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TEMAS LIVRES FREE THEMES


Atividades da farmácia hospitalar brasileira
para com pacientes hospitalizados: uma revisão da literatura

Pharmaceutical services for inpatients provided by


hospital pharmacies in Brazil: a review of the literature

Rachel Magarinos-Torres 1
Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro 1
Vera Lucia Edais Pepe 2

Abstract This paper discusses the literature on Resumo Este artigo discute a produção científica
hospital pharmacy services for in-patients in Bra- relacionada à farmácia hospitalar brasileira dire-
zil, seeking a broader view of its characteristics cionada à internação, na tentativa de ampliar a
and priorities. Seventeen papers were located in visão sobre características e prioridades. Foram
the Medline and Lilacs databases that complied localizados dezessete artigos nas bases de dados
with the pre-defined inclusion/exclusion criteria. Medline e Lilacs condizentes com os critérios de
Most of them were related to teaching and research, inclusão e exclusão definidos a priori. A maioria
logistics and compounding, based on observations ateve-se aos componentes ensino/pesquisa, logís-
in public hospitals in Southeast Brazil. Few stud- tica e farmacotécnica, a partir da observação de
ies focused on core activities such as management hospitais públicos localizados no Sudeste. Perce-
and selection. The academic syllabus through be-se a escassez de textos relacionados a atividades
which pharmacy students are trained may un- estruturais como gerenciamento e seleção. Esti-
derlie the perception that compounding is the pre- ma-se que à formação acadêmica dos farmacêuti-
ponderant aspect of hospital pharmacy services, cos atrele-se a percepção da manipulação como
although this is required in only a few institu- atividade preponderante nos serviços embora,
tions. Added to this is poor compliance by phar- atualmente, esta seja necessária apenas em um nú-
macy activities with established norms and stan- mero restrito de hospitais. Soma-se a isto a baixa
dards and the lack of an indexed Brazilian publi- adequação das atividades realizadas a normas le-
cation in this field. As there were far more studies gais e padrões estabelecidos e a inexistência de re-
1
of the public sector than its private counterpart, vista brasileira dedicada ao tema e indexada pela
Núcleo de Assistência
Farmacêutica, DCB-ENSP/ it seems as though there is either greater freedom BVS. Tendo em vista a maior freqüência de tra-
Fiocruz. Centro of action in the former or less scientific output in balhos oriundos do setor público, há, aparente-
Colaborador da OPAS/OMS
the latter, quantified by published studies. mente, ou maior liberdade de atuação do farma-
em Política de
Medicamentos Av Brasil Key words Pharmaceutical services, Hospital cêutico neste setor ou menor produção científica,
4036, s/ 915 e 916, pharmacy, Literature review quantificada por publicações, no setor privado.
Manguinhos. 21040-361
Palavras-chave Assistência farmacêutica, Farmá-
Rio de Janeiro RJ.
rmtorres@infolink.com.br cia hospitalar, Revisão bibliográfica
2
Departamento de Avaliação
e Planejamento em Saúde,
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo
Cruz.
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Magarinos-Torres, R. et al.

