Pierre Bourdieu analisa criticamente a lógica da televisão em seu livro "Sobre a Televisão". Ele descreve como as restrições políticas, comerciais e de audiência influenciam a produção de notícias e criam uma homogeneidade entre veículos. Bourdieu também discute como a lógica mercadológica influencia eventos como os Jogos Olímpicos.
Original Description:
Resenha da obra Sobre a Televisão, do sociólogo francês Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu analisa criticamente a lógica da televisão em seu livro "Sobre a Televisão". Ele descreve como as restrições políticas, comerciais e de audiência influenciam a produção de notícias e criam uma homogeneidade entre veículos. Bourdieu também discute como a lógica mercadológica influencia eventos como os Jogos Olímpicos.
Pierre Bourdieu analisa criticamente a lógica da televisão em seu livro "Sobre a Televisão". Ele descreve como as restrições políticas, comerciais e de audiência influenciam a produção de notícias e criam uma homogeneidade entre veículos. Bourdieu também discute como a lógica mercadológica influencia eventos como os Jogos Olímpicos.
Bourdieu, P. Sobre a televiso. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
Daniel dos Santos Cunha
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Pierre Bourdieu foi um renomado socilogo francs responsvel por grandes contribuies em campos como poltica, cultura, antropologia, filosofia e mdia. Foi secretrio-geral do Centro Europeu de Sociologia e autor de mais de 300 trabalhos, entre eles: A Distino (1979) e Contrafogos (1998). Faleceu em 23 de janeiro de 2002, em Paris, onde est enterrado. A primeira parte da obra Sobre a Televiso constitui a transcrio dos programas realizados em 1996 por Bourdieu para uma srie de cursos do Collge de France, trabalho este realizado aos seus moldes e com pouca interveno no que diz respeito parte tcnica e estrutural de um programa televisivo (exigncias do prprio autor). No captulo O Estdio e seus bastidores, o autor descreve a lgica e as condies que permeiam o universo televisivo, tanto daqueles que o constroem quanto daqueles que se fazem ver. Bourdieu apresenta um olhar sociolgico acerca das instituies de comunicao, as restries impostas aos seus agentes (restries de cunho poltico, comercial, editorial), bem como aquelas incorporadas at o nvel inconsciente de autocensura. Sua crtica recai tambm sobre a subverso que ele afirma existir em relao aos objetivos dos meios de comunicao, que deveriam constituir um mecanismo de registro histrico, mas que, alm disso, se configuram num instrumento de criao de realidade, muitas vezes reproduzindo e contribuindo para a manuteno de aspectos negativos (que ele exemplifica com o que chama de efeito de real, responsvel por reproduzir e cristalizar certos sentimentos negativos, como a prpria xenofobia em alguns pontos da Europa, por exemplo). O captulo segue ainda descrevendo alguns vcios da televiso, como a homogeneidade imposta entre os veculos no tratamento das notcias, tanto por
Aluno do 7 bloco do curso de Comunicao Social da Universidade Estadual do Piau. ordem de pauta (a busca do furo, da exclusividade, da instantaneidade), quanto por ordem comercial (os mesmo anunciantes em vrios veculos diferentes). Analisa tambm a severidade das condies impostas pelos marcadores de ndice de audincia na construo das informaes, e algumas formas de mascaramento do discurso, geralmente motivados por interesses polticos ou comerciais do meio em questo. Em A Estrutura invisvel e seus efeitos, o socilogo tenta descrever as foras que englobam o campo jornalstico. Ele explica que existem relaes de fora praticamente invisveis, mas que estas so responsveis pelo modus operadi dos veculos de comunicao, em que para se enquadrarem na lgica econmica, ou enfrentar as reviravoltas da audincia, os meios se adaptam, quase sempre reformulando a estrutura de suas notcias de forma banal, pouco politizada ou baseada em moldes exibicionistas, a fim de arrebatar uma maior camada do pblico mdio. Bourdieu concretiza seu discurso sobre as foras ao afirmar a dependncia e o peso que uma exerce sobre as outras, de maneira que o campo jornalstico se v pressionado pela ltica comercial, e com base nisso exerce peso sobre os outros campos, como o cultural e o sentido pedaggico da televiso, que na maioria das vezes se vem depreciados e com pouco espao na estrutura dos veculos. No texto A Influncia do Jornalismo, Bourdieu faz uma compilao das idias apresentadas anteriormente sobre as interaes existentes entre os campos que compem a prtica jornalstica, frisando mais uma vez a influncia que as exigncias do mercado exercem sobre os jornalistas e estes a reproduzem sobre os outros campos, como o cultural, literrio, etc. Em Os Jogos Olmpicos, feita uma proposta de anlise que tem como pano de fundo os referenciais existentes acerca dos jogos olmpicos, aqueles da manifestao real, o espetculo e a competio em si, e o referencial oculto, aquilo que mostrado (ou excessivamente mostrado), aquilo que no mostrado, e as preferncias que so dadas a determinadas competies ou provas em detrimento do todo. O autor contesta tambm a lgica mercadolgica como fator de influncia na construo dos jogos, que pode determinar desde quais provas ou locais sero realizadas, at mesmo o horrio no qual sero apresentadas, mesmo que no esteja de acordo com a lgica temporal do prprio pas sede do evento, por exemplo. No posfcio O jornalismo e a poltica, Bourdieu reutiliza o mtodo que lhe serviu na descrio da lgica jornalstica apresentada anteriormente em Sobre a Televiso, que tanta repercusso gerou em meio aos jornalistas da poca. Seu objeto desta vez a poltica, e maneira como abordada pelo campo jornalstico. Para ele, a poltica encarada antes de tudo como um espetculo pouco atraente, e por isso, sofre a necessidade de ser estilizada, espetacularizada. O receio de entediar o pblico, e assim no atingir as metas de audincia, faz com que a prioridade das coberturas seja dada polmica, aos embates emocionalmente carregados, tudo em detrimento da argumentao e informaes realmente construtivas. A obra Sobre a Televiso desenvolvida com uma linguagem simples, acessvel ao pblico leitor de maneira bem ampla. O destaque da obra fica por conta da crtica encaminhada forma de se produzir informao na atualidade. O autor, apesar de relatar certo pessimismo em relao aos agentes que compem o cenrio da comunicao analisado por ele, consegue apresentar uma srie de argumentos, que se no possuem a capacidade de interferir diretamente na realidade desse sistema, consegue ao menos proporcionar uma reflexo e uma viso menos reducionista a respeito do objeto estudado. Devido leveza da linguagem utilizada por Bourdieu, sua obra indicada para os mais diversos tipos de leitores, em especial aqueles interessados em estudos de mdia e sociologia.