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2ª Edição Eletrônica

Poesia

CÉLIA LAMOUNIER
Editora

Capa e Edição Eletrônica: L P Baçan

Outubro de 2009
Londrina - PR

Direitos exclusivos para língua portuguesa:


Copyright © 2009 dos Autores e da Editora

Distribuição exclusiva através da


Biblioteca Virtual "Célia Lamounier” e SCRIBD.

Autorizadas a reprodução e distribuição gratuita


desde que sejam preservadas as características originais da obra.

Visite o site e conheça o trabalho de Célia Lamounier.

www.celialamounier.net

2
ÍNDICE

A EDITORA 4
NO CANTAR DA HORA – 2 6
NO CANTAR DA HORA – 3 11
NO CANTAR DA HORA – 4 16
NO CANTAR DA HORA – 5 23
NO CANTAR DA HORA – 6 28

3
CÉLIA LAMOUNIER

Nasceu em 19.07.43, em Itapecerica, MG, onde reside atualmente, filha


de Raymundo Nonato de Araújo e Isaura Lamounier de Araújo.
Advogada, divorciada, aposentada TCE/MG, escritora e jornalista.
Presidente Academia Itapecericana de Letras e Cultura.
Sócia da Academia Municipalista de Letras de MG.
Instituto Histórico e Geográfico de MG – IHGMG ( e + outras).
Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB.
REBRA – ACLCL – AVBL Academia Virtual Brasileira de Letras.
Vice presidente Clube da Serena Idade de Itapecerica, MG.

Obra Literária: Livros publicados:


Entardecer de Lágrimas - 1978
Cidades e Trovadores - 1982
Sirgas e Organsins – 1986
Itapecerica antologia l – 1993
Passo a Passo – 1998
Dicionário dos Padres de Itapecerica/2001
No site Avbl o livro virtual - Passo a Passo - 2002
Verbete – Dicionário de Mulheres de Hilda Hubner – RS
Dicionário de Poetas Contemporâneos RJ/91(e + outros)

4
Participação em 50 antologias nacionais com premiações
Sites com trabalhos da autora:
www.celialamounier.net
www.celialamounier.hpg.com.br
www.notivaga.com
www.avbl.com.br - ensaios
www.celialamounier.hpg.com.br
www.itapecericamg.cjb.net
www.blocosonline.com.br/literatura
www.vaniadiniz.pro.br
www.jamulher.hpg.ig.com.br
www.usinadeletras.com.br
http://planeta.terra.com.br/arte/ateneu
www.geocities.com/~rebra/autores/622port.html

5
Nº 02 - Maio de 2003

TROVA de Célia Lamounier:

Linha reta, linha torta


Nesta vida leve traço
Vou deixando num abraço
Linha curva que conforta.

SÓ - Valdez/J.Pessoa - grupo Ateneu

Hoje que o destino amanhece


E a primavera não me dá flores,
Colho teus sorrisos.
Se mil e um
É a distância que nos separa,
Deito minha ânsia
Na paciência das horas...
E espero
Que apareças...

6
Só - OlgaMatos - Ateneu
Há, distintas no amor , pessoas gramaticais
mergulhadas nos anseios , sonhos e pesadelos,
corpos anulados, enlevo e almas solitárias.
Arrebatamento em nós, quietude no tu e eu!

Distantes somos o amor esperança


degredo e desencanto, gota, fio , nó...
encanto no encontro das canções,
quando matamos tu e eu e vivemos nós!

Juntos facetamos nossa unidade, polimos,


brilhamos , apoiados nos arrebois dos três,
mas sentimos distintamente nossas facetas!

Invadidos , abdicamos de nossa privacidade.


Amamos, indistintamente, quando aceitamos ,
o amor fatiado e alado nos momentos solitários!
OEME (P/RS)

Só - Zéferro - Ateneu
A saudade é a minha companhia
Minha voz busca em vão a resposta que não vem
Meus braços estão cheios de vazio
O frio enregela meu coração descompassado pela solidão
Não estás comigo, nem eu também!
Estou só!
E sozinho eu me pergunto o que faço deste amor
Nascido eu meu peito para trazer teu aconchego
Sem ele eu sou apenas a sombra
Etérea, amorfa, impossível!
Pois tu és a minha realidade E sem ti sou apenas nulidade! Solidão, vazio,
imponderável, Só a lágrima que me escorre lentamente na face É real Para
lembrar-me Estou só!

