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Seminário sobre o texto de Michel Foucault

Disciplina: Comunicação, mídia e poder


Prof. Dra. Liliane Machado
Mestranda em Comunicação: Nathália Kneipp (tradução, edição e diagramação)
Outubro de 2009, Universidade Católica de Brasília (UCB)

DITS ET ÉCRITS
As malhas do poder
 Conferência de Michel Foucault na UFBA em 1976

Análise sobre a noção de poder


Tentativa de contornar o esquema freudiano: INSTINTO

Fim do séc. 19
PULSÃO DO
DESEJO
INSTINTO REPRESSÃO
REPRESSÃO

INSTINTO CULTURA CORPO E LEI

Melanie Klein •Tentaram demonstrar que a


Psicanalista austríaca
repressão não era um mecanismo
secundário, ulterior, tardio, que Fantine e Javert, “Os Miseráveis”
Fonte: http://www.mtholyoke.edu/courses/rschwart/les_mis_text/fantine.htm

tentaria controlar um certo jogo


instintivo. •Mudam a concepção do
Donald Winicott
Pediatra, psicólogo, sociólogo, psicanalista inglês
desejo… porém isso ainda é
•A repressão faz parte do mecanismo Herança
insuficiente, formal, jurídico
do instinto
de Kant:
você
PODER é lei
deve;
você não o fato de dizer “não”
Etnologia da regra, da proibição, de Durkheim a deve.
Jacques Lacan Strauss, proibição do incesto serve como matriz para
Psiquiatra e psicanalista francês compreensão do funcionamento geral desse sistema. mais uma vez a fórmula: “você não deve”
É preciso elaborar uma outra concepção de poder para compreender melhor quais são
as relações estabelecidas entre poder e sexualidade nas sociedades ocidentais
 Pierre Clastres, (1934-1977), antropólogo e etnógrafo francês., autor de
 “La Soicété contre l‟Etat. Recherches d‟anthropologie politique”

PODER como tecnologia


•Em “A sociedade contra o Estado”, o
antropólogo francês Pierre Clastres mostra
Segundo Foucault, ele se distancia;
a sua etnografia dos povos ameríndios. Além
tenta se emancipar dos conceitos
de apresentar os princípios ordenadores
anteriores
da vida social das sociedades primitivas da
América, questões como a construção de
uma antropologia política também são postas
em pauta. O mais importante do texto,
porém, é sua argumentação de que as
sociedades primitivas não são comunidades em
que o poder político (monopólio da coerção
física, segundo Weber) está ausente: elas
lutam contra este poder externo, que uma vez
aparecendo faz desaparecer as
sociedades primitivas.

•O que Clastres quer mostrar na realidade, é que as sociedades primitivas têm


um domínio da técnica muitas vezes melhor que o nosso, da civilização moderna.
Fonte: http://lucasfgarcia.googlepages.com/pierraclastres-asociedadecontraoesta.pdf
Por que a nossa sociedade ocidental concebeu o poder de uma maneira tão restritiva,
pobre, negativa?

Ao buscar explicar o porquê


de o poder estar associado
à interdição, relembra que
no Ocidente os grandes
sistemas estabelecidos desde
a Idade Média se
desenvolveram por
intermédio da crença no
poder monárquico contra as
instituições, os costumes,
regras, as formas de ter
laços, sentir-se pertencente a
um grupo, características das
sociedades feudais. (pág. 185)
Representação do modo de
vida no feudalismo
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Les_Tr%C3%A8s_Riches_Heures_du_duc_de_Berry_mars.jpg
O poder monárquico (de Estado) está representado no direito

