monitoramento ao IAP.
A empresa possui três grandes projetos que visam a redução no consumo de
água, que são:

5.7.1 Reuso do condensado na caldeira

A água retirada do leite no processo de concentração deste, denominada


condensado, segue diretamente para a ETE. No ano de 2008, a empresa implantou
procedimentos para que o condensado fosse enviado para a caldeira. Reduzir-se-ia
o consumo de água na caldeira, e consequentemente a geração de efluente assim
como o consumo de lenha, uma vez que o condensado já chegaria com uma
temperatura elevada, entraria em ebulição exigindo menor quantidade de lenha.
Tal iniciativa não obteve sucesso, devido as grandes exigências de pureza da
água que entra na caldeira. Como o condensado carrega partículas minerais, estas
partículas causaram danos na caldeira.
Atualmente tal procedimento não esta mais sendo adotado, contudo, a
empresa aprimorou o projeto, e estudos técnicos revelaram que a implantação de
um sistema de filtros de carvão ativado da tecnologia GE Betz do Brasil, poderia
elevar o condensado a um nível de qualidade aceitável para utilização na caldeira.
O sistema descrito ainda não foi implantado, no entanto, sua implantação está
sendo analisada pelo departamento industrial.

5.7.2 Reuso da água de resfriamento de bombas

No evaporador, existem 19 bombas, as quais precisam ser resfriadas com


água. A água utilizada é água potável, advinda da caixa central. Esta entra nas
bombas a temperatura ambiente e sai levemente aquecida. Após realizar este
processo, a mesma é descartada para a ETE.
93

A empresa possui um projeto para reuso desta água. A mesma água seria
mantida em circuito fechado, não sendo necessária sua substituição, o que
ocasionaria uma redução de aproximadamente 24 m3 / dia de água.
Tal projeto também encontra-se em fase de análise para implantação.

5.7.3 Reuso da água da recepção

Concomitantemente com as demais fases de ampliação da planta industrial, a


empresa possui projeto onde prevê o reuso da água utilizada na ilha de recepção de
matéria prima.
Além do reuso da água, o projeto contempla o reuso de soda empregada no
processo de CIP dos caminhões. Desta forma, além da economia com o produto
químico, a soda aumenta o pH do efluente, requerendo maior eficiência da ETE no
tratamento. Uma vez que seja reduzida a quantidade de soda na ETE, poderia vir a
haver redução no custo com tratamento de efluentes.

5.7.4 Mudanças implementadas

Durante a realização desta pesquisa, alguns pontos analisados foram


apresentados a empresa, resultando em melhorias no processo.
Na ilha de recepção de matéria prima, há uma calha que capta a água da
lavagem dos caminhões, para que então seja canalizada até a ETE. No entanto em
momentos em que o fluxo de caminhões era grande, havia transbordamento da
calha, para a rua (Ilustração 26), e consequentemente a água com resíduos de leite
e soda iam para as galerias pluviais.
94

Ilustração 26: Detalhamento do transbordamento da calha de captação de água na


ilha de recepção de matéria prima.
Fonte: Autor.

Tal procedimento foi analisado e alterado. Quando o caminhão é enxaguado


internamente, o enxágue não é mais liberado na rampa da ilha de recepção de
matéria prima. A mangueira de descarga mantém-se acoplada ao caminhão
enviando o descarte deste enxágue para a ETE via tubulação.
A Ilustração 27 mostra do lado esquerdo o antigo processo de CIP dos
caminhões enquanto o lado direito da Ilustração mostra o processo atual.

Ilustração 27: Detalhamento do processo de CIP adotado antes após análise.


Fonte: Autor.

Outro ponto em análise é quanto aos instrumentos de medição do consumo


de água. Conforme discutido ao longo do trabalho, a empresa carece de tais
instrumentos, uma vez que a única forma existente de mensuração é o medidor de
95

vazão instalado na entrada da ETE. Para um processo de gestão mais eficiente faz-
se vital a existência de outras formas de medição, visando maior confiabilidade nos
dados.
Assim, tal problemática foi apresentada a empresa, a qual realizou a compra
de um hidrômetro para instalação na entrada da caixa d’água central. No entanto o
equipamento não chegou até o final da realização deste trabalho.
Porém com a instalação deste hidrômetro, será possível a realização de
análises mais precisas, e o acompanhamento efetivo da redução no consumo de
água, mediante a implantação dos projetos descritos nos itens 5.6.1 a 5.6.3.

5.8 ANÁLISE DO CUSTO DA ÁGUA UTILIZADO PELA EMPRESA

5.8.1 Custo com Tratamento de Efluentes

Foi realizado um levantamento, com dados fornecidos pela empresa, visando


identificar o valor gasto com o tratamento de efluentes. Desta forma, o Quadro 5
mostra quais os custos considerados.

CUSTOS FIXOS CUSTOS VARIÁVEIS


Custo de pessoal Material de manutenção
Material de limpeza Produto químico
Honorários Material de laboratório
Depreciação
Energia elétrica *
Quadro 5: Custos considerados para elaboração do valor do
tratamento de efluentes.
* A empresa não possui medidores de energia elétrica
separados para a ETE, e não aloca tal gasto no custo da ETE.
Foi então realizada uma estimativa do consumo de energia de
acordo com as especificações técnicas dos equipamentos
(Apêndice E).
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados fornecidos pela
empresa.

Os custos fixos, apesar de, em teoria, não sofrerem variações, não são
precisamente iguais todos os meses. Desta forma, foi realizada uma média entre os
valores gastos entre os meses de janeiro e abril de 2009, e a planilha de custos é
apresentada na Tabela 9.
96

Tabela 9: Planilha de custos da ETE.


Qtd. Efluente 10.000 m3 15.000 m3 20.000 m3 25.000 m3
C.F. R$ 24.176,83 R$ 24.176,83 R$ 24.176,83 R$ 24.176,83
Energia Elétrica* R$ 14.644,70 R$ 14.644,70 R$ 14.644,70 R$ 14.644,70
C.V. R$ 5.562,93 R$ 8.344,40 R$ 11.125,86 R$ 13.907,33
Custos Totais R$ 44.384,45 R$ 47.165,92 R$ 49.947,38 R$ 52.728,85
C.F. Unit. R$ 3,88 R$ 2,59 R$ 1,94 R$ 1,55
C.V. Unit. R$ 0,56 R$ 0,56 R$ 0,56 R$ 0,56
C. Unit. Total R$ 4,44 R$ 3,14 R$ 2,50 R$ 2,11
* O valor da Energia elétrica é apresentado separado, porque não é um valor
fornecido pela empresa, o mesmo foi obtido através de estimativas, que são
apresentadas no Apêndice E.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados fornecidos pela empresa.

Como a vazão atual é de aproximadamente 20.000 m3/mês, o custo total


unitário é de R$ 2,50, conforme mostrado na Tabela 9, sendo R$ 1,94 fixo, e 0,56
unitário.
Uma possível análise pode ser feita considerando o custo fixo como um
investimento inevitável, uma vez que sem este a empresa não poderia operar. Assim
o foco recai sobre o custo variável, e possíveis economias no consumo de água, e
consequentemente na geração de efluentes, reduziriam os custos variáveis com o
tratamento dos efluentes. Embora o Custo Variável Unitário seja fixo, podemos
verificar a variação do Custo Variável Total, conforme a redução da vazão de
efluentes gerados.
Logo a redução no consumo de água, além de outros benefícios, traria a
empresa, economia com recursos financeiros.

5.8.2 Custo com a água

Atualmente a empresa não realiza nenhum tipo de pagamento pela água.