Introdução Este artigo pretende discutir a produção ci-


entífica relacionada às atividades da farmácia
A reformulação do sistema de saúde brasileiro, hospitalar brasileira direcionada à internação, na
com a normatização do SUS em 1990, suscitou a tentativa de compreender o marco teórico e a
necessidade de elaboração de uma política espe- abordagem adotada, assim como as caracterís-
cífica para o setor de medicamentos no Brasil ticas e prioridades do serviço, buscando fornecer
com o propósito de garantir acesso à assistência subsídios ao aprimoramento deste setor.
farmacêutica integral1. Aprovada em 1998, a
Política Nacional de Medicamentos reorienta,
dentre outros, o modelo de Assistência Farma- Metodologia
cêutica, equiparando, em um mesmo nível de
importância, ações antes menos favorecidas2. Foi realizada revisão bibliográfica observando
Antes da promulgação da Política Nacional todas as publicações disponíveis nas bases Medli-
de Medicamentos, os programas/projetos na ne e Lilacs com data anterior a janeiro de 2005.
área de Assistência Farmacêutica limitavam-se à Para a localização, foram usados os seguin-
aquisição e distribuição de medicamentos3. A tes descritores de assunto da Biblioteca Virtual
Política confere caráter mais abrangente à Assis- em Saúde BVS/BIREME, em português, e seus
tência Farmacêutica, explicitando como funda- congêneres em espanhol e inglês: “serviço de far-
mental, além do acesso aos medicamentos, a ga- mácia hospitalar/servicio de farmacia en hospi-
rantia de sua qualidade, segurança e uso ade- tal/pharmacy service hospital” e “serviços farma-
quado. Diretrizes possíveis de serem alcançadas cêuticos/servicios farmaceuticos/pharmaceutical
no âmbito hospitalar, por meio de atividades de services”. A seguir, a busca foi ampliada, utili-
responsabilidade da farmácia hospitalar4,5,6,7,8. zando os termos “assistência farmacêutica”, “far-
Atualmente, espera-se que a farmácia hospi- mácia hospitalar” e “hospital pharmacy”. Outra
talar desenvolva atividades clínicas e relaciona- estratégia utilizada para identificar estudos foi
das à gestão, que devem ser organizadas de acor- estender a busca às referências bibliográficas dos
do com as características do hospital onde se in- artigos selecionados.
sere o serviço, isto é, manter coerência com o Os critérios para seleção, definidos a priori,
tipo e o nível de complexidade do hospital 9. Es- foram:
sas atividades podem também ser observadas para inclusão: artigos em português, espa-
sob o ponto de vista da organização sistêmica da nhol ou inglês que discutiam e/ou avaliavam ati-
Assistência Farmacêutica, compreendendo sele- vidades da farmácia hospitalar direcionada a
ção de medicamentos necessários; programação, pacientes hospitalizados, considerando o contex-
aquisição e armazenamento adequado dos sele- to de hospitais brasileiros, independente da cate-
cionados; manipulação daqueles necessários e/ goria profissional que conduziu o estudo e do
ou indisponíveis no mercado; distribuição e dis- referencial metodológico utilizado;
pensação com garantia de segurança e tempesti- para exclusão: artigos em idioma diferente
vidade; acompanhamento da utilização e provi- do português, espanhol ou inglês, referências sem
mento de informação e orientação a pacientes e resumo ou abstract, comentários de caráter ge-
equipe de saúde 8,10. ral, estudos que abordaram Assistência Farma-
Cabe, ainda, distinguir entre a atuação da far- cêutica sem foco específico no serviço de farmá-
mácia hospitalar para com pacientes hospitali- cia hospitalar e relato de atividades relacionadas
zados daquela para com pacientes assistidos am- a pacientes ambulatoriais.
bulatorialmente. Essa diferenciação existe por- A análise dos textos apoiou-se no modelo
que as estratégias e os alvos são distintos. Na lógico (componentes e respectivos objetivos)
dispensação ambulatorial, é fundamental orien- construído pelo estudo intitulado Diagnóstico da
tar adequadamente o paciente com propósito de Farmácia Hospitalar no Brasil8.
ampliar as possibilidades de adesão. Em contra- Para tanto, foi necessário efetuar, como pri-
partida, o fornecimento de medicamentos a pa- meira etapa, uma revisão dos componentes e
cientes hospitalizados - distribuição - deve se cen- objetivos inicialmente descritos neste modelo ló-
trar no contato com a equipe de saúde. Da efeti- gico. Posteriormente, os estudos selecionados pela
vidade deste contato depende, em grande parte, busca bibliográfica foram observados quanto ao
o sucesso da terapêutica medicamentosa e a re- seu conteúdo, sendo identificada a principal ati-
solutividade dos serviços da assistência farma- vidade abordada. A seguir, foram classificados e
cêutica hospitalar11. analisados de acordo com o componente corres-
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pondente, face aos objetivos redimensionados na componentes do modelo lógico8 foram manti-
primeira etapa. dos, embora tenham sido realizadas alterações
textuais em seus objetivos, visando melhor ex-
plicitação do foco de cada atividade (Quadro 1).
Resultados e discussão O componente Gerenciamento, além de ser
responsável por prover infra-estrutura, é aquele
Revisão do modelo lógico adotado que promove a farmácia hospitalar, usualmente
referenciada como setor ou serviço dentro da
Com base nas atribuições descritas para far- estrutura organizacional do hospital. Deste
mácia hospitalar na literatura4,5,6,7,12, todos os modo, o Gerenciamento viabiliza as demais ati-

Quadro 1. Revisão dos objetivos de cada componente do Serviço de Farmácia Hospitalar.

Componente Objetivo conforme descrito no modelo lógico do Objetivo após revisão e considerado na
“Diagnóstico da farmácia hospitalar no Brasil” análise das referências selecionadas

Prover a estrutura organizacional e infra- Prover estrutura organizacional e infra-


