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Gêneros do discurso: teoria e prática

Introdução

Os gêneros formam a base de toda e qualquer comunicação. Para além de organizar


períodos e parágrafos, produzimos enunciados dentro de contextos muito específicos de
comunicação. Saber organizá-los melhor pode contribuir de forma positiva para a vida
profissional e cotidiana.

Os gêneros “esquema”, “apresentação oral”, “resumo” e “resenha” podem facilitar o


dia-a-dia universitário, pois são formatos muito solicitados nesse contexto. Além disso,
podem aparecer, mesmo que de forma parcial, em situações de trabalho.

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Recapitulando o conceito de discurso

Eni Orlandi define discurso da seguinte forma: “o uso que estou fazendo de discurso é
o da linguagem em interação, ou seja, aquele em que se considera a linguagem em
relação às suas condições de produção, ou dito de outra forma, é aquele em que se
considera que a relação estabelecida pelos interlocutores, assim como o contexto, são
constitutivos da significação de que se diz.”

Nesse sentido, discurso pode ser entendido como sinônimo de interação entre sujeitos,
em um dado contexto. Muito distante do sentido comum do termo discurso (que está as-
sociado à política ou a comunicações formais), esse conceito destaca o caráter interativo
e contextualizado da linguagem. Observe as situações a seguir:

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Nas situações observadas, vemos indivíduos interagindo; em cada uma delas, eles estão
dentro de um contexto determinado, que interfere no sentido do que estão dizendo.
Novamente segundo Orlandi, há três grandes tipos de discurso: o lúdico, o polêmico e o
autoritário.
• Discurso lúdico: é aquele em que a reversibilidade entre interlocutores é total, sen-
do que o objeto do discurso se mantém como tal na interlocução, resultando disso
a polissemia aberta.
• Discurso polêmico: é aquele em que a reversibilidade se dá sob certas condições e
em que o objeto do discurso está presente, mas sob perspectivas particularizantes
dadas pelos participantes que procuram lhe dar direção, sendo que a polissemia é
controlada.
• Discurso autoritário: é aquele em que a reversibilidade tende a zero, estando o
objeto do discurso oculto pelo dizer, havendo um agente exclusivo do discurso e a
polissemia contida.

Em nossa primeira imagem desta unidade, na qual vemos pessoas assistindo a uma
peça de teatro, podemos observar um discurso lúdico. É um tipo de situação de interlo-
cução em que o sentido não está absolutamente fechado. Ao contrário, a peça e todos
os elementos que a compõem foram construídos de tal modo que os interlocutores po-
dem interpretá-la de mais de uma forma. Esse tipo de discurso mais aberto a diferentes
atribuições de sentido é denominado lúdico.

Já a imagem do debate apresenta um outro tipo de discurso, o polêmico. Nele, há tam-


bém certo grau de polissemia, pois os participantes podem ter opiniões diversas sobre
um mesmo ponto, por exemplo. Em cada um dos interlocutores, no entanto, há o desejo
expresso de defender e convencer sobre uma posição. Esse tipo de discurso em que a
polissemia é parcialmente controlada denomina-se polêmico.

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Há ainda certos tipos de discurso em que a polissemia aparece extremamente contida.
Na relação entre os interlocutores, há o desejo de convencer sobre um único ponto de
vista, em detrimento absoluto dos demais. Em muitos discursos religiosos encontramos
esse tipo de discurso em funcionamento. Ele é denominado autoritário.

Há outras classificações para “tipos de discurso”. Em todas elas, de certa forma, pode-
se entender, como Charaudeau e Maingueneau, que “os tipos de discurso são modos
fundamentais de estruturação que se combinam nos textos concretos”.

No dia-a-dia, nas diferentes situações de comunicação, os indivíduos interagem, combi-


nando tipos textuais, que são traços gerais de estruturação das linguagem.

Cada uma dessas combinações específicas apresenta características próprias. A cada


conjunto de características estáveis que podemos encontrar em um texto concreto dá-se
o nome de “gênero do discurso”.

Um gênero, portanto, é o resultado concreto de uma combinação de tipos de discurso.


