Professional Documents
Culture Documents
Apresentação
OLHARES FREIREANOS
Da impossibilidade de existirmos
sem os sonhos e sem a luta
U
m mandato coletivo, comprometido com a luta popular e com
o socialismo, tem, no horizonte de sua atuação, o resgate da
memória das lutas daqueles e daquelas que dedicaram suas vidas
ao combate a todas as formas de opressão e exploração dos trabalhadores.
6
em prol da educação pública movidas pela sua inabalável esperança por
um mundo melhor.
Ficam nossos sinceros agradecimentos à contribuição desses valorosos
educadores e educadoras: Ademar Bogo, Ana Maria Araújo Freire, João
Zanetic, Lisete R. G. Arelaro, Mario Sergio Cortella e Sílvia Telles.
Paulo Freire nos alenta, nos inspira e nos alegra. Com suas idéias,
alimenta nossos sonhos de mudança; com suas reflexões, nos instiga à
crítica; com seu exemplo, reforça nosso engajamento; com sua ternura,
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
nos leva à solidariedade e com sua tolerância, nos mobiliza para o efetivo
exercício da democracia.
Março de 2007
7
8
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Paulo Freire Vive!
Hoje, dez anos depois...
Ivan Valente
Introdução
No dia dois de maio de 2007 completará dez anos da morte do professor
Paulo Reglus Neves Freire, conhecido mundialmente como um grande
educador, pensador, filósofo e militante da Educação.
Suas idéias, nos anos duros da ditadura militar, o levaram ao exílio por
dezesseis anos. Continuou, porém, a desenvolver seu trabalho em diversos
países, reafirmando sua opção política e sua concepção de educação,
democrática e popular, dialética e dialógica, mostrando a intencionalidade
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
do ato educativo.
TRAJETÓRIA
O cidadão brasileiro e cidadão do mundo
Paulo Freire, pernambucano, nasceu em Recife, em 19 de setembro de
1921. De família humilde, teve uma infância marcada por dificuldades
econômicas e desde cedo conheceu a pobreza. Foi alfabetizado em casa,
por seus pais, escrevendo com gravetos, no chão de terra debaixo das
mangueiras do quintal. Como gostava muito de estudar, assim que concluiu
a escola secundária, tornou-se professor.
Em 1989, foi convidado pela Prefeita Luiza Erundina para ser Secretário
de Educação do Município de São Paulo. Sua Gestão caracterizou-se
por ampla discussão sobre condições de ensino e de trabalho, onde o
método “ação - reflexão - ação”, enquanto um processo prático e exigente
de Gestão Democrática ia se consolidando; investiu não só na formação
12
permanente dos educadores, mas melhorou as condições de trabalho com
uma nova jornada; aprovou o primeiro Estatuto do Magistério da rede
municipal de São Paulo; promoveu a revisão curricular via projetos de
interdisciplinaridade e uma nova organização do ensino por meio de ciclos.
Alfabetização e conscientização:
inseparáveis em Paulo Freire
14
“Como explicar que um homem, analfabeto até poucos dias,
escreva palavras com fonemas complexos antes mesmo
de estudá-los. É que, tendo dominado o mecanismo das
combinações fonêmicas, tentou e conseguiu expressar-se
graficamente como fala.
A afirmação que nos parece fundamental de ser enfatizada é a de
que, na alfabetização de adultos, para que não seja puramente
mecânica e memorizada, o que se há de fazer é proporcionar-lhes
que se conscientizem para que se alfabetizem.
Daí à medida que um método ativo ajuda o homem a se
conscientizar em torno de sua problemática, em torno de sua
condição de pessoa, por isso de sujeito, se instrumentalizará para
suas opções.
Aí então, ele mesmo se politizará. Quando um ex-analfabeto de
Angicos, discutindo diante do presidente Goulart e sua comitiva,
declarou que já não era massa, mas povo, disse mais do que
uma frase: afirmou-se conscientemente uma opção. Escolheu
a participação decisória, que só o povo tem, e renunciou a
demissão emocional das massas. Politizou-se.”
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
15
essenciais do projeto educativo de Paulo Freire. O combate ao
autoritarismo nas relações humanas e sociais e a corajosa crítica que faz
ao sectarismo muito presente na vida e na política, com suas “certezas
sectárias excludentes de possibilidades de outras certezas, negadoras
de dúvidas” e o seu apelo à tolerância são outras marcas que vão dar
consistência às ações de quem acredita no caráter coletivo do
projeto educativo.
