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ATIVIDADES NEURÓBICAS – UMA INTERFACE DA NEUROPSICOLOGIA E A

TERAPIA OCUPACIONAL

ISABEL CRISTINA CARDOSO TEIXEIRA1

Elmar Soero de Almeida2

RESUMO

Este artigo apresenta uma reflexão sobre o fazer dos profissionais especialistas em
neuropsicologia e terapia ocupacional, tendo como ponto de encontro as atividades neuróbicas
como o objetivo de estimular o cérebro, auxiliando na prevenção do déficit de memória.
Através do trabalho o homem cria coisas extraídas da natureza, construindo,
assim, um mundo com objetos tipicamente humanos. Portanto o homem práxico é o ser
criativo, expressivo, lúdico e transformador.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em quase todos os países a
proporção de pessoas com mais de 60 anos está crescendo mais rápido do que qualquer outra
faixa etária. Este aspecto, segundo a OMS, é um desafio à sociedade para que possa se adaptar
com a finalidade de maximizar a saúde e a capacidade funcional do idoso, tornando seu
envelhecimento ativo.
Estudos realizados tem mostrado que é possível melhorar a memória, a cognição,
a solução de problemas e a percepção de controle, entre outros aspectos comportamentais do
adulto maduro, por intermédio de programas de treinamento.

Palavras-chave: terapia ocupacional; neuropsicologia; atividades neuróbicas;


memória; idoso

1. INTRODUÇÃO

Durante a realização do Curso de Especialização em Neuropsicologia, percebi


analogias existentes entre as profissões do especialista em neuropsicologia e o terapeuta
ocupacional, seus paralelos e pontos em comum.
Desse modo, o presente trabalho pretende discutir as possibilidades da interface entre
a neuropsicologia e a terapia ocupacional, tendo como centro desta discussão as atividades
1
Terapeuta Ocupacional, Graduada em Terapia Ocupacional pela Faculdade de Ciências da Saúde
do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista, RS.
2
Professor Orientador, Mestre em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noreste
do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÌ
elaboradas para estimulação da memória, aqui chamados de atividades neuróbicas.
A memória relaciona-se de modo estreito ao desempenho das atividades da vida
diária (AVDs), tendo importância também para o desempenho funcional do ser humano; ela
também está profundamente ligada à identidade do indivíduo, pois armazena sua história de vida,
seus momentos especiais e vivências, sendo seu prejuízo algo que afeta diretamente a auto-estima
e portanto a qualidade de vida.
Tendo em vista que os dois campos teem como um dos objetos de trabalho o estudo
do cérebro e o comportamento humano, optei por discutir os pontos de aproximação entre tais
profissões justamente a partir deste ponto em comum – a atividade, mas especificamente os
atividades neuróbicas.
Através da aplicação das atividades neuróbicas como um recurso terapêutico,
podemos fortalecer o senso de identidade e a auto-estima, em prol da qualidade de vida aos que
possuem patologias relacionadas à memória.
Portanto, este artigo é desenvolvido a partir do questionamento proveniente da
observação em sala de aula. Sendo assim, inicialmente realizo discussão dos pontos de intersecção
entre a terapia ocupacional e a neuropsicologia. A seguir são abordados os conceitos de atividade,
memória e a neuropatologia. E por último, cito os exercícios chamados de atividades neuróbicas.
2. NEUROPSICOLOGIA X TERAPIA OCUPACIONAL

A neuropsicologia e a terapia ocupacional são profissões que possuem em seu


objeto de estudo vários pontos em comum, alguns dos quais serão revistos ao longo do
presente capítulo. Para iniciarmos esta revisão, apresentarei as definições de ambas as
profissões.
Segundo Marta Pinheiro em seu artigo Aspectos históricos da neuropsicologia:
subsídios para a formação de educadores:
A neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu inicialmente a partir
da convergência da neurologia com a psicologia, no objetivo comum de estudar as
modificações comportamentais resultantes de lesão cerebral. Atualmente, podemos situá-
la numa área de interface entre as neurociências (neste caso, ela também pode ser
chamada de neurociência cognitiva), e as ciências do comportamento (psicologia do
desenvolvimento, psicolingüística, entre outras) entendendo que o seu enfoque central é o
estudo da relação sistema nervoso, comportamento, e cognição, ou seja, o estudo das
capacidades mentais mais complexas como a linguagem, a memória, e a consciência
(PINHEIRO, 2005, P. 175-196).