Usando o termo “enunciado” no lugar de “texto”, M. Bakhtin faz definição semelhante.
Ele diz: “qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada
esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados,
sendo isso que denominamos gêneros do discurso.”

Assim, de acordo com Adilson Citelli, gêneros do discurso como letras de música, poe-
mas, romances de ficção, pinturas, esculturas, entre muitos outros, podem ser conside-
rados lúdicos. Já “uma discussão entre amigos, uma defesa de tese, um editorial, uma
aula” são exemplos de gêneros do discurso polêmico. Por fim, o anúncio publicitário
imperativo, os comandos de ordem, as leis, o sermão religioso podem ser considerados
gêneros do discurso autoritário.

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Estudando alguns gêneros

Se, como afirma Bakhtin, gêneros do discurso são “tipos relativamente estáveis de enun-
ciados”, ao estudá-los, estamos verificando:

• algumas dessas características estáveis;

• o caráter social desses traços, pois foram constituídos pelos indivíduos em interação
e assim são reconhecidos;

• o caráter histórico dessa constituição, pois os gêneros apresentam-se como refle-


xos dos valores presentes em cada sociedade, em um dado lugar e tempo; sendo
assim, mudam com o tempo.

A seguir, vamos estudar as características de quatro gêneros do discurso. São eles: o


esquema, o resumo, a resenha e a apresentação oral.

De maneira ampla, podemos utilizá-los tanto na modalidade oral como na escrita (po-
demos, por exemplo, esquematizar oralmente nossa fala, resumir uma história que nos
contaram, analisar um filme etc.). Tradicionalmente, no entanto, apenas a “apresenta-
ção oral” caracteriza-se como gênero oral dentre os que serão estudados.

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Esquema

Observando esta casa, talvez chame a atenção apenas sua beleza e tamanho. São vá-
rios quartos, janelas, um belo jardim. Muitos de nós, habitantes de pequenas e grandes
cidades, podem ver casas parecidas todos os dias: ao lado da nossa, no trajeto para a
escola, no caminho do passeio.

O que nem sempre nos lembramos é que para essa casa existir ocorreram muitas eta-
pas no processo de sua construção. Houve a etapa da fundição, a das paredes e lajes,
do acabamento e a da decoração final. Mas, antes ainda de tudo, uma etapa importan-
te possibilitou a realização dessa residência.

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A planta é uma etapa fundamental na realização da casa. Nela, estão todas as indica-
ções de como a casa deve ser construída: a representação de suas partes, suas medi-
das, a localização de sua portas, janelas etc. Ou seja: a planta de uma residência é um
esquema de montagem a ser seguido. Para que exista o resultado final (o que está na
foto), é necessário um esquema anterior que dê diretrizes de como executá-lo.

Muitos outros objetos (talvez a maioria deles) pressupõem uma estruturação anterior.
Aliás, mesmo que a gente não perceba, ao construir alguma coisa estamos realizando
uma estrutura. Mas, se não temos consciência disso, pode ser que nosso resultado final
fique insatisfatório.

Segundo A. L. Pita e Sueli Pitta, “a função básica de um esquema é definir o tema e hie-
rarquizar as partes de um todo numa linha diretriz, para torná-lo passível de uma visão
global. Pelo esquema, pode-se atingir o todo numa única mirada.”

Textos verbais também apresentam uma “estrutura”. Uma narrativa, por exemplo, pres-
supõe um esquema que organize a história que será contada. No caso dos escritores
profissionais, a narrativa que se organizará é toda esquematizada antes de ser produ-
zida, mesmo que seja apenas mentalmente. Mas, mesmo que o autor não pense na
organização de sua história, ela acabará seguindo algum esquema.

Podemos partir de perguntas como: qual a história que desejo contar? Como vou organi-
zá-la? Como começa? Quais seus acontecimentos principais? Como vou terminá-la?

Da mesma forma que nos textos narrativos, os dissertativos também pressupõem uma
esquematização por parte de seu produtor. Isso significa dizer que, em sua construção,
um autor estabelece um fio de raciocínio que dará sustentação a seu ponto de vista.