7
SÓ - Rose Oliveira – Aracaju

Parei em frente ao espelho. Corpo nu...


alma retalhada, abandonada à voz embevecida da própria consciência e
dor.
Flutuei dilacerada. Infeliz e só.
Quis tanto gritar... mas quem ouviria meu grito?
Quis correr, desabalada e louca...mas não atinei pra onde...
Gemi baixinho, reflexo do grito lancinante... aprisionado.
Cerrei os olhos na tentativa vã de não encarar essa dor
já quase de estimação, tanto tempo há de guardada.
E me vi menina: frágil e carente, na mulher latente, angustiada,
acorrentada.
Desejei desatar os nós, largá-los ali mesmo... sem dó.
Abri os olhos, vista erguida, lágrima correndo farta e sentida, caindo
sobre meu peito que ardia.
Registrei em segundos a necessidade inadiável de ser vista de frente e de
fato.
Urgência em ser ouvida e necessária.
Ânsia que me soubessem mulher, mãe, amiga e amante, mas acima de
tudo um SER.
Mas, ali, estava... só!
Revi as decisões... quantas delas traiçoeiras. Nada inteligente lamentá-
las.
Quedei, então... avaliei... e vi. Ergui o corpo, mansamente, não permitiria
autocomplacência.
Guindei-me com mão de ajuda, erguido o queixo, mudança de olhar...do
desespero ao desafio!
Mesmo ferida... lutaria.
Dá que agora o puro desse íntegro, um eu que grita, na proclamação de
sua liberdade.
Direito de negar. De reverter e discordar.

8
VOLTEI ! José Geraldo Martinez - Ateneu

Voltei, meu amor ,


um pouco mais velho .
Uma ponta de dor ,
que nas rugas revelo !
Um olhar perdido,
no horizonte incerto ...
Na alma a sensação de um enorme deserto .
Minhas mãos acorrentadas
por tantos desencantos da minha estrada .
Estou mais triste ,
mais calado ...
Sou um árido descampar gelado !
Faltam-me teus braços, tuas palavras ,
o carinho que me davas,
teu amor do meu lado...
Voltei ,meu amor!
Como de uma guerra vã,
onde se perde qualquer esperança de um amanhã.
Aventuras ...
Tantos caminhos!
Quanto mais buscava , mais sozinho ...
Você é tudo, se ainda me esperas!
Ou nada, se de mim te esqueceste ...
Sei que volto com o que tenho
depois de tantas primaveras .
O sonho que me espera ...
não se perdeu !

9
DESENCONTRO - Fátima Cunha - Ateneu

Teu caminho era o meu


Como o meu era o teu.
Em que esquina da Vida,
nosso amor se perdeu?
Procurei pelas estradas
Muitas noites, tantos dias
Como nuvem açucarada
nossa história se perdia...
E do vinho que embriaga,
nossa taça está vazia!
Campo Grande/MS

NÃO TÃO SÓ - Célia Lamounier


Tão só enfim
Só assim
encantada

Tão bom ficar


Só assim
algum tempo

Tão crua ver


Só assim
Outra vida

Tão pura eu
Só assim
In-despida

Tão sonhadora
Só assim
Desejando

Que o homem possa


Só assim
Não ser só

NÃO TÃO SÓ...

10
Nº 03 - Maio de 2003
Em homenagem ao Dia 13 de Maio - SÓ NO BRASIL
A Lei Áurea da Princesa Izabel foi festejada com ROSAS
Liberdade - Abolição da Escravatura - Um novo tempo

A COR DA PELE - Angela Bretas – Ateneu

A cor da pele, marcada a ferro, em grilhões de aço...


