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Este artigo foi extraído da Revista Jurídica dos Formandos em Direito da Universidade
Católica do Salvador 2006.2, onde foi publicado pela primeira vez, no ano de 2006, com o
título “A relativização da cláusula de irrecorribilidade dos despachos na oposição de
embargos de declaração“, quando então conquistou o 2º Lugar no Concurso de Artigos da
Revista, Categoria Graduando.
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Neste caso, em que pese o silêncio da lei, entende-se plenamente possível a interposição
do referido recurso, vez que: (i) o CPC só faz referência a sentenças e acórdãos nos casos de
obscuridade e contradição (art.535, I, CPC), nada dizendo nos casos de omissão (art. 535, II,
CPC); (ii) é exigência constitucional que todas as decisões judiciais sejam fundamentadas,
sob pena de nulidade (art. 93, IX, CF), sendo o instrumento processual cabível para sanar
omissão, obscuridade e contradição, viciadores de uma devida fundamentação, os embargos
declaratórios e (iii) o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF)
exige que não somente se garanta o acesso ao Judiciário, como também que a tutela a ser
prestada seja clara, lógica, plena. Por todos, consultar Fredie Didier Jr. e Leonardo da Cunha
in Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos
tribunais. Salvador: Juspodium, 2006. p. 137 e 138.
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CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 13º edição. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2006. vol. II. p. 122. Nota de rodapé nº 126. Aduz Nelson Nery ainda: “Dizer que
se trata de despacho recorrível é violar o sistema do CPC, que resolve de forma satisfatória a
questão” in Código de Processo Civil Comentado. 7º edição. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003. p. 563. nota 11 do art. 162.
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Redação alterada pela Lei nº 11.276/06. Redação antiga: “dos despachos de mero
expediente não cabe recurso”. Por ser redundante, foi suprimida a qualificação “de mero
expediente”. Sobreleva-se que sobredita alteração em nada modificou o entendimento aqui
expendido, pelo menos no que toca a interposição dos embargos de declaração.
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Ocorre que, muitas vezes, os despachos carregam conteúdo decisório, ganhando natureza
de verdadeira decisão interlocutória, a despeito do nomen juris de despacho. Com isso,
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ordena ato a ser praticado por outrem, seja parte, seja auxiliar de justiça. Se
assim não fosse, o processo quedaria inerte, alongando ainda mais algo que já
é demorado por sua natureza.
Não bastasse, o princípio do contraditório8 (art. 5º, LV, CF) exige que
as partes tenham ciência dos atos (incluindo-se, pois, os despachos) e termos
do processo e oportunidade para se manifestar sobre os mesmos. Proferido
despacho que, v.g., ordene a parte que junte documento e não sendo possível
a esta a compreensão do quanto escrito, porque redigido à mão com letra
ilegível, haverá violação ao contraditório e passível estará o despacho de ser
impugnado por embargos de declaração.
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Para um estudo mais profundo, consultar: NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo
civil na Constituição Federal. 6º edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000; No sentido
que vai no texto: CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. vol. I. 15º
edição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.
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Deve-se dizer que a posição do insigne Ministro ainda é minoritária, senão isolada, no STF.
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Embargos no Agravo de Instrumento nº 260.674/ES. DJ 26.06.2001. p. 84.
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Referências:
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. vol. I. 15º edição.
Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.
________. Lições de Direito Processual Civil. vol. II. 13º edição. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2006.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. vol. 1. Salvador: Juspodium,
2006.
_______e CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil:
meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. Salvador:
Juspodium, 2006.
NERY, Rosa Maria de Andrade e NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil
Comentado. 7º edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6º edição. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004.