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Diferentemente das narrativas, as dissertações não estão preocupadas em contar fa-
tos, mas, sim, em apresentar uma opinião, mais ou menos explícita, a partir de um tema
dado. Assim sendo, seu esquema de construção indica um tema, o que o autor pensa
sobre o mesmo e os motivos que o levam a pensar dessa maneira, além de sua conclusão.

Fique Atento
Em muitos livros, os autores apresentam, esquematicamente, o que será desenvolvido nos
mesmos. Essa apresentação pode se dar por meio de algumas palavras de esclarecimento, de
um texto que apresenta a obra, o chamado “prefácio”. E pode se dar ainda por meio de um ín-
dice dos conteúdos que serão trabalhados, na ordem em que aparecerão no livro em questão.
Esse índice de conteúdos é o chamado “sumário”.
Os sumários e prefácios são partes importantes para a compreensão de uma obra, pois nos
esclarecem sobre os conteúdos que serão desenvolvidos na mesma e de que maneira serão
abordados. De certa forma, apresentam o fio de raciocínio da obra, muitas vezes de forma
esquemática.

Resumo

Carla está fazendo um curso de especialização em obstetrícia, em que são apresentados


diversos estudos muito recentes sobre resultados de pesquisa na área.

Ela tem acompanhado as aulas, mas tem percebido que, sem as leituras prévias dos
textos que dão apoio às falas, ela perde uma parte significativa do conteúdo, sentindo,
inclusive, dificuldade em formular perguntas pertinentes.

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Para Carla, ler os livros e capítulos indicados, bem como ser capaz de produzir um resu-
mo de cada leitura, está se tornando indispensável para um melhor aproveitamento de
seus estudos.

Segundo Marli Quadros Leite, “O RESUMO é uma forma reduzida de informação. É o


resultado de um processo mental de compreensão desencadeado ao sermos expostos a
qualquer situação de comunicação. Diz-se também que resumir é sumarizar a informa-
ção e que o resumo, produto desse processo, é a evidência, isto é, a comprovação de
que houve, efetivamente, compreensão da informação a que o sujeito foi exposto. Isso
quer dizer que, se alguém consegue resumir um evento que presenciou, um filme a que
assistiu, um livro que leu, pode, por meio do resumo, mostrar que entendeu tudo o que
viu, ouviu ou leu. Só é possível resumir aquilo que compreendemos.”

Pensando na situação vivida por Carla e na definição de resumo dada por Marli Q.
Leite, podemos entender que esse gênero de texto apresenta-se como uma forma de
sumarizar informações. Ao sermos capazes de sintetizá-las, demonstramos uma forma
de compreensão dos diferentes textos que vemos, ouvimos, lemos.

A princípio, fazer um resumo pode parecer uma tarefa simples. Mas, como qualquer ou-
tra atividade, requer algumas habilidades e conhecimentos de como deve ser produzida.
Quando ouvimos uma palestra, por exemplo, ouvimos as mais variadas informações.
O pensamento do autor, por vezes, vai de um lado a outro, sendo difícil acompanhá-lo.
Para fazer um resumo, portanto, temos de ter em mente como proceder diante de um
grande volume de informações, nem sempre apresentado de forma linear e didática.

De acordo com Anna Raquel Machado (2004), “a primeira etapa para se escrever um
bom resumo é compreender o texto que será resumido. Auxilia essa compreensão o co-
nhecimento sobre o autor, sua posição ideológica, seu posicionamento teórico etc.”

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Anna Machado destaca um ponto fundamental para a produção de um resumo: para
entender um texto, seja ela qual for, é preciso conhecer um pouco sobre seu contexto, ou
seja, saber quando foi produzido, quem é seu autor, suas posições sobre o assunto trata-
do no livro, entre outros aspectos.