Imprescindível homenagem
Paulo Freire mostrou de diferentes ângulos, unindo a dimensão ética e
estética das relações humanas, que, atrás do ato de ensinar e aprender há
uma clara opção política e que a educação nunca é neutra, toma partido,
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Fontes de Consulta:
FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire: uma história de vida. Indaiatuba,SP: Villa das Letras, 2006.
SOUZA, Ana Inês. Paulo Freire – Vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
_____________ Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
_____________ Pedagogia da esperança: um encontro com a pedagogia do oprimido. 11ª. Ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1997.
_____________ Educação na cidade. 5ª. Ed. São Paulo: Cortez, 1995.
_____________ Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 19
Ademar Bogo
Ana Maria Araújo Freire
João Zanetic
Lisete R. G. Arelaro
Mario Sergio Cortella
Sílvia Telles
22
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
O pedagogo da
esperança e da
liberdade
Ademar Bogo*
Paulo Freire é um daqueles seres humanos que entram na história para nunca
mais sair. Pela simplicidade, dedicação, persistência e empenho com que
tratou a educação, continua presente em todos os lugares em que se discute a
transformação da realidade.
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
O caminho indicado para aprender a ler o mundo a partir da ótica política seria
a luta, por isso não só declarou que “todos sabemos alguma coisa”, como
também despertou na geração de seu tempo e posteriores a esperança de
mudar o mundo. Conjugou como se fossem verbos as palavras “esperança e
liberdade” e as interligou na prática revolucionária de cada dia.
Foi por esse caminho que Paulo Freire nos levou pela mão; nos fez
apaixonados pelo conhecimento e pela humanização, pois conhecíamos o
latifúndio pela sua extensão antes da ocupação, mas isso não era tudo, as
letras e os números traziam, com precisão, o nome, tamanho e proprietário
daquele território sem fim.
O conflito, por essa leitura do mundo e das letras, tornou-se uma saída para
resolver as necessidades que motivaram a luta. Então lutar é bom, é um
prazer porque nos ensina a ler o mundo melhor e a descrevê-lo como se
fosse nosso.
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
2. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1982.
25
comportam como se estivessem fora dele. Vêem os problemas, mas se
desviam deles. Aparentemente, a fome, a falta de trabalho e moradia etc. não
têm causa, e, onde não há causas, não há lutas.
Talvez ninguém tenha entendido e aplicado tão bem quanto Paulo Freire
a terceira tese sobre Feuerbach, onde Karl Marx e Friedrich Engels,
descreveram que, “o próprio educador tem que ser educado” 3. Ou seja,
educar é buscar formas de modificar as circunstâncias em que vivemos para
modificar-nos junto. Separar os sujeitos das circunstâncias em que vivem,
é descomprometê-los. E não pode haver jamais um movimento social sem
comprometimento.
Paulo Freire percebeu que os problemas sociais não são apenas uma criação
humana que diminuem a humanização, mas que eles também são a porta do
conhecimento. Então, na ligação entre o ser e as circunstâncias, os problemas
se transformam em temas geradores do próprio conhecimento.
“A leitura do mundo”, de acordo com Paulo Freire, nada mais é do que uma
leitura de nós mesmos e das circunstâncias que nos rodeiam. Através dessa
leitura reconhecemos que, aquilo que parecia estar somente fora de nós,
está também dentro, como cicatrizes. O educador nos ajudou a descobrir-
nos, porque ele já tinha se descoberto anteriormente e, em si, processou a
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
26 3. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Centauro, 2002, pág. 108.
“A partir das relações do homem com a realidade, resultantes
de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação
e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a
realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que
ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos.
Faz cultura...”. 4
O processo de estabelecer relações políticas entre as pessoas e dessas,
organizadas com a realidade, defendidas por Paulo Freire, é a base fundante
da proposta pedagógica do MST, pois para o Movimento, fazer uma ocupação
ou construir uma escola são atividades de igual importância.
Sair de inóspitos recantos, de acampamentos e assentamentos, para
construir, com trabalho voluntário, a Escola Nacional Florestan Fernandes,
em Guararema, no Estado de São Paulo, para, depois do espaço preparado,
participar dos cursos de formação de militantes, é a dinamização do mundo,
agora sendo criado e recriado pelo fazer das novas relações brotadas da
afirmação da auto-estima. É o valor da solidariedade elevando o ser humano
a uma nova categoria, a de sujeito do velho mundo, só que lido e interpretado
com os olhos do novo sonho.
