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TEMPO COMUM. TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO.

CICLO B

74. O VALOR DA ESMOLA


– Dar não só do supérfluo, mas até daquilo que nos parece necessário.

– A esmola manifesta o nosso amor e a nossa entrega ao Senhor.

– Deus recompensa de sobra a nossa generosidade.

I. A LITURGIA DESTE DOMINGO apresenta-nos a generosidade de duas


mulheres que mereceram ser louvadas por Deus. Na primeira Leitura1, narra-se
como Elias pediu de comer a uma viúva que encontrou às portas da cidade de
Sarepta. Eram dias de seca e de fome, mas aquela mulher partilhou com o
Profeta aquilo que lhe restava, até o último punhado de farinha, e confiou nas
palavras daquele homem de Deus: A farinha que está na panela não faltará,
nem diminuirá na almotolia o azeite, até ao dia em que o Senhor faça cair
chuva sobre a terra. E assim aconteceu. Essa mulher teria a honra de ser
lembrada por Jesus2.

O Evangelho da Missa apresenta-nos o Senhor sentado diante do cofre das


oferendas para o Templo3. Observava como as pessoas depositavam ali as
suas esmolas e como muitos ricos lançavam dinheiro em abundância. Então
aproximou-se uma pobre viúva e lançou duas pequenas moedas, que valem
um quadrante. Tratava-se de duas moedas de pouco valor. A sua importância
do ponto de vista monetário era mínima, mas para Jesus foi muito grande.
Enquanto a mulher partia, Jesus reuniu os seus discípulos e, apontando para
ela, disse: Na verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os
outros, porque todos os outros lançaram do que lhes sobrava; ela, porém, na
sua necessidade, lançou tudo o que tinha, todo o seu sustento. Na pessoa
dessa mulher, o Senhor elogiava a generosidade das esmolas destinadas ao
culto e toda a dádiva que nasce de um coração recto e generoso, decidido a
dar mesmo aquilo de que necessita. Mais do que na quantia, Jesus repara nas
disposições interiores que movem a agir; não olha tanto para “a quantidade que
se oferece, mas para o afecto com que se oferece”4.

A esmola, não só do supérfluo mas também do necessário, é uma obra de


misericórdia gratíssima ao Senhor, que não deixa de ser recompensada. “Uma
casa caritativa jamais será pobre”5, costumava repetir o Santo Cura d’Ars.
Quem pratica a esmola habitualmente resume e manifesta nessa atitude muitas
outras virtudes e atrai a benevolência divina. Na Sagrada Escritura, a esmola é
vivamente recomendada: Dá esmola dos teus bens – lê-se no Livro de Tobias –
porque assim entesouras uma grande recompensa para o dia da necessidade;
porque a esmola livra de todo o pecado e da morte eterna, e não deixa cair a
alma nas trevas. A esmola é motivo de grande confiança diante do sumo Deus,
para todos os que a dão6. Se alguém não entendesse esta obrigação ou
tivesse relutância em cumpri-la, expor-se-ia a reproduzir na sua vida a triste
figura daquele mau rico7 que, preocupado somente consigo e
desordenadamente apegado aos seus bens, não conseguiu ver que o Senhor
tinha posto o pobre Lázaro perto dele para que o socorresse.

Com que alegria a mulher do Evangelho não voltaria para casa, depois de
ter dado tudo o que tinha! Que surpresa não terá sido a sua quando, no seu
encontro com Deus depois desta vida, pôde ver o olhar comprazido com que
Jesus a olhou naquela manhã em que fez a sua oferta! Todos os dias esse
olhar de Deus pousa nas nossas vidas.

II. A ESMOLA BROTA de um coração misericordioso que quer levar um


pouco de consolo aos que padecem necessidade, ou contribuir com meios
económicos para a manutenção da Igreja e das obras boas em favor da
sociedade. É uma prática que leva ao desprendimento e prepara o coração
para entender melhor os planos de Deus. É uma disposição da alma que nos
inclina “a ser muito generosos com Deus e com os nossos irmãos; a mexer-
nos, a procurar recursos, a gastar-nos para ajudar os que passam
necessidade. Não pode um cristão conformar-se com um trabalho que lhe
permita ganhar o suficiente para viver ele e os seus. A sua grandeza de
coração arrastá-lo-á a meter ombros para sustentar os outros, por um motivo
de caridade, e também por um motivo de justiça”8.

Os primeiros cristãos manifestaram o seu amor aos outros preocupando-se


com especial esmero de atender as necessidades materiais dos seus irmãos.
Nos Actos dos Apóstolos e nas Epístolas de São Paulo encontramos inúmeras
referências sobre o modo de viver esta obra de misericórdia. Sugere-se até a
maneira concreta de levá-la a cabo: No primeiro dia da semana, cada um de
vós ponha de parte e junte o que lhe parecer...9, escreve São Paulo aos
cristãos de Corinto. E não davam apenas do que lhes sobrava: em muitos
casos – como acontecia na Macedónia –, quiseram fazê-lo apesar de
passarem por duros momentos de penúria. O Apóstolo não deixa de louvá-los,
pois, no meio de muitas tribulações com que são provados, tiveram
abundância de gozo, e a sua profunda pobreza abundou em riquezas do seu
bom coração; porque eu dou testemunho de que foram espontaneamente
liberais, segundo as suas forças, e ainda acima das suas forças, rogando-nos
muito encarecidamente a graça de poderem tomar parte neste ministério em
favor dos santos10. E não só contribuíram com generosidade para a colecta em
favor dos cristãos de Jerusalém, mas ainda se deram a si mesmos, primeiro ao
Senhor, depois a nós pela vontade de Deus11.