Já Marli Quadros Leite destaca outros aspectos para a produção de resumos. Diz: “As
estratégias são de dois grandes tipos: as que se concretizam por seleção dos conteúdos
lidos, e as que decorrem de construção elaborada a partir dos conteúdos apreendidos.”
A autora destaca elementos ligados a interioridade dos textos. Cada obra apresenta, de
alguma forma, uma série de informações organizadas sobre um dado assunto ou acon-
tecimento, real ou imaginário (se pensarmos em textos de ficção). Resumir, portanto,
implica em selecionar informações mais relevantes em um conjunto maior de dados.

Vamos pensar de forma esquemática na seleção de informações em dois tipos de textos


bastante comuns: dissertações e narrativas.

Resumo de textos dissertativos


• Busca de um raciocínio. Tema – Tese – Argumentos – Conclusão. Não necessariamente nessa
ordem, mas, sim, na ordem em que apareceram no original.
• Sem argumentação complementar (exemplos, citações de outros autores etc.)

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Resumo de textos narrativos
• Levantamento de acontecimentos principais. São aqueles que, efetivamente, fazem a história
“andar”. Em volta deles, em geral, há acontecimentos periféricos que não devem constar do
resumo.
• Sintetizar os acontecimentos na ordem em que foram apresentados no original.

Outro ponto importante a ser destacado na produção de um resumo é a menção ao au-


tor do original. Machado (2004) destaca que “um resumo é um texto sobre outro texto, e
isso deve ficar sempre claro, mencionando-se freqüentemente o autor, para evitar que o
leitor tome como sendo nossas as idéias que, de fato, são do autor do texto resumido.”

Resenha

Maria Lúcia Andrade define resenha como “uma síntese seguida de um comentário
sobre obra publicada, geralmente feita para revistas especializadas das diversas áreas
da ciência, arte e filosofia. As resenhas desempenham papel fundamental para qualquer
estudante ou especialista, pois é por meio delas que tomamos conhecimento de um livro
que acaba de ser publicado, e a partir dessa informação podemos decidir pela leitura
ou não da referida obra.”

A definição de resenha de M. Andrade aponta as principais características do gênero.


São elas:

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• uma resenha parte sempre da leitura e análise de uma outra obra;
• internamente, a resenha combina informações e análises da obra;
• a resenha permite ao leitor entrar em contato com uma obra que acaba de ser
lançada, podendo servir como um meio para que ele analise se ela o interessa ou
não.

Leia a resenha a seguir:

Por que ler os clássicos

Muitos de nós, em fase escolar fundamental ou média, perguntam-se: por que


afinal de contas eu tenho de ler livros “clássicos”? Em primeiro lugar, nessa fase de
nossas vidas, muitas vezes nem bem sabemos o que é isso, só pensamos “só pode
ser chato”. Em segundo lugar, entre outros possíveis, temos, muitas vezes, uma difi-
culdade enorme na compreensão de tais obras, seja pela linguagem, pela “história
estranha”, por não obtermos respostas.

Talvez pensando nisso, em toda a dificuldade que muitos leitores têm em estar
diante de um clássico, a editora Jorge Zahar tenha lançado em português a histó-
ria em quadrinhos do livro “No Caminho de Swann - Combray”, do escritor Marcel
Proust.

Originalmente publicado em 1913, o livro do autor francês é o primeiro volume de


uma série de sete, produzidos na virada do século XIX para o século XX. É um con-
junto de reminiscências e reflexões de um narrador, cheio de detalhes, pensamen-
tos e sonhos. Uma obra difícil, com longos parágrafos e poucos acontecimentos.
Mas com uma escrita que parece nos dar a sensação de estarmos em contato com

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o íntimo de uma pessoa, com toda a complexidade de um ser humano visto por
dentro. Daí ser um clássico: chega perto de coisas a que outros não chegam.
Ao transportá-la para a linguagem dos quadrinhos, naturalmente já se abre uma
porta de contato maior com um público mais jovem, mais próximo de uma lingua-
gem não apenas feita de palavras. Os desenhos são realmente muito bonitos, bem
como o trabalho de cores, e, de alguma forma, materializam os tantos pensamen-
tos do narrador.

