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Capitulo Décimo Sexto

AJUDAS E VINGANÇA

Senti-me zonzo mal abri os olhos. Entrara num local


escuro e demasiado distante para que soubesse onde
estariam todos os outros.
Ouvia vozes, a ecoarem, que vinham e iam, mais
fortes e mais fracas, mas nunca constantes e de maneira a
que conseguisse dialogar com elas. Entre mim e o real
haveria no mínimo, um fosso de mais de mil memórias,
sentidos e sonhos. Os sonhos falhavam, onde o coração
mandava que desistisse de poder viver aquela aventura de
doidos.
Acreditei que podia salvar-me quando um súbito
atordoamento me levou a outra dimensão.
Nesta, já Sally e Edward estavam bem visíveis, com
mais três elementos à sua frente, sangrentos e
completamente satânicos, com capas e expressões de troça
para com os dois. O espaço já não era negro, mas via
perfeitamente uma floresta em redor, com pinheiros e
árvores centenárias.
- Sally! - Gritei uma vez, tentando alcança-la, mas ela
fugia, assim como sucedia com Edward. Estava tão
assustado quanto eles, e sobressaltei-me ao ver que os
outros três avançavam sobre eles, com Edward a ser
perfeitamente vulnerável a qualquer um dos seus
oponentes. Não havia magia mas apenas o poder da mente
no embate entre as personagens presentes, como um
tabuleiro de xadrez com o rei, que indicava como sendo
Sally.
Edward era uma torre e iria ser retirada do jogo a
qualquer instante – era uma questão de tempo. Sabia que
não aguentava esperar sem lutar, sem os tentar ajudar, ao
vê-los ali tão aflitos, a lutarem para me protegerem.
- Foge Daniel, vai embora – Gritavam e deixavam-me
quase morto de medo de nunca mais os ver.
- Daniel! - Chamou alguém, e eu voltei a mim, abrindo
os olhos e vendo fortes luzes por cima de mim. Não queria
estar assim, a ser exposto, e voltei-me para o lado. - Preciso
que fiques acordado – Pediu a voz simpática. De seguida
uma sombra incomodou-me.
- Não – Resmunguei ainda não querendo enfrentar os
monstros que me queriam matar. Curiosamente não me
sentia amedrontado com aquela voz e apesar de ter medo,
sentia-me estranhamente seguro.
- Sou Carlisle. Preciso que acordes para te poder
examinar – Pediu com alguma insistência. Levantei-me sem
prestar atenção a que estava ligado a fios, e logo me
magoei. Sentia que estava a ser picado por abelhas e que
elas nunca me deixariam em paz, com o ferrão dentro da
minha pele. Aquilo fazia-me tanta impressão que me deitei
de novo em algo bastante macio.
- Calma – Aconselhou ao apontar uma luz para os
olhos – Aparentemente estás fora de perigo. Não há
problema...
- O que se passou? Onde me encontrou? - Perguntei
continuando com os olhos fechados e a voz a falhar, de tão
fraca que era.
Ele não falou. Ouvi frascos ou algo de vidro a ser
mexido.
- Eles conseguiram encontrar-te e tirar-te de lá, mas,
para isso fizeram-se prisioneiros.
- E a Anna? - Sobressaltei-me ao lembrar-me das
palavras do conde cheio de raiva. Ele sorriu de maneira a
que eu ouvisse. Depois tossiu e ficou calado durante alguns
momentos, longos momentos. Pareceu-me, mesmo que
assim não o fosse.
- Não a apanharam...ainda! - Disse com serenidade na
voz suave.
Finalmente decidi pôr-me lentamente e meio sentado
com a almofada a ficar junto à minha cabeça. Consegui
abrir os olhos enquanto os piscava muitas vezes, que deu
para ainda observar o cabelo loiro e a pele pálida no rosto
do Sr.Cullen.
- Admirado? - Perguntou virando-se lentamente para
mim, em cima de um banco rotativo, com os olhos brilhante
e os dentes a cintilar. Queria falar de algo importante sobre
os Nirvan, mas ele começou a falar antes de mim.
- Foi por um triz que não aconteceu algo de pior. Se o
Edward não tivesse chegado à tua beira antes de te
levarem, nem sei! Os Nirvan são muito mais poderosos que
nós, e nunca os deves subestimar.
Quando eles se lembraram de te levar podias ter, ou
sido transformado, ou eles matavam-te certamente.
- Onde é que eles foram? - Perguntei para afastar
aquele mau sentido da conversa, esperando uma resposta
que não englobasse sangue e confrontos.
- Foram a um local, tratar de um assunto urgente.
Daqui a pouco sairás daqui com a Sally – Segredou – E tenta
não te expores demais a eles, porque eles virão à tua
procura. Não me acreditava naquilo. Mas eles nunca
desistiam? O que teriam Edward e Sally feito para eles não
os seguirem? Ali estava profundamente exposto a
apanharem-me, ou nem por isso?
Senti-me de novo cansado e deitei-me, onde tudo
voltou a escurecer durante grande tempo.
Quando me pareceu clarear, já via uma janela branca
e velha, e estava deitado na minha cama, no meu quarto.