•O poder monárquico se • O direito romano reapareceu no


desenvolveu no Ocidente ao Ocidente nos séc. 13 e 14 e foi um
se apoiar em instituições instrumento formidável nas mãos da
judiciárias e ao ajudar a monarquia para conseguir chegar a
desenvolver essas instituições. definir as formas e os mecanismos
do seu próprio poder.
•Nas guerras civis, substituiu-se
a velha solução dos litígios • A burguesia tinha todo o interesse
privados por um sistema de em desenvolver esse sistema de
tribunais, munidos de leis, que direito que lhe permitia dar forma
davam ao poder monárquico às negociações econômicas que
a possibilidade de resolver as asseguravam o seu próprio
disputas entre os cidadãos. desenvolvimento social. Luis XIV de França, “Rei-Sol”, “O Estado sou eu”

• A burguesia e a monarquia conseguiram, pouco a pouco,


•A burguesia se aproveitava
estabelecer, desde a Idade Média até o século 18, uma forma
amplamente do
de poder que se representava, que se dava como discurso,
desenvolvimento do poder
como linguagem, o vocabulário do direito. E quando a
real e da diminuição,
burguesia finalmente se livrou do poder monárquico, ela o fez
regressão dos sistemas
precisamente ao utilizar esse discurso jurídico da monarquia.
feudais. (pág. 185)
Exemplo de Rousseau: Teoria do Estado (Contrato Social*)

Como nasce um soberano?

coletivo

Filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau Corpo social como soberano

A partir da cessão dos direitos individuais, da sua alienação e da formulação


de leis de proibição que cada indivíduo deve reconhecer, por ter sido ele
próprio que se impôs a lei, na medida em que ele é membro do soberano, na
medida em que ele próprio é um soberano. (pág. 186)

Proposta de Foucault: não mais falar da representação do poder e sim do seu funcionamento real (pág. 186)

*As teorias sobre o contrato social se difundiram entre os séculos XVI e XVIII como
forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, portanto, das
obrigações políticas dos governados ou súditos. Thomas Hobbes (1651), John
Locke (1689) e Jean-Jacques Rousseau (1762) são os mais famosos filósofos do
contratualismo.
Como tentar analisar o poder nos seus mecanismos positivos?

Panopticon Microfísica do Poder, cap. XIV, “O olho do poder” e em Vigiar e punir

Concebeu o design do prédio de


uma prisão, denominada
Panopticon, em que é possível Jeremy Bentham 1748 - 1832
observar os prisioneiros, sem que Filósofo e jurista inglês, “grande
teórico do poder burguês”
estes saibam que estão sendo
observados. Sentimento de uma
onisciência invisível.

Para Foucault:

•o “precursor de uma sociedade policial”;


•inversão do princípio da masmorra;
•tecnologia de poder para resolver os problemas da
vigilância;
•aquilo que os médicos, os penalistas, os industriais, os
militares e os educadores procuravam.
“Cada camarada torna-se um vigia” (Betham)
“Rosseau certamente teria dito o contrário: „que cada vigia seja um camarada‟” (Foucault,
Microfísica do Poder, pág. 215). Betham e Rosseau se completam; lirismo e obsessão.
.
Karl Marx (1818-1883), filósofo, economista,
. .
sociólogo, historiador. Rousseau Marx
“Livro 2 de O Capital”
. .
A sociedade é um arquipélago de poderes diferentes Pág. 187

 Não existe um poder e sim vários poderes


ateliês
 Poder é forma de dominação e de sujeição
 Esses poderes funcionam localmente exércitos

propriedades do tipo escravagistas


 Essas formas locais têm seu próprio modo de propriedades em que há
funcionamento, procedimentos e técnicas relações servis
 Todas essas formas de poder são
heterogêneas
 Deve-se falar em poderes e tentar localizá-los
em sua especificidade histórica
 Justaposição, relações, coordenação,
hierarquia de diferentes poderes que têm,
cada qual, sua especificidade.
Os poderes específicos, regionais, não têm função proibitiva (“você não deve”);
são produtores de eficiência, de uma aptidão, produtores de produtos. Pág. 188