Esse era um grande desafio para essa adaptação: como transformar sentimentos e
reflexões em imagens? Uma das opções feitas foi mesclar momentos de mais ação
com momentos mais reflexivos, sendo que, destes, foram destacados momentos
cruciais da história original (como o momento em que o narrador entre em contato
casual com um pequeno bolo chamado “madalena” e vive um intenso momento de
resgate de sua memória distante).

Talvez os leitores mais críticos e especializados de Proust considerem essa adapta-


ção de menor valor. Mas, deixando de lado os purismos, é sempre válido aproxi-
mar um jovem leitor de um clássico, ainda mais quando essa aproximação é feita
com charme, cuidado e respeito.

Em busca do tempo perdido (No caminho de Swann: Combray)


Autor: Marcel Proust
Adaptação e desenhos: Stéphane Heuet
Editora: Jorge Zahar
Ano: 2004

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Analisando as características do gênero resenha no texto, verificamos, em primeiro
lugar, que ele parte de uma obra intitulada “Em busca do tempo perdido” (versão em
quadrinhos).

A partir do livro, o autor mistura informações (“Originalmente publicado em 1913 (...).


É um conjunto de reminiscências e reflexões de um narrador, cheio de detalhes, pensa-
mentos e sonhos”) e comentários analíticos (“Uma obra difícil, com longos parágrafos e
poucos acontecimentos”, “Os desenhos são realmente muito bonitos, bem como o tra-
balho de cores, e, de alguma forma, materializam os tantos pensamentos do narrador”).
Nesse sentido, podemos afirmar que essa resenha pode ser útil ao leitor para que obte-
nha, por meio dela, uma opinião a respeito da obra. Assim, ele pode fazer a escolha de
entrar em não em contato com o texto original, de acordo com seus interesses.

Um outro aspecto que deve ser destacado na produção das resenhas é a distinção das
vozes do resenhista e do autor da obra resenhada. É importante que o leitor perceba
claramente quando a fala é do produtor da resenha ou quando se trata de uma citação
do original.

De acordo com Anna Raquel Machado (2007), “como no caso do resumo, a resenha é
um texto sobre outro texto, de outro autor. Assim, é natural que haja menções ao texto
original, o que, no caso da resenha, vem acompanhado de comentários feitos pelo re-
senhista. Porém, deve-se tomar cuidado ao fazer essas menções para que o que foi dito
pelo resenhista e o que foi dito pelo autor do texto original fiquem absolutamente claros
para o leitor.”

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Sintetizando
• Uma resenha é um texto completamente baseado em um outro, sua razão de existir.
• Além de basear-se em outra obra, esse gênero de texto apresenta ainda um outro traço mar-
cante: ele mistura informações dadas por seu autor e suas opiniões.
• O autor de uma resenha emite opiniões acerca de aspectos da obra que ele considera que
mereçam destaque, seja por aspectos positivos ou negativos.
• Essas análises são produzidas e publicadas em jornais e revistas porque a obra que está sen-
do analisada foi considerada de interesse público. Portanto, o autor observa a obra e aponta
alguns de seus aspectos que considera relevantes. A partir dessa análise, o leitor já tem uma
opinião sobre a obra e pode decidir se ela lhe interessa ou não.

Apresentação Oral

Há muitas situações profissionais em que somos obrigados a falar em público. Essa fala
pode ser produzida a partir de uma situação de improviso ou de um evento previamente
marcado. Se tivermos a oportunidade de preparar nossa apresentação oral, ela poderá
ter um êxito maior frente a nosso público.

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Algumas pessoas acreditam que “falar em público” seja uma habilidade natural de
alguns mas não, de todos. Acreditamos, no entanto, que as apresentações orais, como
qualquer outro gênero textual, podem ser preparadas por qualquer falante e chegar a
um bom resultado.

A falta de preparo e o medo de enfrentar um público são elementos que, normalmente,


interferem na apresentação oral, de tal forma que, muitas vezes, mesmo possuindo um
bom conhecimento do assunto a ser tratado (elemento fundamental para o bom desem-
penho), as pessoas sentem imensa dificuldade em falar para uma platéia.

