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singulares na história política de vários países europeus1, levando a bandeira
socialista consigo.
Na última parte deste texto expomos uma análise sobre a estratégia
(plano de atuação política) que Eduard Bernstein propôs à social-democracia
alemã.
1
APTER, David. IN: OUTHWAITE, William et al. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Ed.
Jorge Zahar, 2ª edição, 1996.
2
FETSCHER, Iring. Bernstein e o desafio à ortodoxia. IN: HOBSBAWM, Eric. Et al. História do
Marxismo II: o marxismo na época da segunda Internacional. Tradução Leandro Konder e Carlos Nelson
Coutinho. Paz e Terra, Rio de Janeiro. 1982. p.267-273. Ver: “A crítica burguesa a Marx e a defesa as
ortodoxia marxista por Bernstein”. O sociólogo Antonio Roberto Bertelli destaca alguns nomes entre o
“pensamento burguês”: Schmoller, Sombart, Tonnies, Simmel, Wundt, Windelband e Rickert. Ver:
http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/segundo_trimestre/textos/hemeroteca/nor/nor0032/encarte32
pg1a46.pdf, acessado em 22 de agosto de 2009.
3
A tarefa então seria a de desenvolver pontos controversos da teoria de Karl
Marx para adequá-la à realidade vivida na Europa.
Em Bernstein e o desafio à ortodoxia, Iring Fetscher3 expõe quais foram
os principais críticos do Marxismo demonstrando suas objeções e dividindo-os
entre “críticos burgueses”, “economistas da escola histórica” e socialistas de
cátedra. Em geral, essas teses tiveram o trabalho de tentar refutar
empiricamente os fundamentos da doutrina socialista marxista.
Assim, Bernstein assumiu o desafio de tentar rever pontos fundamentais
do marxismo para assim dar novos fundamentos às ações do movimento social
democrata. Desta forma, a autor destaca a imprecisão nas teorias de Marx e
Engels que diziam que a tendência do capitalismo seria a concentração da
produção e de capitais em formas de trustes, cartéis e tenderiam a monopolizar
mundialmente a produção. Bernstein também tenta mostrar que os sistemas
comercial, produtivo e financeiro são muito mais ambíguos, voláteis e
suscetíveis a crises não só internas como externas, a tal ponto de não existir
meios para se prever ou se estabilizar previamente as crises catastróficas e
sazonais. De maneira geral, Bernstein põe em xeque a idéia de determinação
dos fatos e apriorismos da teoria marxista tentando demonstrar empiricamente
a fraqueza das hipóteses de Marx.
Estaria o proletariado disposto a viver numa sociedade socialista? Seria o
proletariado uma massa homogênea? Seria possível na época de Bernstein a
socialização dos meios de produção? E como seria feito? Bernstein mostra que
as estruturas econômicas dos países europeus são mais complexas do que os
modelos contemplados por Engels e Marx. O próprio proletariado não seria a
massa compacta idealizada pelos socialistas, havia diferenciações entre
funções que não poderiam ser negligenciadas e assim, logicamente, havia
interesses díspares. A partir disso, lança dúvidas sobre a possibilidade de um
governo integralmente proletário e para os trabalhadores dentro de um grupo
tão heterogêneo que eram os trabalhadores europeus de meados do século
XIX. Seria esse tipo de governo viável?
Em outras linhas, fica compreendido que também as grandes empresas
não eram a grande massa homogênea e centralizadora do capital4 como havia
3
IBID, p. 267-273.
4
A tendência da centralização do capital na posse de poucos burgueses havia, contudo no limite não de
concretizou como Bernstein advoga com o fenômeno cada vez mais usual dos acionistas participando dos
4
sido previsto por Marx. Eduard Bernstein mostra que existia na Europa uma
grande porcentagem de trabalhadores empregados em medias e pequenas
empresas que não se identificavam com os grandes conglomerados industriais.
Sinteticamente Bernstein argumenta que: primeiramente, os empreendimentos
europeus que utilizavam a maior parcela de mão-de-obra não eram exatamente
as indústrias, e sim havia uma divisão de trabalhadores nas mais diversas
áreas produtivas. Em segundo lugar, porque as grandes empresas capitalistas
não monopolizaram toda força de trabalho, mas sim havia uma complexa e
variada divisão entre os pequenos e os médios empreendimentos, nem sempre
industriais.