A cor da pele, vergada ao peso, do trabalho forçado...
A cor da pele bloqueia a liberdade de ir e vir...
A cor da pele, submissa, ao mando e desmando...
A cor da pele, certeiro alvo, do desprezo e desrespeito, da pele alva...
A cor da pele recebe a fúria, do chicote forte...
A cor da pele, manchada em sangue, cicatrizada em salmoura...
A cor da pele, em troncos, por ocas razões...
A cor da pele, oculta a alma branca, em ébano revestida...
A cor da pele, pena na vida, morre ofuscada, mingua calada...
A cor da pele, triste sina, do escravo, guerreiro bravo,
predestinado a sofrer.
A cor da pele...

11
NÃO MAIS ESCRAVOS -Célia Lamounier

Andam pelas ruas seres coloridos


pretos, brancos, mulatos miscigenados
brasileiros lindos, livres renascidos
muitos já notáveis, outros estudados.
É o Brasil da Abolição, já sem escravos.
É o Brasil livre, de imigração aberta
onde, em se plantando, colhem-se mil favos
doces alimentos para a vida certa.
Seres coloridos andam pelas ruas
construindo sonhos, construindo ninhos
cantando hinos e festejando as suas
Vidas... plenas de liberdade e carinhos.
De olhos bem abertos, a nação se cuide
para conservar o ideal de PAZ.

Escravos - Haroldo P. Barboza


O resgate da verdade,
Da justiça e da história
Com certeza se registram
Somente na memória.
As penúrias já sofridas
Jamais se esquecerão
Cicatrizes pelo corpo
Suas vozes não calarão.
Não desejam humilhados
Migalhas ou esmolas
Nunca conseguiram
Passar pelas escolas.
Esquecidos pela vida
São relembrados em maio
Apenas num tempo menor
Que a queda de um raio.

12
IMPOTÊNCIA - Rose Oliveira - Aracaju

Cárcere cruel do atuar,


dor intensa que ata o corpo,
vazando no olhar...
Ignóbil!
Ousa arrogar-se dona da ação?
Não é probo que disponha do livre-arbítrio,
legítimo, pertinente ao SER.
Simula não ver...
Ah, execrável comoção!
Desfere doída incisão
na emoção rompente,
bruscamente.
Odioso estupor,
que nega a deliberação,
induzindo ao porfiar
entre o retroceder ou avançar.
Afaste-se!
Portões descerrados,
seus grilhões serão desdenhados
pelo poder outorgado
no divino em nós...
encerrado.

AMARRAS PRESENTES - Simone Barbariz – Ateneu

A Lei assinada por Isabel até hoje encontra resistência


Principalmente nos campos, com trabalho escravo...

Negros, brancos, pardos, índios, todos não escapam


Desta atroz ofensa à liberdade em busca de trocado

Chicotadas no tronco já não há mais


Somente constante ameaça de morte...

Mais de cem anos depois em pleno século XXI,


Ainda há escravidão humana.

13
Liberdade - Angélica

Minh´alma jaz sem cura


Fecho hoje pois pra balanço
Voa leve no espaço segura
Vai que lhe dou descanso
Não se perca, cuida de voltar pura
Deito os olhos no horizonte
Como criança bem distraída
Assistindo o seu divagar
Corre pois esse mundo sem saída
Cá estou eu a lhe velar
Você está solta alma menina barulhenta
Deixa de inquietação
Siga por outro semblante
Outra arrebentação
Vale um novo amor, um que alimenta
Que lhe devolva radiante
Um amor que abra fendas
Mostre iluminadas sendas
Eu miserável que sou, fico cativa
A morrer sem a alma menina
Pois dessa terra sou nativa
Não me basta ser mulher felina
Tinha que ser selvagem
Um poço de coragem
Ir adiante no infinito vagar
Voa pois minh´alma doce menina
Ganhar o mundo em meu lugar

