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Manuela Teixeira

EB2,3 de Toutosa

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE O NOVO MODELO DE AUTO-AVALIAÇÃO


DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES

RESUMO

Pretende-se, com este trabalho, proceder à análise crítica do recentemente


publicado MODELO DE AUTO-AVALIAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES,
enquanto “instrumento pedagógico e de melhoria de resultados”; verificar a
“ pertinência “ da sua aplicação às Bibliotecas Escolares em geral; a
“adequação” da sua “organização estrutural e funcional” e os eventuais
“constrangimentos por esta provocados”; A sua “aplicação” e respectiva
“integração” na realidade de cada escola, e ainda, as “competências” de
que o referido documento pressupõe ser o professor bibliotecário detentor,
e as estratégias de que deverá socorrer-se para a sua prossecução.

CONCEITOS IMPLICADOS

Aprendizagem ao longo da vida; processo pedagógico e regulador;


perspectiva formativa; articulação com o PEE; Articulação com os outros
intervenientes no processo de ensino/aprendizagem (comunidades de
aprendizagem); mobilização de toda a escola; acção colectiva;
acessibilidade e qualidade, adequação da colecção e recursos tecnológicos;
impacto; Integração no processo de auto-avaliação da escola; adaptação á
realidade; abordagem (…) orientada para uma análise dos processos e dos
resultados; melhoria; pontos fortes e pontos fracos; noção de valor;
exequibilidade, registo escrito; evidências; domínios e perfis de
desempenho.

INTRODUÇÃO

Durante o meu primeiro ano de funções como coordenadora da BE da minha


escola, no Ano Lectivo de 2005/2006, programei e executei, com a ajuda da
minha equipa de trabalho, uma actividade que designei “Café/Chá com
letras”, inspirada na frequência de um bar especialíssimo de Ponta Delgada,
no qual se tomava café enquanto se percorriam as novidades bibliográficas
expostas em estantes, ou se liam excertos das mesmas, (um conceito,
agora, vulgar, mas muito original naquela altura), e cujo nome era (ou ainda
é) “ Café com Letras”. Essa actividade, que reuniu todo o Staff do
Agrupamento em torno de uma mesa enorme onde se misturavam
chávenas, bules, bolos, livros e periódicos de qualidade reconhecida, tinha
por finalidade a criação de um Clube de Leitura entre os adultos desta
comunidade escolar, e resultara da consciência de que seria impossível
desenvolver hábitos de leitura e o prazer de ler nas crianças, senão através
da intervenção activa de Verdadeiros Leitores.

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A actividade, que teve um sucesso estrondoso em termos mediáticos, e


que, por isso, partilhei com vários colegas em formação, na altura, revelou-
se um verdadeiro “fiasco” no que diz respeito aos resultados pretendidos.
Do desejado Clube de Leitores não restaram sequer meia dúzia de pessoas
que lêem, eventualmente, “gostariam de ler mais” mas “ não têm tempo”…
Posto isto, no ano seguinte decidi introduzir-lhe alterações que se
prenderam com uma ligeira introdução ao funcionamento da CDU, seguida
de um “Jogo” de procura de documentos, no interior dos quais se
encontrariam marcadores de livros, assinalando a presença dos “aforismos”
escolhidos “a dedo” e estrategicamente colocados nos pires, em rolinhos de
papel atraente, na expectativa de que, quem os encontrasse, desejasse
prosseguir a leitura dos mesmos no respectivos contextos, e que, no limite,
isso os motivasse à sua leitura integral. Constatei, com tristeza, que o
número dos leitores do clube não se alterou significativamente desde essa
altura, e que o seu impacto sobre os alunos no que diz respeito ao
incremento da leitura por prazer, ou na busca do conhecimento, foi pouco
ou nada visível. Apesar da pressão sofrida para continuar com a actividade,
e do risco de eu poder acreditar que a frase de «(…)we want more of
this»(TODD:2001), poderia, por si só, significar que se tratava de uma
evidência de sucesso em termos de resultado, verifiquei que não passava
de uma evidência de sucesso em termos de processo, sem consequências
ao nível dos resultados e, por isso, decidi suspender esta actividade, sine
die, e partir para outras experiências em perseguição dos mesmos
objectivos.

A partir desta experiência, fiquei com a noção clara de que deveria deixar
de me centrar na eficiência e passar a avaliar a eficácia das acções
desenvolvidas, cujo investimento excessivo de energia poderia inviabilizar a
realização de outras eventualmente mais eficazes. A grande questão que se
me colocava era a de saber como comprovar, objectivamente, essa eficácia.
Esta é uma reflexão que tenho vindo a desenvolver ao longo dos meus três
anos de actividade.

