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Dotada de praias de areias finas a PUBLICIDADE

perder de vista, novos restaurantes,


bares e galerias de arte, Aveiro é uma
cidade cosmopolita e acolhedora,
onde sopram ventos de mudança

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Já muitos amigos me tinham falado do Mercado Negro, projecto


inovador e multifuncional que se quer destacar como um pólo de
cultura urbana em Aveiro. Fica mesmo no centro, numa casa
antiga, entre admiráveis edifícios Arte Nova, em pleno Rossio, e
denuncia, diz-se, “os ventos de mudança que sopram na cidade”.

Curiosos, subimos a escadaria decorada com graffitis. Desemboca


na livraria Navio de Espelhos, especializada em literatura, e onde
cada livro é recomendado na companhia de uma garrafa de vinho
ou vice-versa. A sugestão do néctar pertence ao autor ou a um
enólogo convidado e o consumidor só tem a ganhar uma leitura
inspirada.

Depois surge um café e uma loja de roupa reinventada. Ao longo Detalhe


do corredor, as portas do que um dia foram quartos de dormir do Hotel Mélia Ria, o mais
recente quatro estrelas de luxo
abrem-se para lojas pouco convencionais, onde encontramos da cidade
produtos originais que fogem às regras do mercado – a discoteca dB, a Lollipop (bijutarias), a
galeria de arte Poc de Tot e a loja de design Miyabi (das 13h às 24h). Ao fundo, a sala
multiusos, com vista para o canal central, cuja mobília vintage – de que todos se servem – se
encontra à venda, completa o cenário.

“O Mercado Negro é um espaço em constante transformação, que visa estimular as pessoas a


procurar algo de diferente daquilo a que estão habituadas”, explica Pedro Jordão, um dos
responsáveis pelo projecto. A ideia surgiu um pouco por acaso entre um grupo de amigos com
vontade de dinamizar a cidade. “E a vantagem”, avança Sónia Sequeira, da Navio de Espelhos,
natural de Almada, “é que em Aveiro está quase tudo por acontecer, o que não sucede nas
grandes urbes como o Porto ou Lisboa; aqui ainda há lugar para
este tipo de iniciativas”.

Além de Pedro, o projecto tem como mentores Ana Paula


Guimarães e João Pontes. Estes últimos estão igualmente à frente
do Bar Clandestino, o mais hip e alternativo da cidade. Situa-se,
tal como o Mercado Negro, em redor da Praça do Peixe, no
pitoresco bairro da Beira-Mar, a zona boémia de Aveiro por
excelência.

A dois passos, já em frente ao canal de São Roque, o Botirão –


para quem aprecia bons vinhos e gosta de petiscar – ou o
sofisticado Maria Ria, inaugurado em Janeiro, são as nossas
sugestões, em alternativa aos apinhados bares da praça. A
clientela, em ambos os casos, já deixou o secundário, e a música,
enquanto no primeiro é quase sempre cantada em português (às vezes com sotaque
brasileiro), no segundo, prima pelo lounge aos dias da semana e pelo electro ou house, às
sextas e sábados.

Ventos de mudança
Ainda há uma década quase
abandonada a favor dos mais
aburguesados bairros do Liceu, da
Universidade ou Alboi, a Beira-Mar tem
ganho uma dinâmica invejável. Muitos
casais jovens mudaram-se para esta
zona ribeirinha, remodelando velhas
mansões ou casas de pescadores, ao
mesmo tempo que bares e
restaurantes são inaugurados a um
ritmo que deixará, com certeza, os
Sónia Sequeira, da livraria Navio de Espelhos; percurso no Parque
mais distraídos completamente Natural das Dunas de São Jacinto; e spa do Meliá Ria
perdidos. Neste campo um dos mais
interessantes é, sem dúvida, o
Mercado do Peixe. Serve cozinha
regional num espaço que, não sendo
luxuoso, com o seu mobiliário
contemporâneo e paredes
envidraçadas com vista para a Ria, se
afasta da tradicional “tasquinha”, tão
comum deste lado da cidade. Fica no
andar de cima do edifício da Praça do
Peixe, estrutura da arquitectura do
ferro levantada há cerca de um século,
em homenagem a José Estêvão,
orador político, deputado e jornalista
aveirense. Recuperada recentemente
ao abrigo do programa Polis, manteve
a função de mercado no rés-do-chão e
ganhou um restaurante no segundo
andar.