Assim estar com o mundo é querê-lo e desejá-lo. Os olhos que viam e
descreviam, agora sentem que, ao ler o mundo, pulavam pedaços na leitura,
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
4.FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983, pág. 43. 27
aprendizado era latifúndio, com espaço determinado, agora é imperialismo,
espaço mundial, que tem a cara curtida pela guerra. Lê-lo, significa
interpretá-lo, nunca temê-lo.
Aprendemos com Paulo Freire e na luta que a leitura crítica do mundo amplia
o próprio mundo. E ao lê-lo conscientemente, evita-se cair em enganos e
cometer desatinos.
É esse sentido que se pode extrair das palavras de Paulo Freire, que a força
jamais deve desconsiderar a inteligência. Em oposição ao sectário, pôs o
radical. Enquanto o primeiro se coloca como o único fazedor da história,
o radical “rejeita o ativismo e submete sempre a sua ação à reflexão” 6,
por isso não detém nem antecipa a história. O sectário afasta, não permite
aproximação e desconsidera a ajuda. Por isso, “nada cria porque não ama”.
30 7. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 41.ed. São Paulo: Cortez, 2001, pág. 69.
8. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1982, pág. 79.
por perceber que a obra da alfabetização e da formação das consciências,
iniciadas por ele na década de 1950 no Nordeste do Brasil, continuava viva
no cotidiano da luta por terra, escola e dignidade; e na formação política de
nossa militância. Externou seu contentamento em um depoimento gravado
em vídeo, em novembro de 1996, que dedicou aos educadores e educadoras
do MST, ao dizer, no encerramento de sua fala: “Vivam por mim, já que não
posso viver a alegria de trabalhar com crianças e adultos que, com sua luta e
com sua esperança, estão conseguindo ser eles mesmos e elas mesmas”.9
Não é, mas poderia ser de Paulo Freire, a célebre frase “Proletários de todo
o mundo, uni-vos”, pois esse era o seu sonho, ainda vibrante por todos os
países por onde militou e ensinou.
9. Paulo Freire em MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA. Paulo Freire: um educador do povo.
São Paulo: Associação Nacional de Cooperativa Agrícola, 2001, pág. 40. 31
32
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Da impossibilidade
de existirmos sem os
sonhos e sem a luta
Nita
Ana Maria Araújo Freire
* Ana Maria Araújo Freire (Nita) é doutora em educação pela PUC-SP e viúva do
educador Paulo Freire.
1.FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e terra, 1992, pág. 91-2. 33
mundo melhor, mas também a outros que, não sendo sectários, irão lê-lo
porque querem escutar vozes diferentes da sua.
Estou certa de que, senão a maioria, mas uma grande parte da população
do mundo tem o sonho utópico de construir um mundo no qual as relações
de conflitos sejam resolvidas de forma harmoniosa – e não pela guerra -,
tendo como intuito preservar a grandeza e a inteireza dos seres humanos.
2. Categoria utilizada por Boaventura de Sousa Santos, na Carta Maior, 29, nov.,2004, “O novo século
34 americano”, divulgada pela internet.
O autêntico diálogo freireano do qual tanto precisamos é aquele que, ao
contrário, se rege pela amorosidade, pelo respeito ao diferente e admiração
pela diversidade e pela crença na horizontalidade das relações entre
as pessoas como sujeitos da história para a construção de um mundo
verdadeiramente democrático.
sem limites. Sobretudo, via com clareza, como tantos outros e outras
faziam, que estes se comportavam e norteavam a política mundial com
a intolerância do superior, dos que a ninguém e a nada respeitam, dos
que: “sabem com quem estão falando?” Dos que pensam que a história e
eles mesmos se fazem apenas com o eu exacerbado como demiurgos da
realidade, sem o indispensável tu.
não determinados”. 3
3.FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação – Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora
36 Unesp, 2000, pág. 56-7.
Esta forma pós-moderna de controlar o destino do mundo e de todas
as pessoas, que concentra as rendas nacionais nas mãos de poucas
pessoas e países, distribui, magnanimamente, como necessidade de sua
manutenção, uma política de endividamento, de negação das soberanias
nacionais, de misérias de toda sorte. Fome, doenças, múltiplas penúrias
que vêm fragilizando mais e mais a maioria da população da África e da
América Latina e também segmentos significativos dentro das próprias
sociedades do Norte todo poderoso. Nós, brasileiros e brasileiras, a cada
dia, rigorosamente falando, somos tão destituídos quanto nossos pares
latino-americanos, embora menos do que nossos pais de origem étnica e
cultural, os africanos. Sentindo-nos e sabendo-nos como nunca subtraídos
perversamente em nossas condições e possibilidades de ser, de ter, de
desejar, de querer e de poder.
