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A SALVAÇÃO CONCEDIDA ATRAVÉS DE

UM ATO JURÍDICO

“Pois assim como, por um só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para a
condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens
para a justificação que dá vida.”

Romanos 5: 18b

Autor: Marcos Paulo*

Resumo: Este artigo pretende demonstrar que a Salvação do homem só foi possível através de um ato
jurídico, de forma que a graça do perdão e a graça da regeneração, tornaram-se acessíveis por meio da fé a
qualquer pessoa que os queira receber. Destacando, nesse sentido, a presença do Direito na resolução do
maior conflito da História humana: como o amor de Deus pode salvar o homem, réu condenado; sem, dessa
forma, comprometer a sua justiça?

Palavras-chave: justiça – justificação – Deus – homem – graça – perdão – punição - pena

Introdução

Tentarei mostrar que Deus planejou um meio de salvação do homem por meio de um arranjo jurídico criado por
Ele mesmo. A suprema corte celestial tem suas regras de aplicação da justiça não muito diferente do que nós
estamos acostumados a perceber em nossa esfera humana. Assisto às vezes na televisão pessoas indignadas
e revoltadas quando parentes, filhos, amigos morrem assassinados por bandidos, homicidas, aí então passam
a exigir “justiça”, ou seja, querem que os autores dos crimes praticados sejam devidamente punidos pelo
comportamento delituoso. Também, quando se recorre ao poder judiciário e se percebe sua lentidão em julgar
os processos, que há anos transita pelos tribunais sem uma conclusão do mérito, percebe-se a indignação da
população e sua descrença na efetividade da justiça. Da mesma forma, Deus tem suas leis, e estas precisam
ser observadas pelo homem, porém a história humana é uma historia de rebelião contra as leis de Deus. Em
virtude do pecado, o gênero humano encontra-se completamente em estado de rebelião contra Deus, e
portanto merecedor do justo juízo de Deus após a morte. A Bíblia nos diz que qualquer pessoa está
completamente impossibilitada de ser justo diante de Deus, devido o pecado estabelecido em nós e passado
de geração a geração desde a queda de Adão no Jardim do Éden. Dessa forma, quero mostrar de que forma o
próprio Deus fez para que a justa punição de sua justiça não incida sobre o homem, já que sendo o próprio
Deus justo em sua natureza, não pode colocar um pecador(transgressor) no seu reino celestial, posto que este
é culpado e merecedor de eterno cumprimento da lei de execução penal divina naquele lugar cujo nome muitos
sem sequer querem ouvir: inferno. Jamais encontraremos nas Escrituras que um rebelde transgressor da lei de
Deus encontrará algum lugar nas moradas Eternas de Deus. Era costume um rei bárbaro da antigüidade
torturar seus infelizes prisioneiros, lançando-os por algum tempo num cárcere escuro, e depois, cortando-lhes
as pálpebras dos olhos, expô-los aos raios do sol, quando brilhava em toda a sua plenitude. O resultado era a
mais cruciante dor e instantânea cegueira. O órgão da visão achava-se completamente incapacitado para a
mudança. Isto pode ilustrar qual será a tortura de um pecador, se ele pudesse ser admitido, despreparado, no
ofuscante esplendor daquele mundo cujo brilho é superior ao do sol. Portanto, veremos como Deus, amando
este pecador, planejou uma forma de cumprir as exigências de sua lei e receber sobre si mesmo as
penalidades de sua lei, para que, dessa forma, o homem, por meio de sua fé, pudesse receber através desse
arranjo jurídico todos os benefícios de sua Salvação forense. Meu objetivo é tentar esclarecer da maneira mais
fácil essa verdade da nossa justificação pela fé, sem, no entanto, ser superficial em relação ao tema.
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*Acadêmico do curso de bacharelado em Direito


O QUE É JUSTIÇA?