Fazer a história das técnicas industriais e também das técnicas políticas


Ex: aparecimento do fuzil, faz com que o exército não possa mais ser composto de
pequenas unidades isoladas.
Invenções de tecnologias políticas, visando disciplina e dominação

Inconvenientes da monarquia 1

Os dois capítulos sugeridos por Foucault


• Técnica de individualização do
Tecnologia
O poder político como se da Disciplina
poder
• Mecanismo que controla o
corpo social até os elementos
S
mais tênues, átomos sociais, os
exercia no corpo social Anátomo- indivíduos.
apresentava política
Escrutínio total
E
descontinuidades;
2
• Tratará de questões
X
Pirataria: ilegalidade Tecnologia relacionadas à moradia,
das condições de vida nas cidades,
como condição para
sobreviver populações
higiene pública, incentivo a
maiores taxas de crescimento
populacional, como gerir fluxos
O
migratórios, etc.
Biopolítica
Oneroso: poder de É colocado como o ponto de articulação entre as disciplinas individuais do
arrecadar ou predar algo corpo e o controle da população. Sexo = instrumento de
“disciplinarização”, de política para fazer da sociedade uma máquina de
(impostos) pág. 190 produção. Pág. 194
O sujeito e o poder
 University of Chicago Press, 1982

Por que estudar o poder? A questão do sujeito


•Idéias tratadas não se referem a teoria nem a metodologia; busca contar qual foi o objetivo
do seu trabalho nos últimos 20 anos.
•Não se tratou de analisar os fenômenos do poder nem de lançar as bases para uma análise
desse tipo;
•Procurou produzir uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano na nossa
cultura.

•Sob essa ótica, abordou três modos de objetivação que transformam os seres humanos em
sujeitos:

Objetivação do sujeito que • em gramática geral, filologia e linguística


fala
Objetivação do sujeito
produtivo, que trabalha • em economia e ao analisar as riquezas

Objetivação do fato de
estar na vida • na história natural e na biologia pág 223
Segunda parte de seu trabalho foi dedicada a
louco homem são
estudar a objetivação do sujeito nas práticas
“divisoras” (o sujeito está dividido seja no seu
enfermo indivíduo com boa saúde
interior ou separado dos outros. Esse processo o
torna um objeto)
criminoso bom moço

Se o sujeito humano se encontra em relações de produção e relações de sentido, ele está


igualmente envolvido em relações de poder de grande complexidade.
História e teoria da Instrumentos adequados Relações de produção
economia para estudar

Linguística e semiótica Instrumentos adequados Relações de sentido


para estudar

Quais instrumentos são


Poder Relações de poder
adequados para estudá-lo?

•É necessário ampliar as dimensões de uma


definição de poder se nós quisermos utilizar essa Modelos jurídicos (o que legitima o poder)
Modelos institucionais (o que é Estado)
definição para estudar a objetivação do sujeito.
Novo modo de investigação consiste em pegar as formas de resistência aos diferentes tipos
de poder como ponto de partida (pág. 225)
Analisar as relações de poder por meio do afrontamento das estratégias