O que digo é que precisamos não deixar de nos indignar e amar, mas a 37
partir deste sentimento de indignação mesmo – porque pouco ou quase
nada está sendo ouvido da voz de nossa indignação pelos dominantes
acerca de nossos clamores -, nutrir os sonhos que quase sempre podemos
fazer possíveis para continuarmos sendo de fato e nos sentindo como
homens e mulheres sujeitos da história. De existência verdadeira. Para
não deixarmos que a indignação se esvaia completamente, que o espanto
desalentador ou a desesperança desestabilizadora ou o cinismo adaptador
tome conta de nós.
Mais uma coisa acrescento, uma advertência para nossas reflexões: ou nos
identificamos com uma ética libertadora, assim humanista; com as utopias
onde cabem as diferenças, expurgando-nos e expurgando da sociedade
planetária as discriminações e nos solidarizamos na construção social dos
sonhos possíveis da tolerância democrática ou marcharemos a passos
largos e rápidos para a autodestruição total dos seres humanos.
38 4. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1992, pág. 33.
contraditoriamente, dos “sonhos rasgados, mas não desfeitos” 5, podemos
fazer renascer em nós a esperança de uma nova sociedade.
Assim, nós que temos compromisso com um mundo melhor, que sentimos
hoje mais do que nunca que nossos sonhos estão sendo “rasgados”, que,
mais uma vez, procuremos em e com Paulo Freire re-fazer socialmente os
sonhos possíveis de transformação, pois sabemos que só aparentemente
eles foram desfeitos, pois sonhar é destino dado.
“Uma das ilusões liberais é que a instrução, por si só, seja fator
capaz de transformar a sociedade, quando sabemos que em
países como o Brasil o problema só poderá ser solucionado pela
conjugação entre educação e consciência política progressista.
Antonio Candido” 1
Introdução
Alguns dias depois que recebi o convite do Marcelo Aguirre2 para escrever
um pequeno artigo sobre nosso saudoso educador Paulo Freire (1921-1997)
para esta publicação marcando o décimo aniversário de sua morte, uma
notícia publicada em um jornal de São Paulo me forneceu a inspiração que eu
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
42 3.CONSTANTINO, Luciana. Ensino público tem 33 escolas modelo. Folha de São Paulo, 20/12/2006, pág. C4.
4.Editorial. Folha de São Paulo, 24/12/2006, pág. A2.
Para situar melhor essa experiência exporei brevemente algumas concepções
freireanas críticas à educação tradicional e suas propostas alternativas.
Educação bancária
Paulo Freire denominava o modelo tradicional de prática pedagógica de
“educação bancária”, pois entendia que ela visava à mera transmissão passiva
de conteúdos do professor, assumido como aquele que supostamente tudo
sabe, para o aluno, que era assumido como aquele que nada sabe. Era como se
o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos;
depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco. O professor
seria um mero narrador, nessa concepção de educação. Nessa narração a
realidade apareceria como algo imutável, estático, compartimentado e bem
comportado, como se fosse uma “coisa morta”. Se na alfabetização dominava
o “b”, “a”, “ba”, no ensino fundamental e médio deveria dominar a repetição,
a memorização, algo que nas aulas de física se resumiria no “x = xo + vot +
1/2at2” ou “a segunda lei de Newton diz que a força é igual à massa vezes
aceleração”, entre outras tantas fórmulas e frases a serem memorizadas.
Tanto a concepção “bancária” da educação que Paulo Freire também
denominava como a educação como prática de dominação, quanto sua
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
5.Eu mesmo li pela primeira vez o livro mais famoso de Paulo Freire, em 1973, na versão inglesa
Pedagogy of the oppressed, publicada na coleção Penguin Education Titles.
43
“A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e
libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que
os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão
comprometendo-se na práxis com a sua transformação; o segundo,
em que, transformada a realidade opressora, essa pedagogia deixa
de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em
processo de permanente libertação”.6
Sua prática educacional estava baseada nas experiências por ele acumuladas no
campo da educação de adultos em áreas proletárias e sub-proletárias, urbanas e
rurais do Brasil durante as décadas de 50 e 60 do século passado.
6.FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, 1975, pág. 44.
44 7.FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 4ª edição, 1974.
Paulo Freire concluiu a escrita desse livro no exílio em Santiago, capital do Chile, na primavera de 1965.