Contudo, segundo o Projeto de Lei Estadual 515/2008, recém aprovada, o
estado do Paraná elegeu o valor de R$ 0,03/m3 de água captada. Desta forma, se a
empresa utiliza aproximadamente 8.000 m3/mês do recurso (conforme mostra a
Tabela 6), a empresa contabilizaria em seus custos mensais um adicional de
aproximadamente R$ 240,00.
97

5.8.3 Custo com o lançamento de efluentes

O lançamento de efluentes consiste em um uso indireto das águas do rio para


assimilação e diluição de contaminantes. A Lei Federal 9.433, prevê a necessidade
de outorga para tal atividade, desta forma a mesma torna-se passível de cobrança.
No entanto, até o momento, na nova legislação estadual (Projeto de Lei
515/2008), não é ainda regulamentada a cobrança pelo lançamento de efluentes.

5.8.4 Custo total / m3 de água

Atualmente, o único custo da empresa com a água é o tratamento de


efluentes, que como apresentado no item 5.8.1 é de R$ 0,56/m3/mês de água
(considerando-se apenas o Custo Variável). Com a geração de aproximadamente
20.000 m3/mês de efluente o custo total é de R$ 11.200,00.
No entanto, com a cobrança prevista por lei, os custos seriam ampliados, uma
vez que a empresa passaria a pagar pela água utilizada. Assim, os novos custos,
conforme apresentados nos itens de 5.8.2, elevariam o custo total do m3 de água
para R$ 0,59, conforme elucida a Tabela 10. Os valores apresentados foram
calculados para a geração mensal de aproximadamente de 20.000 m3 de efluente e
consumo de 8.000 m3 de água.

Tabela 10: Composição do custo total do m3 de água.


Unitário Total*
Custo com tratamento de efluente R$ 0,56 R$ 11.200,00
Custo da água R$ 0,03 R$ 240,00
CUSTO TOTAL R$ 0,59 R$ 11.440,00
* Valor para aproximadamente 20.000 m3/mês de efluente e consumo de 8.000
3
m /mês de água.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme mostrou a Tabela 10, o custo mensal aproximado da empresa, com


a vigência da nova legislação passaria de R$ 11.200,00 para R$ 11.440,00. Tal
análise de forma antecipada se faz importante afim de que a empresa possa
planejam a forma de absorção do incremento deste valor.
Através das análises realizadas permitiu-se discutir a problemática proposta,
de como é realizada a gestão e controle do uso da água no processo produtivo da
98

Confepar, unidade de Pato Branco, assim como analisando este processo de gestão
nos aspectos ambientais, econômicos e sociais, conforme almejavam os objetivos. A
seguir são apresentadas sugestões para a organização, elaboradas a partir desta
análise.
99

6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, a observação das atividades


industriais desenvolvidas na empresa, assim como a discussão das mesmas com os
colaboradores, supervisores, e responsáveis técnicos, correlacionando-as com a
teoria, possibilitou a realização de uma análise visando a otimização de recursos
naturais, e em alguns casos financeiros para a empresa.
A empresa mostrou-se sempre aberta a sugestões, sendo que algumas
sugestões foram apresentadas e discutidas durante o desenvolvimento deste
trabalho, e já foram implementadas ou estão em fase de implementação. Outras são
apresentadas para avaliação da empresa.

6.1 SUGESTÕES IMPLEMENTADAS OU EM FASE DE IMPLEMENTAÇÃO

Durante a realização deste trabalho foram implementadas mudanças na


forma de realização do CIP nos caminhões, conforme discutido no item 5.7.4,
visando que não houvesse mais transbordamento da calha de captação da água da
ilha de recepção de matéria prima.
Conforme sugestão, a empresa adquiriu um hidrômetro para instalação na
entrada da caixa d’água central, conforme discutido também no item 5.7.4,
propiciando melhor confiabilidade aos dados e permitindo estabelecer a demanda de
água na atividade produtiva.

6.2 DEMAIS SUGESTÕES

6.2.1 Lavagem de caminhões

Na primeira lavagem de caminhões, onde o objetivo é a remoção de poeira,


conforme descrito no item 5.3.4, verificou-se a existência de problemas com o
sistema de lavagem, uma vez que há motoristas que desejam aproveitar o processo
100

para realizar a lavagem de seus caminhões. Desta forma, alem do desperdício de


água, ocorre o envio excessivo de barro para a ETE.
Para tal sugere-se a instalação de um sistema de chuveirinhos fixos, que
borrifem pequenas gotículas de água, cumprindo o papel de umedecer o caminhão e
evitar o desprendimento de poeira, acionados enquanto o caminhão encontra-se
dentro da rampa de lavagem. Uma avaliação mais detalhada poderia especificar a
necessidade do número destes chuveirinhos, assim como a possível necessidade da
instalação destes nas paredes laterais da rampa.

6.2.2 Sala para motoristas

Na ilha de recepção de matéria-prima ocorrem intervenções dos motoristas no


processo de descarregamento e higienização dos caminhões, onde os mesmos
utilizam-se das mangueiras de lavagem para remoção de barro dos caminhões,
lavagem de sapatos, ou dessedentacão.
A fim de evitar estas intervenções de motoristas no processo, os mesmos
deveriam permanecer fora da área de descarga e carga de matéria prima. Assim,
seria interessante que houvesse um espaço confortável onde os mesmos pudessem
permanecer enquanto o serviço é realizado em seus caminhões.
Neste espaço, que poderia ser denominado de sala de motoristas, poderiam
haver cartazes e materiais instrutivos, visando a conscientização dos mesmos
quanto a utilização de recursos hídricos e demais recursos naturais.

6.2.3 Instalação de esguichos nas mangueiras de lavagem

Conforme discutido, a ilha de recepção de matéria prima é um ponto


importante de análise. Ainda que não haja formas de mensuração do consumo de
água neste ponto, foi possível identificar algumas possíveis mudanças, visando a
melhoria dos serviços.
As mangueiras de água utilizadas neste setor não possuem esguichos, assim,
os operadores as ligam, sobem nos caminhões com as mesmas ligadas, gerando
grande desperdício, assim como durante a higienização, enquanto os mesmos
101

esfregam as tampas dos tanques dos caminhões, por exemplo, não há o uso
constante de água, havendo momentos em que não seria necessário manter as
mangueiras ligadas. No entanto, não é possível que o operador ligue e desligue a
mangueira diversas vezes. Para tal seria necessário o dobro de pessoal para que
metade destes apenas realizasse a operação de ligar e desligar, o que inviabilizaria
o processo.
A Ilustração 28 mostra um operador consciente que através do improviso,
tenta reduzir o consumo de água em um momento em que não há necessidade de
manter a mangueira ligada.

Ilustração 28: Exemplo de boas práticas na utilização de mangueiras para


higienização dos caminhões.
Fonte: Autor.

Ainda que exista boa intenção de alguns operadores, como o apresentado na


Ilustração 23, esta não elimina por completo o desperdício, e também não é uma
prática adotada por todos os operadores. O ideal neste caso seria a instalação de
esguichos acionados com gatilho, o que possibilitaria o uso de água apenas nos
momentos necessários.
As mangueiras utilizadas possuem uma polegada de diâmetro, e alta pressão.
Uma pesquisa realizada por este trabalho não encontrou nenhum tipo de esguicho
102

com acionamento por gatilho para este tipo de mangueira. No entanto, considera-se
relevante uma busca mais acurada por este equipamento, uma vez que traria uma
redução importante no desperdício.