Ponto de partida oposições dos últimos anos

Não é suficiente dizer que essas são Homens Mulheres


lutas contra a autoridade, é preciso Pais Filhos
definir melhor o que têm em comum: Psiquiatria Doentes mentais
Medicina População
Administração Modo como as
1. São lutas transversais não
pessoas vivem
se limitam a um país em
particular, não são restritas a
um só tipo de governo político 3. São lutas “imediatas”, por duas razões: as
e econômico; pessoas criticam as instâncias de poder que são as
mais próximas das suas realidades, aquelas que
2. O objetivo dessas lutas são exercem uma ação sobre os indivíduos. Não procuram
os efeitos do poder como o inimigo número 1 e sim o inimigo imediato. Não
tais. A reprovação em relação à consideram que a solução do seu problema possa
profissão médica não é a de ser residir em um futuro qualquer (em uma promessa de
um empreendimento com fins liberação, de revolução, no fim do conflito de classes).
lucrativos e sim de exercer, sem Em relação a uma escala teórica de explicação ou à
controle, um poder sobre o corpo, ordem revolucionária que polarisa o historiador, são
a saúde dos indivíduos, sua vida e lutas anárquicas.
sua morte.
Pág. 226
6. Todas as lutas atuais giram em
4. São lutas que colocam em questão o
torno de uma mesma questão:
estado atual (statu) do indivíduo. Por um
quem somos? Elas são uma
lado, elas afirmam o direito à diferença e
recusa dessas abstrações, uma
destacam tudo que pode tornar os indivíduos
recusa da violência exercida pelo
verdadeiramente individuais. Por outro lado, elas
Estado econômico e ideológico que
se ocupam de tudo que possa isolar o indivíduo,
ignora quem nós somos
cortar as relações que o mesmo mantém com os
individualmente e, também, uma
outros, cingir a vida comunitária, forçar o
recusa da inquisição científica e
indivíduo a se dobrar sobre si mesmo e se apegar
administrativa que determina nossa
à própria identidade. Essas lutas não são contra o
identidade.
indivíduo, mas se opõem ao “governo por
individualização”. Em resumo, o principal objetivo
dessas lutas não é tanto de
atacar tal ou tal instituição de
5. Opõem uma resistência aos efeitos de poder, ou grupo, ou classe, ou
poder que estão relacionados ao saber, à elite, e sim a uma técnica em
competência e à qualificação. Elas lutam particular, uma forma de
contra os privilégios do saber e também se
opõem ao mistério, à deformação e a tudo que
poder…
possa haver de mistificador nas representações
que se impõem às pessoas. Coloca-se em Pág. 227

questão o “regime do saber”.


essa forma de poder… se exerce sobre a vida quotidiana imediata, que classifica os
indivíduos em categorias, os designa por sua própria individualidade, os prende a sua
identidade, impõe-lhes uma lei da verdade que eles têm que reconhecer e que os outros
devem reconhecer neles. É uma forma de poder que transforma os indivíduos em sujeitos.

Existem dois sentidos para a palavra sujeito:

Sujeito submetido ao forma de poder Sujeito preso a sua


que subjuga e própria identidade pela
outro pelo controle e
sujeita consciência ou conhecimento
dependência
de si.
3 tipos de luta
1 aquelas que se opõem A que predomina
3 aquelas que combatem tudo
às formas de dominação aquilo que liga o indivíduo a si
étnico-sociais e religiosas. mesmo e asseguram, assim, a
Ex: sociedades feudais 2 aquelas que denunciam submissão aos outros (lutas
formas de exploração que contra o assujeitamento,
separam o indivíduo daquilo contra as diversas formas de
que ele produz. submissão da subjetividade).
Ex: séc. 19, luta contra Ex: luta contra “não poder ser”.
exploração veio para o 1o
plano.
PODER PASTORAL

Técnica de poder originária do cristianismo

1. Objetivo final  assegurar a salvação dos indivíduos em outro mundo.

2. Não é simplesmente uma forma de poder que ordene; ele deve estar preparado a se
sacrificar pela vida e salvação do rebanho. Nisso se distingue do poder soberano que exige um
sacrifício da parte dos seus sujeitos a fim de salvar o trono.

3. .É uma forma de poder que não se preocupa somente com o conjunto da comunidade. Preocupa-
se com cada indivíduo em particular, durante toda a sua vida.

4. Essa forma de poder não pode ser exercida sem que se conheça o que se passa
na cabeça das pessoas; sem explorar suas almas, sem que se conheça os seus segredos
mais íntimos. Ela implica em um conhecimento da consciência e uma aptidão a conduzi-la,
ligada à produção da verdade, aquela do próprio indivíduo.