Nesse ínterim, Bernstein desacreditou nas fórmulas apriorísticas que os
socialistas marxistas elaboraram para a possível realização de uma sociedade
socialista, pois em suas as avaliações a respeito da sociedade em que viviam
estavam engessadas na perspectiva elaborada por Marx. Equivocadas em
vários aspectos, poderiam provocar erros nas interpretações sobre como agir
diante dos fatos políticos da época.
O autor indaga sobre qual seria a forma ideal de organizar os
trabalhadores, de uma maneira que privilegiasse uma forma de trabalho sem
divisões por classes. Especula-se que as associações cooperativas tinham
capacidade de gerir grandes montantes de capital sem, no entanto, tornarem-
se capitalistas nas relações entre os empregados e aqueles que teriam que
gerir o processo sem a utilização propriamente dita de sua força de trabalho. O
ideal de lucro também é abordado, contudo, sem nenhuma conclusão clara.
Nessa parte Bernstein se dedica a mostrar algumas experiências de
associações cooperativas na Europa que obtiveram resultados satisfatórios,
entretanto, sem conseguirem que seu modelo expandisse. O sucesso de
qualquer tipo de indústria que privilegiasse os trabalhadores estaria ligado ao
alcance da vida democrática em sociedade.
Destarte, Bernstein teorizou que a possibilidade de existência do
socialismo se concretizaria quando a sociedade desenvolvesse plenamente a
democracia em sua completa extensão (direitos sociais e decisórios amplos
para todos). Os trabalhadores deveriam estar habituados a participar das
decisões mais particulares de suas municipalidades e das fábricas para
5
apreender os valores propostos pela “democracia social”. Sem essa previa
disposição e compreensão o socialismo estaria limitado.
Seria preciso uma crítica da prática e da razão socialista marxista para
que os movimentos de trabalhadores não se lançassem em ações
despreparadas cujas conseqüências poderiam ser prejudiciais ao ambiente
democrático. Da maneira como os operários europeus se apresentavam à
época do debate entre Bernstein e os marxistas não existia organização e
preparo para a concretização dos objetivos sociais. O operariado tinha sido
idealizado como a classe capaz de impor ao capitalismo o seu fim e com isso
mudar daquela ordem social para a mais justa sociedade, disso Bernstein
também duvida.
Assim, os argumentos de Bernstein foram no sentido de revelar uma
demanda por uma reflexão sobre que tipo de sociedade, relação de produção,
relações sociais que estariam se formando a partir do momento em que se
desse fim àquela ordem pretensamente conhecida. O gradualismo de Bernstein
tende a se justificar pelo alto grau de incerteza existente no projeto marxista da
futura sociedade comunista.
5
SETTEMBRINI, Domenico. In: BOBBIO, Norberto. et al. Dicionário de Política, Ed. UNB, 13 ª, 2000,
Vol. 1/2. p.1117-1121.
6
cotidiana a revolução como meio de se atingir o mundo mais justo poderia ficar
menos interessante. Desta forma, conseguir no mundo atual (mais imediato) as
necessidades históricas dos trabalhadores pode tornar essa classe
politicamente mais integrada a essa sociedade, deixando as incertezas do
processo violento revolucionário (menos tangível) menos atraente.
O revisionismo advoga que a sociedade com direitos políticos e sociais
mais amplos para os trabalhadores pode ser criada sem necessariamente
destruir o capitalismo, mas sim aproveitar da sua estrutura política para
implementar os anseios do proletariado. A via da luta política sindical e
parlamentar representam para os revisionistas a alternativa à destruição total
do capitalismo ou aos métodos “apressados” que usam a violência para a
mudança política.
Podemos dizer que as idéias de reforma de Eduard Bernstein tem suas
raízes nas próprias formulações da filosofia da história de Karl Marx, na qual
descreve que a sociedade comunista no fim da história só seria alcançada
numa etapa bastante avançada do Capitalismo. Uma evolução social deveria
ser esperada.
Contudo, somente quando a totalidade das forças produtivas do sistema
capitalista fossem integralmente desenvolvidas, e ainda, que qualquer tentativa
de implementar bruscamente o comunismo no seio da sociedade capitalista
(não inteiramente desenvolvida) seria uma precipitação ou da classe operário
ou de seus líderes. As revoluções com caráter social do século XIX foram
precoces e sofreram duros contragolpes pela própria inexperiência que seus
líderes tiveram na condução da política.
Enfim, o revisionismo concentra-se mais na crítica do método
“apressado” e violento representado pela revolução do que no tipo de
sociedade que se criará, pois acredita que a democracia seria moldada durante
o período em que o partido social-democrata a governasse.
3-Reformismo.
