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A Ética de Espinosa
Como vimos na segunda parte, Espinosa atribui ao mundo e aos afetos papel
fundamental em sua ética. O pensamento, nesse sentido seria determinado pelos afetos e
transformações do mundo sobre nós.
Estas transformações nos fazem como só poderíamos ser. Não dão margem a outras
possibilidades que não os afetos de um mundo que é o que é e corpos que são o que são. É
um determinismo. Mas não tem nada de fatalismo. Não há destino, não há nada escrito. As
coisas são o que são, como só poderiam ser, mas somente no momento em que acontecem.
Não há livre-arbítrio, e não há força superior.
A idéia de acaso, é ressignificada. Passa a ser a completa ignorância das relações que
levam as coisas a serem como são. Ao sábio não há acaso. Apenas uma conjugação tal que
determinou tal efeito.
Da mesma maneira que o acaso nada mais é que a parcela de ignorância a respeito
das causas do real, o livre-arbítrio também é uma ilusão. De sermos nós o marco-zero das
nossas escolhas. Temos a ilusão de não sermos determinados nas nossas relações.
Para Espinosa, as grandes finalidades nada mais são que um tentativa desesperada do
homem para dar algum sentido a uma vida cujas variáveis ele não controla, que apenas é o
que é, que não tem em si um sentido.
Para entender melhor a ilusão teleológica podemos citar como exemplo as biografias
de grandes nomes "desde a tenra infância ele já mostrava um claro direcionamento às
artes..." Isso procura dar à vida uma característica finalista que ela nunca teve. Vivemos
"aos trancos e barrancos", ao sabor dos encontros a que somos submetidos, e cuja lógica
raramente percebemos.