A oferta hoteleira, naturalmente, procurou acompanhar a clientela cada vez mais cosmopolita e
exigente. Nesse sentido, a cadeia Sol Meliá foi pioneira e ergueu, no ano passado, em pleno
lago da Fonte Nova, o Hotel Meliá Ria, um quatro estrelas de luxo, revestido a vidro serigrafado
– proposta arrojada do portuense Grupo3 arquitectura. Oferece um Wellness Center com
diversos tratamentos de estética únicos na cidade e integra, ainda, o Restaurante do Lago,
liderado pelo chef Fernando Heleno, anteriormente responsável pela cozinha do Hotel do
Buçaco.

Além da fabulosa vista panorâmica sobre a Ria, apresenta uma carta inovadora, inspirada na
gastronomia tradicional da Beira Litoral. Linguado com alcachofras e pudim de três legumes ou
tamboril estufado com gambas e cogumelos são algumas das suas propostas, empratadas a
preceito, pormenor invulgar na região.

Ondas de tradição
Apesar desta vontade de mudança, Aveiro não deixa de ser uma cidade com tradições
ancestrais, que os seus habitantes gostam de preservar. E não falamos apenas dos ovos-
moles, de que ninguém sabe a receita exacta. As salinas, por exemplo – que Almada Negreiros
dizia serem as janelas que caíram do Palácio do Céu, com caixilhos e tudo – encontram-se
extraordinariamente ligadas à identidade dos aveirenses.

A imagem das pirâmides brancas ao


longo da laguna teima em permanecer
no imaginário da população, desolada
com o abandono das marinhas, à
medida que os velhos marnotos se vão
reformando. Tanto que, para que essa
memória não seja pertença apenas
dos maiores de 30 anos, a Câmara
Municipal de Aveiro adquiriu a Marinha
da Troncalhada, que passou a utilizar
em contexto museológico e se prevê
venha ainda a funcionar como espaço
de formação na arte de trabalhar o
salgado. É “amanhada” por João, Dunas em São Jacinto; bar Botirão, no bairro da Beira-Mar; bar do
Mercado Negro; e Farol da Barra, um dos maiores da Europa, na
ajudado pelo filho em horas de maior praia com o mesmo nome
aperto, dando origem a sal de
qualidade, branco e fino, vendido em
finais de Setembro aos armazenistas,
cujos estaleiros se encontram no canal
de São Roque.

Consoante a altura em que se visita o


eco-museu, é possível observar
algumas tarefas inerentes a cada fase
da produção e que vão desde os
trabalhos de limpeza, em Março, à
colheita nos meses de Verão (não
perca o desembarque do sal, em
canastras, directamente do barco
mercantel, em Setembro).

Os meses que vão de Junho a Agosto


são os mais indicados para observar
as águas a perder o seu estado líquido
e a roubar o espelho ao céu: os marnotos de pele tisnada vão, aos poucos, formando
pequenos amontoados de sal, fruto da força do Sol e dos ventos sobre as marinhas opacas de
sal. Não tarda estarão transformados em grande pirâmides, alinhadas na laguna, que entrelaça
a cidade e o mar.
As praias, já se vê, são também lugar de peregrinação estival. Concorridas sobretudo no mês
de Agosto, ainda assim deixam extensos areais por desbravar a quem prefere banhos de mar
solitários. As das Barra – vigiadas por um dos mais altos faróis da Europa – são as mais
tranquilas devido ao enorme paredão que trava a fúria do Atlântico. As da Costa Nova, de mar
encrespado, garantem, em contrapartida, uma frequência mais seleccionada. Esta povoação –
encravada entre o mar e a Ria – é, por si só, e em qualquer altura do ano, lugar a visitar, pois
as suas casas e palheiros de madeira riscada a verde, vermelho, azul ou amarelo, parecem-
nos verdadeiras jóias da arquitectura popular portuguesa.

Do lado das águas calmas, o café da Escola de Windsurf e Ski Aquático, junto ao Cais de
Pesca Artesanal, é um dos melhores spots para um café matinal; do lado do Atlântico há o
Visual, um clássico recentemente remodelado e particularmente atraente ao fim da tarde,
quando o Sol se põe.