Como proporcionar-lhes os meios necessários para superar suas atitudes,
mágicas ou ingênuas, diante da realidade? Paulo Freire apresentava sua
resposta propondo: a) um método ativo, dialógico, crítico e criticista; b) uma
modificação no conteúdo programático da educação levando em conta a
realidade vivenciada pelo educando; c) o uso de técnicas como a da redução
temática e da codificação.
De uma forma bem abreviada estas são as várias fases de elaboração do método8:
TA TE TI TO TU
LA LE LI LO LU
JA JE JI JO JU
educação progressista.” 12
12.DELIZOICOV, Demétrio. Conhecimento, tensões e transições. Tese de Doutorado, FEUSP, São Paulo,
1991, pág. 131.
47
guardava alguma semelhança com o que foi descrito acima sobre a escolha
das palavras geradoras do processo de alfabetização. A seleção de elementos
culturais representados pelas diferentes áreas do conhecimento passou por
um processo de várias etapas para a construção curricular, com base na
interdisciplinaridade, e por vários momentos pedagógicos para a construção
da organização didática a ser trabalhada com os alunos nas unidades de
ensino. Todo esse processo envolveu professores das diferentes áreas do
conhecimento e a assessoria composta pelos docentes universitários, além
dos alunos, demais trabalhadores em educação e representantes de pais de
alunos.
A definição do tema gerador que iria ser utilizado por determinada escola
não era uma tarefa fácil e rápida. Ao contrário, exigia uma discussão e
aprofundamento de potenciais temas geradores que muitas vezes chegava a
ser dramático. Muitas vezes era difícil para professores e alunos aceitarem
que sua escola e seu bairro fossem problemáticos a tal ponto que gerassem
temas para serem debatidos no currículo escolar.
14.SILVA, Antonio Fernando Gouvêa da. A construção do currículo na perspectiva popular crítica: das
falas significativas às práticas contextualizadas. Tese de Doutorado, PUC/SP, São Paulo, 2004.
15.MÉSSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005, pág. 47.
16.FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática pedagógica. São Paulo:
Editora Paz e Terra, 1997, págs. 126-127.
51
52
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Compromisso e
competência na gestão
educacional: uma lição
de Paulo Freire.
Lisete R. G. Arelaro*
Não por acaso, durante muito tempo falou-se mais num tal “método de
alfabetização paulofreireano” que produzia milagres, já que em somente 30
horas – diziam - um analfabeto poderia se transformar em um “leitor do
mundo”, agora, alfabetizado.
Foram necessários bons anos, para que o próprio Paulo Freire desmentisse,
de forma convincente e definitiva – essa “criação” que a mídia havia
produzido, ajudado por um amigo jornalista, que mais do que lançar a notícia
“espetaculosa” – como ele gostava de se referir – do “método mágico”
esperava conquistar a atenção de muitos, em especial dos dirigentes e
54 políticos nacionais, para um problema que, até então, parecia insolúvel, dadas
as condições de desigualdade social do Brasil. Estávamos nos anos 60. E
o jovem Paulo Freire, quanto mais testava, na prática, essa nova concepção
de educação e de processo ensino-aprendizagem, mais se convencia de
que “ouvir” o outro, com os ouvidos “de dentro”, implicava em reconhecer
e se formar no processo cidadão do diálogo, do respeito aos pensamentos
diferentes, aos diferentes jeitos de ser, estar, sentir e criar.
Nessa concepção, não há mais o chefe “que manda”, porque tudo sabe, e
este “saber“ lhe dá poder, mas o “colega” de equipe, que coopera, que apóia,
que coordena. E cada um da “equipe”, tem, a partir de metas construídas em
função de um objetivo comum, um conjunto possível e variado de tarefas e
funções a desempenhar.
É por isso que na sua teoria, o professor não é o que tudo sabe, e o aluno,
um corpo vazio onde se “colocam” conhecimentos. Por ela, professor e
aluno têm uma relação – necessária teoricamente – de camaradagem, de
companheirismo e de respeito, nos seus diferentes papéis, que interfere
e modifica o próprio processo de aprendizagem. Assim, passa a ser 55
compreensível que o professor não seja simplesmente “quem tudo sabe”, e o
aluno o que, “passivamente, aprende”, mas, ao contrário, uma aprendizagem
em processo que envolve todos os personagens.
