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Ambientes virtuais e
objeto de aprendizagem
como apoio às práticas colaborativas
Patricia Alejandra Behar
Profª. Drª. Patricia Alejandra Behar: mestre e doutora em Ciências
da Computação pela UFRGS. Linha de pesquisa: Informática
na Educação e Educação a Distância. Professora da Faculdade
de Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul e dos
Divulgação
Programas de Pós-Graduação em Informática na Educação (PGIE)
e Educação (PPGEDU) da UFRGS. Coordenadora do Núcleo de
Tecnologia Digital Aplicada à Educação (Nuted).
pbehar@terra.com.br
RESUMO
Este artigo descreve o processo de construção e aplicação de um objeto de aprendizagem intitulado
“Tecnologias de Suporte ao Trabalho Coletivo” e sua integração a ambientes virtuais de aprendizagem.
O material contempla a aplicabilidade desse recurso no ensino superior, apontando possibilidades de
ações pedagógicas no que se refere à constituição da coletividade na web.
Introdução
O objeto de aprendizagem (OA) Nuted2 com o objetivo de fornecer apoiou-se num cenário que mostra a
“Tecnologias de Suporte ao Trabalho suporte ao processo de interação e necessidade de um novo perfil de pro-
Coletivo” 1 foi desenvolvido pelo construção coletiva. Tal preocupação fissional, que esteja em permanente
1 Disponível http://homer.nuted.edu.ufrgs.br/instrumentalizacao_em_ead/escrita_coletiva/
2 Núcleo de Tecnologia Digital Aplicada à Educação – www.nuted.edu.ufrgs.br
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3 Este objeto foi desenvolvido para alunos de disciplinas presenciais e a distância dos cursos de graduação, pós-graduação e cursos de extensão da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
4 Equipe composta por educadores, programadores e web designers do Nuted.
5 Ambiente virtual de aprendizagem utilizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por mais de 23.000 usuários. Disponível em http://www.
ead.ufrgs.br/rooda (Behar et al, 2008a)
6 Disponível em http://www.nuted.edu.ufrgs.br/etc (Behar et al, 2006)
7 Learning Technology Standards Committee - http://ltsc.ieee.org/wg12
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9 Entende-se por descentração quando o sujeito consegue analisar a sua situação e modificar o objeto proposto, considerando diferentes perspectivas que
não somente a sua (Piaget, 1973).
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Conhecimento do grupo
• Para facilitar a integração do Esse é um momento para que o aluno inicia-se com um dos participantes
grupo, uma possibilidade de ativida- se apresente e fale de sua área de es- sentado com o editor de texto aberto
de para o primeiro encontro é desen- tudo, facilitando, assim, a formação para começar a escrita, enquanto o
volver uma dinâmica envolvendo um de pequenos grupos em momentos outro fica em pé, segurando nos om-
editor de texto coletivo. Uma opção, posteriores. Com um olhar atento, bros do colega. Quando o professor
aqui denominada como “Texto Rit- nesse momento, o professor con- disparar a música, o aluno que esti-
mado”, prevê que os alunos iniciem segue perceber alunos que tenham ver sentado inicia uma escrita alea-
um texto tendo um tema em comum maior facilidade para cooperar. Tra- tória, jogando palavras e caracteres
e, no fundo, uma música bem ritma- ta-se dos que se sentem mais seguros (que não podem ser repetidos) no
da (nesse caso, são necessárias boas tanto para interferir na contribuição editor, enquanto o aluno que está de
caixas de som no computador ou um do colega, quanto para aceitar a in- pé massageia os ombros do colega.
aparelho de som). O professor vai terferência do outro. Além desses, A cada 40 segundos, aproximada-
dando pausas na música e, a cada pau- também é possível identificar alunos mente, a música sofre uma pausa e
sa, os alunos trocam de computador que têm receio de interferir nas opi- os alunos trocam de posição, dando
e continuam o texto do colega. Essa niões de outros colegas ou, ainda, os continuidade à dinâmica. Ao final da
seqüência de ações deve acontecer até que não demonstram interesse algum música (ou quando melhor convier),
que o aluno retorne para o computa- no trabalho coletivo. Nesse momen- os alunos são desafiados a construir
dor em que iniciou a dinâmica. Feito to, a ação do professor é fundamental um texto ou poesia utilizando as pala-
isso, os alunos lêem o texto como um para, através do diálogo, criar condi- vras digitadas ao longo da atividade.
todo e constroem um parecer tanto ções para que os alunos sintam-se à Podem ser apagadas algumas pala-
sobre a impressão final que tiveram vontade e consolidem o trabalho co- vras ou caracteres, mas nunca adi-
do texto, quanto sobre a sensação de letivo. cionadas. Destaca-se que é bastante
vivência da dinâmica em si. A ativida- • Uma variação dessa atividade pertinente que o professor apresente
de segue com a socialização de cada pode ser a construção de um texto em o tema norteador da aula para que os
aluno sobre essas impressões e com a dupla. Essa dinâmica é aqui denomi- alunos possam disparar termos que
apresentação individual de cada um. nada “Fazendo Sentido”. A dinâmica facilitem essa próxima etapa.