Gerenciamento estrutura que viabilizem as ações da unidade de estrutura que viabilizem as ações do Serviço
Farmácia. de Farmácia.
Definir medicamentos para suprir as Definir os medicamentos necessários para
necessidades do Hospital segundo critérios de suprir as necessidades do Hospital segundo
Seleção de Medicamentos farmacoterapia baseada em evidências e uso critérios de eficácia e segurança. Seguidos por
racional. qualidade, comodidade posológica e custo.
Definir especificações técnicas e quantidades
Programação
dos medicamentos a serem adquiridos, tendo
em vista o estoque, os recursos e prazos
disponíveis.
Aquisição Suprir a demanda de medicamentos, armazená-
los de forma adequada às unidades ou serviços Suprir a demanda do hospital, tendo em vista a
Logística qualidade e o custo.
do hospital.
Armazenamento Assegurar a qualidade dos produtos em estoque
e fornecer informações sobre as
movimentações realizadas.
Disponibilizar os medicamentos e produtos Fornecer medicamentos em condições
Distribuição farmacêuticos, em condições adequadas com a adequadas e tempestivas com garantia de
finalidade terapêutica. qualidade do processo.
Disponibilizar informação objetiva e apropriada Disponibilizar informação independente,
sobre medicamentos e seu uso racional aos objetiva e apropriada sobre medicamentos e seu
Informação pacientes, profissionais de saúde e gestores uso racional a pacientes, profissionais de saúde
hospitalares. e gestores
Assegurar o uso racional de medicamentos e Acompanhar o uso de medicamentos prescritos
Seguimento
maximizar efetividade e eficiência de a cada paciente individualmente, assegurando o
farmacoterapêutico
tratamentos farmacológicos. uso racional.
Adequar princípios ativos e/ou medicamentos Elaborar preparações magistrais e oficinais,
Farmacotécnica disponíveis no mercado para a administração disponíveis ou não no mercado, e/ou fracionar
ao paciente e/ou uso intra-hospitalar. especialidades farmacêuticas para atender às
necessidades dos pacientes, resguardando a
qualidade.
Formar recursos humanos para a farmácia
Formar RH para a farmácia hospitalar. Produzir
hospitalar e para a assistência farmacêutica.
informação e conhecimento que subsidiem o
Ensino e pesquisa Produzir informação e conhecimento que
aprimoramento das práticas vigentes.
subsidiem o aprimoramento das condutas e
práticas vigentes.
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Magarinos-Torres, R. et al.

vidades. Assim, no objetivo correspondente, o adequar medicamentos disponíveis no mercado