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, o especialista em


neuropsicologia:
Atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das
emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes
aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de conhecimentos teóricos
angariados pelas neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida
experimental ou clinicamente. Utiliza instrumentos especificamente padronizados para
avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de
atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,
habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução, afeto, funções
motoras e executivas. Estabelece parâmetros para emissão de laudos com fins clínicos,
jurídicos ou de perícia; complementa o diagnóstico na área do desenvolvimento e
aprendizagem. (Resolução CFP nº 002/2004)

O objetivo teórico da neuropsicologia e da reabilitação Neuropsicológica é


ampliar os modelos já conhecidos e criar novas hipóteses sobre as interações cérebro-
comportamentais. Continua o CFP:
Trabalha com indivíduos portadores ou não de transtornos e seqüelas que envolvem o
cérebro e a cognição, utilizando modelos de pesquisa clínica e experimental, tanto no
âmbito do funcionamento normal ou patológico da cognição, como também estudando-a
em interação com outras áreas das neurociências, da medicina e da saúde. Os objetivos
práticos são levantar dados clínicos que permitam diagnosticar e estabelecer tipos de
intervenção, de reabilitação particular e específica para indivíduos e grupos de pacientes
em condições nas quais: a) ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas ou
comportamentais devido a eventos que atingiram primária ou secundariamente o sistema
nervoso central; b) o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática,
acadêmica, profissional, familiar ou social; ou c) foram geradas ou associadas a
problemas bioquímicos ou elétricos do cérebro, decorrendo disto modificações ou
prejuízos cognitivos, comportamentais ou afetivos (Resolução CFP nº 002/2004)

Além do diagnóstico, a Neuropsicologia e sua área interligada de Reabilitação


Neuropsicológica visam realizar as intervenções necessárias junto ao paciente com os
seguintes objetivos:
... que possam melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades; junto aos
familiares, para que atuem como co-participantes do processo reabilitativo; junto a
equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais, promovendo a
cooperação na inserção ou re-inserção de tais indivíduos na comunidade quando possível,
ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as mudanças nas capacidades do
paciente forem mais permanentes ou a longo prazo. Ainda no plano prático, fornece
dados objetivos e formula hipóteses sobre o funcionamento cognitivo, atuando como
auxiliar na tomada de decisões de profissionais de outras áreas, fornecendo dados que
contribuam para as escolhas de tratamento medicamentoso e cirúrgico, excetuando-se as
psicocirurgias, assim como em processos jurídicos nos quais estejam em questão o
desempenho intelectual de indivíduos, a capacidade de julgamento e de memória
(Resolução CFP nº 002/2004).

Desenvolve atividades em diferentes espaços: a) instituições acadêmicas,


realizando pesquisa, ensino e supervisão; b) instituições hospitalares, forenses, clínicas,
consultórios privados e atendimentos domiciliares, realizando diagnóstico, reabilitação,
orientação à família e trabalho em equipe multidisciplinar.
Em seguida, será explicitada a definição de terapia ocupacional apresentada, em
1999, pela Associação Americana de Terapia Ocupacional:
A terapia ocupacional é uma profissão da saúde e da reabilitação que ajuda o indivíduo a
recuperar, desenvolver e construir habilidades para sua independência funcional, sua
saúde, sua segurança e sua integração social. A ênfase da terapia ocupacional é na
capacidade de desempenho funcional das pessoas, compreendida nos aspectos sensório-
motores (praxias, coordenação motora, percepção e habilidades), nos componentes de
integração cognitiva (memória, atenção, concentração, entre outros) e nos aspectos
psicossociais (valores, interesses, papéis e relações) que são considerados essenciais para
a realização das atividades cotidianas de auto cuidado, de trabalho e de lazer
(ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL, 1999 apud
BARRETO; TIRADO, 2006, p. 1210).