Organização do grupo
• Propor que os alunos se reúnam de de opiniões enriquece e diferencia editores coletivos, coordenações de
em grupos conforme interesse e/ou o trabalho. ações, etc.
conhecimentos afins. Sugere-se que • Apresentar um tema geral • Disponibilizar um tempo para
o professor destaque que, indepen- para o grupo, dando liberdade para que o grupo se organize dentro do
dentemente dos interesses, o mais a escolha de tópicos relacionados tema escolhido (sugestão: 2 ou 3
importante é que os alunos tenham ao tema. Por exemplo: Escrita Co- encontros). Nesse tempo, o grupo
vontade de trabalhar coletivamente, letiva, esse tema demanda estudos define objetivos a serem alcançados
já que a troca de idéias e a diversida- na área de cooperação, colaboração, na atividade e criam estratégias de
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Identificação de conflitos
Coordenação de ações/idéias
• No início de uma produção co- informações que sejam signi- cada indivíduo, tornando-as
letiva, é comum identificarmos uma ficativas ao grupo; favoráveis para a troca e o en-
junção de pequenas partes, uma col- - criar estratégias para favo- riquecimento do grupo como
cha de retalhos que vai se tornando recer a reflexão, autonomia, um todo;
um todo significativo ao longo das in- produção de saberes e criati- - ter claros os interesses e ne-
terações e coordenações de ações dos vidade dos sujeitos; cessidades dos alunos;
sujeitos. Nesse processo, a mediação - oferecer condições para uma - valorizar e considerar todo
do professor também é fundamental. cooperação efetiva do grupo o processo de construção
Ele pode auxiliar, propondo questões para que o mesmo se envolva do aluno e não centrar-se
que façam os alunos articularem suas com afinco, tanto intelectual- no produto final que, em
proposições, buscando novos signi- mente quanto emocionalmen- geral, não revela as etapas
ficados, tornando o retalho um todo, te; e desafios de desenvolvi-
cooperando. - além da preocupação com os mento;
• Com base em Ramal (2002), conteúdos, ter atenção para - considerar e articular com as
destacam-se alguns apontamentos promover o desenvolvimen- diferentes perspectivas dentro
que se mostram relevantes ao traba- to de habilidades que façam de um mesmo grupo, pois um
lho do professor quando o intuito é o aluno refletir, aprender a trabalho coletivo de êxito não
facilitar o processo de coordenação aprender, construir conheci- é resultado de plena concor-
de ações entre os alunos: mento e trocar experiências dância entre os alunos, mas é
- estar em constante interação com o grupo; produto de análise, de crítica
com os alunos, socializando - respeitar as diferenças de e de reflexão.
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• Alcançar uma escala comum - elaborar questões que reme- participantes, a coordenação
de valores é condição para cooperar; tam ao problema de interação, de ação é alcançada;
nesse sentido, as regras, os valores e favorecendo a reflexão e reor- - proporcionar um ambiente em
os sinais são requisitos desse proces- ganização do grupo; que os sujeitos se sintam à von-
so. Para auxiliar nessa construção, o - subdividir o grupo, para ver tade para participar e contribuir,
professor pode: se, em número menor de sem receio de serem cerceados.
Considerações finais
O processo de implementação público-alvo a que se destinou. se que esse objeto é passível de
e avaliação da experiência utili- Nessa prática, foi observado que o adaptações em nível de desafios,
zando o objeto de aprendizagem OA teve uma linguagem acessível para poder ser adequado a alunos
(OA) “Tecnologias de Suporte e funcionamento compreensível, de cursos de graduação, pós-gra-
ao Trabalho Coletivo” integrado sem necessidade de capacitação duação e extensão. Além disso, o
aos ambientes ROODA e ETC prévia para que o usuário pudesse objeto mostrou-se autoconsistente
mostrou sua viabilidade junto ao interagir com o material. Entende- (Tavares, 2006) na medida em
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