termo “unidade de farmácia” foi substituído por às necessidades dos pacientes hospitalizados,
“Serviço de Farmácia”7. como também desenvolver preparações magis-
Como na Seleção, os critérios adotados são trais e oficinais indisponíveis no mercado, que
decisivos para a definição de uma lista mínima sejam essenciais em situações específicas e pontu-
com todos os medicamentos adequados e indis- ais, mantendo a preocupação com a qualidade
pensáveis ao hospital, permitindo acesso a fár- das preparações e fracionamentos realizados8.
macos eficazes e seguros, com maior comodida- Diante da importância de uma assistência far-
de posológica para os pacientes e ao menor cus- macêutica embasada nos recentes conceitos tra-
to; estes foram enumerados em ordem de im- zidos pelo SUS1,2,15 e reconhecendo o serviço de
portância. Cabe ressaltar aqui o papel fundamen- farmácia hospitalar como um campo de prática
tal da presença de uma lista ou relação de medi- da Assistência Farmacêutica, foi acrescida, no
camentos, usualmente denominada de lista de foco do componente Ensino, a capacitação de
padronização, no desempenho das demais ativi- profissionais para esta área. Quanto à Pesquisa,
dades demandadas à farmácia hospitalar6. o propósito da mesma foi mantido – “produzir
Outra alteração realizada foi a separação dos informações e conhecimento que subsidiem o
objetivos de três dos sub-componentes da logís- aprimoramento das condutas e práticas vigen-
tica. Entende-se que embora Programação, Aqui- tes”. Cabe destacar, no entanto, que o compo-
sição e Armazenamento tenham em conjunto o nente Ensino/Pesquisa não foi fragmentado em
propósito de suprir a demanda de medicamentos dois, embora seus objetivos primários sejam dis-
e armazená-los de forma adequada, cada um con- tintos, por se perceber a importante relação exis-
tribui de forma específica. À Programação cabe tente entre eles. A capacitação de pessoas requer,
definir especificações técnicas e quantidades dos entre outros, o desenvolvimento de habilidades
medicamentos selecionados; à Aquisição, suprir que permitam a reflexão de suas atividades16.
as necessidades observando qualificação dos for- De forma distinta, a redação do objetivo do
necedores e aliando qualidade ao menor custo; e Seguimento Farmacoterapêutico foi completa-
ao Armazenamento, a responsabilidade pela ma- mente modificada. O texto original, “Assegurar
nutenção das propriedades originais dos medica- o uso racional de medicamentos e maximizar efe-
mentos armazenados e fornecimento de infor- tividade e eficiência de tratamentos farmacológi-
mações fidedignas e atualizadas sobre o estoque11. cos”, é demasiadamente abrangente e não expli-
Na Distribuição, foram acrescidos itens con- cita a participação mais precisa deste componente
siderados decisivos para a alteração do quadro para promoção do uso racional de medicamen-
clínico do paciente hospitalizado. Não basta que tos no hospital. Com base na recente discussão
o medicamento seja adequado à finalidade tera- sobre Atenção Farmacêutica no Brasil, seu obje-
pêutica para qual está sendo encaminhado. Jul- tivo foi re-definido como acompanhamento sis-
ga-se importante ressaltar a necessidade de pre- temático do uso de medicamentos por pacientes
ocupação com o fornecimento deste em tempo de forma individual. Admitindo ser indispensá-
oportuno, assim como com o processo para ga- vel, nesta atividade, o registro dos encontros15,17.
rantia de recebimento preciso, de sorte a dimi- A revisão do modelo lógico específico da far-
nuir erros de medicação7. mácia hospitalar brasileira possibilitou ajustes -
O componente Informação foi alterado face ampliação de alguns conceitos e melhor defini-
à necessidade de qualificar a informação presta- ção de outros - aproximando-os da realidade.
da. A intensa e controversa publicidade imposta Tornou assim viável, dentro do foco desta revi-
pela indústria farmacêutica, com conseqüente são, o processo de classificação e análise dos tex-
influência na prescrição e na utilização de medi- tos. Cabe destacar que estes novos objetivos fo-
camentos no Brasil, demanda fornecimento de ram considerados como padrão na classificação
informação a pacientes, profissionais de saúde e e análise dos textos selecionados pela busca bi-
gestores de forma objetiva, apropriada e, princi- bliográfica.
palmente, independente do interesse comercial,
ou seja, baseada em evidências científicas13,14. Em Estudos selecionados
virtude disto, este ponto foi acrescentado ao ob- na busca bibliográfica
jetivo do componente.
A descrição do propósito da Farmacotécnica A busca bibliográfica resultou na seleção de
foi também modificada, uma vez que à farmaco- dezessete artigos condizentes com os critérios de
técnica da farmácia hospitalar cabe não apenas inclusão e exclusão enunciados no método. A
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maioria na base Lilacs, a partir do termo “far- que os farmacêuticos brasileiros prestem servi-
mácia hospitalar”. Grande parte das referências ços e consultorias, nenhuma denominação espe-
relacionadas no Medline trouxe experiências de cífica tem sido atribuída a estas atividades. Ainda
hospitais americanos. A Tabela 1 apresenta o que os farmacêuticos prestem serviços e consul-
número de estudos recuperados e selecionados torias, nenhuma denominação específica tem sido
nas bases Medline e Lilacs de acordo com os ter- atribuída a estas atividades.
mos utilizados. Em contrapartida, a Assistência Farmacêuti-
A opção oportuna de ampliar a busca biblio- ca no Brasil está relacionada não apenas a servi-
gráfica utilizando os termos “farmácia hospita- ços prestados por farmacêuticos, mas a um con-
lar/hospital pharmacy” e “assistência farmacêu- junto de atividades de caráter multidisciplinar
tica” resultou da percepção de limites nas defini- visando promover o acesso e o uso racional de
ções dos descritores de assunto localizados na medicamentos2,15. Traduções inapropriadas ou
Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME). O termo adaptações de termos, como correlacionar assis-
“serviço de farmácia hospitalar/servicio de far- tência farmacêutica a serviços farmacêuticos,
macia en hospital/pharmacy service hospital” podem constituir um grande entrave para a dis-
como “departamento hospitalar responsável pela seminação da informação científica e compara-
recepção, armazenamento e distribuição de ma- ção de resultados. Embora inexista outra opção,
teriais farmacêuticos” não alcança todas as ativi- o descritor “serviços farmacêuticos” não corres-
dades que são demandadas à farmácia hospita- ponde integralmente à assistência farmacêutica
lar brasileira. no contexto brasileiro.
Por sua vez, a definição atribuída ao termo Focalizando os artigos selecionados na busca
“serviços farmacêuticos/servicios farmaceuticos/ bibliográfica, constata-se que as referências bi-
pharmaceutical services” não encontra significa- bliográficas utilizadas por estes encontram-se, em
do exato no Brasil. Segundo a BIREME, esse ter- muito, apoiadas em estudos americanos. Possi-
mo trata da “soma de serviços farmacêuticos velmente, em decorrência da maior produção,
fornecidos por um farmacêutico qualificado. facilidade de localização e recuperação. Foram
Além da preparação e distribuição de produtos observadas apenas duas citações brasileiras com
médicos, eles podem incluir serviços de consul- possibilidade de inclusão que, devido aos limites
toria fornecidos a agências e instituições que não encontrados nos meios de comutação bibliográ-
possuem um farmacêutico qualificado”. Ainda fica, não foram passíveis de recuperação.

Tabela 1. Revisão bibliográfica sobre atividades da farmácia hospitalar no Brasil nas bibliotecas eletrônicas
Medline e Lilacs.

Base/palavras-chave nº de estudos
Relacionados na Pré-selecionados Selecionados pelos
base critérios de estabelecidos
Medline
Pharmacy Service, Hospital 6193 2 1
Pharmaceutical Services 1757 1 1
Hospital Pharmacy 3181 1 0

Lilacs
Servicio de Farmacia en Hospital 37 11 4
Servicios Farmacêuticos 25 13 0
Farmácia Hospitalar 55 41 15
Assistência Farmacêutica 30 6 3

Total excluindo os duplicados 17


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Magarinos-Torres, R. et al.