Na sua origem, e tendo Paulo Freire como referência efetiva, a razão maior
que motivava o PT para a disputa institucional, era a certeza da importância
histórica da mobilização popular, que através de Conselhos Populares, de
caráter deliberativo, motivassem os diferentes grupos sociais e movimentos
populares a se fazer presentes, com sugestões e propostas de políticas
que melhor orientassem a ação pública dos dirigentes, democraticamente
escolhidos pelo voto universal.
Sabia, ainda que isso não abatesse sua militância e esperança nos
movimentos sociais, que o sistema capitalista brasileiro – com os apelidos 57
que se adotasse: periférico ou emergente – era muito mais forte e tinha raízes
mais profundas, que uma gestão municipal pudesse combater ou contestar.
“Sentia”, pelas suas caminhadas pelo mundo, a proximidade de discursos
mais combativos do capitalismo internacional.
Nesta lógica, os que nada – ou pouco - “rendem”, ainda que por culpa do
sistema político e econômico, devem ser eliminados, e, caso não se consiga
eliminá-los totalmente, por conta dos antigos e retrógrados direitos sociais,
temos que fazer com que seus encontros (passagens?) nas escolas, sejam
os mais breves possíveis. Não por acaso, da UNESCO ao Banco Mundial,
as indicações de “flexibilização” das propostas educacionais embutem a
necessidade da formação, a mais rápida possível dos “sem consumo” – os
pobres, como tradicionalmente eram chamados.
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Paulo Freire resistiu à tentação de “baixar atos” pelo Diário Oficial, sem que
os mesmos tivessem sido discutidos – às vezes, até de forma exaustiva, pelos
envolvidos na decisão. Teve coerência – e paciência histórica – para propor 61
idéias arrojadas, e ao mesmo tempo, teve humildade para reconhecer que,
nem sempre, a rede municipal, no seu conjunto, tinha condições pedagógicas
e políticas de aceitar essas idéias, voltando atrás.
Essa coerência, por certo, não é fácil de ser mantida. Mas, ainda que não
acreditasse que a formação crítica acontecesse a partir de conteúdos formais
ou de disciplinas específicas, mantinha sua fé na escola e na pessoa humana,
de que a educação política, realizada também pela escola, na busca de uma
62 educação cidadã, que tivesse significado para a vida das crianças, jovens e
adultos que nela estavam, exigiria a busca da igualdade a ser construída para
além do sistema capitalista.
Por isso, nós todos, que tivemos o privilégio de conviver com ele, afirmamos:
Paulo Freire vive! Morreu, sem morrer, pois sua obra e seus sonhos ficaram
e germinaram. E nossa melhor homenagem, a esse homem íntegro, é – como
insistia ele – não “repetir” as suas palavras, mas “buscar novos sentidos”,
novos caminhos e sonhos, aos que virão...
63
64
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Paulo Freire:
utopia e esperança
Mario Sergio Cortella*
Ilusão de ética
Dez anos já se passaram desde que, no final da madrugada de 2 de maio de 1997
(uma sexta-feira, dia chamado de veneris no calendário romano da Antigüidade,
em homenagem a Vênus, deusa do Amor...), aconteceu a morte do corpo de
Paulo Freire. Dez sem ouvir, de viva voz, o Mestre nos alertando para os riscos da
complacência política e da conivência ingênua.
Miopisar! Deixar míope, dificultar a visão, distorcer o foco. Isso nos lembra
a conjuntura atual da República brasileira, na qual muitos daqueles aos quais
cabe constitucionalmente a tarefa de proteger a Justiça, a Democracia e a
Cidadania, fraturam a honradez e a legitimidade social, impondo, mais do
que uma ilusão de ótica, uma ilusão de Ética. É a transformação em “normal”
de uma opaca ética do vale-tudo, do uso privado dos recursos públicos, do
exercício da autoridade legislativa para tungar benesses particulares, da outorga
judiciária para obter a locupletação exclusiva.
Primavera do patriarca
Pouco mais de um mês após a morte de Paulo Freire, publiquei uma reflexão
sobre ele e a sedução da esperança. Gostaria de celebrar essa lembrança com a
retomada de um trecho daquela mesma homenagem, pois penso que se mantém
dela a vivacidade.
“Paulo Freire (1921-1997) foi uma pessoa encantadora nas múltiplas acepções
que esse adjetivo carrega. Encantava as pessoas (no sentido de enfeitiçá-las)
com sua figura miúda (grande por dentro), seu sotaque pernambucano (jamais
abandonado) e sua barba bem cuidada (herança profética).”