A justiça é um atributo da natureza de Deus. Deus é um Deus Justo! Como nos diz Deuteronômio 32:4
“Deus é(...) justo e reto”. Mas o que vem a ser a justiça? De que forma podemos conceituá-la já que temos
uma concepção de justiça meio que deturpada devido às nossas opiniões e gostos pessoais. Poderíamos
abordar algumas facetas do conceito de justiça, mas buscarei aquela que me interessa em virtude do tema
delimitado. Há um conceito clássico, nos primeiros anos em que se estuda Direito, onde se procura dizer que
“a justiça é dar a cada um o que é Seu”. Essa tentativa de conceituá-la não é de todo sem sentido, posto que,
quando Salomão toma posse de seu reinado, ora ao Senhor Deus para que Ele julgue seus servos
condenando ao ímpio, fazendo recair o seu proceder sobre a sua cabeça e justificando ao justo, para lhe
retribuíres segundo a sua justiça (2Cr 6:23). Dessa forma, justiça é responsabilizar cada pessoa pelo ato ilícito
que praticou e retribuir o ato justo segundo a justiça do ato praticado. Deus deixou em Israel um mandamento
aos juízes, bem prático, para que a justiça estivesse presente em seus julgados: “Em havendo contenda entre
alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”(Dt 25:1). Nesse
sentido, a justiça tem haver com a retribuição dada a qualidade do ato praticado pela pessoa. Se esta for de
conformidade com a lei, o efeito será a legalidade e suas conseqüências positivas. Ocorrendo o contrário, a
adequada aplicação punitiva ao culpado da infração.

A origem da pena deita suas raízes desde os povos primitivos devido a perda da paz provocada
quando um integrante de um determinado grupo, tribo ou comunidade matava um outro de uma outra unidade
correspondente. Assim, surgia a chamada “vingança de sangue”, que era um dever sagrado que recai num
membro de determinada família, de um clã ou de uma tribo, que tem de matar um membro de uma outra tribo.
Havia também, quando se praticava algum crime contra alguma pessoa, se considerava, na verdade, um
atentado à divindade, e a punição se aplicava em nome desta. Com o desenvolvimento da humanidade, e seu
agrupamento cada vez maior, o Estado assumiu a responsabilidade de conter a criminalidade, aplicando as
penas retribuindo o mal infligido pelo réu à sociedade. Assim, o sentimento de que o mal praticado precisava
ser punido já vem estado presente desde a história mais antiga da humanidade. E isso foi e ainda é assim,
devido ao fato de que o próprio Deus implantou o “sentimento de justiça” no próprio homem, ou seja, que mal
praticado deve ser retribuído por meio de penas proporcionais. Faz parte da natureza moral do homem o
conceito ético de retribuição, porque o homem enquanto ser moral tem “direito” à pena. É justo que assim seja.
Não aplicar uma penalidade ao mal cometido pelo homem é violar a própria natureza humana, pois esta sabe e
percebe em si e fora de si que a ordem criada por Deus trabalha seguindo esta lei: “você colherá aquilo que
você plantar, porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia
para o Espírito do Espírito colherá vida eterna”. E diz ainda o apóstolo Paulo que “não devemos nos cansar de
fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos”(GL.6:8,9). Por isso, de forma alguma,
podemos considerar Deus injusto quando Ele nos diz que haverá um dia – “um juízo final”, em que todos serão
julgados; todos nós, vivos e mortos, compareceremos perante o grande tribunal de Deus para prestarmos
conta daquilo que feito neste corpo. Como diz o apóstolo Paulo em Romanos 3: 5,6 “Mas, se a nossa injustiça
traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira?(falo como
homem) Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?”. A nossa injustiça, ou seja, as nossas
transgressões trazem a lume a justiça de Deus. Veja bem, Deus terá que julgar e punir toda transgressão
praticada, posto que Deus é um Deus Justo, e sendo justo terá que fazer justiça, isto é, aplicar todas as
sanções que os pecados cometidos contra sua santidade merecem. Por isso é que Paulo diz aqui que se não
fosse dessa forma, não haveria qualquer julgamento. Se haverá, é porque a justiça precisa ser feita. Portanto,
a Justiça se manifesta quando a transgressão é punida, quando o mal recebe seu devido tratamento.

Ainda podemos procurar uma conceituação do que é a justiça, examinando o que foi dito por Jesus,
quando este destaca o comportamento humano perante a lei de Deus: “...se a vossa justiça não exceder em
muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.”(Mt 5:20). Jesus está se referindo ao
comportamento humano, no sentido, de este está em afinidade com a vontade de Deus expressa por meio de
suas leis. “Justiça” corresponde ao comportamento equilibrado, ao agir correto, moral, ético, agradável a Deus.
“Justiça” é igual a conduta em conformidade com a lei de Deus. Nesse sentido, podemos também afirmar que a
“vossa justiça” indica alguém livre de qualquer acusação, ser alguém inocente. Vale ressaltar que Jesus não
está indicando um comportamento meramente legalista de estrita observância da lei, mas, indo mais além,
para uma atitude do coração; um querer fazer o que é correto, no sentido de ter prazer na lei, no sentido de
encontrar satisfação no cumprimento da lei por esta expressar a vontade de Deus para as nossas vidas. Enfim,
um viver santo, uma conduta de santidade.