Também foi pouco freqüente, entre os seleci- tividade na inclusão e/ou exclusão de medicamen-
onados, a utilização de textos do marco teórico tos na lista de padronização. São apontados
legal brasileiro para justificar e/ou direcionar o como desafios a divulgação das informações e a
trabalho (5/17), mesmo considerando os publi- adesão a novas diretrizes22,23,24,25,26,27,28, 29.
cados após 2000 (3/10). O Brasil, principalmente Dentre os estudos incluídos no componente
a partir de 1990, possui ampla legislação para re- Logística, nenhum se dedicou especificamente à
gulamentar o sistema de saúde (SUS), a questão Programação, isto é: identificação das necessi-
de medicamentos e a assistência farmacêutica nesse dades locais, elaboração de especificação técni-
sistema e o exercício da profissão farmacêutica cas, definição de quantidades a comprar, ob-
em unidade hospitalar 2,18,19,20,21. Mesmo que al- servando estoque, recursos e prazos disponí-
gumas atividades demandadas à farmácia hospi- veis. Como grande parte dos textos seleciona-
talar careçam de regulamentação específica10, esta dos trabalham a dinâmica de hospitais públi-
falta de alusão aos textos legais, que orientam a cos e como, na maioria destes, a aquisição de
prática, parece demonstrar pouca percepção medicamentos é conduzida de forma centrali-
quanto à necessidade de abrigar a discussão den- zada pela esfera de governo onde se insere o
tro do contexto político-social brasileiro. hospital, o resultado obtido parece refletir a re-
Considerando o objetivo dos componentes lativa desimportância imputada, equivocada-
do modelo utilizado como referencial metodo- mente, a esta atividade quando o processo de
lógico, os trabalhos selecionados discutem prio- aquisição é centralizado.
ritariamente questões relacionadas ao Ensino/ Quando a compra é centralizada, destina-se
Pesquisa (6/17), Logística (6/17) e Farmacotéc- ao serviço responsabilidade apenas pela defini-
nica (4/17), tendo por base a observação da di- ção de quantidades desejadas dos itens a serem
nâmica de hospitais públicos localizados no Rio adquiridos pelo nível central. A evidente quebra
de Janeiro e São Paulo (11/17). Não foram loca- na retroalimentação da informação pode, por
lizados estudos relacionados ao Gerenciamento, sua vez, causar estimações erradas, tanto em
Seleção, Programação e Seguimento Farmacote- qualidade dos itens quanto em quantidade, im-
rapêutico. A Tabela 2 apresenta o número e o plicando em conseqüências para todo o sistema
objetivo dos estudos selecionados de forma agru- ou rede, favorecendo o descompasso e a falta de
pada de acordo com componente correspondente critérios de racionalidade. Segundo Dias et al. , “a
à principal atividade abordada. existência de determinado antídoto entre os me-
Chama atenção o fato de nenhum estudo dicamentos da Farmácia Hospitalar está mais
captado abordar especificamente Gerenciamen- relacionado com a facilidade de obtê-lo do que
to ou Seleção, uma vez que estas são considera- com a ocorrência de intoxicação aguda atendida
das atividades responsáveis pelos alicerces da far- no Serviço de Urgência do Hospital”30.
mácia hospitalar 6 e que, portanto, embora pos- A Aquisição de medicamentos foi resgatada
sam não inviabilizar a existência nominal de ou- em dois estudos, ambos no âmbito do setor pú-
tras atividades, influenciam de forma significati- blico31,32. Embora o número de artigos seja res-
va em sua qualidade. Esse resultado, associado trito, frente à importância deste componente na
ao baixo percentual de hospitais brasileiros com viabilização econômica dos serviços de saúde, os
estrutura mínima adequada para conduzir estas dois textos resgatados demonstraram preocu-
atividades8, parece indicar que, quando realiza- pação com a qualidade. Luiza et al. destacaram a
dos, Gerenciamento e Seleção não são vistos necessidade de profissionalização do setor públi-
como atividades que ensejem relato, pesquisa e co frente a organizações bem estruturadas que
conseqüente discussão. visam primordialmente o lucro31. Sakai et al.,
Por outro lado, a realização de estudos sobre por sua vez, relataram experiência de avaliação
esses componentes acontece amplamente fora do de empresas para o fornecimento de nutrição
contexto brasileiro, principalmente no que tange parenteral32. Supõe-se que a preocupação com a
à Seleção. Percebida como conjunto formado qualidade se deva, pelo menos em parte, ao gran-
pelos processos de revisão da lista de medica- de número de problemas advindos da falsifica-
mentos padronizados e divulgação das informa- ção e/ou desvio de qualidade de medicamentos
ções, a seleção de medicamentos em farmácia que surgiram nos anos de 1998 e 199933, bem
hospitalar tem sido discutida em perspectiva da como de conseqüências fatais relacionadas à nu-
efetividade comparada, considerando custo-efe- trição parenteral34.
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Tabela 2. Número e objetivo dos artigos selecionados agrupados de acordo com os componentes da farmácia hospitalar.