Desta vez havia sol, não muito, mas mesmo assim sol, que
me fazia arder os olhos. Voltava à realidade dos meus dias
escolares, mas era fim-de-semana. Olhei para o
despertador e o relógio ainda marcava nove horas da
manhã, demasiado cedo para um dia em que não iria fazer
nada.
Desci para tomar o meu pequeno-almoço e ainda
estava tudo calmo, sem ninguém, e eu não gostei daquele
ambiente.
De repente, os meus braços gelaram quando me virei
na direcção da porta, que trazia uma pequena abertura de
luz, mas também uma sombra humana, parada e calada.
Tentei de novo subir as escadas mas quando estava a
começar a subir o primeiro degrau, a figura apareceu
mesmo à minha frente e tapou-me a boca, ficando eu
quieta e não podendo gritar.
- Não tenhas medo, sou eu! – Apresentou-se Sally, com
o rosto a surgir na penumbra da luz frouxa. No meio
daquela escuridão, a cara dela, tendo um pouco de luz,
estava mais branco que a própria pedra da parede, mais
fria que o gelo.
- Porque vieste? - Falei baixo quando ela me tirou a
mão da boca e se afastou novamente.
- Tens de ir ter com a Jennifer e com o Kelvin. Nós não
podemos ir até lá assim sem aviso – Explicou com alguma
pressa. Pensei por uns segundos, ainda meio com sono.
Aquelas palavras passavam por mim como flechas que não
me tocavam.
O tempo parecia demasiado demorado para que eu
pudesse estar a ter uma imensa conversa com pés e
cabeça, e não podia querer saber mais nada, pelo menos
para já. Se me dessem um dia de descanso, ainda era
pouco para todo o medo que tinha tido sossegar.
- Porque haveria de ir lá agora? Tenho sono e de
certeza que me perderia até lá – Disse-lhe com surpresa e
algum medo de não conseguir completar aquilo que ela
queria.
- Vai arranjar-te e eu levo-te até lá dentro.
- Qual é a pressa afinal? - Resmunguei já mais atento.
- Não é um problema, mas sim, mais um... pedido de
colaboração – Respondeu e eu notei que lhe custava admitir
que precisava de ajuda.
- E o Edward? Não te pode ajudar?
- Por favor... e quanto mais, ele foi embora. Não
conseguimos ter força suficiente para ter esta guerra! Se
formos sozinhos, perdemos, e eu irei desaparecer ou
morrer de certeza. Os Outros não terão piedade.
Como um relâmpago, fez-se luz na minha cabeça e eu
acordei de vez. Virei-me para o lado de cima dos quartos e
comecei a subir rapidamente, mas ela agarrou-me
violentamente pela mão e parou-me, quase deixando-me
cair pelos dois degraus que subira. O seu alcance era
demasiado longo.
- Espero lá fora no jipe. Não te demores por favor. É
importante chegares lá rápido – Pediu, beijando-me num
segundo. Quando ele saiu apressei-me a ir para o quarto,
onde apenas tinha tempo para pôr uma camisola mais fina
do que aquela de lã que tinha, do pijama. Depois desci as
escadas e diz grande alvoroço, pensando estar a acordar os
meus padrinhos, mas nesse momento não tinha tempo para
ter cuidado. Sally esperou e quando me sentei, senti as
rodas grandes do jipe a rodarem no asfalto aquecido,
soltando cheiro a queimado enquanto ela dava meia volta,
de volta a Greentree.
Não queria muito ir até ao local onde por causa da
história de Jennifer, quase tinha morrido. Por outro lado,
estava contente por vê-la de novo, e o meu amigo Kelvin
também, que mais tarde veria com certeza.
Como sempre o tempo foi curto, e quando vi as
grandes árvores, o meu coração saltou de emoção. Já não
estava chateado mas sim com vontade de ver toda a
natureza que estava à volta de Jenny.
Corri rapidamente até junto da árvore onde outrora me
tinha encostado e sentado, e quando lá cheguei, observei a
cascata a correr, e a árvore convidou-me a sentar-me na
sua sombra fresca.
- Olá! - Cumprimentou Jennifer ao aparecer de longe,
vinda com um passo lento e o vento a fazer-lhe o cabelo
agora mais escuro, voar.
- Preciso de falar contigo. Preciso que venhas comigo
para irmos com a Sally a algum lugar. Ela parou e ficou
quieta a olhar para trás. Estava a captar algo que eu não
ouvia.
- Não posso ir contigo. A Sally não pode contar com a
minha ajuda. O Kelvin também não vai – Exclamou com
grande certeza,
- Porque não? - Quis saber, um pouco indignado com
aquilo. Se ela não vinha, Kelvin podia querer ajudar. Ela não
podia negá-lo a ir. A decisão não era sua. Ele já não
aparecerá mais – Murmurou a encostar-se também à
árvore, com a cara a ficar tristemente infeliz
- Eles não o perdoaram. As lágrimas correram-me
pelos olhos, embora não quisesse mostrá-las, mas aquilo
era mais forte que eu. Por minha causa ele tinha sido morto
e eu não podia provar mais disso, não agora, nunca mais.