A Federação Mundial dos Terapeutas Ocupacionais (WORLD FEDERATION OF


OCCUPATIONAL THERAPISTS – WFOT, 1989 apud HAGEDORN, 1999, p.15), por sua
vez, afirma que:
“... a terapia ocupacional é o tratamento de condições físicas e psiquiátricas através de
atividades específicas para ajudar as pessoas a alcançarem um nível máximo de função e
independência”.

Com base na definição da WFOT, em 1994, o College of Occupational Therapists


do Reino Unido publicou um manifesto com proposições quanto às habilidades essenciais e o
fundamento conceitual para a prática clínica:
O terapeuta ocupacional avalia as funções físicas, psicológicas e sociais do indivíduo,
identifica as áreas de disfunção e o envolve em um programa de atividades estruturado de
forma a superar sua incapacidade. As atividades escolhidas serão correlacionadas às
necessidades pessoais, sociais, culturais e econômicas do cliente, refletindo os fatores
ambientais que influenciam sua vida (COLLEGE OF OCCUPATIONAL THERAPISTS,
1994 apud HAGEDORN, 1999, p. 15).
Segundo cartilha do CREFITO, Conselho Fiscal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional, a definição de terapia ocupacional:
É uma área do conhecimento, voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de
indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico-motoras,
decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas,
através da sistematização e utilização da atividade humana como base de
desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos (CREFITO, 2006).

Com relação ao seu fazer,


O Terapeuta Ocupacional compreende a Atividade Humana como um processo criativo,
criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de auto manutenção e o Homem, como
um ser práxico interferindo no cotidiano do usuário comprometido em suas funções
práxicas objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida. (CREFITO, 2006)

BERENICE, Francisco (1988), sintetiza o conceito de terapia ocupacional:


“... ela é uma técnica de aplicar trabalho, ocupação, afazeres para curar doentes ... é
preciso que se satisfaça uma série de exigências que se pode em principio resumir em
quatro requisitos. 1) Que a atividade humana seja entendida enquanto espaço para criar,
recriar, produzir um mundo humano, repleta de simbolismos. 2) O fazer deve acontecer
através do processo de identificação das necessidades, problematização e superação do
conflito.3) Não existem atividades mágicas e 4) É necessário profissional preparado (pág.
19 e 20).

O Terapeuta Ocupacional atua nas áreas física, mental e social, como por
exemplo: neurologia, reumatologia, ortopedia e traumatologia; psiquiatria e saúde mental;
geriatria e gerontologia; cardiorrespiratória; pediatria; deficiência mental, visual e auditiva;
oncologia; dentre outras.
Observa-se, nas definições de ambas as profissões, uma preocupação com a saúde
humana, e uma apreensão do ser humano de uma forma ampla, procurando englobar e cuidar
dos aspectos físicos, cognitivos, emocionais e sociais do indivíduo, encarando-os como parte
de um todo não-dissociado, visando uma melhor integração deste indivíduo enquanto pessoa e
no seu ambiente e, assim, uma melhor qualidade de vida.
E os locais de atuação de ambas as profissões são bastante diversos, podendo
abarcar, em sua prática, desde a avaliação, prevenção até a reabilitação.
A neuropsicologia também faz uso de atividades na sua prática reabilitadora,
assim como a terapia ocupacional. Dessa maneira, não é de se estranhar que as duas
profissões possuam processos terapêuticos com estruturas semelhantes, cujas sessões podem
ser individuais ou grupais, com avaliação contínua do processo.