Componente nº de estudos Referência (1ºautor, Objetivo


selecionados ano da publicação)

Gerenciamento 0 _ _

Seleção de Medicamentos 0 _ _

Programação 0 _ _

Aquisição 2 Luiza VL, 1999 Discutir qualidade e custo relacionado à


aquisição de medicamentos no setor público
Sakai MC, 2000 Qualificar empresas para terceirização do
Logística preparo de Nutrição Parenteral

Armazenamento 2 Dias EPF, 1994 Levantar a disponibilidade de medicamentos


para emergência toxicológica
Oliveira MA, 2002 Avaliar a disponibilidade e a adequação as boas
práticas de estocagem de anti-retrovirais

Distribuição 2 Carvalho VT, 2000 Levantar situações que conduziram profissionais


de enfermagem a erros de medicação
Cassiani SHB, 2004 Identificar e analisar o sistema de medicação
de quatro hospitais brasileiros

Informação 1 Assunção FR, 1999 Relatar a implantação de um programa de


educação para portadores de doença
pulmonar obstrutiva crônica e asma
Seguimento _ _ _
farmacoterapêutico
Marx M, 1985 Identificar os medicamentos que mais
contribuíram com gastos do hospital e
Farmacotécnica 4 estimar custo de produção interna destes
Santos MJT, 1987 Apresentar o desenvolvimento de uma solução
degermante anti-séptica de menor custo
Pereira SR, 1999 Desenvolver uma formulação de sabonete
líquido anti-séptico de menor custo
Marin MLM, 2001 Identificar os medicamentos e os custos
da produção interna

Ensino e pesquisa 6 Ponciano MAS, 1998 Avaliar o nível de informação e


valorização da farmacovigilância hospitalar
Castro MS, 2002 Determinar os padrões de uso de
antimicrobianos
Osorio-de-Castro CGS, 2002 Estudar o perfil de utilização de
anti-infecciosos e seus determinantes
Fonseca MRCC, 2002 Descrever a utilização de medicamentos na
gravidez
Sebastião ECO, 2002 Avaliar o cumprimento de aspectos
legais em prescrições médicas
Braga TBT, 2004 Comparar a prevalência de prescrição de
medicamentos para pacientes idosos e não
idosos
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Magarinos-Torres, R. et al.