6.2.4 Usar água descartada da caldeira pra lavar caminhões

A caldeira instalada na empresa, responsável pela geração e vapor para os


diversos processos, possui uma exigência quanto a qualidade de água utilizada,
uma vez que a presença de sais na água causa incrustações nas tubulações. Desta
forma, além do abrandador, descrito no item 5.3.1, a cada certos períodos pré-
programados, a caldeira realiza um processo denominado descarte de fundo. O
descarte de fundo visa eliminar uma quantidade de água do fundo do reservatório,
carregando consigo possíveis sais e minerais depositados.
A água sai a uma temperatura próxima de 100 ºC, e é enviada para a ETE.
Segundo informações do fabricante da caldeira, são descartados aproximadamente
14,4 m3 de água por dia.
Foi coletada amostra desta água, e encaminhada ao Laboratório de Análises
de Águas e Alimentos da UTFPR – LAQUA, a fim de verificar se esta água seria
adequada para a lavagem de recipientes para armazenagem de alimento
(caminhões). O resultado da analise encontra-se no Anexo D, e mostra que a água
em questão poderia ser utilizada para o fim idealizado.
Assim, sugere-se o reuso de tal água para a higienização de caminhões.
Seria necessário a instalação de uma bomba para envio da água, uma vez que a
caldeira e a ilha de recepção de matéria prima encontram-se no mesmo nível, e uma
caixa para armazenamento da água.
Conforme informações empíricas, o investimento não seria tão alto, e ao
reduzir o tratamento de 3 m3 efluente/dia, teria uma redução de aproximadamente
R$ 1,68 reais diários no custo da ETE, conforme cálculos apresentados no item
5.8.1, alem de alguma redução no uso de lenha.
Embora tal economia não seja muito significativa do ponto de vista financeiro,
deve-se avaliar a perspectiva ambiental, onde uma simples mudança não implicará
em grandes custos para a empresa, no entanto reduzirá o consumo de recursos
naturais.
103

6.2.5 Substituição Medidor de Vazão

Mediante os inúmeros problemas apresentados pelo Medidor de Vazão da


ETE, não fornecendo dados contínuos e confiáveis, recomenda-se a substituição do
equipamento.
Os dados fornecidos por tal equipamento são de vital importância para o
planejamento da gestão de recursos hídricos da empresa.

6.2.6 Hidrômetro ilha de recepção de matéria prima

Ainda que com a instalação do hidrômetro na entrada da caixa d’água centra,


o qual já foi adquirido pela empresa, e a possível confrontação dos dados com
aqueles fornecidos pelo medidor de vazão da ETE, resultando em maior
confiabilidade dos dados, estes não bastariam para mensurar todas as formas de
uso. O item “Outros usos” da tabela do Apêndice C ainda seria representativo de
muitos processos.
Desta forma, seria importante a instalação de um segundo hidrômetro para
quantificar o uso de água na ilha de recepção de matéria prima, que é o ponto de
consumo de água identificado como merecedor de maior atenção no processo, uma
vez que o uso é muito variável e subjetivo a operadores.
Com a instalação de tal hidrômetro, seria possível monitorar o consumo por
turnos, possibilitando identificar variações de consumo de acordo com as práticas
empregadas pelos operadores. Possibilitaria ainda verificar suposições como
aumento do consumo em turnos da noite e finais de semana, em que não há
presença do supervisor de produção e consequentemente menor cuidado com boas
práticas por parte dos operadores.
Existindo tais dados, seria possível criar uma média do consumo de água
necessária por caminhões, e ainda realizar a mesma média por turnos.
Caso houvesse variações excessivas entre os turnos haveria possibilidade de
cobrança dos mesmos, ou ate mesmo remanejo de pessoal. Seria ainda possível, o
estabelecimento de metas de redução de consumo.
104

6.2.7 Sistema de informações

Uma dificuldade observada no trabalho do Responsável técnico pela ETE é a


falta informações quanto aos processos realizados na fábrica, como por exemplo, a
realização de CIPs, manutenções, descargas de leite em desconformidade com as
exigências, que são enviado a ETE, etc. Ou seja, a ETE trabalha sem informações
dos processos geradores de efluente. Eventualmente quando há grandes variações
nas vazões recebidas pela ETE, o Responsável pela mesma busca informalmente
informações com o Supervisor de produção, a fim de compreender os fenômenos
ocorridos e verificar, ainda que de forma empírica se não há falhas nas medições
das vazões de entrada.
Para que haja possibilidade de maior programação da ETE, é vital a
implantação de um sistema de informações, em que os fenômenos geradores de
efluente sejam transmitidos a ETE.
No inicio, poderia ser criado um sistema de informações simples. A empresa
possui comunicação via rádios, que poderiam ser utilizados para transmitir
informações para ETE, onde os fenômenos geradores de efluentes poderiam ser
anotados em planilhas.
De posse destes dados, poderia ser estabelecida uma relação entre os
fenômenos diários e as vazões de entrada na ETE, o que em longo prazo
possibilitaria identificar o motivo de variações, e os processos com maior geração de
efluente.
O sistema sugerido, por utilizar-se de uma ferramenta já existente na
empresa, a comunicação via radio, não acrescentaria custos, no entanto geraria
resultados importantes ao processo de gestão.

6.2.8 Sistema de gestão ambiental e de recursos hídricos

Percebeu-se a deficiência existente no processo de gestão ambiental e de


recursos hídricos, devido a ausência de um programa formal. Através do
105

organograma, tanto da matriz, quanto da unidade de Pato Branco (Ilustrações 4 e 5


respectivamente), pode-se observar a ausência de um departamento específico para
desempenhar esta atividade. Desta forma, esta atividade fica relegada ao
responsável pela ETE, no entanto, são realizadas as exigências legais, sem poder
considerar-se como um programa de gestão da empresa. Tal pessoa tem
dificuldades em acompanhar os processos desenvolvidos na empresa, devido a
ausência de informações (discutido no item 6.2.7), e como a ETE localiza-se longe
da fábrica, isto também se torna um fator que dificulta o acompanhamento das
atividades.
Com base nos fatores apresentados sugere-se que o responsável técnico
pela ETE passasse mais tempo no ambiente da fabrica, talvez com a criação de
algum espaço físico para o mesmo na área da administração da empresa, e a
divisão do seu horário de trabalho, onde passasse parte do mesmo na ETE e parte
na administração e na fábrica. Assim enquanto na administração/fábrica, poderia
dedicar-se aos processos de gestão ambiental da empresa.