Penso que este exemplo é um bom ponto de partida para a reflexão em


causa, tendo em conta que, « (…)Energy goes where the attention flows
(…) and the attention we are giving and needing to the challenges (…) may
not bring about the desired effect(…)»(TODD:2001)

Ora, o efeito desejado prende-se, neste caso, com objectivos de carácter


local, mas integrados numa política educativa nacional, e comum a todas as
sociedades democráticas, que valoriza a educação como processo essencial
de aquisição de conhecimento (daí a relevância dada ao desenvolvimento
das literacias), de conquista de autonomia e de flexibilidade (capacidade de
aprendizagem ao longo da vida que, supostamente, facultará uma
adaptação às mudanças vertiginosas que ocorrem na dita sociedade da
informação), e desejavelmente, conduzirá à ideia de que a transformação
da sociedade para melhor, e a resposta aos problemas emergentes, é da
responsabilidade de todos.

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Este novo paradigma da educação, que consiste em estabelecer padrões


de aprendizagem que correspondam a « (…)outcomes , using descriptions
such as “ inquire, think critically, and gain knowledge” ;“draw conclusions,
make informed decisions”;”apply knowledge to new situations, and create
new knowledge”;” share knowledge and participate ethically and
productively as members of our democratic society” and “ pursue personal
and aesthetic growth(…)»(TODD:2008) não se compadece da nossa falta de
tempo para, em simultâneo apoiar o desenvolvimento curricular ,
desenvolver as literacias , participar em todo o tipo de projectos
envolvendo verdadeiras comunidades de aprendizagem e gerir a
biblioteca escolar. Pela

mesma razão, não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar um tempo de


que não dispomos, recorrendo permanentemente ao processo de
tentativa/erro, sem a preocupação de avaliar os processos e os produtos, no
sentido de sabermos se estamos a encaminhar correctamente os nossos
alunos para essa urgente responsabilidade social, por um lado, e para a
utilização da criatividade pessoal, tão necessária em contextos sempre
novos.

O documento em análise, veio, no meu caso particular, oportunamente, não


só ajudar-me a organizar as ideias, como também, legitimar uma convicção
que já possuía: a da necessidade premente de proceder à avaliação do
valor e da eficácia das acções desenvolvidas em termos de resultados, o
que tem sido, aliás defendido por um conjunto de investigadores : uma
«(…)evidence-based practice is about ensuring that your daily efforts put
some focus on effectiveness evaluation that gathers meaningful and
systematic evidence on dimensions of teaching and learning that matter to
the school and its support community, evidences that clearly convey that
learning outcomes are continuing to improve(…)» (TODD:2001)

Parece-me, pois, estar provada a pertinência da existência do documento


em análise, tanto mais que, presumo que as minhas dúvidas sejam
partilhadas pela maioria dos que, no terreno, enfrentam diariamente o
desafio de tentar solucionar os problemas emergentes desta sociedade em
permanente mutação, para os quais há já muito tempo deixou de haver
receitas prontas a consumir como acontecia no passado. Este documento,
por ter sido elaborado com base em estudos credíveis, por se centrar no
que de essencial deve ser feito em qualquer biblioteca escolar, e por
permitir uma rentabilização de recursos e de tempo, tão preciosos,
conforme referido acima, é, na minha opinião de uma grande utilidade e
oportunidade.

Para além das necessidades centradas em cada uma das bibliotecas


escolares, há, ainda, a necessidade de avaliar a qualidade e eficácia dos
serviços prestados pela generalidade das bibliotecas escolares, justificando
a existência de um organismo que coordena o seu trabalho-a RBE- e
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revelando a eficácia do trabalho por esse organismo desenvolvido junto de


cada uma dessas bibliotecas, prosseguindo, por sua vez, objectivos de
política educativa nacional. A existência de um documento que tipifica as
situações susceptíveis de serem avaliadas em cada uma das BEs é
fundamental para a recolha e tratamento de dados à escala nacional.

Assim, a organização estrutural e funcional da auto-avaliação da biblioteca


em torno de quatro domínios distintos, (expressos na página 6) parece-me,
de uma indiscutível utilidade, tendo em conta a enorme variedade de
tarefas diariamente desenvolvidas pela BE, o respectivo inter-cruzamento
permanente, e a imensa carga de trabalho que envolvem. Uma criação
individual e solitária de um documento no qual se isolasse cada uma das
partes do trabalho a avaliar, e para a qual se encontrassem todos os
indicadores e descritores que conduzissem ao respectivo perfil de
desempenho, representaria um trabalho hercúleo e um enorme desperdício
de recursos, para além de potenciar escolhas demasiado diversificadas,
tendo em conta o grau de importância atribuído por cada um às diversas
facetas do trabalho da BE, o que inviabilizaria um tratamento eficaz dos
dados recolhidos, a nível nacional. A existência de um documento
normalizado que nos sirva de ponto de partida, é extremamente oportuna,
para uma recolha e tratamento mais cabais e adequados dos dados a
avaliar.