Esses dois aspectos do que é a justiça, vai nos servir para procurarmos entender de que forma Deus
nos redimiu de nossos pecados no âmbito jurídico de nossa salvação. Na realidade, a justiça da forma como
intuitivamente a entendemos, não é algo tão longe, e nem longe estar de nossas concepções do que é a justiça
divina, embora muitos a tente relativizar em suas especulações. Porém, não me deterei mais nesse aspecto.
Ficarei nesse conceito singelo do que foi mostrado de Justiça, que nos serve suficientemente para o
entendimento de nosso assunto, abordando o tema numa perspectiva mais penal de justiça.

A CONDIÇÃO DE RÉU DA RAÇA HUMANA

Pois bem, é preciso que não haja dúvida quanto à posição de condenação da raça humana diante de
Deus. Quando Adão pecou, sua culpa foi transmitida a toda geração humana posterior. No nosso direito
Constitucional há um princípio que diz que ninguém é culpado até que se prove o contrário. Chama-se isso de
presunção de inocência. Diz a nossa Constituição em seu artigo 5º inc. LVII que “ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Todos são inocentes até que se prove a
culpabilidade de qualquer pessoa. A decisão judicial condenatória deve transitar em julgado. A sentença deve
ser definitiva porque se provou que de fato alguém cometeu uma infração e foi demonstrável que de fato era
culpado. A culpa de qualquer cidadão deve ser provada. Entretanto, a nossa situação perante a justiça de Deus
já parte do fato de que todos nós já estamos inexoravelmente condenados. Toda a humanidade está
condenada diante da ótica divina. A Bíblia é muito clara quando afirma: “Pois assim como, por uma só ofensa,
veio o juízo sobre todos os homens para condenação...” Romanos 5:18. Quando Adão pecou, toda a
humanidade posterior assumiu o estado de culpados diante de Deus. O juízo de Deus foi que todos os homens
estão condenados por causa da ofensa de Adão à vontade de Deus.

Agora prestemos atenção sobre este ponto de fundamental importância para compreendermos a
culpabilidade humana diante de Deus. Eu ainda não percebi em qualquer manual de Teologia essa diferença
básica que há na exposição de Paulo em sua carta aos Romanos sobre a culpabilidade humana. Se você lê
atentamente a epístola de Romanos do capitulo 1 -5 perceberá que há duas espécies de culpa. A primeira eu
vou chamar de culpabilidade passiva e a outra de culpabilidade ativa. A primeira diz respeito àquilo que
herdei de meu ancestral Adão. Há uma culpa que nos é imposta devido ao fato de que Adão representava toda
a humanidade no Jardim do Éden, e quando este caiu no teste, toda a humanidade caiu com ele, e todos
tornaram-se partícipe do mesmo delito e incorreram na mesma pena inicial. Esta é culpabilidade passiva,
porque nos tornamos participantes do mesmo crime. Em nosso direito penal, quando, por exemplo, alguém
fornece uma arma a um amigo para que este cometa um crime, este amigo torna-se partícipe do mesmo crime.
Quando há um roubo em uma loja, aquele camarada que fica olhando a movimentação do lado de fora do
estabelecimento, embora não tenha realizado o delito de roubo, é considerado partícipe, ainda que não tenha
realizado a conduta principal(não subtraiu, nem cometeu violência ou grave ameaça), mas colaborou para que
os autores do crime lograssem a produção do resultado, como diz o artigo 29 do código penal. A diferença será
que o participante será punido na proporção de sua participação, ou seja, na medida de sua culpabilidade.
Guardada certas diferenças, porém trago esse exemplo para mostrar de que forma nos tornamos participantes
do mesmo crime de Adão. A Bíblia vai nos dizer a mesma coisa em Romanos 5:14 “ Entretanto, reinou a morte
desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão...”