6.2.9 Programa de conscientização

Muito tem sido discutido quanto a atividades em que o consumo de água é


variável de acordo com o operador, desta forma, é importante que os mesmos sejam
instruídos de forma adequada.
Um programa visando a conscientização dos colaboradores quanto a
utilização de recursos hídricos poderia trazer resultados significativos. Como a
empresa utiliza água de poços é preciso mostrar aos colaboradores que embora,
ainda não haja uma cobrança por esta forma de captação, é vital para o
desenvolvimento sustentável que este recurso seja utilizado de maneira racional.
Os colaboradores da fábrica, que utilizam diretamente a água, possuem
formação a nível de ensino médio, desta forma é importante observar a linguagem
utilizada em tal programa, para que seja acessível a este público alvo.
Banners em áreas estratégicas da empresa, como no refeitório, poderiam ser
uma boa estratégia, alem de com um custo baixo, atingiriam quase a totalidade dos
colaboradores. Quanto ao conteúdo sugere-se a utilização de modelos de cartazes
prontos distribuídos gratuitamente no site da ANA (www.ana.gov.br).
106

A distribuição de cartilhas informativas também é uma ótima via de


comunicação, uma vez que é possível a inserção de maior número de informações,
e pode ainda ter suas informações difundidas entre os familiares dos colaboradores
e outras pessoas. No entanto, pode também ser um recurso investido pela empresa
sem retorno, uma vez que corre-se o risco de que o colaborador não dispense
atenção ao material. Assim sugere-se a elaboração de critérios para distribuição do
material, como por exemplo, entregar somente aqueles que solicitarem.
Através dos cálculos apresentados é possível verificar que a empresa tem
custos com a utilização da água, principalmente devido ao tratamento dos efluentes,
e a partir de 2010, com a cobrança pelo recurso natural, prevista em lei, os custos
tendem a aumentar. Desta forma, é importante que a empresa disponha de um
plano de gestão capaz de controlar estes custos. Através dos programas de reuso
da água e da economia da mesma todos os custos tendem a reduzir, conferindo,
além de uma perspectiva ambientalmente correta, vantagem competitiva a empresa,
através do barateamento dos custos de produção.
107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão ambiental ainda é uma área pouco explorada nas organizações, e


aquelas que possuem algum planejamento nesta área visam o atendimento das
legislações, e, em alguns casos, medidas que preconizem o lucro.
Tradicionalmente há bastante resistência por parte das organizações em
implementar mudanças que visem a manutenção e preservação dos recursos
naturais. No entanto, a organização estudada mostrou-se sempre aberta a
realização da pesquisa e a avaliar as sugestões apresentadas, tanto que uma
mudança importante já foi posta em prática (conforme descrito no item 6.1.1), assim
como a aquisição do hidrômetro, revelam o interesse da organização no
desenvolvimento de sua política de gestão de recursos hídricos.
Toda a organização na sociedade capitalista é movida pelo lucro, e para tal
qualquer investimento requer uma análise de viabilidade econômica, porém a
abertura a avaliação das sugestões é um fator muito importante, que certamente
enobrece a organização. Algumas medidas podem não ser viáveis em curto prazo,
no entanto, certamente irão conferir vantagens competitivas em longo prazo, ou
proporcionar a empresa oportunidade no cumprimento de seu papel social e
ambiental.
A partir de 2010, com a vigoração da Lei Estadual proposta pelo Projeto de
Lei 515/2008, que prevê o pagamento da água pelas organizações industriais, estas
terão que adaptar-se a tal, e aquelas que já possuírem certa estruturação neste
contexto, com certeza terão estes avanços revertidos em vantagens competitivas, e
otimização de custos.
Através do desenvolvimento da pesquisa e da vivência no ambiente da
Confepar Agro-Industrial Cooperativa Central, unidade de Pato Branco, foi possível
sanar a problemática e atingir-se o objetivo geral da pesquisa, que propunham-se a
conhecer e analisar a gestão de recursos hídricos, no processo produtivo, de leite
concentrado quanto aos aspectos ambientais, econômicos e sociais.
Percebeu-se, então, a deficiência existente no processo de gestão, devido a
ausência de um programa formal de gestão ambiental e de recursos hídricos.
Através do organograma, tanto da matriz, quanto da unidade de Pato Branco
108

(Ilustrações, 4 e 5 respectivamente), pôde-se observar a ausência de um


departamento de gestão de ambiental. Tal atividade fica relegada ao responsável
pela ETE. Tal pessoa tem dificuldades em acompanhar os processos desenvolvidos
na empresa, devido a ausência de informações, conforme discutido nos itens 5.2.7 e
5.2.8, sendo este um ponto importante de atenção.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram necessários aproximadamente
três meses de convivência no ambiente da empresa, onde se pôde observar um
crescimento, embora inquantificável, aparentemente significativo do
comprometimento da administração com a causa. No inicio da pesquisa a
preocupação com recursos hídricos era baixa por parte da administração da
unidade, preocupando-se apenas com o atendimento as legislações. Em meados da
pesquisa, já era perceptível um comprometimento maior com a causa, e a
visualização da necessidade de um plano de gerenciamento. Para tanto a empresa
sempre prestou todo apoio possível a pesquisa, visando os resultados desta como
os primeiros passos para elaboração de um plano de gerenciamento de recursos
hídricos.
Durante a realização desta pesquisa, foram enfrentadas algumas dificuldades,
as quais merecem ser destacadas. Na quantificação da demanda de água na
atividade produtiva, como a empresa não possui um sistema de gestão aprimorado,
não haviam muitos dados disponíveis, desta forma, foi preciso criar a planilha do
Apêndice C, visando o entendimento da dinâmica de uso da água. Para que isto
fosse possível também foi necessário conhecer e analisar individualmente os
processos consumidores de água. Tal conhecimento veio de encontro ao primeiro
objetivo específico, que visava a descrição do processo produtivo.
Esta análise dos processos consumidores de água e geradores de efluente,
consequentemente, proporcionou o conhecimento detalhado dos mesmos,
possibilitando a identificação de pontos que necessitam de reavaliação, conforme
previa o objetivo específico 4.
Os equipamentos de medição de consumo de água foram a primeira
dificuldade encontrada, os quais não permitiram concluir com precisão a demanda
de água da empresa, e sim a criação de uma estimativa.
Em resposta ao segundo objetivo específico, que propunha-se a identificar a
demanda de água da atividade produtiva, a pesquisa estimou a quantidade de água
necessária para o processo de concentração em 3,22 litros de água para cada litro
109

de leite concentrado. Ainda que os dados obtidos não possam ser considerados
como a demanda de água da atividade produtiva, e sim uma estimativa, os mesmos
encontram-se em complanescencia com os dados apresentados por Leeden (1990)
para o uso de água em atividades leiteiras, e laticínios em geral, conforme foi
resumido na Tabela 7.
Percebeu-se a necessidade de aquisição de alguns equipamentos, para
proporcionar um adequado sistema de gestão, no entanto, paralelamente é vital a
criação do sistema de informações (sugerido no item 6.2.7), pois sem informações
nenhum planejamento pode ser efetivo. O mesmo também deve observar as
premissas da melhoria contínua, o qual prevê sempre a reavaliação, objetivando o
aprimoramento.
Conforme sugeria o terceiro objetivo específico, foi acompanhado o destino
dos efluentes. A empresa possui uma moderna estação de tratamento de efluentes,
a qual apresenta grande eficiência no processo. No entanto, alguns dos processos
que utilizam água geram efluentes de boa qualidade, o que justificaria a implantação
de sistemas de reuso de água, visando a manutenção deste recurso natural e a
redução com custos de tratamento, conforme projetos que já são constituem planos
futuros da organização (descritos nos itens 5.7.1 a 5.7.3), assim como aqueles
identificados por esta pesquisa (descrito no item 6.2.4).
A questão social deve ser mais amplamente explorada pela empresa no
intuito de transmitir aos colaboradores a preocupação com o uso racional da água.
Tais atividades viriam não só cumprir o papel social da empresa perante a
sociedade, como também criar uma nova consciência nos colaboradores, e levando
a um uso mais eficiente dos recursos naturais na organização.
Embora a empresa não opere numa situação ideal, possui um fator vital para
chegar a tal, o comprometimento por parte da administração. O desenvolvimento
desta pesquisa no ambiente organizacional contribuiu de forma significativa a
fornecer os primeiros dados para a formulação de um plano de gestão, assim como
o despertar da organização para a criação de uma consciência ainda maior em torno
da problemática.
A pesquisa possibilitou ao pesquisador a convivência no ambiente
organizacional, deparando-se com a realidade existente, e a necessidade de
superação de problemas mediante a inexistência de situações teóricas ideais. O
desenvolvimento de um trabalho na área de gestão de recursos hídricos também
110

contribui com a sociedade acadêmica, ao ampliar os poucos trabalhos existentes


nesta área, e criando oportunidades para pesquisas mais aprofundadas.
111

REFERÊNCIAS

Agência Nacional das Águas - ANA. A evolução da Gestão dos Recursos


Hídricos no Brasil / The evolution of Water Resources Management in Brazil.
Brasília: ANA, 2002.

