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Combater a Pobreza e a Exclusão Social:

da teoria à prática
17 DE OUTUBRO – DIA INTERNACIONAL PARA A ERRADICAÇÃO DA POBREZA

Em consequência de um Movimento constituído por organizações não governamentais,


liderado pela Associação Aide à Toute Detresse / Quart Monde, foi dinamizado em 1992
um abaixo assinado com o objectivo de pedir às Nações Unidas a consagração do dia 17 de
Outubro como Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o que levou a Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas a proclamar nesse mesmo ano o dia 17 de
Outubro como Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (resolução 47/ 196, de
22 de Dezembro de 1992).
Aceitando de bom agrado esta resolução, desde 1993 em vários países em todo o mundo, e
por iniciativa de algumas Organizações Não Governamentais, tem-se assinalado o dia 17 de
Outubro como o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza.
A REAPN, sendo uma das organizações que desde a primeira hora se mobilizou neste
sentido, para além de um conjunto de iniciativas que neste dia 17 de Outubro promove em
todo o país, aproveita para assinalar esta data com um desafio: propomos que, no que ao
combate à pobreza e à exclusão social diz respeito, passemos rapidamente da teoria
à prática. A existência de 2 milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza
em Portugal, traduz uma injustiça e constitui uma ofensa à dignidade pessoal e um
desrespeito pelos direitos humanos, que só nos pode incitar ao mais profundo
inconformismo. É este inconformismo a que pretendemos dar voz, procurando que o
mesmo se transforme numa energia colectiva positiva, capaz de nos fazer caminhar
no sentido da erradicação das causas produtoras e reprodutoras da pobreza e da
exclusão social.

A REAPN acredita e insiste que, para tornar eficaz qualquer estratégia de combate à pobreza, é
fundamental ter em consideração 5 eixos estratégicos fundamentais:

1. Reforçar a democracia pela participação co-responsável da sociedade civil;


2. Ter o princípio da subsidiariedade como uma orientação primordial;
3. Incentivar e desenvolver profundas articulações entre todas as políticas e
sectores de intervenção;
4. Observar, monitorizar e avaliar de uma forma participada todos resultados;
5. Promover a escuta e a dinamização da participação activa dos cidadãos,
particularmente dos que enfrentam situações de pobreza e de exclusão social.
Para dar corpo e concretizar estes eixos estratégicos, ou seja, para efectivamente começarmos a
passar da teoria à prática, a Rede Europeia Anti-Pobreza considera fundamental que em Portugal se
dê prioridade e se concretizem as seguintes 8 propostas, para as quais, e como sempre tem demonstrado,
se encontra disponível a participar com todas as suas energias, conhecimento e capacidade técnica.

1. A sociedade portuguesa tem de caminhar no sentido de ser uma verdadeira sociedade de bem-comum e,
para isso, a luta contra a pobreza tem que se transformar numa causa e prioridade nacional. Se
entendemos que o combate à pobreza deve ser alvo de uma coordenação muito eficaz e de processos
permanentes de mainstreaming é imprescindível que este assunto esteja permanentemente no topo das
agendas dos Conselhos de Ministros. Para concretizar tal acção pensamos que esta temática deveria ser
em primeira instância da responsabilidade do Primeiro-Ministro e constituir um ponto obrigatório nas
agendas dos Conselhos de Ministros;

2. Para garantir uma tão desejada eficaz coordenação de políticas, e para além de ter o Primeiro-Ministro
como principal agente, impõem-se que cada Ministério possua uma célula especificamente dedicada a
este tema. Os representantes desta célula em cada Ministério deveriam dar origem a uma Comissão Inter-
Ministerial activa, informada e que, a todo o momento, possa intervir ao nível da definição das diferentes
medidas, sendo ainda os principais interlocutores da sociedade civil neste domínios;

3. Continua a ser urgente a definição de um verdadeiro Plano Estratégico Nacional de Combate à


Pobreza. A soma de medidas e programas não se tem demonstrado suficientemente capaz de
verdadeiramente fazer face a este flagelo. Na nossa opinião, o Plano Nacional de Acção para a Inclusão,
pela sua abrangência e enquadramento europeu deveria ser o instrumento de planificação estratégica
preferencial. Naturalmente, a criação de tal programa nacional não pode dispensar a obrigatória
participação da sociedade civil e a sua definição, implementação e avaliação deveria estar sujeita a uma
metodologia de coordenação aberta.

4. No sentido de melhor organizar e identificar os diferentes actores capazes e interessados em participar


activamente na definição, implementação e monitorização das políticas, é fundamental avançar com a
concretização de um Fórum Não Governamental que tenha um lugar institucionalmente claro, e que possa
constituir-se como um transmissor dos pareceres, opiniões e diagnósticos da base e, sobretudo, capaz de
fazer ouvir a voz daqueles que vivem em situação de pobreza;

5. Para potenciar uma activa participação de todos os actores – particularmente ao nível local – é
fundamental garantir as condições de acesso destes actores a programas de formação e de
capacitação para este efeito. Seria particularmente interessante que no futuro Quadro Comunitário de
Apoio fosse possível pôr em marcha mecanismos de descentralização de uma parte dos fundos
estruturais para este efeito. A entrega à sociedade civil de uma fatia dos fundos, no sentido de
experimentar a sua gestão autónoma a partir de estruturas não governamentais, é uma boa prática
implementada com sucesso em vários países e que, na nossa opinião, poderia produzir efeitos de grande
amadurecimento da própria sociedade civil no que ao grau de co-responsabilização no combate à pobreza
poderia significar, para além de garantir uma maior proximidade dos recursos financeiros em relação aos
problemas diagnosticados;

6. Conhecer e permanentemente diagnosticar os problemas continua a ser uma prioridade. Desde há


longo tempo que defendemos a criação de um Observatório Nacional de Combate à Pobreza. Tal
Observatório não deverá ser um mero instrumento de conhecimento académico mas um reservatório de
conhecimentos e de participação activa de todos aqueles que intervêm nestes domínios, e que deveria ter
uma explícita tradução ao nível local;
7. É fundamental que a Assembleia da República se transforme num órgão muito activo e de particular
atenção em relação à luta contra a pobreza. Se é aqui que se definem e aprovam as leis, é também aqui
que se pode garantir mecanismos mais eficazes de coordenação das políticas (mainstreaming) e de mútuo
controlo das mesmas sobre o seu impacto na pobreza (poverty proofing). Uma Comissão Parlamentar
específica sobre esta problemática poderia ser uma interessante metodologia de trabalho. A Assembleia da
República deveria ainda promover anualmente um grande debate sobre este tema, convidando para o
efeito diferentes interlocutores da sociedade civil;

8. Finalmente, e porque sem que os Portugueses estejam convencidos que a luta contra a pobreza também é
com eles – pobres e não pobres – é imprescindível que este desígnio nacional seja, acima de tudo, um desígnio
de todos os cidadãos. Para este efeito, a estratégia nacional de combate à pobreza deveria ser alvo de
uma fortíssima campanha de marketing e sensibilização da opinião pública.

** REAPN – Outubro de 2005 **

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