2.1. ATIVIDADE, MEMÓRIA, ENVELHECIMENTO E DÉFICIT DE


MEMÓRIA

Através do trabalho o homem cria coisas extraídas da natureza, construindo,


assim, um mundo com objetos tipicamente humanos. Portanto o homem práxico é o ser
criativo, expressivo, lúdico e transformador. Com o seu fazer criativo o homem escreve sua
própria história, tanto pessoal, cultural quanto humana, construindo uma grande interação
entre o criar e o viver.
Temos muitas necessidades de formar e transformar criativamente a nós mesmos
e ao mundo durante nossa existência. Podemos ser criativos até nas coisas mais simples, como
escovar os dentes, nos vestirmos, nos alimentarmos, no nosso lazer, entre outras coisas. As
coisas que o ser humano faz e os objetos que cria fornecem uma ponte entre o seu mundo
interno e o externo.
A atividade com fins terapêuticos necessita passar por uma análise de atividade,
procedimento que tem como objetivo possibilitar o conhecimento da atividade em seus
pormenores. Segundo Berenice (1988, p. 38):
Nessa perspectiva somente através de uma análise sistemática e meticulosa é que o
terapeuta pode identificar qual é o tipo de exercício obtido ao praticar cada movimento
requerido para a efetivação da atividade, como também determinar se essa permite
graduação em complexidade e estruturação em fases ou etapas.

Portanto, a atividade para ser terapêutica deve ter como objetivo desenvolver e/ou
recuperar aspectos físicos (sensório motor), mentais (percepção e cognição) e sociais.
No que diz respeito a memória, GUYTON (1976), refere ser a capacidade de nos
recordarmos de um pensamento pelo menos uma vez, e, frequentemente, varias vezes; sendo
o aprendizado uma capacidade do sistema nevoso de armazenar lembranças.
A memória não esta localizada em uma estrutura isolada no cérebro; ela é um
fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais que
funcionam juntos (CARDOSO, 1997)
A memória é um processo que permite que nossas atividades tenham
continuidade. Para que nossos afazeres diários e nossas habilidades sejam repetidas,
necessitamos codificar, armazenar e recuperar gestos, palavras, uma infinidade de
conhecimentos através dos arquivos na memória.
Segundo Davidoff (2001), a codificação é o conteúdo destinado ao
armazenamento. Refere-se a todo processo de preparo das informações para armazenar. O
armazenamento é feito logo após a codificação e é feito automaticamente. É um sistema
complexo e dinâmico, que parece mudar com a experiência adquirida. E finalmente a
recuperação, que é um sistema acionado quando desejamos usar a informação armazenada.
Para Chernow (2004), a memória é um processo mental complexo com várias
facetas. Ele entende a memória em três níveis: A memória semântica, a implícita e a
episódica:
A memória semântica diz respeito ao conhecimento geral e ao material concreto que
armazenamos no cérebro. As informações que utilizamos no trabalho e o conhecimento
que nos serve para responder às perguntas dos programas de televisão e às palavras
cruzadas são bons exemplos de memória semântica. Essa memória realmente melhora à
medida que vivemos e adquirimos mais conhecimento geral sobre o mundo externo. Essa
melhoria é conquistada pelas pessoas que mantêm a mente ativa.

Sobre a memória implícita, diz o autor:


Ela não diminui com a idade. Ela permanece mais ou menos constante. Trata-se de uma
espécie de memória motora, ou cinestésica, que inclui habilidades como digitar, tocar
piano, nadar e andar de bicicleta. (CHERNOW, 2004)

Para este autor, a única memória que parece diminuir com o tempo é a episódica:
... diz respeito aos incidentes pessoais, autobiográficos, como o cardápio do almoço de
ontem, o numero de telefone de alguém,o local de uma reunião e as vezes, “porque vim
até a cozinha?” (CHERNOW, 2004)