______. Disponibilidade e demanda de recursos hídricos no Brasil. Brasília:


ANA, 2007a.

______. GEO Brasil: recursos hídricos: componente da série de relatórios sobre o


estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil. / Ministério do Meio Ambiente;
Agência Nacional de Águas; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Brasília: MMA; ANA, 2007b.

______. Panorama da qualidade das águas no Brasil. Cadernos de Recursos


Hídricos 1. Brasília: TODA desenho & arte Ltda, 2005.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR ISO 14004:1996 —


Sistemas de gestão ambiental: diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e
técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.

BARLOW, M., CLARKE, T. Ouro azul: Como as grandes corporações estão se


apoderando da água doce do nosso planeta. São Paulo: M. Books do Brasil Editora
Ltda, 2003.

BOTELHO, D. O. ; OLIVEIRA, V. A. R. ; AMANCIO, R. ; AMANCIO, C. ; FERREIRA,


P. A. . Gestão Social das águas: uma Reflexão sobre Propostas para Encarar
Esse Desafio. In: IV Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2007.
Resende. IV Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia - Seget, 2007.

BRASIL. Código da águas: Decreto Nº 24.643, de 10 de Julho de 1934. Brasília,


DF: Senado, 1934.

______. Constituição da República Federativa do Brasil - Promulgada em 05 de


outubro de 1988. In: OLIVEIRA, J., OLIVEIRA, M. Constituição Federal de 1988. 6ª
ed./ atualizada. São Paulo: Saraiva, 1992.

______. Lei Federal nº. 9.984/2000. Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de
Águas - ANA. Brasília, DF, 17 jul. 2000.
112

______. Lei Federal nº 9.433/97. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e


cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 09 jan. 1997.

BEHMER, M. L. A. Tecnologia do Leite: leite, queijo, manteiga, caseína, iogurte,


sorvetes e instalações: produção, industrialização, análise. Nobel: São Paulo, 1984.

BRESSAN, D. Gestão racional da natureza. São Paulo: HUCITEC, 1997.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 6 ed. Rio de


Janeiro: Campus, 2000.

CNRH. Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Resolução nº 16/2001. Estabelece


critérios gerais para outorga de direito de uso de recursos hídricos. Diário Oficial da
União, Brasília, 08 mai/ 2001.

Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA. Resolução Nº 357, DE 17 DE


MARÇO DE 2005. CONAMA, 2005.

CRUZ, J. C. Disponibilidade hídrica para outorga: Avaliação de Aspectos


Técnicos e Conceituais. 2001. Tese, UFRGS, Porto Alegre,RS, 2001.

FIESP/CIESP - Federação e Centro da Indústria do Estado de São Paulo.


Conservação e reuso de água. São Paulo: FIESP/CIESP, 2004.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GORE, A. Uma verdade inconveniente: O que devemos saber (e fazer) sobre o


aquecimento global. Barueri, Sp: Manole, 2006.

GRASSI, L. A. T., CÁNEPA, E. M. Os Comitês de Bacia no Rio Grande do Sul:


uma perspectiva histórica. Revista Ciência & Ambiente, nº 21, Santa Maria, pp. 119-
134, julho/dezembro de 2000.

GUIMARÃES, A. K. Programa de capacitação técnica de operadores. Confepar-


Agro Industrial Cooperativa Central: Londrina, 2007.

JOURAVLEV, A. Administración del água em América Latina y Caribe em el


umbral Del siglo XXI. CEPAL: Santiago de Chile, 2001.
113

LANNA, A. E. Gestão dos recursos hídricos. In: TUCCI, Carlos E. M. (Org.).


Hidrologia: Ciência e aplicação. Porto Alegre: Ed. da Universidade ABRH, 1997.

______. Introdução à gestão ambiental e à análise econômica do ambiente.


Porto Alegre: IPH/UFRGS, 1996.

LOPES, I. V. (Org.); et al. Gestão ambiental no Brasil: experiências e sucesso.


4ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001.

MACHADO, W. C. P. Indicadores da qualidade da água na bacia hidrográfica do


rio Pato Branco. 2006. 341. Tese, UFPR, 2006.

MARCONI, M. A., LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5 ed.


São Paulo: Atlas, 2003.

MEADOWS, D., RANDERS, J., MEADOWS, D. Limites do crescimento: a


atualização de 30 anos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.

MIERZWA, J. C., HESPANOL, I. Água na indústria: uso racional e reuso. São


Paulo: Oficina de Textos, 2005.

______. Programa para gerenciamento de águas e efluentes nas indústrias,


visando ao uso racional e à reutilização. Revista Engenharia Sanitária e
Ambiental, Vol 4, Nº 1 e 2, Rio de Janeiro, Jan-Jul 1999.

MOTA, J. A. O valor da natureza: Economia e política dos recursos naturais. Rio de


Janeiro: Garamond, 2001.

MOTTA, R. S. da; THOMAS, A.; REYNAUD, A.; FÉRES, J. G. Demanda por água e
custos de controle da poluição hídrica em indústrias da bacia do Rio Paraíba
do Sul, XXIV Encontro Nacional de Economia da Associação Nacional dos Centros
de Pós-Graduação em Economia - ANPEC, dez/06, Salvador: 2006.

NICOLELLA, G. Sistema de gestão ambiental: aspectos teóricos e análise de um


conjunto de empresas da região de Campinas, SP. Embrapa Meio Ambiente:
Jaguariúna, 2004.

OLIVEIRA, J. F., PIRES, M. C., SANTOS, S. A. Economia para Administradores.


São Paulo: Saraiva, 2005.
114

PARANÁ. Lei Estadual 12.276 de 26 de novembro de 1999.

PEARCE, D., DOMINIC, M. O valor econômico da biodiversidade. Lisboa:


Instituto Piaget, 1994.

RAUBER, D. Comitê de bacia hidrográfica: Um estudo sobre a bacia do rio


Chopim. 2006.60. Monografia - UTFPR, Pato Branco, 2006.

RICHARDSON, R.J. Pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2004.

ROESCH, S. M. A. Projetos de Estágio e de Pesquisa em Administração: guia


para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudo de caso. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 1999.

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal - SEBRAE-DF.


Metodologia para implementação de sistema de gestão ambiental em unidades
de conservação - SGA-UC. Brasília: Sebrae/DF, 2007.

SELBORNE, L. A ética do uso da água doce: um levantamento. Brasília:


UNESCO, 2001.

SETTI, A. A., LIMA, J. E. F. W., CHAVES, A. G. M., PEREIRA, I. C. P. Introdução


ao gerenciamento de recursos hídricos. Brasília: Agencia Nacional das Águas -
ANA, 2000.

SPIGOSSO, D. Aprovado Ipaguas, mas agricultores estão isentos: Frigoríficos e


grandes indústrias vão desembolsar R$ 0,03 por metro cúbico a partir de 2010.
Diário do Sudoeste, Pato Branco, 04 set. 2009. Geral, p. A9.