Institucionalização eclesiástica  perde vigor a partir do século 18 Pág. 229


Estado moderno  novas formas de P O D E R P A S T O R A L

1. Objetivo final, no transcorrer de sua evolução, muda


Salvação no outro mundo  BEM-ESTAR NO PLANO TERRESTRE,
saúde, bem-viver, segurança, proteção contra
acidentes, enfim, qualidade de vida.

2. Assiste-se a um reforço na administração do poder pastoral. Às vezes explicitada pelo


aparelho de Estado ou por uma instituição pública como a polícia, e também a família.

3. A multiplicação dos objetivos e dos agentes do poder pastoral permite concentrar o


saber sobre o homem em torno de dois pólos.

ANALÍTICO,
GLOBALISANTE,
(individualização)
(totalização)
diz respeito ao
quantitativo, diz
indivíduo.
respeito à
população.
O que se passa nesse momento ou quem
somos nós nesse preciso momento da história?
Immanuel Kant,
artigo
publicado no
Berliner
Monatschrift,
em 1784

Proposta de Foucault ao refletir sobre esse


artigo de Kant:

Construir aquilo que poderíamos ser ao nos


livrarmos dessa dupla amarra política que
é a individualização e a totalização,
simultâneas, das modernas estruturas de
poder.

Pág. 231
Como se exerce o poder?

1 O COMO  Descrever efeitos,


sem reportar as causas nem sua natureza

P O D E R
ORIGEM
MANIFESTAÇÕES

NATUREZA

Saber se é legítimo pensar o poder que une um quê, um porquê, um como…

1. O poder é exercido sobre as coisas


•Modificá-las capacidade
•Utilizá-las
Dá a capacidade de
•Consumi-las relações
•Destruí-las instrumentais

2. O poder se exerce em relações entre pessoas (parceiros)

3. O poder envolve relações de comunicação  de relações de poder e


capacidades objetivas
Pág. 233
2 EM QUE CONSISTE A ESPECIFICIDADE DAS RELAÇÕES DE PODER?

•Não existe um face-a-face entre poder e liberdade, e entre estes uma relação de
exclusão (em qualquer lugar em que o poder se exerça, a liberdade desaparece). Nesse
jogo complexo, a liberdade aparece como condição de existência do poder (às vezes, seu
pré-requisito, pois é preciso que haja liberdade para que o poder se exerça).

•A relação de poder e a rebeldia da liberdade não podem ser separados.

•Em vez de antagonismo, seria melhor dizer “agonismo” = provocação permanente.

3 COMO ANALISAR A RELAÇÃO DE PODER?

•Instituições são observatórios privilegiados para apreendê-las.

•Dificuldade, porém, por se tratar de relações de poder intra-institucionais = função


autoreprodutiva.

•Retomando a definição de poder como o exercício do poder seria uma maneira de


alguns estruturarem o campo de ação possível aos outros; logo, um modo de ação
sobre as ações, as relações de poder se enraizam bem longe no nexo social e
reconstróem, “em baixo” da sociedade, uma estrutura suplementar.
Pág. 239
• Na medida em que as instituições agem com regras (explícitas e silenciosas) e um
aparelho, corre-se o risco de dar a um ou outro um privilégio exagerado na relação de
poder, e, portanto, de não ver nelas nada além de modulações da lei e da coerção.

•Quando se diz que não pode haver sociedade sem relações de poder não significa dizer
que as que são dadas sejam necessárias ou que, de qualquer maneira, o poder ao se
constituir no coração das sociedades seja uma fatalidade incontornável.
•A análise, a elaboração, a colocação em questão das relações de poder, e do
“agonismo” entre as relações de poder e a intransitividade da liberdade são uma tarefa
política incessante e são, até mesmo, essas as atividades políticas inerentes a toda a
existência social.