7
De acordo com Roseli Martins Coelho6, o reformismo nasceu junto com o
movimento socialista: ainda antes da criação da I Internacional, Marx viu-se
obrigado a combater as propostas de Lassalle centradas no “socialismo de
estado” e nas cooperativas que, segundo Lassalle, constituiriam a forma
“socialista” de organização da sociedade. Com o advento do partido de massas
– a Social-Democracia alemã – o reformismo socialista ganharia o ambiente
necessário ao seu desenvolvimento.
E, de fato, o Partido Social-Democrata Alemão pautou sua trajetória pelo
reformismo prático, em que pesam as influências dos integrantes da ala radical
de esquerda que, é bom lembrar, estiveram sempre em minoria. Eduard
Bernstein, considerado o inventor do revisionismo teórico, tinha o objetivo de
oficializar a prática reformista de seu partido, e não apenas propor uma revisão
teórica da economia política de Marx7. Bernstein foi afastado do núcleo de
pensadores do socialismo alemão, na qual somente partidários do
revolucionarismo marxista eram aceitos. Isto, porém, não retira de Bernstein o
crédito por ter inaugurado a tática de recorrer às “previsões” não confirmadas e
aos equívocos contidos no materialismo histórico de Marx e Engels, como
forma de incentivar e justificar a ação partidária reformista8.
De acordo com Settembrini9, o socialismo reformista se define em relação
ao socialismo revolucionário. Embora seja difícil definir na prática, pois uma
categoria não nega necessariamente a outra, é possível defini-los através de
seus posicionamentos a respeito do capitalismo e da democracia liberal.
Ambos, revolucionários e reformistas, discordam das condições de trabalho e
sociais aviltantes advindas do processo conhecido como revolução industrial
européia. Concordam que as condições dos trabalhadores devem ser
melhoradas. Contudo, quando o assunto é a solução dos problemas a serem
combatidos ou os meios para se alcançar a nova e melhor sociedade, que
minimizará as mazelas trazidas pelo capitalismo, as contradições entre os
partidários da revolução e os defensores da reformas são agudas.
6
COELHO, Roseli Martins. Social-democracia: formas e reformas. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP
e FESPSP, 2001. p.13.
7
IBID, p13.
8
IBID. p.13
9
SETTEMBRINI, Domenico. In BOBBIO, Norberto. et al. Dicionário de Política, Ed. UNB, 13 ª, 2000,
Vol. 1/2. p.1077-1008.
8
Com relação à atuação contra as injustiças sociais os partidos
reformistas privilegiam as soluções dentro dos limites e regras da sociedade
em questão, se pondo dentro do jogo político para assim interferir nas decisões
e negociações que podem afetar e ajudar a vida da classe operária.
Em contrapartida e de maneira geral, os socialistas revolucionários
tenderam a menosprezar qualquer efeito benéfico que o ambiente de disputa
democrática pudesse estabelecer, seja no cotidiano, seja no longo prazo. A
queda de todo o mundo liberal deveria acontecer de maneira imediata,
rapidamente e repentinamente, para que a melhor sociedade, a sociedade
dentro dos parâmetros comunistas, pudesse acontecer com a participação e
beneficio dos trabalhadores.
Melhorar e destruir, esses são os verbos que podem caracterizar as
ambições de reformistas e revolucionários, respectivamente, em relação ao
processo de disputas que viveram seus formuladores do século XIX.
10
WALDENBERG, Marek. A Estratégia Política da Social-Democracia Alemã. In: HOBSBAWM, Eric.
Et al. História do Marxismo II: o marxismo na época da segunda Internacional. Tradução Leandro
Konder e Carlos Nelson Coutinho. Paz e Terra, Rio de Janeiro. 1982. P. 240
11
BERNSTEIN, Eduard. Op cit.
9
a) Ainda que as grandes empresas sejam sempre mais numerosas e
desempenham um papel cada vez maior na economia nacional, o processo de
concentração da produção e do capital não ocorreu segundo os ritmos e as
especificidades previstas por Marx: as pequenas e médias empresas, com
efeito, não deixaram de existir12 (não foram absorvidas pelo “grande capital”) e
é previsível que, no futuro, continuem a existir em grande número. Para
Bernstein, a socialização da produção desse enorme número de empresas
seria quase impossível de tão complexo, o que torna uma transição rápida para
o socialismo complicada.
b) A classe operária não possui ainda as capacidades necessárias para
substituir o capitalismo pelo socialismo. Se a primeira dificuldade era julgada
por Bernstein como imutável, o segundo obstáculo era considerado com maior
otimismo: a preparação da classe operária para realizar as transformações
socialistas cresceria progressivamente, embora de modo gradual e lento. Assim
sendo, a social-democracia (nem ninguém), ainda que conquistando o poder,
não teria condições de realizar uma socialização rápida e integral dos meios de
produção, e o fracasso terminaria por desorganizar a vida econômica e por
provocar a desconfiança da sociedade contra o partido social-democrata. Seria
uma precipitação.