Paraíso de dunas
A Barra e a Costa Nova, apesar de serem as praias mais
frequentadas pelos aveirenses, fazem já parte do concelho de
Ílhavo. Os areais dourados de São Jacinto (dotados de bandeira
azul, tal como os anteriores) é que pertencem à cidade, mas a
ausência de uma ponte que atravesse a Ria em direcção a estas
bandas implica um desvio por estrada pouco apelativo (cerca de
45 minutos).

O percurso de lancha, em contrapartida, é rápido e aconselha-se.


No entanto, se dispuser de algum tempo não perde nada em
passar por lá uma noite, no mínimo – a povoação é pacata e as
praias quase desertas.

Para pernoitar, a Pousada de São Jacinto, das Pousadas de


Portugal, surge como um poço de tranquilidade, debruçado sobre a laguna. Pela manhã, o
mais certo é que acorde com o marulhar das águas da Ria, revoltas pelos barcos moliceiros ou
pelas pequenas barcas que testemunham a importância da arte xávega (pesca artesanal) na
região.

Por outro lado, a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, classificada como Área Protegida,
merece também atenção (as visitas são guiadas, têm a duração de cerca de três horas e
atraem turistas do mundo inteiro, inclusive australianos!) por guardar ao longo de mais de 600
hectares algumas das poucas dunas fixas do país, uma imensa mata de pinheiro bravo, assim
como plantas endémicas e colónias de milhares de aves migratórias.

Depois, e porque os ares do mar abrem o apetite, todos os


caminhos vão dar a Aveiro e ao seu mais popular restaurante – a
Pizzarte (o proprietário, Jorge Castelhano, é também sócio da Bau
Uau, uma loja de design, que opera, igualmente, como escola de
artes).

A funcionar desde 1987, está decorada com peças de arte e


recorda a quem já conhece a cidade desde há muito que foi aí
mesmo que a velha Aveiro deu os primeiros passos rumo ao
futuro.

Guia de Viagem
Onde dormir
Meliá Ria – Cais da Fonte Nova, Lote 5, tel. 234 401 000, e-mail
melia.ria@solmeliaportugal.com Em Agosto, diárias em quarto duplo desde €105 (com
pequeno-almoço).
Pousada da Ria – Estrada Nacional 327, Torreira, Murtosa, tel. 234 860 180,
www.pousadas.pt. Em Agosto, diárias em quarto duplo a partir de €175 (com pequeno-almoço).
Onde comer
Mercado do Peixe – Largo da Praça do Peixe, tel. 234 383 511. Prima pelo pescado fresco e
pelas caldeiradas ou cataplanas. Preço médio por refeição: €18.
Restaurante do Lago – Cais da Fonte Nova, Lote 5, Aveiro, tel. 234 401 000. Cozinha regional
reinventada, na qual se destacam, naturalmente, os pratos de peixe e marisco. Preço médio
por refeição: €24.
Pizzarte – Rua Engenheiro Von Haff, 27, tel. 234 42 71
03. Serve cozinha italiana, embora apenas as pizzas
sejam a sua verdadeira especialidade. É um clássico da
cidade. Preço médio por refeição: €12.

Fim-de-semana em Aveiro

A visitar
Museu de Aveiro – Ocupa o Mosteiro de Jesus, convento
fundado em 1458, que acolheu a princesa D. Joana,
santa padroeira da cidade. A sua igreja, com rica talha dourada e azulejos, aloja o túmulo da
princesa, e constitui uma obra-prima do barroco.
Jardim Municipal Infante D. Pedro – Lugar fresco e romântico com um grande lago e
recantos ajardinados.
Campus da Universidade de Aveiro – Possui edifícios da autoria de Souto Moura e Siza
Vieira, tendo este último projectado a Biblioteca – lugar aprazível para ler, estudar ou
simplesmente descansar, graças às grandes vidraças voltadas para as marinhas, que se
prolongam até ao mar. Atente à parede voltada para a Ria, que faz o desenho de um livro
aberto.
Museu da Vista Alegre – Encontra-se instalado na fábrica com o mesmo nome, estabelecida
em 1824. Mostra exemplos interessantes dos vidros fabricados há uma centenas de anos, e
conta a história da evolução da porcelana durante mais de 150 anos.

A comprar
Ovos-moles e doçaria tradicional – Uma das melhores confeitarias é a Peixinho.
Morada: Rua de Coimbra, 9, tel. 234 423 574.

Mais informações
Consulte os sites www.rotadaluz.pt e www.aveiro.co.pt

In Rotas e Destinos

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