Podemos dizer que a memória é acionada pelos pensamentos que carregamos no


cérebro. Esses pensamentos estão interligados numa teia de associações. O processo de
relacionar o que desejamos ou aprender aquilo que já sabemos é conhecido como associações.
É no envelhecimento que muitas mudanças acontecem, trazendo muitas doenças
e assim alterando a capacidade funcional do idoso. Estudos indicam que todas as pessoas
estão propensas a ter pelo menos uma doença crônica quando ficarem mais velhas, segundo o
site da Sociedade Brasileira de Geriatria.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em quase todos os países a
proporção de pessoas com mais de 60 anos está crescendo mais rápido do que qualquer outra
faixa etária. Este aspecto, segundo a OMS, é um desafio à sociedade para que possa se adaptar
com a finalidade de maximizar a saúde e a capacidade funcional do idoso, tornando seu
envelhecimento ativo.
Quando a OMS fala sobre saúde, significa física, mental e bem-estar social com
autonomia e independência, processo fundamental no quadro do envelhecimento ativo. Como
envelhecimento ativo, a OMS compreende as pessoas que percebem seu potencial físico,
social, mental e bem estar ao longo da vida e de participação na sociedade de forma contínua.
Refere-se também a participação do idoso na vida social, cultural, espiritual, econômica e
civil, além da sua participação no mercado de trabalho.
Contrariamente ao esquecimento comum que ocorrem normalmente em nossa
vida diária, existem algumas doenças e lesões no cérebro que produzem a perda grade de
memoria, e também pode interferir com a capacidade de aprender (CARDOSO, 1997)
Para Neri, os incidentes patológicos que produzem um organismo diferente na
velhice:
A velhice normal significa ausência de patologias biológicas ou psicológicas, em
contraposição à patológica, caracterizada por degenerescência associada a doenças
cronicas, a doenças e síndromes tipicas da velhice e a desorganização biológica que ode
acometer os idosos. Falar em velhice ótima significa tomar como fonte de referencia
algum estado ideal de bem-estar pessoal e social. (NERI, 1993)

Os idosos são mais vulneráveis a doenças degenerativas de começo insidioso,


como as cardiovasculares e cérebros vasculares, o câncer, os transtornos mentais, os estados
patológicos que afetam o sistema locomotor e os sentidos (ZASLAVSKY & GUS).
Segundo Bogliolo, 1994, a doença degenerativa cortical mais comum é a Doença
de Alzheimer (DA). Cerca de 5% da população acima dos 65 anos de idade e em 15-20%
após os 80 anos, segundo estudos realizados nos EUA. A tendencia é agravar no futuro pois
os idosos estão tendo melhores condições de vida. Esta doença está caracterizada pelos
transtornos da atenção e da memória e desorientação temporo-espacial.
De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10) a doença de
Alzheimer é degenerativa com aspectos neuropatológicos e neuroquímicos característicos. É
insidiosa no inicio e se desenvolve mais continuamente durante um período de vários anos.
A primeira e mais caracteristica marca do inicio da doença esta relacionada com o
comprometimento da memória recente ou de fixação. Essas alterações não são constantes e se
apresentam como falhas esporádicas de memória que se repetem com frequência variável,
sem constância, iniciando-se episódios de desorientação espacial.
Estas alterações podem afetar a memoria causando estados depressivos
manifestados por apatia e desinteresse nas tarefas e atividades desempenhadas e inseridas no
cotidiano do idoso.
Na fase inicial, os sintomas mais importantes na doença de alzheimer são: perda
de memória, confusão e desorientação; ansiedade, agitação, ilusão e desconfiança; alteração
da personalidade e do senso critico; dificuldades com as atividades da vida diária como
alimentar-se e banhar-se; e alguma dificuldade com ações mais complexas como cozinhar,
fazer comprar, dirigir e telefonar.
Os sintomas se agravam na fase intermediária: dificuldade em reconhecer
familiares e amigos; perder-se em ambientes conhecidos; alucinações, inapetência, perda de
peso, incontinência urinaria; dificuldades com a fala e a comunicação; movimentos e falas
repetitivas; distúrbios do sono; problemas com ações rotineiras; dependencia progressiva;
vagância; inicio de dificuldades motoras.
A dependência total, imobilidade, mutismo, infecções e término da comunicação
são sintomas que o idoso apresenta na fase final, agravando os sintomas na fase terminal.
Estudos realizados no exterior tem mostrado que é possível melhorar a memória, a
cognição, a solução de problemas e a percepção de controle, entre outros aspectos
comportamentais do adulto maduro, por intermédio de programas de treinamento (NERI,
1993):