TUNDISI, J. G. TITULO. Limnologia e gerenciamento integrado de recursos


hídricos, avanços conceituais e metodológicos. Ciência &Ambiente nº 21.
Julho/dezembro de 2000.

VALLE, C. E. Como se preparar para as normas ISO 14000. São Paulo: Editora
Pioneira, 2000.

van de MOLEN, Y. F. Ecologia. São Paulo: EPU, 1981.


115

APÊNDICES
116

APÊNDICE A: Roteiro de acompanhamento para observação e coleta de dados


da pesquisa
RESPONSAVEIS PELAS INFORMACOES: Supervisão de produção e Responsável
técnico.

PROCESSO PRODUTIVO
1) Como é o processo adotado na empresa? Descrever.
2) Como é utilizada a água dentro deste processo?
3) Qual a quantidade de água por litro de leite processado?
4) Qual o rendimento de produto final por litro de leite processado?
5) Qual a quantidade de leite processado por dia (ou unidade de tempo)?
6) Quais as demais formas que a água é utilizada na empresa? (limpeza, etc).

ÁGUA UTILIZADA
7) Qual a fonte da água utilizada? (rio, poço)
8) Porque a escolha desta fonte?
9) Qual a quantidade de água captada, por dia (ou unidade de tempo)?
10) Qual o tratamento dado a água antes de utilizada?
11) Qual a qualidade do efluente gerado?
12) Qual o tratamento aplicado ao efluente?
13) Qual a quantidade de efluente liberado?
14) Caso seja liberado no rio, é liberado acima ou abaixo do ponto de captação?
15) Existe alguma forma de reuso da água?
16) Existe algum plano para implantação do reuso?

LEGISLAÇÃO
17) A empresa tem conhecimento da Lei Federal n 9.433/97 que prevê a cobrança
pela água?
18) A empresa pretende implantar (ou já implantou) alguma mudança no processo,
em função desta legislação?
19) Quais mudanças tal lei causou (ou causará) para a empresa?
20) A empresa conhece a Portaria n. 357 do Conselho Nacional de Meio Ambiente –
CONAMA, que regulamenta a qualidade do efluente lançado em corpos hídricos?
21) Qual a classificação do corpo receptor?
22) A empresa atende a tal regulamentação?

ECONOMIA
23) O processo e os sistemas são considerados eficientes quanto ao uso da água?
24) Existe alguma pretensão de implantação de algum sistema mais eficiente?
25) A empresa possui alguma política de preservação ambiental relacionada a
recursos hídricos?

GESTÃO AMBIENTAL
26) A empresa possui algum programa de gestão ambiental? Qual?
27) Se não, pretende implantar? Se sim, porque implantou?

SOCIAL
28) Qual a visão da empresa em relação a água?
29) A empresa possui algum programa social em relação aos recursos hídricos?
Lenha 117

APÊNDICE B: Fluxograma do caminho da

Poço 1
Vazão:
5,5m3/h Caldeira

Evaporador
Poço 2
Vazão:
3,5m3/h
Alpina

Perdas não ETE


quantificadas
Poço 3 Cisterna Caixa
Vazão: d’água
11,0m3/h 200 m3
Caixa de
Gelo Resfriador

Poço 4
Vazão: Cloro
17,0m3/h

Recepção

Poço 5
Vazão:
120,0m3/h

água
Legenda:
Locais em que há equipamentos de medição (hidrômetro ou medidor de vazão);

Locais em que a instalação de equipamentos para medição foram consideradas ideais por este trabalho.
118

APÊNDICE C: Tabela de uso da água

Data ETE Concentração Caldeira Resfriamento CIP Outros


Leitura Média/dia Média/h Evaporador Balões e Silos Usos
3 3 3 3 3 3 3 3 3
(m ) (m ) (m /h) (m ) (m ) (m ) (m ) (m ) (m )
1/12/2008 700,00 700,00 29,17 196,76 69,4 24,0 70,00 40,00 299,84
2/12/2008 651,00 651,00 27,13 211,34 71,8 24,0 70,00 40,00 233,86
3/12/2008 599,00 599,00 24,96 213,73 71,3 24,0 70,00 40,00 179,97
4/12/2008 414,00 414,00 17,25 155,40 54,3 24,0 70,00 40,00 70,30
5/12/2008 316,20 316,20 13,18 253,51 76,0 24,0 70,00 40,00 -147,31
6/12/2008 * 462,35 19,26 207,50 69,7 24,0 70,00 40,00 51,15
7/12/2008 924,70 462,35 19,26 198,86 71,0 24,0 70,00 40,00 58,49
8/12/2008 524,00 524,00 21,83 218,14 77,0 24,0 70,00 40,00 94,86
9/12/2008 446,80 446,80 18,62 170,18 60,7 24,0 70,00 40,00 81,92
10/12/2008 382,20 382,20 15,93 233,32 71,1 24,0 70,00 40,00 -56,22
11/12/2008 493,00 493,00 20,54 233,96 76,1 24,0 70,00 40,00 48,94
12/12/2008 * 467,23 19,47 200,89 71,1 24,0 70,00 40,00 61,24
13/12/2008 * 467,23 19,47 215,45 69,7 24,0 70,00 40,00 48,09
14/12/2008 1.401,70 467,23 19,47 227,56 75,5 24,0 70,00 40,00 30,17
15/12/2008 449,70 449,70 18,74 222,34 67,5 24,0 70,00 40,00 25,86
16/12/2008 466,40 466,40 19,43 193,52 73,3 24,0 70,00 40,00 65,58
17/12/2008 361,70 361,70 15,07 234,22 74,4 24,0 70,00 40,00 -80,92
18/12/2008 313,40 313,40 13,06 70,05 44,4 24,0 70,00 40,00 64,95
19/12/2008 484,00 484,00 20,17 248,63 72,5 24,0 70,00 40,00 28,87
20/12/2008 * 318,47 13,27 190,86 63,8 24,0 70,00 40,00 -70,19
21/12/2008 * 318,47 13,27 237,02 70,0 24,0 70,00 40,00 -122,55
22/12/2008 955,40 318,47 13,27 223,02 71,9 24,0 70,00 40,00 -110,45
23/12/2008 504,00 504,00 21,00 172,80 58,9 24,0 70,00 40,00 138,30
24/12/2008 * 469,62 19,57 203,03 65,9 24,0 70,00 40,00 66,68
25/12/2008 * 469,62 19,57 227,19 72,4 24,0 70,00 40,00 36,03
26/12/2008 * 469,62 19,57 211,72 68,3 24,0 70,00 40,00 55,60
27/12/2008 * 469,62 19,57 224,52 69,2 24,0 70,00 40,00 41,90
28/12/2008 * 469,62 19,57 195,52 66,5 24,0 70,00 40,00 73,60
29/12/2008 2.817,70 469,62 19,57 247,06 72,6 24,0 70,00 40,00 15,96
30/12/2008 477,70 477,70 19,90 180,86 66,8 24,0 70,00 40,00 96,04
31/12/2008 551,00 551,00 22,96 224,84 71,1 24,0 70,00 40,00 121,06
TOTAL 14.233,60 6.443,80 2.134,20 744,00 2.170,00 1.240,00 1.501,60
119