Qual foi a conseqüência do delito de Adão e do qual somos participantes? Em romanos 5: 12, Paulo diz
que por “um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a Morte, e a morte passou a todos os
homens”, sendo que esta morte tem dois sentidos: a física e a espiritual. A penalidade teve dois efeitos: 1) A
morte física. O homem viveria por um espaço de tempo e depois morreria fisicamente. A morte física foi uma
das conseqüências do pecado no jardim do Éden. “Do pó vieste, para o pó retonarás”. 2) A morte espiritual. O
homem passou a não mais vivenciar a presença de Deus nele. Deus mantinha uma relação intima com Adão e
Eva. Eles tinham uma comunhão amigável e se comunicavam um com outro. Quando Adão e Eva pecaram
houve uma separação entre o ser humano e o seu Criador. Houve um distanciamento entre o homem e Deus.
Esta condenação foi de imediato e caiu sobre eles e toda a humanidade posterior. A pena nesse caso foi
coletiva, imputada a todos. Nesse sentido, todos nós já, no presente, sofremos as pena condenatória dessa
culpabilidade: todos morrem fisicamente e todos já nascem separados de Deus. Isto é a culpabilidade passiva.

Há uma outra espécie de culpabilidade que é a culpabilidade ativa. Esta é aquele que depende do grau
de desobediência à lei divina. Esta culpabilidade é avaliada de acordo com a gravidade dos atos delituosos
praticados individualmente e de livre espontaneidade e com consciência do errado e em perfeito estado mental
de se auto-determinar de acordo com o que é certo e com o que é errado praticar. Sendo que esta
culpabilidade será estabelecida no dia do Juízo Final, o qual um dia futuramente ocorrerá.. Nesse caso, sendo
que serão avaliados os comportamentos individuais, a pena, portanto, será individualizada; cada pessoa
sofrerá posteriormente no inferno na proporção do mal praticado em vida aqui na terra. Paulo confirma isso ao
dizer em Romanos 2: 5-8 “Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira
para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento:
a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e
indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Tribulação e angustia virão
sobre a alma de qualquer homem que faz o mal...”.

Outro ponto que merece destaque é o fato de que estes atos precisam ser praticados com consciência
do que está sendo praticado ou ter a possibilidade de ter conhecimento do ilícito, do errado, daquilo que é
pecado. Precisa ter a capacidade de entendimento. Também, Necessita de liberdade e possibilidade de fazer
ou não fazer aquilo que é contrária à lei de Deus. Precisa ter a faculdade de controlar e comandar a própria
vontade, de determinação da vontade. Nesse sentido, as crianças e aqueles que de algum modo sofre de
algum estado mental anormal(alguma doença mental) que prejudique seu julgamento(juízo) da realidade
estarão isentos de serem responsabilizados pelos seus atos caso cheguem ao óbito nesse estado de
inimputabilidade. Embora sejam culpados pela culpa de Adão – sofrendo sobre si mesmos a condenação
imediata de estarem separados de Deus e experimentarem a morte física, entretanto não serão punidos(caso
venham ao óbito nesse estado) pelo segundo julgamento que ocorrerá no dia do juízo final, posto que não
podem ser responsabilizados, pois não têm a capacidade de entenderem o caráter pecaminoso de suas
condutas e de se determinarem de acordo com esse entendimento. Portanto, não reunindo as condições
físicas, psicológicas e mentais de saberem que estão realizando um ato contrário à vontade de Deus não
podem ser punidos, pois é contraria à justiça. Nós temos as crianças, devido a imaturidade mental e emocional
por causa da ainda recente idade cronológica não sofrerão o eterno banimento da presença de Deus, pois o
próprio Jesus disse: “deixai vir a mim os pequeninos, porque dos tais é o reino dos céus”. Assim também,
ocorre para aquele que jamais se desenvolverá mentalmente, cujo exemplo é o caso dos oligofrênicos, que são
pessoas de reduzidíssimo coeficiente intelectual. Chego à essa conclusão devido as referências bíblicas
sempre apontar o julgamento de Deus, no juízo final, baseado na natureza moral do homem, ou seja, na sua
oportunidade e capacidade de fazer escolhas entre opções e de entendimento das reais conseqüências de
suas escolhas.

A CERTEZA DE NOSSA CONDIÇÃO

Falar de inferno e de um juízo final é algo do qual muitas pessoas nem sequer querem tocar. Lembro-
me de um dia em que eu estava a falar sobre esse tema à uma mãe e suas duas filhas, e logo a repulsa ao
tema se manifestou. De modo algum acreditavam que Deus seria capaz de sentenciar alguém ao inferno. Na
realidade, o fato é que essa doutrina, atualmente, não é bem aceita, e não poderia ser diferente, pois ninguém
quer está em estado de condenação. Pensar que nós somos devedores à justiça divina, não é nada agradável.
Ocorre que freqüentemente, muitas pessoas, por não quererem de forma alguma acreditar nessa verdade, até
zombam acerca dessa realidade “inferno”. Pensam que acreditar nisso é coisa de gente boba(de gente
religiosa) que não usa a “razão” para entender que “inferno” é só mais uma daquelas historinhas que nos conta
para nos impor medo e obediência cega.