Com esta última expressão, talvez São Paulo se refira à generosidade com
que os seus colaboradores mais leais se entregaram à evangelização.
Comentando a passagem, São Tomás afirma que “assim deve ser a ordem ao
dar: que primeiro o homem seja aceito por Deus, porque, se não é grato a
Deus, também os seus dons não serão recebidos”12. A esmola, em qualquer
das suas formas, é expressão da nossa entrega e do nosso amor ao Senhor.
Dar e dar-se não depende do muito ou do pouco que se possua, mas do amor
a Deus que se tenha na alma. “A nossa humilde entrega – insignificante em si,
como o azeite da viúva de Sarepta ou o óbolo da pobre viúva – torna-se
aceitável aos olhos de Deus pela união com a oblação de Jesus”13.

III. A ESMOLA ATRAI a bênção de Deus e produz frutos abundantes: cura


as feridas da alma, que são os pecados14; é “escudo da esperança, suporte da
fé, remédio do pecado; está ao alcance de quem quiser praticá-la, e é tão
grande como fácil; constitui a coroa da paz sem risco algum de perseguição; é
o verdadeiro e o maior dom de Deus; é necessária aos fracos e cumula de
glória os fortes. Por meio dela, o cristão recebe a graça espiritual, ganha
méritos diante de Cristo Juiz, e passa a ter a Deus como seu devedor”15.

A esmola deve ser feita com pureza de intenção, olhando para Deus, como
aquela viúva mencionada por Jesus no Evangelho; com generosidade, com
bens que muitas vezes nos seriam necessários, mas que o são muito mais
para os outros; evitando ser mesquinhos ou tacanhos “com quem tão
generosamente se excedeu convosco, até se entregar totalmente, sem medida.
Pensai: quanto vos custa – também economicamente – ser cristãos?”16

A esmola deve nascer de um coração compassivo, cheio de amor por Deus


e pelos outros. Por isso, acima do valor material dos bens que se repartem,
deve-se ter em conta o espírito de caridade com que se realiza a esmola, e que
se manifestará pela alegria e generosidade ao praticá-la. Assim, ainda que não
tenhamos muitos bens, tornaremos realidade as palavras de São Paulo que a
Liturgia das Horas nos transmite hoje: Com a virtude de Deus, somos como
tristes, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como
não tendo nada, mas possuindo tudo17. Não demos nunca de má vontade ou
com tristeza, porque Deus ama aquele que dá com alegria18.

Deus premiará abundantemente a nossa generosidade. O que tivermos


dado aos outros, em tempo, dedicação, bens materiais..., o Senhor no-lo
devolverá aumentado. E digo isto: Aquele que semeia pouco, também colherá
pouco; e aquele que semeia em abundância, também colherá em
abundância19. Assim Deus multiplicou os poucos bens que a viúva de Sarepta
pôs à disposição de Elias, e os pães e os peixes que um rapaz entregou a
Jesus20, e que talvez tivesse reservado previdentemente para aquela
necessidade... “Isto diz o teu Senhor [...]: Deste-me pouco, receberás muito;
deste-me bens terrenos, devolver-tos-ei celestiais; deste-me bens temporais,
recebê-los-ás eternos...”21 Com grande verdade afirmava Santa Teresa que
“ainda nesta vida paga-os Sua Majestade por tais vias que só quem goza disso
é que o percebe”22.

Peçamos a Nossa Senhora que nos conceda um coração generoso, que


saiba dar e dar-se, que não seja mesquinho com o tempo, com os bens
económicos, com o esforço..., à hora de ajudar os outros. O Senhor olhará para
nós com um amor compassivo, como olhou para aquela pobre mulher que se
aproximou do gazofilácio do Templo.
(1) 1 Re 17, 10-16; (2) cfr. Lc 4, 25 e segs.; (3) Mc 12, 41-44; (4) São João Crisóstomo,
Homilias sobre a Epístola aos Hebreus, 1; (5) Cura d’Ars, Sermão sobre a esmola; (6) Tob 4, 8-
11; (7) cfr. Lc 16, 19 e segs.; (8) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 126;
(9) 1 Cor 16, 2; (10) 2 Cor 8, 2-4; (11) 1 Cor 2, 5; (12) São Tomás de Aquino, Comentário à
segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios, 2, 5; (13) João Paulo II, Homilia em Barcelona,
7.11.82; (14) cfr. Catecismo Romano, IV, 14, n. 23; (15) São Cipriano, Sobre as boas obras e a
esmola, 26; (16) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 126; (17) Liturgia das
Horas, Antífona de Laudes, 2 Cor 6, 10; (18) 2 Cor 9, 7; (19) 2 Cor 9, 6; (20) cfr. Jo 6, 9; (21)
Santo Agostinho, Sermão 38, 8; (22) Santa Teresa, Vida, 4, 2.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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