A aplicação integral ou parcial deste modelo de avaliação à realidade de


cada escola, dentro do prazo estabelecido (de três anos), vai depender de
inúmeros factores, desde a formação e experiência dos professores
bibliotecários e respectiva equipa, e da perspectiva da importância do
trabalho da BE, por parte das chefias, passando pelo grau de resistência à
mudança por parte de um maior ou menor número de intervenientes no
processo, por uma adequada afectação de fundos e de recursos humanos,
até à necessária erradicação dos maus hábitos estabelecidos.

Quanto às competências requeridas pelo professor bibliotecário para que a


aplicação deste modelo possa ser exequível, são tantas e tão variadas que
receio esquecer-me de algumas. « «As an information specialist, the school
librarian provides leadership and expertise in acquiring and evaluating all kinds of
information; builds collaborative relationships with teachers, administrators,
students, and others; and creates strategies for locating, accessing, and evaluating
information within and beyond the library media center(…)» Esta intervenção de
carácter profissional é condição indispensável para « (…) equip[s] students
with lifelong learning skills and develop[s] the imagination, enabling them to
live as responsible citizens(...)»(TODD:2001) Estas exigências requerem que
o professor bibliotecário detenha capacidade Informacional; capacidade
transformativa; capacidade formativa; capacidade de liderança, autonomia;
cooperação, gestão de recursos documentais e humanos, organização,
avaliação,… e não só porque «(…)you will not be heard until your day-to-day
practice is evidence-based; a practice that is directed towards demonstrating the real
tangible power of your contribution to the school's learning goals -- goals that while

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expressed in many different ways, have at their heart concepts of knowledge


construction and human understanding. The evidence of your direct, tangible
contribution to improving learning in your school should be the substance of your
message, the substance of your public concern, the substance of your
negotiations(…)»(TODD:2001).Deverá, pois, ter também capacidade de negociação,
marketing, antecipação, mediação, selecção e avaliação de recursos,
criatividade; domínio das TIC; domínio das novas correntes pedagógicas;
conhecimento profundo dos novos paradigmas educativos; familiaridade
com o processo de e-learning; conhecimento do funcionamento dos novos
espaços virtuais; conhecimento de instrumentos de avaliação de serviços e
resultados e respectiva forma de aplicação; conhecimento da política
educativa; conhecimento dos métodos de ensino-aprendizagem mais
utilizados no seu local de trabalho; conhecimento dos níveis de desempenho
dos alunos; participação em lobbies de decisão; porque os «(…)Principals,
teachers, parents, want to hear local success, local improvement; they want to know
how their students in particular are benefiting, not how others are
doing(…)»( TODD:2001) , e ainda, espírito de iniciativa/ proactividade; auto-
avaliação; profissionalismo; espírito democrático.

Não poderá , por isso, deixar escapar qualquer oportunidade de se tornar


facilitador de aprendizagem; deverá aprofundar os seus conhecimentos
especializados ao nível do tratamento documental; deverá implementar
instrumentos de avaliação, selecção, aquisição e desenvolvimento da
colecção; deverá planificar correctamente a coordenação do trabalho a
desempenhar pelos membros da equipa e colaboradores (distribuição dos
trabalhos rotineiros para poder executar os trabalhos pedagógicos); deverá
definir prioridades; conhecer bem o currículo nacional e proceder a uma
articulação permanente com o mesmo; deverá seleccionar e/ou elaborar
recursos educativos de qualidade; criar portais com recursos electrónicos
seleccionados e validados; reconhecer a importância fulcral das tecnologias
na sociedade da informação; deverá ter consciência da emergência de
novos paradigmas educativos dominados pelas TIC; deverá recorrer a
métodos de e-learning em variadas circunstâncias; estabelecer quais os
dados que importa recolher para avaliar o impacto dos serviços da BE nos
resultados escolares; criar todo o tipo de instrumentos de recolha de dados
relevantes, analisá-los, tratá-los e divulgá-los. Para além de tudo isto tem
que corresponder à necessidade premente de dotar os alunos de
capacidades de aprendizagem ao longo da vida, pelo que terá que
investigar continuadamente novos processos de ensino/aprendizagem.

Referências Bibliográficas
TODD,Ross-Key challenges facing teacher librarians. In TODD, Ross-
The 2001 IASL Conference[em linha]. Auckland: International
Association for school Librarianship,2001. [consult. 3

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Library Journal,2008.[ consult. 3 Nov.2009].Disponível
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