Seu maior poder de encantar tinha, no entanto, outra fonte: uma inesgotável
incapacidade de desistir. De algumas pessoas se diz que são incapazes de fazer
o mal, são incapazes de matar uma mosca, são incapazes de ofender alguém;
Paulo Freire sofria (felizmente para nós) dessa outra incapacidade: não perdia a
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
esperança.
Cabe perguntar: esperança em que? Na reinvenção do humano, na necessidade
de inconformar-se com as coisas no modo como estão. Dizia ele que “uma das
condições fundamentais é tornar possível o que parece não ser possível. A gente
tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível. Isto faz parte da
tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o mundo”.
Tarefa histórica era uma expressão muito usada por Paulo Freire; ora, de quem
recebera ele essa tarefa? De si mesmo, na sua relação com o mundo real; sua
consciência ética apontava sempre como imperativa a obra perene da construção
da felicidade coletiva. 67
Ele encarnou, como poucos, um dos ideais da Grécia clássica que dizia ser a
Eudaimonia o objetivo maior da Política (da vida na polis); literalmente eu/bem +
daimonia/espírito interior, significaria paz de espírito, mas sua tradução oferece
um ótimo trocadilho em português: felicidade e, também, feliz/cidade.
Foi exatamente esse ideal (a política como busca da felicidade de todos e todas)
que conduziu Paulo Freire para a educação e, nela, para a prática libertadora.
Paulo Freire não era (e nem poderia ser) uma unanimidade; fez uma opção pelo
enfrentamento político e existencial e, dessa forma, só um resultado anódino de
suas idéias e práticas conseguiria situá-lo no altar ascético (e inerme) daqueles
que são aceitos por qualquer um. Afinal, mede-se, também, o alcance do que
se faz pela qualidade dos adversários que se encontra e das oposições que se
manifestam.
Caminhos e escolhas
Em uma manhã de fevereiro de 1992 (lá se vão quinze anos), logo no início do
ano letivo, tive a oportunidade de passar algumas prazerosas e encantadoras
horas na companhia de Paulo Freire. Fazíamos uma entrevista cuja finalidade
era, depois, se transformar em um depoimento, publicado, em 1997, no livro
Rememória – Entrevistas sobre o Brasil do século XX 1. Grande aula naquele dia.
68 1.AZEVEDO, Ricardo Rememória – Entrevistas sobre o Brasil do século XX. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 1997.
Enquanto conversávamos na sala da casa em que vivia com Nita Freire, distraí-
me por um minuto ao observar um aparelho de som, sobre um aparador mais
ao fundo. Toca-discos ainda era um objeto comum, numa época em que os CDs
– agora já rumando para a obsolescência – estavam apenas iniciando sua difusão
mais acelerada. Durante a entrevista, como uma deliciosa trilha sonora, havia uma
música de Bach rodando em um compact disc. No entanto, minha atenção dirigia-
se a alguns antigos discos de vinil alinhados sob o móvel, o mais visível com
músicas de Geraldo Vandré.
No mesmo instante, vendo a capa do disco, seja por ser começo de mais um ano
docente, seja por estar frente a Paulo Freire, alguém que, aos 71 anos, ensinava
há mais de meio século, lembrei-me dos versos iniciais da música O Plantador,
de Geraldo Vandré e Hilton Accioly (lançada no disco Canto Geral, em 1968, em
plena ditadura política e durante o exílio de Freire no Chile):
Viver sinceramente o “quanto mais eu ando, mais vejo estrada, mas se eu não
caminho, eu sou é nada”. Viver docentemente.
Especial humildade
Em setembro de 1994, Paulo Freire concedeu uma entrevista à educadora
equatoriana Rosa Maria Torres, grande estudiosa e conhecedora da obra do
inestimável mestre que, naquele mesmo mês, completava 73 anos. A conversa
só foi publicada de fato na Argentina, em maio de 1997, poucos dias após o
falecimento de Paulo Freire, mas, em 2001, quando ele faria 80 anos, saiu uma
tradução em português no livro Pedagogia dos sonhos possíveis 2 , organizado
por sua mulher, a educadora Ana Maria Araújo Freire.
71
72
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Paulo Freire
e o Projeto Mova-SP
Sílvia Telles*
Apesar do golpe militar de 1964 e de seu exílio, Paulo Freire continua sua luta
por uma educação libertadora nas suas andanças pelo mundo e, no Brasil,
nas décadas de 1960 a 1980, os movimentos populares e inúmeros militantes
continuam seus trabalhos de alfabetização de adultos na clandestinidade.