14
Idéias Íntimas VIII - Álvares de Azevedo

O pobre leito meu desfeito ainda


A febre aponta da noturna insônia.
Aqui lânguido a noite debati-me
Em vãos delírios anelando um beijo...
E a donzela ideal nos róseos lábios,
No doce berço do moreno seio
Minha vida embalou estremecendo. . .
Foram sonhos contudo. A minha vida
Se esgota em ilusões. E quando a fada
Que diviniza meu pensar ardente
Um instante em seus braços me descansa
E roça a medo em meus ardentes lábios
Um beijo que de amor me turva os olhos
Me ateia o sangue, me enlanguesce a fronte,
Um espírito negro me desperta,
O encanto do meu sonho se evapora
E das nuvens de nácar da ventura
Rolo tremendo à solidão da vida

15
Nº 04 - Maio de 2003
É o mês de Maio, Dia das Mães...
E a Revista 04 mostra mães falando de filhos, do amor, da alegria, dos
cuidados e da dor de se perdê-los... uma dor indescritível. Às mães e seus
filhos, nossa homenagem! cla.

MEU ANJO - Angélica T. Almstadter


Meu canto doce
Embala teu sono leve
Teus cabelos esparramados
Em meu colo com desvelo
Cintilam

A canção de ninar
Entoada baixinho
Te reconduz lentamente
Ao portal da infância
Serena

Teu rosto sorri adormecido


Corado pelo sol
Dorme meu dengo
Que meu carinho te afaga
Feliz

Sonha com outros anjos


Meu pequeno anjo
Que velo pelo teu sono
Desperto a te admirar
Sempre

16
EXALTAÇÃO A IAN - Célia Lamounier – Ateneu

Este é meu filho!


Seja feio ou bonito
Branco ou preto, não importa,
Toda mãe se ufana
E a frase sai como um grito,
Uma vitória que conforta.
E só pensar nisto me basta
Para ser feliz e lutar...
Lutar até a morte.

Este é meu filho!


Suga meu leite... todo
E meu vigor, e viço, e sangue até.
Cresce sadio, feliz, contente
Enquanto eu... esmoreço
Mas vê-lo crescer, ouvi-lo com fé
Dizer: Mãe!... A mãe se arrasta,
Se preciso for morre
Escrava feliz deste amor.

Este é meu filho!


Pequeno ainda as horas do dia gasta.
Mas na vida os dissabores, os problemas,
Que fazem neste amorável ninho?
Se eu não tenho mais nada
Mas tenho este filhinho
-- Tenho tudo ainda...
Este é meu filho!
E só pensar nisto me basta.

17
Meu Garoto - Lucelena Maia

Já não é tão pequeno como eu gostaria


para em tudo defendê-lo
mas, ainda é minha criança
um ser indefeso que fala sem pensar
ri até chorar em tudo vê graça
adora brincar assistir televisão
jogar vídeo game estar no computador
ir ao cinema com os colegas
tomar sorvete se divertir no skate
ou qualquer outra aventura
movida a emoção...

Meu menino, minha realização


uma fortaleza, defensor de idéias,
dono de opinião, contestador de todos os "não"
principalmente se vierem sem explicação.
Vaidoso, inteligente canta no chuveiro
faz guerra de travesseiro toca teclado e flauta
gosta de informação livros, televisão
tudo que o coloque de frente a atualidade
qualquer novidade animais, planeta, água, genética
homem, clone, floresta.
Gosta de liberdade nadar, nadar, nadar
Karatê lutar, mas quando o dia acaba
é ao pai e a mãe que se abraça
pequenino carente pedindo atenção
carinhoso, distribuindo beijos
e se quer percebe nesta busca
afagar nosso coração...

Hoje sou eu, meu pequeno


que feliz quero lhe desejar
uma infância tranqüila
com paz saúde alegria neste dia
e, em todos os outros, também
e quando você crescer
guarde a lembrança desta infância
e que ela seja teu guia
na autêntica simplicidade que o fez
Felipe Augusto. - 12/10/2002

18
Às minhas filhas - Lizete Abrahão

Audrey - Ariane - Adriane


São poesia das minhas linhas
Graça e vontade do meu viver
Foram moleques, foram meninas
São toda minha razão de ser

Mais que dos meus olhos a alegria


Do meu amor são bendito alimento
Vivo por vocês, a cada dia,
Força em que me sustento

Sem saber, cobrem meus ninhos


No lugar da mãe ausente
São os meus quatro filhinhos
No meu coração silente

Fazem-me filha embalada


E mãe... a mais abençoada
maio/1992

Ai , que saudades ! - OlgaMatos


Dia das Mães/2001
Saudades, ah, saudades ...
um monte dando passagem
a outras encordoadas!
Beicinhos e garatujas,
narizes e caras sujas
onde os olhinhos reluzem!