Após ter limpado as lágrimas com as mangas da


camisola, fiz uma cara séria e revoltei-me, com a pele da
cara a ficar quente e vermelha. Tinha de me vingar.
- Se não vens tudo bem, também não mereces o
mesmo destino dele. Sozinha tratarei disto – Gritei ao voltar
pelo mesmo caminho por onde tinha vindo.
- Daniel! - Gritou e fez-me parar e olha-la de lado – Se
te quiseres vingar, vinga-te também por mim. - Com todo o
prazer – Conclui a conversa com um sorriso de pura ironia –
Os Nirvan nem sabiam com quem se tinham metido.
Edward e a família vingar-se-iam por mim, se lhes pedisse,
mesmo que não gostassem muito de mim.
Corri para junto de Sally e pedi-lhe o local onde
estariam os Nirvan, ao que ela me olhou com medo. Ela não
me conhecia tão agressivo. Mas eu queria aquilo e ela tinha
de me apoiar, pois o interesse da vingança ou fosse o que
fosse, partira de si.
- Voltamos a minha casa – Propôs com cautela – Lá
encontraremos o Edward de certeza, e, juntamente com a
sua família poderemos retomar o nosso plano. Depois
daremos a volta ao nosso espaço limitado e podemos ver
como fazer a emboscada. Mas há um senão... Se algum
deles detectar a nossa presença, terá duas hipóteses: ou
esconder-se e chamar os outros, ou aniquilar algum de nós,
caso esteja sozinho. Nunca te esqueças que a força deles,
não sendo física, é muito superior a qualquer um de nós.
Se quiserem, num segundo acabarão vitoriosos.
- Chega de pensar – Disse-lhe ameaçando as mangas –
Eu quero vingança! Seja de que maneira for.
A ida para lá pareceu menos longa que aquela que
tínhamos feito, e, dirigi-me logo à família de Sally,
chamando-os à atenção da morte de Kelvin, a que todos se
revoltaram.
- Traremos a nossa honra e vitória connosco – Rugiu
Thomas, com Miriam no seu encalço enquanto se moviam
rapidamente pela floresta negra e silenciosa. Mais atrás, eu
e Sally estávamos juntos, juntos e unidos para lutar, para a
paixão e simplesmente naquele momento sabíamos que
nada nos podia travar. Lentamente, Edward e Bella também
apareceram, estando Bella mais agressiva, quase que
transformada num elemento da família.
A nossa força crescia a olhos vistos, e, sabíamos que
se o futuro existisse, o nosso amor não iria terminar, pois
queríamos que assim fosse, e o desejo de tão forte que era,
parecia incontrolável.

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