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A poesia dos heterónimos

A génese

1. Lê os dois textos que se seguem.

TEXTO A

Eu sou uma antologia.


‘Screvo tão diversamente
Que, pouca ou muita a valia
Dos poemas, ninguém diria
Que o poeta é um somente.

Assim deve ser – qualquer,


Enfim porque já o seja –
Pode ser um, porque o é.
O poeta deve ser
Mais do que um, para poder.

Depois para si o poeta


Deve ser poeta também.
Se ele não tem a completa
Diversidade
Não é poeta, é só alguém…

Eu, graças a Deus, não tenho


Nenhuma individualidade.
Sou contra o mundo.

Fernando Pessoa, in Fernando Pessoa e a Geração de Orpheu,


Planeta DeAgostini in Visão, 18 de Março de 2004
TEXTO B

(…) o autor destas linhas (…) nunca teve uma só personalidade, nem pensou nunca, nem
sentiu, senão dramaticamente, isto é, numa pessoa, ou personalidade, suposta, que mais
propriamente do que ele próprio pudesse ter esses sentimentos.
Há autores que escrevem dramas e novelas; e nesses dramas e nessas novelas atribuem sen-
timentos e ideias às figuras, que as povoam, que muitas se indignam que sejam tomados por
sentimentos seus, ou ideias suas. Aqui a substância é a mesma, embora a forma seja diversa.
A cada personalidade mais demorada, que o autor destes livros conseguiu viver dentro de si,
ele deu uma índole expressiva, e fez dessa personalidade um autor, com um
livro, ou livros, com as ideias, as emoções, e a arte dos quais, ele, o autor real (…),
nada tem salvo ter sido, no escrevê-las, o médium de figuras que ele próprio criou.
(…) Ele [o autor] nem concorda com o que nelas vai escrito, nem discorda. Como se lhe fosse
ditado, escreve (…).
Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que anali-
se, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens
essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e ideias os
escreveria.
Assim, têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser
considerados. (…)

Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação,


textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Ática
1.1. No primeiro verso do TEXTO A, o sujeito poético apresenta uma tese.
1.1.1. Sugere um conector que ligue este verso aos seguintes, estabelecendo uma relação
de causalidade.
1.1.2. Explica a afirmação do primeiro verso, tendo em conta o sentido dos quatro versos
seguintes.

2. Qual é, na segunda estrofe, a expressão que dá conta da convicção do sujeito poético na


teoria que acabou de expor?

3. Lê o TEXTO B e completa, com os conectores adequados, as afirmações seguintes.


a. ______________ os autores de novelas e romances criam personagens para as suas
obras, ___________________ Fernando Pessoa criou diferentes figuras para exprimir as
suas diferentes personalidades.
b. Muitas foram as personalidades que nasceram dentro do poeta, __________________
ele só deu “índole expressiva” àquelas que mais se impuseram dentro de si.
c. Fernando Pessoa ____________ foi _____________ o intermediário entre as diferentes
personalidades que viveu e as respectivas produções poéticas.
d. ___________________ tenham nascido todas dentro do poeta, as várias personagens
são diferentes entre si e dele próprio.
e. A poesia de Alberto Caeiro, de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos ________________
expressa ____________ os sentimentos ________________ as ideias do próprio Fernando
Pessoa.

4. Relaciona as duas últimas estrofes do poema com o conteúdo do TEXTO B.

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