Aquele vitral quebrado,


que custou uma fortuna,
aquela roupa rasgada,
que não têm mais compostura...

Vem bafejo do passado,


são relíquias que assomam...
nem a vista ou financiado,
nenhum dinheiro as compra!

19
Ouvindo o riso do neto
e a risada da filha,
a vó abre sua janela,
ao passado visita,
e também sorri feliz!

Um anjo morou comigo, homenagem ao meu anjo Nana!!!!


Um anjo morou comigo: Ariane Cândia Guerra
Malu Melo - Maluzinh@

Amor ... o que ela mais plantou, semeou


Rios de felicidade por onde passou, sua alegria radiante
Inteligência, com uma força sempre confiante
Amiga sempre presente, que muita saudade ficou
Natureza tranqüila, gentil sempre serena
Esperança ,semente que em todos plantou.

Cândida, suave, gentil ,muito carinhosa


Amiga sincera, irmã maravilhosa, filha respeitosa
Nunca de sua boca se ouviu uma palavra insana
Distante ou perto, sempre confortava, orientava
Ilusões, sonhos nos trouxe e sua fé distribuiu
A todos que precisavam ou a procuravam.

Gentil ,humana íntegra a muitos ensinou


Um grande exemplo de vida para todos ficou .
E nunca a ninguém magoou, julgou ou humilhou
Ria sempre mandando a tristeza embora
Restou- me então a certeza nessa hora
Aqui comigo e amigos... um anjo morou.

Amigos, uma simples e singela homenagem ao meu anjo Ariane, a quem


chamávamos de Nana, e a certeza de que Deus deu-me a honra de ter, por 27
anos, um anjo em minha casa concebido por mim, e pelo dia das mães meu
egoísmo esqueço, e a Deus a cada minuto agradeço!! Malu Melo - Maluzinh@

20
Meu filho - Jandyra – MG

Quando te notei em mim


Eras menor que a cabeça de um alfinete
Entretanto, já fazias parte do meu ser
Respiravas a minha respiração
Alimentavas através do meu sangue
Sentias bem de perto o bater do meu coração
Aqui de fora eu também sentia o teu.
Aos poucos fostes crescendo,
E com isto transformando meu corpo
Numa modificação gloriosa
Pois nada se compara ao corpo sem curvas
De uma mulher grávida.
Sem te conhecer eu já te amava
Sem saber se eras menino ou menina
Escolhia nomes para teu Batismo.
Durante oito meses ficaste comigo
E só eu tinha a dádiva de sentir-te,
De saber que existias, com todos os reflexos
da vida que terias... tu me chutavas,
batias com as mãozinhas em meu ventre,
que com muito carinho te guardava
Estavas protegido de todos os perigos
Pois somente eu tinha acesso ao teu corpinho.
Através das mãos que te acariciavam
aqui do lado de fora.
Para os outros eras um sonho...
Parte de tua vida em mim ficaste sentado
Era difícil agüentar aquela dor diferente
pois quando mexias, minha barriga toda doía
Por confusões de sangue, negativo e positivo,
Tiveste que deixar o teu troninho
Pois eras meu Rei mesmo antes do nascimento
Parto cesariana, chegaste chorando como tem que ser
Eu não te vi pois dormia, e este prazer quem teve primeiro
Foram as pessoas que mais te amaram depois de mim:
Papai Antônio e Vovó Geralda
Eras tão pequeno meu filho, com oito meses apenas
Uma transfusão de sangue, um susto grande para nós:

21
Tiraram todo teu sangue para que pudesses viver
Ficaste na incubadora por cinco dias
Mas, desde o começo, ias ao quarto para mamar
Sugavas meu seio com tanta força que eu pressentia:
"este menino vai ser muito grande e guloso também"
E assim aconteceu, o milagre da vida, a tua vida...
E depois, com o correr do anos, eu posso dizer sem medo de errar:
valeu a pena tudo que passei, todos os exames que fiz na gravidez ,
as horas de medo, de angústia, tudo foi muito pouco
pois tu és tudo aquilo que imaginamos, que pedimos a Deus:
saudável, humilde, bom filho, amigo, bom tudo.
És belo e forte. Tua grandeza de espírito,
tua generosidade, teu caráter, medem tanto quanto ti
1.90 de bom marido, bom pai, bom filho, repito.
Que pena a vovó ter partido antes de conhecer tua família...
Obrigada Júnior por teres escolhido meu ventre
para teu renascimento
Obrigada meu Deus, pelo presente de tê-lo consentido...
Jandyra

22
Nº 05 - Maio de 2003
Hoje uma criação especial do Ateneu - Ensaio: RESERVADO.

RESERVADO - lucelena maia - 28.04.03

Hoje a mesa foi colocada sem pressa


não haverá jantar, nem prosa
a toalha de linho branco amassada
com gotas de vinho tinto a mostra
tornou-se acaso na memória manchada
pelo ato apressado
que talhou segredo acontecido
em um pedaço de pano
num instante perene
no tempo e no espaço
incessante tanto quanto intrépido
percorreu caminhos secretos
e o silêncio da noite não ousaria delatar
o nome a quem foi reservado
o lugar à mesa para o chá da tarde...

2-RESERVADO - Zeferro - 12.05.03

O bar esfumaçado que me abriga


Bem pode conhecer a minha história
Que parece tragédia muito antiga
Mas apenas reside na memória
Aqui venho somente pra lembrar
Os momentos felizes do passado
E jamais me esqueço de deixar
Teu lugar e teu copo reservado!

23
Não busco esquecer na embriaguez
Um consolo que não traria paz
Continuo a te amar na insensatez
Pois sei que não te esquecerei jamais!

E por mais que eu procure uma razão


Estás só, como eu, no coração!

RESERVADO - Fátima Cunha

Hoje, à mesa, não coloquei


sonhos, chocolates ou vinhos
os ponteiros marcaram sozinhos
a solidão de cada minuto
nas horas que de ti, me afastei!
Reinou em mim o absoluto
silêncio das coisas que falam
e o grito, de tantas que calam,
na imensidão desta saudade...
Tudo me pergunta, não respondo,
de cada objeto, me escondo,
escondo até de mim, a verdade:
não sei se é o tamanho frio,
que faz desse imenso vazio,
um sem som de música, isolado
ou versos sem calor de poesia,
com gosto de Vida vazia,
fitando o espaço reservado...
à mesa... é um espaço pequeno
com a minha Vida, te aceno,
preenchas... te quero ao meu lado.

24
RESERVADOS - OlgaMatos

Hoje e sempre à mesa esteve


toalha limpa e simples ,
tanto quanto o alimento
feito com amor e carinho,
temperados com respeito,
aos preceitos do Velho Pergaminho!

Mas , ah, antes aqui havia cheiro,


vozes, beijos , mãos e sorrisos.
cada um ocupava sua cadeira.

Os lugares reservados ainda existem,


lá está a toalha na mesma mesa,
simples , limpa e cadeiras vazias ,
a única ocupada é a minha!!

RESERVADO - Angélica
A mesa posta elegante
Mais um dia amanheceu
Sem teu cheiro infante
Saudade de novo...doeu..
Abro a janela e respiro
O halo de tua presença distante
Impressa como em papiro
Neste sombrio semblante
Tua xícara, teu talher
Tua cadeira sempre vazia
Faz morrer em mim a mulher
Que recolhe a alma fria
Murchando como as flores e bordados
Neste canto a ti reservado.