Destarte, era fundamental em Eduard Bernstein a preocupação de que a
transformação socialista das relações de produção se realizasse sem
desorganizar o processo produtivo. Ele receava “a emergência de uma
burocratização da vida econômica, no caso de uma rápida socialização dos
meios de produção”13. A transição do capitalismo para o socialismo não podia
ocorrer como um evento rápido, mas sim gradualmente e no interior do sistema
capitalista; as relações socialistas de produção devem evoluir antes mesmo
como da chegada ao poder da social-democracia, do mesmo modo como as
relações capitalistas de produção se formaram no quadro do sistema feudal.
Essa era a concepção de transformação da sociedade que Bernstein
considerava realizável. Sua viabilidade consistia em procurar desenvolver uma
reforma em sentido democrático das formas do Estado, que perderia o seu
12
IBID, p. 87-108. Bernstein mostra séries estatísticas de empreendimentos europeus que não se
caracterizam como grandes empresas capitalistas e que ocupam grande número de trabalhadores
industriais ou não.
13
BERNSTEIN, apud WALDENBERG, Marek. Op cit. p. 241.
10
caráter classista, de supremacia de uma classe sobre outra – ou seja, a luta de
classes não deveria existir14. Essa forma de Estado criaria a plena possibilidade
de uma tomada do poder legal e pacífica pela social-democracia15. Essa
hipótese se confirmaria em um cenário de adesão da maioria da sociedade à
social-democracia, ou seja, o voto maciço na causa citada.
Ainda que Bernstein não concebesse como próxima a transformação
pacífica do Estado e da sociedade, ele não duvidava da existência da
possibilidade, apesar do contínuo aumento do número de proprietários16. Ele
contava com o fato de que os partidos da social-democracia, transformando
sua ideologia e sua política, assumindo as reformas sociais como objetivo,
obteria a adesão de uma parte das camadas médias, e, apesar do
“melhoramento” da qualidade de vida dos operários no sistema existente, a
maior parte desses trabalhadores continuaria a se identificar com o socialismo.
Contudo, em se tratando de tática para conquistar o poder político, e
antes que a social-democracia conseguisse obter o apoio da maioria da
sociedade esta deveria tentar formar uma coalizão de governo com uma parte
dos partidos burgueses, pois nenhuma classe jamais alcançou imediatamente
a totalidade do poder estatal. Para Waldenberg, a respeito do ideal de
Bernstein, “tal como as relações econômicas, também o sistema político deve
se transformar através de uma mudança progressiva: as estruturas mistas
devem aparecer tanto na base quanto na superestrutura”17.
Assim, Bernstein não negou que pudesse se verificar tentativas opostas
de paralisar a evolução do sistema estatal no sentido de um sistema
democrático parlamentar, ou mesmo de fazer regredir as formas de Estado
existentes. Porém, confiava em que tais tentativas não teriam sucesso. Suas
previsões refletiam seu modo de conceber a evolução das relações entre as
classes, tendente a uma atenuação dos antagonismos e das lutas de classe.
Um dos princípios fundamentais dessa estratégia política era a convicção de
que uma parte considerável da burguesia, bem como alguns partidos
burgueses, estariam dispostos a aceitar uma evolução gradual para o
socialismo.
14
BERNSTEIN, Eduard. Op Cit. p. 113.
15
Aqui podemos por dúvidas no fato de que Bernstein não levou em conta a reação dos opositores de seu
projeto.
16
BERNSTEIN, Eduard. Op Cit. p.62.
17
WALDENBERG, Marek. Op cit. P.242
11
A hipótese de Bernstein acima citada, se baseava não apenas na
convicção de que, diante da crescente força numérica da classe operária, o
bom senso levaria a burguesia se alinhar com a social-democracia, mas
também sobre algumas concepções sociológicas e, em particular, sobre
algumas idéias relativas às motivações do comportamento humano. São essas
considerações que aproximam Bernstein do chamado “socialismo ético”18.