Concretamente, a análise de poder requer atenção aos seguintes pontos:

1. Sistema de diferenciações que permite agir sobre a ação dos outros


Toda relação de poder
coloca em andamento as • jurídicas ou tradicionais
DIFERENÇAS

diferenciações que são ora • status e privilégios


condições, ora efeitos, dessa • econômicas na apropriação das riquezas e bens
relação • hierarquia dentro do processo de produção
• linguísticas e culturais
• de saber-fazer e nas competências
Pág. 239
2. O tipo de objetivos almejados por aqueles que agem sobre a ação dos outros:

• manutenção de privilégios

OBJETIVOS
• acumulação do lucro
• exercício de autoridade estatutária
• exercício de uma função ou de um trabalho

3. As modalidades instrumentais segundo as quais o poder é exercido

• ameaça por meio de armas


INSTRUMENTAIS
MODALIDADES

• por efeitos da palavra, verbal


• por meio de disparidades econômicas
• por outros mecanismos mais ou menos complexos de controle
• sistemas de vigilância, com ou sem arquivos, segundo regras
explícitas ou não, permanentes ou modificáveis, com ou sem
dispositivos materiais
Pág. 240
4. As formas de institucionalização podem misturar vários apspectos tais como:

• disposições tradicionais
INSTITUCINALIZAÇÃO

• estruturas jurídicas
• fenômenos de hábito ou de moda (como se vê nas relações
de poder que existem nas famílias)
• dispositivos fechados sobre si mesmos, com seus lugares e
características próprias, regras, hierarquias e relativa
autonomia funcional (como nas escolas e exércitos)
• sistemas complexos formados de diversos aparelhos, como no
caso do Estado que tem por função constituir o envelope geral,
a instância do controle global, o princípio da regulação e, em
certa medida, a distribuição de todas as relações de poder em
um dado conjunto social.

5. Os níveis de racionalização pois a colocação em jogo das relações de poder como


ação em um campo de possibilidades pode ser mais ou menos elaborada em função
da eficácia dos intrumentos e da certeza do resultado (refinamentos tecnológicos no
exercício do poder), ou em função do custo eventual (custo econômico ou “reacional”,
constituído pelas resistências encontradas). O exercício do poder não é um fato bruto,
um dado institucional, nem uma estrutura que se mantém ou se quebra: ele se elabora,
se transforma, se organiza, se dota de procedimentos mais ou menos ajustados.
Pág. 240
4 RELAÇÕES DE PODER E RELAÇÕES DE ESTRATÉGIA

Três significados mais comuns:

Para designar a maneira Para designar o conjunto


Para designar a escolha como um parceiro, em um de procedimentos
entre os meios dado jogo, aje ao supor utilizados em um
empregados para se a ação dos outros e ao confronto para privar o
alcançar um fim, ou seja, supor o que os outros adversário dos seus meios
a racionalidade usada supõem sobre suas de combate e levá-lo a
com esse propósito de próprias intenções de desistir da luta. Logo, são
alcance de objetivos. ação. meios empregados para
assegurar a vitória.

ESCOLHA DE SOLUÇÕES GANHADORAS


• Toda estratégia de confronto, sonha em se tornar relação
de poder.

• Toda relação de poder tende, ao seguir seu próprio curso,


a se deparar com resistências frontais, a se tornar estratégia
vencedora.

• Com efeito, entre relação de poder e estratégia de luta,


existe um chamado recíproco, encadeamento indefinido e
inversamente perpétuo. A cada instante uma relação de
poder pode se tornar e, em alguns casos se torna mesmo, um
confronto entre adversários.

•A cada instante as relações de adversidade, em uma dada


sociedade, dão lugar à ebulição de mecanismos de poder.

•A dominação é uma estrutura global de poder sobre a qual


podemos encontrar, às vezes, os significados e as
conseqüências até mesmo nas tramas as mais tênues da
sociedade, mas é a um só tempo uma situação estratégica
adquirida e solidificada em um confronto de longa existência
histórica entre adversários…

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