Pessoas mais velhas podem: 1) reter altos níveis de desempenho, comparáveis aos de
quando eram jovens; 2) adquirir novos conhecimentos; 3) aprimorar capacidades de auto-
regulação e 4) manter interações sociais significativas (p.

2.2 ATIVIDADES NEURÓBICAS

Assim como os músculos necessitam de exercícios físicos para manter-se em


forma, o cérebro necessita de atividade para aumentar e melhor a capacidade mental.
Descoberta pelos cientistas Katz, Lawrence e Rubin, Manning (2000), a neuróbica tem como
objetivo a manutenção do nível permanente de capacidade, força e flexibilidade mental.
Também chamada de Neurofitness, ela permite o cérebro crescer e mudar o padrão das suas
conexões.
A Neuróbica é uma síntese de novas e importantes informações sobre a organização do
cérebro, como ele adquire e mantem informações e como certas atividades cerebrais
produzem os nutrientes naturais do cérebro (Katz, Manning, 2000).

Trata-se de um programa treinamento em forma exercícios que oferece ao cérebro


experiências combinando com os sentidos: visão, olfato, tato, paladar e audição, além de
possibilitar o trabalho com as emoções. Eles mudam a rotina possibilitando aumentar as
ligações neurais, ativando as funções cerebrais. Não se trata de exercícios que envolvam
quebra cabeças, palavras cruzadas, memória ou testes. São atividades que procuram
proporcionar um melhor aproveitamento do potencial cognitivo e psicológico do idoso, pois
auxiliam o cérebro a interagir com o mundo a sua volta.

Segundo KATZ, 2000, o córtex cerebral (sede de aprendizado no cérebro) recebe,


interpreta e armazena informações. Estas áreas são ligadas por centenas de circuitos neurais
diferentes e permitem várias combinações. É parte responsável pela memória, linguagem e
pensamento abstrato.

O cérebro tem uma profusão de moléculas especificas – as neurotrofinas – que são


produzidas e segregadas pelas células nervosas para agirem como uma especie de
nutriente cerebral. São essas moléculas que promovem a saúde das células nervosas e das
sinapses.” (Katz e Manning, 2000, p. 15)

As neurotrofinas funcionam como nutriente cerebral, são produzidas e reguladas


pelas células nervosas. São moléculas que promovem a saúde destas células e das sinapses.
São produzidas a partir do exercício. Quanto mais ativas estiverem, melhor irão reagir.

Os exercícios apresentados por KATZ, permitem ativar o cérebro e protegê-lo


contra o envelhecimento precoce, falta de memória e a dificuldade para aprender. Os desafios
sugeridos por ele, tornam o cérebro ágil e saudável, estimulando o cérebro. Eles procuram
envolver um ou mais dos sentidos num novo contexto. Destaca os eventos cotidianos a terem
um significado pessoal. Transforma a atividade rotineira em algo inesperado.
Os exercícios podem ser praticados durante o dia. Nas atividades de vida diária
podemos criar maneiras de estimular o cérebro realizando atividades com a mão contrária à
dominante. Se normalmente usamos a mão direita para pentear os cabelos ou escovar os
dentes, iremos usar a esquerda para realizá-los. Ao tomarmos banho podemos estimular o
sentido do tato, fazendo-o de olhos fechados ou no escuro. Assim poderemos sentir a textura
do shampoo, a pele, o perfume dos produtos que utilizamos.
As atividades neuróbicas também podem estar presentes nas atividades de vida
prática, como ir e voltar do trabalho. KATZ sugere trocar o percurso por um diferente e ser
sociável. Isto irá ativar o córtex e o hipocampo, encontrando um novo mapa cerebral.
Trocar os móveis e objetos de lugar, sentar-se em locais diferentes dos habituais
irá estimular as areas visuais do cérebro e permitirá um reajuste dos mapas internos.