Data ETE Concentração Caldeira Resfriamento CIP Outros


Leitura Média/dia Média/h Evaporador Balões e Silos Usos
3 3 3 3 3 3 3 3 3
(m ) (m ) (m /h) (m ) (m ) (m ) (m ) (m ) (m )
1/1/2009 * 456,10 19,00 189,61 69,6 24,0 70,00 40,00 62,90
2/1/2009 912,2 456,10 19,00 232,78 70,5 24,0 70,00 40,00 18,83
3/1/2009 * 577,70 24,07 210,90 70,5 24,0 70,00 40,00 162,30
4/1/2009 1155,4 577,70 24,07 195,96 71,8 24,0 70,00 40,00 175,94
5/1/2009 624,7 624,70 26,03 227,84 68,5 24,0 70,00 40,00 194,36
6/1/2009 668,4 668,40 27,85 233,92 70,0 24,0 70,00 40,00 230,48
7/1/2009 735 735,00 30,63 174,38 68,1 24,0 70,00 40,00 358,52
8/1/2009 763,7 763,70 31,82 249,34 71,4 24,0 70,00 40,00 308,96
9/1/2009 * 540,73 22,53 213,92 67,5 24,0 70,00 40,00 125,31
10/1/2009 * 540,73 22,53 160,30 65,0 24,0 70,00 40,00 181,43
11/1/2009 * 540,73 22,53 249,86 70,9 24,0 70,00 40,00 85,97
12/1/2009 2162,9 540,73 22,53 162,37 52,0 24,0 70,00 40,00 192,35
13/1/2009 406,2 406,20 16,93 197,40 65,3 24,0 70,00 40,00 9,50
14/1/2009 411,1 411,10 17,13 172,26 58,3 24,0 70,00 40,00 46,54
15/1/2009 475,3 475,30 19,80 192,30 66,3 24,0 70,00 40,00 82,70
16/1/2009 * 490,53 20,44 214,72 69,9 24,0 70,00 40,00 71,91
17/1/2009 * 490,53 20,44 201,38 74,0 24,0 70,00 40,00 81,15
18/1/2009 1471,6 490,53 20,44 221,08 72,2 24,0 70,00 40,00 63,25
19/1/2009 377,3 377,30 15,72 100,38 94,5 24,0 70,00 40,00 48,42
20/1/2009 203,3 203,30 8,47 64,30 50,2 24,0 70,00 40,00 -45,20
21/1/2009 439,9 439,90 18,33 236,62 73,3 24,0 70,00 40,00 -4,02
22/1/2009 475,8 475,80 19,83 208,82 69,9 24,0 70,00 40,00 63,08
23/1/2009 446,6 446,60 18,61 238,88 76,3 24,0 70,00 40,00 -2,58
24/1/2009 * 441,20 18,38 252,04 79,5 24,0 70,00 40,00 -24,34
25/1/2009 882,4 441,20 18,38 181,86 62,0 24,0 70,00 40,00 63,34
26/1/2009 * 344,10 14,34 214,12 70,6 24,0 70,00 40,00 -74,62
27/1/2009 * 344,10 14,34 255,84 79,2 24,0 70,00 40,00 -124,94
28/1/2009 1032,3 344,10 14,34 216,00 74,0 24,0 70,00 40,00 -79,90
29/1/2009 479,5 479,50 19,98 200,56 71,4 24,0 70,00 40,00 73,54
30/1/2009 523 523,00 21,79 210,78 70,2 24,0 70,00 40,00 108,02
31/1/2009 * 237,50 9,90 219,10 65,2 24,0 70,00 40,00 -180,80
TOTAL 14.646,60 6.110,01 2.088,50 720,00 2.100,00 1.200,00 2.209,49
120

Data ETE Concentração Caldeira Resfriamento CIP Outros


Leitura Média/dia Média/h Evaporador Balões e Silos Usos
3 3 3 3 3 3 3 3 3
(m ) (m ) (m /h) (m ) (m ) (m ) (m ) (m ) (m )
1/2/2009 475 237,50 9,90 249,68 78,1 24,0 70,00 40 -224,28
2/2/2009 478,5 478,50 19,94 212,12 74,0 24,0 70,00 40 58,38
3/2/2009 494,6 494,60 20,61 241,96 74,8 24,0 70,00 40 43,84
4/2/2009 377,4 377,40 15,73 175,62 59,0 24,0 70,00 40 8,78
5/2/2009 427,4 427,40 17,81 198,46 64,1 24,0 70,00 40 30,84
6/2/2009 371,6 371,60 15,48 180,92 62,1 24,0 70,00 40 -5,42
7/2/2009 * 499,75 20,82 257,26 80,9 24,0 70,00 40 27,59
8/2/2009 999,5 499,75 20,82 173,00 64,4 24,0 70,00 40 128,35
9/2/2009 368,2 368,20 15,34 151,80 57,5 24,0 70,00 40 24,90
10/2/2009 346,9 346,90 14,45 260,80 78,9 24,0 70,00 40 -126,80
11/2/2009 432,1 432,10 18,00 204,77 67,7 24,0 70,00 40 25,63
12/2/2009 277,1 277,10 11,55 83,60 40,5 24,0 70,00 40 19,00
13/2/2009 550,8 550,80 22,95 254,77 78,9 24,0 70,00 40 83,13
14/2/2009 * 526,35 21,93 202,00 73,7 24,0 70,00 40 116,65
15/2/2009 1052,7 526,35 21,93 204,50 67,7 24,0 70,00 40 120,15
16/2/2009 526,4 526,40 21,93 216,18 72,4 24,0 70,00 40 103,82
17/2/2009 261,2 261,20 10,88 119,80 46,4 24,0 70,00 40 -39,00
18/2/2009 584,4 584,40 24,35 251,16 80,3 24,0 70,00 40 118,94
19/2/2009 467,4 467,40 19,48 211,62 72,6 24,0 70,00 40 49,18
20/2/2009 396,7 396,70 16,53 232,72 74,1 24,0 70,00 40 -44,12
21/2/2009 * 370,57 15,44 192,10 62,4 24,0 70,00 40 -17,93
22/2/2009 * 370,57 15,44 192,36 63,0 24,0 70,00 40 -18,79
1111,7 370,57 15,44 95,60 34,6 24,0 70,00 40 106,37
24/2/2009 480 480,00 20,00 247,70 77,7 24,0 70,00 40 20,60
25/2/2009 275 275,00 11,46 84,36 42,3 24,0 70,00 40 14,34
26/2/2009 544,2 544,20 22,68 250,54 78,2 24,0 70,00 40 81,46
27/2/2009 305,9 305,90 12,75 119,28 45,1 24,0 70,00 40 7,52
28/2/2009 522,75 522,75 21,78 252,49 78,1 24,0 70,00 40 58,17
TOTAL 12.127,45 5.517,17 1.849,50 672,00 1.960,00 1.120,00 771,29

LEGENDA:

Dias em que os resultados para “Outros Usos” resultaram em inconsistências (números negativos);
Dias em que foram realizadas médias devido a falta de leituras.
Totais mensais.
121

APÊNDICE D: Cálculo descarte de fundo da caldeira


A Caldeira está programada para realizar um descarte a cada meia hora. No entanto a cada
três descartes há um intervalo de uma hora e meia. Desta forma o esquema a seguir mostra
um cronograma para a realização desta atividade.