25
RESERVADO - Lizete Abrahão

À volta da mesa, pessoas caladas


Esperam de mim a chamada
Elas olham-se umas às outras, mudas.
O menino sonha, sem ajuda
O jovem move o olhar como em arrepio
A mulher... olhos de velha... fria
A outra sorri para o nada... esguia
Uma menina pensa em café frio...
O homem agita-se ensimesmado
Na cabeceira, um lugar vazio...
Lembrança deixou lugar reservado...
Da mesa, sobem aromas de nostalgia

Nessas manhãs, abro as janelas


O dia senta-se à mesa comigo
Aqueço o café, sirvo-me o pão amigo
Iluminam-se sorrisos em faces belas...
Reponho a mesa da saudade
Retiro as lembranças... frias
Do meu tempo sem idade...
Acendo o fogo da eternidade
Fumegam os pratos plenos até à borda...
Bebo goles do sonho que me acorda.

Saudade...deixo-a vir aos bocados


Para servi-la em taças coruscantes,
Digna de ornar os mais ricos bordados...
Com pão, vinho divino, águas refrescantes,
Aos personagens dessa visão secreta

(Seus eternos lugares estão reservados,


Ao abrigo das minhas tentações de poeta)

26
RESERVADO - Célia Lamounier

A grande mesa está coberta de poeira


Com saudade das festas e das flores
Quando a família se reunia feliz.
Hoje vou buscar a toalha, talheres
Rosas, telas, acender velas
Colocar um disco na vitrola
Não quero ouvir CD.

Sobre a velha mesa um pão de ló


Xícaras de chá... onde está o bule?
É dia das mães (e das avós)
Estou aqui na clara sala olhando a mesa
Recordando... o tempo que passou e deixou
Bem reservado no meu coração
O amor, o sonho e a ilusão...

27
Nº 06 - Maio de 2003
Em novo tempo - Para autoras e amigas de versos... nossa homenagem!

Um dia na Eternidade - Priscila (CILL)

De manhã, o coração suave


Alegremente, olha o jardim
E tamanha é a felicidade
Que no peito, quase não cabe
A esperança e a vivacidade
Que arde, no coração, sem fim...

À tarde, o coração receia


Palpita e sonha, meras ilusões
E no jardim, se embaraça
No espaço que o rodeia
Há múltiplas sensações
E o coração se escassa...

Chega a noite, o coração lamenta


Triste, chora os jardins perdidos
E a espontaneidade, que vem do amor
Em sua marcha tão lenta
Repete em frios gemidos:
- Só desejei uma flor!

28
AQUELE OLHAR - Paula Maria

Desde tempos imemoriais aqueles olhos buscavam sôfregos a imagem de suas


quimeras.
Investigavam curiosamente os detalhes do intangível. Buscavam noutros olhos
as linhas do infinito,
e os contemplavam com tamanha ousadia. Aqueles olhos traspassavam mesas
fartas
desafiando presenças ostensivas sem pudor de verem a inocência ameaçada.
Aqueles olhos captavam imagens pelas frinchas da janela que o arquiteto,
ingenuamente projetara,
como mirante para outros seus. Aqueles olhos buscavam buliçosos os olhos de
sua própria alma;
ora nos retrovisores e nos semáforos, ora nas ruas, nas festas e nas igrejas
e ora nas varandas, portas e janelas indiscretas.
Mas houve uma noite em que aqueles olhos, na mais extasiante contemplação,
na mais alimentada das paixões entre os olhares então trocados,
desnudaram sua alma e fizeram dos olhos meus o santuário do seu olhar.

REENCONTRO - Edna Feitosa

Estamos distantes demais Embora nos esbarrando a todo instante... Por favor,
vamos conversar um pouquinho?
Se nos for dada a responsabilidade De nos ouvirmos mais Será muito melhor
pra nós...
Isso! Fiques aqui, sem pressa... Tu colocas uma flor em meu cabelo Eu coloco
uma em teu bolso
Assim... numa responsável inocência... E conversaremos horas a fio Sem
vermos o tempo passar...
Te falarei espontaneamente dos meus castelos de areia Ou dos planos que
tenho para daqui a mil anos.
Comentarei sobre as utopias que imaginei E que me trazem alegria sincera de
vida.
Depois nos sentaremos numa nuvem E eu te falarei da saudade... Ah,
saudade!... Nobre sentimento
Que retrata o amor, a dor e o desejo de reencontro. Voltaremos no tempo e no
espaço...
Viveremos vidas e lutas do passado E seremos um, presentes em plena
sintonia. Entenderei de tua vida

