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A INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DIREITO ECONÔMICO

A crise econômica norte americana decorreu da queda vertiginosa dos preços


e da falta de liquidez, impactando não somente seu mercado interno, mas,
fazendo-se sentir nas demais economias mundiais. Em razão dela, os países
tiveram de intervir em seus mercados de modo a, se não sanar, ao menos
minorar os efeitos decorrentes dela.

Conforme o artigo 170 da nossa Constituição Federal de 1988, a ordem


econômica tem por fundamento a valorização do trabalho humano e a livre
iniciativa. Com vistas a essa finalidade compete ao Estado traçar políticas
econômicas, tendo por fim assegurar a todos a existência digna e assim,
superar a atual crise.

O sistema econômico por si só, tende não apenas a promover, como também,
a agravar a desigualdade. Desta forma, com base no princípio da dignidade
da pessoa humana, cabe ao Estado assegurar que a liberdade e igualdade
dos indivíduos sejam real e substancial, através da eliminação da miséria, da
ignorância, da excessiva desigualdade entre indivíduos, classes e regiões
(LEOPOLDINO, 2004). Nesta busca, atua o Estado de duas formas: em sentido
amplo e em sentido estrito.

Quando o Estado age fora do seu campo de atuação que, habitualmente, é o


serviço público, vislumbramos uma situação de intervenção estatal no domínio
econômico. Esta intervenção classifica-se em: direta e indireta.

Na intervenção direta, tratada no artigo 173 da CF, o Estado passa a atuar no


campo reservado ao particular através de empresa pública, sociedade de
economia mista ou subsidiarias, tendo suas normas regulamentadas pelo
regime jurídico de direito privado. No caso em tela, podemos ver uma atuação
direta do Estado, através de bancos públicos como, por exemplo, o BNDES, o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal que atuaram de forma incisiva na
concessão de crédito. (GRAU, 2006).

Na intervenção indireta que trata o artigo 174 da CF, o Estado passa atuar no
sentido de provocar a prática de determinado comportamento, ou seja, atua
como agente normativo e regulador da atividade econômica, fiscalizando,
incentivando e planejando (Ibid, 2006). É o que verificamos, por exemplo,
através da atuação do Estado por meio do BACEN, o qual norteou toda a
atividade econômica através de medidas, tais como a redução do depósito
compulsório, que consiste num mecanismo de controle da quantidade de
dinheiro que circula na economia. Ao reduzir o compulsório o Bacen dá aos
bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes.

Denota-se ainda que a intervenção do Estado pode ser: NO e SOBRE o domínio


econômico. Portanto, não podemos deixar de falar de três modalidades de
intervenção: a intervenção por absorção ou participação (modalidade de
intervenção NO domínio econômico); intervenção por direção e intervenção
por indução (modalidade de intervenção SOBRE o domínio econômico).
Conforme esquema abaixo:

Absorção
NO domínio
econômico
Participação
ATIVIDADE EM
SENTIDO
ESTRITO
Direção
SOBRE o
domínio
econômico
Indução
Portanto, a partir do texto estudado, observamos que na contenção da atual
crise mundial temos as duas formas de intervenção do domínio econômico:
Intervenção NO, por participação e Intervenção SOBRE, nas duas outras
modalidades: direção e indução.

Na modalidade de participação aplica-se o regime de competição, onde


verificamos a presença de bancos e empresas, estatais e privados, atuando
concorrentemente, sobre o mesmo regime jurídico de direito privado.

Já na intervenção SOBRE o domínio econômico, na modalidade direção, o


Estado faz uso de mecanismos e normas de comportamento (ex. depósito
compulsório) e na modalidade indução aplica-se a manipulação do mercado,
(ex. isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, visando assim,
fomentar a aquisição de bens industrializados), (Ibid, 2006).

Dessa forma, a intervenção do Estado na atividade econômica em sentido


estrito demonstra que o Banco Central agiu sobre as causas, ou seja, liberou os
compulsórios retidos pelos bancos e ofereceu linhas de crédito em dólares para
compensar a falta momentânea de dinheiro externo. A estratégia deu certo, e
o crédito voltou a fluir e com isso, surtiram efeito as políticas de redução dos
juros e da diminuição dos impostos. Contribuiu também, a atuação dos bancos
públicos, na ampliação das linhas de crédito. A estratégia funcionou. A crise
permaneceu muito restrita e, portanto, não causou um aumento substancial do
desemprego. A produção industrial ainda não recuperou o nível pré-crise, mas
tem crescido desde janeiro. Banco nenhum teve problemas mais sérios no país
(GUANDALINI, 2009).

O Brasil contrariando seu histórico, no qual uma simples crise externa adquiria
proporções abissais de difícil superação, demonstrou maturidade econômica
ao empregar mecanismos eficazes, que surtiram o efeito desejado.
Possibilitando ao país, sem traumas, ser um dos últimos a entrar na crise e um
dos primeiros a sair dela.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição Federal de 1988. São


Paulo: Editora Malheiros, 2006.

LEOPOLDINO, João Bosco. Direito econômico. Rio de Janeiro: Editora Forense,


2004.

ANDRADE, Danilo Ferreira. Contribuições de intervenção no domínio


econômico. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 359, 1 jul. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5412>. Acesso em: 13 set. 2009.

GUANDALINI, Guiliano. O mundo pós crise: como usar. S/l, s/d. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/160909/mundo-pos-crise-como-usar-p120.shtml>.
Acesso em: 16 set. 2009.

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