Ao fazermos compras podemos ir a uma feira livre e desfrutar da variedade de


odores e cores das frutas, verduras e legumes. Esta atividade contém todos os elementos
neuróbicos: novidade, associação multisensorial entre diferentes formas, cores, cheiros e
sabores, além da interação social. E durante as refeições é possível mudar a ordem dos
alimentos, escolher um lugar diferente para sentar-se a mesa, usar louça diferente, comer com
a mão não dominante, fazer a própria refeição, acrescentando temperos diferentes. Isto irá
trabalhos os cinco sentidos, segundo KATZ.

Para uma atividade ser significativa, deve envolver motivação por parte do idoso.
A motivação, segundo DAVIDOFF é um estado interno que pode resultar de uma
necessidade:

É descrito como ativador, ou despertador, de comportamento geralmente dirigido para a


satisfação da necessidade instigadora. Motivos estabelecidos principalmente pela
experiencia são conhecidos simplesmente como motivos. A motivação aciona o
comportamento, o qual pode novamente alterar cognições e emoções, aumentando ou
diminuindo o nível de motivação (DAVIDOFF, 2001, p. 325).
3. CONCLUSÃO

Este artigo teve como propósito refletir sobre os pontos em comum com as áreas
da terapia ocupacional e a neuropsicologia. Além disso, possibilitou conhecer uma atividade
que pode ser usada como instrumento de intervenção em ambos os campos de conhecimento.
Observa-se, nas definições de ambas as profissões, uma preocupação com a saúde
humana, e uma apreensão do ser humano de uma forma ampla, procurando englobar e cuidar
dos aspectos físicos, cognitivos, emocionais e sociais do indivíduo, encarando-os como parte
de um todo não-dissociado, visando uma melhor integração deste indivíduo enquanto pessoa e
no seu ambiente e, assim, uma melhor qualidade de vida.
E os locais de atuação de ambas as profissões são bastante diversos, podendo
abarcar, em sua prática, desde a avaliação, prevenção até a reabilitação.
A neuropsicologia também faz uso de atividades na sua prática reabilitadora,
assim como a terapia ocupacional. Dessa maneira, não é de se estranhar que as duas
profissões possuam processos terapêuticos com estruturas semelhantes, cujas sessões podem
ser individuais ou grupais, com avaliação contínua do processo.
Uma atividade encontrada na neuropsicologia foi a neuróbica, que são sugestão de
exercícios com a finalidade de estimular o cérebro, que também pode ser aplicada pelo
profissional de terapia ocupacional.
Contudo, é preciso salientar que o profissional da terapia ocupacional tem um
método para desenvolver suas atividades que é a análise de atividades. Em contrapartida não
localizei literatura informando quais os critérios que o especialista de neuropsicologia utiliza
para a intervenção no que diz respeito ao uso de atividades.
Percebo então, a necessidade de continuar produzindo material e refletindo sobre
o uso e aplicação de atividades como um recurso terapêutico.
Portanto, este trabalho procurou contribuir tanto para o especialista em
neuropsicologia quanto ao terapeuta ocupacional, sobre a importância do trabalho
interdisciplinar, integrando profissionais da área da saúde e incrementando o trabalho em prol
da qualidade de vida, principalmente do idoso.
4. BIBLIOGRAFIA

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BOGLIOLO. Patologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1994.
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CHERNOW, Fred. Super-memória. Jogos e exercícios para aprimorar sua memória. Rio de
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ZASLAVSKY, Cláudio e GUS, Iseu. Idoso. Doença Cardíaca e comorbidades. Arq. Bras.
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