O Armazenamento foi abordado em dois medicamentos. Entre as causas mais comuns são
artigos. Ambos apresentaram considerações que relatados problemas de comunicação verbal e/
sugerem problemas neste componente. O enfo- ou escrita e treinamento inadequado dos profis-
que, no entanto, foi limitado a registros do con- sionais41,42,43,44.45. São estudados o impacto da
trole de estoque. Dias et al. perceberam a inexis- prescrição eletrônica na redução de erros de me-
tência de registros de controle de estoque em di- dicação e de sistemas de alerta no caso de situa-
versas Unidades30. Oliveira et al. Identificaram, ções clínicas potencialmente críticas46,47.
além de deficiências no sistema de registro de Parece que a carência de artigos brasileiros
movimentação de estoque, a existência de medi- em torno da Logística como um todo, atividade
camentos vencidos35. Os autores apontaram que de cunho predominantemente administrativo
a possibilidade da existência de medicamentos com importantes determinantes e conseqüências
vencidos está relacionada ao recebimento obri- clínicas, reflete não a superação dos problemas,
gatório e freqüente, em serviços públicos, de mas a indigência do componente.
medicamentos muitas vezes não solicitados, com Embora única, a experiência relacionada ao
prazo de validade próximo ao vencimento, asso- componente Informação se mostrou positiva. O
ciado à impossibilidade de devolução ao nível texto descreve um programa de educação para
central e à inexistência de procedimentos ade- portadores de doença pulmonar obstrutiva crô-
quados para destruí-los35. nica e asma, hospitalizados, com objetivo de for-
Observando artigos publicados em outros necer informações sobre o tratamento farmaco-
países, percebe-se foco diferente e aparentemen- lógico e ampliar a adesão após a alta48.
te mais avançado, como se as questões brasilei- Todavia, considerando que o contato da far-
ras já houvessem sido superadas. Foram locali- mácia hospitalar com pacientes hospitalizados é,
zados textos sobre estabilidade de medicamen- em muito, mediado pelos demais membros da
tos termolábeis e conseqüências da automatiza- equipe de saúde, seria esperado a localização de
ção do controle de estoque36,37. artigos abordando fornecimento de informações
Os trabalhos selecionados na busca biblio- a profissionais de saúde, em concordância com a
gráfica e classificados na Distribuição dedicaram- tendência internacional49,50. A demanda quanto
se a aprofundar sobre as etapas do processo e a esta atividade nas farmácias hospitalares brasi-
identificar pontos vulneráveis a erros38,39. Cabe leiras existe. Embora não haja coleta sistemática
destacar que a inexistência desta atividade em de dados, muitos profissionais relatam grande
hospitais implica, necessariamente, na inexistên- freqüência de solicitação de informações de ou-
cia do serviço de farmácia. Entretanto, embora tros setores hospitalares ao Serviço de Farmá-
todas as farmácias hospitalares realizem, com cia8. No entanto, é pequena a percepção do quan-
alguma capacidade, a distribuição de medica- to o fornecimento de informações independen-
mentos, ambos os textos foram produzidos por tes, objetivas e apropriadas aos demais profissi-
enfermeiros. Uma vez elaborados por profissio- onais de saúde colabora para o uso racional de
nais inseridos na assistência farmacêutica, mas medicamentos no ambiente hospitalar. Por sua
alheios à farmácia hospitalar, a qualidade do pro- vez, dificuldades de relacionamento entre dife-
cesso de distribuição, no que tangue a esse servi- rentes categorias profissionais podem estar sen-
ço, foi pouco discutida pelos artigos seleciona- do decisivas nesta troca13.
dos. Por outro lado, parece freqüente a aborda- A carência de abordagens condizentes com
gem de erros estar centrada em punições, em Seguimento Farmacoterapêutico em farmácia
detrimento de diagnosticar e explorar o fato vi- hospitalar não surpreende, diante da recente dis-
sando melhorias. Este foco pode estar dificul- cussão conceitual e metodológica, tanto no Brasil
tando novas investigações no tema40. como em outros países, sobre o acompanhamento
No cenário internacional, a Distribuição vem sistemático e individual de pacientes hospitaliza-
sendo freqüentemente associada a erros de me- dos que estejam em terapia medicamentosa17, 51.
dicação. Estima-se que 2% das pessoas que são Ademais, há que se pensar sobre sua importância
admitidas em hospitais norte-americanos encon- diante dos problemas observados nos compo-
tram-se sujeitas a erros de medicação derivados nentes estruturais da farmácia hospitalar de acor-
de problemas na prescrição, distribuição e ad- do com o diagnóstico realizado em 2003 8. Fica
ministração de medicamentos. O custo com even- evidente que nesse componente, finalístico por
tos adversos evitáveis provenientes, principal- natureza, serão identificados diversos problemas
mente, de erros nas etapas da distribuição, são relacionados a medicamentos, sejam eles deter-
superiores aos relacionados à reação adversa a minados por questões administrativas ou ligadas
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à farmacoterapia ou à clínica, caso não sejam re- lhos utilizaram como método entrevistas com
alizados adequadamente componentes como ge- pacientes e/ou profissionais de saúde com base
renciamento, seleção e logística. em questionários estruturados65,66.
A Farmacotécnica foi objeto de quatro arti- Nenhum se debruçou, em específico, sobre
gos52,53,54,55. O enfoque não teve, como espera- atividades de formação de recursos humanos
do, propósito de adequar princípios ativos e/ou para a farmácia hospitalar e/ou assistência far-
medicamentos disponíveis no mercado às neces- macêutica, em seu sentido mais amplo. Aparen-
sidades individuais dos pacientes em situações temente, a capacitação de profissionais para a
pontuais e específicas e, sim, busca por formula- assistência farmacêutica hospitalar não constitui
ções semelhantes às comercializadas com o obje- questão que preocupe e/ou motive reflexões,
tivo precípuo de diminuir custo na aquisição. Não muito embora tenha sido apontada por todos
houve relatos sobre controle de qualidade em- os grupos que participaram de oficina realizada
pregado na produção, tampouco pesquisados no último Congresso Nacional da Sociedade Bra-
métodos de controle de qualidade possíveis em sileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) para
hospitais brasileiros embora a qualidade dos discutir os rumos da farmácia hospitalar, como
produtos seja determinante para o sucesso da o principal problema do setor67. Deficiências na
terapêutica. formação do farmacêutico, excessivamente tec-
Nesse momento, observando o foco direcio- nicista e desconectada das políticas de saúde,
nado apenas ao custo, pode-se indagar a neces- também foi ponto destacado em consensos an-
sidade da farmacotécnica hospitalar e hipoteti- teriores, como a Oficina Nacional de Atenção
zar que venha a ser realizada apenas em unida- Farmacêutica17.
des de referência ou altamente especializadas ou Os resultados observados quanto à raciona-
ainda naquelas cujo sistema de distribuição pres- lidade na prescrição e utilização de medicamen-
suponha fracionamento e manipulação, por tos apontam para problemas relacionados à uti-
exemplo, Sistema de Distribuição de Medicamen- lização inadequada de antimicrobianos, prescri-
tos por Dose Unitária. É evidente que a redução ção inadequada às características do paciente e
no custo possibilita a ampliação do acesso. Este baixo índice de cumprimento de itens obrigató-
pode ser um falso argumento; ,todavia garantir rios (legais) em prescrições60,62,63. São sugeridos
acesso sem a contrapartida da qualidade mina a como mecanismos para enfrentamento desses
iniciativa e coloca em risco importante objetivo problemas: campanhas internas sobre uso racio-
da assistência farmacêutica: o uso racional de nal de medicamentos, ações de orientação dirigi-
medicamentos. das a prescritores e restrição do uso por meio de
Enquanto a preocupação no Brasil se centra existência de regulamentação específica para so-
no custo, os textos de outros países apresentam licitação de medicamentos, mediante autoriza-
preocupação com a estabilidade físico-química e ção de comissões intra-hospitalares60.
a segurança microbiológica de nutrição parente- Embora numericamente significativo, frente
ral e de medicamentos manipulados além da ao conjunto de artigos selecionados, não se pode
busca sobre métodos mais econômicos para pre- afirmar que todas as investigações incluídas no
paração de misturas intravenosas, disponíveis ou Ensino/Pesquisa tenham sido conduzidas pela
não comercialmente. Mesmo quando o foco é a farmácia hospitalar. Indícios da participação do
redução do custo, a segurança não deixa de ser serviço podem ser percebidos observando o cam-
abordada 56,57,58,59 . po de atuação dos autores e o local de coleta dos
Seis dos estudos selecionados na busca bibli- dados. Somente Sebastião acentuou o papel do
ográfica foram agrupados no componente Ensi- farmacêutico na detecção e discussão de proble-
no/Pesquisa. A principal preocupação destes es- mas relacionados à qualidade da prescrição de
tudos foi investigar a prescrição e a utilização de medicamentos 63.
medicamentos, analisando dados coletados de A relativa abundância dos estudos sobre esse
forma quantitativa. Quatro dos seis trabalhos componente face à relativa carência dos demais é
incluídos neste componente partiram de dados interessante. Estudos que envolvem coletas de
de movimentação de estoque e prescrições ar- dados de utilização são realmente de fácil execu-
quivadas no Serviço de Farmácia60,61,62,63. Destes, ção. No entanto, tendo em vista a difícil situação
dois se apoiaram na dose diária definida (DDD)64 da farmácia hospitalar brasileira8, é curioso que
para quantificar o consumo de modo a permitir haja tão poucas pesquisas de cunho operacional,
comparação dos resultados, em concordância que poderiam redundar em efeitos de curto pra-
com estudos internacionais. Os demais traba- zo sobre a qualidade dos serviços.
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Magarinos-Torres, R. et al.