29
Coisas que somente tu sabes E te farei presente de todo o valor Que a vida me
deu: as flores sempre-vivas
E os sulcos profundos, marcados por falhas bastante úteis...
Compreenderemos juntos que em todo amor
Deixamos um pedaço fundamental de nós... Numa entrega total ainda que
etérea, tantas vezes...
Reservaremos num lugar do coração um escrínio de luz Com os pedaços de
todos os que se fizeram nossos...
E muitos dos nossos próprios pedaços... Finalmente nos sentaremos mais
perto... E não diremos nada!
Permaneceremos num silencioso abraço certos de que, se semeamos ou
entregamos algum pedaço pernicioso de nós
Foi por completo descuido mas nunca por ausência de diálogo, nunca por
omissão ou intenção...
E assim, nessa entrega sem reservas Nessa sintonia onde o silêncio diz mais
que as palavras,
Nesse abraço quieto, forte e sereno Nesse entendimento mudo, consumado
Sentiremos que fomos capazes de concretizar A alegria desse tão sonhado e
necessário reencontro!

SORRISO - Jandira Adami

Olho o tempo... olho meu espaço


tão reduzido agora...
Na sala, recordações singelas
No quarto...ah! no quarto,
a tua presença permanente
embora não me queiras mais.
No porta retrato, teu sorriso franco,
Mas, sei que não é mais para mim.
De qualquer maneira pego o teu sorriso
e com ele me transporto ao passado.
Vivo tudo de novo, com a mesma alegria
de quanto estávamos juntos.
Saudade... muita saudade.
Esperança nenhuma...
Olho tua foto, teu sorriso
E fico triste porque sei
Que não é para mim que tu sorris...

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A IRAQUIANA - Belvedere - Ateneu

Entendi tudo que a mulher iraquiana falou;


Era sobre o bombardeio que ela simulou o som.
Vieram lágrimas, desespero, incontida emoção.
Tudo em sua vida se extinguira. Falava, gesticulava...
Orando, gritava olhando para o céu.
Era iraquiana, mas eu entendi tudo que disse.
A dor é universal. Não há necessidade de tradução...
Fica a emoção que basta!

Se você quiser - Thaís Copetti

Tenha certeza! Estarei esperando, amiga, se você vier.


Se você quiser segurar minha mão, estarei contigo.
Quando sentir fome a solidão, (aquele bichinho que freme o apetite,
deixando o vazio, um desabrigo) me chame baixinho, ou ainda, grite.
Amiga, estarei contigo... Porque o centeio que um dia plantamos,
será sempre nosso pão, nosso alimento. Ainda que surja a tempestade, o
tormento,
e devaste tudo que adubamos, estará lá intacta a semente. Amiga, estarei
contigo...
E direi: "- Não chore, querida, não chore... Aceite meus braços de presente."
E deitará sobre meu canto que escorre: a minha lágrima que acompanhará a
sua.
A minha dor sincera, nua, vai lhe oferecer as mãos.
Prometo ser no seu pranto, um berço. E ser sua torcida, seu terço.
Por você serei um diário, ouvidos em confissão. E não se magoe, levada
menina,
se um dia eu lhe chamar atenção... Eu só quero o seu bem. Eu só quero o que
vem
das palavras melhores. Contudo aceite seus erros... Menina, lembre- se ao
chorar...
Ou melhor, não chores! Não chores! Estou cá. Estarei sempre. Olhe para mim.
Sim... Falo, mas sou eu quem chora. Esqueci de lembrar-me, ou esqueceu de
avisar-me
que está aqui, mesmo não estando? O dia catou-me as suas horas...

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E eu acabei colhendo as migalhas, os centeios, as palavras que deixamos no
chão.
Para dizer amiga que eu a amo. Que estará sempre em meu coração.
Amiga, volte a trilha das palavras que deixamos... Estarei contigo. Segurar
minha mão,
se você quiser. Se você vier... Estarei esperando. Tenha certeza!

Célia Lamounier – www.celialamounier.net

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