Um professor meu de faculdade chegou a dizer em sala de aula que, no seu entender, o único motivo
que faz com que ainda haja pessoas que acreditam na fé cristã, é o medo da morte. É porque, nós cristãos,
temos medo da morte, do que nos espera depois do último suspiro, é o que nos motiva a crê em Cristo na
esperança da vida eterna. Na minha opinião, esse professor nunca parou e meditou seriamente quando aquele
grande dia chegar... o seu último dia sobre a terra, ou aqueles momentos, aquelas frações de segundos em
que estiver morrendo, o que passará pela sua mente? Naquele momento, aquele seu último instante sobre a
terra dos mortais, em que ele confiará? Existe ou não uma vida depois da morte? Para ele ninguém tem essa
certeza, e muito menos ele... mas, e se existir uma existência pós-morte? E se ele se enganou todo esse
tempo? E o que ele dirá depois aos cristãos, ao lado Cristo no paraíso celestial, quando ele, se no inferno
estará, constatando que o grande idiota – que falou tantas bobagens acerca dos cristãos – não correspondeu a
ninguém, a não ser a ele mesmo?

C. H. Spurgeon conta uma ilustração que expressa muito bem isso que estou a colocar, diz ele: “Não é
uma insensatez viver sem pensar que haverá um fim do mundo? Um homem entra num hotel. Imediatamente
se senta, toma o seu vinho, sua comida e aluga um quarto. Não há nenhuma delícia no que pensar, nada há
que lhe possa dar um maior gozo conforme o seu conceito de vida. No fim de sua permanência no hotel
apresentam-lhe a conta e ele se surpreende e diz: – Não pensei nisto, a questão da conta a pagar não entrou
em minha mente.
– É estranho – diz o hoteleiro. – Aqui está um homem que nasceu tonto ou é um caloteiro. Que! Você
não pensou em fazer contas; não cria que teria de pagar-me?
Assim vivem muitas pessoas. Comem, bebem, pecam, e não meditam na eternidade e no tempo de
comparecer a juízo”.

A SALVAÇÃO ATRAVÉS DO ESTRITO CUMPRIMENTO DA LEI

As expressões bíblicas: “salvos pela graça de Deus”, “justificados gratuitamente”, “perdoados pela
misericórdia de Deus”, todos estes termos expressam a verdade de que Deus para nos salvar não precisa de
nossas obras de justiça própria. Entretanto, para que isso ocorresse, Deus teve que antes fazer com que a sua
santa lei fosse fielmente cumprida. A lei teve que ser satisfeita, obedecida, e toda transgressão teve que
receber a justa punição. Por isso, podemos afirmar logo que a salvação, em seu primeiro momento, nos foi
concedida através do estrito cumprimento de toda lei. Ela foi obtida por um ato jurídico de Deus. Ou seja,
primeiro Deus teve que levar em conta todos os requisitos de sua própria lei estabelecida. E somente em um
segundo momento ela nos foi oferecida sem qualquer esforço da nossa parte, quando recebemos esta
salvação, já realizada, pela graça de Deus. O versículo inicial(romanos 5:18) diz que “por um só ato de Justiça,
veio a graça a todos para a justificação que dá vida”. Perceba que, primeiro, a “justiça”, depois a “graça”.
Primeiro o ato jurídico(a lei cumprida e os pecados punidos), depois a graça salvadora.

