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Introduo
Diante do desafio de enfrentar a vasta gama de questes que envolvem as
relaes de oposio entre o protocristianismo que se afasta do judasmo chocando-se
com a alteridade das demais culturas no Imprio romano, convm eleger os sacrifcios
pagos, judaicos e cristos nos escritos de Justino Mrtir para a anlise que aqui se
desenvolve.
No sculo II d.C. vrios escritos apologticos so produzidos visando rebater as
acusaes de cristianismo, promiscuidade, atesmo, canibalismo e outras coisas
exticas que caricaturavam os cristos. Saindo do seio do judasmo, os cristos seguem
o desenvolvimento de suas ideias e de sua identidade. Estendendo-se por territrios
longnquos, borbulham rumores caluniosos sobre o novo grupo que procura se afirmar
como religio verdadeira. Ao arquitetar seu plano apologtico, Justino argi em prol do
que considera ser um trato justo aos cristos diante das vs acusaes. Nesse
empreendimento, porm, ele reconhece uma nica razo pela qual os cristos, segundo
seu parecer, podem ser recriminados: no veneramos os mesmos deuses que vs e no
oferecemos libaes e gorduras aos mortos, no colocamos coroas nos sepulcros, nem
celebramos sacrifcios sobre eles (JUSTINO, 1995: p. 41). O apologista lembra os seus
destinatrios de que os mesmos animais que por uns so sacrificados aos deuses, por
outros so considerados deuses ou simplesmente feras. Essa discrepncia quanto aos
sacrifcios um dos pontos que estabelece os limites da alteridade entre os cristos e os
que hoje so chamados pagos nas Apologias desse filsofo de Flvia Nepolis
(Pelestina). No seu Dilogo com Trifo, bem articulado nas estruturas dessa obra, est o
discurso da tipologia da aliana em Cristo nos sacrifcios judaicos. Desse modo, Justino
apresenta uma significativa discusso que conduz reflexo sobre a ideia do
sacrifcio cristo.