Horário Quantidade descartada


06:00 100 litros = 0,1 m3
06:30 100 litros = 0,1 m3
07:00 100 litros = 0,1 m3

08:30 100 litros = 0,1 m3


09:00 100 litros = 0,1 m3
09:30 100 litros = 0,1 m3

11:00 100 litros = 0,1 m3


11:30 100 litros = 0,1 m3
12:00 100 litros = 0,1 m3

13:30 100 litros = 0,1 m3


14:00 100 litros = 0,1 m3
14:30 100 litros = 0,1 m3

16:00 100 litros = 0,1 m3


16:30 100 litros = 0,1 m3
17:00 100 litros = 0,1 m3

18:30 100 litros = 0,1 m3


19:00 100 litros = 0,1 m3
19:30 100 litros = 0,1 m3

21:00 100 litros = 0,1 m3


21:30 100 litros = 0,1 m3
22:00 100 litros = 0,1 m3

23:30 100 litros = 0,1 m3


00:00 100 litros = 0,1 m3
00:30 100 litros = 0,1 m3

02:00 100 litros = 0,1 m3


02:30 100 litros = 0,1 m3
03:00 100 litros = 0,1 m3

04:30 100 litros = 0,1 m3


05:00 100 litros = 0,1 m3
05:30 100 litros = 0,1 m3

TOTAL 3000 litros = 3m3


122

APÊNDICE E: Custos da ETE

Jan/09 Fev/09 Mar/09 Abr/09

Produto Químico R$ 11.561,40 R$ 10.663,74 R$ 11.561,41 R$ 9.002,55


Mat. Manutenção R$ 174,23 R$ 12,00 R$ 59,00 R$ 54,60
Mat. Lab. R$ 870,47 R$ 0,00 R$ 217,61 R$ 326,42
Pessoal R$ 2.414,26 R$ 2.156,78 R$ 2.550,57 R$ 2.247,58
Limpeza R$ 44,95 R$ 3,38 R$ 0,00 R$ 0,00
Depreciação R$ 20.084,44 R$ 21.162,70 R$ 21.162,70 R$ 21.162,70
Outros R$ 866,28 R$ 1.090,75 R$ 1.209,50 R$ 550,71
CF R$ 23.409,93 R$ 24.413,61 R$ 24.922,77 R$ 23.960,99
Energia elétrica R$ 14.644,70 R$ 14.644,70 R$ 14.644,70 R$ 14.644,70
CF2 * R$ 38.054,63 R$ 39.058,31 R$ 39.567,47 R$ 38.605,69
CV R$ 12.606,10 R$ 10.675,74 R$ 11.838,02 R$ 9.383,57
TOTAL R$ 50.660,73 R$ 49.734,05 R$ 51.405,49 R$ 47.989,26
* Como a empresa não computa o custo com Energia Elétrica no Custo Fixo, foi
criado o campo Custo Fixo 2 (CF2), o qual inclui a estimativa do consumo de Energia
Elétrica.
123

APÊNDICE F: Estimativa do consumo de energia elétrica na ETE

Tempo tempo
de uso de uso Consumo Consumo Custo Custo Custo Custo Custo
Consumo Qtd diáro diáro diário diário diário diário mensal mensal mensal
(kw/h) (h/FP) (h/DP) (kw/dia-FP) (kw/dia-DP) (R$/FP) (R$/DP) (R$/FP) (R$/DP) (R$/TOTAL)
Aeradores de 10cv 7,36 6 21,00 3,00 927,36 132,48 111,32 119,26 3.339,61 3.577,87 6.917,48
Aeradores de 15cv 11,04 3 21,00 3,00 695,52 99,36 83,49 89,45 2.504,71 2.683,41 5.188,11
Lâmpadas Ext
(400W) 0,40 3 9,00 3,00 10,80 3,60 1,30 3,24 38,89 97,22 136,12
Bomba 1,50 1 4,00 0,00 6,00 0,00 0,72 0,00 21,61 0,00 21,61
Bomba 15,00 1 21,00 3,00 315,00 45,00 37,81 40,51 1.134,38 1.215,31 2.349,69
Computador 0,45 1 16,00 0,00 7,20 0,00 0,86 0,00 25,93 0,00 25,93
Iluminação escrit. 0,10 1 16,00 0,00 1,60 0,00 0,19 0,00 5,76 0,00 5,76
TOTAL 14.644,70

LEGENDA:
FP = Fora de Ponto = R$ 0,12004 / kW
DP = Dentro de Ponto (18h as 21h) = R$ 0,90023 / kW
124

ANEXOS
125

ANEXO A: Fluxograma do processo produtivo

TRANSPORTE DE A
LEITE CRU EM
CAMINHÃO TANQUE
Tª < 10º C
TERMALIZAÇÃO
1E 60-65ºC/15 S. 3
PESAGEM DO
CAMINHÃO
ESTOCAGEM DO
4 LEITE TERMALIZADO 3
COLETA DE AMOSTRA

PASSAGEM PELO 1º
TQ DE EQUIL.
CONCENTRADOR
ANÁLISE DE
RECEBIMENTO
3 PRÉ-AQUECIMENTO
DO LEITE CRU
1 Tª 45º/55ºC

NÃO REJEITO DO LEITE


Resultado SEM PADRÃO PADRONIZAÇÃO/ 3
Satisfatóri CLARIFICAÇÃO DO
LEITE CRU CREME
o? DE LEITE
4
1E
SIM
PASSAGEM PELO 2º
DESCARREGAMENTO TQ DE EQUIL.
LAVADOR
DO CONCENTRADOR
DE CAMINHÕES
4 LEITE CRU

PASTEURIZAÇÃO
1ª FILTRAÇÃO DO 1E Tª 85-95ºC /3 MIN. 3
LEITE CRU
3
60 MICRAS

CONCENTRAÇÃO DO
RESFRIAMENTO DO LEITE: 1º EFEITO 3
1E Tª 65-68ºC
LEITE CRU

CONCENTRAÇÃO DO
ESTOCAGEM 1E LEITE: 2º EFEITO
DO LEITE CRU Tª 55-58ºC 3
4 3

A B
126

CONCENTRAÇÃO DO
LEITE: 3º EFEITO 3
1E Tª 47-50ºC

RESFRIAMENTO DO
LEITE CONCENTRADO
1E Tª <5ºC

ESTOCAGEM DO
1E LEITE CONCENTRADO 3
Tª <10ºC

CARREGAMENT
O

LEGENDA:
1= VAPOR
2= ÁGUA
3= EFLUENTE
4=CIP (CLEAN IN PLACE)
127

ANEXO B: Esquema representativo da ETE


0 - Gradeamento 15 – Decantador Secundário (Volume: 40m3);
1 – Lagoa Anaeróbia I (Volume: 14175m3 [h=4,5m/L=35m/C=90m]); 16 – Lagoa de Polimento I (Volume: 5250m3 [h=2,5m/L=30m/C=70m]);
2 – Lagoa Anaeróbia II (Volume: 14175m3 [h=4,5m/L=35m/C=90m]); 17 – Lagoa de Polimento II (Volume: 5250m3 [h=2,5m/L=30m/C=70m]);
3 – Calha Parshall com dispositivo de ultra-som para medição de vazão; 18 – Calha Parshall;
4 – Seletor Biológico – Célula 1 (Volume: 3m3); 19 – Corpo Receptor;
5 – Seletor Biológico – Célula 2 (Volume: 3m3); 20 – Lagoa para digestão do lodo biológico excedente (3200m3[h=4,0m/L=20m/C=40m]).
9 – Reator Biológico – Célula 1 (Volume: 60m3);
10 – Reator Biológico – Célula 2 (Volume: 120m3);
11 – Reator Biológico – Célula 3 (Volume: 150m3);

Entrada do
Efluente
9 10 11
0 1 2 4 5

Lodo Excedente Reciclo de Lodo

20 17 16
Água Tratada 15

19

18
128

ANEXO C: E-mail recebido da empresa EIT Caldeiras, especificando a quantidade de água do descarte de fundo
129

ANEXO D: Resultado da analise de água realizada na amostra da água do descarte


de fundo.

You might also like