Agora, precisamos lembrar o conceito do que é justiça. A justiça nesse contexto de nosso assunto tem
o significado de conduta correta, pautada segundo as prescrições da lei de Deus. Significa alguém ser justo
quando é um cumpridor fiel das leis que Deus estabeleceu em sua Palavra sagrada. Nesse sentido, justiça é
ser alguém justo. Aquele que cumpriu as prescrições da lei e obtive méritos para conseguir alguma coisa, a
Bíblia chama de justificado. Passou no teste. Contudo, a raça humana caiu no pecado, e a Bíblia deixa claro
que todos nós tropeçamos no cumprimento da lei de Deus. Todos são transgressores natos dos mandamentos
divinos. Não há um justo sequer e não há ninguém que faça o bem quando o assunto se trata de obediência as
exigências de Deus. Portanto, a salvação só pode nos ser concedida através do cumprimento das justas
exigências das leis de Deus, conforme nos diz Paulo: “...os que praticam a lei hão de ser justificados”(Rm 2:13).
Para alguém ser justificado, livre de qualquer condenação, tem que praticar, guardar toda a lei, sem tropeçar
em nenhum de seus dispositivos, pois “qualquer pessoa que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto,
se torna culpado de todos”(Tg 1:10). Porém o ser humano encontra-se totalmente incapacitado a agir em
conformidade com os padrões de Deus por causa do pecado que em nós habita. Deus preza para que a sua
santidade não seja maculada pela tolerância ao pecado. A Bíblia é clara ao nos dizer que Deus não deixará
inocente aquele que de fato é culpado. Deus é um Deus justo, e portanto, recompensa cada pessoa segundo
os seus méritos. E se Deus não planejasse um meio de nos salvar, seríamos todos condenados ao inferno.

Como não temos condições alguma de cumprir as exigências de sua santa lei, o Senhor Jeová
planejou uma maneira em que a sua santa lei fosse cumprida e ao mesmo tempo o perdão fosse liberado aos
pecadores. Então, primeiramente, Deus-Filho se encarnou para assumir a nossa condição humana, nos
representando diante de Deus, pois só seres humanos são os que estão em débitos para com a justiça divina
(o diabo e os demônios já estão condenados, sem direito a qualquer apelação). Depois, Cristo Jesus, Deus-
homem, levou sobre si todo o cumprimento da pena, que a nós era devida, satisfazendo a justiça de Deus. Diz
Paulo: “Aquele[Jesus cristo] que não conheceu pecado, ele[Deus] o fez pecado por nós; para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus”. 2Co 5:21. A salvação obtida na cruz se deu através de um ato jurídico diante
da realidade de Deus, custou-lhe um alto preço, custou-lhe nada menos do que a vida do seu unigênito Filho
por nós. Nesse sentido, a salvação foi obtida através do justo cumprimento das exigências da lei de Deus por
meio de Cristo Jesus para nosso benefício. Tratou-se de um problema resolvido em termos jurídicos “...os que
praticam a lei hão de ser justificados”(Rm 2:13). Porém, diante de nossa realidade, a salvação está agora à
disposição de graça e generosamente a todos aqueles que crêem em Jesus, como o único Salvador e Senhor,
sem qualquer formalidade judicial a ser preenchida pelo pecador arrependido. Nesse sentido, podemos dizer
que somos salvos pela graça, independentemente de obras(Ef.2:8). No entanto, pelo lado divino, em seu plano,
a nossa salvação foi obtida por um arranjo jurídico em que o próprio Deus assumiu a responsabilidade de
cumprir todas as suas justas exigências, riscando dessa forma todo escrito de dívida que era contrária a nós,
cravando-a na cruz, e nos colocou diante dele, perdoados e justificados – justos com a justiça de Cristo
imputada a nós; com os seus méritos lançados em nossa conta; sua total obediência à lei de Deus nos torna
justos aos olhos de Deus, pois este nos enxerga em Cristo, e agora tudo que é dele é nosso, pois somos co-
herdeiros juntamente com ele. Estamos livres para todo sempre de qualquer condenação. Quem agora nos
condenará? Ninguém, pois foi o próprio Deus quem nos justificou. Paulo diz: “Justificados pois temos paz com
Deus!” e mais adiante diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”(Rm
5:1, 8:1).
Numa vila da Escócia vivia um médico que se distinguia por sua habilidade e piedade. Ao examinar os
seus livros depois de sua morte encontraram várias contas por cima das quais estavam escritas as palavras
"Perdoada; demasiado pobre para poder pagar-me". Sua esposa, que tinha um gênio diferente, disse: "Devem
cobrar-se estas contas." Portanto, levou o caso aos juizes. Estes perguntaram: "Isto que está escrito com tinta
roxa é do punho e é letra do seu esposo?" Ela disse que sim. "Então", disseram, "não há tribunal no mundo
que possa exigir o dinheiro de uma pessoa cuja conta o seu esposo perdoou." Assim, quando Cristo nos diz:
"Teus pecados são perdoados", estamos livres de nossas dívidas espirituais. A pena já foi paga! Precisamos
agora apenas crê e confiar totalmente nesta verdade, a qual é poderosa para nos salvar por meio de Cristo
Jesus. Amém.

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