Considerações finais para a farmácia hospitalar, como: dificuldade


operacional para realização adequada das ativi-
A revisão dos objetivos do modelo lógico apre- dades, inadequada formação acadêmica do far-
sentado no estudo “Diagnóstico da Farmácia macêutico hospitalar e dificuldade de interação
Hospitalar no Brasil” possibilitou definir mais com outras categorias profissionais no hospital.
claramente as atividades ali apontadas, auxilian- Por fim, a inexistência de revista brasileira dedi-
do tanto a compreensão sobre como cada ativi- cada ao tema e indexada pela BVS e de descrito-
dade se articula às demais, quanto à possibilida- res de assuntos mais apropriados.
de de discussão crítica da literatura. Este último fator pode ser, sem dúvida, um
O número de artigos selecionados na busca importante entrave à recuperação de artigos e
bibliográfica demonstra que são escassos traba- constitui-se como uma limitação desta revisão.
lhos que versam sobre o serviço de farmácia hos- Muito embora a publicação em periódicos que
pitalar brasileiro, principalmente no que tange a possuam corpo editorial e peer review qualifi-
atividades estruturais como gerenciamento, sele- quem a produção, a publicação de estudos de
ção e logística. Dentre os selecionados, observa- cunho mais simples, por exemplo, de pesquisa
se baixa adequação das atividades realizadas a operacional, estaria dificultada. A maior produ-
normas legais e padrões já estabelecidos, resulta- ção desses estudos é uma real necessidade para o
do condizente com o apresentado na pesquisa acúmulo no tema da assistência farmacêutica
“Diagnóstico da Farmácia hospitalar no Brasil”8. hospitalar.
Estima-se que diversos fatores possam estar Observou-se, ainda, a concentração de estu-
contribuindo para a carência de textos brasilei- dos realizados em hospitais públicos. Este dado
ros. Primeiro, os relacionados à construção e di- pode indicar a melhor qualificação de farmacêu-
vulgação interna de investigações em serviços de ticos nesses hospitais e/ou seu maior acesso à
saúde, como: dificuldade de construção de estu- capacitação. Pode ainda significar uma maior li-
dos e limitada percepção quanto à relevância de berdade de atuação do farmacêutico no setor
pesquisas e disseminação de informações para o público em relação ao privado. Esse dado, em
aprimoramento68. Segundo, os mais específicos especial, enseja maior investigação.

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