Momentos extremamente duros, mas que foram muito alimentados pelo ideário
e pelas experiências do grande educador, que mesmo longe não deixava de
contribuir para a resistência de um trabalho político-social-educativo em um
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
3.O final da década de 1980 também foi marcado por um movimento internacional de combate ao
analfabetismo, definido pela declaração da UNESCO, onde o ano de 1990 seria o “Ano Internacional da
Alfabetização”, com a proposta de erradicar o analfabetismo em dez anos.
4. FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo: Cortez, 1992.
75
Ao ser anunciado para Secretário de Educação o nome do professor Paulo Reglus
Neves Freire - conhecido pela “Pedagogia do oprimido”, educador popular
por excelência, responsável pela existência política de vários dos movimentos
existentes - a expectativa de todos os educadores tornou-se enorme. Os
movimentos imediatamente se reuniram e, antes mesmo de iniciar a gestão,
lideranças dos movimentos populares discutiam um projeto em que estes
tivessem participação efetiva no processo de alfabetização de jovens e adultos.
O MOVA-SP não se constituiu em uma ação isolada, e deve ser analisado num
contexto mais amplo da atuação da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo pois, juntamente com o Programa de Educação de Jovens e Adultos (EDA)
76 e o Programa de Alfabetização de Funcionários, fez parte de uma entre as quatro
prioridades básicas que nortearam a ação política daquele governo.
Essa era a primeira vez que um governo da cidade de São Paulo colocava em suas
diretrizes políticas de educação uma preocupação explícita com a educação de
jovens e adultos, traduzindo-se em projetos efetivamente concretizados.
Cabe ressaltar, com muita ênfase, que – segundo Paulo Freire - o princípio que
norteou o projeto em parceria com os movimentos populares não previa de
forma alguma a desobrigação do Estado para com o processo de escolarização
da população, mas sim uma estratégia para se garantir a participação popular na
construção da política de educação do município e na disputa política para que
jovens e adultos excluídos se motivassem para a alfabetização.
Falar em Educação de Jovens e Adultos no Brasil é falar sobre algo muito pouco
conhecido; ao se falar, o debate se concentra na situação de miséria social, das
precárias condições de vida da maioria da população e nos resultados do sistema
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
público regular de ensino, não existindo uma discussão consistente sobre qual
educação é necessária a esse segmento excluído do sistema escolar. Via de
regra, qualquer educação oferecida a eles já é considerada um dado significativo,
usando-se a lógica que, aos pobres, qualquer “educação” basta, principalmente
dirigindo-se a adultos que “pouca possibilidade de aprendizado apresentam”.
Para tanto, o processo de formação não foi concebido como mais um trabalho
voltado para educadores, mas construído e organizado coletivamente, em busca
de uma prática que avançasse na qualidade desse atendimento e na construção
de uma educação pública democrática. Sua palavra chave foi participação, uma
PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
79
Requerimento Nº 23 / 2007
(do Deputado Ivan Valente e outros)
Senhor presidente:
JUSTIFICATIVA
Paulo Freire ficou mundialmente conhecido a partir dos anos 60, quando
desenvolveu proposta revolucionária de alfabetização através da qual, para além da
mera aquisição da linguagem escrita, a partir da realidade vivencial dos educandos e
do diálogo permanente, busca-se a leitura e a compreensão crítica do mundo, para
poder transformá-lo.
Suas idéias fizeram com que, nos anos duros da ditadura militar, fosse exilado
por dezesseis anos, porém, continuou a desenvolver seu trabalho e sua teoria do
conhecimento em diversos países reafirmando sua opção política e sua concepção de
educação, democrática e popular, dialética e dialógica e mostrando a intencionalidade
do ato educativo.
80
Nos anos 80, com a Lei da Anistia, retorna ao Brasil e volta à atividade docente
como Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC e também
Professor da Universidade de Campinas – UNICAMP.
Paulo Freire nos deixou aos 75 anos, vítima de infarto, no dia dois de maio de
1997, na cidade de São Paulo.
Sala de Sessões, 02 de fevereiro de 2007. PAULO FREIRE VIVE! HOJE, DEZ ANOS DEPOIS...
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP
Luiza Erundina
Deputada Federal PSB/SP
Chico Alencar
Deputado Federal PSOL/RJ
81
CANÇÃO ÓBVIA
Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso esperar, na forma em que esperas,
porquê esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente ,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.
Paulo Freire
Genebra, março 1971.
Produção Editorial:
Assessoria do mandato Ivan Valente PSOL/SP
”
dignificou a Educação e o Brasil.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP
www.ivanvalente.com.br