De acordo com o especialista Reinaldo Polito, “Nós temos internamente dois oradores
distintos: um real e outro imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas
vêem efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensa-
mos que as pessoas vêem quando falamos.

Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que rece-
bemos — os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo
da vida. Esses registros formam uma auto-imagem negativa, distorcida, diferente da
imagem verdadeira que possuímos.”

Uma boa preparação pode contribuir, de maneira significativa, na superação do medo


de falar diante dos outros. Vamos, a seguir, destacar alguns aspectos ligados à prepa-
ração de uma fala em público. Serão destacados aspectos visuais, verbais e visuais e
verbais simultaneamente.

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1 Aspectos visuais (ou audiovisuais)

• físicos: uma vestimenta adequada à situação, bem como postura e posicionamento


corporais, interferem na recepção do público. Dirigir o olhar e a fala para a platéia
também auxilia na interação com o público.
• audiovisuais: quando usar transparência ou data show é fundamental que o texto
esteja legível e sirva como apoio. Esses recursos, por si mesmos, não produzem a
apresentação, servindo, apenas, como fonte de apoio. Além disso, espera-se que
não apresentem erros (ortografia, acentuação, diagramação etc.)

2 Aspectos verbais
• registro: a fala, devido à situação de interlocução, mostra-se, às vezes, um pouco
menos formal do que a escrita. No entanto, opte, sempre, pelos usos do Português
padrão, sem exageros (você não precisa parecer erudito, tampouco deve usar
gírias)
• apresentação da proposta: é importante que você se apresente ao público, bem
como o tema de sua fala. Além disso, para facilitar o entendimento, pode-se sinte-
tizar, antes do início propriamente dito, o caminho que será percorrido. Nada im-
pede, também, que, durante a apresentação, a cada novo momento que se inicia,
você avise seus ouvintes de que um outro tópico será destacado.
• fio de raciocínio: uma fala deve ter um fio, previamente estabelecido. Ao compor
uma apresentação, organizamos uma série de informações sobre um dado assun-
to. Portanto, tão importante quanto dominar o assunto é saber como apresentá-lo.
• leituras: devem ser evitadas, especialmente de longos trechos. Quando necessário,
fazê-las de modo que possam ser acompanhadas pelo público (em transparência,
data show ou cópia entregue a cada participante).

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3 Outros Aspectos

• citação de fontes: devem citar-se as fontes dos dados e informações que serão
apresentadas na fala. Além disso, sempre que um elemento for mencionado literal-
mente, deve aparecer com a notação bibliográfica.
• apresentação programada: toda apresentação tem um tempo de duração. Portan-
to, é fundamental estabelecer como a fala será distribuída no tempo. Assim, se-
guindo o fio de raciocínio, deve-se estabelecer o tempo de duração de cada parte
da fala.
• interação (falas em grupo): em algumas situações, uma apresentação é feita por
um grupo. Nesses casos, é importante organizar previamente a ordem e o momen-
to de fala de cada um. Um recurso complementar nessa organização é o “passar a
palavra”, quando houver troca de orador; isso evita a sobreposição de falas, situ-
ação que deve ser evitada por poder gerar confusão de entendimento, demonstrar
desorganização, insegurança etc.

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Bibliografia

ANDRADE, Maria Lúcia C. V. O. Resenha. São Paulo: editora Paulistana, 2006.


BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2000.
LEITE, Marli Quadros. Resumo. São Paulo: editora Paulistana, 2006.
MACHADO, Anna Raquel (coord.). Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
MACHADO, Anna Raquel (coord.). Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento. Campinas: Pontes, 2003.
PITA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Registro oral e registro escrito. São Paulo: Anhembi
Morumbi (documento em PDF).
POLITO, Reinaldo. “Vença o medo de falar em público”, artigo publicado em
23/02/2007. http://noticias.uol.com.br/economia/carreiras/artigos/polito
BRANDÃO, Helena Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas: editora da
UNICAMP, 2004.

Materiais Complementares

POLITO, Reinaldo. Falar de improviso. São Paulo: Saraiva, 1999.


VANOYE, Francis. Usos da linguagem - problemas e técnicas na produção oral e escrita.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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