Segundo Waldenberg, as críticas de Bernstein ao materialismo histórico
de Marx “tinham como meta combater as teses segundo as quais os interesses
de classe influem profundamente sobre o comportamento político, para colocar
em evidência, ao contrário, o peso das concepções éticas”. Para conseguir a
pretendida contribuição burguesa, foram propostos métodos de socialização
dos meios de produção que levassem em conta o princípio da expropriação
com ressarcimento dos prejuízos. Ainda que de modo diverso da dos marxistas
ortodoxos, essa tática desenvolvia e relacionava a ação pelas reformas com a
luta pela transição do capitalismo pelo socialismo.
Daí decorria as principais conseqüências no que se refere à organização
política da classe operária. O partido deveria instruir e organizar a classe
operária, tendo por meta exercer sua própria influência sobre outras camadas e
classes (utilizando-se da superioridade numérica e convertendo-a em
benefícios através do voto), e concentrando todos os esforços na luta pelas
reformas sociais e políticas.
Os sindicatos e cooperativas também teriam funções: essas
organizações deveriam contribuir para melhoria das condições de vida do
proletariado no interior do sistema existente; e por outro, tais organizações
desenvolveriam as capacidades na classe operária necessárias transformar
aquela realidade no sentido socialista. Contudo, a classe operária
politicamente atuante deveria renunciar à política de antagonismo à sociedade
e Estado existentes.
A oposição de Bernstein ao uso da força como instrumento de luta pelo
socialismo derivava não só de suas previsões sobre o processo gradual da
sociedade capitalista, mas também de sua visão singular de socialismo. Em
coerência com suas convicções o autor crítica radicalmente a idéia da “ditadura
do proletariado”.
18
Ibid. P. 243
12
Segundo Waldenberg, “na hierarquia dos valores políticos, o lugar
principal era ocupado pela liberdade”, e, na idéia de Bernstein a garantia da
liberdade dos cidadãos devia ser considerada como mais importante do que a
realização de tais exigências pudesse ocorrer ao preço de limitações da
liberdade. Com o respeito à liberdade, o processo de mudança social ficaria
limitado ao processo de mudanças graduais.
Enfim, Bernstein observou as várias relações entre o socialismo e
liberalismo: “a tese de que o socialismo é o sucessor do liberalismo deveria não
só facilitar a evocada colaboração com os partidos liberais, (...), mas também
ilustrar essa orientação, demonstrando que parte da burguesia aceitaria o
desenvolvimento até o socialismo”19.
19
WALDENBERG, Marek. Op cit. P.244.
13
CONCLUSÃO:
Tentamos aqui expor o complexo embate ideológico entre as teorias
socialistas de duas matrizes: o socialismo da corrente marxista e a corrente
social-democrática revisionista. Destacamos o livro “Socialismo Evolucionário”
de Eduard Bernstein como a obra que organizou e manifestou as dúvidas e as
críticas daqueles que exigiram a revisão da prática política dos partidos
socialistas europeus.
Desejamos nesse trabalho a expor os principais fundamentos do
polêmico pensamento crítico de Eduard Bernstein com relação ao socialismo
de influência marxista. As idéias desse pensador da social-democracia geraram
um debate muito maior do que pôde ser exposto aqui, mas esclarecemos ao
leitor que uma maior compreensão da problemática do socialismo europeu do
fim do século XIX fica incompleta sem esse conhecimento.
Se for possível uma conclusão que seja no sentido de dizer que
Bernstein se afastou da idéia de construir uma nova utopia para a classe
operária e trabalhou em pensamento para que a melhoria fosse dada durante a
própria luta entre as classes e não em um futuro imprevisível. Que todo seu
arcabouço teórico levasse aquela sociedade ao socialismo é outra história.
Concordamos com Adam Przeworski quando diz que a social-democracia fez o
que pode fazer dentro de um contexto histórico não escolhido.
BIBLIOGRAFIA:
BERNSTEIN, Eduard. “Socialismo Evolucionário”. Tradução Manuel Teles. Ed.
Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 1997.
OUTHWAITE, William et al. Dicionário do Pensamento Social do Século XX.
Ed. Jorge Zahar, 2ª edição, 1996.
HOBSBAWM, Eric. Et al. História do Marxismo II: o marxismo na época da
segunda Internacional. Tradução Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho.
Paz e Terra, Rio de Janeiro. 1982.
BOBBIO, Norberto. et al. Dicionário de Política, Ed. UNB, 13 ª, 2000, Vol. 1/2.
POULAIN, Jean Claude. et al. A Social-democracia na atualidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 1980.
PRZEWORKI, Adam. Capitalismo e Social-democracia. Cia das Letras, São
Paulo, 1989.
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